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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
COMISSÃO PASTORAL DA TERRA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇAO EM EDUCAÇÃO
ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE CAMPONESA
PRÁTICAS EDUCATIVAS EM ALTERNÂNCIA:
Valorização ou não do modo de vida camponês
(TCC)
Denize Monteiro De Lima
Goiânia, 2010
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
COMISSÃO PASTORAL DA TERRA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇAO EM EDUCAÇÃO
ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE CAMPONESA
PRÁTICAS EDUCATIVAS EM ALTERNÂNCIA:
Valorização ou não do modo de vida camponês
(TCC)
Trabalho apresentado à CPT e FE/UFG como
parte dos requisitos para a conclusão do curso
Educação e Diversidade Camponesa.
Orientador: Prof. Dr. Jadir de Morais Pessoa
Denize Monteiro De Lima
Goiânia, 2010
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
COMISSÃO PASTORAL DA TERRA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇAO EM EDUCAÇÃO
ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE CAMPONESA
Monografia apresentada e avaliada pela banca examinadora em _____ / _____ / _____, como
o requisito para obtenção do título de Extensão em Educação e Diversidade Camponesa pela
Faculdade de Educação– UFG.
____________________________________
Orientador: Prof. Dr. Jadir de Morais Pessoa
____________________________________
Debatedor:
Denize Monteiro De Lima
Goiânia, 2010
Dedico este trabalho ao meu esposo Aparecido, pelo
amor, respeito e compreensão nesta caminhada.
Dedico também aos camponeses que acreditam e
lutam pela valorização do seu modo de vida.
AGRADECIMENTOS
A Deus pelo dom da vida.
À minha família sempre tão amorosa e por sua compreensão no decorrer desta
trajetória.
À Comissão Pastoral da Terra pela oportunidade que me concedeu de realizar este
curso.
A João Damásio e demais amigos/as que, nesta caminhada, ouviram com paciência
meus desabafos e com carinho me animaram.
A meu orientador Professor Jadir Pessoa pelo carinho, dedicação, compreensão que,
de forma imensurável, conduziu este trabalho que tanto ajudou para o meu crescimento,
compreensão e valorização da minha própria identidade.
Sumário
Introdução 7
1. Modos de vida camponesa 10
1.1 A vida social camponesa 11
1.2 Mundo econômico camponês 13
1.3 O camponês e a política 16
1.4 Religiosidade camponesa 18
2. Pedagogia da Alternância 23
2.1 Conceituação da EFA 25
2.2 Pedagogia da Alternância: uma proposta inovadora 28
2.3 Instrumentos Pedagógicos 32
3. Contribuição da Pedagogia da Alternância no modo de vida camponês 40
3.1 Um olhar de fora para dentro do ensino aprendizagem da EFA 41
3.2 Teoria e prática: aprendendo e ensinando 43
3.3 Desafios da alternância na formação para o meio 46
Considerações Finais 50
Referências 53
INTRODUÇÃO
O presente trabalho aborda o modo de vida camponês, a Escola Família Agrícola
(EFA), com sua prática pedagógica denominada Pedagogia da Alternância e seus
instrumentos metodológicos, analisando sua contribuição na vida dos trabalhadores rurais.
A partir do meu trabalho voluntário na Comissão Pastoral da Terra (CPT), em uma
conversa com um pai de aluno da EFA tive conhecimento de sua existência e me interessei
pelo trabalho realizado na escola, especialmente por sua metodologia. Vendo e vivendo a
realidade dos camponeses busquei conhecer esta prática educativa desenvolvida pela EFA,
com o objetivo de verificar se de fato esta metodologia de educação escolar de populações
rurais contribui para a preservação do modo de vida camponês.
O modo de produção capitalista, como espero poder explicitar, dificulta a
reprodução camponesa. Apesar disso, dentro do seu espaço, trabalhadores e trabalhadoras
rurais tentam manter suas tradições, através da produção, das festas, do jeito simples e
humilde de cultivar o seu modo de vida e de trabalho, valorizando a vida no campo com
qualidades e potencialidades; fortalecendo sua identidade para que não percam suas raízes.
Oliveira (2001), falando do profundo respeito que se deve ter para com a força da tradição nos
estudos camponeses, diz que “[...] quando o mundo camponês é ameaçado pela sociedade
mais ampla, o que está realmente em jogo é a sua própria existência”, existência esta sempre
dificultada pelo êxodo rural, pela falta de assistência – médico-hospitalar, produtiva,
habitacional etc. –, pela falta de políticas públicas que deem condição para que o camponês
possa permanecer na terra. Em meio à luta pela manutenção de suas condições de existência,
os camponeses buscam também uma educação diferenciada, que possa contribuir na sua
reprodução, garantindo uma vida digna e que os jovens não se deixem pressionar pelas
atrações da cidade. É que hoje muitos deles até têm vergonha de ser camponeses.
Essa educação diferenciada é o que a EFA pretende desenvolver, ou seja, pretende
ter um papel fundamental no contexto social onde estão implantadas suas atividades, sempre
7
voltadas para a valorização do campo, respeitando o conhecimento existente no meio e
formando jovens verdadeiramente atores no processo de desenvolvimento do meio local, mas
também global.
A Pedagogia da Alternância é para que o jovem tenha a possibilidade de vivenciar,
num processo alternado, a vida familiar e escolar, e é neste processo alternado que ocorre toda
a realização educativa, pois “A própria vida do campo é um processo de educação. Toda a
realidade se apresentava como processo educativo. Tudo se aprende e tudo se ensina”
(NASCIMENTO, 2007, p. 183). Não é um saber livresco, com lousa, giz, professor/a ou
estrutura em prédio, é um saber cotidiano situado e relacional. “Tudo o que é importante para
a comunidade, e existe como algum tipo de saber, existe também como algum modo de
ensinar” (Brandão, Apud PESSOA, 2007, p. 33).
A Pedagogia da Alternância é uma proposta educacional que respeita, valoriza a
pessoa e o meio onde se vive, com seus costumes, tradições, e esta proposta educativa procura
relacionar o processo de formação escolar com as atividades na propriedade rural, ou seja,
construir o conhecimento do jovem, interagindo escola-familia-comunidade. E é justamente
isso que buscam os trabalhadores rurais que procuram uma EFA, pois querem uma formação
que reforça o modo de vida camponesa, na permanência dos filhos no campo dando
continuidade à sua reprodução.
A EFA escolhida para este estudo é a EFA Pe. Ezequiel Ramin, localizada na linha
10, km 04, no município de Cacoal no estado de Rondônia. Ela foi fundada em 1989 por
Movimentos Sociais, CPT, CEBs, Paróquia de Cacoal, Associações e por pais agricultores
que queriam que os filhos pudessem prosseguir os estudos, já que não tinham condição de
mantê-los numa escola convencional, e queriam um estudo voltado para a realidade do campo
para continuarem com o vinculo com a terra. A Escola desenvolve o Ensino Fundamental e
Ensino Médio. No procedimento do trabalho de pesquisa, em visita à escola, conversei com
alternantes, pais, diretores, monitores, acompanhando as atividades desenvolvidas na Escola,
observando a metodologia por ela adotada.
No referencial teórico ressalto principalmente Pessoa (2005; 2007) e Gimonet
(2007), para a análise dos materiais e dos instrumentos pedagógicos de alunos, disponíveis na
EFA pesquisada.
8
Vale explicar também que quando me refiro a camponês, camponeses,
trabalhadores rurais e filhos de camponeses estou tratando de uma categoria social que
comporta homens e mulheres e não apenas de um sujeito social do sexo masculino. Assinalar,
a cada vez que esses termos aparecem, os gêneros masculino e feminino, como impõe o
modismo atual, não apenas faria o texto perder essa força política – uma categoria social
buscando se reproduzir e preservar seu modo de vida – como tornaria também o texto muito
engessado. Preferi não fazer isso.
O capítulo primeiro aborda os modos de vida camponesa dentro do contexto
social, político, econômico e religioso. Diante das mudanças, com o avanço da tecnologia, o
campo passa por umas transformações, porém, o camponês tenta, em meio a essas
modificações, preservar o seu modo de vida e de trabalho, ao viver a sociabilidade em meio à
sua comunidade, na sua forma de produção diversificada, na sua maneira de festejar,
cultivando suas tradições e também incorporando novas formas de festividade urbano/rural,
na sua vida política, buscando alternativas de melhoras que deem condições para a
permanência na terra.
O segundo capítulo apresenta uma EFA que surgiu para atender às necessidades do
meio rural, com sua metodologia voltada para a realidade local. A pedagogia por ela
empregada, denominada Pedagogia Alternância busca conciliar estudo-trabalho,
possibilitando que o aluno aprenda novas técnicas que possam ser úteis para atividade e os
instrumentos pedagógicos adotados pela escola no processo de formação.
O terceiro capítulo apresenta a pesquisa de campo realizada na EFA Pe. Ezequiel
Ramin e a análise da contribuição da Pedagogia da Alternância nos modo de vida camponês.
Todo processo de formação nos faz pensar, questionar, rever as próprias idéias.
Este trabalho veio reforçar minha própria identidade, fazendo compreender melhor e valorizar
minha vida de camponesa, minhas tradições, meus costumes e modo de falar. A EFA, a cada
dia luta pela formação integral – família/comunidade – do alternante, para o crescimento do
conhecimento do seu meio, contribuindo na dimensão política, social, econômica e cultural da
vida camponesa.
9
Capítulo I
Modo de vida camponês
Desde a época da colonização do Brasil pelos Portugueses em 1500, a forma como
se deu a distribuição da terra foi a mais equivocada possível, gerando assim o Grande
Latifúndio sem limites, que vigora até os dias de hoje. As Capitanias Hereditárias, entregues
aos primeiros colonizadores portugueses, geraram o que chamamos de acúmulo
desnecessário, concentração. Essa idéia de quanto mais, melhor, ganhou força e persiste até os
dias atuais. Só assim entendemos o porquê de não termos tido ainda uma reforma agrária
descente. Em seu lugar, destruição das comunidades locais, trabalho escravo forçado e o pior,
o extermínio das tribos indígenas existentes, quando estas não atendiam o chamado dos
“seus” patrões. É por isso que os filhos dos camponeses vivem lutando por um pedaço de
terra para tirarem dela o seu sustento. Não estamos falando do sistema de produção da época,
o das Sesmarias, de acordo com o qual, parte da produção ia para o colonizador, o que não é
nada diferente nos dias atuais.
Falar de questão agrária significa falar dos conflitos relativos à propriedade da terra,
mas também, de todo um conjunto de problemas que envolvem tanto a dinâmica da
produção agropecuária quanto os movimentos de resistência, concebidos como
inerentes às relações capitalistas de produção (PESSOA, 2007, p. 17).
E, desde os anos 1940, a questão agrária continua não sendo levada a sério pelo
Estado brasileiro. Os camponeses buscam na reforma agrária a posse e o direito de plantar e
colher, no intuito de se ter uma vida abundante, garantindo assim sua base alimentar (arroz,
feijão, milho, abóbora, porco, galinha), seus costumes (jeito simples de ser) e suas tradições
(festas juninas, de Santos Reis etc.). O Estado responde, no máximo, com arremedos de
política agrícola.
10
A luta dos camponeses tem como desejo um pedaço de terra, pois, o intuito é o de
melhorias na qualidade de vida de toda a família; o direito à posse da terra para que tenha
condições de moradia e cultivo, um modo de vida e de trabalho digno. “A moradia (casa-
domícilio-família) é a base da organização do trabalho e da produção, é através dela que se dá
o direito à terra” (OLIVEIRA, 2001), sendo que a terra de cultivo e morada visa à valorização
do trabalho e o modo de vida camponês, buscando autonomia que é uma objeção ao mercado
capitalista que quer (tem) o controle da produção camponesa.
1.1 A Vida Social Camponesa
É costume se ouvir por aí em canções, versos e até poesias, algo sobre a vida
camponesa, sobre o seu jeito simples de viver, mas só quem fizer a experiência de estar no
dia-a-dia para pode entender como se dá esta vida em seu contexto social, religioso, político e
cultural. O modo de vida camponês está no seu jeito de viver, nos hábitos alimentares, nos
inúmeros pratos típicos, troca e empréstimo de ferramenta e de sementes de produção; está no
lazer, nas brincadeiras, esportes e danças; está nas tradições das festas religiosas e populares,
festa de aniversario, na mística, tudo isso é a expressão do seu viver que manifesta no seu
cotidiano.
A comunidade camponesa é fundamental para a sociabilidade, pois é o lugar onde
que se conhece e se aprende a liberdade, responsabilidade e diálogo.
A comunidade camponesa é um elemento central no modo de vida camponês. Destruir
suas comunidades é destruí-lo por inteiro. Na comunidade há o espaço da festa, do
jogo, da religiosidade, do esporte, da organização, da solução dos conflitos, das
expressões culturais, das datas significativas, do aprendizado comum, da troca de
experiências, da expressão da diversidade, da política e da gestão do poder, da
celebração da vida (aniversários) e da convivência com a morte (ritualidade dos
funerais). Tudo adquire significado e todos têm importância na comunidade
camponesa (GÖRGEN, 2005, p. 13).
No dia-a-dia da comunidade o camponês expressa com liberdade o seu modo de
vida, seu modo de falar, seus costumes, hábitos, fortalecendo suas raízes culturais. A
11
sociabilidade camponesa acontece na família com o partilhar das alegrias e das tristezas, dos
projetos, dos sonhos a serem conquistados, e se estende na vida da comunidade por meio das
festas tradicionais, religiosas e não religiosas, nas quais se cria, além de um espaço festivo,
também um espaço de partilha da vida, praticamente em todos os aspectos, especialmente no
compadrio, pelo qual se fortalecem os vínculos do ser camponês: a festa de aniversário, a
visita informal a um vizinho para se contar causos, falar da vida do campo e até mesmo fazer
um pequeno negócio, como a compra de um porquinho, vaquinha, um balaio de milho; falar
dos acontecimentos cotidianos, dos sonhos, inseguranças e esperança no futuro e assim por
diante. E esta mesma amizade entre vizinhos e compadres é aprendida e fortalecida pela
criançada. No campo de futebol famílias de diversas comunidades se encontram, formando
quase que uma só. É evidente que tudo isso tem sofrido mudanças com a chegada das
tecnologias de comunicação, especialmente a televisão, dificultando estas práticas e
interferindo nos hábitos e costumes.
Mas nem tudo se desfez por completo. Não é mais muito freqüente nos dias de
hoje, mas ainda se fazem presentes na vida dos camponeses, os mutirões, tanto para carpir a
roça, para a plantação e colheita da lavoura, como também para a construção de uma casa, de
uma cerca, para matar um boi, porco, fazer pamonha etc., e, no fim do dia de trabalho, o
cansaço se confunde com a alegria da festa. E, por incrível que pareça, até mesmo em um
velório, que apesar da dor, o sentimento de respeito pelos familiares cria a solidariedade no
momento de perda. Todos estão prontos para ajudar no que for possível. Neste universo social
se pode ver o exercício de importantes ofícios, como: do castrador de animal, da benzedeira,
do ferreiro, do contador de causo, do embaixador de folia de reis, do berranteiro, do sapateiro
etc., a serviço da comunidade. Para o educador Miguel Arroyo (Apud PESSOA, 2005, p. 59),
Os ofícios se referem a um coletivo de trabalhadores qualificados, os mestres
de um ofício que só eles sabem fazer, que lhes pertence, porque aprenderam
seus segredos, seus saberes e suas artes. Uma identidade respeitada,
reconhecida socialmente, de traços bem definidos. Os mestres de ofício
carregam o orgulho de sua maestria.
O ofício não tem um manual, uma fórmula. O aprendizado acontece através do
olhar atento de quem o acompanha. O exercício de um ofício é também o resultado de um
12
processo de ensinar e aprender mediante as ações desejadas e a reprodução dos sujeitos
sociais no tempo.
O exercício de um ofício ou a sua demanda pelos vizinhos possibilita também a
sociaciabilidade dos sujeitos no mundo camponês, onde se relacionam, interagem, buscando
tanto a solução dos seus problemas quanto a “folga” – o lazer, o descanso, a festa – fazendo
acontecer o fortalecimento da comunidade local, apesar das dificuldades no dia-a-dia. Nesse
jeito simples e humilde de se relacionarem, os sujeitos camponeses fortalecem sua identidade.
1.2 Mundo Econômico Camponês
Devido à concentração de riquezas nas mãos de grandes grupos econômicos e à
chegada da mecanização, da industrialização, do uso das sementes híbridas, dos agrotóxicos,
dos adubos químicos, intensificou-se o processo de mudanças de hábitos das pessoas
praticantes de uma agricultura voltada para o cuidado com a terra, sem afetar de forma tão
drástica o meio ambiente, quando utilizavam-se sementes crioulas. Assim sendo, a
monocultura vem gradativamente destruindo o meio ambiente e, ao mesmo tempo, levando os
camponeses a modificarem seus modos de vida e de trabalho, seus costumes, seus valores,
seus hábitos, suas tradições. Com a ideologia do mercado, da industrialização, o “progresso”
levou fortemente ao êxodo rural, e com ele veio o enfraquecimento das comunidades
camponesas.
Com o avanço do sistema capitalista e as novas tecnologias produtivas, as
comunidades camponesas passaram por um processo de modificação, a prática de se ir para a
roça levando instrumentos de pesca ou de caça, que era uma forma de se integrar trabalho e
lazer, ficou esquecida. Para Antônio Cândido (1979, p.174), “Caça sobretudo é defesa das
roças e divertimento praticado nas horas vagas; acessoriamente, complemento da dieta. A
nova escala de valores, pautada pelo contacto com os padrões urbanos, dissociou-a do
trabalho.”
E os camponeses, embora com dificuldades, procuram adaptar-se às novas formas
de vida e de trabalho. Nem sempre necessitam de uma quantidade grande de terra para viver e
sobreviver. Podemos dizer que isso é um dos elementos que os distinguem do latifúndário,
13
mesmo porque não se produz apenas pensando no mercado. Pelo contrario, a razão principal
de uma produção camponesa é o sustento familiar; a menos que esteja em débito com
agências financiadoras, como por exemplo, financiamento feito junto a bancos no intuito de
melhorar suas condições de trabalho. O que não pode faltar na comunidade camponesa é a
vida coletiva, na qual desenvolvem suas atividades.
Enquanto a empresa capitalista age visando ao crescimento na produção, levando
em conta o “valor de troca”, o camponês pensa na terra e na produção como “valor de uso”
(IANNI, 1988, p. 106), pensa no significado das coisas, dos elementos que compõem seus
valores culturais e étnicos como a relação com os animais (cabrito, boi, galinha, porcos etc.)
que venham a morrer, ou o carro de bois, o arado e outras ferramentas não mais utilizadas,
mas das quais não se desfaz, pois para ele o que conta é o valor sentimental. O mesmo
acontece em relação à terra, que muitas vezes é de herança. Na concepção camponesa há
sempre “a terra como dom da natureza ou de Deus” (OLIVEIRA, 2001). A terra como direito,
herança de pai para filho e assim sucessivamente. Terra como espaço, lugar da produção, da
vida, do cultivo, dos costumes, das tradições. O camponês ainda nos dias de hoje prioriza o
“valor de uso”, opondo-se ao monopólio do capital, porque sua inquietação é com o seu modo
de vida e de trabalho.
Nas transformações surgidas com o desenvolvimento histórico, o camponês
vivencia um processo de mudança que interfere tanto na questão familiar, como também na
econômica, devido à imposição do mercado no sistema capitalista.
Diante desse mundo em transformação, o campesinato tem que ser entendido em seus
aspectos internos e externos, e na diversidade de suas formas de existência, para que
se possa dar conta do significado de sua prática social e de sua linguagem do ponto de
vista cognoscente (OLIVEIRA, 2001).
Porém, alguns agricultores/as procuram preservar o seu modo de vida camponês
ao consumir o que produzem como: hortaliças, frutas, entre outras, sem se deixar levar pela
pressão comercial da propaganda das indústrias. Deixam de comprar mercadoria
industrializada, mesmo sendo mais bonita, moderna, utilizando produtos com segurança de
qualidade alimentar, de sua própria produção.
14
O que diferencia a economia camponesa é o seu modo diversificado de produção,
ou seja, ao produzir a carne, feijão, arroz, milho, alface, batata doce, ovos, amendoim, açúcar
mascavo e outros, acaba valorizando o trabalho e sua remuneração, pois, com isso, evita
comprar tais produtos no mercado. A isso se dá o nome de “pluriatividade”. Há famílias que,
além da produção agrícola, que garante uma parte do seu sustento, contam também com a
renda da aposentadoria de um dos cônjuges. Ou seja, para acontecer a reprodução camponesa,
freqüentemente têm que lançar mão de rendimentos externos à produção agrícola ou ao
criatório de animais.
No processo histórico das modificações na vida do campesinato, a chegada de
novas tecnologias, permitiu a modificação do trabalho nas atividades agrícolas, no lazer e nas
novas formas de ruralidades, pelas quais vão se fazendo presentes, tanto no rural quanto no
urbano.
Pesquisas em países desenvolvidos têm demonstrado dois fatos relevantes: a
rápida adaptação do agricultor familiar ao processo de modernização, com
técnicas avançadas e a contribuição da cultura do agricultor familiar (farming
culture) na formulação de respostas à crise do modelo produtivista, como a
pruriatividade (CARNEIRO, 1998, p. 54).
A vida de pessoas que moram no sitio, mas que garantem o sustento da família
trabalhando na cidade como funcionário público ou no próprio negócio, cada vez mais vem
aumentando. Há também as pessoas que vivem na cidade e que garantem o sustento da
família com a produção no campo. Isso favorece o aumento das relações sociais e o
envolvimento do urbano com o rural, incluindo-se as festas,
[...] promovendo a integração do ethos urbano ao ethos rural pela inversão das
posições sociais, permitindo que “pessoas da cidade” se divirtam com as brincadeiras
“camponesas”, jocosas e rústicas, e que os agricultores subam ao palco como atores
do espetáculo (CARNEIRO, 1998, p. 64).
Em meio à diversidade de produção da cultura camponesa está um modo de viver
cheio de saberes, sentimentos, significados, e pode ser encontrada na comunidade camponesa
15
uma agricultura que contribui para o desenvolvimento rural sustentável, de forma harmônica
com a natureza, podendo ser desenvolvida individual ou coletivamente, através de mutirão e
da diversificação de culturas, que são marcos da vida comunitária camponesa. Para que isso
se dê é fundamental o respeito aos córregos e rios com suas respectivas nascentes.
Evidentemente, não dá para negar que, em muitos casos, isso está mais no ideário da
agricultura familiar, desenvolvido pelas entidades de mediação, como MST, CPT e FETAGs,
mas não necessariamente nas práticas dos agricultores/as, ou, pelo menos, não está na prática
de todos os agricultores/as. É possível encontrar lotes em assentamentos ou pequenas
propriedades de agricultores/as em que os córregos e nascentes não têm manejo adequado.
A agricultura é um meio em que o homem e a mulher procuram espaço para se
desenvolver, no trabalho, na educação e na cultura, na valorização dos saberes já existentes na
própria experiência vivenciada, embora, por uma questão de sobrevivência, tenham que
incorporar novas “tecnologias produtivas” que deem resultados positivos e contribuam com a
renda familiar.
Os camponeses têm formas diferentes de viver e produzir. Alguns vivem do leite,
mas não fazem disso uma monocultura, pois cultivam outras plantações como: pomar, horta,
como também na criação de aves e suínos. Outros vivem do plantio de lavoura, como urucum,
arroz, feijão, amendoim, café etc. Há também aqueles que fizeram do sitio uma forma de
lazer, com rios, represa para a pesca, bosque para descanso e contato com a natureza. Alguns
vivem na cidade, mas cultivam o sitio para passar fins de semana com a família. Também há
aqueles camponeses que, para estudar os filhos, migram para a cidade, mas continuam todos
os dias indo trabalhar no sitio.
Como diz Roberto Moreira (2005, p. 19), “A possibilidade de existência de uma
identidade requer a existência de outras identidades”. Ou seja, a existência do individuo se
constitui na relação social, por isso a identidade rural requer existência do não rural.
O camponês tenta planejar economicamente sua vida de acordo com o futuro da
reprodução camponesa, e muitas vezes, por falta de condições no sitio como, por exemplo, a
escola para os filhos, é preciso se submeter à mudança, o que dificulta a conservação das
raízes culturais. Para muitos isso é sem sombra de dúvida uma preocupação.
16
1.3 O Camponês e a Política
No que diz respeito ao mundo da política, a maioria dos camponeses não está
preocupada com partido A ou B, mas, sim, com aquele prefeito ou vereador que o ajudou de
imediato num momento em que ele precisou. Não se dá conta de que os papéis de prefeito e
de vereador (executivo/legislativo) são obrigações para com o povo, para com a comunidade,
para com o município e não favores pessoais como levar um filho ao médico, dar uma cesta
básica. É visível que muitos camponeses ainda não conseguem fazer a leitura da realidade,
que estão sendo usados por interesses particulares. Por outro lado, quando os camponeses
participam ativamente da vida do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, da Associação de
Trabalhadores Rurais, da vida da comunidade, da vida da escola, através de reuniões,
encontros, seminários, a vida política é outra e assim eles não se deixam enganar e
questionam muitas situações. Esse processo participativo na formação dos camponeses,
contribui para a transformação das práticas cotidianas em que se envolvem.
O camponês não se preocupa em conquistar o poder estatal. Às vezes até
representa um obstáculo no desenvolvimento do capitalismo no campo. Segundo Ianni o
camponês não é revolucionário porque não está preocupado com um projeto de sociedade
nacional. O camponês pensa no seu modo de vida e de trabalho dando a primazia ao “valor de
uso” sobre o “valor de troca”, recusando-se a tratar a terra como mera mercadoria. “Nem
sempre o camponês está pensando a reforma agrária, que aparece nos programas, discursos e
lutas dos partidos políticos, na maioria dos casos de base urbana. Pensa a posse e o uso da
terra na qual vive ou vivia” (IANNI, 1998, p.102).
Como o poder político não resolve a questão agrária, os camponeses, nas lutas
sociais reivindicam a posse e o uso da terra que garantam o seu modo de vida e trabalho na
terra onde vive ou vivia, na qual possa criar e recriar o seu modo de vida, cultivar seus
costumes culturais, sua maneira de plantar para a subsistência, suas histórias, seu modo de
falar etc. O desenvolvimento das relações capitalistas implica uma revolução agrária, pois o
desenvolvimento extensivo e intensivo do capitalismo no campo combina processos
estruturais que ocorrem simultaneamente com a revolução. Citando Marx, Ianni diz que “A
produção capitalista somente sabe desenvolver a técnica e a combinação do processo social de
17
produção minando, ao mesmo tempo, as duas fontes originais de toda riqueza: a terra e o
homem” (p. 103-104).
É ingênuo pensar que somente a conquista da terra é suficiente. Como diz João
Pedro Stédile (Apud PESSOA, 2007, p. 21): “Só a terra não é suficiente”, tem que criar
condições (políticas publicas, políticas agrícolas) para que o trabalhador/a rural permaneça na
terra. Ou seja, é necessário intensificar a luta pelo acesso à terra e a luta por uma
reestruturação político-econômica e cultural do país. A questão agrária envolve um conjunto
de fatores, além da dinâmica da produção agropecuária, segundo a qual, a propriedade da terra
está concentrada na estrutura fundiária de exclusão do camponês. Ela compreende também os
movimentos de resistência e de luta pela reforma agrária concebidos como inerentes às
relações capitalistas de produção.
A luta dos trabalhadores rurais precisa ser em direção à mudança das estruturas
econômicas, mas também da mentalidade, pois o acesso à terra deve garantir a recuperação do
seu modo de vida; que a volta ao campo, de quem, por necessidade, migrara para a cidade,
possa significar melhora no padrão de vida e também recuperação dos seus valores culturais,
de sua historia, de sua religiosidade e de suas festas. Para o MST, (Apud PESSOA, 2007, p.
29), “[...] uma nação é soberana quando ela tem alimentação suficiente para todo o povo
comer e ainda estoque por vários anos”. Pessoa acrescenta:
[...] uma nação é soberana também quando é capaz de respeitar as diferenças no
meio do seu povo, de incentivar as festas populares, de respeitar quem gosta de
plantar observando as fases da lua e, enfim, de respeitar todos os importantes saberes
que os homens e mulheres do campo produzem e trocam enquanto observam o
comportamento dos animais e das plantas (PESSOA, 2007).
1.4 Religiosidade Camponesa
A festividade religiosa camponesa é sempre marcada pelo coletivo, no qual a
comunidade se reúne para viver momentos de alegria; de troca não só de bens, mas de afeto,
símbolos, significados, estima, e isso acontece através da música, do canto, da dança, das
fantasias, das roupas e das dramatizações nas festas do padroeiro/a, festas juninas, batismo de
18
fogueira, quadrilhas, Páscoa, Natal, Reis, da reza do terço, da missa, da romaria e outros
momentos de fé inabalável dos camponeses.
Faz-se festa por vários motivos: para acolher o chegante, celebrar os momentos
fortes da vida familiar, celebrar a colheita, lembrar datas coletivas, comemorar a vitoria do
candidato nas eleições e as conquistas na escola. E quando não se tem um motivo inventa-se.
O camponês é sempre exaltado mostrando a sua produção de alimentos, o apego ao trabalho e
à terra. “A festa não é só ocasião de descanso, é motivo de aprendizado, de reconstituição ou
fortalecimento de laços sociais” (PESSOA, 2005, p. 32).
As crianças aprendem com os mais velhos a organizarem sua existência, suas
crenças, sua sociabilidade, a interação, afinal, mesmo os mais velhos estão sempre
aprendendo na festa, ainda que seja a conviver com as contradições e conflitos presentes na
festa.
A festa do Padroeiro da comunidade é um momento de partilha, de alegria, de
reza. Existem comunidades que fazem festa para fins lucrativos, mas que não deixam de ser
um momento de alegria, de diversão e de encontro. Outras que fazem momentos de
confraternização como é o caso da comunidade Nossa Senhora das Neves, localizada na linha
6, no município de Cerejeiras-RO. No dia 05 de agosto os participantes se reúnem no
primeiro momento para celebração do culto, e depois para a confraternização dos “comes e
bebes” que são levados por eles, e passam o dia nesta alegria partilhando os acontecimentos
do cotidiano da vida. E é assim também em outras comunidades.
O mês de junho é marcado pelas festas Juninas. É tempo de alegria, bandeirolas,
danças, comida e bebida típica da época: amendoim, gengibre, abóbora, batata-doce, milho
verde, milho-de-pipoca, muito quentão etc. Rezas do terço ao Santo, fogueira e mastro
enfeitado de frutos, flores e fitas, simpatia principalmente na véspera de Santo Antonio,
moças e rapazes que querem arrumar casamento e muitas brincadeiras como as de rodas e o
pau-de-sebo. O passar sobre as brasas da fogueira após a meia noite, para muitos é gesto de
fé, para outros, cura de alguma enfermidade etc.
A tradição do batismo de fogueira, que era tratado com muito respeito e de grande
valor para as relações sociais camponesa, a instituição do compadrio. Até o casamento na
fogueira era válido em algumas regiões de maior isolamento e era assumido como sacramento
19
até 1912, e se legitimava com a presença de algum missionário em desobriga, segundo
Cascudo (Apud PESSOA, 2005, p. 27).
A dança da quadrilha é momento de os camponeses viverem o próprio personagem
de forma bem descontraída, embora a maioria dos folcloristas entende essa representação
como uma exploração do caipira, da sua condição de pobreza e humildade de gente da roça.
Pessoa (2005, p. 28) também concorda com essa repulsa ao caipira como personagem
grotesco, mas diz que é preciso se ir além dela e, numa análise antropológica, indagar quanto
aos significados mais profundos dessa representação. E arremata:
É uma representação do caipira que, em graus diversificados, ainda está dentro de
cada um de nós. [...] Mas os códigos preestabelecidos da vida urbana nos
constrangem, impedem-nos de deixar que sejamos em mais dias durante o ano, um
típico caipira – no falar, no vestir etc. [...] Então, em vez de explorado nas nossas
brincadeiras, o homem do campo, sábio no seu conhecimento profundo de todas as
formas de vida e religiosamente integrado á fecundidade das plantas e dos animais,
está é gritando, suplicando para não morrer dentro de nós.
Com a urbanização e industrialização as práticas rituais ficaram esquecidas, ou
foram transformadas, adequando-se à mudança na qual as festas perderam sua gratuidade,
tornando-se festas de arrecadação de fundos, que ainda hoje são motivo de repúdio e
polêmica, mas o camponês, mesmo passando pelo processo de urbanização e industrialização,
mostra, através da festa, que tem seu valor, e que não pode perder sua capacidade de brincar,
de sorrir, de criar suas fantasias.
O Natal para o camponês não é um natal de shopping, de fantasias comerciais.
Quando chega o natal, os camponeses se preparam na arrumação da casa, na preparação de
alimentos para receber os parentes, compadres e comadres, amigos que estão distante e lhes
vêm visitar. Assim podemos fazer uma ligação entre a espera do nascimento de Jesus,
celebrado pelos cristãos, e este jeito humilde dos camponeses na espera de alguém.
A folia de Reis, que normalmente ocorre do dia 25 de dezembro, dia do
nascimento de Jesus, ao dia 06 de janeiro, dia dos Reis Magos, grupos de pessoas de vida
simples e humilde que vão de casa em casa, tocam violas, violões, caixas, pandeiros; que têm
na roupa uma fita e pessoas que se vestem de palhaço ou mascarado, que vão anunciando o
20
nascimento de Jesus, narrativa exclusiva dos evangelhos de Mateus e de Lucas. A Folia de
Reis interage na vida das pessoas revivendo com elas a devoção aos três viajantes da Estrela.
O rito recria o conhecido e renova a tradição, recria em cada giro (como os foliões
denominam o percurso feito de casa em casa) a ação de dar, receber e retribuir dádivas
materiais e espirituais.
A festa é um grande mutirão, no qual as pessoas participam com muita alegria dos
preparativos. Até mesmo as crianças participam desta preparação, fazendo acontecer a
reprodução educativa popular. A festa é momento de partilha, uma celebração coletiva no
jeito simples da vida cotidiana do camponês. Cada objeto, símbolo, olhar, música, dança, tem
significados que podem ser compreendidos com olhar sábio, no todo de sua cultura e
sabedoria.
E o olhar de quem contempla a festa é sempre um olhar a um só tempo
aprendente e ensinante: desvela para si os muitos sentidos da festa e os revela
aos outros, na proporção direta da sua sensibilidade para captar esses mesmos
sentidos (PESSOA, 2005, p. 34).
Com este olhar as pessoas podem perceber que a festa dos Santos Reis é para todos
que chegam e participam sem pedir licença. Pode conversar com o grupo de foliões, pode
perceber através da conversa com o mestre que é uma tradição passada de pais para filhos e
que o seu desejo é que esta tradição continue, dando seqüência à memória dos acontecimentos
do nascimento de Jesus.
A Páscoa, a ressurreição de Jesus é outro momento muito forte na vida da
comunidade camponesa. É tempo forte de oração, jejum e penitência, de conversão para os
cristãos, é também momento de alegria ao celebrar o Sábado Santo com o baile da aleluia,
muita música, dança e o que não pode faltar nas festas camponesas, “muita comida”. Também
se diverte bastante com a malhação de Judas no sentido de que, no meio da comunidade, não
há espaço para pessoas que traem a confiança e a esperança do povo.
A cultura pode ser compreendida como forma de sentir, pensar, agir de uma
comunidade e sociedade, abrangendo os modos de ser e fazer, as crenças, os saberes, os
valores, hábitos, os costumes, os conceitos de natureza.
21
[...] a cultura é e está tanto nos atos e nos fatos através dos quais nós nos apropriamos
do mundo natural e o transformamos em um mundo humano, quando está nos gestos
e nos feitos com que nos criamos a nós próprios, ao passarmos – em cada indivíduo,
em um grupo humano ou em toda a nossa espécie – de organismos biológicos a
sujeitos sociais, ao criarmos socialmente os nossos próprios mundos e ao dotá-los e a
nós próprios de algum sentido (BRANDÃO, 2007).
A cultura não está objetivamente fora de nós, em nosso mundo social da vida
cotidiana. Ela não nasce de livros ou de escola, mas do cotidiano de uma vivência prática de
trabalho de homens e mulheres no tempo em que produzem suas atividades de sobrevivência
na dança, no lazer, no trabalho, na festa, na igreja etc., independentemente da posição social
do individuo.
[...] a cultura popular não tem lugar, não tem tempo nem um agente exclusivo
encarregado de fazê-la acontecer. Ela acontece em vários lugares, com recurso ou sem
recurso, com formação ou sem formação, com platéia ou sem platéia. Ela acontece
onde acontece o pulsar da vida do povo (PESSOA, 2005, p. 8-9).
A materialização da cultura está nos gestos, nos olhares, nas formas de representar
os objetos construídos que são portadores de significados. Num ritual primitivo, numa
fogueira no meio da aldeia, na dança dos negros na senzala, exprime os sentidos do viver em
cada uma destas e tantas outras condições que a história apresenta aos grupos humanos.
Através do trabalho mais ameno, das danças, da culinária, do artesanato, dos objetos
simbólicos e outros, a cultura popular é também socialização das novas gerações, pois somos
uma espécie única capaz de criar o nosso próprio modo de vida, nossos valores e costumes.
22
Capítulo II
Pedagogia da Alternância
Quando falamos da educação, logo somos remetidos à estrutura física da escola e
aos professores, com uma metodologia que, na maioria das vezes, despreza o conhecimento
empírico que cada um trás consigo e que são valores que precisam ser preservados,
respeitados e cultivados.
A educação vai além da teoria, é uma troca de conhecimento que, quando realizada
na prática, facilita o aprendizado. Educar é ampliar valores da própria comunidade, sejam eles
culturais ou econômicos, de modo que se torne prazeroso manter viva a história, fazendo com
que tenhamos gosto por aquilo que fazemos e nos estimulemos a buscar cada vez mais. Todo
conhecimento se produz a partir da curiosidade, das dúvidas, dos problemas, e é isso que nos
leva a um desafio e ao mesmo tempo a buscar sua superação. “A educação, implica uma
busca realizada por um sujeito que é o homem. O homem deve ser o sujeito de sua própria
educação. Não pode ser objeto dela” (FREIRE, 1999, p.33).
Dentre as diversas dificuldades encontradas pelo camponês está a educação dos
filhos como um todo. Não existe uma política voltada para a Educação das populações rurais.
Na história brasileira sempre foi negada aos povos do campo uma educação escolar a
partir das suas necessidades e desafios, bem como uma educação escolar que
contribuísse para superação da concentração da terra, do poder e do saber
(QUEIROZ, 2004, p.17).
Por falta de um sistema educacional adequado às especificidade do campo pode se
ver que há um número maior de analfabetos no campo do que na cidade.
23
Tabela Nº 01:
Taxa de analfabetismo no Brasil, TOTAL e por GRUPOS DE IDADE
População Urbana População Rural
Grupos de Idade 1980 1990 2000 1980 1990 2000
TOTAL 16,80 14,19 10,25 46,21 40,53 29,79
30 a 34 anos 13,39 8,97 6,70 44,22 33,91 25,21
60 a 64 anos 34,72 29,96 23,74 67,31 61,92 51,74
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1980/2000.
As Escolas rurais foram relegadas ao abandono, não receberam uma atenção
especial para trabalharem com a cultura local, pior ainda, com o passar dos anos o poder
público, para diminuir gastos, promoveu o fechamento das pequenas escolas rurais
transformando-as em escolas pólo, o que não resolveu os problemas da Educação no campo.
Criaram-se outros problemas, como a prática do transporte escolar para o deslocamento das
crianças para as Escolas fazendo com que as mesmas saiam de casa cedo e retornem à tarde,
dificultando sua participação no cotidiano do trabalho familiar; espaço que seria para o
aprendizado com os mais velhos, um meio pelo qual se integra à família e se pega gosto pela
vida e o trabalho no campo no intuito de dar continuidade à vida camponesa, “[...] uma
possibilidade concreta de reprodução, tanto do grupo familiar, quanto da sua condição de
segmento de classe” (PESSOA, 2007, p. 30).
Numa escola convencional, com uma metodologia universalizada, o jovem
camponês cresce com a expectativa de ir para a cidade trabalhar para garantir uma condição
de vida melhor para si e para sua família e com isso vão se perdendo os costumes, tradições,
hábitos, linguagem e seu modo de vida, pois assim é “[...] o campo, visto como o lugar do
atraso em oposição à cidade, o lugar do moderno” (ARAÚJO, 2007, p. 40).
Os Movimentos Sociais discutem a educação como direito de todo cidadão, uma
educação que valorize o sujeito, que contribua para a formação social, política, econômica,
cultural e espiritual; uma educação especifica e diversificada, enraizada na cultura do campo,
24
permitindo a reprodução camponesa. É neste contexto que surgiram as EFAs, com uma nova
metodologia, a Pedagogia da Alternância.
No bojo das lutas dos trabalhadores e trabalhadoras no campo a educação de
qualidade como um direito de cidadania aparece como um dos componentes de
reivindicação e em muitos lugares como experiência alternativa, gerida pelos próprios
trabalhadores. Neste contexto encontram-se a Escola Família Agrícola – EFA [...]
Entre outros objetivos os centros surgem como uma possibilidade de educação
apropriada às necessidades sociais históricas para conter o êxodo, desenvolver o
campo, superando as condições de pobreza, abandono, entre outras mazelas existentes
no campo, através de uma formação conscientizadora dos alunos e suas famílias junto
às comunidades (UNEFAB, 2003).
É esta educação que vai permitir aos jovens, homens e mulheres uma interação
com a sua vida, com a sua realidade sem ter que se deslocar de sua base para um terreno
desconhecido, correndo o risco de perder as suas origens, suas raízes.
2.1 Conceituação da EFA
As EFAs originaram-se das Maisons Famiales Rurales-MFR na França. Em 1930
Pe. Granerau vivenciou o drama de um adolescente camponês que não queria deixar a
propriedade para ir estudar em uma escola convencional. Desta situação ocorreu um dialogo
que resultou mais tarde, em setembro de 1935, em uma reunião na casa paroquial, na qual
esteve presente o Pe. Granerau, o pai do adolescente Yves, Jean Peyrat, e outros três
agricultores, pais de jovens camponeses que, mais tarde, tornaram-se alunos da primeira
turma da escola (ARAÚJO, 2007, p. 42). Pe. Granerau pediu então a Jean Peyrat que
encontrasse alguns colegas para Yves. Os jovens permaneciam alguns dias na casa Paroquial
mediante a orientação teórica do padre e depois voltariam para a casa onde ajudariam os pais
nas atividades agrícolas. O conceito era conciliar estudo e trabalho na propriedade rural,
juntamente com a família. Surgiu então a “Pedagogia da Alternância”. No tempo passado na
escola, sobre orientação do padre, o estudo era coordenado por um técnico agrícola. Já no
período em casa era de responsabilidade dos pais o acompanhamento das atividades dos
filhos.
25
Fora de um padrão estrutural de ensino estabelecido, estas pessoas pensaram em
uma formação que permitisse aos Jovens e às futuras gerações uma educação diferenciada,
preparando-os para um futuro que lhes desse melhores condições de vida e autonomia.
Eles inventaram uma forma de escola que seus filhos não recusariam, porque ela
responderia às suas necessidades fundamentais nessa idade da adolescência, ou seja,
agir, crescer, ser reconhecido, assumir um lugar no mundo dos adultos, adquirir um
status e papéis (GIMONET,1999, p. 40).
No inicio, em 1935, eram somente quatros adolescentes; no ano seguinte o grupo
já atingia dezenove jovens e esta forma de educar ganhou espaço na região e, dois anos
depois, somavam quarenta jovens.
Com o passar do tempo a escola ganhou visibilidade e se difundiu para outros
países. No Brasil a Escola Família Agrícola foi implantada no meio rural em 1969, no Estado
do Espírito Santo, pelo Jesuíta Pe. Humberto Pietrogrande, ao ver a real situação vivida pelos
camponeses, caracterizada pelo Centro de Estudos e Ação Social como de “[...] baixa renda
per capita, agravada pela crise dos cafezais; o baixo nível de educação; economia
essencialmente agrícola etc” (Apud ARAÚJO, 2007, p 49-50). Pe. Humberto convenceu-se de
que era preciso fazer algo e fez. Seu trabalho adquiriu visibilidade e as escolas foram se
expandindo para os demais estados.
Em Rondônia o primeiro contado para o conhecimento e implantação das EFAs
iniciou-se por volta de 1983, com a presença de alguns estagiários do Centro de Formação de
Monitores do MEPES no Espírito Santo, em visita promovida pela CPT à região de Ouro
Preto D’Oeste.
Diante da dificuldade de manterem os filhos em escola convencional e não
querendo deixar os mesmo sem estudos, dois agricultores reuniram os demais lideres da
comunidade com o objetivo de encontrar mais pessoas dispostas a trabalhar em favor da
proposta apresentada. Pe. José Simionato foi ao Espírito Santo em busca de ajuda, dias depois
chegou então um coordenador pedagógico para iniciar o processo de formação da EFA.
Assim sendo, em 1989 foi fundada a primeira EFA de Rondônia, a Escola Pe. Ezequiel
Ramin, no município de Cacoal. Sua criação se deu por um esforço conjunto da CPT, CEBs,
26
Paróquia de Cacoal e associações e agricultores. A Escola adotou uma pedagogia própria
voltada à formação integral e qualificação dos jovens rurais. O “[...] objetivo geral da escola é
a família, ou seja, a formação integral do agricultor, num projeto educativo onde todos
formam; Escola-Família-Comunidade”, e os objetivos específicos são: “[...] fixar o homem no
campo, aprimorar sua cultura, permitir aos filhos dos lavradores continuar seus estudos,
permitir uma iniciação para o trabalho, ministrar conhecimentos que interessou ao lavrador,
formar os jovens no espírito comunitário, que futuramente, permita formação de associações”
(APPEFAC, 1987). Assim fundamenta a prática do alternante em “aprender a aprender”, pela
qual a família/comunidade participa do processo, pois a alternância proporciona, em um
espaço dinâmico de formação, uma modificação do meio, ou seja, pode-se fazer a ligação
entre teoria e prática. Na Escola coloca-se em comum a realidade e se buscam novos
conhecimentos para se solucionar os problemas. Em casa se discute a realidade da
propriedade juntamente com a família, levantam-se os problemas e se planeja as ações a
serem realizadas.
Nota-se, desde seu surgimento na França (como MFRs), a presença marcante da
Igreja e dos movimentos sociais na construção das EFAs.
As EFAs se propõem atender às necessidades dos jovens no campo, promovendo
uma educação gratuita, de qualidade e diferenciada, que seja própria do meio rural. De acordo
com Nascimento (2007, p. 188), “O objetivo das EFAs é proporcionar aos jovens do meio
rural uma educação com base na sua realidade, na sua vida familiar e comunitária e nas
atividades”, uma educação que de fato possa contribuir na reprodução camponesa, pois a
formação está ligada à realidade vivida pelo jovem; busca formar cidadãos conscientes,
capazes de atuar em meio à sua realidade, buscando alternativas de melhorias na propriedade
da família, com o gerenciamento de sua vida econômica, social e política no lugar onde se
vive.
O sistema adotado pela referida Escola é de semi-internato, com aulas expositivas,
teóricas e práticas de campo, por meio das quais os educandos aprendem a lidar com a terra e
com a pecuária.
A estadia na MFR não representa somente um tempo de escola para aprender e
construir saberes, mas, também, um tempo de vida com os outros, no seio de uma
27
estrutura educativa onde se partilham as refeições, os lazeres, as atividades
socioculturais á noite. Um tempo de vida em internato onde, para ser moderno, de
vida residencial, que permite aos adolescentes, ás vezes em descaminho, de encontrar
algum ponto seguro, algum lugar para desabafar, algumas espaço de escuta e de
dialogo, algum referências para o presente e o futuro (GIMIONET, 2007, p. 156).
Já no período em que ficam em casa, realizam as tarefas escolares juntamente com
as famílias, proporcionando a elas uma interação dos aprendizados vividos na Escola com a
experiência familiar. Com esse processo família-escola-família, acredita-se que o jovem
camponês mantenha o vínculo familiar/comunitário e a cultura do meio rural, permitindo-lhe
a manutenção de sua identidade.
A EFA busca envolver as famílias e comunidades na educação dos jovens. Para
Borbenave (Apud LIMA, 2007, p.100), “[...] participar é fazer parte de, tomar parte ou ter
parte em decisões e ações”. Assim, as famílias podem participar do conselho, nas festas, no
voluntariado do trabalho, nas assembléias. Também no processo de alternância os pais
assumem a responsabilidade dos monitores, orientando nas tarefas realizadas em casa,
levando em conta os instrumentos metodológicos. Lima (2007, p. 113) conclui que, “Desse
modo, a EFA possui a especificidade de ter os pais como parceiros educativos responsáveis
diretos pela formação dos filhos”. Há também a possibilidade, juntamente com a
família/comunidade, de um confronto dos métodos empírico e cientifico – teoria/prática – que
compõem a formação dos jovens. O lar é o berço da aprendizagem, é a partir da realidade
vivida pelo alternante que a escola concretiza sua metodologia.
2.2 Pedagogia da Alternância: uma proposta inovadora
A Pedagogia de Alternância é uma prática educativa que tem por princípio sua
adequação à realidade do campo, ou seja, pretende ser uma alternativa para que os filhos dos
camponeses possam estudar e trabalhar na propriedade, visando com isso o incentivo à
permanência do jovem no campo, minimizando o êxodo rural. A Pedagogia da Alternância é
um processo de “ensino-aprendizagem” constituído em espaços e lugares diferenciados,
possibilitando que o jovem possa estar na escola em um período e passar outro em casa com a
família/comunidade.
28
Alternância significa o processo de ensino-aprendizagem que acontece em espaços e
territórios diferenciados e alternados. O primeiro é o espaço familiar e a comunidade
de origem – a realidade –; o segundo, a escola onde o educando partilha os diversos
saberes que possui com os outros atores e reflete sobre eles em bases cientificas; e por
fim, retorna à comunidade, a fim de continuar a práxis – prática + teoria –, na
propriedade, por meio de atividades de técnicas agrícolas, seja na inserção em
determinados movimentos sociais (NASCIMENTO, 2007, p. 194).
Neste processo alternativo o período na escola é tempo de estudo, de trabalhos em
grupo, de convivência; tempo de refletir, pesquisar, partilhar, aprofundar, tempo também de
diversão nas práticas de esportes, permite-se a sociabilidade, aprendendo a partilhar e
respeitar o outro, enfrentar os desafios do conhecimento do dia-a-dia. No período em casa
junto da família é tempo de participar das atividades cotidianas da família/comunidade
podendo colocar em prática o que vem aprendendo na escola. Com este processo casa-escola-
casa, o jovem camponês não se desvincula do seu meio, a família/comunidade com a terra.
A Alternância está baseada no principio de que a vida ensina mais que a escola,
assim sendo o tempo escola é alternado e integrado com o tempo família, colocando em
primeiro lugar o sujeito que aprende, seus conhecimentos, suas experiências, ela reconhece e
valoriza o saber de cada um e do contexto de vida.
A Pedagogia da Alternância fundamenta-se num método cientifico, “Ver, Julgar e
Agir”: ver – observar, presenciar, investigar, analisar – através dos instrumentos pedagógicos,
do meio onde se vive, e na Escola; julgar – decidir, avaliar, formar opinião – por meio das
atividades prática, estágios, pesquisa; agir – praticar, atuar – em casa/comunidade a partir do
que vem descobrindo. “O processo pedagógico baseado na alternância torna o jovem ator e
não mero espectador de sua formação” (GIMONET, 2007, p. 93). A alternância possibilita o
desenvolvimento pessoal do alternante, uma maneira de aprender pela vida, partindo da
própria vida cotidiana.
O ponto central do ensino-aprendizagem está na realidade vivida no dia-a-dia, no
lazer, no costume, no modo de falar, do jovem juntamente com a família/comunidade, e que
na escola tem a possibilidade de partilhar esta vivência, para que possa fortalecer sua
identidade.
29
Para Gimonet (2007) a Pedagogia da Alternância vai além de um método, como
um sistema educativo. É a pedagogia da “realidade” da “complexidade”, que vai acontecendo
num determinado espaço-tempo/escola-familia, possibilitando um confronto entre o teórico e
prático, uma construção de saberes e aprendizagens, o empírico e o cientifico num mesmo
espaço, ou seja,
[...] a pedagogia da Alternância se torna um processo de cunho cientifico, que produz
um aprendizado de uma cultura cientifica, de uma cultura “continuada”, e não fixada
no tempo escolar, isto é, em outras palavras, um aprendizado da a educação
permanente (p. 144).
Para o Psicólogo Piaget (Apud GIMONET, 2007, p. 143), a alternância serve à
lógica “praticar e compreender”, o que quer dizer, primeiro vem a “prática, a realização, para
que se possa teorizar sobre algo feito “compreender”. A vida ensina antes mesmo que a
escola, ou seja, o aluno quando vai para a escola ele já tem um conhecimento prático de algo.
Por isso o principal processo do ensino-aprendizagem é o aluno na sua realidade; a escola
ajuda a teorizar sua prática e a descobrir novas práticas, novas técnicas que venham ajudá-lo
na propriedade.
Para Forgeard (1999, p. 67) a alternância é uma forma de aprender no meio onde
se vive. “A Alternância não consiste em dar aulas aos jovens, e em conseqüência pedir-lhes
que apliquem isto no terreno. Mas ao contrário o processo de aprendizagem do jovem parte de
situações vividas, encontradas, observadas no seu meio”. Assim, o processo de aprendizagem
está integrado à realidade, com recursos locais que facilitam o processo de formação
valorizando o meio em que se vive.
Para um educando da EFA Goiás, citado por Nascimento (2007, p. 202), a
Pedagogia da Alternância é muito mais ampla que as sessões casa/escola. O alternante tem a
possibilidade de estudar a sua própria realidade e isso contribui para o aprendizado de sua
valorização no meio rural. Diz o alternante a Nascimento:
A Pedagogia da Alternância vem a ser um período de alternância onde o aluno/a fica
15 dias em casa e 15 dias na escola, mas não é só isso; esta pedagogia é muito mais
ampla. Vejo que ela é um sistema educativo muito interessante, pois com os
30
instrumentos pedagógicos o aluno/a tem o objetivo de estudar a sua realidade, dentro
disso é trabalhada a inter-disciplina sendo assim ligada à formação integral do jovem.
Esta pedagogia tem a contribuir para o meio rural no sentido de que o jovem está
aprendendo a valorizar o seu meio; aprendendo novas tecnologias favorecendo o meio
socioeconômico da região; na questão de valorizar a cultura camponesa de seus
antepassados (sic) e ter a plena consciência de que seu meio é o melhor lugar para si
viver, ter uma formação profissional adequada para desenvolver projetos que dá
sustentabilidade (sic) para a sobrevivência da agricultura familiar.
Neste processo é possível que o alternante aprenda novas técnicas que venham a
contribuir na produção garantindo sua sustentabilidade, fazendo com que se diminua o êxodo
rural.
Na Pedagogia da Alternância o jovem é o sujeito principal da formação, e o autor
de sua própria formação, tendo a presença de outros colaboradores fundamentais neste
processo de “ensino-apredizagem”: família, comunidade, monitores, a realidade vivida em sua
região, a cultura, o trabalho, a religião, o meio social, a economia, são elementos inseridos na
formação integral do jovem pela alternância.
Na alternância as sabedorias práticas se juntam, pois a escola procura educar para
a vida. Para isso busca meios que interligam a realidade vivida pelo alternante, para facilitar o
processo de formação. A alternância possibilita que o alternante constitua seus conhecimentos
no diálogo entre o saber cotidiano, vindo de uma prática de um trabalho passado de gerações
em gerações, e o saber escolar que permite a apropriação do conhecimento histórico com
técnicas cientificas.
Na Pedagogia da Alternância há dois momentos de formação interligados. O
primeiro é o tempo da família/comunidade, o tempo da formação nas atividades técnicas
práticas do dia-a-dia, no qual o alternante partilha, no seu meio, o que vem aprendendo na
escola, faz experiência de novas técnicas que aprendeu na escola, discute sobre isso com os
pais e vizinhos, faz perguntas e anotações preparadas pela escola, que fazem parte dos
instrumentos metodológicos, além de se divertir e descansar. No segundo momento, o tempo
escola, o aluno partilha diversos saberes com base cientifica, teórica, discute com colegas e
monitores sobre os autores, realiza trabalhos em grupos, pesquisa, faz reflexão pessoal e
coletiva, como também se diverte nos momentos de lazer, nas práticas esportivas. E neste
ritmo alternado, ocorre o processo educativo.
31
2.3 Instrumentos Pedagógicos
A Pedagogia da Alternância dispõe de instrumentos pedagógicos que permitem
acompanhar o alternante tanto na sessão escolar quanto na sessão familiar, “[...] com um nexo
de transversalidade que, partindo da própria realidade sócio-profissional, interfere no modo de
trabalhar os temas e as matérias específicas ao plano de formação” (CALVÓ, 1999, p. 21).
Estes instrumentos pedagógicos variam em sua aplicação na Escola de acordo com a realidade
de cada região.
Caderno da Realidade
O Caderno da Realidade é o instrumento básico da Pedagogia da Alternância,
porque faz a ligação entre casa-escola-casa. Por seu intermédio os pais podem acompanhar as
atividades escolares durante a sessão escola, e os monitores podem acompanhar as atividades
realizados pelos jovens ao período em que estiveram em casa: suas atividades em casa e na
comunidade, suas atividades no trabalho em relação ao meio ambiente, seu lazer, os
costumes, hábitos e tradições familiares, facilitando o conhecimento do alternante para o
aprendizado. “[...] é nele que o jovem registra e anota todas as suas reflexões estudos e
aprofundamento feito na EFA (ARAÚJO, 2007, p. 48). O percurso da aprendizagem vai
adquirindo sentido para o alternante, pais e monitores, à medida que se integram nesse
processo de formação. No Caderno da Realidade fica ordenada boa parte das experiências
acontecidas nas EFA. A harmonia entre o PE e CR, torna possível o método ver, julgar e agir
em meio à realidade vivida. É um treinamento de expressão escrita e oral, que permite aos
jovens aprender a analisar e a sistematizar. O CR é também um documento que mostra a
história do alternante, permitindo, assim aos pais, saberem dos acontecimentos na escola e
contribuírem com sugestões. Este caderno acompanha o alternante dentro e fora da EFA.
Caderno da Alternância
32
É um meio de se manter a comunicação entre a Escola e a família, interligando os
dois momentos vividos pelo jovem. No Caderno da Alternância, que é do conhecimento dos
pais, são registradas as atividades do alternante na Escola. Na volta para a escola os pais
relatam as atividades desenvolvidas pelo alternante durante aquela sessão em casa juntamente
com a família/comunidade, para conhecimento do monitor e do tutor. Sobre isso acrescenta o
Portal Educacional do Estado do Paraná (2009):
A família se informa de tudo o que ocorre na CFR, inclusive avaliação de
convivência, habilidades, práticas e aprendizagem. Por outro lado, o caderno de
acompanhamento traz informações sobre a vida em casa e implica mais os alunos na
realização de suas tarefas e atividades comunitárias.
Assim a família se envolve no processo educacional da escola, participando da
formação, orientando e acompanhando as atividades do alternante.
Plano de Estudo
O Plano de Estudo é o instrumento fundamental da Pedagogia da Alternância,
segundo Begnami (Apud QUEIROZ, 2004, p. 48): “Principal instrumento metodológico na
articulação autêntica entre: Casa-Escola, Conhecimento empírico e teórico, trabalho e
estudo”. Ele é uma pesquisa sobre um tema do cotidiano, da vida real, no que diz respeito aos
modos de vida no contexto econômico, político, social, religioso e cultural. A pesquisa é feita
no final de cada sessão escolar, quando aluno e monitor fazem a sistematização do tema a ser
pesquisado e desenvolvido durante a sessão casa com a família/comunidade e que será
colocado em comum na sessão escolar seguinte.
O Plano de Estudo leva o jovem a questionar e avaliar e ajuda-o a compreender a
realidade onde vive. “Através deste documento que se dá a integração da vida do aluno, dos
pais e comunidade com a EFA, criando-se assim, no aluno, o hábito de ligar a reflexão com a
ação e de partir da experiência para a sistematização cientifica” (ARAÚJO, 2007, p. 48).
33
Colocação em Comum
A Colocação em Comum é um meio de socialização, momento de expor a
pesquisa do PE e de o jovem se expressar oralmente, através de debate, pergunta,
problematização, síntese do conhecimento de cada aluno/a no conhecimento do grupo.
A metodologia da CC depende muito da criatividade dos monitores, pode-se
utilizar técnica e dinâmica para motivar o alternante a tornar significante o termo em questão,
realizando teatro, cartazes, desenhos etc. A colocação em comum é fundamentalmente
atividade de grupo que possibilita o jovem a crescer, a sair do individual (eu) para o coletivo,
a socialização. “Ela induz na dialética do “eu” e do “nós”, da personalização e da
socialização, sem a qual o desenvolvimento fica parcial”. (GIMONET, 2007, p. 46). A CC
contribui para o crescimento da aprendizagem, pois o alternante passa para os outros o que
aprendeu e todos têm a oportunidade de debater, enriquecendo o conteúdo. “O valor
pedagógico das experiências partilhadas e confrontadas é bem mais forte que aquele das
informações acumuladas nos livros ou dadas pelo monitor durante “aulas” (p. 45).
A CC consiste em o alternante passar para o monitor e os colegas o que viveu
durante sua sessão familiar. Oferece a possibilidade de o jovem expressar oralmente a
comunicação e a escrita nas anotações, nas redações dos relatórios, e de o jovem participar
dos debates do grupo. É um aprendizado social e educativo, dando ao alternante a
oportunidade de crescer, de conquistar sua autonomia e construir sua identidade.
Visitas e Viagens de Estudo
Visitas e viagens de estudo são atividades que propiciam aos alternantes
descobertas e realizações. As visitas são organizadas a partir de cada tema do PE. A viagem
de estudo leva o jovem a confrontar seus conhecimentos com os dos outros; possibilita ao
jovem o crescer, o prazer de viver no campo de maneira diferente, produtiva, organizada e
sem medo de ser camponês. As viagens também fazem crescer os laços de amizade, podendo
construir intercâmbios para si e para a sua comunidade. O ato de ver facilita muito o
34
aprendizado, por isso é preciso uma preparação para que os jovens possam, depois da visitas,
explorarem essas atividades numa formação “ver, julgar, agir”. Gimonet (2007, p. 37) fala de
três tempos: “antes, durante e depois”, para se realizar uma boa visita. Antes trata-se da
“preparação”, estimula a curiosidade, instiga a fazer perguntas. O durante é o momento da
escuta com atenção, ir fazendo anotações. E o depois, fazer um debate das atividades
mediante relatório. “[...] as visitas de estudo e as intervenções são meios para a formação
geral” (GIMONET, 2007, p. 50).
Visitas às Famílias
As Visitas às Famílias são um instrumento para integrar os espaços e os tempos
diferentes, escola e casa. É devidamente planejada pelos monitores, com o objetivo de
conhecer a realidade do alternante no seu meio familiar, aí compreendendo vida cotidiana,
atividades desenvolvidas, costumes, hábitos e necessidades. Permite o acompanhamento das
pesquisas do PE, CR, exercício de fixação de aprendizagem, leituras, atividades, de retorno
experiências e praticas dos alternantes. Os monitores se empenham em conscientizar os
familiares sobre seu importante papel na educação dos filhos, como colaboradores da
alternância. Por isso é também importante sua participação na associação da EFA.
A visita às famílias consiste em uma estratégia adotada pela EFA para levar até as
comunidades as informações sobre os temas estudados na escola e também paras
engajar as famílias na reflexão sobre a importância do plano de estudo, que parte de
situações objetivas do cotidiano da vida do aluno (ARAÚJO, 2007, p. 48-49).
As visitas às famílias permitem uma análise de todo o processo educativo da EFA,
em todos os seus aspectos: pedagógico, intelectual, social, profissional, técnico, humano,
comunitário, étnico e espiritual.
35
Estágio
O Estágio é um instrumento que possibilita o confronto com uma situação concreta
para que o alternante possa observar, vivenciar, experimentar e praticar os conhecimentos
assimilados, com o acompanhamento dos monitores e orientadores da EFA, contribuindo na
definição profissional do aluno/a. Por isso é intensificado nos dois últimos anos do Ensino
fundamental e durante o Ensino Médio Profissionalizante. O estágio faz parte do plano de
formação da EFA e tem o objetivo de dar sustentabilidade à formação dos jovens no meio
rural. “O Estágio faz parte do processo de formação inserido em cada tema especifico,
construindo-se um momento de aprender fazer fazendo” (PINHO, 2009, p. 7).
O Estágio é desenvolvido em um período de duas semanas e muitas vezes o aluno
constrói o seu projeto de vida através deste instrumento.
Serão
Serão, “[...] são recursos didáticos que visam complementar e reforçar a
aprendizagem dos conteúdos curriculares e extra-curriculares” (ARAÚJO, 2007, p. 49). É
uma atividade complementar que proporciona ao jovem a valorização de recursos humanos
sociais, da solidariedade de pessoas da comunidade junto à EFA, pois, os Serões são
realizados por médicos, agricultores, professores, agrônomos, veterinários, religiosos e outros
membros próximos que contribuam nesta formação.
Os Serões acontecem à noite e são realizados através de debates, palestras, vídeos,
slides e outros, com temas que podem variar, como agricultura, meio ambiente etc.
Intervenções Externas
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Intervenções Externas ou Palestras são realizadas como meio de aprofundamento
dos temas do PE. Depois de realizar a CC, como complementos dos temas do PE, as
Intervenções Externas podem ser realizadas por pessoas de entidades públicas e privados que
colaboram voluntariamente no processo educativo. “São colaboradores pessoas que vêm de
fora da escola: pais, mães, estudantes, lideranças diversas e profissionais etc. Estão sempre
ligados ao tema do plano de Estudo. Trazem as perspectivas do saber fazer de uma vivência”
(PINHO, 2009, p.8) e são realizadas em horários de aulas porque são consideradas um
complemento do tema do PE.
Avaliação
Avaliação é um processo contínuo na EFA. “Uma avaliação, permite constituir e
fortificar os saberes” (GIMONET, 2007, p. 61), envolvendo todos os participantes da
formação e o desenvolvimento de todos os instrumentos. Os alunos/as são avaliados na
convivência, levando-se em conta a habilidade e convivência na disciplina, sendo que cada
monitor/a avalia o conteúdo na sua disciplina. Ocorre também a avaliação em grupos
envolvendo a todos, alunos, monitores e funcionários, tanto no início como também no final
de cada sessão, assim possibilitando ver onde se pode melhorar.
Tutoria
Tutoria é uma maneira de acompanhar as atividades de pesquisa, os exercícios, a
vivência e experiência dos educados/as no meio sócio-profissional. Na chegada dos
alternantes à EFA cada monitor/a torna-se responsável por acompanhar um grupo de
alunos/as. É um momento em que jovem e monitor interagem partilhando dificuldades e
progressos no desenvolvimento do ensino e aprendizagem. O alternante tem a oportunidade
de tirar suas dúvidas sobre o processo educativo da Pedagogia da Alternância. “Formalmente,
a acolhida personalizada se dá no início da sessão na EFA, mas se estende informalmente ao
37
longo da sessão. Ou seja, o(a) monitor(a) acompanha o(a) aluno(a), ao longo de toda a sessão
escolar” (PORTAL EDUCACIONAL NO ESTADO DO PARANÁ, 2009).
Caderno Didático
O Caderno Didático constitui um material especifico da EFA com uma
metodologia própria desenvolvida para aprofundar teoricamente o PE. Aqui é teoria, mas o
aluno não se distância de sua realidade, pois os temas trabalhados envolvem uma reflexão
crítica do assunto abordado. Permite ao alternante “[...] descobrir noções novas, compreendê-
las e assimilá-las, integrando-as aos seus conhecimentos anteriores, ao que fazem e vivem e,
conseqüentemente, aprendem” (GIMONET, 2007, p. 51).
Projeto Profissional do Jovem
O Projeto Profissional do Jovem é um meio de o jovem concretizar as pesquisas do
PE, buscando conhecer melhor a realidade socioeconômica, cultural, política, profissional e
regional. O alternante trata de começar a pensar no futuro como profissional, mostrando um
projeto de vida e suas possibilidades de aplicação na sua comunidade ou fora dela. Por isso,
ao entrar na EFA “[...] o estudante é orientado a construir seu Projeto de Vida, que será um
meio de concretização das pesquisas dos Planos de Estudo e de sinalização de passos futuros
para a profissionalição” (PINHO, 2009, p. 8-9). O PPJ é uma forma de incentivo e de mostrar
que é possível viver bem, economicamente no meio rural, cultivando o seu modo de vida,
estendendo sua formação escolar à comunidade e, com isso, evitando a migração para as
periferias das cidades com a consequente exposição á marginalização.
Os instrumentos pedagógicos da escola permitem a articulação tempo/espaço com
saberes e experiências específicas em cada um deles, formalizando os conhecimentos do meio
rural, para que o jovem possa ser protagonista do processo educativo. Levam o jovem a
descobrir e conhecer o meio onde vive e, ao mesmo tempo, a pensar globalmente sua vida
38
cotidiana. Por isso Gimonet (GIMONET, 20007, p. 159) entende a alternância como
pedagogia da complexidade.
Os conteúdos e os processos pedagógicos deverão permitir aliar, ao mesmo tempo, a
experiência do terreno, a implicação em situações de tamanho real e a abertura às
ciências, ao conhecimento do universal, à compreensão do mundo, do planeta, ao
desenvolvimento, á cidadania, ao pertencimento local e da terra... para que se realize
“a viagem interior e a viagem universal”, e para que se engaja a escola ao longo da
vida toda.
Todo o percurso educativo da EFA é para dar aos alternantes condições de ter uma
vida mais digna e independente, utilizando técnicas apropriadas à vida camponesa, dar
subsídios para a transformação do campo, lutar a cada dia para elevar a vida do homem e da
mulher das comunidades rurais, proporcionando a permanência dos alternantes no campo para
que possam cultivar o seu modo de vida, seus costumes, hábitos e tradições.
39
CAPÍTULO III
Contribuição da Pedagogia da Alternância no modo de vida camponês
As EFAs nasceram e continuam nascendo nos dias de hoje porque os pais desejam
um modelo de educação voltado para o campo, para a própria realidade. De acordo com seus
teóricos [...] “são escolas da região, criadas e geradas pelas pessoas do lugar, para as pessoas
do lugar” (GIMONET, 1999, p.43), próximas das pessoas, do aluno/a, da família/comunidade
e, com isso, contribuem para desenvolver uma metodologia mais adequada às atividades
exercidas.
A proposta da EFA, em sua formação, visa abranger o aluno como também toda a
comunidade, que todos reflitam seu modo de viver diante da situação real em que vivem,
possibilitando conhecimento para lidar com as mudanças.
Uma EFA é uma associação de família, pessoas e Instituição que buscam
solucionar a problemática comum, da evolução e do desenvolvimento local através
de atividades de formação, principalmente dos jovens sem, entretanto excluir os
adultos (CALVÓ, 1999, p. 17).
Diante do processo de modificação que vem sofrendo o camponês desde a
colonização do Brasil até os dias atuais, a EFA, com sua prática educativa, objetiva resgatar e
reforçar o modo de vida camponesa, suas tradições e cultura, demonstrando ao jovem que é
possível viver bem no meio rural,consumindo o que se produz, tendo uma vida econômica
organizada ao planejar sua produção diversificada.
A Pedagogia da Alternância se põe como objetivo possibilitar ao jovem camponês
o desenvolvimento de sua formação escolar e também sua formação familiar que é
fundamental para o seu modo de vida camponês. Com esta formação interligada casa-escola-
casa se deseja que o jovem confronte seu conhecimento camponês com o que vai aprendendo
40
na escola. A Escola tem como objetivo principal motivar, incentivar o jovem a permanecer no
campo, valorizando a sua história, a sua comunidade, seu modo de vida, capacitando-o para a
prática de uma agricultura sustentável.
3.1 Um olhar de fora para dentro do ensino-apredizagem da EFA
O jovem, ao ir estudar na EFA, por opção própria ou por decisão dos pais ou ainda por
incentivo de colegas ex-alunos/as, leva consigo seus costumes, suas tradições, seu modo de
vida que, conforme garantem os estudiosos da Alternância, são respeitados e valorizados pela
Escola. Um exemplo disso é o que diz ainda o educador francês: “A Pedagogia da Alternância
conduz à partilha do poder educativo. Ela reconhece e valoriza o saber de cada um e dos
contextos da vida” (GIMONET, 1999, p. 45).
Para a família e a comunidade o jovem em uma EFA torna-se mais cooperativo. O
processo de semi-internato possibilita aprender e conviver nas diferenças, ou seja, respeitando
o jeito de ser de cada um, em seus costumes familiares, suas crenças etc. “[...] eu quis que
minha filha estudasse aqui por que vejo e acredito que o jovem fica mais cooperativo, tem um
comportamento diferenciado”, disse uma monitora da Escola Pe. Ezequiel Ramin. Para muitas
famílias e monitores são notáveis as mudanças que ocorrem depois da participação na EFA, a
abertura ao diálogo, a participação nas atividades comunitárias, os benefícios na produção
com novas técnicas, a diversificação de produção, a valorização e o respeito à terra, ao
engajamento nos movimentos sociais, a integração social, cultural e econômica, quando a
comunidade de fato adere ao processo de formação da Escola. Porém, os monitores, em suas
visitas, constantemente constatam que ainda existem famílias que não participam deste
processo de formação, deixando tudo por conta da Escola e o resultado, nesses casos, acaba
não sendo satisfatório.
Segundo a metodologia realizada na escola o jovem se torna capaz de desenvolver
com mais facilidade o papel de liderança na comunidade, nos movimentos sociais, o que leva
a uma visão política no mundo atual, que possa contribuir na vida camponesa. E o jovem é
cobrado pela família/comunidade a colocar em prática o que vem aprendendo na escola. Fica
sempre uma expectativa de algo novo na vida daqueles jovens que vão experimentar um jeito
41
diferente de entender a agricultura camponesa e até mesmo uma EFA, pois ali o jeito de
ensinar e aprender é muito diferente da escola tradicional. É por esta metodologia que se
descobre que a Pedagogia da Alternância contribui no modo de vida camponês. Há alguns
jovens que, ao sairem da escola, permanecem na agricultura, ou trabalhando na própria escola,
ou mesmo em outra área de serviço, porém carregam consigo o ensinamento diferenciado,
como afirma um jovem egresso da EFA Pe. Ezequiel Ramin: “[...] o jovem que adere ao
processo educativo da Escola se orgulha de ser camponês, valoriza e quer estar ligado ao
campo”.
A EFA, de acordo com a sua pedagogia, busca responder ao grande desafio de
qualificar tecnicamente o camponês a partir de uma metodologia que corresponda às suas
necessidades no campo. Por isso as práticas desenvolvidas na escola permitem ao jovem
“aprender a aprender”, num processo de formação e de ligação entre teoria e prática que conta
com a participação da família/comunidade.
A proposta das EFAs não visa apenas a atingir o aluno, mas formar uma cultura de
participação de toda a comunidade para que todos pensem sua própria existência, as
condições concretas em que se vivem e as possibilidades de mudanças e de
implementação dessas mudanças (LIMA, 2007, p. 110).
A EFA busca romper com um ensino hierarquizado, decretado, afastado da
realidade vivida pelo jovem rural. O conhecimento é construído na integração das pessoas
entre si e com o meio onde estão inseridas, valorizando as potencialidades da pessoa humana,
através das atividades desenvolvidas, pelas quais
[...] a pessoa em formação possa “confrontar os saberes transmitidos na escola com
os saberes produzidos por sua experiência”, onde ocorra a confrontação das
apredizagens experiências com as apredizagens formais das ciências, e das técnicas
na situação escolar. Isso faz com que ocorra a autonomia e a responsabilidade da
pessoa em formação num “sistema de produção de saber e não mais somente de
consumo de saber”, o que exige um empenho e um compromisso da pessoa no seu
processo formativo (QUEIROZ, 2004, P. 104.).
42
Com as aulas práticas realizadas na escola pretende-se dar ao alternante novos
conhecimentos. Mas, quase sempre acontecem confrontos entre esses novos conhecimentos e
o saber cotidiano familiar. Um exemplo é que muitos agricultores/as desenvolvem seu plantio
e colheita na propriedade, obedecendo às fases da lua e na escola isso não é trabalhado. O
alternante e a família têm a oportunidade de fazer novas experiências na própria propriedade,
utilizando novas técnicas que vem aprendendo na escola para ver de fato o resultado, e o que
é muito comum na comunidade camponesa é fazer uma nova experiência sempre com cautela.
É preciso ver o resultado positivo para incorporá-la totalmente.
O avanço da tecnologia exige preparo para se enfrentar a realidade atual que muda
rapidamente. A família/comunidade acredita no ensino da EFA e o acompanha de perto
através dos instrumentos pedagógicos, reuniões, assembléias na escola e percebe que é
possível o filho dar continuidade aos estudos sem deixar de ser camponês.
3.2 Teoria e Prática: aprendendo e ensinando
O trabalho do homem e da mulher camponesa vai além da cultura de produção,
está fortemente fundamentado no modo de vida com seus costumes, tradições, seu modo de
falar, as festas, a política, o trabalho coletivo e a educação voltada para atender suas
necessidades, ou seja, uma educação que proporciona a reprodução camponesa, portanto é
mediante isso que a EFA está contribuindo no modo de vida camponês por meio de seus
instrumentos pedagógicos com a pedagogia da Alternância. “A Alternância significa,
sobretudo, outra maneira de aprender, de se formar, associando teoria e prática, ação e
reflexão, o empreender e o aprender dentro de um mesmo processo” (GIIMONET, 1999, p.
44). Porém aprende-se com a realidade, experimentando e vivenciando existencialmente a
prática do “aprender fazendo e o pensar agindo”, não há dois momentos, um de aprender e
outro de por em prática. Estuda-se a própria ação. Teoria e prática são confrontadas num
sistema de “Interface” da alternância trabalho-escola, saberes já existentes com a
aprendizagem da ciência.
São muitas as situações encontradas no campo que podem dificultar a realização
desejada pela EFA, como a falta de uma política agrícola, política pública voltada para o meio
43
rural. Ainda hoje o campo é visto como o lugar de atraso e tem camponeses que se rendem
aos encantos da cidade, à ilusão do emprego, à pressão da mercadoria industrializada. A EFA
busca incentivar o produzir e consumir alimentos da própria Escola, mostrando ao alternante
que é possível fazer isso na propriedade. Com seus instrumentos pedagógicos em particular o
PPJ a EFA pretende levar o jovem a descobrir que é possível viver bem na propriedade,
economicamente, e cultivando o seu modo de vida. E muitos jovens aprendem a valorizar a
agricultura que, muitas vezes, antes de ir para a EFA, desprezavam.
Na Escola Pe. Ezequiel Ramin um jovem questiona a posição do PPJ na grade
curricular que, pra ele deveria ser implantado na propriedade antes do termino do curso. “[...]
se fosse implantado no 1° ano, quando saíssemos daqui já estaríamos colhendo a produção
para nos sustentarmos economicamente e assim planejar o futuro”. Este questionamento é
fundamental para os jovens, pois se percebe que há um interesse muito grande em
desenvolver uma ação concreta na propriedade e, ao mesmo tempo, apresentando à turma os
resultados do projeto, eles poderiam fortalecer e incentivar a permanência dos egressos no
campo.
Acompanhando a aplicação deste instrumento, pode-se observar que alguns pais
participam de fato do seu processo elaboração do projeto e dão todo suporte para sua
implantação na propriedade. Há um acompanhamento, todos se envolvem. Esta postura
contribui com o desenvolvimento da Pedagogia da Alternância, pois a família deve participar
de todo o processo formativo da Escola e o PPJ é uma forma de o alternante planejar e
construir o seu futuro e a EFA o orienta para isso, como vimos no capítulo segundo. Porém há
aqueles jovens que não contam com o apoio da família e por isso desenvolvem sozinhos seus
projetos e isso dificulta sua implantação na propriedade. Há pais que cedem espaço na
propriedade para a implantação do PPJ, mas o jovem trabalha sozinho desanima,
contradizendo assim a Pedagogia da Alternância, sem adesão completa à metodologia da
escola, dificultando então o processo de formação do alternante.
Na apresentação do PPJ, em 2009, a Escola Pe. Ezequiel Ramin afirmou que em
2010 contará com a participação dos pais, que poderão assistir a apresentação dos alunos e
também fazer questionamentos. Com isso a Escola pode sentir o envolvimento da família no
acompanhamento deste instrumento pedagógico e a família pode ver de perto o trabalho de
toda a turma, e se os alunos aderiram ao processo de formação desenvolvido pela EFA.
44
Neste processo de formação pode ser visto que há jovens que assimilam as
atividades da EFA e buscam colocar em prática na propriedade as novas técnicas que se
aprende na escola. O esforço, a curiosidade, a liberdade para ver o resultado do aprendizado, é
que levam ao crescimento em todo o contexto. Por outro lado há aqueles jovens que, mesmo
estando dentro do processo de formação, não se identificam, não se empenham e, quando a
família também não se integra ao processo, torna-se ainda mais difícil haver algum resultado
concreto na propriedade.
O desafio da EFA entre teoria e prática é muito grande, como diz um monitor na
Escola Pe. Ezequiel Ramin: “Hoje a EFA não é mais a mesma do passado. Ao mostrar os dois
lados o jovem sai daqui querendo emprego, pois falta uma política pública que dê assistência,
então fica difícil manter-se no sítio, principalmente para trabalhar com produção orgânica”. A
escola desenvolve um trabalho voltado para a permanência do jovem na propriedade, mas são
fatos como este que dificultam o resultado do trabalho desenvolvido, diante das mudanças no
campo, sofridas pelo camponês. A EFA procura acompanhar as modificações que têm
ocorrido na estrutura familiar, tentando adequar-se para atingir seus objetivos. Para isso ela
sabe da necessidade de fazer uso dos meios de comunicação de que dispõe, evitando que eles
não atrapalhem os costumes, as tradições da vida pessoal, familiar e coletiva. Para isso a
escola se esforça em manter os mutirões, as visitas aos vizinhos, as festas sempre muito
correntes na vida camponesa, como foi analisado no primeiro capítulo; como também procura
enfatizar os valores familiares – a prática da oração, do dialogo, da partilha, do acolhimento –
e o cuidado com a terra, pois é dela que se tira o sustento. Assim ela acredita contribuir para o
melhoramento da auto-estima de toda a família e comunidade. Eis o grande desafio da EFA:
unificar, interligar e processar a teoria e a prática.
A Pedagogia da Alternância exige esforços permanentes frente à realidade vivida
hoje pelo camponês, que é de excessivo emprego de insumos químicos e investimento na
monocultura e, por outro lado, de falta de uma assistência na produção no campo e de
transporte.
Em relação à imposição dos produtos químicos e da monocultura, a EFA busca
alternativas práticas baseadas na produção orgânica, com a qual a propriedade familiar possa
viabilizar-se por meio da diversificação da produção. Para isso, trabalha-se na escola com a
integração dos setores produtivos: horta orgânica; horta medicinal; horta mandala; árvores
frutíferas; roças de cultivo permanente, sem uso de fogo; apicultura, animais – porco, galinha,
45
gado. Assim as aulas práticas e teóricas se confrontam no processo de aprendizagem. E no
processo de “intercâmbio” estão as visitas realizadas pelos alternantes, trocando idéias e o
conhecimento do que estão adquirindo na escola, com a possibilidade de verificarem as
experiências dos agricultores/as: os ofícios, o plantar obedecendo às fases da lua, como disse
um aluno do terceiro ano do Ensino Médio da EFA Pe. Ezequiel Ramin: “Eu acredito e
respeito as experiências dos meus avós, funcionam mesmo, se eles plantam na lua certa faz
diferença”.
Como pudemos ver no primeiro capítulo o aprendizado com os mais velhos
acontece em todo o contexto da vida, no trabalho, na festa, no social. Para alguns alunos da
escola Pe. Ezequiel Ramin as aulas práticas desenvolvidas na escola são poucas e falta
assistência técnica. Falta “[...] um acompanhamento mais de perto de um agrônomo, pois a
própria produção da escola deixa a desejar e que pode ser resolvida na medida em que se
desprende do papel e volta para a prática”, questiona uma aluna do primeiro ano.
Segundo a análise do segundo capítulo, na Pedagogia da Alternância teoria e
prática caminham juntas. A EFA diz priorizar essa junção em sua prática educativa. Mas eu
pude ver e acompanhar atividades práticas realizadas no dia-a-dia da Escola e pude constatar
que algumas situações, por exemplo, a questão econômica, que, muitas vezes, dificultam a
realização de alguns projetos. Entretanto, ver um jovem fazer este tipo de questionamento,
pode ser uma demonstração de que os resultados são positivos. A escola está formando jovens
pensadores, com uma visão global, como entende Gimonet, já citado.
3.3 Desafios da alternância na formação para o meio
A flexibilidade de adaptação a diferentes processos de produção, a variedade de
fonte de renda e a diversificação de produção na propriedade, tornam o produto camponês
indispensável à economia regional e nacional, e é com essa preocupação que a EFA
desenvolve uma proposta pedagógica, a partir da Pedagogia da Alternância, que se identifica
com os anseios dos camponeses, propondo a possibilidade de que o jovem camponês possa
seguir seus estudos, profissionalizar-se, e ao mesmo tempo contribuir com sua mão-de-obra,
46
indispensável na propriedade para o pleno desenvolvimento dos trabalhos econômicos da
família.
Ser ator de desenvolvimento do meio, consiste então em conduzir uma ação de
desenvolvimento de competências, de atitudes, de comportamentos, para um bem
estar econômico e social melhor das pessoas que vivem neste meio ( FORGEARD,
1999, p. 65).
Diante desse desafio, para que o crescimento na formação do jovem pela
Pedagogia da Alternância aconteça, fazem-se necessários alguns fatores de integração com o
meio onde se vive e um deles se dá com a família e a comunidade. A família é o suporte da
ação educativa. Cada família participa da formação de seu filho/a, através do
acompanhamento dos instrumentos pedagógicos, acompanhando suas experiências, dando
oportunidade para novas técnicas, procurando implantá-las na propriedade, confrontando-as
com as técnicas já existentes, também no coletivo, na associação e assembléia da escola.
Na Escola Pe. Ezequiel Ramin acontece no mês de junho a tradicional festa para
fins lucrativos, realizada no meio do bosque da própria escola, cuidado pelos alunos/as.
Embora a festa seja para auferir lucros para a manutenção da escola, é também um meio para
que as famílias possam se encontrar, divertir, partilhar. Como foi abordado no primeiro
capítulo a festa é um componente fundamental na vida camponesa.
Quem vai à festa tem a possibilidade de aprender que o que se sabe ainda não é
tudo para continuar a viver e a reproduzir as condições de sobrevivência ... a arte
de viver e de compreender a vida que nos envolve está na perfeita integração entre
o velho e o novo (PESSOA, 2005, p.39).
A festa é para a escola um intercâmbio de conhecimento entre o “novo e o velho”
que enriquece a vida familiar/comunitária e a escola. Na busca da realização do objetivo da
EFA a Escola Pe. Ezequiel Ramin se depara com o desafio do confronto entre a produção
orgânica e a produção com insumos químicos. A escola preconiza, defende e até aplica uma
concepção de produção embasada na produção orgânica, mas encontra resistência, pois o
resultado da produção é lento e muitas famílias preferem o tipo de agricultura que está em
47
vigor ao seu redor, uma “agricultura de mercado”, com mais insumos e, portanto, com
resultados mais rápidos. Como fazer uma mudança de comportamento e de vida numa
situação como esta?
O processo de formação da EFA envolve o alternante e a família/comunidade, por
isso o trabalho de conscientização pretendido pela escola é fundamental, mostrando ao
alternante o risco e o perigo do uso dos produtos químicos e seus resultados desastrosos para a
saúde humana e ambiental, embora esse modelo de agricultura venha dando resultados
convincentes. Um aluno da escola, que trabalha numa casa de produtos agropecuários, diz:
Eu faço meu papel de vendedor, mas agora eu sei do risco para a saúde e do valor
alto do preço do produto que é difícil para o camponês comprar, por isso na minha
comunidade passo as receitas alternativas que venho aprendendo aqui e mesmo
vendendo o produto químico arrumo um jeitinho de ensinar para o cliente uma receita
alternativa que beneficia sua vida econômica e também a saúde e o meio ambiente.
Para um pai dói ver o filho saindo da EFA e ir trabalhar de empregado
principalmente em casa de agropecuária. “Eu quero o meu filho agricultor, na roça é o lugar
melhor para si viver”, afirma.
O objetivo da escola é “a formação integral dos jovens” para fomentar o
desenvolvimento rural, pois a Pedagogia da Alternância entre família/comunidade e escola
quer dizer que não aprendemos apenas nas aulas, a vida muito ensina e o saber se constrói em
conjunto.
A EFA com sua Pedagogia da Alternância objetiva orientar os jovens para uma
formação que lhes possibilite viver com dignidade e que possam dar continuidade à vida
camponesa como verdadeiros filhos de camponeses. Por isso prioriza uma formação voltada
para o crescimento humano, intelectual, despertando a manutenção de suas raízes culturais,
visando o aprofundamento e o desenvolvimento da produção na sua propriedade em meio à
sua realidade para que possa fortalecer sua identidade.
A Pedagogia da Alternância é criada com o objetivo de que em tempos e espaços
alternados o jovem tenha condições e acesso à escolaridade e ao conhecimento e
valores familiares e comunitários. Ao alternar períodos na escola e períodos em seu
48
meio de vivência, o jovem pode construir seus conhecimentos no dialogo entre o
saber cotidiano, fomentado na prática e no trabalho que é passado de gerações a
gerações e o saber escolarizado que possibilita a apropriação do conhecimento
historicamente construído e a acesso às técnicas cientificamente comparada
(PINHO, 2009, p. 5).
A Pedagogia da Alternância possibilita o estudo cientifico dos alternantes e ao
mesmo tempo as atividades na propriedade juntamente com seus familiares. São métodos que
permitem uma valorização maior do meio onde se trabalha, estuda-se e se vive. Com isso
possibilita a compreensão da própria realidade bem como as necessidades locais que
envolvem a família e a comunidade. O jovem aprende a ler o mundo do campo para além do
espaço vivido no cotidiano, uma visão globalizada sem perder o horizonte no qual está
focado, visão esta, do cotidiano. É a historia do passado com perspectiva de futuro, pois a
Escola é este espaço de busca de conhecimento, do aprender, porém não é o único lugar em
que a edificação de formação acontece. O processo de edificação do conhecimento é amplo.
“[...] a educação é um processo de formação que acontece durante toda a vida e na vida toda,
em diferentes espaços e tempos” (QUEIROZ, 2004, p. 16).
A Pedagogia da Alternância, desde seu nascimento, tem buscado, além da
educação diferenciada, a formação profissional e integral para o desenvolvimento sustentável
do meio em que vivem seus alunos. É uma educação de processo permanente de construção
cultural que progride na comunidade da qual todos fazem parte.
49
Considerações Finais
O processo de modernização do campo teve grandes avanços com as novas
tecnologias empregadas no setor a partir de meados do século XX. Com isso o camponês vem
sofrendo com a monocultura imposta pelo sistema capitalista. Os camponeses anseiam pela
terra onde possam produzir não só o alimento diversificado, mas, também, pela possibilidade
de conservação do seu modo de vida, com sua cultura, modo de falar, seus costumes e
também pela possibilidade de reprodução enquanto segmento de classe, ou seja, para que
possam ter continuidade na história enquanto modo de vida e de trabalho. E acreditam na
educação escolar diferenciada que possa colaborar nesta construção.
Ao analisar a história da Pedagogia da Alternância pude constatar que desde seu
nascimento na França, ela surgiu para solucionar os problemas enfrentados pelo camponês –
uma proposta pedagógica pela qual o jovem pudesse dar continuidade aos estudos sem deixar
o campo. Por isso a EFA objetiva a formação escolar de jovens que moram e trabalham no
campo, uma Escola que atenda às necessidades da comunidade, da qual todos participam. Os
pais, mesmo sendo muitas vezes analfabetos, têm muito a contribuir com seus conhecimentos
e com sua prática. E com a prática da alternância todos se envolvem, a escola vai ao encontro
da realidade do jovem, participa da sua vida familiar/comunitária e, neste espaço da vida
cotidiana, favorece o ensino teórico escolar.
A própria vida no campo é um processo educativo. Toda realidade vivida no
cotidiano é uma aprendizagem. A prática de aprender olhando os mais velhos realizarem suas
atividades e o jeito de se ir pouco a pouco colocando em prática os conhecimentos adquiridos
é de grande importância na vida de qualquer ser humano. Assim a prática educativa da EFA
faz com que o jovem reflita e incorpore os conhecimentos empíricos assimilados na família,
valorizando e fortalecendo sua identidade. Os alternantes têm a oportunidade de se expor para
a escola como são, e eles são a peça fundamental deste processo de formação.
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  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE EDUCAÇÃO COMISSÃO PASTORAL DA TERRA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇAO EM EDUCAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE CAMPONESA PRÁTICAS EDUCATIVAS EM ALTERNÂNCIA: Valorização ou não do modo de vida camponês (TCC) Denize Monteiro De Lima Goiânia, 2010
  • 2. UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE EDUCAÇÃO COMISSÃO PASTORAL DA TERRA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇAO EM EDUCAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE CAMPONESA PRÁTICAS EDUCATIVAS EM ALTERNÂNCIA: Valorização ou não do modo de vida camponês (TCC) Trabalho apresentado à CPT e FE/UFG como parte dos requisitos para a conclusão do curso Educação e Diversidade Camponesa. Orientador: Prof. Dr. Jadir de Morais Pessoa Denize Monteiro De Lima Goiânia, 2010
  • 3. UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE EDUCAÇÃO COMISSÃO PASTORAL DA TERRA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇAO EM EDUCAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE CAMPONESA Monografia apresentada e avaliada pela banca examinadora em _____ / _____ / _____, como o requisito para obtenção do título de Extensão em Educação e Diversidade Camponesa pela Faculdade de Educação– UFG. ____________________________________ Orientador: Prof. Dr. Jadir de Morais Pessoa ____________________________________ Debatedor: Denize Monteiro De Lima Goiânia, 2010
  • 4. Dedico este trabalho ao meu esposo Aparecido, pelo amor, respeito e compreensão nesta caminhada. Dedico também aos camponeses que acreditam e lutam pela valorização do seu modo de vida.
  • 5. AGRADECIMENTOS A Deus pelo dom da vida. À minha família sempre tão amorosa e por sua compreensão no decorrer desta trajetória. À Comissão Pastoral da Terra pela oportunidade que me concedeu de realizar este curso. A João Damásio e demais amigos/as que, nesta caminhada, ouviram com paciência meus desabafos e com carinho me animaram. A meu orientador Professor Jadir Pessoa pelo carinho, dedicação, compreensão que, de forma imensurável, conduziu este trabalho que tanto ajudou para o meu crescimento, compreensão e valorização da minha própria identidade.
  • 6. Sumário Introdução 7 1. Modos de vida camponesa 10 1.1 A vida social camponesa 11 1.2 Mundo econômico camponês 13 1.3 O camponês e a política 16 1.4 Religiosidade camponesa 18 2. Pedagogia da Alternância 23 2.1 Conceituação da EFA 25 2.2 Pedagogia da Alternância: uma proposta inovadora 28 2.3 Instrumentos Pedagógicos 32 3. Contribuição da Pedagogia da Alternância no modo de vida camponês 40 3.1 Um olhar de fora para dentro do ensino aprendizagem da EFA 41 3.2 Teoria e prática: aprendendo e ensinando 43 3.3 Desafios da alternância na formação para o meio 46 Considerações Finais 50 Referências 53
  • 7. INTRODUÇÃO O presente trabalho aborda o modo de vida camponês, a Escola Família Agrícola (EFA), com sua prática pedagógica denominada Pedagogia da Alternância e seus instrumentos metodológicos, analisando sua contribuição na vida dos trabalhadores rurais. A partir do meu trabalho voluntário na Comissão Pastoral da Terra (CPT), em uma conversa com um pai de aluno da EFA tive conhecimento de sua existência e me interessei pelo trabalho realizado na escola, especialmente por sua metodologia. Vendo e vivendo a realidade dos camponeses busquei conhecer esta prática educativa desenvolvida pela EFA, com o objetivo de verificar se de fato esta metodologia de educação escolar de populações rurais contribui para a preservação do modo de vida camponês. O modo de produção capitalista, como espero poder explicitar, dificulta a reprodução camponesa. Apesar disso, dentro do seu espaço, trabalhadores e trabalhadoras rurais tentam manter suas tradições, através da produção, das festas, do jeito simples e humilde de cultivar o seu modo de vida e de trabalho, valorizando a vida no campo com qualidades e potencialidades; fortalecendo sua identidade para que não percam suas raízes. Oliveira (2001), falando do profundo respeito que se deve ter para com a força da tradição nos estudos camponeses, diz que “[...] quando o mundo camponês é ameaçado pela sociedade mais ampla, o que está realmente em jogo é a sua própria existência”, existência esta sempre dificultada pelo êxodo rural, pela falta de assistência – médico-hospitalar, produtiva, habitacional etc. –, pela falta de políticas públicas que deem condição para que o camponês possa permanecer na terra. Em meio à luta pela manutenção de suas condições de existência, os camponeses buscam também uma educação diferenciada, que possa contribuir na sua reprodução, garantindo uma vida digna e que os jovens não se deixem pressionar pelas atrações da cidade. É que hoje muitos deles até têm vergonha de ser camponeses. Essa educação diferenciada é o que a EFA pretende desenvolver, ou seja, pretende ter um papel fundamental no contexto social onde estão implantadas suas atividades, sempre
  • 8. 7 voltadas para a valorização do campo, respeitando o conhecimento existente no meio e formando jovens verdadeiramente atores no processo de desenvolvimento do meio local, mas também global. A Pedagogia da Alternância é para que o jovem tenha a possibilidade de vivenciar, num processo alternado, a vida familiar e escolar, e é neste processo alternado que ocorre toda a realização educativa, pois “A própria vida do campo é um processo de educação. Toda a realidade se apresentava como processo educativo. Tudo se aprende e tudo se ensina” (NASCIMENTO, 2007, p. 183). Não é um saber livresco, com lousa, giz, professor/a ou estrutura em prédio, é um saber cotidiano situado e relacional. “Tudo o que é importante para a comunidade, e existe como algum tipo de saber, existe também como algum modo de ensinar” (Brandão, Apud PESSOA, 2007, p. 33). A Pedagogia da Alternância é uma proposta educacional que respeita, valoriza a pessoa e o meio onde se vive, com seus costumes, tradições, e esta proposta educativa procura relacionar o processo de formação escolar com as atividades na propriedade rural, ou seja, construir o conhecimento do jovem, interagindo escola-familia-comunidade. E é justamente isso que buscam os trabalhadores rurais que procuram uma EFA, pois querem uma formação que reforça o modo de vida camponesa, na permanência dos filhos no campo dando continuidade à sua reprodução. A EFA escolhida para este estudo é a EFA Pe. Ezequiel Ramin, localizada na linha 10, km 04, no município de Cacoal no estado de Rondônia. Ela foi fundada em 1989 por Movimentos Sociais, CPT, CEBs, Paróquia de Cacoal, Associações e por pais agricultores que queriam que os filhos pudessem prosseguir os estudos, já que não tinham condição de mantê-los numa escola convencional, e queriam um estudo voltado para a realidade do campo para continuarem com o vinculo com a terra. A Escola desenvolve o Ensino Fundamental e Ensino Médio. No procedimento do trabalho de pesquisa, em visita à escola, conversei com alternantes, pais, diretores, monitores, acompanhando as atividades desenvolvidas na Escola, observando a metodologia por ela adotada. No referencial teórico ressalto principalmente Pessoa (2005; 2007) e Gimonet (2007), para a análise dos materiais e dos instrumentos pedagógicos de alunos, disponíveis na EFA pesquisada.
  • 9. 8 Vale explicar também que quando me refiro a camponês, camponeses, trabalhadores rurais e filhos de camponeses estou tratando de uma categoria social que comporta homens e mulheres e não apenas de um sujeito social do sexo masculino. Assinalar, a cada vez que esses termos aparecem, os gêneros masculino e feminino, como impõe o modismo atual, não apenas faria o texto perder essa força política – uma categoria social buscando se reproduzir e preservar seu modo de vida – como tornaria também o texto muito engessado. Preferi não fazer isso. O capítulo primeiro aborda os modos de vida camponesa dentro do contexto social, político, econômico e religioso. Diante das mudanças, com o avanço da tecnologia, o campo passa por umas transformações, porém, o camponês tenta, em meio a essas modificações, preservar o seu modo de vida e de trabalho, ao viver a sociabilidade em meio à sua comunidade, na sua forma de produção diversificada, na sua maneira de festejar, cultivando suas tradições e também incorporando novas formas de festividade urbano/rural, na sua vida política, buscando alternativas de melhoras que deem condições para a permanência na terra. O segundo capítulo apresenta uma EFA que surgiu para atender às necessidades do meio rural, com sua metodologia voltada para a realidade local. A pedagogia por ela empregada, denominada Pedagogia Alternância busca conciliar estudo-trabalho, possibilitando que o aluno aprenda novas técnicas que possam ser úteis para atividade e os instrumentos pedagógicos adotados pela escola no processo de formação. O terceiro capítulo apresenta a pesquisa de campo realizada na EFA Pe. Ezequiel Ramin e a análise da contribuição da Pedagogia da Alternância nos modo de vida camponês. Todo processo de formação nos faz pensar, questionar, rever as próprias idéias. Este trabalho veio reforçar minha própria identidade, fazendo compreender melhor e valorizar minha vida de camponesa, minhas tradições, meus costumes e modo de falar. A EFA, a cada dia luta pela formação integral – família/comunidade – do alternante, para o crescimento do conhecimento do seu meio, contribuindo na dimensão política, social, econômica e cultural da vida camponesa.
  • 10. 9 Capítulo I Modo de vida camponês Desde a época da colonização do Brasil pelos Portugueses em 1500, a forma como se deu a distribuição da terra foi a mais equivocada possível, gerando assim o Grande Latifúndio sem limites, que vigora até os dias de hoje. As Capitanias Hereditárias, entregues aos primeiros colonizadores portugueses, geraram o que chamamos de acúmulo desnecessário, concentração. Essa idéia de quanto mais, melhor, ganhou força e persiste até os dias atuais. Só assim entendemos o porquê de não termos tido ainda uma reforma agrária descente. Em seu lugar, destruição das comunidades locais, trabalho escravo forçado e o pior, o extermínio das tribos indígenas existentes, quando estas não atendiam o chamado dos “seus” patrões. É por isso que os filhos dos camponeses vivem lutando por um pedaço de terra para tirarem dela o seu sustento. Não estamos falando do sistema de produção da época, o das Sesmarias, de acordo com o qual, parte da produção ia para o colonizador, o que não é nada diferente nos dias atuais. Falar de questão agrária significa falar dos conflitos relativos à propriedade da terra, mas também, de todo um conjunto de problemas que envolvem tanto a dinâmica da produção agropecuária quanto os movimentos de resistência, concebidos como inerentes às relações capitalistas de produção (PESSOA, 2007, p. 17). E, desde os anos 1940, a questão agrária continua não sendo levada a sério pelo Estado brasileiro. Os camponeses buscam na reforma agrária a posse e o direito de plantar e colher, no intuito de se ter uma vida abundante, garantindo assim sua base alimentar (arroz, feijão, milho, abóbora, porco, galinha), seus costumes (jeito simples de ser) e suas tradições (festas juninas, de Santos Reis etc.). O Estado responde, no máximo, com arremedos de política agrícola.
  • 11. 10 A luta dos camponeses tem como desejo um pedaço de terra, pois, o intuito é o de melhorias na qualidade de vida de toda a família; o direito à posse da terra para que tenha condições de moradia e cultivo, um modo de vida e de trabalho digno. “A moradia (casa- domícilio-família) é a base da organização do trabalho e da produção, é através dela que se dá o direito à terra” (OLIVEIRA, 2001), sendo que a terra de cultivo e morada visa à valorização do trabalho e o modo de vida camponês, buscando autonomia que é uma objeção ao mercado capitalista que quer (tem) o controle da produção camponesa. 1.1 A Vida Social Camponesa É costume se ouvir por aí em canções, versos e até poesias, algo sobre a vida camponesa, sobre o seu jeito simples de viver, mas só quem fizer a experiência de estar no dia-a-dia para pode entender como se dá esta vida em seu contexto social, religioso, político e cultural. O modo de vida camponês está no seu jeito de viver, nos hábitos alimentares, nos inúmeros pratos típicos, troca e empréstimo de ferramenta e de sementes de produção; está no lazer, nas brincadeiras, esportes e danças; está nas tradições das festas religiosas e populares, festa de aniversario, na mística, tudo isso é a expressão do seu viver que manifesta no seu cotidiano. A comunidade camponesa é fundamental para a sociabilidade, pois é o lugar onde que se conhece e se aprende a liberdade, responsabilidade e diálogo. A comunidade camponesa é um elemento central no modo de vida camponês. Destruir suas comunidades é destruí-lo por inteiro. Na comunidade há o espaço da festa, do jogo, da religiosidade, do esporte, da organização, da solução dos conflitos, das expressões culturais, das datas significativas, do aprendizado comum, da troca de experiências, da expressão da diversidade, da política e da gestão do poder, da celebração da vida (aniversários) e da convivência com a morte (ritualidade dos funerais). Tudo adquire significado e todos têm importância na comunidade camponesa (GÖRGEN, 2005, p. 13). No dia-a-dia da comunidade o camponês expressa com liberdade o seu modo de vida, seu modo de falar, seus costumes, hábitos, fortalecendo suas raízes culturais. A
  • 12. 11 sociabilidade camponesa acontece na família com o partilhar das alegrias e das tristezas, dos projetos, dos sonhos a serem conquistados, e se estende na vida da comunidade por meio das festas tradicionais, religiosas e não religiosas, nas quais se cria, além de um espaço festivo, também um espaço de partilha da vida, praticamente em todos os aspectos, especialmente no compadrio, pelo qual se fortalecem os vínculos do ser camponês: a festa de aniversário, a visita informal a um vizinho para se contar causos, falar da vida do campo e até mesmo fazer um pequeno negócio, como a compra de um porquinho, vaquinha, um balaio de milho; falar dos acontecimentos cotidianos, dos sonhos, inseguranças e esperança no futuro e assim por diante. E esta mesma amizade entre vizinhos e compadres é aprendida e fortalecida pela criançada. No campo de futebol famílias de diversas comunidades se encontram, formando quase que uma só. É evidente que tudo isso tem sofrido mudanças com a chegada das tecnologias de comunicação, especialmente a televisão, dificultando estas práticas e interferindo nos hábitos e costumes. Mas nem tudo se desfez por completo. Não é mais muito freqüente nos dias de hoje, mas ainda se fazem presentes na vida dos camponeses, os mutirões, tanto para carpir a roça, para a plantação e colheita da lavoura, como também para a construção de uma casa, de uma cerca, para matar um boi, porco, fazer pamonha etc., e, no fim do dia de trabalho, o cansaço se confunde com a alegria da festa. E, por incrível que pareça, até mesmo em um velório, que apesar da dor, o sentimento de respeito pelos familiares cria a solidariedade no momento de perda. Todos estão prontos para ajudar no que for possível. Neste universo social se pode ver o exercício de importantes ofícios, como: do castrador de animal, da benzedeira, do ferreiro, do contador de causo, do embaixador de folia de reis, do berranteiro, do sapateiro etc., a serviço da comunidade. Para o educador Miguel Arroyo (Apud PESSOA, 2005, p. 59), Os ofícios se referem a um coletivo de trabalhadores qualificados, os mestres de um ofício que só eles sabem fazer, que lhes pertence, porque aprenderam seus segredos, seus saberes e suas artes. Uma identidade respeitada, reconhecida socialmente, de traços bem definidos. Os mestres de ofício carregam o orgulho de sua maestria. O ofício não tem um manual, uma fórmula. O aprendizado acontece através do olhar atento de quem o acompanha. O exercício de um ofício é também o resultado de um
  • 13. 12 processo de ensinar e aprender mediante as ações desejadas e a reprodução dos sujeitos sociais no tempo. O exercício de um ofício ou a sua demanda pelos vizinhos possibilita também a sociaciabilidade dos sujeitos no mundo camponês, onde se relacionam, interagem, buscando tanto a solução dos seus problemas quanto a “folga” – o lazer, o descanso, a festa – fazendo acontecer o fortalecimento da comunidade local, apesar das dificuldades no dia-a-dia. Nesse jeito simples e humilde de se relacionarem, os sujeitos camponeses fortalecem sua identidade. 1.2 Mundo Econômico Camponês Devido à concentração de riquezas nas mãos de grandes grupos econômicos e à chegada da mecanização, da industrialização, do uso das sementes híbridas, dos agrotóxicos, dos adubos químicos, intensificou-se o processo de mudanças de hábitos das pessoas praticantes de uma agricultura voltada para o cuidado com a terra, sem afetar de forma tão drástica o meio ambiente, quando utilizavam-se sementes crioulas. Assim sendo, a monocultura vem gradativamente destruindo o meio ambiente e, ao mesmo tempo, levando os camponeses a modificarem seus modos de vida e de trabalho, seus costumes, seus valores, seus hábitos, suas tradições. Com a ideologia do mercado, da industrialização, o “progresso” levou fortemente ao êxodo rural, e com ele veio o enfraquecimento das comunidades camponesas. Com o avanço do sistema capitalista e as novas tecnologias produtivas, as comunidades camponesas passaram por um processo de modificação, a prática de se ir para a roça levando instrumentos de pesca ou de caça, que era uma forma de se integrar trabalho e lazer, ficou esquecida. Para Antônio Cândido (1979, p.174), “Caça sobretudo é defesa das roças e divertimento praticado nas horas vagas; acessoriamente, complemento da dieta. A nova escala de valores, pautada pelo contacto com os padrões urbanos, dissociou-a do trabalho.” E os camponeses, embora com dificuldades, procuram adaptar-se às novas formas de vida e de trabalho. Nem sempre necessitam de uma quantidade grande de terra para viver e sobreviver. Podemos dizer que isso é um dos elementos que os distinguem do latifúndário,
  • 14. 13 mesmo porque não se produz apenas pensando no mercado. Pelo contrario, a razão principal de uma produção camponesa é o sustento familiar; a menos que esteja em débito com agências financiadoras, como por exemplo, financiamento feito junto a bancos no intuito de melhorar suas condições de trabalho. O que não pode faltar na comunidade camponesa é a vida coletiva, na qual desenvolvem suas atividades. Enquanto a empresa capitalista age visando ao crescimento na produção, levando em conta o “valor de troca”, o camponês pensa na terra e na produção como “valor de uso” (IANNI, 1988, p. 106), pensa no significado das coisas, dos elementos que compõem seus valores culturais e étnicos como a relação com os animais (cabrito, boi, galinha, porcos etc.) que venham a morrer, ou o carro de bois, o arado e outras ferramentas não mais utilizadas, mas das quais não se desfaz, pois para ele o que conta é o valor sentimental. O mesmo acontece em relação à terra, que muitas vezes é de herança. Na concepção camponesa há sempre “a terra como dom da natureza ou de Deus” (OLIVEIRA, 2001). A terra como direito, herança de pai para filho e assim sucessivamente. Terra como espaço, lugar da produção, da vida, do cultivo, dos costumes, das tradições. O camponês ainda nos dias de hoje prioriza o “valor de uso”, opondo-se ao monopólio do capital, porque sua inquietação é com o seu modo de vida e de trabalho. Nas transformações surgidas com o desenvolvimento histórico, o camponês vivencia um processo de mudança que interfere tanto na questão familiar, como também na econômica, devido à imposição do mercado no sistema capitalista. Diante desse mundo em transformação, o campesinato tem que ser entendido em seus aspectos internos e externos, e na diversidade de suas formas de existência, para que se possa dar conta do significado de sua prática social e de sua linguagem do ponto de vista cognoscente (OLIVEIRA, 2001). Porém, alguns agricultores/as procuram preservar o seu modo de vida camponês ao consumir o que produzem como: hortaliças, frutas, entre outras, sem se deixar levar pela pressão comercial da propaganda das indústrias. Deixam de comprar mercadoria industrializada, mesmo sendo mais bonita, moderna, utilizando produtos com segurança de qualidade alimentar, de sua própria produção.
  • 15. 14 O que diferencia a economia camponesa é o seu modo diversificado de produção, ou seja, ao produzir a carne, feijão, arroz, milho, alface, batata doce, ovos, amendoim, açúcar mascavo e outros, acaba valorizando o trabalho e sua remuneração, pois, com isso, evita comprar tais produtos no mercado. A isso se dá o nome de “pluriatividade”. Há famílias que, além da produção agrícola, que garante uma parte do seu sustento, contam também com a renda da aposentadoria de um dos cônjuges. Ou seja, para acontecer a reprodução camponesa, freqüentemente têm que lançar mão de rendimentos externos à produção agrícola ou ao criatório de animais. No processo histórico das modificações na vida do campesinato, a chegada de novas tecnologias, permitiu a modificação do trabalho nas atividades agrícolas, no lazer e nas novas formas de ruralidades, pelas quais vão se fazendo presentes, tanto no rural quanto no urbano. Pesquisas em países desenvolvidos têm demonstrado dois fatos relevantes: a rápida adaptação do agricultor familiar ao processo de modernização, com técnicas avançadas e a contribuição da cultura do agricultor familiar (farming culture) na formulação de respostas à crise do modelo produtivista, como a pruriatividade (CARNEIRO, 1998, p. 54). A vida de pessoas que moram no sitio, mas que garantem o sustento da família trabalhando na cidade como funcionário público ou no próprio negócio, cada vez mais vem aumentando. Há também as pessoas que vivem na cidade e que garantem o sustento da família com a produção no campo. Isso favorece o aumento das relações sociais e o envolvimento do urbano com o rural, incluindo-se as festas, [...] promovendo a integração do ethos urbano ao ethos rural pela inversão das posições sociais, permitindo que “pessoas da cidade” se divirtam com as brincadeiras “camponesas”, jocosas e rústicas, e que os agricultores subam ao palco como atores do espetáculo (CARNEIRO, 1998, p. 64). Em meio à diversidade de produção da cultura camponesa está um modo de viver cheio de saberes, sentimentos, significados, e pode ser encontrada na comunidade camponesa
  • 16. 15 uma agricultura que contribui para o desenvolvimento rural sustentável, de forma harmônica com a natureza, podendo ser desenvolvida individual ou coletivamente, através de mutirão e da diversificação de culturas, que são marcos da vida comunitária camponesa. Para que isso se dê é fundamental o respeito aos córregos e rios com suas respectivas nascentes. Evidentemente, não dá para negar que, em muitos casos, isso está mais no ideário da agricultura familiar, desenvolvido pelas entidades de mediação, como MST, CPT e FETAGs, mas não necessariamente nas práticas dos agricultores/as, ou, pelo menos, não está na prática de todos os agricultores/as. É possível encontrar lotes em assentamentos ou pequenas propriedades de agricultores/as em que os córregos e nascentes não têm manejo adequado. A agricultura é um meio em que o homem e a mulher procuram espaço para se desenvolver, no trabalho, na educação e na cultura, na valorização dos saberes já existentes na própria experiência vivenciada, embora, por uma questão de sobrevivência, tenham que incorporar novas “tecnologias produtivas” que deem resultados positivos e contribuam com a renda familiar. Os camponeses têm formas diferentes de viver e produzir. Alguns vivem do leite, mas não fazem disso uma monocultura, pois cultivam outras plantações como: pomar, horta, como também na criação de aves e suínos. Outros vivem do plantio de lavoura, como urucum, arroz, feijão, amendoim, café etc. Há também aqueles que fizeram do sitio uma forma de lazer, com rios, represa para a pesca, bosque para descanso e contato com a natureza. Alguns vivem na cidade, mas cultivam o sitio para passar fins de semana com a família. Também há aqueles camponeses que, para estudar os filhos, migram para a cidade, mas continuam todos os dias indo trabalhar no sitio. Como diz Roberto Moreira (2005, p. 19), “A possibilidade de existência de uma identidade requer a existência de outras identidades”. Ou seja, a existência do individuo se constitui na relação social, por isso a identidade rural requer existência do não rural. O camponês tenta planejar economicamente sua vida de acordo com o futuro da reprodução camponesa, e muitas vezes, por falta de condições no sitio como, por exemplo, a escola para os filhos, é preciso se submeter à mudança, o que dificulta a conservação das raízes culturais. Para muitos isso é sem sombra de dúvida uma preocupação.
  • 17. 16 1.3 O Camponês e a Política No que diz respeito ao mundo da política, a maioria dos camponeses não está preocupada com partido A ou B, mas, sim, com aquele prefeito ou vereador que o ajudou de imediato num momento em que ele precisou. Não se dá conta de que os papéis de prefeito e de vereador (executivo/legislativo) são obrigações para com o povo, para com a comunidade, para com o município e não favores pessoais como levar um filho ao médico, dar uma cesta básica. É visível que muitos camponeses ainda não conseguem fazer a leitura da realidade, que estão sendo usados por interesses particulares. Por outro lado, quando os camponeses participam ativamente da vida do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, da Associação de Trabalhadores Rurais, da vida da comunidade, da vida da escola, através de reuniões, encontros, seminários, a vida política é outra e assim eles não se deixam enganar e questionam muitas situações. Esse processo participativo na formação dos camponeses, contribui para a transformação das práticas cotidianas em que se envolvem. O camponês não se preocupa em conquistar o poder estatal. Às vezes até representa um obstáculo no desenvolvimento do capitalismo no campo. Segundo Ianni o camponês não é revolucionário porque não está preocupado com um projeto de sociedade nacional. O camponês pensa no seu modo de vida e de trabalho dando a primazia ao “valor de uso” sobre o “valor de troca”, recusando-se a tratar a terra como mera mercadoria. “Nem sempre o camponês está pensando a reforma agrária, que aparece nos programas, discursos e lutas dos partidos políticos, na maioria dos casos de base urbana. Pensa a posse e o uso da terra na qual vive ou vivia” (IANNI, 1998, p.102). Como o poder político não resolve a questão agrária, os camponeses, nas lutas sociais reivindicam a posse e o uso da terra que garantam o seu modo de vida e trabalho na terra onde vive ou vivia, na qual possa criar e recriar o seu modo de vida, cultivar seus costumes culturais, sua maneira de plantar para a subsistência, suas histórias, seu modo de falar etc. O desenvolvimento das relações capitalistas implica uma revolução agrária, pois o desenvolvimento extensivo e intensivo do capitalismo no campo combina processos estruturais que ocorrem simultaneamente com a revolução. Citando Marx, Ianni diz que “A produção capitalista somente sabe desenvolver a técnica e a combinação do processo social de
  • 18. 17 produção minando, ao mesmo tempo, as duas fontes originais de toda riqueza: a terra e o homem” (p. 103-104). É ingênuo pensar que somente a conquista da terra é suficiente. Como diz João Pedro Stédile (Apud PESSOA, 2007, p. 21): “Só a terra não é suficiente”, tem que criar condições (políticas publicas, políticas agrícolas) para que o trabalhador/a rural permaneça na terra. Ou seja, é necessário intensificar a luta pelo acesso à terra e a luta por uma reestruturação político-econômica e cultural do país. A questão agrária envolve um conjunto de fatores, além da dinâmica da produção agropecuária, segundo a qual, a propriedade da terra está concentrada na estrutura fundiária de exclusão do camponês. Ela compreende também os movimentos de resistência e de luta pela reforma agrária concebidos como inerentes às relações capitalistas de produção. A luta dos trabalhadores rurais precisa ser em direção à mudança das estruturas econômicas, mas também da mentalidade, pois o acesso à terra deve garantir a recuperação do seu modo de vida; que a volta ao campo, de quem, por necessidade, migrara para a cidade, possa significar melhora no padrão de vida e também recuperação dos seus valores culturais, de sua historia, de sua religiosidade e de suas festas. Para o MST, (Apud PESSOA, 2007, p. 29), “[...] uma nação é soberana quando ela tem alimentação suficiente para todo o povo comer e ainda estoque por vários anos”. Pessoa acrescenta: [...] uma nação é soberana também quando é capaz de respeitar as diferenças no meio do seu povo, de incentivar as festas populares, de respeitar quem gosta de plantar observando as fases da lua e, enfim, de respeitar todos os importantes saberes que os homens e mulheres do campo produzem e trocam enquanto observam o comportamento dos animais e das plantas (PESSOA, 2007). 1.4 Religiosidade Camponesa A festividade religiosa camponesa é sempre marcada pelo coletivo, no qual a comunidade se reúne para viver momentos de alegria; de troca não só de bens, mas de afeto, símbolos, significados, estima, e isso acontece através da música, do canto, da dança, das fantasias, das roupas e das dramatizações nas festas do padroeiro/a, festas juninas, batismo de
  • 19. 18 fogueira, quadrilhas, Páscoa, Natal, Reis, da reza do terço, da missa, da romaria e outros momentos de fé inabalável dos camponeses. Faz-se festa por vários motivos: para acolher o chegante, celebrar os momentos fortes da vida familiar, celebrar a colheita, lembrar datas coletivas, comemorar a vitoria do candidato nas eleições e as conquistas na escola. E quando não se tem um motivo inventa-se. O camponês é sempre exaltado mostrando a sua produção de alimentos, o apego ao trabalho e à terra. “A festa não é só ocasião de descanso, é motivo de aprendizado, de reconstituição ou fortalecimento de laços sociais” (PESSOA, 2005, p. 32). As crianças aprendem com os mais velhos a organizarem sua existência, suas crenças, sua sociabilidade, a interação, afinal, mesmo os mais velhos estão sempre aprendendo na festa, ainda que seja a conviver com as contradições e conflitos presentes na festa. A festa do Padroeiro da comunidade é um momento de partilha, de alegria, de reza. Existem comunidades que fazem festa para fins lucrativos, mas que não deixam de ser um momento de alegria, de diversão e de encontro. Outras que fazem momentos de confraternização como é o caso da comunidade Nossa Senhora das Neves, localizada na linha 6, no município de Cerejeiras-RO. No dia 05 de agosto os participantes se reúnem no primeiro momento para celebração do culto, e depois para a confraternização dos “comes e bebes” que são levados por eles, e passam o dia nesta alegria partilhando os acontecimentos do cotidiano da vida. E é assim também em outras comunidades. O mês de junho é marcado pelas festas Juninas. É tempo de alegria, bandeirolas, danças, comida e bebida típica da época: amendoim, gengibre, abóbora, batata-doce, milho verde, milho-de-pipoca, muito quentão etc. Rezas do terço ao Santo, fogueira e mastro enfeitado de frutos, flores e fitas, simpatia principalmente na véspera de Santo Antonio, moças e rapazes que querem arrumar casamento e muitas brincadeiras como as de rodas e o pau-de-sebo. O passar sobre as brasas da fogueira após a meia noite, para muitos é gesto de fé, para outros, cura de alguma enfermidade etc. A tradição do batismo de fogueira, que era tratado com muito respeito e de grande valor para as relações sociais camponesa, a instituição do compadrio. Até o casamento na fogueira era válido em algumas regiões de maior isolamento e era assumido como sacramento
  • 20. 19 até 1912, e se legitimava com a presença de algum missionário em desobriga, segundo Cascudo (Apud PESSOA, 2005, p. 27). A dança da quadrilha é momento de os camponeses viverem o próprio personagem de forma bem descontraída, embora a maioria dos folcloristas entende essa representação como uma exploração do caipira, da sua condição de pobreza e humildade de gente da roça. Pessoa (2005, p. 28) também concorda com essa repulsa ao caipira como personagem grotesco, mas diz que é preciso se ir além dela e, numa análise antropológica, indagar quanto aos significados mais profundos dessa representação. E arremata: É uma representação do caipira que, em graus diversificados, ainda está dentro de cada um de nós. [...] Mas os códigos preestabelecidos da vida urbana nos constrangem, impedem-nos de deixar que sejamos em mais dias durante o ano, um típico caipira – no falar, no vestir etc. [...] Então, em vez de explorado nas nossas brincadeiras, o homem do campo, sábio no seu conhecimento profundo de todas as formas de vida e religiosamente integrado á fecundidade das plantas e dos animais, está é gritando, suplicando para não morrer dentro de nós. Com a urbanização e industrialização as práticas rituais ficaram esquecidas, ou foram transformadas, adequando-se à mudança na qual as festas perderam sua gratuidade, tornando-se festas de arrecadação de fundos, que ainda hoje são motivo de repúdio e polêmica, mas o camponês, mesmo passando pelo processo de urbanização e industrialização, mostra, através da festa, que tem seu valor, e que não pode perder sua capacidade de brincar, de sorrir, de criar suas fantasias. O Natal para o camponês não é um natal de shopping, de fantasias comerciais. Quando chega o natal, os camponeses se preparam na arrumação da casa, na preparação de alimentos para receber os parentes, compadres e comadres, amigos que estão distante e lhes vêm visitar. Assim podemos fazer uma ligação entre a espera do nascimento de Jesus, celebrado pelos cristãos, e este jeito humilde dos camponeses na espera de alguém. A folia de Reis, que normalmente ocorre do dia 25 de dezembro, dia do nascimento de Jesus, ao dia 06 de janeiro, dia dos Reis Magos, grupos de pessoas de vida simples e humilde que vão de casa em casa, tocam violas, violões, caixas, pandeiros; que têm na roupa uma fita e pessoas que se vestem de palhaço ou mascarado, que vão anunciando o
  • 21. 20 nascimento de Jesus, narrativa exclusiva dos evangelhos de Mateus e de Lucas. A Folia de Reis interage na vida das pessoas revivendo com elas a devoção aos três viajantes da Estrela. O rito recria o conhecido e renova a tradição, recria em cada giro (como os foliões denominam o percurso feito de casa em casa) a ação de dar, receber e retribuir dádivas materiais e espirituais. A festa é um grande mutirão, no qual as pessoas participam com muita alegria dos preparativos. Até mesmo as crianças participam desta preparação, fazendo acontecer a reprodução educativa popular. A festa é momento de partilha, uma celebração coletiva no jeito simples da vida cotidiana do camponês. Cada objeto, símbolo, olhar, música, dança, tem significados que podem ser compreendidos com olhar sábio, no todo de sua cultura e sabedoria. E o olhar de quem contempla a festa é sempre um olhar a um só tempo aprendente e ensinante: desvela para si os muitos sentidos da festa e os revela aos outros, na proporção direta da sua sensibilidade para captar esses mesmos sentidos (PESSOA, 2005, p. 34). Com este olhar as pessoas podem perceber que a festa dos Santos Reis é para todos que chegam e participam sem pedir licença. Pode conversar com o grupo de foliões, pode perceber através da conversa com o mestre que é uma tradição passada de pais para filhos e que o seu desejo é que esta tradição continue, dando seqüência à memória dos acontecimentos do nascimento de Jesus. A Páscoa, a ressurreição de Jesus é outro momento muito forte na vida da comunidade camponesa. É tempo forte de oração, jejum e penitência, de conversão para os cristãos, é também momento de alegria ao celebrar o Sábado Santo com o baile da aleluia, muita música, dança e o que não pode faltar nas festas camponesas, “muita comida”. Também se diverte bastante com a malhação de Judas no sentido de que, no meio da comunidade, não há espaço para pessoas que traem a confiança e a esperança do povo. A cultura pode ser compreendida como forma de sentir, pensar, agir de uma comunidade e sociedade, abrangendo os modos de ser e fazer, as crenças, os saberes, os valores, hábitos, os costumes, os conceitos de natureza.
  • 22. 21 [...] a cultura é e está tanto nos atos e nos fatos através dos quais nós nos apropriamos do mundo natural e o transformamos em um mundo humano, quando está nos gestos e nos feitos com que nos criamos a nós próprios, ao passarmos – em cada indivíduo, em um grupo humano ou em toda a nossa espécie – de organismos biológicos a sujeitos sociais, ao criarmos socialmente os nossos próprios mundos e ao dotá-los e a nós próprios de algum sentido (BRANDÃO, 2007). A cultura não está objetivamente fora de nós, em nosso mundo social da vida cotidiana. Ela não nasce de livros ou de escola, mas do cotidiano de uma vivência prática de trabalho de homens e mulheres no tempo em que produzem suas atividades de sobrevivência na dança, no lazer, no trabalho, na festa, na igreja etc., independentemente da posição social do individuo. [...] a cultura popular não tem lugar, não tem tempo nem um agente exclusivo encarregado de fazê-la acontecer. Ela acontece em vários lugares, com recurso ou sem recurso, com formação ou sem formação, com platéia ou sem platéia. Ela acontece onde acontece o pulsar da vida do povo (PESSOA, 2005, p. 8-9). A materialização da cultura está nos gestos, nos olhares, nas formas de representar os objetos construídos que são portadores de significados. Num ritual primitivo, numa fogueira no meio da aldeia, na dança dos negros na senzala, exprime os sentidos do viver em cada uma destas e tantas outras condições que a história apresenta aos grupos humanos. Através do trabalho mais ameno, das danças, da culinária, do artesanato, dos objetos simbólicos e outros, a cultura popular é também socialização das novas gerações, pois somos uma espécie única capaz de criar o nosso próprio modo de vida, nossos valores e costumes.
  • 23. 22 Capítulo II Pedagogia da Alternância Quando falamos da educação, logo somos remetidos à estrutura física da escola e aos professores, com uma metodologia que, na maioria das vezes, despreza o conhecimento empírico que cada um trás consigo e que são valores que precisam ser preservados, respeitados e cultivados. A educação vai além da teoria, é uma troca de conhecimento que, quando realizada na prática, facilita o aprendizado. Educar é ampliar valores da própria comunidade, sejam eles culturais ou econômicos, de modo que se torne prazeroso manter viva a história, fazendo com que tenhamos gosto por aquilo que fazemos e nos estimulemos a buscar cada vez mais. Todo conhecimento se produz a partir da curiosidade, das dúvidas, dos problemas, e é isso que nos leva a um desafio e ao mesmo tempo a buscar sua superação. “A educação, implica uma busca realizada por um sujeito que é o homem. O homem deve ser o sujeito de sua própria educação. Não pode ser objeto dela” (FREIRE, 1999, p.33). Dentre as diversas dificuldades encontradas pelo camponês está a educação dos filhos como um todo. Não existe uma política voltada para a Educação das populações rurais. Na história brasileira sempre foi negada aos povos do campo uma educação escolar a partir das suas necessidades e desafios, bem como uma educação escolar que contribuísse para superação da concentração da terra, do poder e do saber (QUEIROZ, 2004, p.17). Por falta de um sistema educacional adequado às especificidade do campo pode se ver que há um número maior de analfabetos no campo do que na cidade.
  • 24. 23 Tabela Nº 01: Taxa de analfabetismo no Brasil, TOTAL e por GRUPOS DE IDADE População Urbana População Rural Grupos de Idade 1980 1990 2000 1980 1990 2000 TOTAL 16,80 14,19 10,25 46,21 40,53 29,79 30 a 34 anos 13,39 8,97 6,70 44,22 33,91 25,21 60 a 64 anos 34,72 29,96 23,74 67,31 61,92 51,74 Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1980/2000. As Escolas rurais foram relegadas ao abandono, não receberam uma atenção especial para trabalharem com a cultura local, pior ainda, com o passar dos anos o poder público, para diminuir gastos, promoveu o fechamento das pequenas escolas rurais transformando-as em escolas pólo, o que não resolveu os problemas da Educação no campo. Criaram-se outros problemas, como a prática do transporte escolar para o deslocamento das crianças para as Escolas fazendo com que as mesmas saiam de casa cedo e retornem à tarde, dificultando sua participação no cotidiano do trabalho familiar; espaço que seria para o aprendizado com os mais velhos, um meio pelo qual se integra à família e se pega gosto pela vida e o trabalho no campo no intuito de dar continuidade à vida camponesa, “[...] uma possibilidade concreta de reprodução, tanto do grupo familiar, quanto da sua condição de segmento de classe” (PESSOA, 2007, p. 30). Numa escola convencional, com uma metodologia universalizada, o jovem camponês cresce com a expectativa de ir para a cidade trabalhar para garantir uma condição de vida melhor para si e para sua família e com isso vão se perdendo os costumes, tradições, hábitos, linguagem e seu modo de vida, pois assim é “[...] o campo, visto como o lugar do atraso em oposição à cidade, o lugar do moderno” (ARAÚJO, 2007, p. 40). Os Movimentos Sociais discutem a educação como direito de todo cidadão, uma educação que valorize o sujeito, que contribua para a formação social, política, econômica, cultural e espiritual; uma educação especifica e diversificada, enraizada na cultura do campo,
  • 25. 24 permitindo a reprodução camponesa. É neste contexto que surgiram as EFAs, com uma nova metodologia, a Pedagogia da Alternância. No bojo das lutas dos trabalhadores e trabalhadoras no campo a educação de qualidade como um direito de cidadania aparece como um dos componentes de reivindicação e em muitos lugares como experiência alternativa, gerida pelos próprios trabalhadores. Neste contexto encontram-se a Escola Família Agrícola – EFA [...] Entre outros objetivos os centros surgem como uma possibilidade de educação apropriada às necessidades sociais históricas para conter o êxodo, desenvolver o campo, superando as condições de pobreza, abandono, entre outras mazelas existentes no campo, através de uma formação conscientizadora dos alunos e suas famílias junto às comunidades (UNEFAB, 2003). É esta educação que vai permitir aos jovens, homens e mulheres uma interação com a sua vida, com a sua realidade sem ter que se deslocar de sua base para um terreno desconhecido, correndo o risco de perder as suas origens, suas raízes. 2.1 Conceituação da EFA As EFAs originaram-se das Maisons Famiales Rurales-MFR na França. Em 1930 Pe. Granerau vivenciou o drama de um adolescente camponês que não queria deixar a propriedade para ir estudar em uma escola convencional. Desta situação ocorreu um dialogo que resultou mais tarde, em setembro de 1935, em uma reunião na casa paroquial, na qual esteve presente o Pe. Granerau, o pai do adolescente Yves, Jean Peyrat, e outros três agricultores, pais de jovens camponeses que, mais tarde, tornaram-se alunos da primeira turma da escola (ARAÚJO, 2007, p. 42). Pe. Granerau pediu então a Jean Peyrat que encontrasse alguns colegas para Yves. Os jovens permaneciam alguns dias na casa Paroquial mediante a orientação teórica do padre e depois voltariam para a casa onde ajudariam os pais nas atividades agrícolas. O conceito era conciliar estudo e trabalho na propriedade rural, juntamente com a família. Surgiu então a “Pedagogia da Alternância”. No tempo passado na escola, sobre orientação do padre, o estudo era coordenado por um técnico agrícola. Já no período em casa era de responsabilidade dos pais o acompanhamento das atividades dos filhos.
  • 26. 25 Fora de um padrão estrutural de ensino estabelecido, estas pessoas pensaram em uma formação que permitisse aos Jovens e às futuras gerações uma educação diferenciada, preparando-os para um futuro que lhes desse melhores condições de vida e autonomia. Eles inventaram uma forma de escola que seus filhos não recusariam, porque ela responderia às suas necessidades fundamentais nessa idade da adolescência, ou seja, agir, crescer, ser reconhecido, assumir um lugar no mundo dos adultos, adquirir um status e papéis (GIMONET,1999, p. 40). No inicio, em 1935, eram somente quatros adolescentes; no ano seguinte o grupo já atingia dezenove jovens e esta forma de educar ganhou espaço na região e, dois anos depois, somavam quarenta jovens. Com o passar do tempo a escola ganhou visibilidade e se difundiu para outros países. No Brasil a Escola Família Agrícola foi implantada no meio rural em 1969, no Estado do Espírito Santo, pelo Jesuíta Pe. Humberto Pietrogrande, ao ver a real situação vivida pelos camponeses, caracterizada pelo Centro de Estudos e Ação Social como de “[...] baixa renda per capita, agravada pela crise dos cafezais; o baixo nível de educação; economia essencialmente agrícola etc” (Apud ARAÚJO, 2007, p 49-50). Pe. Humberto convenceu-se de que era preciso fazer algo e fez. Seu trabalho adquiriu visibilidade e as escolas foram se expandindo para os demais estados. Em Rondônia o primeiro contado para o conhecimento e implantação das EFAs iniciou-se por volta de 1983, com a presença de alguns estagiários do Centro de Formação de Monitores do MEPES no Espírito Santo, em visita promovida pela CPT à região de Ouro Preto D’Oeste. Diante da dificuldade de manterem os filhos em escola convencional e não querendo deixar os mesmo sem estudos, dois agricultores reuniram os demais lideres da comunidade com o objetivo de encontrar mais pessoas dispostas a trabalhar em favor da proposta apresentada. Pe. José Simionato foi ao Espírito Santo em busca de ajuda, dias depois chegou então um coordenador pedagógico para iniciar o processo de formação da EFA. Assim sendo, em 1989 foi fundada a primeira EFA de Rondônia, a Escola Pe. Ezequiel Ramin, no município de Cacoal. Sua criação se deu por um esforço conjunto da CPT, CEBs,
  • 27. 26 Paróquia de Cacoal e associações e agricultores. A Escola adotou uma pedagogia própria voltada à formação integral e qualificação dos jovens rurais. O “[...] objetivo geral da escola é a família, ou seja, a formação integral do agricultor, num projeto educativo onde todos formam; Escola-Família-Comunidade”, e os objetivos específicos são: “[...] fixar o homem no campo, aprimorar sua cultura, permitir aos filhos dos lavradores continuar seus estudos, permitir uma iniciação para o trabalho, ministrar conhecimentos que interessou ao lavrador, formar os jovens no espírito comunitário, que futuramente, permita formação de associações” (APPEFAC, 1987). Assim fundamenta a prática do alternante em “aprender a aprender”, pela qual a família/comunidade participa do processo, pois a alternância proporciona, em um espaço dinâmico de formação, uma modificação do meio, ou seja, pode-se fazer a ligação entre teoria e prática. Na Escola coloca-se em comum a realidade e se buscam novos conhecimentos para se solucionar os problemas. Em casa se discute a realidade da propriedade juntamente com a família, levantam-se os problemas e se planeja as ações a serem realizadas. Nota-se, desde seu surgimento na França (como MFRs), a presença marcante da Igreja e dos movimentos sociais na construção das EFAs. As EFAs se propõem atender às necessidades dos jovens no campo, promovendo uma educação gratuita, de qualidade e diferenciada, que seja própria do meio rural. De acordo com Nascimento (2007, p. 188), “O objetivo das EFAs é proporcionar aos jovens do meio rural uma educação com base na sua realidade, na sua vida familiar e comunitária e nas atividades”, uma educação que de fato possa contribuir na reprodução camponesa, pois a formação está ligada à realidade vivida pelo jovem; busca formar cidadãos conscientes, capazes de atuar em meio à sua realidade, buscando alternativas de melhorias na propriedade da família, com o gerenciamento de sua vida econômica, social e política no lugar onde se vive. O sistema adotado pela referida Escola é de semi-internato, com aulas expositivas, teóricas e práticas de campo, por meio das quais os educandos aprendem a lidar com a terra e com a pecuária. A estadia na MFR não representa somente um tempo de escola para aprender e construir saberes, mas, também, um tempo de vida com os outros, no seio de uma
  • 28. 27 estrutura educativa onde se partilham as refeições, os lazeres, as atividades socioculturais á noite. Um tempo de vida em internato onde, para ser moderno, de vida residencial, que permite aos adolescentes, ás vezes em descaminho, de encontrar algum ponto seguro, algum lugar para desabafar, algumas espaço de escuta e de dialogo, algum referências para o presente e o futuro (GIMIONET, 2007, p. 156). Já no período em que ficam em casa, realizam as tarefas escolares juntamente com as famílias, proporcionando a elas uma interação dos aprendizados vividos na Escola com a experiência familiar. Com esse processo família-escola-família, acredita-se que o jovem camponês mantenha o vínculo familiar/comunitário e a cultura do meio rural, permitindo-lhe a manutenção de sua identidade. A EFA busca envolver as famílias e comunidades na educação dos jovens. Para Borbenave (Apud LIMA, 2007, p.100), “[...] participar é fazer parte de, tomar parte ou ter parte em decisões e ações”. Assim, as famílias podem participar do conselho, nas festas, no voluntariado do trabalho, nas assembléias. Também no processo de alternância os pais assumem a responsabilidade dos monitores, orientando nas tarefas realizadas em casa, levando em conta os instrumentos metodológicos. Lima (2007, p. 113) conclui que, “Desse modo, a EFA possui a especificidade de ter os pais como parceiros educativos responsáveis diretos pela formação dos filhos”. Há também a possibilidade, juntamente com a família/comunidade, de um confronto dos métodos empírico e cientifico – teoria/prática – que compõem a formação dos jovens. O lar é o berço da aprendizagem, é a partir da realidade vivida pelo alternante que a escola concretiza sua metodologia. 2.2 Pedagogia da Alternância: uma proposta inovadora A Pedagogia de Alternância é uma prática educativa que tem por princípio sua adequação à realidade do campo, ou seja, pretende ser uma alternativa para que os filhos dos camponeses possam estudar e trabalhar na propriedade, visando com isso o incentivo à permanência do jovem no campo, minimizando o êxodo rural. A Pedagogia da Alternância é um processo de “ensino-aprendizagem” constituído em espaços e lugares diferenciados, possibilitando que o jovem possa estar na escola em um período e passar outro em casa com a família/comunidade.
  • 29. 28 Alternância significa o processo de ensino-aprendizagem que acontece em espaços e territórios diferenciados e alternados. O primeiro é o espaço familiar e a comunidade de origem – a realidade –; o segundo, a escola onde o educando partilha os diversos saberes que possui com os outros atores e reflete sobre eles em bases cientificas; e por fim, retorna à comunidade, a fim de continuar a práxis – prática + teoria –, na propriedade, por meio de atividades de técnicas agrícolas, seja na inserção em determinados movimentos sociais (NASCIMENTO, 2007, p. 194). Neste processo alternativo o período na escola é tempo de estudo, de trabalhos em grupo, de convivência; tempo de refletir, pesquisar, partilhar, aprofundar, tempo também de diversão nas práticas de esportes, permite-se a sociabilidade, aprendendo a partilhar e respeitar o outro, enfrentar os desafios do conhecimento do dia-a-dia. No período em casa junto da família é tempo de participar das atividades cotidianas da família/comunidade podendo colocar em prática o que vem aprendendo na escola. Com este processo casa-escola- casa, o jovem camponês não se desvincula do seu meio, a família/comunidade com a terra. A Alternância está baseada no principio de que a vida ensina mais que a escola, assim sendo o tempo escola é alternado e integrado com o tempo família, colocando em primeiro lugar o sujeito que aprende, seus conhecimentos, suas experiências, ela reconhece e valoriza o saber de cada um e do contexto de vida. A Pedagogia da Alternância fundamenta-se num método cientifico, “Ver, Julgar e Agir”: ver – observar, presenciar, investigar, analisar – através dos instrumentos pedagógicos, do meio onde se vive, e na Escola; julgar – decidir, avaliar, formar opinião – por meio das atividades prática, estágios, pesquisa; agir – praticar, atuar – em casa/comunidade a partir do que vem descobrindo. “O processo pedagógico baseado na alternância torna o jovem ator e não mero espectador de sua formação” (GIMONET, 2007, p. 93). A alternância possibilita o desenvolvimento pessoal do alternante, uma maneira de aprender pela vida, partindo da própria vida cotidiana. O ponto central do ensino-aprendizagem está na realidade vivida no dia-a-dia, no lazer, no costume, no modo de falar, do jovem juntamente com a família/comunidade, e que na escola tem a possibilidade de partilhar esta vivência, para que possa fortalecer sua identidade.
  • 30. 29 Para Gimonet (2007) a Pedagogia da Alternância vai além de um método, como um sistema educativo. É a pedagogia da “realidade” da “complexidade”, que vai acontecendo num determinado espaço-tempo/escola-familia, possibilitando um confronto entre o teórico e prático, uma construção de saberes e aprendizagens, o empírico e o cientifico num mesmo espaço, ou seja, [...] a pedagogia da Alternância se torna um processo de cunho cientifico, que produz um aprendizado de uma cultura cientifica, de uma cultura “continuada”, e não fixada no tempo escolar, isto é, em outras palavras, um aprendizado da a educação permanente (p. 144). Para o Psicólogo Piaget (Apud GIMONET, 2007, p. 143), a alternância serve à lógica “praticar e compreender”, o que quer dizer, primeiro vem a “prática, a realização, para que se possa teorizar sobre algo feito “compreender”. A vida ensina antes mesmo que a escola, ou seja, o aluno quando vai para a escola ele já tem um conhecimento prático de algo. Por isso o principal processo do ensino-aprendizagem é o aluno na sua realidade; a escola ajuda a teorizar sua prática e a descobrir novas práticas, novas técnicas que venham ajudá-lo na propriedade. Para Forgeard (1999, p. 67) a alternância é uma forma de aprender no meio onde se vive. “A Alternância não consiste em dar aulas aos jovens, e em conseqüência pedir-lhes que apliquem isto no terreno. Mas ao contrário o processo de aprendizagem do jovem parte de situações vividas, encontradas, observadas no seu meio”. Assim, o processo de aprendizagem está integrado à realidade, com recursos locais que facilitam o processo de formação valorizando o meio em que se vive. Para um educando da EFA Goiás, citado por Nascimento (2007, p. 202), a Pedagogia da Alternância é muito mais ampla que as sessões casa/escola. O alternante tem a possibilidade de estudar a sua própria realidade e isso contribui para o aprendizado de sua valorização no meio rural. Diz o alternante a Nascimento: A Pedagogia da Alternância vem a ser um período de alternância onde o aluno/a fica 15 dias em casa e 15 dias na escola, mas não é só isso; esta pedagogia é muito mais ampla. Vejo que ela é um sistema educativo muito interessante, pois com os
  • 31. 30 instrumentos pedagógicos o aluno/a tem o objetivo de estudar a sua realidade, dentro disso é trabalhada a inter-disciplina sendo assim ligada à formação integral do jovem. Esta pedagogia tem a contribuir para o meio rural no sentido de que o jovem está aprendendo a valorizar o seu meio; aprendendo novas tecnologias favorecendo o meio socioeconômico da região; na questão de valorizar a cultura camponesa de seus antepassados (sic) e ter a plena consciência de que seu meio é o melhor lugar para si viver, ter uma formação profissional adequada para desenvolver projetos que dá sustentabilidade (sic) para a sobrevivência da agricultura familiar. Neste processo é possível que o alternante aprenda novas técnicas que venham a contribuir na produção garantindo sua sustentabilidade, fazendo com que se diminua o êxodo rural. Na Pedagogia da Alternância o jovem é o sujeito principal da formação, e o autor de sua própria formação, tendo a presença de outros colaboradores fundamentais neste processo de “ensino-apredizagem”: família, comunidade, monitores, a realidade vivida em sua região, a cultura, o trabalho, a religião, o meio social, a economia, são elementos inseridos na formação integral do jovem pela alternância. Na alternância as sabedorias práticas se juntam, pois a escola procura educar para a vida. Para isso busca meios que interligam a realidade vivida pelo alternante, para facilitar o processo de formação. A alternância possibilita que o alternante constitua seus conhecimentos no diálogo entre o saber cotidiano, vindo de uma prática de um trabalho passado de gerações em gerações, e o saber escolar que permite a apropriação do conhecimento histórico com técnicas cientificas. Na Pedagogia da Alternância há dois momentos de formação interligados. O primeiro é o tempo da família/comunidade, o tempo da formação nas atividades técnicas práticas do dia-a-dia, no qual o alternante partilha, no seu meio, o que vem aprendendo na escola, faz experiência de novas técnicas que aprendeu na escola, discute sobre isso com os pais e vizinhos, faz perguntas e anotações preparadas pela escola, que fazem parte dos instrumentos metodológicos, além de se divertir e descansar. No segundo momento, o tempo escola, o aluno partilha diversos saberes com base cientifica, teórica, discute com colegas e monitores sobre os autores, realiza trabalhos em grupos, pesquisa, faz reflexão pessoal e coletiva, como também se diverte nos momentos de lazer, nas práticas esportivas. E neste ritmo alternado, ocorre o processo educativo.
  • 32. 31 2.3 Instrumentos Pedagógicos A Pedagogia da Alternância dispõe de instrumentos pedagógicos que permitem acompanhar o alternante tanto na sessão escolar quanto na sessão familiar, “[...] com um nexo de transversalidade que, partindo da própria realidade sócio-profissional, interfere no modo de trabalhar os temas e as matérias específicas ao plano de formação” (CALVÓ, 1999, p. 21). Estes instrumentos pedagógicos variam em sua aplicação na Escola de acordo com a realidade de cada região. Caderno da Realidade O Caderno da Realidade é o instrumento básico da Pedagogia da Alternância, porque faz a ligação entre casa-escola-casa. Por seu intermédio os pais podem acompanhar as atividades escolares durante a sessão escola, e os monitores podem acompanhar as atividades realizados pelos jovens ao período em que estiveram em casa: suas atividades em casa e na comunidade, suas atividades no trabalho em relação ao meio ambiente, seu lazer, os costumes, hábitos e tradições familiares, facilitando o conhecimento do alternante para o aprendizado. “[...] é nele que o jovem registra e anota todas as suas reflexões estudos e aprofundamento feito na EFA (ARAÚJO, 2007, p. 48). O percurso da aprendizagem vai adquirindo sentido para o alternante, pais e monitores, à medida que se integram nesse processo de formação. No Caderno da Realidade fica ordenada boa parte das experiências acontecidas nas EFA. A harmonia entre o PE e CR, torna possível o método ver, julgar e agir em meio à realidade vivida. É um treinamento de expressão escrita e oral, que permite aos jovens aprender a analisar e a sistematizar. O CR é também um documento que mostra a história do alternante, permitindo, assim aos pais, saberem dos acontecimentos na escola e contribuírem com sugestões. Este caderno acompanha o alternante dentro e fora da EFA. Caderno da Alternância
  • 33. 32 É um meio de se manter a comunicação entre a Escola e a família, interligando os dois momentos vividos pelo jovem. No Caderno da Alternância, que é do conhecimento dos pais, são registradas as atividades do alternante na Escola. Na volta para a escola os pais relatam as atividades desenvolvidas pelo alternante durante aquela sessão em casa juntamente com a família/comunidade, para conhecimento do monitor e do tutor. Sobre isso acrescenta o Portal Educacional do Estado do Paraná (2009): A família se informa de tudo o que ocorre na CFR, inclusive avaliação de convivência, habilidades, práticas e aprendizagem. Por outro lado, o caderno de acompanhamento traz informações sobre a vida em casa e implica mais os alunos na realização de suas tarefas e atividades comunitárias. Assim a família se envolve no processo educacional da escola, participando da formação, orientando e acompanhando as atividades do alternante. Plano de Estudo O Plano de Estudo é o instrumento fundamental da Pedagogia da Alternância, segundo Begnami (Apud QUEIROZ, 2004, p. 48): “Principal instrumento metodológico na articulação autêntica entre: Casa-Escola, Conhecimento empírico e teórico, trabalho e estudo”. Ele é uma pesquisa sobre um tema do cotidiano, da vida real, no que diz respeito aos modos de vida no contexto econômico, político, social, religioso e cultural. A pesquisa é feita no final de cada sessão escolar, quando aluno e monitor fazem a sistematização do tema a ser pesquisado e desenvolvido durante a sessão casa com a família/comunidade e que será colocado em comum na sessão escolar seguinte. O Plano de Estudo leva o jovem a questionar e avaliar e ajuda-o a compreender a realidade onde vive. “Através deste documento que se dá a integração da vida do aluno, dos pais e comunidade com a EFA, criando-se assim, no aluno, o hábito de ligar a reflexão com a ação e de partir da experiência para a sistematização cientifica” (ARAÚJO, 2007, p. 48).
  • 34. 33 Colocação em Comum A Colocação em Comum é um meio de socialização, momento de expor a pesquisa do PE e de o jovem se expressar oralmente, através de debate, pergunta, problematização, síntese do conhecimento de cada aluno/a no conhecimento do grupo. A metodologia da CC depende muito da criatividade dos monitores, pode-se utilizar técnica e dinâmica para motivar o alternante a tornar significante o termo em questão, realizando teatro, cartazes, desenhos etc. A colocação em comum é fundamentalmente atividade de grupo que possibilita o jovem a crescer, a sair do individual (eu) para o coletivo, a socialização. “Ela induz na dialética do “eu” e do “nós”, da personalização e da socialização, sem a qual o desenvolvimento fica parcial”. (GIMONET, 2007, p. 46). A CC contribui para o crescimento da aprendizagem, pois o alternante passa para os outros o que aprendeu e todos têm a oportunidade de debater, enriquecendo o conteúdo. “O valor pedagógico das experiências partilhadas e confrontadas é bem mais forte que aquele das informações acumuladas nos livros ou dadas pelo monitor durante “aulas” (p. 45). A CC consiste em o alternante passar para o monitor e os colegas o que viveu durante sua sessão familiar. Oferece a possibilidade de o jovem expressar oralmente a comunicação e a escrita nas anotações, nas redações dos relatórios, e de o jovem participar dos debates do grupo. É um aprendizado social e educativo, dando ao alternante a oportunidade de crescer, de conquistar sua autonomia e construir sua identidade. Visitas e Viagens de Estudo Visitas e viagens de estudo são atividades que propiciam aos alternantes descobertas e realizações. As visitas são organizadas a partir de cada tema do PE. A viagem de estudo leva o jovem a confrontar seus conhecimentos com os dos outros; possibilita ao jovem o crescer, o prazer de viver no campo de maneira diferente, produtiva, organizada e sem medo de ser camponês. As viagens também fazem crescer os laços de amizade, podendo construir intercâmbios para si e para a sua comunidade. O ato de ver facilita muito o
  • 35. 34 aprendizado, por isso é preciso uma preparação para que os jovens possam, depois da visitas, explorarem essas atividades numa formação “ver, julgar, agir”. Gimonet (2007, p. 37) fala de três tempos: “antes, durante e depois”, para se realizar uma boa visita. Antes trata-se da “preparação”, estimula a curiosidade, instiga a fazer perguntas. O durante é o momento da escuta com atenção, ir fazendo anotações. E o depois, fazer um debate das atividades mediante relatório. “[...] as visitas de estudo e as intervenções são meios para a formação geral” (GIMONET, 2007, p. 50). Visitas às Famílias As Visitas às Famílias são um instrumento para integrar os espaços e os tempos diferentes, escola e casa. É devidamente planejada pelos monitores, com o objetivo de conhecer a realidade do alternante no seu meio familiar, aí compreendendo vida cotidiana, atividades desenvolvidas, costumes, hábitos e necessidades. Permite o acompanhamento das pesquisas do PE, CR, exercício de fixação de aprendizagem, leituras, atividades, de retorno experiências e praticas dos alternantes. Os monitores se empenham em conscientizar os familiares sobre seu importante papel na educação dos filhos, como colaboradores da alternância. Por isso é também importante sua participação na associação da EFA. A visita às famílias consiste em uma estratégia adotada pela EFA para levar até as comunidades as informações sobre os temas estudados na escola e também paras engajar as famílias na reflexão sobre a importância do plano de estudo, que parte de situações objetivas do cotidiano da vida do aluno (ARAÚJO, 2007, p. 48-49). As visitas às famílias permitem uma análise de todo o processo educativo da EFA, em todos os seus aspectos: pedagógico, intelectual, social, profissional, técnico, humano, comunitário, étnico e espiritual.
  • 36. 35 Estágio O Estágio é um instrumento que possibilita o confronto com uma situação concreta para que o alternante possa observar, vivenciar, experimentar e praticar os conhecimentos assimilados, com o acompanhamento dos monitores e orientadores da EFA, contribuindo na definição profissional do aluno/a. Por isso é intensificado nos dois últimos anos do Ensino fundamental e durante o Ensino Médio Profissionalizante. O estágio faz parte do plano de formação da EFA e tem o objetivo de dar sustentabilidade à formação dos jovens no meio rural. “O Estágio faz parte do processo de formação inserido em cada tema especifico, construindo-se um momento de aprender fazer fazendo” (PINHO, 2009, p. 7). O Estágio é desenvolvido em um período de duas semanas e muitas vezes o aluno constrói o seu projeto de vida através deste instrumento. Serão Serão, “[...] são recursos didáticos que visam complementar e reforçar a aprendizagem dos conteúdos curriculares e extra-curriculares” (ARAÚJO, 2007, p. 49). É uma atividade complementar que proporciona ao jovem a valorização de recursos humanos sociais, da solidariedade de pessoas da comunidade junto à EFA, pois, os Serões são realizados por médicos, agricultores, professores, agrônomos, veterinários, religiosos e outros membros próximos que contribuam nesta formação. Os Serões acontecem à noite e são realizados através de debates, palestras, vídeos, slides e outros, com temas que podem variar, como agricultura, meio ambiente etc. Intervenções Externas
  • 37. 36 Intervenções Externas ou Palestras são realizadas como meio de aprofundamento dos temas do PE. Depois de realizar a CC, como complementos dos temas do PE, as Intervenções Externas podem ser realizadas por pessoas de entidades públicas e privados que colaboram voluntariamente no processo educativo. “São colaboradores pessoas que vêm de fora da escola: pais, mães, estudantes, lideranças diversas e profissionais etc. Estão sempre ligados ao tema do plano de Estudo. Trazem as perspectivas do saber fazer de uma vivência” (PINHO, 2009, p.8) e são realizadas em horários de aulas porque são consideradas um complemento do tema do PE. Avaliação Avaliação é um processo contínuo na EFA. “Uma avaliação, permite constituir e fortificar os saberes” (GIMONET, 2007, p. 61), envolvendo todos os participantes da formação e o desenvolvimento de todos os instrumentos. Os alunos/as são avaliados na convivência, levando-se em conta a habilidade e convivência na disciplina, sendo que cada monitor/a avalia o conteúdo na sua disciplina. Ocorre também a avaliação em grupos envolvendo a todos, alunos, monitores e funcionários, tanto no início como também no final de cada sessão, assim possibilitando ver onde se pode melhorar. Tutoria Tutoria é uma maneira de acompanhar as atividades de pesquisa, os exercícios, a vivência e experiência dos educados/as no meio sócio-profissional. Na chegada dos alternantes à EFA cada monitor/a torna-se responsável por acompanhar um grupo de alunos/as. É um momento em que jovem e monitor interagem partilhando dificuldades e progressos no desenvolvimento do ensino e aprendizagem. O alternante tem a oportunidade de tirar suas dúvidas sobre o processo educativo da Pedagogia da Alternância. “Formalmente, a acolhida personalizada se dá no início da sessão na EFA, mas se estende informalmente ao
  • 38. 37 longo da sessão. Ou seja, o(a) monitor(a) acompanha o(a) aluno(a), ao longo de toda a sessão escolar” (PORTAL EDUCACIONAL NO ESTADO DO PARANÁ, 2009). Caderno Didático O Caderno Didático constitui um material especifico da EFA com uma metodologia própria desenvolvida para aprofundar teoricamente o PE. Aqui é teoria, mas o aluno não se distância de sua realidade, pois os temas trabalhados envolvem uma reflexão crítica do assunto abordado. Permite ao alternante “[...] descobrir noções novas, compreendê- las e assimilá-las, integrando-as aos seus conhecimentos anteriores, ao que fazem e vivem e, conseqüentemente, aprendem” (GIMONET, 2007, p. 51). Projeto Profissional do Jovem O Projeto Profissional do Jovem é um meio de o jovem concretizar as pesquisas do PE, buscando conhecer melhor a realidade socioeconômica, cultural, política, profissional e regional. O alternante trata de começar a pensar no futuro como profissional, mostrando um projeto de vida e suas possibilidades de aplicação na sua comunidade ou fora dela. Por isso, ao entrar na EFA “[...] o estudante é orientado a construir seu Projeto de Vida, que será um meio de concretização das pesquisas dos Planos de Estudo e de sinalização de passos futuros para a profissionalição” (PINHO, 2009, p. 8-9). O PPJ é uma forma de incentivo e de mostrar que é possível viver bem, economicamente no meio rural, cultivando o seu modo de vida, estendendo sua formação escolar à comunidade e, com isso, evitando a migração para as periferias das cidades com a consequente exposição á marginalização. Os instrumentos pedagógicos da escola permitem a articulação tempo/espaço com saberes e experiências específicas em cada um deles, formalizando os conhecimentos do meio rural, para que o jovem possa ser protagonista do processo educativo. Levam o jovem a descobrir e conhecer o meio onde vive e, ao mesmo tempo, a pensar globalmente sua vida
  • 39. 38 cotidiana. Por isso Gimonet (GIMONET, 20007, p. 159) entende a alternância como pedagogia da complexidade. Os conteúdos e os processos pedagógicos deverão permitir aliar, ao mesmo tempo, a experiência do terreno, a implicação em situações de tamanho real e a abertura às ciências, ao conhecimento do universal, à compreensão do mundo, do planeta, ao desenvolvimento, á cidadania, ao pertencimento local e da terra... para que se realize “a viagem interior e a viagem universal”, e para que se engaja a escola ao longo da vida toda. Todo o percurso educativo da EFA é para dar aos alternantes condições de ter uma vida mais digna e independente, utilizando técnicas apropriadas à vida camponesa, dar subsídios para a transformação do campo, lutar a cada dia para elevar a vida do homem e da mulher das comunidades rurais, proporcionando a permanência dos alternantes no campo para que possam cultivar o seu modo de vida, seus costumes, hábitos e tradições.
  • 40. 39 CAPÍTULO III Contribuição da Pedagogia da Alternância no modo de vida camponês As EFAs nasceram e continuam nascendo nos dias de hoje porque os pais desejam um modelo de educação voltado para o campo, para a própria realidade. De acordo com seus teóricos [...] “são escolas da região, criadas e geradas pelas pessoas do lugar, para as pessoas do lugar” (GIMONET, 1999, p.43), próximas das pessoas, do aluno/a, da família/comunidade e, com isso, contribuem para desenvolver uma metodologia mais adequada às atividades exercidas. A proposta da EFA, em sua formação, visa abranger o aluno como também toda a comunidade, que todos reflitam seu modo de viver diante da situação real em que vivem, possibilitando conhecimento para lidar com as mudanças. Uma EFA é uma associação de família, pessoas e Instituição que buscam solucionar a problemática comum, da evolução e do desenvolvimento local através de atividades de formação, principalmente dos jovens sem, entretanto excluir os adultos (CALVÓ, 1999, p. 17). Diante do processo de modificação que vem sofrendo o camponês desde a colonização do Brasil até os dias atuais, a EFA, com sua prática educativa, objetiva resgatar e reforçar o modo de vida camponesa, suas tradições e cultura, demonstrando ao jovem que é possível viver bem no meio rural,consumindo o que se produz, tendo uma vida econômica organizada ao planejar sua produção diversificada. A Pedagogia da Alternância se põe como objetivo possibilitar ao jovem camponês o desenvolvimento de sua formação escolar e também sua formação familiar que é fundamental para o seu modo de vida camponês. Com esta formação interligada casa-escola- casa se deseja que o jovem confronte seu conhecimento camponês com o que vai aprendendo
  • 41. 40 na escola. A Escola tem como objetivo principal motivar, incentivar o jovem a permanecer no campo, valorizando a sua história, a sua comunidade, seu modo de vida, capacitando-o para a prática de uma agricultura sustentável. 3.1 Um olhar de fora para dentro do ensino-apredizagem da EFA O jovem, ao ir estudar na EFA, por opção própria ou por decisão dos pais ou ainda por incentivo de colegas ex-alunos/as, leva consigo seus costumes, suas tradições, seu modo de vida que, conforme garantem os estudiosos da Alternância, são respeitados e valorizados pela Escola. Um exemplo disso é o que diz ainda o educador francês: “A Pedagogia da Alternância conduz à partilha do poder educativo. Ela reconhece e valoriza o saber de cada um e dos contextos da vida” (GIMONET, 1999, p. 45). Para a família e a comunidade o jovem em uma EFA torna-se mais cooperativo. O processo de semi-internato possibilita aprender e conviver nas diferenças, ou seja, respeitando o jeito de ser de cada um, em seus costumes familiares, suas crenças etc. “[...] eu quis que minha filha estudasse aqui por que vejo e acredito que o jovem fica mais cooperativo, tem um comportamento diferenciado”, disse uma monitora da Escola Pe. Ezequiel Ramin. Para muitas famílias e monitores são notáveis as mudanças que ocorrem depois da participação na EFA, a abertura ao diálogo, a participação nas atividades comunitárias, os benefícios na produção com novas técnicas, a diversificação de produção, a valorização e o respeito à terra, ao engajamento nos movimentos sociais, a integração social, cultural e econômica, quando a comunidade de fato adere ao processo de formação da Escola. Porém, os monitores, em suas visitas, constantemente constatam que ainda existem famílias que não participam deste processo de formação, deixando tudo por conta da Escola e o resultado, nesses casos, acaba não sendo satisfatório. Segundo a metodologia realizada na escola o jovem se torna capaz de desenvolver com mais facilidade o papel de liderança na comunidade, nos movimentos sociais, o que leva a uma visão política no mundo atual, que possa contribuir na vida camponesa. E o jovem é cobrado pela família/comunidade a colocar em prática o que vem aprendendo na escola. Fica sempre uma expectativa de algo novo na vida daqueles jovens que vão experimentar um jeito
  • 42. 41 diferente de entender a agricultura camponesa e até mesmo uma EFA, pois ali o jeito de ensinar e aprender é muito diferente da escola tradicional. É por esta metodologia que se descobre que a Pedagogia da Alternância contribui no modo de vida camponês. Há alguns jovens que, ao sairem da escola, permanecem na agricultura, ou trabalhando na própria escola, ou mesmo em outra área de serviço, porém carregam consigo o ensinamento diferenciado, como afirma um jovem egresso da EFA Pe. Ezequiel Ramin: “[...] o jovem que adere ao processo educativo da Escola se orgulha de ser camponês, valoriza e quer estar ligado ao campo”. A EFA, de acordo com a sua pedagogia, busca responder ao grande desafio de qualificar tecnicamente o camponês a partir de uma metodologia que corresponda às suas necessidades no campo. Por isso as práticas desenvolvidas na escola permitem ao jovem “aprender a aprender”, num processo de formação e de ligação entre teoria e prática que conta com a participação da família/comunidade. A proposta das EFAs não visa apenas a atingir o aluno, mas formar uma cultura de participação de toda a comunidade para que todos pensem sua própria existência, as condições concretas em que se vivem e as possibilidades de mudanças e de implementação dessas mudanças (LIMA, 2007, p. 110). A EFA busca romper com um ensino hierarquizado, decretado, afastado da realidade vivida pelo jovem rural. O conhecimento é construído na integração das pessoas entre si e com o meio onde estão inseridas, valorizando as potencialidades da pessoa humana, através das atividades desenvolvidas, pelas quais [...] a pessoa em formação possa “confrontar os saberes transmitidos na escola com os saberes produzidos por sua experiência”, onde ocorra a confrontação das apredizagens experiências com as apredizagens formais das ciências, e das técnicas na situação escolar. Isso faz com que ocorra a autonomia e a responsabilidade da pessoa em formação num “sistema de produção de saber e não mais somente de consumo de saber”, o que exige um empenho e um compromisso da pessoa no seu processo formativo (QUEIROZ, 2004, P. 104.).
  • 43. 42 Com as aulas práticas realizadas na escola pretende-se dar ao alternante novos conhecimentos. Mas, quase sempre acontecem confrontos entre esses novos conhecimentos e o saber cotidiano familiar. Um exemplo é que muitos agricultores/as desenvolvem seu plantio e colheita na propriedade, obedecendo às fases da lua e na escola isso não é trabalhado. O alternante e a família têm a oportunidade de fazer novas experiências na própria propriedade, utilizando novas técnicas que vem aprendendo na escola para ver de fato o resultado, e o que é muito comum na comunidade camponesa é fazer uma nova experiência sempre com cautela. É preciso ver o resultado positivo para incorporá-la totalmente. O avanço da tecnologia exige preparo para se enfrentar a realidade atual que muda rapidamente. A família/comunidade acredita no ensino da EFA e o acompanha de perto através dos instrumentos pedagógicos, reuniões, assembléias na escola e percebe que é possível o filho dar continuidade aos estudos sem deixar de ser camponês. 3.2 Teoria e Prática: aprendendo e ensinando O trabalho do homem e da mulher camponesa vai além da cultura de produção, está fortemente fundamentado no modo de vida com seus costumes, tradições, seu modo de falar, as festas, a política, o trabalho coletivo e a educação voltada para atender suas necessidades, ou seja, uma educação que proporciona a reprodução camponesa, portanto é mediante isso que a EFA está contribuindo no modo de vida camponês por meio de seus instrumentos pedagógicos com a pedagogia da Alternância. “A Alternância significa, sobretudo, outra maneira de aprender, de se formar, associando teoria e prática, ação e reflexão, o empreender e o aprender dentro de um mesmo processo” (GIIMONET, 1999, p. 44). Porém aprende-se com a realidade, experimentando e vivenciando existencialmente a prática do “aprender fazendo e o pensar agindo”, não há dois momentos, um de aprender e outro de por em prática. Estuda-se a própria ação. Teoria e prática são confrontadas num sistema de “Interface” da alternância trabalho-escola, saberes já existentes com a aprendizagem da ciência. São muitas as situações encontradas no campo que podem dificultar a realização desejada pela EFA, como a falta de uma política agrícola, política pública voltada para o meio
  • 44. 43 rural. Ainda hoje o campo é visto como o lugar de atraso e tem camponeses que se rendem aos encantos da cidade, à ilusão do emprego, à pressão da mercadoria industrializada. A EFA busca incentivar o produzir e consumir alimentos da própria Escola, mostrando ao alternante que é possível fazer isso na propriedade. Com seus instrumentos pedagógicos em particular o PPJ a EFA pretende levar o jovem a descobrir que é possível viver bem na propriedade, economicamente, e cultivando o seu modo de vida. E muitos jovens aprendem a valorizar a agricultura que, muitas vezes, antes de ir para a EFA, desprezavam. Na Escola Pe. Ezequiel Ramin um jovem questiona a posição do PPJ na grade curricular que, pra ele deveria ser implantado na propriedade antes do termino do curso. “[...] se fosse implantado no 1° ano, quando saíssemos daqui já estaríamos colhendo a produção para nos sustentarmos economicamente e assim planejar o futuro”. Este questionamento é fundamental para os jovens, pois se percebe que há um interesse muito grande em desenvolver uma ação concreta na propriedade e, ao mesmo tempo, apresentando à turma os resultados do projeto, eles poderiam fortalecer e incentivar a permanência dos egressos no campo. Acompanhando a aplicação deste instrumento, pode-se observar que alguns pais participam de fato do seu processo elaboração do projeto e dão todo suporte para sua implantação na propriedade. Há um acompanhamento, todos se envolvem. Esta postura contribui com o desenvolvimento da Pedagogia da Alternância, pois a família deve participar de todo o processo formativo da Escola e o PPJ é uma forma de o alternante planejar e construir o seu futuro e a EFA o orienta para isso, como vimos no capítulo segundo. Porém há aqueles jovens que não contam com o apoio da família e por isso desenvolvem sozinhos seus projetos e isso dificulta sua implantação na propriedade. Há pais que cedem espaço na propriedade para a implantação do PPJ, mas o jovem trabalha sozinho desanima, contradizendo assim a Pedagogia da Alternância, sem adesão completa à metodologia da escola, dificultando então o processo de formação do alternante. Na apresentação do PPJ, em 2009, a Escola Pe. Ezequiel Ramin afirmou que em 2010 contará com a participação dos pais, que poderão assistir a apresentação dos alunos e também fazer questionamentos. Com isso a Escola pode sentir o envolvimento da família no acompanhamento deste instrumento pedagógico e a família pode ver de perto o trabalho de toda a turma, e se os alunos aderiram ao processo de formação desenvolvido pela EFA.
  • 45. 44 Neste processo de formação pode ser visto que há jovens que assimilam as atividades da EFA e buscam colocar em prática na propriedade as novas técnicas que se aprende na escola. O esforço, a curiosidade, a liberdade para ver o resultado do aprendizado, é que levam ao crescimento em todo o contexto. Por outro lado há aqueles jovens que, mesmo estando dentro do processo de formação, não se identificam, não se empenham e, quando a família também não se integra ao processo, torna-se ainda mais difícil haver algum resultado concreto na propriedade. O desafio da EFA entre teoria e prática é muito grande, como diz um monitor na Escola Pe. Ezequiel Ramin: “Hoje a EFA não é mais a mesma do passado. Ao mostrar os dois lados o jovem sai daqui querendo emprego, pois falta uma política pública que dê assistência, então fica difícil manter-se no sítio, principalmente para trabalhar com produção orgânica”. A escola desenvolve um trabalho voltado para a permanência do jovem na propriedade, mas são fatos como este que dificultam o resultado do trabalho desenvolvido, diante das mudanças no campo, sofridas pelo camponês. A EFA procura acompanhar as modificações que têm ocorrido na estrutura familiar, tentando adequar-se para atingir seus objetivos. Para isso ela sabe da necessidade de fazer uso dos meios de comunicação de que dispõe, evitando que eles não atrapalhem os costumes, as tradições da vida pessoal, familiar e coletiva. Para isso a escola se esforça em manter os mutirões, as visitas aos vizinhos, as festas sempre muito correntes na vida camponesa, como foi analisado no primeiro capítulo; como também procura enfatizar os valores familiares – a prática da oração, do dialogo, da partilha, do acolhimento – e o cuidado com a terra, pois é dela que se tira o sustento. Assim ela acredita contribuir para o melhoramento da auto-estima de toda a família e comunidade. Eis o grande desafio da EFA: unificar, interligar e processar a teoria e a prática. A Pedagogia da Alternância exige esforços permanentes frente à realidade vivida hoje pelo camponês, que é de excessivo emprego de insumos químicos e investimento na monocultura e, por outro lado, de falta de uma assistência na produção no campo e de transporte. Em relação à imposição dos produtos químicos e da monocultura, a EFA busca alternativas práticas baseadas na produção orgânica, com a qual a propriedade familiar possa viabilizar-se por meio da diversificação da produção. Para isso, trabalha-se na escola com a integração dos setores produtivos: horta orgânica; horta medicinal; horta mandala; árvores frutíferas; roças de cultivo permanente, sem uso de fogo; apicultura, animais – porco, galinha,
  • 46. 45 gado. Assim as aulas práticas e teóricas se confrontam no processo de aprendizagem. E no processo de “intercâmbio” estão as visitas realizadas pelos alternantes, trocando idéias e o conhecimento do que estão adquirindo na escola, com a possibilidade de verificarem as experiências dos agricultores/as: os ofícios, o plantar obedecendo às fases da lua, como disse um aluno do terceiro ano do Ensino Médio da EFA Pe. Ezequiel Ramin: “Eu acredito e respeito as experiências dos meus avós, funcionam mesmo, se eles plantam na lua certa faz diferença”. Como pudemos ver no primeiro capítulo o aprendizado com os mais velhos acontece em todo o contexto da vida, no trabalho, na festa, no social. Para alguns alunos da escola Pe. Ezequiel Ramin as aulas práticas desenvolvidas na escola são poucas e falta assistência técnica. Falta “[...] um acompanhamento mais de perto de um agrônomo, pois a própria produção da escola deixa a desejar e que pode ser resolvida na medida em que se desprende do papel e volta para a prática”, questiona uma aluna do primeiro ano. Segundo a análise do segundo capítulo, na Pedagogia da Alternância teoria e prática caminham juntas. A EFA diz priorizar essa junção em sua prática educativa. Mas eu pude ver e acompanhar atividades práticas realizadas no dia-a-dia da Escola e pude constatar que algumas situações, por exemplo, a questão econômica, que, muitas vezes, dificultam a realização de alguns projetos. Entretanto, ver um jovem fazer este tipo de questionamento, pode ser uma demonstração de que os resultados são positivos. A escola está formando jovens pensadores, com uma visão global, como entende Gimonet, já citado. 3.3 Desafios da alternância na formação para o meio A flexibilidade de adaptação a diferentes processos de produção, a variedade de fonte de renda e a diversificação de produção na propriedade, tornam o produto camponês indispensável à economia regional e nacional, e é com essa preocupação que a EFA desenvolve uma proposta pedagógica, a partir da Pedagogia da Alternância, que se identifica com os anseios dos camponeses, propondo a possibilidade de que o jovem camponês possa seguir seus estudos, profissionalizar-se, e ao mesmo tempo contribuir com sua mão-de-obra,
  • 47. 46 indispensável na propriedade para o pleno desenvolvimento dos trabalhos econômicos da família. Ser ator de desenvolvimento do meio, consiste então em conduzir uma ação de desenvolvimento de competências, de atitudes, de comportamentos, para um bem estar econômico e social melhor das pessoas que vivem neste meio ( FORGEARD, 1999, p. 65). Diante desse desafio, para que o crescimento na formação do jovem pela Pedagogia da Alternância aconteça, fazem-se necessários alguns fatores de integração com o meio onde se vive e um deles se dá com a família e a comunidade. A família é o suporte da ação educativa. Cada família participa da formação de seu filho/a, através do acompanhamento dos instrumentos pedagógicos, acompanhando suas experiências, dando oportunidade para novas técnicas, procurando implantá-las na propriedade, confrontando-as com as técnicas já existentes, também no coletivo, na associação e assembléia da escola. Na Escola Pe. Ezequiel Ramin acontece no mês de junho a tradicional festa para fins lucrativos, realizada no meio do bosque da própria escola, cuidado pelos alunos/as. Embora a festa seja para auferir lucros para a manutenção da escola, é também um meio para que as famílias possam se encontrar, divertir, partilhar. Como foi abordado no primeiro capítulo a festa é um componente fundamental na vida camponesa. Quem vai à festa tem a possibilidade de aprender que o que se sabe ainda não é tudo para continuar a viver e a reproduzir as condições de sobrevivência ... a arte de viver e de compreender a vida que nos envolve está na perfeita integração entre o velho e o novo (PESSOA, 2005, p.39). A festa é para a escola um intercâmbio de conhecimento entre o “novo e o velho” que enriquece a vida familiar/comunitária e a escola. Na busca da realização do objetivo da EFA a Escola Pe. Ezequiel Ramin se depara com o desafio do confronto entre a produção orgânica e a produção com insumos químicos. A escola preconiza, defende e até aplica uma concepção de produção embasada na produção orgânica, mas encontra resistência, pois o resultado da produção é lento e muitas famílias preferem o tipo de agricultura que está em
  • 48. 47 vigor ao seu redor, uma “agricultura de mercado”, com mais insumos e, portanto, com resultados mais rápidos. Como fazer uma mudança de comportamento e de vida numa situação como esta? O processo de formação da EFA envolve o alternante e a família/comunidade, por isso o trabalho de conscientização pretendido pela escola é fundamental, mostrando ao alternante o risco e o perigo do uso dos produtos químicos e seus resultados desastrosos para a saúde humana e ambiental, embora esse modelo de agricultura venha dando resultados convincentes. Um aluno da escola, que trabalha numa casa de produtos agropecuários, diz: Eu faço meu papel de vendedor, mas agora eu sei do risco para a saúde e do valor alto do preço do produto que é difícil para o camponês comprar, por isso na minha comunidade passo as receitas alternativas que venho aprendendo aqui e mesmo vendendo o produto químico arrumo um jeitinho de ensinar para o cliente uma receita alternativa que beneficia sua vida econômica e também a saúde e o meio ambiente. Para um pai dói ver o filho saindo da EFA e ir trabalhar de empregado principalmente em casa de agropecuária. “Eu quero o meu filho agricultor, na roça é o lugar melhor para si viver”, afirma. O objetivo da escola é “a formação integral dos jovens” para fomentar o desenvolvimento rural, pois a Pedagogia da Alternância entre família/comunidade e escola quer dizer que não aprendemos apenas nas aulas, a vida muito ensina e o saber se constrói em conjunto. A EFA com sua Pedagogia da Alternância objetiva orientar os jovens para uma formação que lhes possibilite viver com dignidade e que possam dar continuidade à vida camponesa como verdadeiros filhos de camponeses. Por isso prioriza uma formação voltada para o crescimento humano, intelectual, despertando a manutenção de suas raízes culturais, visando o aprofundamento e o desenvolvimento da produção na sua propriedade em meio à sua realidade para que possa fortalecer sua identidade. A Pedagogia da Alternância é criada com o objetivo de que em tempos e espaços alternados o jovem tenha condições e acesso à escolaridade e ao conhecimento e valores familiares e comunitários. Ao alternar períodos na escola e períodos em seu
  • 49. 48 meio de vivência, o jovem pode construir seus conhecimentos no dialogo entre o saber cotidiano, fomentado na prática e no trabalho que é passado de gerações a gerações e o saber escolarizado que possibilita a apropriação do conhecimento historicamente construído e a acesso às técnicas cientificamente comparada (PINHO, 2009, p. 5). A Pedagogia da Alternância possibilita o estudo cientifico dos alternantes e ao mesmo tempo as atividades na propriedade juntamente com seus familiares. São métodos que permitem uma valorização maior do meio onde se trabalha, estuda-se e se vive. Com isso possibilita a compreensão da própria realidade bem como as necessidades locais que envolvem a família e a comunidade. O jovem aprende a ler o mundo do campo para além do espaço vivido no cotidiano, uma visão globalizada sem perder o horizonte no qual está focado, visão esta, do cotidiano. É a historia do passado com perspectiva de futuro, pois a Escola é este espaço de busca de conhecimento, do aprender, porém não é o único lugar em que a edificação de formação acontece. O processo de edificação do conhecimento é amplo. “[...] a educação é um processo de formação que acontece durante toda a vida e na vida toda, em diferentes espaços e tempos” (QUEIROZ, 2004, p. 16). A Pedagogia da Alternância, desde seu nascimento, tem buscado, além da educação diferenciada, a formação profissional e integral para o desenvolvimento sustentável do meio em que vivem seus alunos. É uma educação de processo permanente de construção cultural que progride na comunidade da qual todos fazem parte.
  • 50. 49 Considerações Finais O processo de modernização do campo teve grandes avanços com as novas tecnologias empregadas no setor a partir de meados do século XX. Com isso o camponês vem sofrendo com a monocultura imposta pelo sistema capitalista. Os camponeses anseiam pela terra onde possam produzir não só o alimento diversificado, mas, também, pela possibilidade de conservação do seu modo de vida, com sua cultura, modo de falar, seus costumes e também pela possibilidade de reprodução enquanto segmento de classe, ou seja, para que possam ter continuidade na história enquanto modo de vida e de trabalho. E acreditam na educação escolar diferenciada que possa colaborar nesta construção. Ao analisar a história da Pedagogia da Alternância pude constatar que desde seu nascimento na França, ela surgiu para solucionar os problemas enfrentados pelo camponês – uma proposta pedagógica pela qual o jovem pudesse dar continuidade aos estudos sem deixar o campo. Por isso a EFA objetiva a formação escolar de jovens que moram e trabalham no campo, uma Escola que atenda às necessidades da comunidade, da qual todos participam. Os pais, mesmo sendo muitas vezes analfabetos, têm muito a contribuir com seus conhecimentos e com sua prática. E com a prática da alternância todos se envolvem, a escola vai ao encontro da realidade do jovem, participa da sua vida familiar/comunitária e, neste espaço da vida cotidiana, favorece o ensino teórico escolar. A própria vida no campo é um processo educativo. Toda realidade vivida no cotidiano é uma aprendizagem. A prática de aprender olhando os mais velhos realizarem suas atividades e o jeito de se ir pouco a pouco colocando em prática os conhecimentos adquiridos é de grande importância na vida de qualquer ser humano. Assim a prática educativa da EFA faz com que o jovem reflita e incorpore os conhecimentos empíricos assimilados na família, valorizando e fortalecendo sua identidade. Os alternantes têm a oportunidade de se expor para a escola como são, e eles são a peça fundamental deste processo de formação.