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Um pouco da
História da Álgebra
parte 2
Antonio Carlos Brolezzi
François Viète (1540 - 1603)
O caso irredutível da cúbica,
em que a fórmula de Cardano
leva a uma raiz quadrada de
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Paolo Ruffini (1765-1822)
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Niels Henrik Abel
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norueguês, Abel,
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Sua demonstração
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Niels Henrik Abel
(1802-1829)
Abel era de família muito
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mudar quando, em sua
escola, o professor de
matemática foi mandado
embora após ter castigado um
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O novo professor ficou
entusiasmado com o garoto.
Mas seu pai morreu e deixou
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Seu professor vez então uma
coleta para ajuntar dinheiro
para que ele fizesse a
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em 1822.
Outro professor da
Universidade tomou
conta de Abel, que tinha
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Abel não conseguia
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Quando Abel finalmente
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Abel pesquisou dois problemas:
1. Encontrar todas as equações de grau
qualquer que são solúveis
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Embora não tenha resolvido esses
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Abel generalizou a solução de
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na qual todas as raízes são
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Abel mostrou que:
“se as raízes de uma equação de grau qualquer estão
relacionadas de modo que todas sejas expressas
racionalmente em termos de uma delas, que são designadas
por x, e se, além disso, para quaisquer duas raízes x e 1x
(onde  e 1 são funções racionais), temos 1x = 1x, então
a equação é solúvel algebricamente”.
Devido a esse resultado que os
grupos comutativos são
chamados hoje como grupos
abelianos.
Abel não pode
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programa, mas sua
tarefa foi levada
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jovem de vida curta,
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Suas idéias sobre a
solução de equações
algébricas por radicais
foram apresentadas
em um manuscrito
submetido à Academia
Francesa em 1829
(ele tinha 17 anos).
Evariste Galois
(1811-1832)
Galois estudou em
casa com sua mãe
até aos 12 anos.
Quando entrou na
escola, repetiu de
ano.
Quando tinha 16
anos descobriu a
matemática com um
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único que escrevia
boas coisas sobre
ele no boletim.
Com 17 anos Galois
prestou vestibular na
Escola Politécnica
mas não passou.Evariste Galois
(1811-1832)
Voltou a prestar o
vestibular mas seu
pai havia se
suicidado dias antes
e ele não passou de
novo.
Entrou então na
Escola Normal.
Foi expulso por
publicar uma crítica
ao diretor no jornal
da escola.
Entrou para o
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preso duas vezes por
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política.Evariste Galois
(1811-1832)
Vítima de
cólera, ficou
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apaixonou-
se pela filha
do médico,
Stephanie.
Escrevia seu
nome
diversas
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seus
manuscritos.
Como eram as mulheres na França na época?
Retrato de Elizabeth Vigée Le Brun, pintora francesa (1755-1842)
Naquele seu primeiro
manuscrito, Galois
começa por clarificar a
idéia de racionalidade.
Uma vez que uma equação
tenha coeficientes em um
certo domínio, por exemplo
no conjunto dos números
racionais,
então dizer que uma equação é solúvel por radicais significa que
pode-se expressar qualquer raiz usando as quatro operações
básicas e a extração de raízes, todas aplicadas aos elementos do
domínio original. Assim, é conveniente resolver por passos.
Portanto, uma vez que seja resolvida a equação xn = , por
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essas soluções, expressas como ,...,, 2 nnn
rr 
Onde r é uma raiz n-ésima da unidade.
Galois observou que tais
quantidades são
acrescentadas ao domínio
original e que qualquer
quantidade que possa ser
expressa pelas quatro
operações fundamentais em
termos destas novas
quantidades e as originais
podem então ser
consideradas como racionais.
Seu principal resultado pode
ser expresso da seguinte
forma:
“Seja uma equação dada na qual a,
b, c, ... Sejam as m raízes (Galois
assume que esta equação é
irredutível e que todas as raízes são
distintas.) Sempre haverá um grupo
de permutações das letras a, b, c,
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permutações do grupo , é
conhecida racionalmente; 2. Por
outro lado, que toda função das
raízes, racionalmente conhecida, é
invariante sob as permutações.”
Galois chamou este grupo de permutações de grupo da
equação.
Os biógrafos de Galois tem relatado uma vida trágica e
aventuresca. De fato, Galois morreu muito jovem, com menos de
21 anos, vitima de um tiro no estômago como conseqüência de
um duelo com Pescheux d’Herbinville.
Galois foi encontrado sozinho por um camponês e levado ao
Hospital Cochin, onde morreu no dia seguinte nos braços de seu
irmão Alfred.
Na noite anterior ao
duelo, Galois escreveu
diversas cartas. O nome
de Stephanie aparece
de novo.
Em uma carta a seu amigo Chevalier, ele descreve e elucida sua
teoria. Mas não é verdade que tenha criado a teoria dos grupos
na madrugada, véspera de sua morte, como Bell e outros
biógrafos insistem em colocar. Ele usa o termo grupo no sentido
de grupo de permutações em todos seus escritos desde que
tinha 17 anos.
O que é certo é que
Galois teve sua
teoria rejeitada
muitas vezes.
Seu primeiro
manuscrito de 1829
submetido à
Academia Francesa
foi rejeitado por
Cauchy (1789-
1857).
Os biógrafos dizem
que Cauchy
desprezou o artigo,
que o perdeu etc.
Mas René Taton descobriu
evidências do contrário, de que
Cauchy sugeriu que Galois
retirasse o artigo e o
submetesse ao Grand Prix.
Galois realmente submeteu sua
teoria melhorada em março de
1830. Fourier recebeu seu
trabalho mas morreu pouco
depois, e o artigo de Galois foi
perdido. O prêmio foi dado a
Abel (postumamente) e Jacobi
em Julho de 1830. Fourier (1768 - 1830)
Poisson convidou Galois a
submeter uma terceira versão de
sua teoria de equações à
Academia e ele assim fez em 17
de janeiro de 1831.
Poisson não entendeu o artigo e
solicitou que o melhorasse.
Ocorre que a noção de grupo
ainda não estava estabelecida,
por isso Poisson não entendeu o
artigo.
Poisson (1781 - 1840)
Cauchy publicou uma definição de grupo em 1845. Um ano
depois Liouville publicou algumas notas que Galois havia
feito em seus artigos na noite anterior ao duelo, onde se lia:
“... se em tal grupo temos as substituições S e T então temos
a substituição ST.”
Ora, teria Cauchy recebido
influência de Galois, sem fazer
referência a ele? Ou teria ele sido
influenciado diretamente por
Ruffini?
Liouville (1809 - 1882)
Seja como for, o certo é que Cauchy segue a linha de definir
grupos apenas com relação à permutação. Kronecker e
Weber seguem essa linha.
Kronecker (1823 - 1891) Weber (1842 - 1913)
Essa elaboração culmina com Frobenius e Hölder.
Frobenius (1849 - 1917) Hölder (1859 - 1937)
Por outro lado, Cayley escreveu um artigo sobre grupos em
1854 em que deu uma definição mais abstrata de grupo.
Essa idéia foi seguida por Dick e Burnside.
Burnside (1852 - 1927)
Dick (1856 - 1934)
Cayley (1821 - 1895)
Ambas as linhas culminam no
século XX com Emmy Noether,
principalmente através do seu
aluno Van der Waerden.
Emmy Noether (1882 - 1935)
Van der Waerden (1903 - 1996)
Esse é o
diagrama das
interações entre
os vários
matemáticos até
a definição
abstrata de grupo
(elaborado por
Peter Neumann
em um
conferência 19
de março de
2001 na
Universidade de
Sussex)
Essa moderna definição de grupo, chave para entender a
Teoria de Galois, somente será desenvolvida no final do
século XIX e a Teoria de Grupos se tornará um dos principais
resultados da matemática do século XX.
Creio que estudar a História de Galois ajuda a entender um
pouco da natureza da Matemática e também da História da
Matemática.
A História da Teoria de Galois mostra que a Matemática é
construída com muito estudo, erros, pequenos acertos e a
cooperação é fundamental.
O uso ainda indefinido da palavra grupo por Galois pode
explicar a dificuldade de compreensão de seus resultados em
sua época. Mas a noção de grupo se tornará importantíssima
para expressar sua própria teoria mais tarde.

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História da Álgebra e Teoria de Grupos

  • 1. Um pouco da História da Álgebra parte 2 Antonio Carlos Brolezzi
  • 2. François Viète (1540 - 1603) O caso irredutível da cúbica, em que a fórmula de Cardano leva a uma raiz quadrada de número negativo, foi resolvido por Rafael Bombelli em 1572. 250 anos se passaram sem que ninguém conseguisse resolver a quíntica, embora muitos matemáticos tenham tentado, como Viète, Harriot, Tschirnhaus, Euler, Bezout e Descartes.
  • 3. Paolo Ruffini (1765-1822) Ruffini, um médico e padre italiano, foi o primeiro a propor uma demonstração de que a equação geral do quinto grau não podia ser resolvida por radicais. Mas seu tratado de 1798 não apresentava uma demonstração satisfatória.
  • 4. Niels Henrik Abel (1802-1829) Um jovem matemático norueguês, Abel, apresentou uma prova completa da impossibilidade da solução da quíntica por radicais. Sua demonstração envolvia aplicar resultados de permutações sobre o conjunto das raízes da equação.
  • 5. Niels Henrik Abel (1802-1829) Abel era de família muito pobre. Tudo parecia que iria mudar quando, em sua escola, o professor de matemática foi mandado embora após ter castigado um aluno até a morte. O novo professor ficou entusiasmado com o garoto. Mas seu pai morreu e deixou a família na miséria. Seu professor vez então uma coleta para ajuntar dinheiro para que ele fizesse a universidade. Ele graduou-se em 1822.
  • 6. Outro professor da Universidade tomou conta de Abel, que tinha uma péssima saúde. Abel não conseguia emprego, e endividou- se muito viajando para visitar matemáticos e chegando a pagar para imprimir artigos. Quando Abel finalmente conseguiu um emprego em uma Universidade, não chegou a ler a carta com a boa notícia, pois tinha morrido 3 dias antes, com 27 anos.
  • 7. Abel pesquisou dois problemas: 1. Encontrar todas as equações de grau qualquer que são solúveis algebricamente. 2. Decidir se uma equação dada é soluvel algebricamente ou não. Embora não tenha resolvido esses problemas em vida, Abel obteve um resultado particularmente interessante. Abel generalizou a solução de Gauss para a equação xn - 1 = 0, na qual todas as raízes são expressas como potência de uma delas. Gauss (1777-1855)
  • 8. Abel mostrou que: “se as raízes de uma equação de grau qualquer estão relacionadas de modo que todas sejas expressas racionalmente em termos de uma delas, que são designadas por x, e se, além disso, para quaisquer duas raízes x e 1x (onde  e 1 são funções racionais), temos 1x = 1x, então a equação é solúvel algebricamente”. Devido a esse resultado que os grupos comutativos são chamados hoje como grupos abelianos.
  • 9. Abel não pode terminar seu programa, mas sua tarefa foi levada adiante por outro jovem de vida curta, Galois. Suas idéias sobre a solução de equações algébricas por radicais foram apresentadas em um manuscrito submetido à Academia Francesa em 1829 (ele tinha 17 anos). Evariste Galois (1811-1832)
  • 10. Galois estudou em casa com sua mãe até aos 12 anos. Quando entrou na escola, repetiu de ano. Quando tinha 16 anos descobriu a matemática com um professor que era o único que escrevia boas coisas sobre ele no boletim. Com 17 anos Galois prestou vestibular na Escola Politécnica mas não passou.Evariste Galois (1811-1832)
  • 11. Voltou a prestar o vestibular mas seu pai havia se suicidado dias antes e ele não passou de novo. Entrou então na Escola Normal. Foi expulso por publicar uma crítica ao diretor no jornal da escola. Entrou para o exército, mas foi preso duas vezes por envolvimento em política.Evariste Galois (1811-1832)
  • 12. Vítima de cólera, ficou internado e apaixonou- se pela filha do médico, Stephanie. Escrevia seu nome diversas vezes nas margens de seus manuscritos. Como eram as mulheres na França na época? Retrato de Elizabeth Vigée Le Brun, pintora francesa (1755-1842)
  • 13. Naquele seu primeiro manuscrito, Galois começa por clarificar a idéia de racionalidade. Uma vez que uma equação tenha coeficientes em um certo domínio, por exemplo no conjunto dos números racionais, então dizer que uma equação é solúvel por radicais significa que pode-se expressar qualquer raiz usando as quatro operações básicas e a extração de raízes, todas aplicadas aos elementos do domínio original. Assim, é conveniente resolver por passos. Portanto, uma vez que seja resolvida a equação xn = , por exemplo, tem-se disponíveis como coeficientes no próximo passo essas soluções, expressas como ,...,, 2 nnn rr  Onde r é uma raiz n-ésima da unidade.
  • 14. Galois observou que tais quantidades são acrescentadas ao domínio original e que qualquer quantidade que possa ser expressa pelas quatro operações fundamentais em termos destas novas quantidades e as originais podem então ser consideradas como racionais. Seu principal resultado pode ser expresso da seguinte forma:
  • 15. “Seja uma equação dada na qual a, b, c, ... Sejam as m raízes (Galois assume que esta equação é irredutível e que todas as raízes são distintas.) Sempre haverá um grupo de permutações das letras a, b, c, ... Que possui a seguinte propriedade: 1. Que toda função das raízes, invariável sob as permutações do grupo , é conhecida racionalmente; 2. Por outro lado, que toda função das raízes, racionalmente conhecida, é invariante sob as permutações.” Galois chamou este grupo de permutações de grupo da equação.
  • 16. Os biógrafos de Galois tem relatado uma vida trágica e aventuresca. De fato, Galois morreu muito jovem, com menos de 21 anos, vitima de um tiro no estômago como conseqüência de um duelo com Pescheux d’Herbinville. Galois foi encontrado sozinho por um camponês e levado ao Hospital Cochin, onde morreu no dia seguinte nos braços de seu irmão Alfred. Na noite anterior ao duelo, Galois escreveu diversas cartas. O nome de Stephanie aparece de novo. Em uma carta a seu amigo Chevalier, ele descreve e elucida sua teoria. Mas não é verdade que tenha criado a teoria dos grupos na madrugada, véspera de sua morte, como Bell e outros biógrafos insistem em colocar. Ele usa o termo grupo no sentido de grupo de permutações em todos seus escritos desde que tinha 17 anos.
  • 17. O que é certo é que Galois teve sua teoria rejeitada muitas vezes. Seu primeiro manuscrito de 1829 submetido à Academia Francesa foi rejeitado por Cauchy (1789- 1857). Os biógrafos dizem que Cauchy desprezou o artigo, que o perdeu etc.
  • 18. Mas René Taton descobriu evidências do contrário, de que Cauchy sugeriu que Galois retirasse o artigo e o submetesse ao Grand Prix. Galois realmente submeteu sua teoria melhorada em março de 1830. Fourier recebeu seu trabalho mas morreu pouco depois, e o artigo de Galois foi perdido. O prêmio foi dado a Abel (postumamente) e Jacobi em Julho de 1830. Fourier (1768 - 1830)
  • 19. Poisson convidou Galois a submeter uma terceira versão de sua teoria de equações à Academia e ele assim fez em 17 de janeiro de 1831. Poisson não entendeu o artigo e solicitou que o melhorasse. Ocorre que a noção de grupo ainda não estava estabelecida, por isso Poisson não entendeu o artigo. Poisson (1781 - 1840)
  • 20. Cauchy publicou uma definição de grupo em 1845. Um ano depois Liouville publicou algumas notas que Galois havia feito em seus artigos na noite anterior ao duelo, onde se lia: “... se em tal grupo temos as substituições S e T então temos a substituição ST.” Ora, teria Cauchy recebido influência de Galois, sem fazer referência a ele? Ou teria ele sido influenciado diretamente por Ruffini? Liouville (1809 - 1882)
  • 21. Seja como for, o certo é que Cauchy segue a linha de definir grupos apenas com relação à permutação. Kronecker e Weber seguem essa linha. Kronecker (1823 - 1891) Weber (1842 - 1913)
  • 22. Essa elaboração culmina com Frobenius e Hölder. Frobenius (1849 - 1917) Hölder (1859 - 1937)
  • 23. Por outro lado, Cayley escreveu um artigo sobre grupos em 1854 em que deu uma definição mais abstrata de grupo. Essa idéia foi seguida por Dick e Burnside. Burnside (1852 - 1927) Dick (1856 - 1934) Cayley (1821 - 1895)
  • 24. Ambas as linhas culminam no século XX com Emmy Noether, principalmente através do seu aluno Van der Waerden. Emmy Noether (1882 - 1935) Van der Waerden (1903 - 1996)
  • 25. Esse é o diagrama das interações entre os vários matemáticos até a definição abstrata de grupo (elaborado por Peter Neumann em um conferência 19 de março de 2001 na Universidade de Sussex)
  • 26. Essa moderna definição de grupo, chave para entender a Teoria de Galois, somente será desenvolvida no final do século XIX e a Teoria de Grupos se tornará um dos principais resultados da matemática do século XX. Creio que estudar a História de Galois ajuda a entender um pouco da natureza da Matemática e também da História da Matemática. A História da Teoria de Galois mostra que a Matemática é construída com muito estudo, erros, pequenos acertos e a cooperação é fundamental. O uso ainda indefinido da palavra grupo por Galois pode explicar a dificuldade de compreensão de seus resultados em sua época. Mas a noção de grupo se tornará importantíssima para expressar sua própria teoria mais tarde.