1. EDUCAÇÀO DO CAMPO: do discursoEDUCAÇÀO DO CAMPO: do discurso
à práticaà prática
Inicio minha fala dizendo que é importante reconhecerInicio minha fala dizendo que é importante reconhecer
que a Educação do Campo tem suas origens fora dasque a Educação do Campo tem suas origens fora das
instituições tradicionais de educação, portanto veminstituições tradicionais de educação, portanto vem
sendo construída, no Brasil, desde o seu início, pelossendo construída, no Brasil, desde o seu início, pelos
Movimentos Sociais ligados à terra. Aos poucos, asMovimentos Sociais ligados à terra. Aos poucos, as
instituições de ensino tradicionais vêm dandoinstituições de ensino tradicionais vêm dando
respostas pontuais à educação do campo e seusrespostas pontuais à educação do campo e seus
problemas. Nesse sentido, a nossa fala é de quemproblemas. Nesse sentido, a nossa fala é de quem
vem aprendendo com os movimentos sociais e, navem aprendendo com os movimentos sociais e, na
medida das condições oferecidas pelas instituiçõesmedida das condições oferecidas pelas instituições
onde atuamos, vamos dando respostas àsonde atuamos, vamos dando respostas às
reivindicações feitas pelos próprios movimentos.reivindicações feitas pelos próprios movimentos.
2. O que pretendemos enquanto prática da educação do campoO que pretendemos enquanto prática da educação do campo
possivelmente se encontra nesta síntese:possivelmente se encontra nesta síntese:
As escolas do campo constituir-se-ão em espaços públicos deAs escolas do campo constituir-se-ão em espaços públicos de
articulação de estudos e aprendizagens das experiênciasarticulação de estudos e aprendizagens das experiências
curriculares e dos saberes comunitários, integradas nocurriculares e dos saberes comunitários, integradas no
processo de construção da omnilateralidade, social, cultural,processo de construção da omnilateralidade, social, cultural,
ambiental e economicamente dignificante.ambiental e economicamente dignificante.
A escola do campo, neste sentido pautar-se-á numA escola do campo, neste sentido pautar-se-á num
processo educacional que construa pessoas não somenteprocesso educacional que construa pessoas não somente
críticas, mas também orgânicas, autônomas-integradas nacríticas, mas também orgânicas, autônomas-integradas na
relação e interação com os outros (as) e com o mundo. Que arelação e interação com os outros (as) e com o mundo. Que a
escola desenvolva numa perspectiva de aprender a aprender,escola desenvolva numa perspectiva de aprender a aprender,
a ser, a conhecer, a fazer e aprender conviver.a ser, a conhecer, a fazer e aprender conviver.
A construção da escola do campo com esta perspectiva,A construção da escola do campo com esta perspectiva,
depende do empenho e do trabalho de todos nós.depende do empenho e do trabalho de todos nós.
3. Em segundo lugar, não partimos de uma visãoEm segundo lugar, não partimos de uma visão
puramente negativa do discurso (teorização),puramente negativa do discurso (teorização),
tampouco entendemos a prática (fazeção) em sitampouco entendemos a prática (fazeção) em si
mesma aprioristicamente positiva. O entendimento demesma aprioristicamente positiva. O entendimento de
que as idéias movem o mundo advém da visãoque as idéias movem o mundo advém da visão
dialética idealista do filósofo alemão do séc. XVIIIdialética idealista do filósofo alemão do séc. XVIII
Wilhelm Friedrich Hegel, que sofreu consistentesWilhelm Friedrich Hegel, que sofreu consistentes
críticas do filósofo também alemão, do séc. XIX, Karlcríticas do filósofo também alemão, do séc. XIX, Karl
Marx, ao propor o Materialismo Histórico e oMarx, ao propor o Materialismo Histórico e o
Materialismo Dialético. Nesse sentido, temos oMaterialismo Dialético. Nesse sentido, temos o
entendimento de que o discurso e a prática devementendimento de que o discurso e a prática devem
mobilizar-se numa perspectiva dialética materialista,mobilizar-se numa perspectiva dialética materialista,
de modo que as idéias dos discursos encontram suasde modo que as idéias dos discursos encontram suas
formas numa realidade concreta materializando-se.formas numa realidade concreta materializando-se.
4. Daí que o discurso realmente se torna negativo, emDaí que o discurso realmente se torna negativo, em
nossa concepção, quando é tomado como forçanossa concepção, quando é tomado como força
mobilizadora e transformadora a partir do discursomobilizadora e transformadora a partir do discurso
mesmo. Isso vale dizer que o discurso só pode tornar-mesmo. Isso vale dizer que o discurso só pode tornar-
se produtivo quando mobiliza e se materializa emse produtivo quando mobiliza e se materializa em
ações que permite tanto realizar concretamente oações que permite tanto realizar concretamente o
conteúdo do discurso na perspectiva que foiconteúdo do discurso na perspectiva que foi
elaborado e pronunciado, quanto modificar oelaborado e pronunciado, quanto modificar o
conteúdo desse discurso na medida em que vai seconteúdo desse discurso na medida em que vai se
percebendo incoerências e contradições no contextopercebendo incoerências e contradições no contexto
de sua realização prática. Por isso, o avanço dede sua realização prática. Por isso, o avanço de
superação da dicotomia discurso teórico e prática,superação da dicotomia discurso teórico e prática,
encontra-se na práxis. O exercício da práxis constitui-encontra-se na práxis. O exercício da práxis constitui-
se em ganho fantástico para a educaçào.se em ganho fantástico para a educaçào.
5. A Educação do Campo já tem forte sinais de avançosA Educação do Campo já tem forte sinais de avanços
práxicos, materializados nas Diretrizes Nacionais dapráxicos, materializados nas Diretrizes Nacionais da
Educação do Campo, nas diversas formas de ofertaEducação do Campo, nas diversas formas de oferta
da educação do campo materializadas pelas escolasda educação do campo materializadas pelas escolas
família agrícolas disseminadas em diversas regiõesfamília agrícolas disseminadas em diversas regiões
do Brasil, pelas escolas pantaneiras no Mato Grossodo Brasil, pelas escolas pantaneiras no Mato Grosso
do Sul, pelas escolas do campo orientadas pelado Sul, pelas escolas do campo orientadas pela
metodologia da alternância, como a Escola Municipalmetodologia da alternância, como a Escola Municipal
da Comunidade São Pedro, aqui de Terra Nova, pelosda Comunidade São Pedro, aqui de Terra Nova, pelos
projetos de cursos de nível técnico e superior voltadosprojetos de cursos de nível técnico e superior voltados
especificamente para a realidade do campo, entreespecificamente para a realidade do campo, entre
outros.outros.
6. A Constituição Federal de 1988, a LDB de 1996, e as DiretrizesA Constituição Federal de 1988, a LDB de 1996, e as Diretrizes
Nacionais da Educação do Campo têm como pontos principais:Nacionais da Educação do Campo têm como pontos principais:
A Educação do Campo entendida no contexto doA Educação do Campo entendida no contexto do
Direito de todos à educação e dever do Estado (CF,Direito de todos à educação e dever do Estado (CF,
1988, Art....), e também como um dos Direitos1988, Art....), e também como um dos Direitos
Humanos fundamentais. O campo entendido comoHumanos fundamentais. O campo entendido como
um lugar e espaço socialmente e politicamenteum lugar e espaço socialmente e politicamente
construído, como produção de riquezas econômicas econstruído, como produção de riquezas econômicas e
principalmente como sendo um lugar importante deprincipalmente como sendo um lugar importante de
produção da vida humana e de tantas outras formasprodução da vida humana e de tantas outras formas
de vida, de manifestações de diversidades étnicas,de vida, de manifestações de diversidades étnicas,
culturais e ambientais que expressam limites eculturais e ambientais que expressam limites e
potenciais na perspectiva de desenvolvimentopotenciais na perspectiva de desenvolvimento
humano, ambiental, social, econômico e culturalhumano, ambiental, social, econômico e cultural
sustentáveis.sustentáveis.
7. A LDB, em seu artigo 28, reconhece especificidadesA LDB, em seu artigo 28, reconhece especificidades
na realidade do campo, que devem ser observadasna realidade do campo, que devem ser observadas
no seguinte:no seguinte:
Art. 28. Na oferta da educação básica para aArt. 28. Na oferta da educação básica para a
população rural, os sistemas de ensino promoverãopopulação rural, os sistemas de ensino promoverão
as adaptações necessárias à sua adequação àsas adaptações necessárias à sua adequação às
peculiaridades da vida rural e de cada região,peculiaridades da vida rural e de cada região,
especialmente: I- conteúdos curriculares eespecialmente: I- conteúdos curriculares e
metodologias apropriadas às reais necessidades emetodologias apropriadas às reais necessidades e
interesses dos alunos na zona rural; II- organizaçãointeresses dos alunos na zona rural; II- organização
escolar própria, incluindo adequação do calendárioescolar própria, incluindo adequação do calendário
escolar às fases do ciclo agrícola e às condiçõesescolar às fases do ciclo agrícola e às condições
climáticas; III- adequação à natureza do trabalho naclimáticas; III- adequação à natureza do trabalho na
zona rural.zona rural.
8. Campo, e a Resolução nº 126/03-CEE/MT, estabelecem umCampo, e a Resolução nº 126/03-CEE/MT, estabelecem um
conjunto de princípios e procedimentos aos quais as escolas doconjunto de princípios e procedimentos aos quais as escolas do
campo deverão adequar-se:campo deverão adequar-se:
- atendimento da educação escolar do campo em todos os níveis- atendimento da educação escolar do campo em todos os níveis
de ensino e modalidades da Educação Básica, inclusivede ensino e modalidades da Educação Básica, inclusive
educação profissional; - vinculação da escola às questõeseducação profissional; - vinculação da escola às questões
inerentes às realidades do campo; - respeito à organizaçãoinerentes às realidades do campo; - respeito à organização
temporal da vida do campo; - vínculo e respeito aos saberestemporal da vida do campo; - vínculo e respeito aos saberes
próprios dos estudantes do campo; - inclusão e respeito àpróprios dos estudantes do campo; - inclusão e respeito à
memória coletiva, aos saberes e tecnologias, das comunidadesmemória coletiva, aos saberes e tecnologias, das comunidades
do campo; - formulação de políticas públicas de Estado quedo campo; - formulação de políticas públicas de Estado que
respeitem as especificidades e identidades do campo,respeitem as especificidades e identidades do campo,
contemplando aspectos relativos ao currículo escolar,contemplando aspectos relativos ao currículo escolar,
financiamento público específico, formação de professores comfinanciamento público específico, formação de professores com
especificidade na educação do campo; - articulação de umaespecificidade na educação do campo; - articulação de uma
proposta educacional do campo como estratégia deproposta educacional do campo como estratégia de
desenvolvimento territorial, econômica, social, cultural edesenvolvimento territorial, econômica, social, cultural e
ambiental, pautada no respeito pelas diversidades, pela ecologia,ambiental, pautada no respeito pelas diversidades, pela ecologia,
9. A educação do campo entendida como umaA educação do campo entendida como uma
educação própria, como direito subjetivo de suaeducação própria, como direito subjetivo de sua
população e ao mesmo tempo um direito social,população e ao mesmo tempo um direito social,
requer uma reflexão no sentido de olharmos erequer uma reflexão no sentido de olharmos e
concebermos o campo como sendo um espaço rico,concebermos o campo como sendo um espaço rico,
diverso, onde a práxis da vida, a organização social ediverso, onde a práxis da vida, a organização social e
produtiva tem seus próprios meandros. O campoprodutiva tem seus próprios meandros. O campo
entendido como um lugar de vivências e convivênciasentendido como um lugar de vivências e convivências
produz e é produzido por culturas que são próprias.produz e é produzido por culturas que são próprias.
Sendo assim, a construção de uma proposta deSendo assim, a construção de uma proposta de
política pública de Educação do Campo e de projetospolítica pública de Educação do Campo e de projetos
políticos pedagógicos das Escolas do Campopolíticos pedagógicos das Escolas do Campo
remetem a um compromisso e esforço individual eremetem a um compromisso e esforço individual e
coletivos dos sujeitos que vivem no e do campo.coletivos dos sujeitos que vivem no e do campo.
10. Entendemos que o avançar do discurso simplesmente puroEntendemos que o avançar do discurso simplesmente puro
para uma inserção prática, e que envolva o exercício da práxis,para uma inserção prática, e que envolva o exercício da práxis,
desenvolve-se desde a formulação da legislação, dadesenvolve-se desde a formulação da legislação, da
formulação de uma política pública, à formulação do projetoformulação de uma política pública, à formulação do projeto
político pedagógico da escola, próprio para a realidade dopolítico pedagógico da escola, próprio para a realidade do
campo. Contudo, sua materialização mesma só ocorrerá se oscampo. Contudo, sua materialização mesma só ocorrerá se os
sujeitos concretos do campo, que são os destinatários de tudosujeitos concretos do campo, que são os destinatários de tudo
isso, se envolverem na sua construção. Daí a importância dosisso, se envolverem na sua construção. Daí a importância dos
movimentos sociais ligados ao campo, das organizaçõesmovimentos sociais ligados ao campo, das organizações
comunitárias do campo, e principalmente o engajamento doscomunitárias do campo, e principalmente o engajamento dos
professores ligados às escolas do campo, que devemprofessores ligados às escolas do campo, que devem
coordenar o processo de construção dessa escola do campo,coordenar o processo de construção dessa escola do campo,
tendo como suporte de sua formulação, a construção de seutendo como suporte de sua formulação, a construção de seu
projeto político pedagógico, com a identidade do campo.projeto político pedagógico, com a identidade do campo.