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DIARIOde P E R N A M B U C O - Recife, segunda-feira, 18 de novembro de 2013

entrevistaespecial >>

Edição: Paula Losada
FOTOS: BLENDA SOUTO MAIOR/ESP. DP/D.A PRESS

A3

BLENDA SOUTO MAIOR/DP/D.A PRESS

///////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////

Miguel Corominas Ayala

Os exemplos
de Barcelona

+ saibamais
A exposição Cerdà e a
Barcelona do futuro –
realidade versus projeto está
em cartaz até janeiro no
Museu da Cidade do Recife
A mostra reúne uma das
mais ricas contribuições para
o urbanismo mundial fruto da
obra de Ildefons Cerdà. O
engenheiro, urbanista e
político catalão foi o criador
do Plano de Extensão e
Reforma da Cidade de
Barcelona (Espanha), em
1859.

TÂNIA PASSOS
taniapassos.pe@dabr.com.br.br

O arquiteto e urbanista Miguel Corominas Ayala é
professor da Escola Técnica Superior de Barcelona,
na Universidade da Catalunha. Ele esteve no Recife
para participar, no último dia 5, da abertura da
exposição Cerdà e a Barcelona do futuro realidade versus projeto. Um dos nomes mais
respeitados na área de urbanismo, o arquiteto
defende um melhor uso dos espaços públicos e chama
atenção sobre a responsabilidade dos gestores e
proprietários dos imóveis na urbanização dos
espaços de convivência, a exemplo das calçadas e
praças. Em entrevista ao Diario, ele também fala
sobre a necessidade de apostar no transporte público
para que o carro só responda por, no máximo, 15%
dos deslocamentos. Na Região Metropolitana do
Recife, os veículos já respondem por mais de 40% das
viagens diárias. O urbanista elogiou a iniciativa da
implantação do BRT (Bus Rapid Transit), no Recife,
fazendo referência ao que foi o Transmilênio de
Bogotá, mas lembra que é preciso pensar no metrô
como alternativa a longo prazo.

A exposição ocupa uma área
de 300 metros quadrados
com 80 painéis, vídeos, livros,
peças e fotos alusivas ao
Plano de Cerdà, além de
oferecer ao visitante uma
intensa agenda de eventos
acadêmicos paralelos. Ela
contempla sete temas que
ajudam a aprofundar o
conhecimento do projeto, que
permitem evidenciar novos
elementos significativos e
vigentes com vista a construir
a Barcelona metropolitana. Os
temas definidos são: a teoria,
o mosaico, o traçado, a casa,
novos ensanches, Barcelona,
o futuro.
A exposição é patrocinada
pela Prefeitura do Recife e
pelo Conselho de Arquitetura
e Urbanismo do Brasil, com
realização do Centro Josué de
Castro.A curadoria é da
arquiteta Amélia Reynaldo,
conselheira do CAU/PE,
pesquisadora do Centro Josué
de Castro e professora da
ap
Unicap

“O Recife precisa apostar no metrô”

Qual a concepção urbanística das vias em Barcelona?
Nós temos em Barcelona três modelos de vias. Há algumas muitas
antigas, que são históricas e que
têm em média de seis a oito metros de largura. Mas, após os planos urbanísticos, temos vias com
20 e 50 metros de largura. A divisão do espaço para os carros e
pedestres é equivalente. Se a via
tiver 10 metros para os carros,
terá também 10 metros para calçadas, sendo cinco metros por
sentido. Outra preocupação é
manter as vias arborizadas.
Essa divisão espacial da rua
é uma forma de dar prioridade ao transporte não motorizado?

Sim. O ideal é que no máximo
15% dos deslocamentos de uma
cidade sejam feitos pelo carro. É
importante ter um transporte
público de qualidade e apostar
também em espaços de caminhada para o pedestre. No caso
do Recife, que já é uma cidade
de grande porte, acredito que o
metrô precisa ser visto como
meio de transporte para atender as áreas mais adensadas.
Apenas o ônibus não é suficiente. Tem que ser um transporte rápido e de grande capacidade como o metrô e com uma convergência central.
Aqui no Recife e Região Metropolitana está havendo
uma aposta no BRT (Bus Rapid Transit), mesmo modelo que é adotado em Bogotá, onde há o Transmilênio.
Essa proposta de apostar no
ônibus não é a ideal?
Penso que até que o metrô seja
ampliado, uma vez que o custo e
o tempo de implantação são
maiores, o modelo do Transmilênio já é um avanço. Mas no máximo pelos próximos 10 ou 15
anos. Por isso, o planejamento
da expansão do metrô precisa começar a ser feito o quanto antes.
Não se pode esperar que o modelo do Transmilênio se esgote. Na
verdade, acredito que o ônibus,
nesse caso, terá mesmo que permanecer integrado ao metrô como linhas alimentadoras.
Entre os obstáculos para migrar do carro para o transporte público, além da ques-

DIALOGO COMUNICACAO/DIVULGACAO

Que experiência Barcelona
pode trazer para o Recife?
No que se refere à ocupação dos
espaços públicos, Barcelona teve
três grandes momentos na legislação de planos urbanísticos. O
primeiro deles, que até hoje é
referência, é o de Ildefons Cerdà,
que trouxe em 1859, uma proposta revolucionária na forma
de ocupação dos espaços públicos incentivando a interação das
pessoas em espaços largos e abertos. Depois, tivemos mais dois
planos com um conceito mais
moderno, mas que também respeitam os espaços de convivência elaborados em 1953 e 1976.
O plano de Cerdà foi desenhado
para cinco municípios e estes
dois últimos para 27 municípios
metropolitanos que seguem o
mesmo padrão de ocupação.

Obra de Ildefons Cerdà é uma das maiores contribuições ao urbanismo mundial
tão da regularidade, estão
as distâncias. O usuário,
muitas vezes, precisa percorrer longos trechos a pé,
para conseguir chegar aos
corredores principais. O que
pode ser feito para melhorar essa integração?
Os bairros precisam ser alimentados com linhas que possam fazer esse percurso e, dependendo da demanda, podem ser usados micro-ônibus, ônibus ou o
VLT (Veículo Leve sobre Trilho).
Também é importante que as
condições das calçadas estejam
acessíveis e seguras para o pe-

destre caminhar com conforto.
Por falar em calçada. Como
é que essa questão é tratada
em Barcelona. Quem se responsabiliza pela área do passeio?
Há alguns aspectos a considerar. Caso seja uma rua de terra,
que não tenha pavimento nem
calçada, o proprietário do imóvel, ao aprovar a construção de
sua casa ou edifício, se responsabiliza pela calçada, que é construída dentro de um padrão definido na legislação, e também
por pagar uma parte do pavi-

mento que a rua terá. Depois
disso, a manutenção passa a ser
pública. No caso de você comprar um imóvel em uma rua
que já está pavimentada e tem
calçada, a manutenção continua a ser do poder público. O
dono do imóvel só paga na primeira vez. Na verdade, nós temos hoje dois problemas em relação à urbanização. O primeiro é conseguir o solo. O segundo é conseguir o dinheiro para
urbanizar. Não se pode apenas
comprar um terreno e construir
isoladamente sem uma conjuntura urbana.

Aqui no Recife nós temos situação de imóveis que invadem parte da rua, mas como não havia urbanização
essa percepção muitas vezes é tardia e se torna um
problema. Como essa questão é tratada em Barcelona?
De forma alguma um imóvel ocupa um espaço público. Mais uma
vez, depende de quem parte para urbanizar primeiro. Se o dono
do imóvel quiser construir e o
terreno dele estiver no meio de
uma futura via, ele só poderá
construir nos espaços que sobrarem após a rua ser delimitada.
Mas, se o poder público chegar
primeiro, o terreno dele é indenizado.
Em relação à altura dos imóveis, existe algum limite de
gabarito?
Nós não somos tão verticalizados quanto o Recife. A relação
da altura está diretamente ligada à largura da rua. O tamanho
da largura da rua será o da altura máxima do imóvel.
Aqui essa relação está associada ao tamanho do terreno e ainda há uma possibilidade de se pagar uma outorga onerosa para extrapolar
esse limite. Como o senhor
vê isso?
Mesmo que o terreno seja grande, se a rua for estreita perde-se
em harmonia. E também com
prédios muito altos, a demanda
de veículos da via é maior, então o risco de um impacto é ainda maior.

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TÂNIA PASSOS taniapassos.pe@dabr.com.br.br O arquiteto e urbanista Miguel Corominas Ayala é professor da Escola Técnica Superior de Barcelona, na Universidade da Catalunha. Ele esteve no Recife para participar, no último dia 5, da abertura da exposição Cerdà e a Barcelona do futuro realidade versus projeto. Um dos nomes mais respeitados na área de urbanismo, o arquiteto defende um melhor uso dos espaços públicos e chama atenção sobre a responsabilidade dos gestores e proprietários dos imóveis na urbanização dos espaços de convivência, a exemplo das calçadas e praças. Em entrevista ao Diario, ele também fala sobre a necessidade de apostar no transporte público para que o carro só responda por, no máximo, 15% dos deslocamentos. Na Região Metropolitana do Recife, os veículos já respondem por mais de 40% das viagens diárias. 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É importante ter um transporte público de qualidade e apostar também em espaços de caminhada para o pedestre. No caso do Recife, que já é uma cidade de grande porte, acredito que o metrô precisa ser visto como meio de transporte para atender as áreas mais adensadas. Apenas o ônibus não é suficiente. Tem que ser um transporte rápido e de grande capacidade como o metrô e com uma convergência central. Aqui no Recife e Região Metropolitana está havendo uma aposta no BRT (Bus Rapid Transit), mesmo modelo que é adotado em Bogotá, onde há o Transmilênio. Essa proposta de apostar no ônibus não é a ideal? Penso que até que o metrô seja ampliado, uma vez que o custo e o tempo de implantação são maiores, o modelo do Transmilênio já é um avanço. Mas no máximo pelos próximos 10 ou 15 anos. Por isso, o planejamento da expansão do metrô precisa começar a ser feito o quanto antes. Não se pode esperar que o modelo do Transmilênio se esgote. 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