1. Práticas sustentáveis em campos
de golfe: Água
Nuno Santos
ISPO – Instituto Superior Politécnico do Oeste
Gestão de Empresas Turísticas e Hoteleiras – Turismo e Ambiente
14/05/2012
RESUMO
Em 2009 foi editado o Manual De Boas Práticas Ambientais Para Campos De Golfe1
numa edição da Agência Portuguesa do Ambiente que se tornou uma ferramenta indis-
pensável para quem faz a gestão de um campo de golfe. Este trabalho tem como objec-
tivo apresentar soluções de gestão eficiente de água em campos de golfe, de forma a
torná-los ambientalmente sustentáveis.
A água é um bem essencial a todas as actividades humanas, no entanto é um recurso que
pode esgotar. Por isso, é necessário proceder ao seu uso eficiente. O uso eficiente de
água consiste em organizar a utilização da água com o objectivo de obter o maior ren-
dimento possível. No seguimento do trabalho são indicados os passos correctos do pla-
neamento, as vantagens da obtenção de certificações e soluções possíveis para uma me-
lhor gestão da água nos campos de golfe. É também apresentada uma pequena explica-
ção acerca das várias espécies de relva usadas e suas características bem como as suas
necessidades hídricas.
No capítulo final é apresentado um estude de caso de um campo de golfe e respectivas
conclusões.
2. Abstract
In 2009 was published the Manual De Boas Práticas Ambientais Para Campos De Golfe
in an edition of the Portuguese Environment Agency has become a tool indispensable
for one who manages a golf course. This work has the objective solutions provide effi-
cient management of water on golf courses, in order to make them environmentally sus-
tainable.
Water is an essential to all human activities, however, is a resource that can be exhaust-
ing. It is therefore necessary to use efficiently. The efficient use of water is to organize
the use of water in order to obtain the greatest possible income instead. Following the
work are given the correct steps of the planning, the advantages of obtaining certifica-
tions and possible solutions to a better management of water on golf courses. We also
present a small explaining about the various species of grass used and their characteris-
tics and their water requirements.
The final chapter presents a case study of a golf course and its conclusions.
4. INTRODUÇÃO
Cada vez mais existe uma preocupação global em relação ao ambiente, e o sector do
turismo não é excepção. As preocupações ambientais dos mais diversos produtos turís-
ticos são hoje em dia consideradas como um factor diferenciador em relação á concor-
rência. Os campos de golfe na figura dos seus gestores começam a perceber a importân-
cia de tornarem os seus extensos relvados amigos do ambiente sem perderem as quali-
dades necessárias e exigidas pelos jogadores.
Com este trabalho, consegue-se perceber que já é possível e relativamente fácil criar ou
adaptar um campo de golfe de forma a ser amigo do ambiente através de um planea-
mento cuidado, da utilização de certificações e, principalmente, de uma gestão eficaz da
água da rega.
5. A ÁGUA
“NÃO HÁ VIDA SEM ÁGUA. A ÁGUA É UM BEM PRECIOSO, INDISPENSÁVEL
ATODAS AS ACTIVIDADES HUMANAS.”
(CARTA EUROPEIA DA ÁGUA)
A água é um bem essencial à vida. É também um factor fundamental para o desenvol-
vimento socioeconómico do país, sendo essencial para todos os sectores. Não sendo
recursos inesgotáveis, é necessário conservá-los, controlá-los e mantê-los.
Se se analisar o consumo de água por sectores verifica-se que a agricultura, onde se en-
quadra a cultura dos relvados, é o sector com maior consumo, seguindo-se o abasteci-
mento urbano e a indústria. Infelizmente nem toda esta água é aproveitada, uma fracção
importante está associada á ineficiência de uso e perdas.2 Torna-se então urgente im-
plementar medidas e sistemas para uma melhor eficiência do uso da água em todos os
sectores.
6. CAMPOS DE GOLFE
Existem actualmente 70 campos de golfe distribuídos pelo continente e ilhas3.
Um campo de golfe é constituído pela zona de jogo, campo e lagoas, e as instalações,
Club-house, restaurante, recepção/loja, oficinas de manutenção, etc. Todas estas estrutu-
ras necessitam de água para o seu funcionamento. No entanto, a estrutura onde são con-
sumidas as maiores quantidades de água é a zona de jogo, ou seja, os relvados.
A zona de jogo de um campo de golfe tem, por norma, dezoito (18) percursos, sendo
que, em cada um deles, existem as seguintes zonas: tee, green, fairway e rough. O tee é
o ponto a partir do qual se bate a primeira pancada, podendo existir um ou mais tees em
cada percurso. O green é a área de finalização de cada percurso, onde se situa o buraco,
no qual deve cair a bola. O fairway (caminho justo4) é parte central do campo, ou seja, o
“corredor” que vai do tee ao green. O rough é a área adjacente ao fairway, a qual pode
conter espécies arbustivas para além de relva. Na figura 1 encontram-se assinaladas as
várias zonas de um percurso num campo de golfe5.
Figura 1 - Zonas de um campo de golfe
Um campo de golfe de 18 percursos apresenta consumos médios de água entre os 200
000 e 250 000 m3/ano6, atingindo os valores máximos nos meses de Julho e Agosto.
Estes valores são indicadores da necessidade de aplicar medidas e planos de gestão para
o uso eficiente de água.
7. ESTRATÉGIAS PARA A SUSTENTABILIDADE
PLANEAMENTO
É no planeamento de um campo de golfe que se começa desenhar a sua sustentabilida-
de. Ao fazer um correcto levantamento do terreno e do microclima da área de implanta-
ção serão obtidos os dados que irão permitir implementar logo de início medidas que
levem á optimização do uso dos recursos hídricos a longo prazo.
A garantia de disponibilidade de água, maioritariamente provenientes da reutilização de
águas residuais tratadas, a selecção de espécies adaptadas às condições edafoclimáticas,
uma implantação coerente com a geomorfologia do local, vegetação autóctone e o co-
nhecimento e respeito da rede hidrográfica são orientações estratégicas essenciais para a
elaboração de um projecto.
NECESSIDADES HÍDRICAS
As necessidades hídricas dos relvados dos campos de golfe são calculadas de forma a
permitir o crescimento saudável da planta sem lhe criar stress hídrico7. Este stress hídri-
co tanto pode ser provocado por excesso ou por carência de água no sistema radicular.
Vários factores são tidos em conta para determinar a quantidade de água mais aproxi-
mada, sendo impossível o cálculo de uma quantidade exacta, á necessidade da planta em
causa. A saber, a temperatura do ar e do solo, a humidade relativa do ar e no solo (ao
nível do sistema radicular e não á superfície), o consequente nível de evapotranspiração,
o vento, a localização do campo de golfe e as necessidades hídricas conhecidas da espé-
cie em causa. Para se obter estes dados será sempre imprescindível a utilização de uma
estação meteorológica e sensores.
ESPÉCIES DE RELVA VS. CARACTERÍSTICAS
Quando vamos construir um relvado, que pode ser constituído por uma ou mais espé-
cies, devemos ter em conta as condições edafoclimáticas do local em causa.
Para que haja uma melhor adaptabilidade a diferentes condições, são preparadas mistu-
ras que têm por finalidade a combinação de características como o ritmo de crescimen-
to, tolerância ao uso, formação do relvado, resistência ao calor e/ou frio, tolerância à
sombra e resistência a doenças.
8. Uma composição muito complexa poderá originar demasiada concorrência entre as es-
pécies, fazendo com que as características de evidência se anulem. Muitos componentes
numa mistura têm um efeito negativo. Numa boa mistura obtêm-se um equilíbrio entre
as espécies.8
A selecção das espécies de relva adequadas é, talvez, a decisão mais importante na qua-
lidade futura do relvado. As espécies de relvas dividem-se em dois grupos fundamen-
tais:
Relvas de climas frios e temperados (C3)9
Períodos de crescimento óptimos entre os 15-25ºC
São relvas adaptadas a zonas frias e de transição, muito utilizadas em Portugal Conti-
nental (excepto o Algarve), utilizam-se principalmente em mistura, exceptuando o caso
da Agrostis.
As principais espécies são: Agrostis stolonifera, Poa pratensis, Lolium perenne, Festuca
rubra e Festuca arundinácea.
Relvas de climas quentes (C4)10
Períodos de crescimento óptimos entre os 25-35ºC
São relvas adaptadas a zonas quentes, com boa tolerância à seca e encontram-se princi-
palmente no Algarve.
As principais espécies são: Cynodon dactylon, Stenotaprhum secundatum (escalracho
ou gramão) e Paspalum notatum (Bahiagrass).
CERTIFICAÇÃO
Em termos de certificação ambiental, os campos de golfe terão um grande leque de es-
colhas, mas os principais serão o Audubon Signature Program11 e a Certificação Eco-
Golf12 dada pela empresa TÜV Rheinland.
9. AUDUBON SIGNATURE PROGRAM
O Audubon Signature Program identifica os seguintes potenciais impactes ambientais
gerados num campo de golfe:
Poluição das águas subterrâneas e águas superficiais causada pelo uso de pesti-
cidas, fertilizantes e outros contaminantes;
Má qualidade da água corrente, devido à erosão;
Retirada de grandes quantidades de água para irrigação;
Degradação ou perda de áreas naturais;
Perigo para a saúde resultantes da manipulação química e suas aplicações;
Impactos negativos do uso de produtos químicos na vida selvagem.
Por outro lado o Audubon Signature Program identifica as seguintes oportunidades am-
bientais do golfe:
Fornecer santuários da vida selvagem;
Preservar áreas naturais em ambientes urbanos;
Suporte para plantas e animais selvagens autóctones;
Proteger os recursos hídricos;
Filtro de escoamento de águas pluviais através de zonas húmidas do campo de
golfe e dos relvados;
Reabilitar paisagens degradadas;
Promover o bem-estar físico e mental e redução do stress em cerca de 30 mil
praticantes federados13;
Melhorar a qualidade do ar e temperatura moderada
Educar golfistas e o público em geral sobre a natureza do jogo e promover a ges-
tão.
ECO-GOLF - TÜV RHEINLAND
Esta certificação é atribuída exclusivamente a Campos de Golfe que cumpram os requi-
sitos ambientais e de segurança do programa Eco-Golf, revelando-se um elemento de
importante diferenciação no mercado internacional dos destinos de golfe.
10. Benefícios da Certificação Eco-Golf:
Redução de custos do consumo de energia e água;
Das coimas associadas aos danos Ambientais;
Dos prémios de seguro, através da diminuição do risco Ambiental;
Dos custos associados aos riscos de acidentes.
Vantagens Competitivas:
Melhoria da imagem externa da empresa;
Melhor aceitação do público (Administração Pública, clientes, trabalhadores, in-
vestidores, meios de comunicação);
Benefícios na obtenção de financiamento.
Segundo a TÜV Rheinland, a implementação de um conjunto de medidas, previamente
testadas em campos de golfe nacionais, vai potenciar ganhos ambientais nas seguintes
áreas:
Gestão de Recursos Naturais;
Gestão de Consumos Energéticos;
Gestão de Resíduos;
Gestão de Substâncias Perigosas;
Formação e Aquisição de Competências;
Divulgação e Reconhecimento Público.
Nas certificações disponíveis para campos de golfe é constante a preocupação com a
gestão da água nos mesmos, ficando assim demonstrado mais uma vez a importância
que uma correcta gestão da água tem no caminho para a sustentabilidade do golfe.
SOLUÇÕES
Existem já várias soluções que permitem aos responsáveis pelos campos de golfe geri-
rem a água de uma forma bastante eficaz. Desde substratos a softwares para controlo da
rega, utilização de água da chuva, utilização de águas residuais, passando até por bolas
biodegradáveis.
11. SUBSTRATOS
São usados vários tipos de substratos que, quando incorporados no solo, permitem uma
maior fixação da água no solo e uma diminuição da evapotranspiração. Alguns exem-
plos serão a eco-espuma14, a vermiculite, a turfa, a fibra de coco, a perlite e a casca de
pinheiro, sendo que em relvados desportivos o mais utilizado é a eco-espuma pela faci-
lidade de incorporação tanto na instalação de relvados novos como em relvados já exis-
tentes.
SOFTWARES
Existem no mercado vários softwares de controlo de rega, mas o mais utilizado é o da
RainBird15. Este software permite, em conjunto com as estações meteorológicas e os
sensores espalhados pelo campo, controlar todo o sistema de rega desde o tempo de rega
de cada sector até parar por completo a rega em caso de chuva. São uma ferramenta
basilar na gestão da água na rega dos campos de golfe.
ÁGUA DA CHUVA
Consiste em recolher água da chuva dos edifícios que compõem o resort e armazená-la
em reservatórios ou canalizá-la directamente para os lagos. Apenas terá que ser filtrada
de forma a evitar a entrada de vegetação e outros detritos no sistema de abastecimento.
ÁGUAS RESIDUAIS
Poderá ser usada uma Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) pública me-
diante o pagamento de uma taxa por m3 e com possíveis limitações de caudal anual ou,
caso se apresente viável, a construção de uma ETAR própria.
ECOBIOBALL
A última novidade é a aparição no mercado de bolas biodegradáveis não poluentes para
lagos e ribeiras. A ECOBIOBALL16 possui um núcleo constituído por alimento para
peixe e começa a degradar-se mal entra em contacto com a água.
No entanto estas bolas apenas servem para treino, não estando homologadas para tor-
neios oficiais por terem características que permitem aos jogadores aumentarem a dis-
tância de pancada entre 60% a 80% em relação às bolas homologadas.
12. É de acreditar que estará para breve o aperfeiçoamento destas bolas biodegradáveis com
vista a tornarem-se homologadas e tornar-se banal em torneios de golfe em todo o mun-
do.
Figura 2 - ECOBIOBALL
13. CONCLUSÕES
Analisando as estratégias disponíveis, conclui-se que os campos de golfe podem tornar-
se mais amigos do ambiente em relação á gestão da água usada na rega. A Federação
Portuguesa de Golfe (FPG) e a Associação Portuguesa de GreenKeepers (APG) têm
vindo a trabalhar neste sentido promovendo formações às pessoas responsáveis pela
manutenção dos campos de golfe nacionais. Em relação á gestão da água os campos
portugueses estão no bom caminho, mas para se tornarem sustentáveis há que ter em
conta uma aplicação responsável de fitofármacos e a criação de zonas de protecção am-
biental.