1. Recebido em 22 mar. 2010. Aprovado em 12 jun. 2010
Escalas de avaliação funcional
aplicáveis a pacientes pós
acidente vascular encefálico
Editorial
Functional assessment scales for patients after stroke
Filipe Ferreira S. Soriano1; Karen Baraldi2
1
Graduando em Fisioterapia – Uninove. São Paulo, SP – Brasil.
Ciências
2
Professora do curso de Fisioterapia – Uninove. São Paulo, SP – Brasil.
básicas
Endereço de correspondência
Filipe Ferreira S. Soriano
R. Prof. Pedreira de Freitas, 579, Tatuapé
03312-052 – São Paulo – SP [Brasil]
filipesoriano@yahoo.com.br
aplicadas
Ciências
Resumo
de casos
Estudos
Introdução: O Acidente Vascular Encefálico (AVE) é uma das principais causas de
incapacitação física em todo o mundo. A avaliação funcional fisioterapêutica tem
por finalidade traçar diagnósticos terapêuticos, prognósticos e avaliar respostas
aos tratamentos de pacientes com sequelas dessa doença. Objetivo: Apresentar
e discutir a tradução, adaptação, validade e aplicação das escalas de avaliação
funcional, utilizando um questionário quantitativo aplicável a adultos com se-
quelas agudas e crônicas decorrentes de AVE. Método: Realizou-se revisão lite-
rária analítica descritiva nas fontes eletrônicas da Bireme, LILACS, MEDLINE,
SciELO, PubMed e Google Scholar. Resultados: Encontraram-se 11 instrumentos
de literatura
avaliativos: (1) IB, (2) F-M, (3) MIF, (4) THMMS, (5) EEB, (6) NIHSS, (7) TEMPA, (8)
Revisões
ER, (9) EAPA, (10) ECT, (11) EDT. Conclusão: As escalas encontradas apresentaram
características de fácil aplicação, adaptação e confiabilidade, sendo recomenda-
das ao tratamento fisioterapêutico.
Descritores: Acidente vascular encefálico; Avaliação; Escala; Fisioterapia.
Abstract
Introduction: The stroke is the main cause of physical incapacitation around the
world. The physiotherapeutic function assessment has the aim to give therapeu-
para os autores
tic diagnosis, prognostics and evaluate responses to treatments of patients with
Instruções
sequels of this disease. Objective: This study shows and discusses the transla-
tion, adaptation, viability and application for functional assessment scales, using
a quantitative questionnaire applied to adults with acute and chronic sequels
resulting from stroke. Method: We performed analytical descriptive literature
review on electronic sources – Bireme, LILACS, MEDLINE, SciELO, PubMed, and
Google Scholar. Results: We found 11 evaluation items: (1) IB, (2) F-M, (3) MIF,
(4) THMMS, (5) EEB, (6) NIHSS, (7) TEMPA, (8) ER, (9) EAPA, (10) ECT, (11) EDT.
Conclusion: The scales found show an easy applicability, adaptation and reliabil-
ity, thus they are recommended for physiotherapeutic treatment.
Key words: Evaluation; Physiotherapy; Scale; Stroke.
ConScientiae Saúde, 2010;9(3):521-530. 521
2. Escalas de avaliação funcional aplicáveis a pacientes pós acidente vascular encefálico
Introdução situação clínica antes, durante e depois da inter-
venção fisioterápica4, 6.
O Acidente Vascular Encefálico (AVE) é Entretanto, a grande maioria desses ins-
uma doença de grande impacto sobre a saúde da trumentos são produzidos em outros países e
população, estando entre as principais causas de encontrados originalmente na língua inglesa.
morte e incapacitação física em todo o mundo. No Brasil, e em muitos países, há escassez ou até
Nos Estados Unidos da América, ele correspon- mesmo ausência de instrumentos específicos de
de a terceira maior causa de mortalidade, geran- avaliação em Fisioterapia e Neurologia. Assim,
do custos que ultrapassam 18 bilhões de dólares/ a tradução e adaptação transcultural de questio-
ano no que diz respeito à perda de produtividade nários tem sido vista como uma forma simples
e despesas médicas secundárias à sua morbidade1, de se obter medidas válidas e confiáveis, visto
2
. No Brasil, as doenças encefalovasculares situam- que um questionário culturalmente adaptado
se entre a primeira e terceira principais causas de indica que tanto a linguagem quanto o signifi-
mortalidade, além de ser um dos importantes mo- cado dos itens contidos no instrumento são con-
tivos de hospitalização e incapacidades3, 4. sistentes com aqueles do documento original4, 6, 9.
Sobre as consequências desse evento is- Neste estudo, objetivou-se apresentar os
quêmico, pode-se ci ar a perda do controle vo-
t instrumentos de avaliação funcional aplicáveis
luntário dos movimentos musculares, proble- ao AVE, e com questionário quantitativo dire-
mas sensoriais, incontinência, déficit cognitivo cionado a pacientes adultos com sequelas agu-
e problemas na comunicação e na fala. Esses, por das e crônicas, discutindo a tradução, adaptação
sua vez, podem estar relacionados a limitações transcultural, validade e aplicação dessas ferra-
das Atividades de Vida Diária (AVD), restrições mentas à realidade da população brasileira.
ao convívio social e redução da qualidade de
vida do indivíduo 4, 5, 6. Neste estudo, limitou-se
a discutir as afecções de ordem motora por ser Método
de responsabilidade terapêutica da Fisioterapia
e por serem as que mais afetam a qualidade de Foi realizada uma revisão literária analí-
vida nesses pacientes 6, 7. tica descritiva, buscando-se estudos acerca de
Para que se possa compreender o impacto escalas funcional-quantitativas direcionadas
dessa doença, é importante incorporar medidas a pacientes com sequelas agudas e crônicas de
avaliativas das incapacidades. A avaliação fi- AVE. A pesquisa foi realizada nas fontes eletrô-
sioterapêutica é usada no acompanhamento da nicas da Bireme, LILACS, MEDLINE, SciELO,
evolução clínica e em pesquisa para diagnósti- PubMed e Google Scholar, por meio dos termos:
cos, prognósticos e resposta a tratamentos6, 8. acidente vascular encefálico (stroke), fisiotera-
Essas medidas podem ser divididas em pia (physiotherapy), escala (scale), mensuração
duas categorias: funcionais e de qualidade de (measurement), avaliação (evaluation), adaptação
vida8, que, por sua vez, podem ser realizadas (adaptation) e validação (validation).
por meio de questionários qualitativos e/ou Dos artigos encontrados, foram selecio-
quantitativos. Neste estudo, serão discutidos os nados aqueles cujo questionário remetia às
instrumentos funcionais aplicáveis a tal distúr- afecções motoras, que são de responsabilidade
bio encefalovascular com questionário quanti- clínica da Fisioterapia. Os critérios de exclusão
tativo, pois eles auxiliam na avaliação de todas foram:
as possíveis desordens acometidas pela doença,
utilizando técnicas objetivas, sendo sensíveis às • escalas de avaliação quantitativas que ain-
alterações e aos aspectos particulares dos indi- da não foram adaptadas e validadas à po-
víduos. Com esses dados, é possível analisar a pulação brasileira;
522 ConScientiae Saúde, 2010;9(3):521-530.
3. Soriano FFS, Baraldi K
• escalas de avaliação de qualidade de vida; Barthel (IB), Protocolo de Desempenho Físico de
• escalas de avaliação qualitativa; Fugl-Meyer (EFM), Medida de Independência
• escalas encontradas traduzidas para o por- Funcional (MIF), Teste de Habilidade Motora
tuguês de Portugal apenas. do Membro Superior (THMMS), Escala de
Editorial
Equilíbrio de Berg (EEB), Escala de AVE do
No conjunto dos artigos selecionados, fo- Instituto Nacional de Saúde dos EUA (NIHSS),
ram encontradas 22 escalas. Entretanto, apenas Test d’Évaluation des Membres Supérieurs des
11 corresponderam aos critérios de inclusão do Personnes Âgées (TEMPA), Escala de Rankin (ER),
estudo (Figura 1), e foram analisadas quanto ao
seu objetivo e sua aplicabilidade, confrontando Escalas adaptadas ao Brasil
a prática de diversos autores. • Índice de Barthel – IB (Barthel Index);
Ciências
básicas
• Protocolo de Desempenho Físico de
25 Fugl-Meyer – F-M (Fugl-Meyer Assessment);
• Medida de Independência Funcional – MIF
(Functional Inde endence Measure);
p
20
• Teste de Habilidade Motora do Membro
Superior – THMMS (Arm Motor Ability Test);
15 • Escala de Equilíbrio de Berg – EEB
(Berg Balance Scale);
aplicadas
Ciências
10 • Escala de AVE do instituto Nacional de Saúde
dos EUA – NIHSS (National Institute of Health
Stroke Scale);
5 • Test d’Évaluation des Membres Supérieurs des
Personnes Âgées – TEMPA;
• Escala de Rankin – ER (Rankin Scale);
0
Escalas validadas Escalas traduzidas e • Escala de Avaliação Postural para Pacientes
internacionalmente: validadas ao Brasil: após AVE – EAPA (Postural Assessment Scale for
de casos
Estudos
22 escalas 11 escalas Stroke Patients);
Figura 1: Relação entre as escalas • Escala de Comprometimento do Tronco – ECT
encontradas (Trunk Impairment Scale-Fujiwara);
• Escala de Deficiências de Tronco – EDT
(Trunk Impairment Scale-Verdeyhen).
Resultados e discussão
de literatura
Escalas não adaptadas ao Brasil
Revisões
As escalas de avaliação são usadas na prá- • Canadian Neurological Scale – CNS;
tica clínica e em pesquisa para diagnósticos, • Chedoke McMaster Stroke Assessment;
prognósticos e resposta a tratamentos6, 8. No en-
• Dynamic Gait Índex – DGI;
tanto, há um déficit desses instrumentos dire-
• European Stroke Scale – ESS;
cionados à Fisioterapia e Neurologia, dificultan-
• Frenchay Activities Index – FAI;
do a avaliação de pacientes que sofreram AVE4, 6.
• Hemispheric Stroke Scale – HSS;
para os autores
Os instrumentos localizados nesta pesqui-
Instruções
• Motor Assessment Scale – MAS;
sa estão listados na Figura 2, separando os 11
que foram adaptados ao Brasil, e os outros 11 • Motricity Index;
que não o foram. • Rivermead Stroke Assessment – RSA;
Em razão do objetivo de essa revisão ser a • Timed Up and Go – TUG;
apresentação dos instrumentos adaptados e va- • Trunk Control Test – TCT.
lidados e sua aplicabilidade na população brasi- Figura 2: Total de escalas encontradas
leira, discutir-se-á apenas as escalas: Índice de adaptadas ao Brasil
ConScientiae Saúde, 2010;9(3):521-530. 523
4. Escalas de avaliação funcional aplicáveis a pacientes pós acidente vascular encefálico
Escala de Avaliação Postural para Pacientes após Nos estudos encontrados em que se apli-
AVE (EAPA), Escala de Comprometimento do cou essa escala, os autores concluíram ser um
Tronco (ECT), Escala de Deficiências de Tronco método avaliativo confiável, tendo resultados
(EDT) (Tabela 1). substanciais ou excelentes. O IB é importante
Para essa apresentação, optou-se por orga- não só na predição prognóstica, mas também na
nizar as escalas de acordo com suas funções, e avaliação e planejamento de terapias auxiliares
não em ordem cronológica (assim como foi reali- na reabilitação. Nishida et al.13 salientaram que o
zado na Tabela 1), apenas por motivos didáticos. IB contribuiu para detectar as necessidades bási-
Para avaliação da independência funcio- cas dos pacientes e algumas das muitas dificul-
nal, foram encontradas as escalas IB, MIF e ER. dades em sua vida diária11,13-15
O Índice de Barthel (IB) é um instrumento ela- A Medida de Independência Funcional
borado em 1965 por Mahoney e Barthel10 com o (MIF) foi elaborada em 1986 por Granger et al.16,
objetivo de avaliar o nível de independência de e validada no Brasil em 2000 por Riberto et al.17,
pacientes para a realização de dez atividades bá- representando boa equivalência cultural e re-
sicas de vida: alimentação, banho, cuidado pes- produtibilidade. É amplamente utilizada e acei-
soal, capacidade de vestir-se, ritmo intestinal, ta como medida de avaliação funcional nos EUA
ritmo urinário, uso do banheiro, transferência e internacionalmente16-18.
cadeira-cama e vice-versa, mobilidade e subir Esse instrumento foi elaborado para men-
escadas10, 11. surar a capacidade funcional por meio de uma
Seu uso é amplamente difundido para escala de sete níveis que representam os graus
AVE, abrangendo tanto sua fase aguda quanto de funcionalidade, variando da independência
crônica. Pode ser utilizada de forma multidis- à dependência. A classificação de uma atividade
ciplinar, direcionando condutas de reabilitação em termos de dependência ou independência é
aos pacientes com sequelas dessa doença11, 12. baseada na necessidade de ser assistido ou não
A validação e adaptação cultural do IB por outra pessoa e, se a ajuda é necessária, em
foram realizadas em 2004 por Guimarães e qual proporção.
Guimarães12, que obtiveram boa aceitabilidade e A MIF é um instrumento que avalia a in-
compreensão pelos pacientes. dependência funcional, independentemente das
Tabela 1: Escalas que possuem tradução, adaptação e validação ao Brasil
Ano
Nome da escala Autor Objetivo do instrumento
Criação adaptação
(1) IB Mahoney e Barthel 1965 2004 Avaliar independência funcional
Avaliar comprometimento
(2) F-M Fugl-Meyer et al. 1975 2006
sensório-motor
(3) MIF Granger et al. 1986 2000 Avaliar independência funcional
(4) THMMS McCulloch et al. 1988 2006 Avaliar função do membro superior
(5) EEB Berg et al. 1989 2004 Avaliar equilíbrio
(6) NIHSS Brott et al. 1989 2004 Avaliar o estado neurológico
(7) TEMPA Desrosiers et al. 1993 2008 Avaliar função do membro superior
(8) ER Haan et al. 1995 2004 Avaliar independência funcional
Avaliar equilíbrio e controle
(9) EAPA Benaim et al. 1999 2008
de tronco
(10) ECT Fujiwara et al. 2004 2008 Avaliar comprometimento de tronco
(11) EDT Verdeyhen et al. 2004 2009 Avaliar comprometimento de tronco
524 ConScientiae Saúde, 2010;9(3):521-530.
5. Soriano FFS, Baraldi K
sequelas de ordem física, de comunicação, fun- coordenação e velocidade. Ela foi o primeiro
cionais, emocionais, entre outras, apresentadas instrumento quantitativo para mensuração sen-
pelos pacientes17, 18. sório-motora da recuperação dessa doença e é,
Essa escala foi a segunda ferramenta mais provavelmente, a escala mais conhecida e usada
Editorial
frequente, aparecendo em oito estudos, sendo para a pesquisa e/ou prática clínica9, 25.
utilizada como: medida de independência fun- O F-M foi o instrumento mais frequente
cional, referência na validação de novos instru- nesta pesquisa, sendo localizado em nove es-
mentos avaliativos e teste de eficiência de técnicas tudos. Ele é extensivamente utilizado em estu-
terapêuticas. Todos os autores parecem concordar dos científicos, em razão de sua confiabilidade
que esse instrumento tem boa equivalência cul- e validade estabelecida fora do Brasil 26. Por ser
tural em sua versão brasileira e boa reprodutibi- um instrumento com subdivisões, os trabalhos
Ciências
básicas
lidade, atendendo aos critérios de confiabilidade, encontrados nem sempre utilizavam todo o pro-
validade, precisão, praticidade e facilidade. Além tocolo, mas apenas a subescala que fosse apro-
disso, a MIF tem como meta determinar quais os priada para seus objetivos. Dentre esses, o F-M
cuidados necessários a serem prestados para que foi utilizado principalmente para validação de
o paciente realize as AVDs18-23. novas ferramentas de avaliação20, 22, 23, 27-32.
A Escala de Rankin (ER) foi elaborada por Para avaliação da função do membro su-
Haan et al.24 em 1995 com o objetivo de avaliar perior, foram encontradas as escalas THMMS
aplicadas
Ciências
o grau de independência em tarefas específicas e TEMPA. O Teste de Habilidade Motora do
em um paciente com AVE. Nessa escala, foram Membro Superior (THMMS) foi adaptado de
incorporadas adaptações mentais e físicas aos seu original em inglês – Arm Motor Ability Test
déficits neurológicos e a pontuação proporciona (AMAT) que foi desenvolvido em 1988 por
uma ideia se os pacientes conseguem cuidar de McCulloch et al.33 para mensurar aspectos quan-
si próprios em sua vida cotidiana 24. titativos e qualitativos das AVDs envolvendo o
Essa escala foi traduzida e adaptada em membro superior de pacientes com AVE31, 33.
de casos
Estudos
2004 por Guimarães e Guimarães12, apresentan- Sua versão em português do Brasil foi ela-
do concordância com sua versão original em in- borada por Morlin et al.31 em 2006, obtendo qua-
glês. Sua confiabilidade e aplicabilidade foram lidade de instrumento consistente e eficaz para
testadas, mostrando ser um instrumento avalia- avaliação da função do membro superior duran-
tivo clinicamente aceitável e aplicável não só na te as AVDs. O THMMS pode ser utilizado em
Fisioterapia, como também em outras áreas da ambiente ambulatorial e/ou hospitalar, por pro-
Saúde, em pacientes na fase aguda do AVE11, 14. fissionais de diferentes áreas da Saúde, reprodu-
de literatura
Revisões
Para avaliação do comprometimento sen- zindo situações muito próximas às encontradas
sório-motor, o instrumento encontrado foi o no nosso cotidiano20, 31.
Protocolo de Desempenho Físico de Fugl-Meyer O THMMS é composto por 13 tarefas ava-
(F-M). Essa escala foi desenvolvida e introduzi- liadas por uma escala que varia de 0 a 5, de acor-
da em 1975 por Fugl-Meyer et al.25 com o objeti- do com dois itens importantes para recuperação
vo de mensurar o comprometimento sensório- da função motora: habilidade funcional (capa-
para os autores
motor seguido ao AVE. A versão brasileira foi cidade de executar uma meta) e qualidade de
Instruções
traduzida e validada no ano de 2006 em São movimento (quão bem o movimento da tarefa
Paulo por Maki et al.9. foi executado), fornecendo informações sobre os
Essa escala possui um sistema de pontu- aspectos do movimento que são difíceis de ve-
ação numérica acumulativa que avalia seis as- rificar quantitativamente quando estudados em
pectos do paciente: a amplitude de movimento, uma ampla série de tarefas20, 31.
dor, sensibilidade, função motora da extremi- O único estudo encontrado com aplica-
dade superior e inferior e equilíbrio, além da ção dessa escala a comparava com a subesca-
ConScientiae Saúde, 2010;9(3):521-530. 525
6. Escalas de avaliação funcional aplicáveis a pacientes pós acidente vascular encefálico
la de extremidade superior do Protocolo de Para avaliação do equilíbrio, foram en-
Desempenho Físico de Fugl-Meyer em uma ava- contradas as escalas EEB e EAPA. A Escala de
liação de recuperação motora pós-terapia 20. Equilíbrio de Berg (EEB) foi desenvolvida no ano
O TEMPA (Test d’Évaluation des Membres de 1989 no Canadá pelos autores Berg et al.35, e
Supérieurs des Personnes Âgées) foi desenvolvi- sua adaptação transcultural para a realidade
do em francês (canadense), mas foi traduzido a brasileira foi realizada pelos autores Miyamoto
partir de sua versão em inglês34 para a realidade et al.36 em São Paulo, no ano de 2004. Esse instru-
brasileira. Essa escala avalia es encialmente ati-
s mento foi originalmente elaborado e validado
vidades ligadas à alimentação e ao vestuário, po- para avaliar o equilíbrio em indivíduos idosos,
rém não utiliza tarefas padronizadas. Visando não sendo específica para hemiparesia, porém, é
um alto nível de padronização das tarefas que considerada de excelente confiabilidade e, talvez
representam as atividades de vida diária (AVD), devido à falta de escalas adaptadas à realidade
o TEMPA é realizado em uma plataforma com brasileira, é utilizada também na avaliação do
medidas definidas, e todo o material utilizado equilíbrio estático e antecipatório de pacientes
se localiza em lugares precisos e pré-determina- com AVE. Essa escala é uma mensuração ordi-
dos. Também são quantificadas as dificuldades nal, que utiliza 14 itens pontuados de zero (pior
en rentadas pelo examinado em cada uma das
f função) a quatro (melhor função), tendo um total
tarefas executadas 32, 34. de 56 pontos 35, 36.
A versão original do TEMPA inclui cinco Assim como as escalas MIF e F-M, a EEB
tarefas bilaterais: (a) abrir um pote e tirar uma também foi utilizada em estudos brasileiros
colher cheia de café; (b) destrancar uma fecha- como referência na validação de novos instru-
dura, pegar e abrir um recipiente con endo pílu-
t mentos avaliativos23, 37e como medida de equi-
las; (c) escrever em um envelope e colar um selo; líbrio em indivíduos com sequelas crônicas de
(d) colocar um cachecol em seu próprio pesco- AVE22, 29, 38.
ço; (e) embaralhar e distribuir cartas de jogo32, A Avaliação Postural para Pacientes após
34
. Possui também quatro tarefas unilaterais: (a) AVE (EAPA) é a versão traduzida e validada
alcançar e mover um pote; (b) erguer uma jarra para a cultura brasileira da Postural Assessment
e servir água dentro de um copo; (c) manusear Scale for Stroke Patients (PASS). A escala PASS foi
moedas; (d) pegar e mover pequenos objetos 32, 34. elaborada em 1999 por Benaim et al.39 com o ob-
Na adaptação para o Brasil, o item “colocar jetivo de avaliar o equilíbrio e controle de tronco
um cachecol em seu próprio pescoço” foi elimi- de pacientes com sequelas neurológicas seguin-
nado, considerando-se as diferenças climáti asc do três ideias principais: (1) o controle postural
entre o Brasil e o país de origem do instrumento depende de dois domínios que podem ser ava-
(Canadá). Os escores obtidos pelo observador liados (habilidade de manter a postura e o equi-
no TEMPA são base dos na velocidade de exe-
a líbrio com mudanças de postura); (2) uma escala
cução, na graduação funcional e na análise das que possa ser utilizada em todos os pacientes,
tarefas executadas 32. inclusive naqueles com um grande déficit pos-
Além disso, os autores optaram por manter tural; e (3) uma escala sensível que contenha ta-
na versão em por uguês o nome do teste como
t refas com níveis progressivos de dificuldade. A
TEMPA, por ser internacional ente conhecido,
m validação e confiabilidade da versão brasileira
mesmo em países de língua inglesa32. foi testada por Yoneyama et al.30 em 2008.
Esse instrumento pode ser utilizado de Essa escala é especialmente utilizada duran-
forma multidisciplinar, durante a fase aguda te a reabilitação motora na fase crônica do AVE, e,
do AVE ou durante sua reabilitação. Entretanto, portanto, é de grande valia aos profissionais fisio-
não foram encontrados estudos no Brasil testan- terapeutas. Contudo, não foram encontrados ou-
do sua aplicabilidade. tros estudos no Brasil testando sua aplicabilidade.
526 ConScientiae Saúde, 2010;9(3):521-530.
7. Soriano FFS, Baraldi K
Para avaliação de comprometimento de A tradução, validação e confiabilidade
tronco, foram encontradas as escalas ECT e EDT. da versão brasileira da EDT foi realizada por
A Escala de Comprometimento do Tronco (ECT) Castellassi et al.37 em 2009. Não foram encontra-
foi desenvolvida por Fujiwara et al.40 para mensu- dos conflitos de interpretação ou culturais na
Editorial
rar os aspectos quantitativos do comprometimen- adaptação, e ela preencheu os critérios de con-
to do tronco do paciente hemiplégico ou hemipa- fiabilidade e validade, não apresentando difi-
rético pós-AVE. Em 2004, os autores verificaram culdades em sua interpretação e aplicabilidade37.
sua confiabilidade, validade e sensibilidade na Pode ser utilizada por profissionais da saúde
avaliação da função do tronco desses pacientes. voltados para reabilitação neurológica durante
A ECT foi desenvolvida baseando-se em a fase crônica do AVE. Entretanto, essa escala
sete itens: dois deles avaliam força muscular também não foi encontrada em outros estudos
Ciências
básicas
abdominal e verticalidade, e os outros cinco científicos testando sua aplicabilidade na popu-
avaliam a percepção de verticalidade do tronco, lação brasileira.
força de rotação dos músculos do tronco para os Para avaliação do estado neurológico, a es-
lados afetado e não-afetado e reações de endirei- cala encontrada foi a NIHSS. A Escala de AVE do
tamento em ambos os lados 40. instituto Nacional de Saúde dos EUA (NIHSS) é
Essa escala foi traduzida e adaptada por uma escala de avaliação do estado neurológico
Lima et al.23 mostrando-se válida e eficaz para de pacientes com essa doença criada por Brott
aplicadas
Ciências
quantificar o comprometimento do tronco com et al.42. Ela permite uma avaliação quantitativa
fácil aplicabilidade, e assegurando sua replicabi- dos déficits neurológicos dos portadores, sendo
lidade por diversos profissionais atuantes na rea- utilizada na valorização do seu caráter agudo,
bilitação neurológica durante a fase crônica da do- determinação do tratamento mais apropriado e
ença. No entanto, não foram encontrados demais previsão do prognóstico 42.
estudos no Brasil testando sua aplicabilidade. A NIHSS apresenta 11 itens que abordam:
A Escala de Deficiências do Tronco (EDT) nível de consciência, linguagem, fala, somatog-
de casos
Estudos
foi criada em 2004 na Bélgica por Verdeyhen et nosia, campo visual, movimentação ocular, força,
al.41 com o objetivo de examinar o comprometi- coordenação e sensibilidade. É uma escala que
mento do tronco na hemiparesia na posição sen- pode ser utilizada de forma multidisciplinar11, 42.
tada. Consiste em três subescalas: equilíbrio está- A tradução e adaptação para o português
tico, equilíbrio dinâmico e coordenação, as quais apresentou concordância similar a de sua versão
mensuram a qualidade dos movimentos de tron- em inglês, inclusive em suas debilidades, mos-
co, apropriado encurtamento ou alongamento trando-se assim, uma escala de avaliação com
de literatura
Revisões
muscular e possíveis estratégias compensatórias. evidências de confiabilidade aceitável e de boa
A EDT é composta por 17 itens, em que: (1) aplicabilidade12, 14.
a subescala equilíbrio estático possui três itens Esse instrumento foi utilizado como refe-
e investiga a habilidade do indivíduo em man- rência na validação de uma escala de avaliação
ter-se sentado sem auxílio das mãos, com os pés da qualidade de vida11 e em um estudo de com-
apoiados, e a capacidade de cruzar o membro in- paração entre escalas de avaliação do compro-
para os autores
ferior não afetado, realizado pelo terapeuta e de metimento neurológico14.
Instruções
forma ativa; (2) a subescala equilíbrio dinâmico
apresenta dez itens e avalia a flexão lateral do
tronco por meio do toque de cotovelo do lado Conclusão
plégico e não plégico e elevação da pelve em re-
lação à cama para ambos os lados; (3) a subescala Nesta revisão literária, foi encontrada uma
coordenação compreende quatro itens e aborda variedade considerável de instrumentos utiliza-
a rotação do tronco superior e inferior37, 41. dos na avaliação das sequelas em sobreviventes
ConScientiae Saúde, 2010;9(3):521-530. 527
8. Escalas de avaliação funcional aplicáveis a pacientes pós acidente vascular encefálico
3. Costa NE, Gomes L, Saldanha S. Acidente vascular
de AVE. Todos os 11 instrumentos observados cerebral em idosos no Brasil: mortalidade de 1979 a
foram originalmente criados em língua estran- 1995. J Bras Med. 2007;93 (3):28-46.
geira (inglês e uma em francês) e devidamente
4. Gomes-Neto M. Aplicação da escala de qualidade
traduzidos, adaptados e validados à população
de vida específica para AVE (EQVE-AVE) em
brasileira, e, portanto, não se encontrou nenhum hemiplégicos agudos: propriedades psicométricas e
instrumento de medida proveniente do Brasil. sua correlação com a classificação internacional de
Dos 11 instrumentos analisados, cinco funcionalidade, incapacidade e saúde. [dissertação
eram escalas genéricas, porém aplicáveis a esse de mestrado]. Belo Horizonte (MG): Universidade
distúrbio encefalovascular, e seis eram espe- Federal de Minas Gerais; 2007.
cíficas a essa doença, são elas: F-M, THMMS, 5. Carod-Artal J, Egido JA, González JL, Seijas V.
NIHSS, ER, EAPA e ECT. Ainda assim, verificou- Quality of life among stroke survivors evaluated 1
se que todas as 11 foram baseadas em escalas year after stroke: experience of a stroke unit. Stroke.
de confiabilidade consistente em seus locais de 2000;31 (12):2995-3000.
origem, e suas adaptações obtiveram resultados 6. Lima RCM. Adaptação transcultural do Stroke
semelhantes com relação às particularidades da Specific Quality of Life – SSQOL: um instrumento
população brasileira. específico para avaliar a qualidade de vida de
hemiplégicos. [dissertação de mestrado]. Belo
A escolha de determinado instrumento
Horizonte (MG): Universidade Federal de Minas
deve ser criteriosa, permitindo, assim, a avalia-
Gerais; 2006.
ção de aspectos específicos e globais do indiví-
duo. Ela deve levar em consideração alguns as- 7. Cordini KL, Oda EY, Furlanetto LM. Qualidade de
vida de pacientes com história prévia de acidente
pectos, tais como tempo de administração, custo
vascular encefálico: observação de casos. J Bras
de aplicação, treinamento dos profissionais e a
Psiquiatr. 2005;54 (4):312-7.
disponibilidade de manual de instruções.
Apesar da quantidade considerável de 8. Stokes M. Neurologia para fisioterapeutas. São
Paulo: Premier; 2000.
instrumentos encontrados, o número reduzido
de estudos sobre sua aplicabilidade sugere des- 9. Maki T, Quagliato EMAB, Cacho EWA, Paz LPS,
conhecimento por parte dos profissionais sobre Nascimento NH, Inoue MMEA, et al. Estudo de
confiabilidade da aplicação da escala de Fugl-Meyer
eles, o que pode interferir negativamente nos
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