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PROGRAMA BNB DE CULTURA – EDIÇÃO 2011 –
              PARCERIA BNDES
PROJETO: PANACÉIA VIAJANTE, CIRCULAÇÃO DO ESPETÁCULO
                      DOROTÉIA.



                     LÍLITH MARQUES



         CORPO DELIRANTE, DISCURSO ATUANTE:
           a oficina para mulheres e suas reverberações



                                       Artigo apresentado ao Programa BNB
                                       (Banco do Nordeste) de Cultura e ao
                                       BNDES       (Banco     Nacional    de
                                       Desenvolvimento),     resultante   do
                                       projeto Panacéia Viajante, Circulação
                                       do Espetáculo Dorotéia.




                            Salvador
                              2011

                                                                          1
Corpo delirante, discurso atuante: a oficina para mulheres e suas
                               reverberações

                                                                             Lílith Marques
                                                                      Revisão: Hebe Alves


                                         RESUMO

Esse artigo pretende deflagrar uma reflexão acerca do trabalho realizado nas duas edições da
oficina Corpo delirante, discurso atuante - oficina de jogos teatrais, gratuita, oferecida para
mulheres e ministrada pelas atrizes do grupo Panacéia Delirante, com carga horária de 03h
cada. A oficina integrou o projeto Panacéia Viajante- circulação do espetáculo Dorotéia,
patrocinado pelo Banco do Nordeste e BNDES. As duas edições da oficina ocorreram em
2011 nas cidades de Valença-BA e Santo Amaro da Purificação-BA e contaram com a
participação de vinte e seis mulheres entre 7 e 45 anos. Abordaremos um trajeto
compreendido desde a elaboração do projeto de oficina pelas atrizes do Panacéia Delirante,
até a realização da mesma nas duas cidades já citadas. Serão feitas reflexões sobre as
modificações sofridas no roteiro de oficina em decorrência das necessidades práticas do grupo
de participantes e de imprevistos na execução do projeto. Além disso, serão discutidos os
impactos da oficina sobre as participantes, como e por que vias a oficina toca a vida dessas
pessoas.

Palavras-chave: Oficina de jogos teatrais. Mulheres. Roteiro de oficina. Impactos, BNB de
Cultura.




                                                                                             2
Introdução: O projeto de oficina

                                                               As oficinas no início eram um desejo.

                          Um desejo que aos poucos pareceu ser exeqüível... e que surpreendeu.

                                                          (Lílith Marques- oficineira, diário pessoal)



O desejo de realizar uma oficina de jogos teatrais para mulheres surgiu dentro do grupo
Panacéia Delirante quando, ao viajar para o Peru, na ocasião de um curso de teatro com o
grupo Yuyachkani1, as atrizes do Panacéia tiveram conhecimento do trabalho realizado pelas
atrizes do grupo Yuyachkani junto a mulheres da comunidade.

Os Talleres de Autoestima ministrados pelas atrizes do grupo Yuyachkani vêm sendo
realizados desde os anos 80, quando, por iniciativa própria, as Yuyachs2 decidiram
compartilhar com outras mulheres o que vinham experimentando dentro do grupo, suas
relações com corpo, jogo e criação. Em 2003, o trabalho foi publicado no formato de um
manual intitulado “En el escenario del mundo interior, Talleres de Autoestima: un manual”
cuja autoria é da atriz Tereza Ralli. Na ocasião da estadia no Peru as atrizes do Panacéia
Delirante adquiriram um exemplar do manual.

Retornando ao Brasil, a inquietação por conhecer mais sobre esse trabalho e colocá-lo em
prática aqui, em nossa realidade, era grande. Entretanto, o projeto de trabalhar autoestima
com mulheres que não são necessariamente ligadas ao meio profissional de teatro abarcava
limites que iam além de nossa competência, visto que nenhuma de nós atrizes tínhamos uma
capacitação profissional em psicologia ou outra área afim para lidar com as possíveis questões
que poderiam surgir.

Partimos para uma investigação interna, levando para nosso âmbito de trabalho as proposições
apontadas pelas Yuyachs no manual escrito por Tereza. Fizemos, pois, um Taller com nós
mesmas. A experiência foi intensa e a partir dela burilamos uma primeira proposta de oficina
direcionada para mulheres cujo foco seria jogos teatrais, propriocepção e relaxamento.

Esta primeira proposta de oficina pôde ser executada em 2011, em duas cidades do interior da
Bahia (Valença e Santo Amaro), em virtude do patrocínio concedido pelo Banco do Nordeste
do Brasil (BNB), em parceria com o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento), ao
projeto de circulação do espetáculo Dorotéia, repertório do grupo Panacéia Delirante. Desta
forma, a oficina batizada com o nome Corpo delirante, discurso atuante, passou a integrar o
projeto Panacéia Viajante - circulação do espetáculo Dorotéia.


1
  O grupo yayachkani é proveniente de Lima-Peru, o nome do grupo remete a uma palavra no idioma nativo
quechua e significa “estou pensando, estou recordando”. Mais informações em www.yuyachkani.org
2
  Yuyachs é um apelido dado aos membros do grupo Yuyachkani por amigos, admiradores e demais pessoas que
acompanham as realizações do grupo.
                                                                                                           3
O grupo Panacéia Delirante, que é formado por cinco atrizes, investiga há três anos temas
relacionados ao universo feminino. O espetáculo Dorotéia é um dos produtos artísticos que
resultaram dessa pesquisa. Aliar o projeto da oficina a circulação do espetáculo foi de grande
valia, pois muitas das imagens deflagradas no espetáculo reverberaram na oficina, assim
como muito do que surgiu na oficina deflagrou novas imagens no espetáculo.

Na equipe de Dorotéia, o Panacéia Delirante conta com a presença de duas grandes
profissionais: a atriz e encenadora Hebe Alves, que assina a direção do espetáculo e a
educadora sexual Maria Paquelet Barbosa que nos orientou durante o processo de montagem
do espetáculo, o qual trata, entre outros temas, da relação da mulher com sua sexualidade e
moral. Assim, ao decidirmos levar o projeto de oficina para o campo da execução real,
convidamos essas duas profissionais para estabelecer um olhar orientador sobre o trabalho
que estávamos prestes a pôr em prática.

O roteiro de oficina foi proposto em conjunto pelas atrizes e posteriormente revisado pelas
orientadoras. Nele estavam contidas as premissas básicas da proposta de oficina. A primeira
consistia em realizar uma oficina curta de 3h de duração, condensadas em uma manhã. Em
seguida o estabelecimento do ambiente de trabalho, uma sala vazia, na qual o grupo pudesse
trabalhar com intimidade, sem interrupções externas. As participantes deveriam atender à
exigencia de delimitação de um grupo de no máximo L e seis mulheres com idade a partir de
quatorze anos, sem requisição previa de experiência com teatro. A condução estaria a cargo
de duas das atrizes do Panacéia Delirante, que juntas compõe um coletivo de 5 mulheres; as
demais componentes se dividiriam nas funções de redatora do processo, catalisadora (aquela
que faz a oficina junto com as demais participantes) e assistência de produção. Esta última
não estaria presente dentro da sala de oficina, ficando a seu encargo cuidar dos possíveis
imprevistos, das inscrições e certificados além de garantir que a sala de oficina não fosse
perturbada por agentes externos.

Sobre os exercícios propostos, o roteiro previa a seguinte ordem:

1. Apresentação: usando-se um novelo de lã, as participantes deslocam-se de seu lugar no
   círculo à medida que dizem quem são, do que gostam etc. Ao passo que cada uma se
   apresenta, cria-se uma teia que interligará todas as presentes entre si. Ao final do
   exercício, a teia é desfeita ao passo que as participantes apresentam não a si, mas as
   companheiras que lhe passaram o fio de lã.

2. Exercícios de reconhecimento corporal, descontração e estabelecimento do grupo:
   Caminhada ativa com stop e cumprimento, musica e dança, siga o mestre/ espelho.

3. Exercícios de criação do espaço de trabalho: composição de atmosferas sonoras e roda
   de recordações.




                                                                                            4
4. Experimentando o corpo: criação de “Quadros vivos” a partir de pinturas de Toulouse
   Lautrec e Edgard Degàs3 fornecidas pelas condutoras da oficina.

5. Experimentando a autoestima: desfile com stops, nos quais a “modelo” poderá deixar
   que seu corpo expresse um desejo de movimento, que sua fala expresse seu estado de
   espírito, além de poder trazer o “quadro vivo” que construiu no exercício anterior e
   receber os aplausos e palavras de incentivo das demais colegas de oficina. Nesse
   exercício, todas são convidadas a desfilar, inclusive as condutoras e a redatora.

6. Fechamento: nessa etapa, as participantes recebem uma flor cada uma e todas desfilam
   juntas. Depois, junto com as atrizes do Panacéia, pousam para uma fotografia em grupo.
   Ao final, faz-se uma roda de impressões, na qual, além de falarem, as participantes são
   estimuladas a escrever uma carta ao grupo Panacéia contando um pouco da experiência
   vivenciada durante a oficina.

Colocando em prática a abertura para o inesperado

Como já foi dito anteriormente, a oficina de jogos teatrais para mulheres ocorreu dentro do
projeto Panacéia Viajante- circulação do espetáculo Dorotéia, patrocinado pelo Banco do
Nordeste do Brasil e BNDES. Foram duas edições da oficina que aconteceram no segundo
semestre de 2011 nas cidades em que o projeto circulou: Valença-BA e Santo Amaro da
Purificação-BA.

Em ambas as edições da oficina, o planejamento sofreu alterações de acordo com as
necessidades e proposições trazidas pelo grupo de participantes. Muitas dessas alterações nos
ajudaram a perceber como os conteúdos da oficina possibilitava a abertura de outros
horizontes de expectativa, além daqueles imaginados. Pessoalmente, como catalisadora da
oficina de Valença e condutora da oficina de Santo Amaro, percebi que muitos dos exercícios
guardam um potencial que independe da delimitação do grupo de participantes, outros
necessitam de atenção especial ao serem realizados com crianças e jovens. O roteiro funciona,
nessa perspectiva, como um ponto de partida o qual, ao ser posto em prática, necessita
apresentar abertura e flexibilidade para o que está porvir. Observemos agora alguns exemplos
de imprevistos que desafiaram as condutoras ao instaurar esse caráter de abertura e
flexibilidade no roteiro a ser executado.

 No total, as duas oficinas juntas abarcaram 26 participantes. A faixa etária variou entre 7 e 45
anos. Podemos começar com este dado a refletir como a prática age sobre a oficina, propondo
algumas mudanças, e como a condução lida com estas mudanças. Vejamos: no roteiro de
oficina estava previsto um público de mulheres com faixa etária a partir de 14 anos,
entretanto, durante a etapa de produção local do projeto (função terceirizada), esse dado
passou despercebido e recebemos participantes de 12, 11 e até 7 anos de idade.

3
 As pinturas desses dois pintores franceses, principalmente as séries do Moulin Rouge (Toulouse) e das
Bailarinas e Banhistas (Degàs) foram utilizadas pelas atrizes do Panacéia Delirante no processo de investigação e
composição de personagens da peça Dorotéia.
                                                                                                               5
A priori, este não foi um acontecimento que impossibilitou a realização da oficina, mas, sem
dúvidas, foi um desafio para as condutoras da oficina de Valença, onde recebemos mais
participantes abaixo da faixa etária prevista. Existia o risco de exposição das crianças a temas
avançados para seu universo de compreensão e, ao mesmo tempo, o risco de infantilizar em
demasia os exercícios e o espaço de criação, tornando a oficina insípida para as participantes
com maturidade. O exercício da roda de recordações foi o que mais esteve nesse entre-lugar
de risco. No entanto, a condução das atrizes Camila Guilera e Lara Couto soube ser paciente e
cuidadosa, levando o grupo a compartilhar lembranças de infância, momentos felizes ou
engraçados. Em um momento ou outro, surgiram assuntos mais sérios como álcool ou
relacionamento com os pais. Esses foram tratados de maneira muito serena, de forma que não
provocassem impactos bruscos nas participantes mais novas.

Os desafios com o tempo também tiveram seu espaço nas duas edições da oficina. Ainda em
Valença, tivemos a questão referente ao atraso das participantes, levando as condutoras a
eliminar o exercício da criação de “Quadros vivos” da programação. De fato, foi uma perda,
mas a estrutura geral da oficina não foi abalada com esta ausência. Em Santo Amaro, aonde
conduzi a oficina ao lado de Milena Flick, tivemos uma questão semelhante. Iniciamos a
oficina 1h depois do tempo previsto devido ao atraso da chegada das participantes. Decidimos
então condensar os exercícios de música e dança num tempo mais reduzido e manter o
exercício dos “Quadros vivos”. Hoje, penso que foi uma boa solução, pois as participantes,
em sua maioria, já se conheciam, não carecendo de muito tempo para estabelecer o
entrosamento do grupo. Além disso, a realização do exercício dos “Quadros vivos”
acrescentou outras perspectivas à oficina, possibilitando às participantes o contato com outras
formas de representação feminina e o estabelecimento com outra ordem de expressividade
corporal, mais ligada ao estético, ao teatral e ao lúdico. Poderia ousar supor que até mesmo
um outro nível de consciência do corpo: um nível no qual há o saber de que seu corpo
significa como signo. Tudo isso interfere de forma positiva no nível de impacto que a oficina
obteve sobre as participantes. Falaremos mais profundamente sobre isso no subitem seguinte.

Para finalizar essa etapa de imprevistos, trago um ultimo exemplo que se relaciona com o fato
de que na oficina lidamos com pessoas que nem sempre têm uma formação em teatro. Essa foi
uma escolha importante feita ao se pensar o projeto de oficina e que trouxe uma outra
dimensão ao trabalho a ser realizado. Uma dimensão positiva. Entretanto, sempre surgem
pequenas questões de ordem prática ao se lidar com um público com essa característica.
Podemos enumerar algumas delas:

   1- O uso de roupas muitas vezes inapropriadas (como calças jeans, bijuterias, etc.):
      Nesse aspecto, não há muito que se fazer, senão lidar com a realidade que se tem. Em
      relação às bijuterias, foi pedido para que as participantes retirassem antes de
      iniciarmos os trabalhos para que machucados e acidentes fossem evitados.

   2- A recorrência de falas e comentários das participantes durante o trabalho: por
      não tratarmos de um público composto por atores ou pessoas que já desenvolvem uma

                                                                                              6
atividade dentro do meio de teatro, muitas vezes nos deparamos com o vicio da fala e
       do comentário. Houve oficinas em que amigas de escola participavam juntas.
       Inevitavelmente, elas conversavam entre si, faziam comentários umas das outras e
       interferiam diretamente no trabalho proposto ao grupo. Nesses casos, uma das medidas
       tomadas foi a de tentar estabelecer nelas um nível de envolvimento maior com a
       atmosfera dos jogos propostos, além de tentarmos mantê-las distribuídas entre as
       demais participantes.

   3- Celulares e saídas durante o momento de trabalho: cada vez mais vejo que esta é
      uma questão que invade quase todos os ambientes de trabalho, em qualquer área. Com
      relação aos celulares, foi pedido que as participantes desligassem-no antes de
      iniciarmos a oficina. Felizmente não tivemos grandes problemas com saídas e retornos
      de participantes do local de trabalho. Houve apenas um caso na oficina de Valença em
      que uma participante necessitou se ausentar e retornou ao final dos trabalhos. Em
      Santo Amaro, tivemos três participantes que necessitaram ir embora no meio da
      oficina devido a outro compromisso com aulas de canto. No mesmo instante em que
      essas três participantes saíram, chegaram outras quatro, que aguardavam do lado de
      fora o melhor momento para entrar e integrar o trabalho. Em todos esses casos, a
      figura da Panacéia que assumiu a função de assistente de produção foi indispensável
      para que essas interferências não ferissem bruscamente o ambiente de trabalho e
      atmosfera instaurados.

No projeto de oficina, como foi concebido por nós do Panacéia Delirante, havia uma clara
percepção do elemento recordação e da atmosfera de intimidade, carinho e cuidado além da
autoestima e bem estar como componentes condutores da oficina. Entretanto, ao levarmos a
oficina para a prática, um novo elemento revelou como ponto de amalgama entre todos os
outros componentes já citados. Este elemento é a ludicidade. O estado de brincadeira e de
jogo proporcionou uma ressignificação dos demais elementos frente os imprevistos e as
características apontadas pelo grupo de participantes. Por meio da ludicidade, a oficina
encontrou um espaço de diálogo e de ação com a malha sensível das participantes.



In pacto: ligações e significâncias estabelecidas com as participantes

A oficina é iniciada com a construção de uma teia de fios de lã que liga as participantes e
condutoras entre si, este é o momento da apresentação e, simbolicamente, o momento em que
anunciamos o pacto de estarmos todas ali, interligadas, compartilhando algo de nós. No
decorrer da oficina, intercalamos exercícios de reconhecimento individual de si mesma e de
compartilhamento coletivo de questões individuais ou de estados de brincadeira.

Por todos esses exercícios perpassa um reconhecimento corporal, de possibilidades corporais.
O uso do jogo como ferramenta de acesso aos estados do corpo e da mente permite às
participantes se arriscarem mais nas proposições feitas e se despirem de preceitos
                                                                                          7
moralizantes ou convenções socialmente construídas. Mas para que tudo isso aconteça, é
 indispensável o pacto.

 Este pacto é iniciado, como já foi dito, no momento de apresentação, com o jogo da teia de lã.
 No entanto, no decorrer da oficina, ele é fortalecido e retomado, relembrado. Nesse sentido,
 podemos destacar dois momentos: o exercício da construção de atmosferas sonoras que requer
 que o grupo se escute e construa junto uma malha de criação sonora, imaginativa e coletiva, o
 segundo momento é o exercício da roda de recordações, no qual a figura do circulo é
 retomada e no qual cada uma exercita a confiança, nas colegas e nas condutoras. Ao final, no
 momento do desfile, o pacto é selado com um gesto de carinho e respeito quando as
 participantes se aplaudem e elogiam umas as outras. Esse pequeno gesto estabelece um
 espaço de cuidado e de confiança.

 Outro aspecto de destaque da oficina é a simplicidade. Não há grandes complexidades físicas
 nos jogos propostos, tão pouco complexidades de ordem intelectual. Tudo é muito simples,
 baseando-se no pouco, no mover o corpo de acordo com as necessidades corporais de cada
 uma, no colocar o corpo em brincadeira, no permitir que esse estado trouxesse as lembranças
 e a imaginação. Também esse aspecto é colaborativo para o estabelecimento do pacto, pois
 coloca as participantes num mesmo patamar de observação. Sem diferenças, nos entregamos
 mais facilmente aos estados de confiança, de carinho e de respeito, necessários para que
 alcancemos a autoestima, o bem estar e a satisfação – nesse caso, não de maneira terapêutica,
 mas a partir do que temos em mãos: o jogo teatral.

 Escrever a carta para nós do Panacéia Delirante, comentando sua experiência na oficina é a
 ultima atividade requisitada às participantes. Nesse gesto comum de escrever para alguém,
 condensa-se o cerne do projeto de oficina: há o ato de recordar-se, refletir-se a partir de uma
 experiência vivida, corporalmente vivida; há a explicitação do elo; há o gesto de carinho, de
 compartilhamento com o outro; e, por último, há o voltar-se para si.

Conclusão

Esta é uma oficina que poderia gerar ainda mais frutos se feita em mais tempo, com mais de
um dia de encontro. Todavia, em 3h de duração, ela toca em pontos da vida cotidiana das
participantes e das condutoras que pouco são estimulados e que guardam o grão para a alegria,
o bem estar, o autoconhecimento.

A cada dia sinto que iniciativas como estas são válidas e gratificantes. Ainda temos muito
trabalho pela frente, novas reflexões a propor, novas problematizações possíveis, mais edições
da oficina para executar. Com certeza esse não é um trabalho que se conclui na produção de
num artigo. Ele reverbera vozes. O melhor é deixar que elas falem por si mesmas.

Trechos das cartas das participantes das oficinas:

“Adorei compartilhar minha alegria com todos” (A. – Santo Amaro)

                                                                                              8
“Teatro: se resume em felicidade, pois quando estamos em contato com as outras pessoas
parece que nos conhecemos faz tempo, fazendo assim que possamos compartilhar coisas
pessoais, ficamos mais a vontade ainda porque sabemos que estamos todas unidas e querendo
alcançar uma única meta. [...] acho que teatro não se resume a uma tenda onde tenha platéia e
palco... mas sim na troca de harmonia e aprendizagem.” (G. – Santo Amaro)

“Vocês fizeram eu me sentir única, mas ao mesmo tempo igual a todos. Muito obrigada
mesmo! Adorei a oficina, levarei na memória, eternamente.” (B. – Santo Amaro)

“Obrigado meninas pelo carinho e segurança transmitidos por vocês.” (M. Santo Amaro)

“Teatro é vinculo para um novo horizonte” (L. – Santo Amaro)

“As minhas melhores lembranças estão baseadas no pouco. As melhores emoções vem quando
estamos no pouco, fazendo o que nos move.” (W.– Santo Amaro)

“Outras pessoas precisam desse momento que vocês nos passaram” (L.U. – Valença)

“Nunca foi alegre como hoje” (J. - Valença)

“Os depoimentos ou causos que ocorreram na oficina foi importante para nós mulheres
percebermos o que temos em comum [...]” (D. C. - Valença)

“Eu queria ter a visita de todas vocês outras vezes” (D. - Valença)

“[...] eu gostei do que aprendi. Como fazer esquisitices com o corpo e com a mente.” (T. –, 7
anos, Valença)

“Se um pingo d’água for felicidade, eu desejo a todas vocês uma tempestade” (J. –Valença)

“O teatro é uma das várias linguagens que quebram com a rigidez do corpo e da alma” (Z., 45
anos, Valença)



                                        REFERÊNCIA

RALLI, Tereza. Em El escenario Del mundo interior, talleres de autoestima: um manual.
Lima: Equilíbrios, 2003.




                                                                                            9

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Corpo Delirante, Discurso Atuante (por lílith marques)

  • 1. PROGRAMA BNB DE CULTURA – EDIÇÃO 2011 – PARCERIA BNDES PROJETO: PANACÉIA VIAJANTE, CIRCULAÇÃO DO ESPETÁCULO DOROTÉIA. LÍLITH MARQUES CORPO DELIRANTE, DISCURSO ATUANTE: a oficina para mulheres e suas reverberações Artigo apresentado ao Programa BNB (Banco do Nordeste) de Cultura e ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento), resultante do projeto Panacéia Viajante, Circulação do Espetáculo Dorotéia. Salvador 2011 1
  • 2. Corpo delirante, discurso atuante: a oficina para mulheres e suas reverberações Lílith Marques Revisão: Hebe Alves RESUMO Esse artigo pretende deflagrar uma reflexão acerca do trabalho realizado nas duas edições da oficina Corpo delirante, discurso atuante - oficina de jogos teatrais, gratuita, oferecida para mulheres e ministrada pelas atrizes do grupo Panacéia Delirante, com carga horária de 03h cada. A oficina integrou o projeto Panacéia Viajante- circulação do espetáculo Dorotéia, patrocinado pelo Banco do Nordeste e BNDES. As duas edições da oficina ocorreram em 2011 nas cidades de Valença-BA e Santo Amaro da Purificação-BA e contaram com a participação de vinte e seis mulheres entre 7 e 45 anos. Abordaremos um trajeto compreendido desde a elaboração do projeto de oficina pelas atrizes do Panacéia Delirante, até a realização da mesma nas duas cidades já citadas. Serão feitas reflexões sobre as modificações sofridas no roteiro de oficina em decorrência das necessidades práticas do grupo de participantes e de imprevistos na execução do projeto. Além disso, serão discutidos os impactos da oficina sobre as participantes, como e por que vias a oficina toca a vida dessas pessoas. Palavras-chave: Oficina de jogos teatrais. Mulheres. Roteiro de oficina. Impactos, BNB de Cultura. 2
  • 3. Introdução: O projeto de oficina As oficinas no início eram um desejo. Um desejo que aos poucos pareceu ser exeqüível... e que surpreendeu. (Lílith Marques- oficineira, diário pessoal) O desejo de realizar uma oficina de jogos teatrais para mulheres surgiu dentro do grupo Panacéia Delirante quando, ao viajar para o Peru, na ocasião de um curso de teatro com o grupo Yuyachkani1, as atrizes do Panacéia tiveram conhecimento do trabalho realizado pelas atrizes do grupo Yuyachkani junto a mulheres da comunidade. Os Talleres de Autoestima ministrados pelas atrizes do grupo Yuyachkani vêm sendo realizados desde os anos 80, quando, por iniciativa própria, as Yuyachs2 decidiram compartilhar com outras mulheres o que vinham experimentando dentro do grupo, suas relações com corpo, jogo e criação. Em 2003, o trabalho foi publicado no formato de um manual intitulado “En el escenario del mundo interior, Talleres de Autoestima: un manual” cuja autoria é da atriz Tereza Ralli. Na ocasião da estadia no Peru as atrizes do Panacéia Delirante adquiriram um exemplar do manual. Retornando ao Brasil, a inquietação por conhecer mais sobre esse trabalho e colocá-lo em prática aqui, em nossa realidade, era grande. Entretanto, o projeto de trabalhar autoestima com mulheres que não são necessariamente ligadas ao meio profissional de teatro abarcava limites que iam além de nossa competência, visto que nenhuma de nós atrizes tínhamos uma capacitação profissional em psicologia ou outra área afim para lidar com as possíveis questões que poderiam surgir. Partimos para uma investigação interna, levando para nosso âmbito de trabalho as proposições apontadas pelas Yuyachs no manual escrito por Tereza. Fizemos, pois, um Taller com nós mesmas. A experiência foi intensa e a partir dela burilamos uma primeira proposta de oficina direcionada para mulheres cujo foco seria jogos teatrais, propriocepção e relaxamento. Esta primeira proposta de oficina pôde ser executada em 2011, em duas cidades do interior da Bahia (Valença e Santo Amaro), em virtude do patrocínio concedido pelo Banco do Nordeste do Brasil (BNB), em parceria com o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento), ao projeto de circulação do espetáculo Dorotéia, repertório do grupo Panacéia Delirante. Desta forma, a oficina batizada com o nome Corpo delirante, discurso atuante, passou a integrar o projeto Panacéia Viajante - circulação do espetáculo Dorotéia. 1 O grupo yayachkani é proveniente de Lima-Peru, o nome do grupo remete a uma palavra no idioma nativo quechua e significa “estou pensando, estou recordando”. Mais informações em www.yuyachkani.org 2 Yuyachs é um apelido dado aos membros do grupo Yuyachkani por amigos, admiradores e demais pessoas que acompanham as realizações do grupo. 3
  • 4. O grupo Panacéia Delirante, que é formado por cinco atrizes, investiga há três anos temas relacionados ao universo feminino. O espetáculo Dorotéia é um dos produtos artísticos que resultaram dessa pesquisa. Aliar o projeto da oficina a circulação do espetáculo foi de grande valia, pois muitas das imagens deflagradas no espetáculo reverberaram na oficina, assim como muito do que surgiu na oficina deflagrou novas imagens no espetáculo. Na equipe de Dorotéia, o Panacéia Delirante conta com a presença de duas grandes profissionais: a atriz e encenadora Hebe Alves, que assina a direção do espetáculo e a educadora sexual Maria Paquelet Barbosa que nos orientou durante o processo de montagem do espetáculo, o qual trata, entre outros temas, da relação da mulher com sua sexualidade e moral. Assim, ao decidirmos levar o projeto de oficina para o campo da execução real, convidamos essas duas profissionais para estabelecer um olhar orientador sobre o trabalho que estávamos prestes a pôr em prática. O roteiro de oficina foi proposto em conjunto pelas atrizes e posteriormente revisado pelas orientadoras. Nele estavam contidas as premissas básicas da proposta de oficina. A primeira consistia em realizar uma oficina curta de 3h de duração, condensadas em uma manhã. Em seguida o estabelecimento do ambiente de trabalho, uma sala vazia, na qual o grupo pudesse trabalhar com intimidade, sem interrupções externas. As participantes deveriam atender à exigencia de delimitação de um grupo de no máximo L e seis mulheres com idade a partir de quatorze anos, sem requisição previa de experiência com teatro. A condução estaria a cargo de duas das atrizes do Panacéia Delirante, que juntas compõe um coletivo de 5 mulheres; as demais componentes se dividiriam nas funções de redatora do processo, catalisadora (aquela que faz a oficina junto com as demais participantes) e assistência de produção. Esta última não estaria presente dentro da sala de oficina, ficando a seu encargo cuidar dos possíveis imprevistos, das inscrições e certificados além de garantir que a sala de oficina não fosse perturbada por agentes externos. Sobre os exercícios propostos, o roteiro previa a seguinte ordem: 1. Apresentação: usando-se um novelo de lã, as participantes deslocam-se de seu lugar no círculo à medida que dizem quem são, do que gostam etc. Ao passo que cada uma se apresenta, cria-se uma teia que interligará todas as presentes entre si. Ao final do exercício, a teia é desfeita ao passo que as participantes apresentam não a si, mas as companheiras que lhe passaram o fio de lã. 2. Exercícios de reconhecimento corporal, descontração e estabelecimento do grupo: Caminhada ativa com stop e cumprimento, musica e dança, siga o mestre/ espelho. 3. Exercícios de criação do espaço de trabalho: composição de atmosferas sonoras e roda de recordações. 4
  • 5. 4. Experimentando o corpo: criação de “Quadros vivos” a partir de pinturas de Toulouse Lautrec e Edgard Degàs3 fornecidas pelas condutoras da oficina. 5. Experimentando a autoestima: desfile com stops, nos quais a “modelo” poderá deixar que seu corpo expresse um desejo de movimento, que sua fala expresse seu estado de espírito, além de poder trazer o “quadro vivo” que construiu no exercício anterior e receber os aplausos e palavras de incentivo das demais colegas de oficina. Nesse exercício, todas são convidadas a desfilar, inclusive as condutoras e a redatora. 6. Fechamento: nessa etapa, as participantes recebem uma flor cada uma e todas desfilam juntas. Depois, junto com as atrizes do Panacéia, pousam para uma fotografia em grupo. Ao final, faz-se uma roda de impressões, na qual, além de falarem, as participantes são estimuladas a escrever uma carta ao grupo Panacéia contando um pouco da experiência vivenciada durante a oficina. Colocando em prática a abertura para o inesperado Como já foi dito anteriormente, a oficina de jogos teatrais para mulheres ocorreu dentro do projeto Panacéia Viajante- circulação do espetáculo Dorotéia, patrocinado pelo Banco do Nordeste do Brasil e BNDES. Foram duas edições da oficina que aconteceram no segundo semestre de 2011 nas cidades em que o projeto circulou: Valença-BA e Santo Amaro da Purificação-BA. Em ambas as edições da oficina, o planejamento sofreu alterações de acordo com as necessidades e proposições trazidas pelo grupo de participantes. Muitas dessas alterações nos ajudaram a perceber como os conteúdos da oficina possibilitava a abertura de outros horizontes de expectativa, além daqueles imaginados. Pessoalmente, como catalisadora da oficina de Valença e condutora da oficina de Santo Amaro, percebi que muitos dos exercícios guardam um potencial que independe da delimitação do grupo de participantes, outros necessitam de atenção especial ao serem realizados com crianças e jovens. O roteiro funciona, nessa perspectiva, como um ponto de partida o qual, ao ser posto em prática, necessita apresentar abertura e flexibilidade para o que está porvir. Observemos agora alguns exemplos de imprevistos que desafiaram as condutoras ao instaurar esse caráter de abertura e flexibilidade no roteiro a ser executado. No total, as duas oficinas juntas abarcaram 26 participantes. A faixa etária variou entre 7 e 45 anos. Podemos começar com este dado a refletir como a prática age sobre a oficina, propondo algumas mudanças, e como a condução lida com estas mudanças. Vejamos: no roteiro de oficina estava previsto um público de mulheres com faixa etária a partir de 14 anos, entretanto, durante a etapa de produção local do projeto (função terceirizada), esse dado passou despercebido e recebemos participantes de 12, 11 e até 7 anos de idade. 3 As pinturas desses dois pintores franceses, principalmente as séries do Moulin Rouge (Toulouse) e das Bailarinas e Banhistas (Degàs) foram utilizadas pelas atrizes do Panacéia Delirante no processo de investigação e composição de personagens da peça Dorotéia. 5
  • 6. A priori, este não foi um acontecimento que impossibilitou a realização da oficina, mas, sem dúvidas, foi um desafio para as condutoras da oficina de Valença, onde recebemos mais participantes abaixo da faixa etária prevista. Existia o risco de exposição das crianças a temas avançados para seu universo de compreensão e, ao mesmo tempo, o risco de infantilizar em demasia os exercícios e o espaço de criação, tornando a oficina insípida para as participantes com maturidade. O exercício da roda de recordações foi o que mais esteve nesse entre-lugar de risco. No entanto, a condução das atrizes Camila Guilera e Lara Couto soube ser paciente e cuidadosa, levando o grupo a compartilhar lembranças de infância, momentos felizes ou engraçados. Em um momento ou outro, surgiram assuntos mais sérios como álcool ou relacionamento com os pais. Esses foram tratados de maneira muito serena, de forma que não provocassem impactos bruscos nas participantes mais novas. Os desafios com o tempo também tiveram seu espaço nas duas edições da oficina. Ainda em Valença, tivemos a questão referente ao atraso das participantes, levando as condutoras a eliminar o exercício da criação de “Quadros vivos” da programação. De fato, foi uma perda, mas a estrutura geral da oficina não foi abalada com esta ausência. Em Santo Amaro, aonde conduzi a oficina ao lado de Milena Flick, tivemos uma questão semelhante. Iniciamos a oficina 1h depois do tempo previsto devido ao atraso da chegada das participantes. Decidimos então condensar os exercícios de música e dança num tempo mais reduzido e manter o exercício dos “Quadros vivos”. Hoje, penso que foi uma boa solução, pois as participantes, em sua maioria, já se conheciam, não carecendo de muito tempo para estabelecer o entrosamento do grupo. Além disso, a realização do exercício dos “Quadros vivos” acrescentou outras perspectivas à oficina, possibilitando às participantes o contato com outras formas de representação feminina e o estabelecimento com outra ordem de expressividade corporal, mais ligada ao estético, ao teatral e ao lúdico. Poderia ousar supor que até mesmo um outro nível de consciência do corpo: um nível no qual há o saber de que seu corpo significa como signo. Tudo isso interfere de forma positiva no nível de impacto que a oficina obteve sobre as participantes. Falaremos mais profundamente sobre isso no subitem seguinte. Para finalizar essa etapa de imprevistos, trago um ultimo exemplo que se relaciona com o fato de que na oficina lidamos com pessoas que nem sempre têm uma formação em teatro. Essa foi uma escolha importante feita ao se pensar o projeto de oficina e que trouxe uma outra dimensão ao trabalho a ser realizado. Uma dimensão positiva. Entretanto, sempre surgem pequenas questões de ordem prática ao se lidar com um público com essa característica. Podemos enumerar algumas delas: 1- O uso de roupas muitas vezes inapropriadas (como calças jeans, bijuterias, etc.): Nesse aspecto, não há muito que se fazer, senão lidar com a realidade que se tem. Em relação às bijuterias, foi pedido para que as participantes retirassem antes de iniciarmos os trabalhos para que machucados e acidentes fossem evitados. 2- A recorrência de falas e comentários das participantes durante o trabalho: por não tratarmos de um público composto por atores ou pessoas que já desenvolvem uma 6
  • 7. atividade dentro do meio de teatro, muitas vezes nos deparamos com o vicio da fala e do comentário. Houve oficinas em que amigas de escola participavam juntas. Inevitavelmente, elas conversavam entre si, faziam comentários umas das outras e interferiam diretamente no trabalho proposto ao grupo. Nesses casos, uma das medidas tomadas foi a de tentar estabelecer nelas um nível de envolvimento maior com a atmosfera dos jogos propostos, além de tentarmos mantê-las distribuídas entre as demais participantes. 3- Celulares e saídas durante o momento de trabalho: cada vez mais vejo que esta é uma questão que invade quase todos os ambientes de trabalho, em qualquer área. Com relação aos celulares, foi pedido que as participantes desligassem-no antes de iniciarmos a oficina. Felizmente não tivemos grandes problemas com saídas e retornos de participantes do local de trabalho. Houve apenas um caso na oficina de Valença em que uma participante necessitou se ausentar e retornou ao final dos trabalhos. Em Santo Amaro, tivemos três participantes que necessitaram ir embora no meio da oficina devido a outro compromisso com aulas de canto. No mesmo instante em que essas três participantes saíram, chegaram outras quatro, que aguardavam do lado de fora o melhor momento para entrar e integrar o trabalho. Em todos esses casos, a figura da Panacéia que assumiu a função de assistente de produção foi indispensável para que essas interferências não ferissem bruscamente o ambiente de trabalho e atmosfera instaurados. No projeto de oficina, como foi concebido por nós do Panacéia Delirante, havia uma clara percepção do elemento recordação e da atmosfera de intimidade, carinho e cuidado além da autoestima e bem estar como componentes condutores da oficina. Entretanto, ao levarmos a oficina para a prática, um novo elemento revelou como ponto de amalgama entre todos os outros componentes já citados. Este elemento é a ludicidade. O estado de brincadeira e de jogo proporcionou uma ressignificação dos demais elementos frente os imprevistos e as características apontadas pelo grupo de participantes. Por meio da ludicidade, a oficina encontrou um espaço de diálogo e de ação com a malha sensível das participantes. In pacto: ligações e significâncias estabelecidas com as participantes A oficina é iniciada com a construção de uma teia de fios de lã que liga as participantes e condutoras entre si, este é o momento da apresentação e, simbolicamente, o momento em que anunciamos o pacto de estarmos todas ali, interligadas, compartilhando algo de nós. No decorrer da oficina, intercalamos exercícios de reconhecimento individual de si mesma e de compartilhamento coletivo de questões individuais ou de estados de brincadeira. Por todos esses exercícios perpassa um reconhecimento corporal, de possibilidades corporais. O uso do jogo como ferramenta de acesso aos estados do corpo e da mente permite às participantes se arriscarem mais nas proposições feitas e se despirem de preceitos 7
  • 8. moralizantes ou convenções socialmente construídas. Mas para que tudo isso aconteça, é indispensável o pacto. Este pacto é iniciado, como já foi dito, no momento de apresentação, com o jogo da teia de lã. No entanto, no decorrer da oficina, ele é fortalecido e retomado, relembrado. Nesse sentido, podemos destacar dois momentos: o exercício da construção de atmosferas sonoras que requer que o grupo se escute e construa junto uma malha de criação sonora, imaginativa e coletiva, o segundo momento é o exercício da roda de recordações, no qual a figura do circulo é retomada e no qual cada uma exercita a confiança, nas colegas e nas condutoras. Ao final, no momento do desfile, o pacto é selado com um gesto de carinho e respeito quando as participantes se aplaudem e elogiam umas as outras. Esse pequeno gesto estabelece um espaço de cuidado e de confiança. Outro aspecto de destaque da oficina é a simplicidade. Não há grandes complexidades físicas nos jogos propostos, tão pouco complexidades de ordem intelectual. Tudo é muito simples, baseando-se no pouco, no mover o corpo de acordo com as necessidades corporais de cada uma, no colocar o corpo em brincadeira, no permitir que esse estado trouxesse as lembranças e a imaginação. Também esse aspecto é colaborativo para o estabelecimento do pacto, pois coloca as participantes num mesmo patamar de observação. Sem diferenças, nos entregamos mais facilmente aos estados de confiança, de carinho e de respeito, necessários para que alcancemos a autoestima, o bem estar e a satisfação – nesse caso, não de maneira terapêutica, mas a partir do que temos em mãos: o jogo teatral. Escrever a carta para nós do Panacéia Delirante, comentando sua experiência na oficina é a ultima atividade requisitada às participantes. Nesse gesto comum de escrever para alguém, condensa-se o cerne do projeto de oficina: há o ato de recordar-se, refletir-se a partir de uma experiência vivida, corporalmente vivida; há a explicitação do elo; há o gesto de carinho, de compartilhamento com o outro; e, por último, há o voltar-se para si. Conclusão Esta é uma oficina que poderia gerar ainda mais frutos se feita em mais tempo, com mais de um dia de encontro. Todavia, em 3h de duração, ela toca em pontos da vida cotidiana das participantes e das condutoras que pouco são estimulados e que guardam o grão para a alegria, o bem estar, o autoconhecimento. A cada dia sinto que iniciativas como estas são válidas e gratificantes. Ainda temos muito trabalho pela frente, novas reflexões a propor, novas problematizações possíveis, mais edições da oficina para executar. Com certeza esse não é um trabalho que se conclui na produção de num artigo. Ele reverbera vozes. O melhor é deixar que elas falem por si mesmas. Trechos das cartas das participantes das oficinas: “Adorei compartilhar minha alegria com todos” (A. – Santo Amaro) 8
  • 9. “Teatro: se resume em felicidade, pois quando estamos em contato com as outras pessoas parece que nos conhecemos faz tempo, fazendo assim que possamos compartilhar coisas pessoais, ficamos mais a vontade ainda porque sabemos que estamos todas unidas e querendo alcançar uma única meta. [...] acho que teatro não se resume a uma tenda onde tenha platéia e palco... mas sim na troca de harmonia e aprendizagem.” (G. – Santo Amaro) “Vocês fizeram eu me sentir única, mas ao mesmo tempo igual a todos. Muito obrigada mesmo! Adorei a oficina, levarei na memória, eternamente.” (B. – Santo Amaro) “Obrigado meninas pelo carinho e segurança transmitidos por vocês.” (M. Santo Amaro) “Teatro é vinculo para um novo horizonte” (L. – Santo Amaro) “As minhas melhores lembranças estão baseadas no pouco. As melhores emoções vem quando estamos no pouco, fazendo o que nos move.” (W.– Santo Amaro) “Outras pessoas precisam desse momento que vocês nos passaram” (L.U. – Valença) “Nunca foi alegre como hoje” (J. - Valença) “Os depoimentos ou causos que ocorreram na oficina foi importante para nós mulheres percebermos o que temos em comum [...]” (D. C. - Valença) “Eu queria ter a visita de todas vocês outras vezes” (D. - Valença) “[...] eu gostei do que aprendi. Como fazer esquisitices com o corpo e com a mente.” (T. –, 7 anos, Valença) “Se um pingo d’água for felicidade, eu desejo a todas vocês uma tempestade” (J. –Valença) “O teatro é uma das várias linguagens que quebram com a rigidez do corpo e da alma” (Z., 45 anos, Valença) REFERÊNCIA RALLI, Tereza. Em El escenario Del mundo interior, talleres de autoestima: um manual. Lima: Equilíbrios, 2003. 9