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Intervenções	
  Psicogerontológicas:	
  	
  
Competências,	
  habilidades	
  e	
  ferramentas	
  úteis	
  ao	
  Gerontólogo	
  na	
  avaliação	
  das	
  
demandas	
  
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Profa. Dra. Samila Sathler Tavares Batistoni
Evidências atuais de pesquisa têm demonstrado que idosos são responsivos às intervenções
psicogerontológicas mais diversas. Como entre outros grupos etários, entre idosos as modalidades de
atuação psicológica envolvem uma ampla gama de possibilidades de trabalho, apesar de ser um campo mais
recente. O espectro de atuação abrange desde modificações ambientais e ecológicas, mudanças políticas
como alterações de atitudes ou das relações entre a pessoa com as instituições até intervenções que visam
mudanças intrapsíquicas e aquelas que necessitam de complementaridade de intervenções biológicas. As
intervenções podem ter como resultado efeitos no humor, no bem-estar, no comportamento, no senso de
ajustamento, nas atitudes, em tendências da personalidade e ser desenvolvidas em formato individual,
familiar ou grupal.
Entretanto, ao gerontólogo envolvido na implementação de intervenções psicogerontológicas, o
primeiro procedimento na escolha e definição da sua atuação é avaliação do indivíduo idoso e de suas
demandas alvo. Uma avaliação bem conduzida, em que se leve em consideração os aspectos relacionados ao
envelhecimento e à velhice enquanto fase do ciclo vital, amplia grandemente as possibilidades de eficácia
das intervenções.
Nesse sentido, esse texto traz uma revisão a respeito das ferramentas básicas de avaliação de demandas
psicológicas (entrevista, observação, autorrelatos e autorregistros) para o gerontólogo, ressaltando as
competências e habilidades básicas necessárias especialmente na condução de entrevistas clínicas. O texto
traz também e algumas reflexões e recomendações práticas a respeito da necessidade de se adaptar as
ferramentas e as próprias intervenções quando aplicadas à heterogeneidade das pessoas idosas.
1) Características da entrevista enquanto ferramenta para o Gerontólogo:
A entrevista é um processo bidirecional de interação, entre duas ou mais pessoas com o propósito
previamente fixado no qual uma delas, o entrevistador, procura saber o que acontece com a outra, o
entrevistado, procurando agir conforme essa busca de conhecimento. A entrevista é uma conversação
organizada e com propósitos específicos. Além disso, ela tem uma duração limitada com início, meio e fim
e uma estrutura de condução pré-definida.
Alguns propósitos pelos quais gerontólogos e outros profissionais de saúde ou do campo social podem
utilizar a entrevista são: 1) para coletar informações sobre um indivíduo, família ou grupo sobre aspectos
relevantes ao objetivo da entrevista; 2) para auxiliar na resolução de problemas. Esse último propósito é
também conhecido como “entrevista de ajuda”, “aconselhamento” ou “entrevistas orientadas à mudança”.
O foco deste texto é sobre a entrevista como veículo de coleta de dados com propósitos clínicos e de
intervenção psicológica e social. Utilizada para esse fim, constitui-se em uma das técnicas de avaliação mais
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versáteis e que auxilia no cumprimento de diversas funções ao longo de uma intervenção: obter informações,
explorar hipóteses, observar o comportamento do paciente e influenciá-lo.
No contexto da psicologia, Tavares (2000) define a Entrevista Clínica (aquela que visa desdobramentos
clínicos) como um conjunto de técnicas de investigação, de tempo delimitado, dirigido por um entrevistador
treinado, que utiliza conhecimentos psicológicos, em uma relação profissional, com o objetivo de descrever
e avaliar aspectos pessoais, relacionais ou sistêmicos em um processo que visa fazer recomendações,
encaminhamentos ou propor algum tipo de intervenção em benefício das pessoas entrevistadas.
Interessante observar que essa definição também é pertinente à entrevista que visa desdobramentos clínicos
em Gerontologia, na medida em que inclui os seguintes elementos:
a) Técnicas ou procedimentos
b) Investigação para descrever e avaliar
c) Processo de tempo delimitado (Tempo e setting)
d) Dirigido por entrevistador treinado
e) Conhecimentos científicos
f) Relação profissional
g) Produto: recomendação, encaminhamento ou proposta de intervenção, classificação ou apenas
descrição.
Em geral, as entrevistas clínicas podem ser classificadas quanto:
• Aos Objetivos que conduziram o indivíduo à entrevista;
• A Estrutura de condução da mesma;
• Ao Momento em que se dá ao longo de um processo;
Quanto aos objetivos (todos ligados a descrever e avaliar para oferecer alguma forma de retorno) :
a) Diagnóstica – Visa estabelecer o diagnóstico e o prognóstico do paciente, bem como as indicações
terapêuticas adequadas. Assim, faz-se necessário uma coleta de dados sobre a história do paciente e
sua motivação para o tratamento. Nessa classificação inclui-se às entrevistas denominadas
“anamnese” a qual refere-se a uma técnica estruturada cronologicamente para coletar história do
desenvolvimento do indivíduo (ou da doença, da questão psicológica ou social) de forma mais
detalhada.
b) De Encaminhamento ou triagem – Visa avaliar a demanda do sujeito para um encaminhamento
correto. Devem-se obter informações suficientes para se fazer uma indicação e, ao mesmo tempo
evitar que o entrevistado desenvolva um vínculo forte, uma vez que pode dificultar o processo de
encaminhar;
c) De Seleção de pessoal – O entrevistador deve ter um conhecimento prévio do currículo do
entrevistado, do perfil do cargo, deve fazer uma sondagem sobre as informações que o candidato tem
a respeito da empresa, e destacar os aspectos mais significativos do examinando em relação à vaga
pleiteada e fatores psicológicos ou sociais do profissional (como o grau de motivação e
ajustamentos).
d) De Desligamento (de pacientes ou pessoal) - Identifica os benefícios do tratamento por ocasião da
alta do paciente, examina junto com ele os planos da pós-alta ou a necessidade de trabalhar algum
problema ainda pendente. Essa entrevista também é utilizada com o funcionário que está deixando a
empresa, e tem como o objetivo obter um feedback sobre o ambiente de trabalho, avaliar motivos
relacionados à não permanência de um funcionário ou à alta rotatividade em um determinado setor
de uma empresa.
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e) De Pesquisa – Investiga temas em áreas das mais diversas ciências, somente se realiza a partir da
assinatura do entrevistado ou paciente ao documento: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(Resolução CNS no 196/96), no qual estará explícita a garantia ao sigilo das suas informações e
identificação, e liberdade de continuar ou não no processo.
Os propósitos ou objetivos de uma entrevista é que auxiliarão na delimitação das questões de tempo,
local, número de entrevistas e a necessidade de buscar informações em outras fontes que não apenas o
autorrelato do indivíduo.
Outra classificação das entrevistas é pelo critério de estruturação. Nesse sentido, elas podem ser
classificadas em:
a) Entrevistas estruturadas – Privilegiam a objetividade. As perguntas são quase sempre fechadas ou
delimitadas por opções previamente determinadas e buscam respostas específicas a questões
específicas. Quando respostas abertas são possíveis, geralmente são associadas a esquemas
classificatórios operacionalizados, que facilitam a tradução da informação em categorias do tipo
objetivo.
b) Entrevistas semiestruturadas – Procedimento menos rígido quanto à ordem ou forma de perguntar
ou coletar dados que garante a obtenção da informação necessária de modo padronizado, mas que
aumenta a confiabilidade e fidedignidade por permitir inclusão de perguntas ou colocações que
podem trazer melhores esclarecimentos. O entrevistador tem clareza dos objetivos, do tipo de
informação necessária para atingi-los, de como essa informação deve ser obtida (perguntas sugeridas
ou padronizadas), quando ou em que seqüência, em que condições deve ser investigada (relevância)
e como deve ser considerada (utilização de critérios de avaliação).
c) Entrevistas de livre estruturação (ou “não estruturadas”)- Toda entrevista supõe algum tipo de
estruturação. Distingue-se da simples conversação porque tem como objetivo básico a coleta de
dados. O que se pretende é a obtenção de uma visão geral do problema pesquisado. Nas entrevistas
não estruturadas, o entrevistador segue o informante, mas faz perguntas ocasionais para ajustar o
foco ou para clarificar aspectos importantes. O pesquisador tem geralmente um guia com os tópicos a
serem cobertos na entrevista, mas não tem uma ordem para perguntar sobre estes tópicos.
A entrevista geralmente é utilizada num contexto mais amplo de atuação profissional (de avaliação,
de pesquisa, clínico). Sendo assim, as entrevistas também podem ser classificadas quanto ao momento no ao
longo de um processo:
a) Entrevista Inicial: É a primeira entrevista de um processo de avaliação. Geralmente semi-
estruturada, durante a qual o sujeito fica livre para expor seus problemas. Tem como objetivos
discutir expectativas, clarear as metas do trabalho, e colher informações sobre o entrevistado, que
não poderiam ser obtidas de outras fontes. As primeiras impressões sobre o entrevistado, sua
aparência, comportamento durante a espera, são dados que serão analisados pelo entrevistador, e que
podem facilitar o processo de análise do caso. A primeira entrevista deve permitir conhecer: o modo
de chegada do paciente à consulta (por si mesmo, enviado por alguém ou a conselho de alguém,
etc.); o tipo de relação que o paciente procura estabelecer com o profissional; as queixas iniciais
verbalizadas pelo paciente, em particular a maneira pela qual ele formula seu pedido de ajuda (ou sua
ausência de pedido). No final dessa entrevista devem ficar esclarecidos os seguintes pontos: horários,
duração das sessões, honorários, formas de pagamento (quando particular), condições para
administrar instrumentos de triagem ou testagem e para as condições de consulta a terceiros.
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b) Entrevistas Subseqüentes: Após a entrevista inicial, em que é obtida uma primeira impressão sobre
a pessoa do paciente, esclarecimentos sobre os motivos da procura, e realização do contrato de
trabalho de intervenção, via de regra são necessários mais alguns encontros. O objetivo das
entrevistas subseqüentes é a obtenção de mais dados com riqueza de detalhes sobre a história do
entrevistado, tais como: fases do seu desenvolvimento, escolaridade, relações familiares,
profissionais, sociais e outros.
c) Entrevista de Devolução ou Devolutiva: Após a interpretação dos dados, o entrevistador vai
comunicar-lhe em que consiste o diagnóstico ou avaliação e indicar a terapêutica que julga mais
adequada. O entrevistador retoma os motivos da consulta, e a maneira como o processo de avaliação
foi conduzido. A devolução inicia com os aspectos menos comprometidos do paciente, ou seja,
menos mobilizadores de ansiedade. Deve-se evitar o uso de jargão técnico (expressões própria da
ciência circulante entre os profissionais da área, em outras palavras “gíria profissional”), e continuar
por sintomas ligados diretamente à queixa principal. A entrevista de devolução deve encerrar com a
indicação terapêutica.
2) Competências essenciais do entrevistador e considerações a respeito da comunicação verbal,
não verbal e paraverbal.
As entrevistas clínicas estão sobre os pilares do manejo da comunicação e de técnicas de avaliação
psicológicas e sociais (como a utilização de inventários, escalas e entrevistas pré-estruturadas). O manejo da
comunicação e das técnicas de entrevista é alcançado pela atuação das habilidades sociais do entrevistador.
Assim, para que a entrevista de fato se efetive como auxiliar no trabalho do profissional, não é o bastante
apenas sua compreensão ou domínio teórico e técnico que fundamenta e norteia sua prática, mas também
são necessárias a aquisição de habilidades sociais a partir de experiências pessoais e profissionais, pois estas
darão forma ao manejo da comunicação e das técnicas. Comportamentos socialmente hábeis, além de
possibilitar coleta mais acurada das informações e expressar confiança ao entrevistado, auxiliam também a
modelar o comportamento do entrevistado, eliciando assertividade e clareza nas respostas.
Os comportamentos não verbais, paraverbais e verbais são os meios pelos quais as pessoas se
comunicam constituindo os elementos básicos da habilidade social. Conforme extensa revisão da literatura
de Caballo (2006), os elementos mais utilizados para se julgar comportamentos socialmente hábeis ,
principalmente em situações de comunicação face a face são:
• o olhar ou contato visual; as expressões faciais e os gestos com as mãos (não-verbais)
• a qualidade da voz expressa pelo timbre e volume (paraverbais)
• o conteúdo e fluência da conversação (verbais)
Comportamentos de comunicação não-verbais geralmente são emitidos e recebidos de forma não-
consciente. As mensagens desses comportamentos tem várias funções: substituir palavras; repetir o que se
está dizendo, enfatizar um conteúdo verbal; regular a conversação e até contradizer o conteúdo verbal. Para
serem socialmente hábeis e transmitidos de forma precisa, esses comportamentos devem ser coerentes com o
conteúdo verbal. Nas situações de entrevista, a função de regular a conversação é essencial para coletar
informações relevantes e expressar confiança.
O olhar:
Na comunicação não verbal o olhar tem as funções de sincronizar, acompanhar ou comentar a palavra
falada. Normas extremas de olhar como, por exemplo, a duração ou o desvio excessivo do olhar, pode
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constituir condutas desadaptativas na comunicação com os demais. Um elevado grau de atenção prestado a
outra pessoa supõe um grau comparável de envolvimento com o outro. A quantidade e o tipo de olhar
comunicam atitudes interpessoais. Um olhar fixo intenso indica sentimentos ativos de uma maneira
amistosa, hostil ou temerosa, enquanto desviar o olhar relaciona-se com a timidez, superioridade ocasional
ou submissão.
Características socioculturais e psicológicas estão envolvidas na interpretação e no comportamento
do olhar. Em algumas culturas pode representar hostilidade ou dominância enquanto em outras,
agradabilidade. Em geral, olha-se mais quando:
- se está fisicamente longe do companheiro;
- quando se fala de temas triviais ou impessoais;
- quando não há nada mais para olhar;
- se está interessado nas reações do interlocutor ;
- interesse no companheiro;
- se possui status superior ao do companheiro;
- se pertence a uma cultura que enfatiza o contato visual na interação;
- se é extrovertido;
- se tem grande necessidade de afiliação;
- se é dependente do companheiro;
- se está escutando ao invés de falando;
- se é mulher;
Ao contrário, prevê-se menos olhar fixo ou recíproco quando:
- se discutem temas difíceis e íntimos;
- há outros objetos, pessoas ou elementos pertinentes de fundo;
- não se tem interesse no companheiro;
- tem-se a autopercepção de possuir um status mais elevado que o interlocutor;
- se pertence à uma cultura que impõe sanções ao contato visual;
- se é introvertido;
- se tem pouca necessidade de afiliação ou inclusão;
- se padece de transtornos mentais como autismo, esquizofrenia ou depressão;
- se está confuso, envergonhado, aflito, ansioso, triste, em situação de submissão ou quando se trata de
ocultar algo.
A expressão facial
Existe grande evidência que o rosto é o principal sistema de sinais para mostrar as emoções. Segundo
a psicologia social, a expressão facial representa vários papéis na interação social humana:
a) Mostra o estado emocional de um indivíduo embora ele possa tratar de ocultá-lo;
b) Proporciona uma retroalimentação contínua sobre se compreende, se está surpreso, de acordo em
relação ao que é dito;
c) Indica atitudes para com os outros;
d) Pode atuar como metacomunicação, modificando ou comentando o que é dito ou feito ao mesmo
tempo;
As três regiões faciais, testa-sobrancelhas, olhos-pálpebras e a parte inferior do rosto, são
responsáveis pela manifestação das principais emoções (alegria, tristeza, surpresa, medo, ira, nojo ou
desprezo). Condutas hábeis requerem uma expressão facial que esteja de acordo com a mensagem.
Gestos com as mãos
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Os gestos constituem um segundo canal muito útil para a sincronização e retroalimentação sendo
também eficazes para ilustrar objetos ou ações difíceis de verbalizar. A atividade verbal e a gestual podem
relacionar-se de diversas maneiras: apoiando e amplificando ou contradizendo-a. Numa conversação ou
entrevista, os movimentos da mão podem servir como: emblemas (quando substitutos de palavras ou frases
conhecidos explicitamente pelos membros de uma cultura) adaptadores (satisfazendo as necessidades
corporais ou para controlar e enfrentar emoções) e ilustradores (quando unidos diretamente com a fala).
A modulação do comportamento de comunicação paraverbal: Os componentes paralinguísticos.
A comunicação humana por meio da fala depende do emprego especializado do canal audiovisual.
Esse canal também transporta mensagens na área paralinguística ou vocal – representa o “como” se fala em
oposição ao “que” se fala. Sinais vocais são capazes de comunicar mensagens por si mesmas (chorar,
bocejar, suspirar) e outras encontram-se relacionadas ao conteúdo verbal, incluindo o volume, o tom, o
timbre, a clareza, a velocidade, a ênfase e a fluência. Os “hums” e “ehs”, as pausas e as vacilações. Os sinais
vocais podem afetar drasticamente o significado do que se diz e de como se recebe a mensagem.
Qualidade da voz: o volume e o timbre
A qualidade da voz expressa pelo seu timbre e o seu volume, está relacionada com as competências
sociais. Um volume baixo de voz pode indicar submissão ou tristeza enquanto um alto volume de voz pode
indicar segurança, domínio, extroversão ou persuasão. Falar demasiado alto, sugere agressividade, ira ou
rudeza, podendo ter conseqüências negativas. Um volume moderado pode indicar agrado, atividade, alegria.
As mudanças no volume da voz podem ser empregadas em uma conversação para enfatizar pontos. Uma voz
que varia pouco em volume, não será muito interessante de escutar.
O timbre é a qualidade vocal ou ressonância da voz, produzida principalmente como resultado da
forma das cavidades orais. As pessoas diferenciam-se nessas características, com predominância de voz
aguda, plana, oca ou robusta. Um timbre plano, monótono, pode produzir a sensação de depressão,
desânimo, enquanto um timbre mais grave pode dar a impressão de maturidade ou sofisticação. Durante uma
entrevista, as vozes dos pacientes variam de vacilantes a mais altas e robustas ou ressonantes.
Os componentes verbais
Conteúdo, fluência e duração.
Conteúdo – A fala é empregada para uma variedade de propósitos, cujo conteúdo varia
evidentemente. Os conteúdos podem ser altamente pessoais, impessoais, concretos ou abstratos. Pode tratar
sobre assuntos internos de quem fala, seus pensamentos, sentimentos, atitudes e opiniões ou sobre assuntos
externos. Os conteúdos têm diferentes expressões e funções, como a fala egocêntrica (dirigida para si
mesmo), as instruções (influenciar a conduta dos demais), as perguntas (provocar respostas apropriadas),
comentários (sugestões e informações),expressão de estados emocionais ou atitudes e mensagens latentes
(frases com mensagens implícitas). Para constituir-se numa conversação, a fala integra de forma complexa e
cuidadosa os sinais verbais, paraverbais e não verbais.
Fluência – Vacilações, falsos começos e repetições são comuns nas conversações diárias. Porém, as
perturbações excessivas da fluência da fala, podem causar impressão de insegurança, incompetência, pouco
interesse ou ansiedade. Exemplos: a presença de muitos períodos de silêncio, o emprego excessivo de
palavras de recheio durante as pausas, e as repetições, gaguejos, erros de pronúncia, omissões e palavras sem
sentido.
Duração - Outra variável importante para uma conduta socialmente hábil é o tempo que o indivíduo
se mantém falando. Durações curtas ou demasiadas podem ser deficientes. O mais adequado é o intercâmbio
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recíproco de informações. Compartilhar um tempo igual de fala não somente ínsita os demais a verem essa
pessoa como agradável, mas também transmite uma sensação de agrado, assertividade, capacidade para
enfrentar as situações e o nível de ansiedade social.
3) O Rapport: Elemento essencial na entrevista
Competências em coordenar os elementos da conduta socialmente hábil são essenciais para o
estabelecimento do rapport ou de um relacionamento terapêutico entendido como o alcance da colaboração
entre o cliente e entrevistador nas tarefas de coleta de informações válidas e confiáveis. A literatura aponta
algumas classes de habilidades do entrevistador que inspiram um senso de confiança no cliente, facilitando a
emissão de comportamentos de colaboração:
a) Estar presente, no sentido de estar inteiramente disponível para o outro naquele momento e poder
ouvi-lo sem a interferência de questões pessoais;
b) Ajudar o paciente a se sentir à vontade e a desenvolver uma aliança de trabalho;
c) Facilitar a expressão dos motivos que levaram a pessoa a ser encaminhada ou buscar ajuda;
d) Buscar esclarecimentos para colocações vagas ou incompletas;
e) Gentilmente, confrontar esquivas e contradições;
f) Tolerar a ansiedade relacionada aos temas evocados na entrevista;
g) Reconhecer defesas e modos de estruturação do paciente, especialmente quando elas atuam
diretamente na relação com o entrevistador (transferência);
h) Compreender seus processos contratransferênciais;
i) Assumir a iniciativa em momentos de impasse;
j) Dominar as técnicas que utiliza;
Como a entrevista é um processo de influência mútua, o entrevistador pode regular sua reação aos
comportamentos verbais do paciente, moldando o comportamento do cliente ao processo de entrevista. Um
exemplo é a emissão de respostas que demonstram que o paciente está sendo ouvido e que demonstram
interesse em compreendê-lo e que estimulam o comportamento de auto-revelação. Quatro importantes
respostas efetivas a essas funções são a clarificação, a paráfrase, a reflexão e os resumos.
a) Clarificar – Envolve questionar o cliente a respeito do conteúdo de uma resposta recente. É usada
para encorajar a elaboração do que foi dito, estabelecer a acurácia do que se ouviu e clarificar
colocações confusas (Ex: Pelo que entendi você está dizendo que não sabe como vai encarar suas
responsabilidades agora que você perdeu a habilidade avançar sem ajuda?)
b) Parafrasear- envolve transmitir o conteúdo da mensagem com outras palavras e usá-la para ajudar o
foco do cliente sobre o conteúdo da mensagem, ou para enfatizar mais o conteúdo do que o afeto.
c) Refletir – envolve transmitir refrasear o componente afetivo da afirmação do cliente. É usada para
encorajar a expressão do afeto ou ampliar sua intensidade, para ajudar o cliente a tomar
conhecimento e manejar respostas afetivas e a discriminar entre diferentes tipos de respostas afetivas.
d) Resumir – Envolve transmitir duas ou mais paráfrases ou reflexões do que foi dito pelo cliente
num período de tempo. Pode ser usada para transmitir compreensão do entrevistador, mas também
para realçar e identificar temas ou padrões comuns às falas, interromper fala excessiva ou revisar o
progresso de uma sessão de entrevista.
Táticas de entrevista
Antes da entrevista é importante:
a) Organizar o espaço físico e suas características de iluminação, posicionamento do mobiliário e
distancia suficiente entre assentos do entrevistador e entrevistado;
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b) Apresentar-se como entrevistador e clarificar como o entrevistado prefere ser chamado;
c) Explicar o propósito da entrevista, as expectativas do entrevistado e seu grau de compreensão do que
foi dito;
d) Descrever a natureza confidencial das informações e possíveis limites da confidencialidade;
e) Explicar a natureza das perguntas ou instrumentos utilizados;
f) Discutir sobre horários, total de entrevistas, pagamentos, etc.
Outras táticas
Começar com questões abertas e, após observar as respostas do entrevistado, usar questões mais
diretas. Uma vantagem desse procedimento é que as questões abertas requerem que o cliente compreenda,
organiza e expresse por si mesmo suas concepções gerais sobre o tópico. Nesse momento podem ser notados
aspectos como a fluência verbal, o nível de assertividade, o tom de voz, o nível de energia, as hesitações,
termos utilizados e áreas de ansiedade do entrevistado.
Evitar perguntas do tipo “Por que”
Geralmente aumentam as defesas do entrevistado, soando acusatórias ou críticas. Ao invés, solicitar
ao entrevistado que expresse a forma como ele entende determinado fenômeno ou ocorrência. Essa opção é
mais provável resultar em uma descrição mais do que em uma justificativa e assim, manter o cliente mais
centrado na tarefa.
Conclusão da entrevista
Alertar sobre o encerramento do tempo alguns minutos antes (+10) para que haja conclusão do
raciocínio do entrevistado e abra oportunidades para esclarecimentos de dúvidas. Ao final da entrevista, o
entrevistador deve resumir os principais temas e se apropriado, fazer recomendações.
Registros dos dados
Existem várias formas de manter registros dos dados, desde registros escritos à utilização de
gravações em áudio ou vídeo. Contudo, o preparo de resumos escritos organizados se mostram suficientes
aos objetivos de avaliação e indicação da terapêutica. Se a entrevista for no formato semiestruturado ou sem
estruturação é importante tomar notas durante a entrevista, porém é interessante que essas sejam pequenas e
de centradas em pontos-chave e que ao final se preencham os formulários ou os registros organizados.
4) Considerações sobre a Diversidade Humana
O sucesso no processo de entrevistar, e mais amplamente de avaliar, não é a utilização mecânica das
técnicas e competências. É fundamental considerar a individualidade mesmo entre grupos característicos
(adolescentes, idosos, alcoólicos, etc.). Isso envolve habilidades para adaptar e ajustar as competências às
demandas específicas. Entre idosos, a idade cronológica em si não é um bom indicador de quanta adaptação
uma técnica de avaliação ou intervenção é necessária. Indicadores de capacidade funcional, cognitiva e de
funcionamento socioemocional são indicadores mais fidedignos à medida que apontam as mudanças
normais ou patológicas que podem se associar ao envelhecimento.
O conteúdo das entrevistas que visam coletar dados para a intervenção psicogerontológica com idosos
deve conter os seguintes elementos:
• Demanda do paciente: motivo da procura, motivo da entrevista;
• Avaliação multidimensional, porém com o enfoque específico: Capacidade funcional; Cognição;
Sintomas depressivos e ansiosos; Recursos sociais;
• Identificar:
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o Experiência atual de eventos de vida estressantes, as formas e resultados do enfrentamento
destes e as experiências prévias relacionadas à queixa principal ou meta de entrevista;
o Recursos de enfrentamento e potencialidades:
o Padrões comportamentais de assertividade ou dependência.
Com base nessas informações é possível traçar o tipo da intervenção e sua estruturação básica, ou
seja, se esta se dará em formato individual, grupal ou familiar.
Considerações especiais a respeito da condução de entrevistas psicológicas com idosos:
Em primeiro lugar, no processo de estabelecimento do rapport com pacientes idosos considerar
aspectos relativos ao:
• Plano das atitudes e crenças sobre o envelhecimento;
• Plano das dinâmicas da relação: Transferência, contratransferências e Resistências;
• Necessidade de adaptações das técnicas frente à déficits sensoriais, condições de saúde física ou
mental que os idosos podem apresentar;
É importante atentar para vieses de interpretação dos dados provenientes de Ageímo (Butler, 1969).
Além da recomendação de se possuir conhecimentos sobre o processo de envelhecimento, é importante
conhecer como as mudanças físicas que se associam ao envelhecimento podem influenciar o processo de
entrevista. Conhecimento e consideração desses fatores podem determinar o alcance de uma entrevista bem-
sucedida ou incompleta e comprometida.
Também é necessário detectar possíveis fontes de dificuldades na dinâmica transferencial com
profissionais mais jovens, tais como :
a)Supercontrole ou de supeproteção, gerando angústias contra-transferenciais ( idosos podem infantilizar o
terapeuta ou o terapeuta projetar experiências familiares ao paciente).
b)Centralidade da saúde física no discurso do idoso, o qual tende a queixar dos problemas psicológicos em
termos somáticos.
c) Foco sobre do entrevistador sobre “problemas da velhice” tais como as doenças, o luto ou a
aposentadoria, pois , em muitas situações, esta não é a demanda principal.
Entrevistar idosos pode envolver a possibilidade da influência de alguns fatores que precisam ser
bem manejados. Cabe salientar que tais adaptações também podem ser necessárias não só no processo de
avaliação, mas no de intervenção. Exemplos:
• A Redução do estresse e ansiedade frente à ocasião da entrevista pode gerar grande cooperação do
cliente, uma exploração mais completa dos problemas apresentados, uma baixa probabilidade de
exacerbação dos problemas associados com comprometimentos cognitivos. A redução da ansiedade
pode ser obtida por vários meios. Informar sobre a natureza de algumas questões, dar liberdade a
cliente esclareça dúvidas, utilizar de técnicas de relaxamento antes da entrevista. Influências de
coorte como a tarefa não habitual de revelar conteúdos privados a um estranho, o temor de perda de
autonomia a depender do resultado da entrevista, frustração resultante da inabilidade de responder
algumas perguntas e a preocupação de que déficits de memória sejam percebidos.
• História médica passada ou atual deve ser considerada juntamente com uma revisão das
medicações prescritas. Em especial, o status dos domínios sensoriais deve ser avaliado antes da
entrevista. Na presença de pouca energia física, a entrevista pode requerer mais tempo para ser
realizada.
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• Déficits auditivos- A perda da audição é um problema freqüente entre idosos, sendo mais prevalente
entre homens do que entre mulheres. Importante minimizar ruídos no ambiente de entrevista. Tom de
voz ou de sons muito agudos também aumentam dificuldades de discriminação e compreensão
auditiva. Os idosos também podem ter dificuldade de discriminar algumas consoantes. Algumas
conseqüências provenientes da não compreensão do que lhe está sendo dito incluem a negação da
perda auditiva, isolamento, depressão, erros diagnósticos, reações paranóides. Recomendações
práticas - Privilegiar ambientes tranqüilos que minimizem distrações ou confusões auditivas. Evitar
fala rápida ou exagerada, iluminação ruim ou usar gestos ou objetos que se interponham frente aos
lábios do entrevistador. Sentar-se mais próximo do entrevistado, utilizando de uma boa dicção , bom
volume de voz,porém sem super-articular as palavras ( o que pode deformar expressões faciais,
dificultando seu reconhecimento). Caso haja necessidade, direcionar o som da voz ao ouvido mais
preservado ou amplificar a voz e se necessário, recorrer à respostas escritas. Importante estar
vigilante à escuta seletiva associadas com certas demandas, desmotivação ou medo de falhas e
desempenho ruim. Discriminar se a dificuldade é mesmo de ouvir ou de entender.
• Déficits visuais – A prevalência tende a ser um pouco maior entre mulheres. Geralmente manifestam
dificuldades frente a comunicações não-verbal e expressões faciais. Importante esclarecer sobre
informações do ambiente e disponibilizar ajudar e apoio para ser guiado se necessário.
Recomendações práticas: Compreenda as idiossincrasias do déficit (ou seja, se é mais relativo a
cores, contrastes, ou campo visual, o quanto o indivíduo é capaz de enxergar com óculos e sem
óculos). Examine as condições de iluminação ou necessidade de instrumentos como lupas. Evitar
materiais de pesquisa em papéis com brilho ou que dependam de pistas visuais ou necessitem
desenhos. Limite orientações não verbais dando preferência ao verbal e sinestésico.
• Transtornos motores - Identificar tipo, severidade e duração dos transtornos motores e também as
reações dos clientes e suas adaptações à incapacidades. Entre os mais comuns estão o Parkinsonismo,
tremor senil ou essencial, corea senil, apraxia, neuropatia periférica, fraqueza muscular (miopatias) e
efeitos colaterais de medicamentos (ex. neurolépticos). Recomendações práticas: Alguns idosos
podem se cansar rapidamente, requerendo intervalos de descanso ou entrevistas mais curtas. Alguns
podem exibir dificuldades para articular palavras (provenientes de episódios como AVC), que
impliquem em utilizar meios escritos para respostas ou formatar as perguntas para serem respondidas
por meio de sim ou não.
• Déficits no funcionamento cognitivo - Declínios leves ou subestimação da memória são queixas
comuns. Alguns idosos podem ter aumento na dificuldade de abstração e de flexibilidade mental ou
dificuldades com tarefas que envolvam grandes demandas à memória de trabalho ou que demandem
atenção concentrada. Nesses casos, pode-se dar preferência a perguntas mais específicas ou com
oferecimento de alternativas de respostas, visto que geralmente os idosos têm mais facilidade em
reconhecer do que de relembrar respostas. Recomendações práticas: Apresentar as questões de
forma mais simples, mais curta e menos complexas reduzem as demandas à memória de trabalho e à
atenção sustentada. Habilidades de escuta ativa como (parafrasear, resumir, clarificar e refletir)
também auxiliam a memória de trabalho e a manutenção do foco da entrevista.
• Ritmos biológicos - A cronobiologia e psicologia demonstram diferenças etárias nos picos de
desempenho em atividades ao longo do dia. Cerca de 70% dos idosos experienciam esses picos no
período da manhã. Recomendações práticas: avaliações de domínios cognitivos são potencialmente
susceptíveis às alterações do ciclo circadiano, sendo importante identificar com o paciente ou
informante sobre esses períodos do dia.
11	
  
	
  
	
  
• O envolvimento da família – A depender das demandas e circunstâncias, a família pode ou não
participar do processo de entrevista. Contudo é importante salientar que quando os problemas são de
natureza emocional ou que emanam conflitos familiares, a entrevista individual com o idoso é mais
efetiva. Coletar dados a partir de relatos da família é de extrema importância nas avaliações
gerontológicas, contudo, não necessariamente precisam ser realizadas no mesmo momento de
entrevista com o idoso.
Encerrando a revisão a respeito da entrevista como instrumento de coleta de dados e avaliação de
idosos, cabe lembrar dois princípios éticos fundamentais envolvidos em processos de entrevista a indivíduos
de qualquer idade são a confidencialidade e o estímulo à autodeterminação. As informações coletadas
devem ter o objetivo único de auxiliar as tomadas de decisão por parte do profissional entrevistador e,
mesmo com outros profissionais, o compartilhamento de informações deve ser concedido pelo idoso ou seu
responsável (no caso de comprometimentos cognitivos severos). O segundo princípio ético envolvido na
entrevista é o de que o entrevistado é quem deve decidir e ser livre a respeito das respostas que dará ou não.
O entrevistador deve apenas prover oportunidades para as decisões do entrevistado e não impor condições
ou suas próprias decisões.
5) Técnicas complementares à entrevista: observação, autorrelato e autorregistro
Técnicas de observação: é o método mais amplo de avaliação. Geralmente envolvem procedimentos de
coleta de dados contidos num protocolo com categorias comportamentais pré-definidas no qual os
comportamentos do sujeito serão codificados ou registrados (Exemplo: número de vezes em que ocorre
incontinência urinária numa semana típica; número de vezes em que o indivíduo interage socialmente de
maneira assertiva; etc.). Um procedimento eficaz de coleta de dados comportamentais é a utilização do
modelo de análise funcional do comportamento. Nesse procedimento há o registro não só das ocorrências do
comportamento e suas características (como duração e intensidade), mas também dos fatores ou estímulos
que o antecederam e as conseqüências do comportamento. Esse tipo de registro auxilia em intervenções
tanto com foco no comportamento específico, mas também nos fatores ambientais que mantém o
comportamento e que podem ser alvo de mudança. O modelo básico desses registros é:
Antecedentes
(fatores que dispararam
o comportamento, etc..)
Comportamento Freqüência
Duração
Intensidade
Conseqüências
(Reforços ou punição)
Autorrelatos: As fonte são as mensagens verbais do sujeito sobre si mesmo e são interpretadas pelo
avaliador como indicadores de estruturas internas ou processos tais como personalidade, atitudes, motivos e
outros conceitos intra-psíquicos desenvolvidos pelas diversas teorias psicológicas. Além de estar envolvidos
em outros métodos como na entrevista e na observação, os autorrelatos podem ser obtidos por meio de
questionários, inventários ou escalas que contenham afirmativas verbais relevantes e uma variedade de
formatos de respostas (verdadeiro x falso, checklists, respostas escalares...). Algumas ameaças à acurácia
das informações são as impressões negativas ou positivas, a simulação, a influência de processos de
desejabilidade social (responder o que se acredita que o outro quer ouvir).
Autorregistros: a informação obtida por esta técnica é muito valiosa, já que se centram em acontecimentos
específicos que ocorrem na vida cotidiana do sujeito e permite contrastar com variáveis relevantes
(antecedentes e conseqüências) obtidas com o método de observação. É utilizada em avaliações de
12	
  
	
  
	
  
transtornos depressivos, transtornos do sono, incontinência urinária, alcoolismo e ansiedade. Pode ser obtida
diretamente com o idoso ou com um informante, por exemplo, um cuidador de idosos dependentes.
6) Considerações finais:
No campo da Psicogerontologia, faz-se necessário que o gerontólogo derive das teorias e técnicas de
avaliação subsídios para uma prática sensível às reais necessidades dos idosos. Desenvolver competências e
habilidades na condução de entrevistas e intervenções com idosos é o primeiro passo nessa direção e
envolve experiência com essa população , atenção à heterogeneidade desse grupo, domínio de conteúdos
específicos e uma capacidade crítica na escolha dos conteúdos, instrumentos e formatos escolhidos para a
atuação.
Referências:
Obs. Esse texto é fruto de uma construção pessoal a partir da compilação de recomendações da
seguinte literatura:
Berman, Pearl S.,& Susan Shopland (2005).Interviewing and diagnostic exercises for clinical and
counseling skills building . New Jersey:Lawrence Erlbaum Associates, Inc.
Caballo, V. E. (2003). Manual de Avaliação e Treinamento das Habilidades Sociais. São Paulo: Livraria
Santos Editora.
Edelstein, B.A., Martin, R.R. y Koven, L.P. (2003). Psychological Assessment in Geriatric Settings. In J.R.
Graham & J. A. Naglieri (Eds.), Handbook of Psychology. Volume 10. Assessment Psychology (pp. 389-
414). New Jersey: John Wiley & Sons.
Elderstein, B. A & Semenchuk, E. M (1996). Interviewing Older Adults. In L.L. Carstensen, B.A. Edelstein,
& L. Dornbrand (Eds.), The practical handbook of clinical gerontology (pp. 217-239). Thousand Oaks, CA:
Sage.
Fernández-Ballesteros, R. (Ed.) (1997). Introduccion a la evaluacion psicológica I y II (2ª ed.). Madrid:
Ediciones Pirámide
Knight, B.G. (1999). The scientific basis for psychological interventions with older adults: An overview.
Journal of Clinical Psychology: In Session, 55, 927-934.
Rainsford, C. (2002). Counselling older adults. Reviews in Clinical Gerontology, 12(2), 159-164.
Tavares, M.(2000). A entrevista clínica. In Jurema Cunha e colaboradores (Eds). Psicodiagnóstico V. 5ª ed.
Porto Alegre: Artmed.

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Intervenções Psicogerontológicas_Tecnicas e recomendacoes para a avaliacao.doc.pdf

  • 1. 1       Intervenções  Psicogerontológicas:     Competências,  habilidades  e  ferramentas  úteis  ao  Gerontólogo  na  avaliação  das   demandas   ________________________________________________________________   Profa. Dra. Samila Sathler Tavares Batistoni Evidências atuais de pesquisa têm demonstrado que idosos são responsivos às intervenções psicogerontológicas mais diversas. Como entre outros grupos etários, entre idosos as modalidades de atuação psicológica envolvem uma ampla gama de possibilidades de trabalho, apesar de ser um campo mais recente. O espectro de atuação abrange desde modificações ambientais e ecológicas, mudanças políticas como alterações de atitudes ou das relações entre a pessoa com as instituições até intervenções que visam mudanças intrapsíquicas e aquelas que necessitam de complementaridade de intervenções biológicas. As intervenções podem ter como resultado efeitos no humor, no bem-estar, no comportamento, no senso de ajustamento, nas atitudes, em tendências da personalidade e ser desenvolvidas em formato individual, familiar ou grupal. Entretanto, ao gerontólogo envolvido na implementação de intervenções psicogerontológicas, o primeiro procedimento na escolha e definição da sua atuação é avaliação do indivíduo idoso e de suas demandas alvo. Uma avaliação bem conduzida, em que se leve em consideração os aspectos relacionados ao envelhecimento e à velhice enquanto fase do ciclo vital, amplia grandemente as possibilidades de eficácia das intervenções. Nesse sentido, esse texto traz uma revisão a respeito das ferramentas básicas de avaliação de demandas psicológicas (entrevista, observação, autorrelatos e autorregistros) para o gerontólogo, ressaltando as competências e habilidades básicas necessárias especialmente na condução de entrevistas clínicas. O texto traz também e algumas reflexões e recomendações práticas a respeito da necessidade de se adaptar as ferramentas e as próprias intervenções quando aplicadas à heterogeneidade das pessoas idosas. 1) Características da entrevista enquanto ferramenta para o Gerontólogo: A entrevista é um processo bidirecional de interação, entre duas ou mais pessoas com o propósito previamente fixado no qual uma delas, o entrevistador, procura saber o que acontece com a outra, o entrevistado, procurando agir conforme essa busca de conhecimento. A entrevista é uma conversação organizada e com propósitos específicos. Além disso, ela tem uma duração limitada com início, meio e fim e uma estrutura de condução pré-definida. Alguns propósitos pelos quais gerontólogos e outros profissionais de saúde ou do campo social podem utilizar a entrevista são: 1) para coletar informações sobre um indivíduo, família ou grupo sobre aspectos relevantes ao objetivo da entrevista; 2) para auxiliar na resolução de problemas. Esse último propósito é também conhecido como “entrevista de ajuda”, “aconselhamento” ou “entrevistas orientadas à mudança”. O foco deste texto é sobre a entrevista como veículo de coleta de dados com propósitos clínicos e de intervenção psicológica e social. Utilizada para esse fim, constitui-se em uma das técnicas de avaliação mais
  • 2. 2       versáteis e que auxilia no cumprimento de diversas funções ao longo de uma intervenção: obter informações, explorar hipóteses, observar o comportamento do paciente e influenciá-lo. No contexto da psicologia, Tavares (2000) define a Entrevista Clínica (aquela que visa desdobramentos clínicos) como um conjunto de técnicas de investigação, de tempo delimitado, dirigido por um entrevistador treinado, que utiliza conhecimentos psicológicos, em uma relação profissional, com o objetivo de descrever e avaliar aspectos pessoais, relacionais ou sistêmicos em um processo que visa fazer recomendações, encaminhamentos ou propor algum tipo de intervenção em benefício das pessoas entrevistadas. Interessante observar que essa definição também é pertinente à entrevista que visa desdobramentos clínicos em Gerontologia, na medida em que inclui os seguintes elementos: a) Técnicas ou procedimentos b) Investigação para descrever e avaliar c) Processo de tempo delimitado (Tempo e setting) d) Dirigido por entrevistador treinado e) Conhecimentos científicos f) Relação profissional g) Produto: recomendação, encaminhamento ou proposta de intervenção, classificação ou apenas descrição. Em geral, as entrevistas clínicas podem ser classificadas quanto: • Aos Objetivos que conduziram o indivíduo à entrevista; • A Estrutura de condução da mesma; • Ao Momento em que se dá ao longo de um processo; Quanto aos objetivos (todos ligados a descrever e avaliar para oferecer alguma forma de retorno) : a) Diagnóstica – Visa estabelecer o diagnóstico e o prognóstico do paciente, bem como as indicações terapêuticas adequadas. Assim, faz-se necessário uma coleta de dados sobre a história do paciente e sua motivação para o tratamento. Nessa classificação inclui-se às entrevistas denominadas “anamnese” a qual refere-se a uma técnica estruturada cronologicamente para coletar história do desenvolvimento do indivíduo (ou da doença, da questão psicológica ou social) de forma mais detalhada. b) De Encaminhamento ou triagem – Visa avaliar a demanda do sujeito para um encaminhamento correto. Devem-se obter informações suficientes para se fazer uma indicação e, ao mesmo tempo evitar que o entrevistado desenvolva um vínculo forte, uma vez que pode dificultar o processo de encaminhar; c) De Seleção de pessoal – O entrevistador deve ter um conhecimento prévio do currículo do entrevistado, do perfil do cargo, deve fazer uma sondagem sobre as informações que o candidato tem a respeito da empresa, e destacar os aspectos mais significativos do examinando em relação à vaga pleiteada e fatores psicológicos ou sociais do profissional (como o grau de motivação e ajustamentos). d) De Desligamento (de pacientes ou pessoal) - Identifica os benefícios do tratamento por ocasião da alta do paciente, examina junto com ele os planos da pós-alta ou a necessidade de trabalhar algum problema ainda pendente. Essa entrevista também é utilizada com o funcionário que está deixando a empresa, e tem como o objetivo obter um feedback sobre o ambiente de trabalho, avaliar motivos relacionados à não permanência de um funcionário ou à alta rotatividade em um determinado setor de uma empresa.
  • 3. 3       e) De Pesquisa – Investiga temas em áreas das mais diversas ciências, somente se realiza a partir da assinatura do entrevistado ou paciente ao documento: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Resolução CNS no 196/96), no qual estará explícita a garantia ao sigilo das suas informações e identificação, e liberdade de continuar ou não no processo. Os propósitos ou objetivos de uma entrevista é que auxiliarão na delimitação das questões de tempo, local, número de entrevistas e a necessidade de buscar informações em outras fontes que não apenas o autorrelato do indivíduo. Outra classificação das entrevistas é pelo critério de estruturação. Nesse sentido, elas podem ser classificadas em: a) Entrevistas estruturadas – Privilegiam a objetividade. As perguntas são quase sempre fechadas ou delimitadas por opções previamente determinadas e buscam respostas específicas a questões específicas. Quando respostas abertas são possíveis, geralmente são associadas a esquemas classificatórios operacionalizados, que facilitam a tradução da informação em categorias do tipo objetivo. b) Entrevistas semiestruturadas – Procedimento menos rígido quanto à ordem ou forma de perguntar ou coletar dados que garante a obtenção da informação necessária de modo padronizado, mas que aumenta a confiabilidade e fidedignidade por permitir inclusão de perguntas ou colocações que podem trazer melhores esclarecimentos. O entrevistador tem clareza dos objetivos, do tipo de informação necessária para atingi-los, de como essa informação deve ser obtida (perguntas sugeridas ou padronizadas), quando ou em que seqüência, em que condições deve ser investigada (relevância) e como deve ser considerada (utilização de critérios de avaliação). c) Entrevistas de livre estruturação (ou “não estruturadas”)- Toda entrevista supõe algum tipo de estruturação. Distingue-se da simples conversação porque tem como objetivo básico a coleta de dados. O que se pretende é a obtenção de uma visão geral do problema pesquisado. Nas entrevistas não estruturadas, o entrevistador segue o informante, mas faz perguntas ocasionais para ajustar o foco ou para clarificar aspectos importantes. O pesquisador tem geralmente um guia com os tópicos a serem cobertos na entrevista, mas não tem uma ordem para perguntar sobre estes tópicos. A entrevista geralmente é utilizada num contexto mais amplo de atuação profissional (de avaliação, de pesquisa, clínico). Sendo assim, as entrevistas também podem ser classificadas quanto ao momento no ao longo de um processo: a) Entrevista Inicial: É a primeira entrevista de um processo de avaliação. Geralmente semi- estruturada, durante a qual o sujeito fica livre para expor seus problemas. Tem como objetivos discutir expectativas, clarear as metas do trabalho, e colher informações sobre o entrevistado, que não poderiam ser obtidas de outras fontes. As primeiras impressões sobre o entrevistado, sua aparência, comportamento durante a espera, são dados que serão analisados pelo entrevistador, e que podem facilitar o processo de análise do caso. A primeira entrevista deve permitir conhecer: o modo de chegada do paciente à consulta (por si mesmo, enviado por alguém ou a conselho de alguém, etc.); o tipo de relação que o paciente procura estabelecer com o profissional; as queixas iniciais verbalizadas pelo paciente, em particular a maneira pela qual ele formula seu pedido de ajuda (ou sua ausência de pedido). No final dessa entrevista devem ficar esclarecidos os seguintes pontos: horários, duração das sessões, honorários, formas de pagamento (quando particular), condições para administrar instrumentos de triagem ou testagem e para as condições de consulta a terceiros.
  • 4. 4       b) Entrevistas Subseqüentes: Após a entrevista inicial, em que é obtida uma primeira impressão sobre a pessoa do paciente, esclarecimentos sobre os motivos da procura, e realização do contrato de trabalho de intervenção, via de regra são necessários mais alguns encontros. O objetivo das entrevistas subseqüentes é a obtenção de mais dados com riqueza de detalhes sobre a história do entrevistado, tais como: fases do seu desenvolvimento, escolaridade, relações familiares, profissionais, sociais e outros. c) Entrevista de Devolução ou Devolutiva: Após a interpretação dos dados, o entrevistador vai comunicar-lhe em que consiste o diagnóstico ou avaliação e indicar a terapêutica que julga mais adequada. O entrevistador retoma os motivos da consulta, e a maneira como o processo de avaliação foi conduzido. A devolução inicia com os aspectos menos comprometidos do paciente, ou seja, menos mobilizadores de ansiedade. Deve-se evitar o uso de jargão técnico (expressões própria da ciência circulante entre os profissionais da área, em outras palavras “gíria profissional”), e continuar por sintomas ligados diretamente à queixa principal. A entrevista de devolução deve encerrar com a indicação terapêutica. 2) Competências essenciais do entrevistador e considerações a respeito da comunicação verbal, não verbal e paraverbal. As entrevistas clínicas estão sobre os pilares do manejo da comunicação e de técnicas de avaliação psicológicas e sociais (como a utilização de inventários, escalas e entrevistas pré-estruturadas). O manejo da comunicação e das técnicas de entrevista é alcançado pela atuação das habilidades sociais do entrevistador. Assim, para que a entrevista de fato se efetive como auxiliar no trabalho do profissional, não é o bastante apenas sua compreensão ou domínio teórico e técnico que fundamenta e norteia sua prática, mas também são necessárias a aquisição de habilidades sociais a partir de experiências pessoais e profissionais, pois estas darão forma ao manejo da comunicação e das técnicas. Comportamentos socialmente hábeis, além de possibilitar coleta mais acurada das informações e expressar confiança ao entrevistado, auxiliam também a modelar o comportamento do entrevistado, eliciando assertividade e clareza nas respostas. Os comportamentos não verbais, paraverbais e verbais são os meios pelos quais as pessoas se comunicam constituindo os elementos básicos da habilidade social. Conforme extensa revisão da literatura de Caballo (2006), os elementos mais utilizados para se julgar comportamentos socialmente hábeis , principalmente em situações de comunicação face a face são: • o olhar ou contato visual; as expressões faciais e os gestos com as mãos (não-verbais) • a qualidade da voz expressa pelo timbre e volume (paraverbais) • o conteúdo e fluência da conversação (verbais) Comportamentos de comunicação não-verbais geralmente são emitidos e recebidos de forma não- consciente. As mensagens desses comportamentos tem várias funções: substituir palavras; repetir o que se está dizendo, enfatizar um conteúdo verbal; regular a conversação e até contradizer o conteúdo verbal. Para serem socialmente hábeis e transmitidos de forma precisa, esses comportamentos devem ser coerentes com o conteúdo verbal. Nas situações de entrevista, a função de regular a conversação é essencial para coletar informações relevantes e expressar confiança. O olhar: Na comunicação não verbal o olhar tem as funções de sincronizar, acompanhar ou comentar a palavra falada. Normas extremas de olhar como, por exemplo, a duração ou o desvio excessivo do olhar, pode
  • 5. 5       constituir condutas desadaptativas na comunicação com os demais. Um elevado grau de atenção prestado a outra pessoa supõe um grau comparável de envolvimento com o outro. A quantidade e o tipo de olhar comunicam atitudes interpessoais. Um olhar fixo intenso indica sentimentos ativos de uma maneira amistosa, hostil ou temerosa, enquanto desviar o olhar relaciona-se com a timidez, superioridade ocasional ou submissão. Características socioculturais e psicológicas estão envolvidas na interpretação e no comportamento do olhar. Em algumas culturas pode representar hostilidade ou dominância enquanto em outras, agradabilidade. Em geral, olha-se mais quando: - se está fisicamente longe do companheiro; - quando se fala de temas triviais ou impessoais; - quando não há nada mais para olhar; - se está interessado nas reações do interlocutor ; - interesse no companheiro; - se possui status superior ao do companheiro; - se pertence a uma cultura que enfatiza o contato visual na interação; - se é extrovertido; - se tem grande necessidade de afiliação; - se é dependente do companheiro; - se está escutando ao invés de falando; - se é mulher; Ao contrário, prevê-se menos olhar fixo ou recíproco quando: - se discutem temas difíceis e íntimos; - há outros objetos, pessoas ou elementos pertinentes de fundo; - não se tem interesse no companheiro; - tem-se a autopercepção de possuir um status mais elevado que o interlocutor; - se pertence à uma cultura que impõe sanções ao contato visual; - se é introvertido; - se tem pouca necessidade de afiliação ou inclusão; - se padece de transtornos mentais como autismo, esquizofrenia ou depressão; - se está confuso, envergonhado, aflito, ansioso, triste, em situação de submissão ou quando se trata de ocultar algo. A expressão facial Existe grande evidência que o rosto é o principal sistema de sinais para mostrar as emoções. Segundo a psicologia social, a expressão facial representa vários papéis na interação social humana: a) Mostra o estado emocional de um indivíduo embora ele possa tratar de ocultá-lo; b) Proporciona uma retroalimentação contínua sobre se compreende, se está surpreso, de acordo em relação ao que é dito; c) Indica atitudes para com os outros; d) Pode atuar como metacomunicação, modificando ou comentando o que é dito ou feito ao mesmo tempo; As três regiões faciais, testa-sobrancelhas, olhos-pálpebras e a parte inferior do rosto, são responsáveis pela manifestação das principais emoções (alegria, tristeza, surpresa, medo, ira, nojo ou desprezo). Condutas hábeis requerem uma expressão facial que esteja de acordo com a mensagem. Gestos com as mãos
  • 6. 6       Os gestos constituem um segundo canal muito útil para a sincronização e retroalimentação sendo também eficazes para ilustrar objetos ou ações difíceis de verbalizar. A atividade verbal e a gestual podem relacionar-se de diversas maneiras: apoiando e amplificando ou contradizendo-a. Numa conversação ou entrevista, os movimentos da mão podem servir como: emblemas (quando substitutos de palavras ou frases conhecidos explicitamente pelos membros de uma cultura) adaptadores (satisfazendo as necessidades corporais ou para controlar e enfrentar emoções) e ilustradores (quando unidos diretamente com a fala). A modulação do comportamento de comunicação paraverbal: Os componentes paralinguísticos. A comunicação humana por meio da fala depende do emprego especializado do canal audiovisual. Esse canal também transporta mensagens na área paralinguística ou vocal – representa o “como” se fala em oposição ao “que” se fala. Sinais vocais são capazes de comunicar mensagens por si mesmas (chorar, bocejar, suspirar) e outras encontram-se relacionadas ao conteúdo verbal, incluindo o volume, o tom, o timbre, a clareza, a velocidade, a ênfase e a fluência. Os “hums” e “ehs”, as pausas e as vacilações. Os sinais vocais podem afetar drasticamente o significado do que se diz e de como se recebe a mensagem. Qualidade da voz: o volume e o timbre A qualidade da voz expressa pelo seu timbre e o seu volume, está relacionada com as competências sociais. Um volume baixo de voz pode indicar submissão ou tristeza enquanto um alto volume de voz pode indicar segurança, domínio, extroversão ou persuasão. Falar demasiado alto, sugere agressividade, ira ou rudeza, podendo ter conseqüências negativas. Um volume moderado pode indicar agrado, atividade, alegria. As mudanças no volume da voz podem ser empregadas em uma conversação para enfatizar pontos. Uma voz que varia pouco em volume, não será muito interessante de escutar. O timbre é a qualidade vocal ou ressonância da voz, produzida principalmente como resultado da forma das cavidades orais. As pessoas diferenciam-se nessas características, com predominância de voz aguda, plana, oca ou robusta. Um timbre plano, monótono, pode produzir a sensação de depressão, desânimo, enquanto um timbre mais grave pode dar a impressão de maturidade ou sofisticação. Durante uma entrevista, as vozes dos pacientes variam de vacilantes a mais altas e robustas ou ressonantes. Os componentes verbais Conteúdo, fluência e duração. Conteúdo – A fala é empregada para uma variedade de propósitos, cujo conteúdo varia evidentemente. Os conteúdos podem ser altamente pessoais, impessoais, concretos ou abstratos. Pode tratar sobre assuntos internos de quem fala, seus pensamentos, sentimentos, atitudes e opiniões ou sobre assuntos externos. Os conteúdos têm diferentes expressões e funções, como a fala egocêntrica (dirigida para si mesmo), as instruções (influenciar a conduta dos demais), as perguntas (provocar respostas apropriadas), comentários (sugestões e informações),expressão de estados emocionais ou atitudes e mensagens latentes (frases com mensagens implícitas). Para constituir-se numa conversação, a fala integra de forma complexa e cuidadosa os sinais verbais, paraverbais e não verbais. Fluência – Vacilações, falsos começos e repetições são comuns nas conversações diárias. Porém, as perturbações excessivas da fluência da fala, podem causar impressão de insegurança, incompetência, pouco interesse ou ansiedade. Exemplos: a presença de muitos períodos de silêncio, o emprego excessivo de palavras de recheio durante as pausas, e as repetições, gaguejos, erros de pronúncia, omissões e palavras sem sentido. Duração - Outra variável importante para uma conduta socialmente hábil é o tempo que o indivíduo se mantém falando. Durações curtas ou demasiadas podem ser deficientes. O mais adequado é o intercâmbio
  • 7. 7       recíproco de informações. Compartilhar um tempo igual de fala não somente ínsita os demais a verem essa pessoa como agradável, mas também transmite uma sensação de agrado, assertividade, capacidade para enfrentar as situações e o nível de ansiedade social. 3) O Rapport: Elemento essencial na entrevista Competências em coordenar os elementos da conduta socialmente hábil são essenciais para o estabelecimento do rapport ou de um relacionamento terapêutico entendido como o alcance da colaboração entre o cliente e entrevistador nas tarefas de coleta de informações válidas e confiáveis. A literatura aponta algumas classes de habilidades do entrevistador que inspiram um senso de confiança no cliente, facilitando a emissão de comportamentos de colaboração: a) Estar presente, no sentido de estar inteiramente disponível para o outro naquele momento e poder ouvi-lo sem a interferência de questões pessoais; b) Ajudar o paciente a se sentir à vontade e a desenvolver uma aliança de trabalho; c) Facilitar a expressão dos motivos que levaram a pessoa a ser encaminhada ou buscar ajuda; d) Buscar esclarecimentos para colocações vagas ou incompletas; e) Gentilmente, confrontar esquivas e contradições; f) Tolerar a ansiedade relacionada aos temas evocados na entrevista; g) Reconhecer defesas e modos de estruturação do paciente, especialmente quando elas atuam diretamente na relação com o entrevistador (transferência); h) Compreender seus processos contratransferênciais; i) Assumir a iniciativa em momentos de impasse; j) Dominar as técnicas que utiliza; Como a entrevista é um processo de influência mútua, o entrevistador pode regular sua reação aos comportamentos verbais do paciente, moldando o comportamento do cliente ao processo de entrevista. Um exemplo é a emissão de respostas que demonstram que o paciente está sendo ouvido e que demonstram interesse em compreendê-lo e que estimulam o comportamento de auto-revelação. Quatro importantes respostas efetivas a essas funções são a clarificação, a paráfrase, a reflexão e os resumos. a) Clarificar – Envolve questionar o cliente a respeito do conteúdo de uma resposta recente. É usada para encorajar a elaboração do que foi dito, estabelecer a acurácia do que se ouviu e clarificar colocações confusas (Ex: Pelo que entendi você está dizendo que não sabe como vai encarar suas responsabilidades agora que você perdeu a habilidade avançar sem ajuda?) b) Parafrasear- envolve transmitir o conteúdo da mensagem com outras palavras e usá-la para ajudar o foco do cliente sobre o conteúdo da mensagem, ou para enfatizar mais o conteúdo do que o afeto. c) Refletir – envolve transmitir refrasear o componente afetivo da afirmação do cliente. É usada para encorajar a expressão do afeto ou ampliar sua intensidade, para ajudar o cliente a tomar conhecimento e manejar respostas afetivas e a discriminar entre diferentes tipos de respostas afetivas. d) Resumir – Envolve transmitir duas ou mais paráfrases ou reflexões do que foi dito pelo cliente num período de tempo. Pode ser usada para transmitir compreensão do entrevistador, mas também para realçar e identificar temas ou padrões comuns às falas, interromper fala excessiva ou revisar o progresso de uma sessão de entrevista. Táticas de entrevista Antes da entrevista é importante: a) Organizar o espaço físico e suas características de iluminação, posicionamento do mobiliário e distancia suficiente entre assentos do entrevistador e entrevistado;
  • 8. 8       b) Apresentar-se como entrevistador e clarificar como o entrevistado prefere ser chamado; c) Explicar o propósito da entrevista, as expectativas do entrevistado e seu grau de compreensão do que foi dito; d) Descrever a natureza confidencial das informações e possíveis limites da confidencialidade; e) Explicar a natureza das perguntas ou instrumentos utilizados; f) Discutir sobre horários, total de entrevistas, pagamentos, etc. Outras táticas Começar com questões abertas e, após observar as respostas do entrevistado, usar questões mais diretas. Uma vantagem desse procedimento é que as questões abertas requerem que o cliente compreenda, organiza e expresse por si mesmo suas concepções gerais sobre o tópico. Nesse momento podem ser notados aspectos como a fluência verbal, o nível de assertividade, o tom de voz, o nível de energia, as hesitações, termos utilizados e áreas de ansiedade do entrevistado. Evitar perguntas do tipo “Por que” Geralmente aumentam as defesas do entrevistado, soando acusatórias ou críticas. Ao invés, solicitar ao entrevistado que expresse a forma como ele entende determinado fenômeno ou ocorrência. Essa opção é mais provável resultar em uma descrição mais do que em uma justificativa e assim, manter o cliente mais centrado na tarefa. Conclusão da entrevista Alertar sobre o encerramento do tempo alguns minutos antes (+10) para que haja conclusão do raciocínio do entrevistado e abra oportunidades para esclarecimentos de dúvidas. Ao final da entrevista, o entrevistador deve resumir os principais temas e se apropriado, fazer recomendações. Registros dos dados Existem várias formas de manter registros dos dados, desde registros escritos à utilização de gravações em áudio ou vídeo. Contudo, o preparo de resumos escritos organizados se mostram suficientes aos objetivos de avaliação e indicação da terapêutica. Se a entrevista for no formato semiestruturado ou sem estruturação é importante tomar notas durante a entrevista, porém é interessante que essas sejam pequenas e de centradas em pontos-chave e que ao final se preencham os formulários ou os registros organizados. 4) Considerações sobre a Diversidade Humana O sucesso no processo de entrevistar, e mais amplamente de avaliar, não é a utilização mecânica das técnicas e competências. É fundamental considerar a individualidade mesmo entre grupos característicos (adolescentes, idosos, alcoólicos, etc.). Isso envolve habilidades para adaptar e ajustar as competências às demandas específicas. Entre idosos, a idade cronológica em si não é um bom indicador de quanta adaptação uma técnica de avaliação ou intervenção é necessária. Indicadores de capacidade funcional, cognitiva e de funcionamento socioemocional são indicadores mais fidedignos à medida que apontam as mudanças normais ou patológicas que podem se associar ao envelhecimento. O conteúdo das entrevistas que visam coletar dados para a intervenção psicogerontológica com idosos deve conter os seguintes elementos: • Demanda do paciente: motivo da procura, motivo da entrevista; • Avaliação multidimensional, porém com o enfoque específico: Capacidade funcional; Cognição; Sintomas depressivos e ansiosos; Recursos sociais; • Identificar:
  • 9. 9       o Experiência atual de eventos de vida estressantes, as formas e resultados do enfrentamento destes e as experiências prévias relacionadas à queixa principal ou meta de entrevista; o Recursos de enfrentamento e potencialidades: o Padrões comportamentais de assertividade ou dependência. Com base nessas informações é possível traçar o tipo da intervenção e sua estruturação básica, ou seja, se esta se dará em formato individual, grupal ou familiar. Considerações especiais a respeito da condução de entrevistas psicológicas com idosos: Em primeiro lugar, no processo de estabelecimento do rapport com pacientes idosos considerar aspectos relativos ao: • Plano das atitudes e crenças sobre o envelhecimento; • Plano das dinâmicas da relação: Transferência, contratransferências e Resistências; • Necessidade de adaptações das técnicas frente à déficits sensoriais, condições de saúde física ou mental que os idosos podem apresentar; É importante atentar para vieses de interpretação dos dados provenientes de Ageímo (Butler, 1969). Além da recomendação de se possuir conhecimentos sobre o processo de envelhecimento, é importante conhecer como as mudanças físicas que se associam ao envelhecimento podem influenciar o processo de entrevista. Conhecimento e consideração desses fatores podem determinar o alcance de uma entrevista bem- sucedida ou incompleta e comprometida. Também é necessário detectar possíveis fontes de dificuldades na dinâmica transferencial com profissionais mais jovens, tais como : a)Supercontrole ou de supeproteção, gerando angústias contra-transferenciais ( idosos podem infantilizar o terapeuta ou o terapeuta projetar experiências familiares ao paciente). b)Centralidade da saúde física no discurso do idoso, o qual tende a queixar dos problemas psicológicos em termos somáticos. c) Foco sobre do entrevistador sobre “problemas da velhice” tais como as doenças, o luto ou a aposentadoria, pois , em muitas situações, esta não é a demanda principal. Entrevistar idosos pode envolver a possibilidade da influência de alguns fatores que precisam ser bem manejados. Cabe salientar que tais adaptações também podem ser necessárias não só no processo de avaliação, mas no de intervenção. Exemplos: • A Redução do estresse e ansiedade frente à ocasião da entrevista pode gerar grande cooperação do cliente, uma exploração mais completa dos problemas apresentados, uma baixa probabilidade de exacerbação dos problemas associados com comprometimentos cognitivos. A redução da ansiedade pode ser obtida por vários meios. Informar sobre a natureza de algumas questões, dar liberdade a cliente esclareça dúvidas, utilizar de técnicas de relaxamento antes da entrevista. Influências de coorte como a tarefa não habitual de revelar conteúdos privados a um estranho, o temor de perda de autonomia a depender do resultado da entrevista, frustração resultante da inabilidade de responder algumas perguntas e a preocupação de que déficits de memória sejam percebidos. • História médica passada ou atual deve ser considerada juntamente com uma revisão das medicações prescritas. Em especial, o status dos domínios sensoriais deve ser avaliado antes da entrevista. Na presença de pouca energia física, a entrevista pode requerer mais tempo para ser realizada.
  • 10. 10       • Déficits auditivos- A perda da audição é um problema freqüente entre idosos, sendo mais prevalente entre homens do que entre mulheres. Importante minimizar ruídos no ambiente de entrevista. Tom de voz ou de sons muito agudos também aumentam dificuldades de discriminação e compreensão auditiva. Os idosos também podem ter dificuldade de discriminar algumas consoantes. Algumas conseqüências provenientes da não compreensão do que lhe está sendo dito incluem a negação da perda auditiva, isolamento, depressão, erros diagnósticos, reações paranóides. Recomendações práticas - Privilegiar ambientes tranqüilos que minimizem distrações ou confusões auditivas. Evitar fala rápida ou exagerada, iluminação ruim ou usar gestos ou objetos que se interponham frente aos lábios do entrevistador. Sentar-se mais próximo do entrevistado, utilizando de uma boa dicção , bom volume de voz,porém sem super-articular as palavras ( o que pode deformar expressões faciais, dificultando seu reconhecimento). Caso haja necessidade, direcionar o som da voz ao ouvido mais preservado ou amplificar a voz e se necessário, recorrer à respostas escritas. Importante estar vigilante à escuta seletiva associadas com certas demandas, desmotivação ou medo de falhas e desempenho ruim. Discriminar se a dificuldade é mesmo de ouvir ou de entender. • Déficits visuais – A prevalência tende a ser um pouco maior entre mulheres. Geralmente manifestam dificuldades frente a comunicações não-verbal e expressões faciais. Importante esclarecer sobre informações do ambiente e disponibilizar ajudar e apoio para ser guiado se necessário. Recomendações práticas: Compreenda as idiossincrasias do déficit (ou seja, se é mais relativo a cores, contrastes, ou campo visual, o quanto o indivíduo é capaz de enxergar com óculos e sem óculos). Examine as condições de iluminação ou necessidade de instrumentos como lupas. Evitar materiais de pesquisa em papéis com brilho ou que dependam de pistas visuais ou necessitem desenhos. Limite orientações não verbais dando preferência ao verbal e sinestésico. • Transtornos motores - Identificar tipo, severidade e duração dos transtornos motores e também as reações dos clientes e suas adaptações à incapacidades. Entre os mais comuns estão o Parkinsonismo, tremor senil ou essencial, corea senil, apraxia, neuropatia periférica, fraqueza muscular (miopatias) e efeitos colaterais de medicamentos (ex. neurolépticos). Recomendações práticas: Alguns idosos podem se cansar rapidamente, requerendo intervalos de descanso ou entrevistas mais curtas. Alguns podem exibir dificuldades para articular palavras (provenientes de episódios como AVC), que impliquem em utilizar meios escritos para respostas ou formatar as perguntas para serem respondidas por meio de sim ou não. • Déficits no funcionamento cognitivo - Declínios leves ou subestimação da memória são queixas comuns. Alguns idosos podem ter aumento na dificuldade de abstração e de flexibilidade mental ou dificuldades com tarefas que envolvam grandes demandas à memória de trabalho ou que demandem atenção concentrada. Nesses casos, pode-se dar preferência a perguntas mais específicas ou com oferecimento de alternativas de respostas, visto que geralmente os idosos têm mais facilidade em reconhecer do que de relembrar respostas. Recomendações práticas: Apresentar as questões de forma mais simples, mais curta e menos complexas reduzem as demandas à memória de trabalho e à atenção sustentada. Habilidades de escuta ativa como (parafrasear, resumir, clarificar e refletir) também auxiliam a memória de trabalho e a manutenção do foco da entrevista. • Ritmos biológicos - A cronobiologia e psicologia demonstram diferenças etárias nos picos de desempenho em atividades ao longo do dia. Cerca de 70% dos idosos experienciam esses picos no período da manhã. Recomendações práticas: avaliações de domínios cognitivos são potencialmente susceptíveis às alterações do ciclo circadiano, sendo importante identificar com o paciente ou informante sobre esses períodos do dia.
  • 11. 11       • O envolvimento da família – A depender das demandas e circunstâncias, a família pode ou não participar do processo de entrevista. Contudo é importante salientar que quando os problemas são de natureza emocional ou que emanam conflitos familiares, a entrevista individual com o idoso é mais efetiva. Coletar dados a partir de relatos da família é de extrema importância nas avaliações gerontológicas, contudo, não necessariamente precisam ser realizadas no mesmo momento de entrevista com o idoso. Encerrando a revisão a respeito da entrevista como instrumento de coleta de dados e avaliação de idosos, cabe lembrar dois princípios éticos fundamentais envolvidos em processos de entrevista a indivíduos de qualquer idade são a confidencialidade e o estímulo à autodeterminação. As informações coletadas devem ter o objetivo único de auxiliar as tomadas de decisão por parte do profissional entrevistador e, mesmo com outros profissionais, o compartilhamento de informações deve ser concedido pelo idoso ou seu responsável (no caso de comprometimentos cognitivos severos). O segundo princípio ético envolvido na entrevista é o de que o entrevistado é quem deve decidir e ser livre a respeito das respostas que dará ou não. O entrevistador deve apenas prover oportunidades para as decisões do entrevistado e não impor condições ou suas próprias decisões. 5) Técnicas complementares à entrevista: observação, autorrelato e autorregistro Técnicas de observação: é o método mais amplo de avaliação. Geralmente envolvem procedimentos de coleta de dados contidos num protocolo com categorias comportamentais pré-definidas no qual os comportamentos do sujeito serão codificados ou registrados (Exemplo: número de vezes em que ocorre incontinência urinária numa semana típica; número de vezes em que o indivíduo interage socialmente de maneira assertiva; etc.). Um procedimento eficaz de coleta de dados comportamentais é a utilização do modelo de análise funcional do comportamento. Nesse procedimento há o registro não só das ocorrências do comportamento e suas características (como duração e intensidade), mas também dos fatores ou estímulos que o antecederam e as conseqüências do comportamento. Esse tipo de registro auxilia em intervenções tanto com foco no comportamento específico, mas também nos fatores ambientais que mantém o comportamento e que podem ser alvo de mudança. O modelo básico desses registros é: Antecedentes (fatores que dispararam o comportamento, etc..) Comportamento Freqüência Duração Intensidade Conseqüências (Reforços ou punição) Autorrelatos: As fonte são as mensagens verbais do sujeito sobre si mesmo e são interpretadas pelo avaliador como indicadores de estruturas internas ou processos tais como personalidade, atitudes, motivos e outros conceitos intra-psíquicos desenvolvidos pelas diversas teorias psicológicas. Além de estar envolvidos em outros métodos como na entrevista e na observação, os autorrelatos podem ser obtidos por meio de questionários, inventários ou escalas que contenham afirmativas verbais relevantes e uma variedade de formatos de respostas (verdadeiro x falso, checklists, respostas escalares...). Algumas ameaças à acurácia das informações são as impressões negativas ou positivas, a simulação, a influência de processos de desejabilidade social (responder o que se acredita que o outro quer ouvir). Autorregistros: a informação obtida por esta técnica é muito valiosa, já que se centram em acontecimentos específicos que ocorrem na vida cotidiana do sujeito e permite contrastar com variáveis relevantes (antecedentes e conseqüências) obtidas com o método de observação. É utilizada em avaliações de
  • 12. 12       transtornos depressivos, transtornos do sono, incontinência urinária, alcoolismo e ansiedade. Pode ser obtida diretamente com o idoso ou com um informante, por exemplo, um cuidador de idosos dependentes. 6) Considerações finais: No campo da Psicogerontologia, faz-se necessário que o gerontólogo derive das teorias e técnicas de avaliação subsídios para uma prática sensível às reais necessidades dos idosos. Desenvolver competências e habilidades na condução de entrevistas e intervenções com idosos é o primeiro passo nessa direção e envolve experiência com essa população , atenção à heterogeneidade desse grupo, domínio de conteúdos específicos e uma capacidade crítica na escolha dos conteúdos, instrumentos e formatos escolhidos para a atuação. Referências: Obs. Esse texto é fruto de uma construção pessoal a partir da compilação de recomendações da seguinte literatura: Berman, Pearl S.,& Susan Shopland (2005).Interviewing and diagnostic exercises for clinical and counseling skills building . New Jersey:Lawrence Erlbaum Associates, Inc. Caballo, V. E. (2003). Manual de Avaliação e Treinamento das Habilidades Sociais. São Paulo: Livraria Santos Editora. Edelstein, B.A., Martin, R.R. y Koven, L.P. (2003). Psychological Assessment in Geriatric Settings. In J.R. Graham & J. A. Naglieri (Eds.), Handbook of Psychology. Volume 10. Assessment Psychology (pp. 389- 414). New Jersey: John Wiley & Sons. Elderstein, B. A & Semenchuk, E. M (1996). Interviewing Older Adults. In L.L. Carstensen, B.A. Edelstein, & L. Dornbrand (Eds.), The practical handbook of clinical gerontology (pp. 217-239). Thousand Oaks, CA: Sage. Fernández-Ballesteros, R. (Ed.) (1997). Introduccion a la evaluacion psicológica I y II (2ª ed.). Madrid: Ediciones Pirámide Knight, B.G. (1999). The scientific basis for psychological interventions with older adults: An overview. Journal of Clinical Psychology: In Session, 55, 927-934. Rainsford, C. (2002). Counselling older adults. Reviews in Clinical Gerontology, 12(2), 159-164. Tavares, M.(2000). A entrevista clínica. In Jurema Cunha e colaboradores (Eds). Psicodiagnóstico V. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed.