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Grau Complementar
Módulo: O HOMEM E O AMBIENTE
35 horas
Se fosse possível viajar no tempo, dificilmente reconheceríamos o nosso planeta, tão
grandes foram as alterações aí produzidas.
As questões relacionadas com o ambiente constituem, na actualidade, temas de interesse
e de discussão para a sociedade em geral. A intervenção do homem tem gerado
desequilíbrios ambientais que importa considerar de forma a compatibilizar o
desenvolvimento e o equilíbrio ambiental.
A intervenção consciente no sentido desta compatibilização pressupõe uma análise
crítica dos dilemas ambientais do mundo actual.
Assim, torna-se fundamental, a aquisição de uma consciência e sensibilidade em termos
da dinâmica e da problemática do ambiente; a apropriação de uma diversidade de
experiências e a compreensão global do ambiente e dos seus problemas; a apropriação
de um conjunto de valores e atitudes em relação ao ambiente assim como a motivação
para a melhoria e defesa do ambiente; a aquisição de competências para a identificação
e resolução de problemas ambientais; o envolvimento activo a todos os níveis na
resolução dos problemas ambientais.
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1 - Competências
- Aplicar conhecimentos sobre o funcionamento dos sistemas naturais ao estudo de
problemáticas ambientais concretas
- Compreender o impacto da actividade humana no ambiente
- Estar consciente da necessidade de considerar consequências sociais e ambientais, a
médio e a longo prazo, dos empreendimentos humanos
- Compreender que nos processos de tomada de decisão sobre problemáticas
ambientais concorrem diversas perspectivas, reflectindo interesses e valores
diferentes
- Identificar formas de intervenção nos problemas ambientais do mundo actual e agir
em conformidade
2 - Conteúdos
1.1. A terra de que dependemos
. A utilização dos solos. Que lhes está a acontecer?
. Os recursos: agricultura, silvicultura e extracção de rochas e de minerais.
1.2. Água - o rio da vida
. A utilização da água. Que água temos, que água vamos ter?
. Os recursos
1.3. Ar - o sopro da vida
. A evolução da atmosfera e a intervenção humana. Quando os especialistas não estão de
acordo.
. As tecnologias verdes: custos e benefícios
. Poluição atmosférica e saúde pública. Tecnologias de monitorização da qualidade do
ar.
1.4.Energia – o “motor” da vida
. Donde vem?
. A utilização da energia. Onde se “gasta” ? Como se “gasta”? Quem “gasta”?
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. Recursos
1.5. Equilíbrios/desequilíbrios do ambiente
. Áreas protegidas/áreas degradadas
. Povoamento/desertificação
. Ambiente “limpo”/ambiente “sujo”
3 – Sugestões metodológicas
Os temas relacionados com o ambiente são temas de grande actualidade, quer quando
se debatem os desequilíbrios resultantes da acção humana, quer quando se apresentam
novos conhecimentos e métodos que nos permitem compreender melhor e de forma
global o funcionamento do grande sistema Terra. Das temáticas apresentadas, a sua
concretização e aprofundamento deve ser feita de acordo com as questões em debate
no momento (recorrendo, por exemplo, aos media) e com os problemas pertinentes para
o contexto de formação.
Em termos de orientações metodológicas, a discussão de temas controversos, o debate
sobre dilemas com simulações e desempenho de papéis são recomendados.
Quando se discutem temas controversos, reais, quotidianos, com dimensões pessoais e
sociais, torna-se mais fácil mobilizar e aplicar conhecimentos e capacidades,
clarificando-se valores e atitudes individuais.
As questões ambientais com que nos debatemos no mundo actual são dilemas, isto é,
são problemas cuja perspectiva de resolução depende de diversas premissas e pontos de
vista, não existe “a” solução correcta. Debater e equacionar a resolução destes
problemas, tomando uma decisão, pressupõe compreender as questões em causa e estar
consciente da existência de diferentes perspectivas e valores envolvidos. Tal pode ser
explorado através de actividades de simulação com desempenho de papéis.
A resolução de problemas (no sentido lato do termo, e não apenas no seu sentido mais
estrito e frequente, como algo negativo e difícil) deve ser desenvolvida, quer em
modelos de estudo de caso, quer em modelos de acção ambiental.
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No estudo de caso, um problema ambiental é estudado, os factores envolvidos são
determinados bem como as suas possíveis causas, os valores e atitudes implícitos são
clarificados e possíveis soluções são identificadas e as suas implicações consideradas.
No modelo de acção, os formandos aprendem a identificar e analisar problemas
ambientais, distinguindo problemas de temas e acontecimentos ambientais.
Posteriormente, os formandos a partir de um tema do seu interesse, abordam-no de
acordo com a metodologia de resolução de problemas, desenvolvendo e aplicando
estratégias específicas que possam contribuir para a sua resolução. A existência desta
componente de intervenção e participação é muito importante.
Exemplo de uma actividade de simulação com desempenho de papéis
Na selecção do tema para a actividade é importante que os formadores se sintam à
vontade com o contexto de simulação escolhido. O tema pode ser real ou ficcionado,
contudo é fundamental que seja actual e interessante, seja relevante para os formandos e
não seja percepcionado como algo artificial. O carácter convincente da simulação não
deve ser esquecido.
Um possível contexto de simulação podem ser as sessões de esclarecimento e consulta
pública, cada vez mais frequentes no nosso quotidiano, e obrigatórias por lei para uma
variedade de empreendimentos. São exemplos recentes as estações de tratamentos de
resíduos industriais, a co-incineração, o traçado de vias de comunicação, o alargamento
de portos, os planos de ordenamento, etc.
A actividade pode ser organizada de uma forma mais aberta, deixando um maior espaço
para a autonomia dos formandos, ou mais fechada e orientada pelo formador. É
necessário definir os papéis, ou seja os grupos de interesse presentes na sessão, e os
argumentos que irão apresentar.
Na sessão de esclarecimento vão estar representantes de alguns dos grupos com
interesses no projecto que irão expor os seus argumentos ao público presente. A turma
deve assim ser dividida em grupos representando as diferentes entidades e interesses
envolvidos, como por exemplo: Governo (representante do IPAMB- Instituto de
Promoção Ambiental), Autarquia, Associações não governamentais (por exemplo
associações de defesa do ambiente), Região de Turismo, Parques Naturais ou Áreas
protegidas, Entidade promotora do projecto.
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Através do desempenho de papéis específicos os formandos devem consciencializar-se
dos problemas associados às tomadas de decisão. Assim, no final da actividade a
reflexão sobre os diferentes aspectos do processo deve ser encorajada.
Desenvolvimento da actividade:
Introdução do tema e da actividade. Caracterização do contexto de simulação.
Pesquisa sobre o tema com definição dos papéis.
Divisão da turma em grupos representando as diferentes entidades e interesses
envolvidos.
Cada grupo deve “pôr-se na pele” da entidade que representa e pensar em
argumentos que defendam os seus interesses no problema em debate, equacionando
os impactes no ambiente e as formas de os minimizar. A cada grupo poderá ser
distribuído um cartão com exemplos de argumentos a utilizar na discussão, mas a
componente de investigação deve ser privilegiada.
Cada grupo escolhe um porta-voz para a sessão de esclarecimento e consulta pública
com a população.
Os restantes elementos do grupo irão representar a população presente na sessão.
O representante do IPAMB dá início à sessão, explicitando quais os objectivos da
sessão e actuando ao longo da mesma como um moderador. Cada um dos porta-
vozes apresenta os seus argumentos.
A discussão é alargada ao público presente que coloca questões e expressa as suas
dúvidas e opiniões. Também a este nível, e complexificando a actividade, se pode
pensar no desempenho de papéis ao nível da população presente (por exemplo:
imprensa local, proprietários, comerciantes, desempregados, ...). As diferentes
opiniões e sensibilidades devem ser sistematizadas.
No final da simulação os resultados da actividade são explorados. Deverá ser
enfatizado que ao tomar-se decisões é fundamental estar-se consciente da
complexidade das diferentes perspectivas presentes e de que a solução defendida por
cada um depende dos seus valores e interesses. Deverá igualmente ser sublinhada a
crescente importância da participação de todos os cidadãos em processos de tomada
de decisão que a todos dizem respeito.
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4 - Avaliação
Os critérios para avaliação do progresso e da aprendizagem dos formandos resultam das
competências definidas.
O plano de avaliação deve reflectir os diferentes estilos de aprendizagem dos
formandos, as diferentes formas de evidenciarem as suas aprendizagens e a natureza das
capacidades que vão ser avaliadas. A auto-avaliação também deve ser considerada.
Assim, a avaliação terá que incidir tanto nos processos de trabalho, como nos seus
produtos.
A informação recolhida deve dizer respeito a conceitos, capacidades e estratégias de
acção, atitudes e valores.
A avaliação deverá ser contínua podendo incidir nos seguintes produtos: relatórios de
reflexão pessoal (resultantes, por exemplo da discussão de temas controversos ou das
simulações em torno de dilemas), trabalhos resultantes das actividades de resolução de
problemas que podem ter suportes variados (informação recolhida e tratada, adequação
das propostas de intervenção, implementação das propostas e resultados obtidos),
participação nas discussões.
O formador pode adquirir informação de formas diversas:
. observando a forma como é organizado e planificado o trabalho (“Diário de bordo”,
folha de registo com os parâmetros de avaliação, ...);
. analisando a informação seleccionada e/ou trabalhada;
. observando o desempenho dos formandos na concretização das diversas actividades
(expressão oral, argumentação, capacidade de ouvir os outros, respeito por opiniões
diferentes, interpretação e aplicação de conhecimentos, equacionar variáveis, ....);
. analisando os argumentos e as reflexões produzidas e a adequação das propostas de
intervenção (por exemplo: as ideias e opiniões apresentadas reflectem a pesquisa
efectuada, são considerados pontos de vista diferentes, as propostas de acção são
exequíveis, as propostas de acção referem-se aos próprios ou apenas aos outros, ....).
A definição dos parâmetros de avaliação e dos respectivos critérios deve ser negociada
com os formandos no início das actividades e sugere-se, ainda, a atribuição de pesos
diferentes para os produtos de avaliação de modo a tornar mais claro o modo como se
obtém a classificação final de cada formando.
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5 - Recursos
Para a abordagem do módulo “O Homem e o Ambiente”, os recursos disponíveis são
muito variados.
1- Para pesquisa de informações sobre o ambiente e problemas actuais, pode recorrer-
se a vários periódicos:
“Educação ambiental” (IPAMB)
“Fórum Ambiente”
“Correio da Natureza” e “Natureza e Paisagem” (SNPRCN)
Science et Vie
Science et Vie Junior
Super Interessante
Quo
Secção de Ambiente de diferentes jornais diários ou semanais
2 – Livros sobre o ambiente:
BARRÈRE, M. (1993). Terra Património Comum. Lisboa: Instituto Piaget.
BRUNDTLANNA, G. e outros (1991). O nosso futuro comum. Meribérica/Liber
DUVIGNEAUD, P.(1996). A Síntese Ecológica. Lisboa: Instituto Piaget.
GIORDAN, A. e SOUCHON C. (1997). Uma Educação para o ambiente. Lisboa: IIE.
PIMENTA, C. e Melo, J. (1992). O que é a Ecologia. Lisboa: Difusão Cultural.
RIBEIRO, T. (1994). O Jardim Comum Europeu. Lisboa: Quetzal Editores.
SCHUMACHER, E. (1985). Small is Beautiful. Lisboa: Publicações Dom Quixote.
FERNANDES, J. (1983). Manual de Educação Ambiental. Lisboa: GEP.
3- Na área das tecnologias de informação e comunicação existe uma variedade
crescente de recursos disponíveis.
No que se refere aos Cd-Rom sugerem-se a título de exemplo: “Enciclopédia Encarta”,
“Enciclopédia da Natureza”, “National Geographic”.
Quanto a sites na Internet, sugerem-se alguns endereços com propostas de actividades,
situações problemáticas e alguma informação científica:
Projectos de educação ambiental: http://www.ipamb.pt – no dia 24 de Novembro de
1999
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Dados hidrológicos nacionais: http://www.inag.pt./snirh/
Relatório anual do World Wildlife Fund: http://www.panda.org/
4- Há muitas organizações governamentais e não governamentais que disponibilizam
informação e têm publicações diversas, como por exemplo:
- ASPEA – Associação Portuguesa de Educação Ambiental
- GEOTA – Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente
- IPAMB
- LPN – Liga para a Protecção da Natureza
- OIKOS
- QUERCUS
- Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza
- WWF – World Wild Found
- UNESCO
- FAO
5- Para a selecção de questões desafiadoras ou problemas a colocar e de actividades
práticas, alguns exemplos são:
BURNIE, D. (1991). Como Funciona a Natureza. Lisboa: Selecções do Reader´s
Digest.
BURNIE, D. (1998). 101 Experiências com a Natureza. Lisboa: Texto Editora.
ELKINGTON, J. e HAILES J. (1990). Guia do jovem Consumidor Ecológico. Lisboa:
Gradiva
FREDERICKS, A. (1997). Experiências Simples da Natureza com Materiais
Disponíveis. Venda Nova: Bertrand Editora.
THE EARTH WORKS GROUP (1993). 30 coisas simples que se podem fazer com a
energia para salvar a Terra. Lisboa: Difusão Cultural.
THE EARTH WORKS GROUP (1993). 50 coisas simples que você pode fazer para
salvar a Terra. Lisboa: Difusão Cultural.
VANCLEAV, J. (1994). Ecologia para Jovens. Lisboa: Publicações Dom Quixote