O documento discute como a fé e a política estão intimamente ligadas e como os cristãos devem participar ativamente na transformação da sociedade de forma justa. A autora argumenta que a política não deve ser apenas voluntarismo, mas sim questionar a ordem estabelecida quando for injusta e defender os mais pobres e marginalizados.
1. OPINIÃO Fé e política
Maria do Rosário Carneiro
Investigadora do ISCSP
Aqui há uns dias atrás participei num encontro formulação das políticas públicas, na construção
integrado no Ano da Fé que tinha como tema de legislativa e na sua aplicação; quando os grupos
reflexão a Fé e a Política. organizados criam opinião pública e forçam deci-
Temas raramente associados, diria eu, por igno- sões; quando os cidadãos votam, quando se auto-
rância e desinteresse nossos, mas de disciplinam nas relações sociais e no
tremenda importância na percepção Para a promoção consumo.
do nosso papel na sociedade contem- do bem comum Mas o exercício da política não pode
porânea, de profunda e inadiável (...), não basta ser fruto exclusivo do voluntarismo.
interpelação à participação na cons- Para a promoção do bem comum
PÁG. trução da comunidade e do bem co-
amar o nosso (bem de todos e de cada um), para a
vizinho ou
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mum. promoção da paz, não basta amar o
A política é uma actividade humana, cumprir a lei, nosso vizinho ou cumprir a lei, é ne-
como tal limitada e carregada de im- é necessário cessário ir mais além pondo em causa
perfeições, mas não uma coisa “suja”, ir mais além a ordem estabelecida quando é injus-
antes uma forma exigente de viver a ta, quando é contrária à dignidade
caridade: a fé sem obras é morta (Tg
pondo em humana, denunciando-a e condenan-
2, 14-26). João Paulo II alerta para o causa a ordem do-a, tomando sempre como ponto
compromisso social e para a promo- estabelecida de partida o serviço da pessoa, tendo
ção da justiça como missão de cada quando é injusta em particular atenção os mais pobres
cristão que não se pode alhear dos e marginalizados.
acontecimentos, porque cada um é A obrigatoriedade de participação de
chamado a ser sujeito e agente da história, quer cada um na transformação da sociedade, exige
de forma individual (pelo voto, pelo exercício da também uma viagem de interioridade que liberte
sua profissão) quer de forma associativa (através e clarifique a intervenção pública e seja alicer-
dos vários grupos e associações que animam o te- ce da coragem, da fidelidade e da coerência aos
cido social). princípios da verdade, da justiça, da caridade e
Qualquer acto público é um acto de poder: na da liberdade.
RTP
Nuno Santos diz que a televisão pública estava a ser incómoda
para o poder político
Nuno Santos diz que nos últimos meses foi notório o pois das declarações que prestou no Parlamento e por
incómodo que as notícias da RTP provocavam no poder isso pede a intervenção da presidente da Assembleia
político. O ex-director da televisão pública chamou, da República: “Daqui lanço um apelo à senhora presi-
esta manhã, os jornalistas para dizer que foi alvo de dente da Assembleia da República para que se pronun-
um saneamento político cie, não sobre o meu caso em concreto, mas sobre a
“Eu tive, ao longo dos últimos meses, e, em particular, protecção de que devem gozar os cidadãos chamados
nos dois últimos meses, sinais crescentes da incomo- a depor nas comissões parlamentares”.
didade do poder político face à informação produzida “Aquilo que cada um de nós diz nessa condição de ci-
pela RTP, à que estava a ser produzida nessa altura, dadão perante as comissões não pode ser condiciona-
mas também que tinha sido produzida nos meses an- do à partida com medo das represálias que possamos
teriores”, referiu. sofrer, por alguém poder ver nelas delito de opinião,
“Isso é uma coisa que quero deixar claro, mesmo que algo que há mais de 38 anos está banido da ordem
implique um novo processo disciplinar com vista ao jurídico-constitucional portuguesa”.
meu despedimento”, rematou o ex-director. Nuno Santos falava, esta manhã, aos jornalistas, num
Nuno Santos diz que está suspenso e impedido de en- hotel em Lisboa, onde anunciou que irá até as ulti-
trar nas instalações da RTP, mas continua à espera que mas circunstâncias para defender o seu bom nome,
lhe seja entregue a nota de culpa. mas também para tornar clara a gestão da televisão
O ex-director garante que esta situação acontece de- pública.
r/com renascença comunicação multimédia, 2012