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                                                                   Quando eu for pequeno, mãe,
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                                                                   anunciando que vai voltar porque eu sou pequeno
E, afinal, tudo isso quanto vale ?                                 e a orfandade até nos olhos deixa marcas.
Vale o nada que é tudo                                                                    in O Livro Branco da Melancolia
sempre que damos de nós
o que, sendo acto amor, ganha voz
e se torna eterno por ser único e total.
Porque os outros se mascaram mas tu não     Poema
Porque os outros usam a virtude
                                            A minha vida é o mar o Abril a rua
Para comprar o que não tem perdão.          O meu interior é uma atenção voltada para fora
Porque os outros têm medo mas tu não.       O meu viver escuta
                                            A frase que de coisa em coisa silabada
                                            Grava no espaço e no tempo a sua escrita
Porque os outros são os túmulos caiados
                                            Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro
Onde germina calada a podridão.             Sabendo que o real o mostrará
Porque os outros se calam mas tu não.
                                            Não tenho explicações
                                            Olho e confronto
Porque os outros se compram e se vendem     E por método é nu meu pensamento

E os seus gestos dão sempre dividendo.      A terra o sol o vento o mar
Porque os outros são hábeis mas tu não.     São a minha biografia e são meu rosto

                                            Por isso não me peçam cartão de identidade
Porque os outros vão à sombra dos abrigos   Pois nenhum outro senão o mundo tenho
                                            Não me peçam opiniões nem entrevistas
E tu vais de mãos dadas com os perigos.     Não me perguntem datas nem moradas
Porque os outros calculam mas tu não.       De tudo quanto vejo me acrescento

                                            E a hora da minha morte aflora lentamente
    SELECÇÃO DE YURAN SEMEDO                Cada dia preparada
É urgente o amor


É urgente o amor.                                                      O sal da    Língua
É urgente um barco no mar.                                    Escuta, escuta: tenho ainda

                                                              uma coisa a dizer.

É urgente destruir certas palavras,                           Não é importante, eu sei, não vai

                                                              salvar o mundo, não mudará
ódio, solidão e crueldade,
                                                              a vida de ninguém - mas quem
alguns lamentos,
                                                              é hoje capaz de salvar o mundo
muitas espadas.
                                                              ou apenas mudar o sentido

                                                              da vida de alguém?
É urgente inventar alegria,
                                                              Escuta-me, não te demoro.
multiplicar os beijos, as searas,
                                                              É coisa pouca, como a chuvinha
é urgente descobrir rosas e rios                              que vem vindo devagar.
e manhãs claras.                                              São três, quatro palavras, pouco

                                                              mais. Palavras que te quero confiar,
Cai o silêncio nos ombros e a luz                             para que não se extinga o seu lume,
impura, até doer.                                             o seu lume breve.

É urgente o amor, é urgente           SELECÇÃO DE RAMIRO CÁ   Palavras que muito amei,

permanecer.
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                           depois de uma grande discussão,
                           a passarem juntos o Verão.
                           Sei lá... talvez no Ceilão!
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                           - Ouve lá o teu rico marido:
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                           A leoa rosnou e ripostou:
                           - Sabes bem como é que eu sou.
                           Há climas com os quais eu não me dou.
                           Prefiro o fresco. Para o pólo eu vou.


                           E lá partiram, a rugir, para a zona polar.
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Quando eu for pequeno, mãe

  • 1. Um Pouco Mais de Nós Podes dar uma centelha de lua, Quando Eu For Pequeno um colar de pétalas breves Quando eu for pequeno, mãe, ou um farrapo de nuvem; quero ouvir de novo a tua voz podes dar mais uma asa na campânula de som dos meus dias a quem tem sede de voar inquietos, apressados, fustigados pelo medo. ou apenas o tesouro sem preço Subirás comigo as ruas íngremes do teu tempo em qualquer lugar; com a certeza dócil de que só o empedrado podes dar o que és e o que sentes e o cansaço da subida sem que te perguntem me entregarão ao sossego do sono. nome, sexo ou endereço; podes dar em suma, com emoção, Quando eu for pequeno, mãe, tudo aquilo que, em silêncio, os teus olhos voltarão a ver te segreda o coração; nem que seja o fio do destino podes dar a rima sem rima desenhado por uma estrela cadente de uma música só tua no cetim azul das tardes a quem sofre a miséria dos dias sobre a baía dos veleiros imaginados. na noite sem tecto de uma rua; Quando eu for pequeno, mãe, podes juntar o diamante da dádiva nenhum de nós falará da morte, ao húmus de uma crença forte e antiga, a não ser para confirmarmos sob a forma de poema ou de cantiga; que ela só vem quando a chamamos podes ser o livro, o sonho, o ponteiro e que os animais fazem um círculo do relógio da vida sem atraso, para sabermos de antemão que vai chegar. e sendo tudo isso serás ainda mais, anónimo, pleno e livre, Quando eu for pequeno, mãe, nau sempre aparelhada para deixar o cais, trarei as papoilas e os búzios porque o que conta, vendo bem, para a tua mesa de tricotar encontros, é dar sempre um pouco mais, e então ficaremos debaixo de um alpendre sem factura, sem fama, sem horário, a ouvir uma banda a tocar que a máxima recompensa de quem dá enquanto o pai ao longe nos acena, é o júbilo de um gesto voluntário. SELECÇÃO DE IDALMIRA lenço branco na mão com as iniciais bordadas, anunciando que vai voltar porque eu sou pequeno E, afinal, tudo isso quanto vale ? e a orfandade até nos olhos deixa marcas. Vale o nada que é tudo in O Livro Branco da Melancolia sempre que damos de nós o que, sendo acto amor, ganha voz e se torna eterno por ser único e total.
  • 2. Porque os outros se mascaram mas tu não Poema Porque os outros usam a virtude A minha vida é o mar o Abril a rua Para comprar o que não tem perdão. O meu interior é uma atenção voltada para fora Porque os outros têm medo mas tu não. O meu viver escuta A frase que de coisa em coisa silabada Grava no espaço e no tempo a sua escrita Porque os outros são os túmulos caiados Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro Onde germina calada a podridão. Sabendo que o real o mostrará Porque os outros se calam mas tu não. Não tenho explicações Olho e confronto Porque os outros se compram e se vendem E por método é nu meu pensamento E os seus gestos dão sempre dividendo. A terra o sol o vento o mar Porque os outros são hábeis mas tu não. São a minha biografia e são meu rosto Por isso não me peçam cartão de identidade Porque os outros vão à sombra dos abrigos Pois nenhum outro senão o mundo tenho Não me peçam opiniões nem entrevistas E tu vais de mãos dadas com os perigos. Não me perguntem datas nem moradas Porque os outros calculam mas tu não. De tudo quanto vejo me acrescento E a hora da minha morte aflora lentamente SELECÇÃO DE YURAN SEMEDO Cada dia preparada
  • 3. É urgente o amor É urgente o amor. O sal da Língua É urgente um barco no mar. Escuta, escuta: tenho ainda uma coisa a dizer. É urgente destruir certas palavras, Não é importante, eu sei, não vai salvar o mundo, não mudará ódio, solidão e crueldade, a vida de ninguém - mas quem alguns lamentos, é hoje capaz de salvar o mundo muitas espadas. ou apenas mudar o sentido da vida de alguém? É urgente inventar alegria, Escuta-me, não te demoro. multiplicar os beijos, as searas, É coisa pouca, como a chuvinha é urgente descobrir rosas e rios que vem vindo devagar. e manhãs claras. São três, quatro palavras, pouco mais. Palavras que te quero confiar, Cai o silêncio nos ombros e a luz para que não se extinga o seu lume, impura, até doer. o seu lume breve. É urgente o amor, é urgente SELECÇÃO DE RAMIRO CÁ Palavras que muito amei, permanecer.
  • 4. A leoa convenceu o leão, depois de uma grande discussão, a passarem juntos o Verão. Sei lá... talvez no Ceilão! O leão, convencido, com a leoa foi mesmo querido: - Ouve lá o teu rico marido: e se fôssemos para um sítio bem florido? A leoa rosnou e ripostou: - Sabes bem como é que eu sou. Há climas com os quais eu não me dou. Prefiro o fresco. Para o pólo eu vou. E lá partiram, a rugir, para a zona polar. Fartaram-se de pular, de rosnar e de andar. Chegaram lá... o pólo estava a fechar: Pedimos desculpa, mas estamos a gelar! - O pólo está fechado? - gritou a leoa. O leão, escaldado, olhou de alto a baixo e depois de lado. SELECÇÃO DE VICTA SOARES - Anda daí, vamos mas é comer um gelado!