O documento discute se jogos eletrônicos violentos podem influenciar pessoas a se tornarem psicopatas. A psicóloga Silvia Guanciale Andréo afirma que a psicopatia é causada principalmente por relações familiares problemáticas, não por jogos. Expressar violência de forma saudável em jogos pode ser benéfico, desde que a pessoa não tenha uma estrutura mental antissocial.
1. ”
A PSICOPATIA E OS JOGOS ELETRÔNICOS: QUAL
O NÍVEL SAUDÁVEL DE SE EXPRESSAR A VIOLÊN-
CIA NO MUNDO VIRTUAL?
Saúde
Por: Diego Godoi
Os vídeo-games podem influenciar uma pessoa a ponto de torná-la
um psicopata?
A
discussão de como os vídeo-games violen-
tos influenciam na mente humana já vem
de longa data. Os últimos acontecimentos,
envolvendo uma família de cinco pessoas
brutalmente assassinadas, e que as investigações da
polícia revelam que o filho de treze anos é o principal
suspeito, ressuscitaram essa questão.
Em 1999 dois garotos entraram na escola Colum-
bine no Colorado, EUA e abriram fogo nos alunos.
Ao invadirem o apartamento de um dos garotos
encontraram jogos e filmes violentos. Isso despertou
uma guerra entre o puritanismo norte americano e
a indústria dos jogos. Aqui no Brasil essa discussão
demorou um pouco para acontecer; Em 2003, vários
jogos foram censurados no país. E hoje, após o crime
da família Pesseghinni, voltou-se à pauta a questão:
Até onde a indústria cultural molda o caráter? Hoje a
indústria de jogos é a segunda que mais fatura, atrás
apenas da indústria musical. Mas especialistas dizem
que ainda nessa década ultrapassará a música, assim
como fez com o cinema em 2010.
Os jogos são sempre citados como moldes para a
configuração do caráter dos adolescentes. Segundo
várias linhas de discussão, a violência presente na
maioria deles desperta em quem os joga uma violên-
cia reprimida. Vários pesquisadores afirmam que a
psicopatia é despertada a partir dessas interações.
Mas de acordo com Silvia Guanciale Andréo, psi-
cóloga e professora formada pela Universidade
Mackenzie e docente na Universidade de Franca,
a psicopatia é despertada a partir das relações fa-
lhas entre o indivíduo e suas referências familiares.
Segundo ela o indivíduo nasce cru, e tem um mundo
de referencias à sua volta. As figuras familiares (não
necessariamente pai e mãe) constroem o caráter da
criança. Essa construção pode indicar um caminho
ruim em três ocasiões distintas: A primeira é quando
o indivíduo sofre maus-tratos e passa a não ter mais
sentimentos carinhosos. A segunda é quando o in-
divíduo é abandonado e sofre a falta de presença das
referencias primordiais. E a última se relaciona com
o fator superproteção, quando o indivíduo é levado a
crer que pode fazer de tudo. Essas três linhas levam à
formação de um caráter falho, e muitas vezes adoeci-
do. A psicopatia, que ainda segundo ela, é “algo fora
do esperado” e “uma alteração psiquiátrica de um
sujeito que comete contravenções”, pode surgir desse
caráter falho e anti-social. A violência presente tanto
na indústria cultural, quanto na realidade só vai
despertar o mau em pessoas que já tem uma estrutu-
ra anti-social e psicopata. Geralmente é até saudável
expressar a violência que todos têm em um lugar
adequado, como é o caso do mundo virtual.
Essas linhas de discussão só nos levam a crer que a
mente humana é algo ainda com vários caminhos a
percorrer. As influencias existem, mas a construção
do caráter é algo individual e apenas gerado por nos-
sas referências mais próximas.
Psicopatia é algo fora do espe-
rado, uma alteração psiquiá-
trica de um sujeito que come-
te contravenções de qualquer
ordem, criminal ou não.
“
Silvia Guanciale Andréo, Psicóloga e
professora da Universidade de Franca.