Este documento descreve o Movimento Armorial brasileiro, fundado por Ariano Suassuna em 1970. Resume sua origem, objetivos de valorizar a cultura popular nordestina, e seu crescimento inicial com turnês da Orquestra Armorial. Também explica a escolha do termo "armorial" e as diferentes fases por que o movimento passou desde seu lançamento.
1. O MOVIMENTO ARMORIAL
BREVE HISTÓRICO
No dia 18 de outubro de 1970, através de um concerto da Orquestra
Armorial de Câmera, intitulado "Três séculos de música nordestina: do Barroco
ao Armorial", e de uma exposição de gravuras, pinturas e esculturas, lançava-
se oficialmente, no Recife, o Movimento Armorial. Concerto e exposição
aconteceram na igreja barroca de São Pedro dos Clérigos, no bairro de São
José, e foram promovidos pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) -
através do seu Departamento de Extensão Cultural (DEC) - e pelo Conselho
Federal de Cultura.
Em 4 de julho de 1971, antes mesmo de o Movimento completar o seu
primeiro ano de existência, e antes do lançamento, com enorme sucesso, do
Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, o
primeiro romance armorial brasileiro, o Jornal do Commercio do Recife
publicava uma extensa entrevista com Ariano Suassuna, sob o título "Sucesso
armorial no Sul", na qual o escritor demonstrava a repercussão nacional que o
Movimento alcançava. Valendo-se de matérias publicadas em jornais de São
Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, Suassuna resumia a impressão geral
da crítica, logo após a primeira excursão da Orquestra Armorial, que se
apresentara em Porto Alegre e no Rio. Suassuna viajou junto com a Orquestra,
e mais do que os três concertos apresentados, os encontros com o público
foram verdadeiras aulas de cultura brasileira. Com o auxílio de diapositivos,
pinturas, gravuras, desenhos e livros de poemas, o escritor apresentava o
espetáculo, o Movimento Armorial, suas origens e seus objetivos, suas primeiras
realizações e os planos em defesa da cultura brasileira. Dom Marcos Barbosa,
presente a uma das apresentações (a realizada na Sala Cecília Meireles, no
Rio de Janeiro), afirmava, no dia seguinte:
“Aquilo não foi um concerto, mas uma verdadeira aula, curso de
cultura, que ninguém percebia estar sendo ministrado naquele instante
2. [...] ao longo de três horas que voaram [...]. Música, sim, mas [...] pintura,
e história, e pré-história, teatro, patriotismo, bairrismo e até Sagrada
Escritura tudo disfarçado, escondido suassunamente na modéstia e
simpatia que todos nós conhecemos”. (Jornal do Commercio, Recife, 4
de julho de 1971)
Por outro lado, referindo-se especificamente à arte armorial, Eurico
Nogueira França escreveu, no Correio da Manhã, do Rio de Janeiro:
“O forte caráter das composições apresentadas vem mais uma vez
descerrar-nos os filões de brasilidade criadora [...] - como os há,
também, por exemplo, na dramaturgia do próprio Suassuna, que fez
comentários tão interessantes, com ‘slides’, sobre aspectos musicais e
não musicais do programa. É mais do que nunca oportuno ressaltar
esses veios preciosos, porque a nossa música de concerto, nas suas
expressões de vanguarda, tende para manifestações abstratas e não
nacionais, sob o pretexto principal de que o nacionalismo está
superado nos centros musicais do exterior [...]. Ariano Suassuna, com a
naturalidade saborosa e pitoresca de sua fala, passou então a ser o
animador da noite, explicando as raízes do movimento armorial e
comentando cada uma das peças. [...] Audição de perfeita
originalidade, teve rumoroso e merecido sucesso”. (Idem)
Podemos dizer que o sucesso da excursão representou o lançamento,
em nível nacional, do Movimento Armorial. A partir dela, de fato, o Movimento
começou a ser conhecido e divulgado para além das fronteiras do que
Suassuna considera o "coração do Nordeste" - Pernambuco, Paraíba e Rio
Grande do Norte. A Orquestra contava com músicos e compositores de
talento, da categoria de um Jarbas Maciel ou um Clóvis Pereira, seu regente.
Mas é preciso dizer que o sucesso desta primeira excursão (bem como o da
segunda, no ano seguinte) deveu-se também às apresentações de Ariano
Suassuna, homem que sabe, como poucos, prender a atenção de uma
platéia, associando erudição à simplicidade e bom-humor. Nas notícias dos
jornais da época, é possível perceber que a ênfase dada às apresentações de
Suassuna, verdadeiros espetáculos à parte dos concertos, era de igual ou
3. maior dimensão do que a concedida às apresentações da Orquestra
propriamente ditas.
4. O NOME ARMORIAL
"Armorial", em nosso idioma, era somente substantivo: livro onde vêm
registrados os brasões - uma palavra ligada à heráldica, portanto. Ariano
Suassuna, idealizador do Movimento, passou a empregá-la também como
adjetivo. Criou, assim, um neologismo para identificar a arte que defende,
uma arte erudita que, baseada no popular, é tão nacional quanto a arte
popular, elevando-se à importância desta e conseguindo manter, com ela,
uma unidade fundamental para combater o processo de vulgarização e
descaracterização da cultura brasileira.
A explicação do nome armorial foi legada ao público, pela primeira
vez, quando do lançamento oficial do Movimento, através do texto "Arte
armorial". Suassuna justifica a escolha do nome através de dois motivos. O
primeiro é estético - a beleza da própria palavra. O segundo liga-se à sua
visão de que a heráldica, no Brasil, é uma arte eminentemente popular,
presente desde os ferros de marcar boi do sertão nordestino, dos estandartes
das mais diversas agremiações populares, até as bandeiras e camisas dos
clubes de futebol das grandes cidades brasileiras. Aproximar-se dessa
heráldica seria, então, aproximar-se de um espírito popular brasileiro. Afirma
Suassuna:
“Foi aí que, meio sério, meio brincando, comecei a dizer que tal poema
ou tal estandarte de Cavalhada era ‘armorial’, isto é, brilhava em
esmaltes puros, festivos, nítidos, metálicos e coloridos, como uma
bandeira, um brasão ou um toque de clarim. Lembrei-me, aí, também
das pedras armoriais dos portões e frontadas do Barroco brasileiro, e
passei a estender o nome à Escultura com a qual sonhava para o
Nordeste. Descobri que o nome ‘armorial’ servia, ainda, para qualificar
os ‘cantares’ do Romanceiro, os toques de viola e rabeca dos
Cantadores - toques ásperos, arcaicos, acerados como gumes de faca-
de-ponta, lembrando o clavicórdio e a viola-de-arco da nossa Música
barroca do Século XVIII.” (Ariano Suassuna, Arte Armorial, texto
veiculado juntamente com o programa do concerto “Três séculos de
5. música nordestina: do Barroco ao Armorial”, Recife, 18 de outubro de
1970)
Após o lançamento oficial do Movimento, e tendo este, aos poucos,
conquistado um espaço considerável na imprensa de todo o país,
notadamente nos jornais, a explicação acerca da escolha do nome armorial
foi repetida muitas e muitas vezes, em diversas entrevistas, com uma ou outra
alteração. Em algumas ocasiões, em tom de brincadeira, Ariano acrescentava
um terceiro motivo que teria influenciado na escolha do nome - a curiosidade
que este despertava devido ao desconhecimento do seu significado. Foi
assim, por exemplo, em uma entrevista concedida a um jornal do Rio Grande
do Sul, em 1971:
“Primeiro, porque é bonito. Segundo, porque sendo um nome estranho,
o pessoal pergunta como você – ‘o que é?’ - e ouvida a explicação,
não esquece mais. Terceiro, porque significa esta palavra a coleção de
brasões, emblemas e bandeiras de um povo”. (Correio do Povo, Porto
Alegre, 13 de junho de 1971)
Quando se fala em um "movimento", pensa-se, logo, em um grupo de
intelectuais reunidos para escrever um manifesto, para então, a partir daí,
surgirem obras que expressem friamente as reflexões teóricas do grupo. Nada
disso pode ser vinculado ao Movimento Armorial. Primeiro porque, neste caso,
a arte armorial precedeu o próprio Movimento. De fato, muito antes do
lançamento oficial do Movimento, vários artistas, intuitivamente ou não, já
trilhavam o caminho que mais tarde seria anunciado como bandeira maior do
Armorial, procurando uma arte erudita brasileira que se fundamentasse na
cultura popular. Em segundo lugar, apesar de existir, entre os artistas armoriais,
uma concordância de visão sobre a direção a ser seguida, existe também a
consciência de que os caminhos são inúmeros, todos apontando para a
mesma direção. Nunca existiu tolhimento à liberdade criadora de cada um, às
expressões particulares de cada artista.
6. No "Arte armorial", Suassuna já falava em uma certa unidade, uma
identificação entre os trabalhos dos artistas ligados ao Movimento Armorial.
Todos tinham a preocupação de fazer arte partindo das raízes populares da
cultura brasileira. Como se tratava de um texto de apresentação, não houve
espaço para um esclarecimento maior acerca dessa unidade. Mas, em outras
ocasiões, sobretudo quando da divulgação do Movimento na imprensa,
Suassuna enfatizou que os participantes do Movimento entendiam essa
unidade como conseqüência dos princípios mais gerais em que acreditavam,
e não como algo imposto anteriormente à criação, que viesse a comprometer
a individualidade do artista. Em uma entrevista publicada no Correio da
Manhã, do Rio de Janeiro, Suassuna já chamava atenção para o equívoco
que a própria palavra "movimento" poderia sugerir:
“É um esforço para encontrar, no Brasil, uma arte que parta de raízes
eminentemente populares. Com isso, a pretensão de encontrar uma
arte brasileira, latino-americana e universal. O Movimento Armorial não
tem uma linha de princípios. É um movimento aberto. Aliás, nós nem
gostamos da palavra movimento, porque movimento é quase sempre
feito por teóricos, que lançam manifesto e pronto. Nós partimos do
trabalho criador. Começamos a criar juntos. Às vezes, isoladamente.
Descobrimos, depois, características comuns. Então nos unimos e
batizamos o movimento com esse nome, que serve apenas de bandeira
nessa busca conjunta de uma arte brasileira”. (Correio de Manhã, Rio
de Janeiro, 8 de setembro de 1971)
Mesmo tendo sido lançado quando Suassuna já se encontrava em
plena maturidade de escritor (com várias peças escritas e amplamente
conhecidas, e tendo já concluído sua primeira grande experiência no campo
do romance, A Pedra do Reino), é em direção às idéias estéticas do
Movimento Armorial que ele parece caminhar desde os seus primeiros poemas
baseados no romanceiro popular nordestino. É por isso que, quando
questionado sobre o início do Movimento, Ariano retrocede suas origens até
1946, mencionando a publicação desses poemas, já em ligação com os
trabalhos de Francisco Brennand, José Laurenio de Melo e Hemilo Borba Filho.
Ou seja: Ariano começa a debuxar o projeto estético do Movimento Armorial
a partir do seu ingresso na Faculdade de Direito do Recife e das discussões
surgidas no grupo do Teatro do Estudante de Pernambuco (TEP).
7. Por outro lado, o amadurecimento de Suassuna em direção ao Armorial
passa, necessariamente, por sua poesia. É importante acrescentar que
Suassuna já havia utilizado a palavra "armorial" enquanto adjetivo pelo menos
três vezes antes do lançamento do Movimento, em três poemas. O mais antigo
deles, datado de 1950, intitula-se “Canto armorial”; trata-se de um longo
martelo agalopado, poema com que o autor abre a segunda parte do seu
livro O Pasto Incendiado. O segundo poema intitula-se “Canto armorial ao
Recife, capital do Reino do Nordeste”. Escrito em 1961, este poema foi
publicado numa antologia organizada por Edilberto Coutinho (Presença
poética do Recife, 3.ed., Rio de Janeiro, J. Olympio; Recife, FUNDARPE, 1983).
Por fim, em 1963, no “Poema de arte velha”, a palavra armorial reaparece não
mais em um título, mas num verso, sendo usada para designar um poeta –
Francisco Bandeira de Mello, a quem Suassuna dedica o poema. Vejamos a
primeira estrofe deste último poema:
Bandeira, Poeta-cortesão,
Bandeira, poeta Armorial!
Ó claro bardo provençal,
de galo, Peixe e hierofante,
de Fauno bêbado e bacante,
do sal do Mar, do Sol do mal.
(Ariano Suassuna, Poema de arte velha, Jornal do Commercio, Recife, 14 de
abril de 1963)
FASES DO MOVIMENTO ARMORIAL
Em 1976, em extensa entrevista concedida ao Jornal do Commercio, do
Recife, Suassuna já fazia referência a duas fases distintas que, segundo ele,
poderiam caracterizar o Movimento Armorial, desde o seu lançamento oficial
até aquele momento: a fase de 1970 a 1975, considerada por ele
“experimental”, e a fase que era então vivenciada, "atual e nova",
denominada de Romançal e iniciada precisamente no dia 18 de dezembro
de 1975, com a estréia, no Teatro de Santa Isabel, da Orquestra Romançal
Brasileira. (Ariano Suassuna, Movimento Armorial em nova fase criadora,
entrevista, Jornal do Commercio, Recife, 25 de julho de 1976).
8. Alguns críticos contrários ao Armorial afirmam que, quando do advento
do Movimento, devido ao respaldo que este possuía da UFPE, através do DEC,
muitos artistas do Recife "viraram armoriais", porque queriam ver seus trabalhos
divulgados ou, no caso específico dos poetas e escritores, publicados pela
editora universitária. Não há dúvida de que isto ocorreu, como ocorreria com
qualquer outro Movimento. É por isso que a fase de 1970 a 1975 é considerada
por Suassuna como “experimental”. Referindo-se a ela, Suassuna reconhece os
adesismos, mas considera o resultado geral bastante positivo:
[...] na primeira fase, eu tive que começar várias coisas de qualquer
maneira, fechando deliberadamente os olhos para certos adesismos,
improvisações, artificialismos e equívocos, algumas vezes graves. [...]
Bastaria o aparecimento de Antônio José Madureira, do Quinteto
Armorial e da Orquestra Romançal Brasileira para justificar todo o resto
do trabalho. Não esquecer, por outro lado, que Gilvan Samico
prestigiou o Movimento, que se engrandeceu com seu nome,
respeitado por todo mundo. O tempo vai depurando tudo: uns, deixam
o Movimento porque, de fato, nunca se interessaram verdadeiramente
pela Cultura brasileira; outros porque, mais sensíveis às modas e às
críticas, resolveram tomar outros caminhos; outros porque têm o
temperamento mais solitário; e assim por diante. (Idem).
A fase Romançal revelar-se-ia como uma das mais fecundas do
Movimento. O trabalho da Orquestra Romançal, o lançamento do Balé
Armorial (origem do atual Balé Popular do Recife) e a estréia de Antônio Carlos
Nóbrega de Almeida como teatrólogo, com o espetáculo A Bandeira do
Divino, podem ser caracterizados como alguns marcos desta fase. Como se
não bastasse, dois acontecimentos salutares demonstrariam o equívoco
daqueles que não conseguiam vislumbrar as propostas do Movimento fora do
Nordeste: em Brasília, é lançado A guerra do reino divino (Editora CODECRI,
1976), trabalho de história em quadrinhos de Jô Oliveira, baseado n' A Pedra
do Reino, e cujos desenhos seguiam de perto as propostas da gravura e da
pintura armoriais; no campo da música, Renato Andrade, mineiro de Abaeté,
lança o elepê A fantástica viola de Renato Andrade na música armorial
mineira (São Paulo: Chantecler, 1977), expondo os primeiros resultados de suas
9. tentativas de fazer, em relação ao seu estado, o que o Movimento Armorial
vinha fazendo em relação aos estados nordestinos. Após as fases
Experimental e Romançal, o Movimento Armorial volta às manchetes através
da fase Arraial, iniciada durante a gestão de Ariano Suassuna na Secretaria de
Cultura de Pernambuco, durante o terceiro Governo de Miguel Arraes.
10. THE ARMORIAL MOVEMENT
BRIEF HISTORY
On October 18th, 1970, through a concerto of the Armorial Chamber
Orchestra, entitled “Three centuries of Northeastern music: from Baroque to
Armorial”, and an exhibition of prints, paintings and sculptures, the Armorial
Movement was officially launched, in Recife. Both concerto and exhibition took
place in the baroque church of São Pedro dos Clérigos, in the neighborhood of
São José, and were sponsored by the Federal University of Pernambuco (UFPE)
– through its department of Cultural Extension (DEC) – and by the Federal
Council of Culture.
On July 4th, 1971, even before the first year of the Movement, and before
the release – with enormous success – of the Romance of the Kingdom’s Stone
and the Prince of Come-and-go Blood, the first Brazilian Armorial novel, the
newspaper Jornal do Commercio, in Recife, published an extensive interview
with Ariano Suassuna, entitled "Sucesso armorial no Sul" (“Armorial Success in
the South”), in which the writer demonstrated the national repercussion
reached by the Movement. Quoting materials published in newspapers from
São Paulo, Rio de Janeiro and Rio Grande do Sul, Suassuna synthesized the
general impression of the critics soon after the first tour of the Armorial
Orchestra to Porto Alegre and Rio de Janeiro. Suassuna had traveled with the
Orchestra and the encounters with the public – far beyond the three concertos
– were true lessons on Brazilian culture. With the help of diapositives, drawings
and poem books, the writer presented the spectacle, the Armorial Movement,
its origins and goals, its first accomplishments and their plans pro Brazilian
culture. Don Marcos Barbosa, present in one of the presentations (the one held
at Cecília Meireles hall in Rio de Janeiro) stated in the following day:
“That was not a concerto, but a true lesson, a culture course that
nobody noticed it was being given at that moment […] throughout three
hours that went very fast […]. Music, yes, but […] painting, and history,
and pre-history, theater, patriotism, regionalism and even the Holy
11. Scripture, all veiled, hidden in a Suassuna-way in the modesty and
sympathy we all know”. (Jornal do Commercio, Recife, July 4th, 1971)
On the other hand, specifically referring to the armorial art, Eurico
Nogueira França wrote in Rio de Janeiro’s Correio da Manhã:
“The strong character of the compositions shown once more comes to
unveil to use the richness of a creative brasility […] – like we have, also, for
instance, in dramaturgy Suassuna himself, who made very interesting
commentaries, with slides, about the musical and non-musical aspects of the
program. More than never it’s worthwhile to mention these precious sources,
because our concerto music, in its avant-garde expressions, tends to abstract
and non-national manifestations, under the main pretext that nationalism is not
valued in foreign musical centers […]. Ariano Suassuna, with the picturesque
and flavorful quality of his speech, was the night’s showman, explaining the
roots of the armorial movement and commenting each one of the pieces. […]
A perfectly original concerto, with a resounding and well-deserved success”.
(Idem)
We can say that the tour’s success represented the launching of the
Armorial Movement in a national level. In fact, after this tour the Movement
began to be known and disseminated beyond the borders of what Suassuna
considers to be the “heart of the Northeast” - Pernambuco, Paraíba and Rio
Grande do Norte. The Orchestra counted with talented musicians and
composers, such as Jarbas Maciel and Clóvis Pereira, its conductor. But we
must remember that the success of this first tour (as well as of the second one, a
year later) was also due to Ariano Suassuna’s presentations, a man with the
rare gift of keeping the attention of an audience, associating erudition to
simplicity and good humor. From the newspaper clips of the epoch it is possible
to notice that the emphasis given to Suassuna’s presentations, true spectacles
in their own, was equal or even greater than the emphasis given to the
presentations of the Orchestra itself.
12. THE NAME ARMORIAL
"Armorial", in the Portuguese language, was only a noun: the book that
carries the coat of arms – therefore a word related to heraldic. Ariano
Suassuan, idealizer of the Movement, began to employ it as well as an
adjective. In this way he created a neologism to identify the kind of art he
defends, an erudite art that, based on popular traditions, Is as national as
popular art, rising up to its importance and being able to keep with it a
fundamental unity in order to combat the process of vulgarization and
decharacterization of Brazilian culture.
The explanation of the name armorial was given to the public for the first
time in the occasion of the official launching of the Movement, through the text
“Armorial Art”. Suassuna identifies the choice of the name through two motives.
The first one is aesthetical – the beauty of the word itself. The second one is
connected to his view of heraldic, that in Brazil it would be an eminently
popular art, present in the irons to mark cattle in the Northeaster backlands, in
the standards of the most diversified popular associations, and even in the shirts
and flags of the soccer teams of the large Brazilian cities. To approach this
heraldic would mean to approach a Brazilian popular spirit. Says Suassuna:
“The, half joking, half seriously, I started to say that such poem or such
standard of Parading Horses was “armorial”, that is, it shinned with pure,
festive, clear, metallic and colorful enamels, like a flag, a coat of arms or
the sound of the trumpet. I also remembered the armorial stones found
in the facades and gates of Brazilian baroque, and started to employ
the term to the Sculpture I dreamt for the Northeast as well. I found out
the name “armorial” also served to qualify the “songs” of the
Romanceiro, the viola and rabeca tunes of the Cantadores (Singers) –
archaic and sharp tunes as a knife’s edge, reminding the clavichord and
the arch viola of our 18th century baroque music”. (Ariano Suassuna, Arte
Armorial, text distributed along the program of the concert “Three
centuries of Northeastern music: from Baroque to Armorial”, Recife,
October 18th, 1970).
13. After the official launching of the Movement, and after it had slowly
conquered a significant space in the press of the whole country, specially the
newspapers, the explanation about the choice of the name armorial was
repeated many times in several interviews, with small changes. In some
occasions, joking, Suassuna added a third reason for choosing the name – the
curiosity it brought up due to its unknown meaning. For instance, in a 1971
interview to a Rio Grande do Sul newspaper, Suassuna states:
“First, because it is beautiful. Second, because it is a strange name.
People ask ‘what is it?’, and once heard the explanation, they don’t
forget it. Third, because this word means a collection of coat of arms,
emblems and flags of a people”. (Correio do Povo, Porto Alegre, June
13rd, 1971)
When one thinks of a “movement”, at once one imagines a group of
intellectuals gathered to write a manifesto, or to conceive works able to coldly
express the theoretical beliefs of the group. None of this can be said of the
Armorial Movement. Firstly because, in this case, armorial art preceded the
movement itself. Indeed, much before the official launching of the Movement,
several artists, whether intuitively or not, were already paving the path that later
would be announced as the Armorial movement’s main flag, seeking for a
Brazilian erudite art that was based on popular culture. Secondly, in spite of the
Armorial artists agreed on the general path to be followed, there was as well
the awareness that there are many paths, all of them pointing to the same
direction. Never the creative freedom of each artist, they particular way of
expression, was constrained in any way.
In the text “"Arte armorial", Suassuna already mentioned a certain unity,
an identification among the works of the artists related to the Armorial
Movement. All of them were concerned in producing art departing from the
popular roots of Brazilian culture. Since it was simply a presentation text, there
was no enough room for a further clarification about this unity. But in other
occasions, especially when the Movement was disseminated through the press,
Suassuna stressed that its participants understood this unity as a consequence
of the general principles they believe in, and not as something previously
imposed on their creation and that would compromise the individuality of each
14. artist. In an interview published in Rio de Janeiro’s Correio da Manhã, Suassuna
called the attention to the misunderstanding that the word “movement” could
induce:
“It is an effort to find in Brazil an art that comes from eminently popular
roots. With this, the ambition of finding a Brazilian, Latin-American and
universal art. The Armorial Movement doesn’t have a line of principles.
It’s an open movement. Actually, we don’t really like the word
movement, because a movement is generally done by theoreticians,
who launch a manifesto. We depart from the creative work. We started
to create together. At times, alone. Then, later, we found common
characteristics. So we joined each other and baptized the movement
with this name, which is only a flag in this common search for a Brazilian
art”. (Correio de Manhã, Rio de Janeiro, September 8th 1971)
In spite of the Armorial Movement was launched when Suassuna was
already enjoying his full maturity as a writer (with several plays written and
amply known, and having already concluded his first major experience as a
novelist, the Romance of the Kingdom’s Stone), is in direction to the aesthetical
ideas of the Movement that he seemed to move since his first works based on
the tradition of popular Northeastern poems (Romanceiro Popular Nordestino).
That’s why, when questioned about the beginning of the movement, Ariano
goes back to 1946, mentioning the publication of these poems, already
connected with the works of Francisco Brennand, José Laurenio de Melo and
Hemilo Borba Filho. That is: Ariano starts to conceive the Armorial Movement’s
aesthetical project since his enrollment at the Law School of Recife and the
discussions of the group of the Student Theater of Pernambuco (Teatro do
Estudante de Pernambuco) (TEP).
On the other hand, Suassuana’s maturation towards the Armorial
Movement necessarily passes through his poetry. It’s important to add that
Suassuna had already employed the word “armorial” as an adjective at least
three times before the launching of the Movement, in three poems. The older of
them, from 1950, is entitled “Armorial song” (“Canto armorial”), a poem that
opens the second part of his book O Pasto Incendiado (The Field in Fire). The
second poem is called “Armorial song to Recife, the capital of the Northeastern
kingdom” (“Canto armorial ao Recife, capital do Reino do Nordeste”.) Written
15. in 1961, this poem was published in an anthology organized by Edilberto
Coutinho (Presença poética do Recife, 3.ed., Rio de Janeiro, J. Olympio;
Recife, FUNDARPE, 1983). Finally, in 1963, in the poem “Poem of an old art”
(“Poema de arte velha”), the word armorial reappears no longer in the title, but
in a line, being used to designate a poet --– Francisco Bandeira de Mello, to
whom Suassuna dedicates the poem. Let’s see the first stanza of this last poem:
Bandeira, courtesan poet,
Bandeira, armorial poet,
O clear Provencal bard
Of roosters, fishes and hierophants,
Of drunken fauns and bacchantes
Of the sea’s salt, of the evil’s sun.
(Ariano Suassuna, “Poema de arte velha”, Jornal do Commercio, Recife, April
14th, 1963)
PHASES OF THE ARMORIAL MOVEMENT
In 1976, in an extensive interview to Recife’s Jornal do Commercio,
Suassuna already made reference to two distinctive phase that, according to
him, could characterize the Armorial Movement since its official launching to
that date: the phase from 1970 to 1975, which he considered as
“experimental”, and the phase of the time, “actual and new”, denominated
Romançal and started precisely on December 18th 1975, with the debut of the
Orquestra Romançal Brasileira (Brazilian Romançal Orchestra), at the Santa
Isabel theater. (Ariano Suassuna, Movimento Armorial em nova fase criadora,
interview, Jornal do Commercio, Recife, July 25th, 1976).
Some critics antagonistic to the Armorial Movement state that, when the
Movement emerged, due to the sponsorship it enjoyed from the Federal
University of Pernambuco (UFPE) through its DEC, many artists in Recife
16. “became armorial” because they wanted to promote their works and, in the
specific case of writers and poets, they wanted their work to be published by
an University press. No doubt it has happened, like it happened with any other
Movement. That’s why the phase from 1970 to 1975 is considered by Suassuna
by “experimental”. Referring to it, Suassuna admits the new adepts, but
considers the general result quite positive:
[…] during the first phase, I had to start several things in any possible way,
deliberately closing my eyes to certain adhesions, improvisations,
artificialism and mistakes, some of them quite severe. But the
appearance of Antônio José Madureira, of the Armorial Quintet and of
the Brazilian Romançal Orchestra would be enough to justify the whole
work. Let’s not forget that Gilvan Samico honored the movement, which
became greater with his name, and respected throughout the world.
Time takes care of everything: some left the Movement because they
really never cared that much to Brazilian culture; some, more sensitive to
criticism and fashions, decided to trail other paths; others because are
more solitary in nature; and so forth. (Idem).
The Romançal phase would be one of the most prolific of the
Movement. The work of the Romançal Orchestra, the foundation of the
Armorial Ballet (origin of the present day Popular Ballet of Recife) and the
debut of Antônio Carlos Nóbrega de Almeida as a teatrologist, with the
spectacle A Bandeira do Divine (The Holy Standard), may be characterized as
some highlights of this phase. Not only that, but two salutary events
demonstrated the mistake of those who were unable to visualize the
Movement’s proposals outside the Northeast: in Brasília was published A guerra
do reino divino (The war of the holy kingdom) (Editora CODECRI, 1976), a
cartoon work by Jô Oliveira, based on The Kingdom’s Stone, with drawings
closely following the proposals of armorial painting and engraving; in music,
Renato Andrade, born in Abaeté (Minas Gerais), releases the LP A fantástica
viola de Renato Andrade na música armorial mineira (The fantastic viola of
Renato Andrade in Minas Gerais’ armorial music) (São Paulo: Chantecler,
1977), exhibiting the first results of his attempts of producing in relation to his
State (Minas Gerais) that which the Armorial Movement was doing in relation to
17. the Northeaster States. After the Experimental and Romançal phases, the
Armorial Movement returns to the news with the phase Arraial (Country camp
or festivity), which began during Ariano Suassuna’s term at the Secretariat of
Culture of Pernambuco, during Miguel Arraes’ third term as State Governor.