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DIZES-ME: TU ÉS MAIS
ALGUMA COUSA
De Alberto Caeiro-Heterónimo de Fernando Pessoa
Dizes-me: tu és mais alguma cousa
Que uma pedra ou uma planta.
Dizes-me: sentes, pensas e sabes
Que pensas e sentes.
Então as pedras escrevem versos?
Então as plantas têm idéias sobre o mundo?
Sim: há diferença.
Mas não é a diferença que encontras;
Porque o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as cousas:
Só me obriga a ser consciente.
Se sou mais que uma pedra ou uma planta? Não sei.
Sou diferente. Não sei o que é mais ou menos.
Ter consciência é mais que ter cor?
Pode ser e pode não ser.
Sei que é diferente apenas.
Ninguém pode provar que é mais que só diferente.
Arati
No início vemos que o interlocutor do “eu” poético diz-lhe que é superior a
uma pedra ou planta, pois ele sente, pensa, escreve, tem ideias sobre o mundo
e tem consciência disso tudo.
O „eu“ lírico afirma que há diferença, mas não é a diferença que o
interlocutor encontra, pois o facto de ter consciência não o obriga a ter
teorias e conseguir explicações, ou seja, não significa que tenha que ter
opinião ou explicação sobre as coisas e aquilo que o rodeia: ter consciência
apenas o obriga a ser consciente vendo as coisas como elas são.
Admite que não sabe se é ou não superior a uma pedra ou planta, apenas sabe que é diferente.
Aqui o sujeito poetico questiona se possuir consciência tem uma maior importância do que ter
cor e diz que pode ter ou não. A única coisa que sabe de certo é que é diferente ter consciência
de ter cor.
Assim, ser diferente apenas permite ser diferente e não torna algo superior ou inferior.
Sei que a pedra é a real, e que a planta existe.
Sei isto porque elas existem.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram.
Sei que sou real também.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram,
Embora com menos clareza que me mostram a pedra e a planta.
Não sei mais nada.
Sim, escrevo versos, e a pedra não escreve versos.
Sim, faço idéias sobre o mundo, e a planta nenhumas.
Mas é que as pedras não são poetas, são pedras;
E as plantas são plantas só, e não pensadores.
Tanto posso dizer que sou superior a elas por isto,
Como que sou inferior.
Mas não digo isso: digo da pedra, "é uma pedra",
Digo da planta, "é uma planta",
Digo de mim, "sou eu".
E não digo mais nada. Que mais há a dizer?
“Poemas inconjuntos”
Arati
O „eu“ poético afirma que sabe que a pedra, a planta e ele próprio são
reais e existem e sabe isso porque o „viu“ através dos seus sentidos, ou seja
é devido aos seus sentidos que conhece a realidade e acredita naquilo que
os sentidos lhe mostram
(esta ideia é reforçada pelo uso da anáfora „Sei“).
No final da estrofe o sujeito diz que não sabe mais nada além disso.
Assim, vemos que o sentimento sobrepõe-se ao pensamento.
O sujeito lírico tem consciência das suas capacidades: ele consegue escrever versos e fazer
ideias sobre o mundo. Ao contrário dele, a pedra e planta não têm estes „dons“, mas afinal
a pedra é apenas uma pedra e a planta é apenas uma planta.
Assim, cada um tem a sua função e as suas capacidades, não podendo dizer com certeza
que um é superior ao outro: o „eu“ poético tanto pode dizer que
é superior à pedra e à planta pelas caracteristicas que tem (escrever versos e ter ideias
sobre o mundo), como pode dizer que é inferior pelas mesmas razões. Finalmente, em
relação à dicotomia: „é ou não é superior à pedra ou planta“, o sujeito poético afirma que
cada um é o que é com as suas próprias capacidades e não há mais nada a dizer sobre o
assunto.
Arati
Sobre o poema...
• O poema faz parte da obra de Alberto Caeiro: „Poemas inconjuntos“. Esta obra foi escrita entre 1913
e 1915 e contém 49 poemas ao todo.
• Neste poema, Alberto Caeiro afasta-se da sua espontaneidade como à da Natureza, comparando-se
a ela.
• Ao longo do poema vemos o realismo e objetivijmo do poeta: „Sei que a pedra é a real, e que a
planta existe.“ e „Mas é que as pedras não são poetas, são pedras;/ E as plantas são plantas só, e não
pensadores.“
• Outro aspeto visível é o sensacionismo do poeta: ele não pensa no Mundo e na vida: ele sente o
Mundo e a vida. Há uma substituição do pensamento pela sensação. Ex.: estrofe 5
Estrutura externa:
Arati
6 estrofes
Versos livres (métrica irregular)
Fontes:
• Manual: Sentidos 12 (página 66)
• https://gavetadenuvens.blogspot.com/2009/09/leituras.html?m=1
• https://prezi.com/mp9ll_eyatl-/sentes-pensas-e-sabes-que-pensas-e-sentes/
• http://arquivopessoa.net/textos/3358
• https://pt.slideshare.net/vestibular/poemas-completos-de-alberto-caeiro-
fernando-pessoa
Arati
Trabalho realizado por:
Arati Puoommangalathu, N°1, 12°CT
Arati

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"Dizes-me: Tu és mais alguma cousa" de Alberto Caeiro

  • 1. DIZES-ME: TU ÉS MAIS ALGUMA COUSA De Alberto Caeiro-Heterónimo de Fernando Pessoa
  • 2. Dizes-me: tu és mais alguma cousa Que uma pedra ou uma planta. Dizes-me: sentes, pensas e sabes Que pensas e sentes. Então as pedras escrevem versos? Então as plantas têm idéias sobre o mundo? Sim: há diferença. Mas não é a diferença que encontras; Porque o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as cousas: Só me obriga a ser consciente. Se sou mais que uma pedra ou uma planta? Não sei. Sou diferente. Não sei o que é mais ou menos. Ter consciência é mais que ter cor? Pode ser e pode não ser. Sei que é diferente apenas. Ninguém pode provar que é mais que só diferente. Arati No início vemos que o interlocutor do “eu” poético diz-lhe que é superior a uma pedra ou planta, pois ele sente, pensa, escreve, tem ideias sobre o mundo e tem consciência disso tudo. O „eu“ lírico afirma que há diferença, mas não é a diferença que o interlocutor encontra, pois o facto de ter consciência não o obriga a ter teorias e conseguir explicações, ou seja, não significa que tenha que ter opinião ou explicação sobre as coisas e aquilo que o rodeia: ter consciência apenas o obriga a ser consciente vendo as coisas como elas são. Admite que não sabe se é ou não superior a uma pedra ou planta, apenas sabe que é diferente. Aqui o sujeito poetico questiona se possuir consciência tem uma maior importância do que ter cor e diz que pode ter ou não. A única coisa que sabe de certo é que é diferente ter consciência de ter cor. Assim, ser diferente apenas permite ser diferente e não torna algo superior ou inferior.
  • 3. Sei que a pedra é a real, e que a planta existe. Sei isto porque elas existem. Sei isto porque os meus sentidos mo mostram. Sei que sou real também. Sei isto porque os meus sentidos mo mostram, Embora com menos clareza que me mostram a pedra e a planta. Não sei mais nada. Sim, escrevo versos, e a pedra não escreve versos. Sim, faço idéias sobre o mundo, e a planta nenhumas. Mas é que as pedras não são poetas, são pedras; E as plantas são plantas só, e não pensadores. Tanto posso dizer que sou superior a elas por isto, Como que sou inferior. Mas não digo isso: digo da pedra, "é uma pedra", Digo da planta, "é uma planta", Digo de mim, "sou eu". E não digo mais nada. Que mais há a dizer? “Poemas inconjuntos” Arati O „eu“ poético afirma que sabe que a pedra, a planta e ele próprio são reais e existem e sabe isso porque o „viu“ através dos seus sentidos, ou seja é devido aos seus sentidos que conhece a realidade e acredita naquilo que os sentidos lhe mostram (esta ideia é reforçada pelo uso da anáfora „Sei“). No final da estrofe o sujeito diz que não sabe mais nada além disso. Assim, vemos que o sentimento sobrepõe-se ao pensamento. O sujeito lírico tem consciência das suas capacidades: ele consegue escrever versos e fazer ideias sobre o mundo. Ao contrário dele, a pedra e planta não têm estes „dons“, mas afinal a pedra é apenas uma pedra e a planta é apenas uma planta. Assim, cada um tem a sua função e as suas capacidades, não podendo dizer com certeza que um é superior ao outro: o „eu“ poético tanto pode dizer que é superior à pedra e à planta pelas caracteristicas que tem (escrever versos e ter ideias sobre o mundo), como pode dizer que é inferior pelas mesmas razões. Finalmente, em relação à dicotomia: „é ou não é superior à pedra ou planta“, o sujeito poético afirma que cada um é o que é com as suas próprias capacidades e não há mais nada a dizer sobre o assunto.
  • 4. Arati Sobre o poema... • O poema faz parte da obra de Alberto Caeiro: „Poemas inconjuntos“. Esta obra foi escrita entre 1913 e 1915 e contém 49 poemas ao todo. • Neste poema, Alberto Caeiro afasta-se da sua espontaneidade como à da Natureza, comparando-se a ela. • Ao longo do poema vemos o realismo e objetivijmo do poeta: „Sei que a pedra é a real, e que a planta existe.“ e „Mas é que as pedras não são poetas, são pedras;/ E as plantas são plantas só, e não pensadores.“ • Outro aspeto visível é o sensacionismo do poeta: ele não pensa no Mundo e na vida: ele sente o Mundo e a vida. Há uma substituição do pensamento pela sensação. Ex.: estrofe 5
  • 5. Estrutura externa: Arati 6 estrofes Versos livres (métrica irregular)
  • 6. Fontes: • Manual: Sentidos 12 (página 66) • https://gavetadenuvens.blogspot.com/2009/09/leituras.html?m=1 • https://prezi.com/mp9ll_eyatl-/sentes-pensas-e-sabes-que-pensas-e-sentes/ • http://arquivopessoa.net/textos/3358 • https://pt.slideshare.net/vestibular/poemas-completos-de-alberto-caeiro- fernando-pessoa Arati
  • 7. Trabalho realizado por: Arati Puoommangalathu, N°1, 12°CT Arati