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CURA E FÉ NO CANDOMBLÉ: DAS ORIGENS À COMERCIALIZAÇÃO
                      NO SEIO DAS RELIGIÕES

                                                                                 Edmilson Celestino de Barros1



RESUMO

O presente artigo sobre o tema Cura e fé no candomblé: das origens à comercialização das
religiões apresenta uma reflexão sobreas origens da religiosidade dos africanos e sua
disseminação no Brasil. Aborda ainda as perspectivas que envolvem o processo de cura e a fé
que professam os adeptos da religião afrobrasileira, inclusive de como esses poderes passaram
a ser consumidos dentro da ambiência do capitalismo. O estudo se justifica diante da
importância da ampliação de conhecimentos sobre usos e costumes que contribuíram para a
formação da cultura no Brasil. O objetivo principal deste artigo é o de esboçar linhas gerais
que circundam o cenário plural da religiosidade afrobrasileira e de algumas de suas mais
importantes manifestações. O presente trabalho ajusta o foco, especificamente, no recorte que
pontua fenômenos relativos à cura e à fé nas divindades cultuadas nos terreiros de
candomblé.Para a reflexão e posterior elaboração deste estudo foram consultadas fontes na
área dos estudos relativos à africanidade. Os aspectos abordados na fundamentação teórica
são: Breve notícia dos escravos e do candomblé em terras brasileiras; De como o candomblé
chegou a Sergipe; Época de Perseguição aos adeptos da religião africana; A crônica de
Lixandre de Laranjeiras, o mais renomado pai de santo e curandeiro sergipano; Cura, Fé e
comercializaçãoreligiosa.

Palavras-chave:Cura; fé; Lixandre de Laranjeiras; comercialização.



ABSTRACT

This article on the topic in Candomblé and faith healing: the marketing of the origins of
religions is a reflection on the origins of religiosity of Africans and its dissemination in Brazil.
Also discusses the prospects that involve the process of healing and faith professed fans of
afro-Brazilian religion, including how these powers have to be consumed within the ambience
of capitalism. The study is warranted before the importance of expanding knowledge about
customs and traditions that contributed to the formation of culture in Brazil. The aim of this
paper is to outline the general scenario surrounding the plural of afro-Brazilian religion and
some of its most important manifestations. This work sets the focus, specifically, the cut
scores that phenomena related to healing and faith in the deities worshiped in Candomblé. For
reflection and further elaboration of this study were found in the sources of the studies of the
African. The theoretical aspects are addressed in: Brief News of slaves and land in the
Brazilian Candomblé, Candomblé came from as the Sergipe season Persecution of African
religion followers; The chronic Lixandre of Orange, the most renowned and holy father
Sergipe healer, Healing, Faith and commercialization of religion.

Keywords: healing, faith; LixandreLaranjeiras; marketing

1
    Aluno Aspirante ao Mestrado em Ciências Sociais, da Universidade Federal de Sergipe.
1


1INTRODUÇÃO


         Desde que os ritos religiosos de presença africana chegaram ao Brasil, especialmente
defrontando-se com a colonização de base católica e liderada por jesuítas, o conflito sobre a fé
se acirrou gerando contendas, constrangimentos e perseguições. A Igreja Católica se
encontrava diante de uma realidade cultural de manifestações panteístas e cujo poder estaria
centrado na mão dos deuses orixás. Esses seres transcendentais e, no mínimo, bizarros na
concepção cristã eram cultuados fervorosamente e detinham poderes milagrosos, tanto da cura
das doenças quanto um domínio total sobre as forças da Natureza. Senhores da vida e da
morte, os orixás são os seres cultuados por adeptos do candomblé, tanto pelos africanos que
aqui entraram na condição de escravos, quanto pelos seus descendentes e outros que
formaramo povo brasileiro a partir da miscigenação índio-europeia-africana.
         Esse cenário de construção de uma história foi assinalado pelo sincretismo religioso,
pelo preconceito racial e cultural e pelo fator econômico. As questões da fé aparecem, via de
regra, envolvidas com as questões relativas ao lucro, ao ganho e ao poder social. Para
exemplificar tal situação este texto contém um depoimento sobre o mais famoso pai de santo
de Sergipe e conhecido fora dos limites do estado.
         No Evangelho da Lei Cristã uma passagem mostra a revolta de Cristo contra os
vendilhões do templo; a Igreja Católica foi acusada de vender indulgências; outras religiões
unem fé e economia sob o pretexto de necessitarem manter os seus templos e promover suas
atividades. Ainda consta que, em geral, rezas, mezinhas, benzeduras, missas, cultos e rituais
diversos estão ligados a pagamentos, pelo menos simbólicos. Casos há em que uma galinha
serve de retribuição por alguém ter sido supostamente curado de algum mal. Há ainda as
promessas pagas em espécie. Com o advento da globalização e o progresso das comunicações,
religiões dispõem de todo o aparato tecnológico, incluindo redes de TV e emissoras de rádio,
as quais vendem outros produtos modernos, a exemplo de CDs, DVDs e inúmeros outros
artigos relativos à fé.
         Para a realização deste estudo foi consultada a literatura competente sobre o tema –
conforme consta das referências – e, ainda, os depoimentos orais de pessoas ligadas ao
candomblé, mais precisamente ao Centro Filhos de Obá.Esclareça-se que ainda há muitas
deficiências e carências de estudos científicos sobre o candomblé em Sergipe.
         Estudos como este são importantes para o público em geral e não apenas para
adeptos das religiões de presença africana.
2


         O propósito deste estudo é o de alargar os horizontes da compreensão do continente
africano, de sua relevância no processo de formação sócio-econômica do povo brasileiro e dos
aspectos da fé relativos à sua religiosidade.

                        Bastide(s/d) se ocupou em recuperar informações sobre quantos negros foram
                        trazidos para o Brasil. Não tendo como conseguir uma resposta exata, menciona
                        estudos de historiadores. Esses estudiosos aproximaram as quantidades da seguinte
                        forma e por aproximação: 12 a 14 milhões (Calógeras), 2 500 000 (Pedro Calmon –
                        número considerado por Calógeras extremamente baixo), 3 600 000 (para Taunay),
                        etc. Sendo assim, e “por conseguinte, podemos concluir que hoje há um acordo em
                        relação a uma quantia aproximada de 3 milhões e meio de negros chegados ao Brasil
                        desde os primórdios da colonização até ao fim do tráfico legal ou clandestino”.
                        (BASTIDE, p. 53).

         Para alcançar tal objetivo, o trabalho se encontra roteirizado em 5 (cinco) seções
assim dispostas: a) Breve notícia dos escravos e do candomblé em terras brasileiras; b) De
como o candomblé chegou a Sergipe; c) Época de Perseguição aos adeptos da religião
africana; d) A crônica de Lixandre de Laranjeiras, o mais renomado pai de santo e curandeiro
sergipano; e) Cura, Fé e comercialização religiosa.
         Esperamos, dessa forma, haver oferecido uma pequena contribuição aos estudos
atinentes à cultura de origem e presença africana.


2METODOLOGIA


         O presente trabalho é uma pesquisa qualitativa do tipo teórica. Um fator interno que
a move é o afeto, interesse do pesquisador que professa a religião de presença africana e cuja
formação universitária palmilha os caminhos da sociologia e da antropologia. Como fator
externo se pode afirmar que o tema é de suma importância social e do interesse dos
universitários dos cursos dessas áreas citadas. O levantamento da literatura foi realizado nas
universidades localizadas em Aracaju/SE, nas fontes eletrônicas.
         Todo o material foi devidamente fichado para, em seguida, ser traçado o plano de
desenvolvimento textual relativo ao tema escolhido. Em seguida, foram processadas as outras
partes componentes do artigo, a exemplo das considerações finais, introdução, resumo, etc.
         Finalmente, o texto foi revisado pelo autor e colocado nas normas da ABNT. Houve
mais uma revisão da linguagem e a impressão do presente trabalho.
3


3DESENVOLVIMENTO


3.1BreveNotícia dos Escravos e doCandomblé em Terras Brasileiras


         Para Pieruccie Prandi (1996, p. 9) “não é a religião enquanto conservação e
permanência que deve interessar à sociologia, mas sim a religião em mudança, a religião
como possibilidade de ruptura e inovação, a mudança religiosa e, portanto, cultural.” Esta
mudança cultural é evidente ao se olhar para o panorama atual do candomblé em terras
brasileiras, em constante mutação, e até se distanciando de suas origens.
         No entender de Souza Junior (2003, p. 29), é significativo o destaque dado pelas
ciências sociais ao fenômeno do sincretismo. Nota também o estudioso que esse fenômeno
esteve sempre em evidência, no Brasil, e utilizado de maneira preconceituosa quando se tenta
perfilar os cultos de origem africana, ao longo dos séculos,“reorganizados pelos seus
descendentes”.

                       Posterior ao silêncio que se seguiu após a obra de Nina Rodrigues, coube a Arthur
                       Ramos o uso da palavra sincretismo para designar uma simbiose, expressa como
                       uma mescla curiosa onde várias formas míticas entravam em contato, fundindo-se
                       umas com as outras, as mais adiantadas absorvendo as mais atrasadas. (SOUZA
                       JUNIOR, 2003, p. 32).

         Em torno dessas origens da religiosidade afro-brasileira é que Lody (2006, p.3)
adianta ser

                       [...]crescente, sem dúvida, o interesse e as questões sobre a presença do sagrado e
                       suas muitas transformações decorrentes das diversas Áfricas aqui
                       fixadasinterpretadas com regionalidade e crescente abrasileiramento. São marcas
                       decisivas de tradições vivenciadas dos códigos de moral e ética, muitos deles
                       milenares e ainda vigentes em confrontos pós-modernos.

         Segundo Dantas (1988, p. 59) a história do terreiro das religiões de origem africana é
geralmente proveniente da oralidade e em versões não “necessariamente falsas ou
verdadeiras”, mas que “orientam recortes e seleções do que será realçado ou não”, pois,

                       [...] o que é apresentado como um simples discurso sobre o passado termina agindo
                       sobre ele, operando reconstruções, evocando identidades, realizando, enfim, um
                       trabalho de produção de sentido que visa legitimar ações no presente. (idem, p. 60).

         Foram várias as culturas do imenso continente africano que aportaram ao Brasil
colônia e, longe está de se pensar tal realidade cultural como algo singular. Foi essa
pluralidade que contribuiu para o assentamento do candomblé neste país.

                       A religião que tem por base a anima (alma) da Natureza, sendo, portanto chamada de
                      anímica, foi desenvolvida no Brasil com o conhecimento dos sacerdotes africanos que
4

                      foram escravizados e trazidos da África para o Brasil, juntamente com seus
                      Orixás/Inquices/Voduns, sua cultura, e seu idioma, entre 1549 e 1888. O culto
                      perpetuado no Brasil é monoteísta, ao contrário do que alguns estudiosos afirmam,
                      pois concentra-se em um Deus Supremo e Único, com nomes que variam de acordo
                      com cada etnia. (p. 1).

         Em seus estudos sobre o tráfico de escravos e o candomblé, Verger (2000, p. 19)
assegura que as primeiras levas de escravos foram trazidas para o Novo Mundo em 1502,
início do século XVI, “em virtude de um edito real que permitiu o transporte de escravos
negros da Espanha para Hispañiola (que, mais tarde, se tornou República Dominicana e
Haiti), pois a escravidão não existia na Península Ibérica”. Adianta ainda o estudioso que “O
comércio entre a Bahia e o porto de Ajuda (Ouidah), na antiga Costa dos Escravos, era
particularmente intenso”, (p. 21).

                        Uma distribuição dos negros por “nação”, baseada nos contratos de compra e venda
                        de escravos, entre 1838 e 1860, extraídos do Arquivo Municipal da cidade de
                        Salvador (Bahia), indica as seguintes cifras: nago (2049), djêdjê (286), mina (117),
                        Calabar (39), Benin (27), e Cacheu (12), ou seja, 3 060 de origem sudanesa; e:
                        angola (267), cabinda (65), congo (48), benguela (29), gabão 95), cassange (4) e
                        Moçambique (42), ou seja, 460 de origem banto. (idem, p. 23).

         Outra vez abordando a temática do candomblé, especificamente, Prandi (2004, p.
223) anota que a

                        [...] religião brasileira dos orixás e outras divindades africanas que se constituiu na
                        Bahia no século XIX – e demais modalidades religiosas conhecidas pelas
                        denominações regionais de xangô, em Pernambuco, tambor-de-mina, no Maranhão,
                        e batuque, no Rio Grande do Sul, formavam, até meados do século XX, uma espécie
                        de instituição de resistência cultural, primeiramente dos africanos, e depois dos afro-
                        descendentes, resistência à escravidão e aos mecanismos de dominação da sociedade
                        branca e cristã que marginalizou os negros e os mestiços mesmo após a abolição da
                        escravatura.



3.2 De como o Candomblé Chegou a Sergipe


         As religiões africanas se espalharam por todo o território brasileiro, especialmente
pela faixa litorânea onde até a atualidade predomina. Passar da Bahia para Sergipe é um
pequeno passeio, dois estados vizinhos do nordeste brasileiro.

                      Da Bahia, os africanos eram levados para Sergipe; de Pernambuco, para Paraíba e
                      Alagoas. Do Maranhão se espalhavam pelo Pará. Com a exploração da mineração,
                      Minas Gerais atraiu a mão-de-obra escrava. Devido à expansão agrícola da cana-de-
                      açúcar e do café, são requisitados para trabalhar nas terras fluminenses (hoje, Rio de
                      Janeiro), abrangendo os cafezais paulistas. Com a queda dos engenhos nordestinos,
                      muitos escravos foram vendidos para o Sul do País. A partir daí, de fazenda em
                      fazenda, do trabalho na exploração das minas do Centro-Oeste ou em serviço
                      doméstico aqui, ali, o negro foi-se espalhando e marcando sua presença em todo o
                      País. A compra do escravo podia ser feita no local de desembarque como se fosse
5

                           mercadoria. Eram eles escolhidos pelos dentes e pelo físico. Os jornais também eram
                           utilizados, com anúncios de compra e venda de escravos, como registra o jornal
                           "Diário de Pernambuco", do dia quatro de maio de 1835: "Vende-se ou troca-se negra
                           muito boa lavadeira e vendedeira de rua, por uma que engoma e coza". A troca por
                           animais ou objetos domésticos fazia-se bastante comum: “... uma negra que saiba
                           cozinhar e engomar ou um escravo que sirva de pajem, por uma canoa grande de
                           carregar 1500 tijolos [...]”O Nordeste, como porta de entrada do africano, tem em sua
                           população o maior número de descendentes. (PAULA, 2011, p.1).

            No que se refere à formação do candomblé, Pacheco (2011) menciona a presença de
africanos sediados no nordeste, especificamente nos estados de Alagoas, Pernambuco, Sergipe
e Bahia.
            Cumpre ainda frisar que, no que tange às modalidades religiosas,o Nordeste originou
também manifestações semelhantes às religiões indígenas ou com elas entrosadas, mas que
foram, gradativamente, incorporando características das religiões afro-brasileiras ou, ainda, as
influenciaram de uma ou de outra maneira.


                             Trata-se docatimbó, religião deespíritos aos quais se dá o nome de mestres
                             ecaboclos, que se incorporam no transe paraaconselhar, receitar e curar. Esse tronco
                             afro-ameríndio tem particularidades em diferentes lugares, sendo chamado
                             de Jurema, toré, pajelançababaçuê,encantariaecura. (PRANDI, 1998, p. 66).



3.3 Época de Perseguição aos Adeptos da Religião Africana


            Todo tipo de preconceito teve espaço na sociedade do Brasil colônia: linguístico,
racial, de classes sociais e o preconceito religioso, mormente contra o candomblé, o que se
caracterizou um sentimento duplo contra um povo de pele negra e sua manifestação espiritual.
Os escravos professavam sua fé às escondidas dos exigentes olhos da elite e da classe média
que se formava no país. Entretanto, desde o início da colonização brasileira até a atualidade,
sabe-se que, também às escondidas, indivíduos de todas as classes sociais buscavam e ainda
buscam as religiões de presença africana.
            E, até hoje, situações de preconceito seguido de perseguição não mudou para os
adeptos da religião africana e de suas variantesafro-brasileiras. Segundo Prandi (2004, p.225),
“Continuam a sofrer agressões, hoje menos da polícia e mais de seus rivais pentecostais, e
seguem sob forte preconceito, o mesmo preconceito que se volta contra os negros,
independentemente de religião”.2
            Ainda assim, é preciso lembrar com Bastide (s/d, p. 141) que, no que diz respeito à
questão da liberdade de ação para africanos e seus descendentes, não tinha a população de
2
    Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v18n52/a15v1852.pdf>. Acesso em: 15 set. 2011.
6


africanos e seus descendentes sempre a mesma fisionomia. Portanto,nem todos os negros
foram necessariamente escravos, alguns formavam uma classe e, “se bem que ela constituísse
a camada mais baixa da população livre, formava, em relação aos escravos, uma camada
superior na escala social”.
         Os orixás são deuses, espécies de entidades míticas reverenciadas nos terreiros de
candomblés. Esses orixás, ao que se acredita, escolhem, iluminam e conferem poderes aos
seus representantes na terra: os pais de santo e as mães de santo. Por haverem difundido esta
forma religiosa e este poder sobre as coisas, nasceu o conflito com outras religiões – no Brasil
colonial, especialmente ligadoaos dogmas do cristianismo. E, assim, foram ocorrendo as
perseguições.

                         A pequisadoraCileine de Lourenço, professora da Bryant University, de
                         RhoadIsland, nos Estados Unidos, atribui ao pensamento dos colonizadores boa
                         parte da origem do preconceito: "Eles precisavam justificar o tráfico das pessoas e a
                         escravidão nas colônias e para isso 'animalizaram' os negros". Ela conta que, no
                         século 16, alguns zoológicos europeus exibiam negros e indígenas em jaulas,
                         colocando na mesma baia indivíduos de grupos inimigos, para que brigassem
                         diante do público. Além disso, a Igreja na época considerava civilizado somente
                         quem era cristão. (grifo do autor).3

         Por se falar de perseguições, observe-se esta passagem de fato recente, constante de
um estudo de Santos et ali (2009), p. 6-7) que menciona ocorrências persecutórias em terreiro
de candomblé localizado na cidade de Aracaju;

                         Supõe-se que durante as festividades, alguns vizinhos incomodados com o barulho
                         dos atabaques e dos fogos denunciavam os terreiros. Ou até mesmo, por haver uma
                         rivalidade entre os terreiros existentes, algum adepto por estar chateado com alguma
                         atitude do sacerdote denunciava com o intuito de prejudicar a festa. [...] Quando o
                         chefe Zé D’Obakoussou foi para o estado do Rio de Janeiro, abriu assim uma filial,
                         permanecendo por 31 anos como líder de um dos terreiros (Afro Axé
                         IléObakoussou) mais famosos do Rio, ganhando fama e prestígio. A sua irmã, Maria
                         da Glória (Dofona), assumiu e ficou incumbida de cuidar do terreiro na Avenida Rio
                         de Janeiro aqui na capital aracajuana.4



3.4 A Crônica de Lixandre de Laranjeiras, o mais Renomado Pai de Santo e Curandeiro
Sergipano


         Famoso e perseguido pai de santo, Lixandre de Laranjeiras entrou para o imaginário
popular entre narrativas da oralidade e também em pesquisas. Trata esta parte do texto de um


3
  Disponível em: <http://www.orixas.ifatola.com/index.php?option=com–
  content&view=article&id=16&Itemid=58>. Acesso em: 01 set. 2011.
4
  Disponível em: <http://www.pos.ufs.br/antropologia/seciri/down/GT–04/Flavia–Delfino–dos–Santos.pdf>.
  Acesso em: 02 set. 2011.
7


depoimento de João Marcos, filho de Paulo Gitokí (irmão de santo e primo sanguíneo de
Cecilinha, sua antecessora na Linhagem do terreiro Filhos de Obá), sobre Alexandre de
Laranjeiras– que também foi visado pela sua fama de feiticeiro, pela fé que professava e por
eventuais trabalhos envolvendo rituais de cura. Vale salientar que esse terreiro permanece
inalteravelmente marcado pela figura lendária de Lixandre no tocante à prática de ritos de
Magia e Fé.

                       Considerado louco, Lixandre teria sido expulso de casa pelo pai, aos sete anos de
                       idade, tendo sido acolhido pela fundadora do Centro Filhos de Obá. Relata-se que,
                       nessa época, a família de Lixandre, evangélica, não aceitava e nem compreendia as
                       ações mediúnicas do menino que já recebia dos seus orixás, poderes antes não
                       percebidos naquela criança, como por exemplo, cura de enfermidades, contato com
                       os mortos, dentre outros. (BARROS, 2011, p.56).

        Para João Marcos, segundo depoimentos que recebeu da parte de Paulo Gitokí,
Lixandre não alterou nenhum dos ritos da casa, mesmo quando da introdução do Igêchá, do
Angóla, da nação de Preto e Quêto, juntando-as ao Nagô, já presente naquele terreiro. E foi
assim, recomendando os mesmos preceitos, que o pai de santo fortaleceu a tradição e legou a
herança à sua antecessora e uma das fundadoras do Centro Filhos de Obá, Tá Joaquina.
        O que ocorreu certa feita, é que Lixandre– contou Paulo Gitokí a João Marcos – teria
sido preso por haver, supostamente, colocado um despacho de grandes proporções em frente
ao Palácio Olímpio Campos, sede do Governo de Sergipe, nos idos do final dos anos 40 e
início dos anos 50. Tal feito lhe fora atribuído tendo em vista que ele era nesse período o
principal ator social que compunha a tríade dos mais poderosos babalorixás de Sergipe que
eram: Umbelina Araujo (Bilina), Erundina Nobre (Maná de Euí) e Alexandre José da Silva
(Lixandre de Laranjeiras).
        Tendo em vista que a mãe de santo Bilina não confeccionava ebós de tais
características como as desse que foi, ao que se crê, deixado em frente à porta principal do
palácio sergipano, e, por sua vez, Maná de Euí tinha uma boa convivência com os
representantes do poder político, esta estaria acima de suspeitas. Ficou para Lixandre a
suposta autoria do ebó palaciano. Enfim, e por tal razão, Lixandre teve sua prisão decretada e
foi exilado para a cadeia de Recife (Pernambuco), onde ficavam os presos considerados
perigosos.
        Partedo trajeto Aracaju/Recife, àquela época, era feito por via ferroviária. Consta que
o trem em que viajava o pai de santo Lixandre, descarrilou, tendo sido totalmente destruído o
vagão no qual se encontrava alojado. Apesar do grave acidente, Alexandre escapa ileso, o que
provocou grande admiração ao comandante da guarnição que o acompanhara para a prisão.
8


Esse comandante, logo após a fatalidade ocorrida e da qual escaparam ilesos ele e o feiticeiro,
passou a ver no pai de santo uma espécie de divindade e o libertou para ir aonde bem
entendesse, desde que se comprometesse, durante os próximos dois anos a não voltar a
Sergipe.

                        Alexandre José da Silva, desde seus cinco anos de idade, aprendera a arte dos cultos e
                        dos feitiços africanos e, por tal motivo, tornou-se a figura mais respeitada e comentada
                        do Candomblé em terras sergipanas (pelo mito que se criou em torno da figura do
                        Babalorixá que tinha o poder da vida e da morte em suas mãos). (Idem, p. 58).

           Ao selarem o acordo, Lixandre segue adiante, embrenhando-se na espessa mata,
enfrentando a fome, a sede e o rigor da natureza naquelas paragens. Foi assim que teria
alcançado a localidade de Cachoeira de São Félix, região com forte tradição nos ritos de
religião africana, na Bahia. Foi ali onde conheceu Manezinho de Sandaió, célebre pai de
santo, de quem se torna um grande amigo e com quem troca conhecimentos relativos ao
curandeirismo. Pelo que consta, então, Lixandre deve ter encontrado uma forma de chegar à
Bahia, pois, ao que se sabe, seguia para Recife. De volta a Laranjeiras, acompanhado do filho
de seu amigo babalorixá baiano, encontra Tá Inácia, oriunda do terreiro de Santa Bárbara,
comandando por Bilina, Nessa oportunidade foi que estes três seguidores da religião de
presença africana se reuniram com a finalidade de assentar os orixás na roça/terreiro.

                        Nas viagens que fez em território brasileiro, o pai de santo de Laranjeiras sempre
                        participava dos eventos e dos feitorios em diversos terreiros visitados, havendo
                        estreitado mais os laços religiosos com o pessoal da Bahia. Assim, tornou-se íntimo
                        do pai de santo Manezinho de Sandaió, de Oxossi, que muito confiava na sabedoria
                        de seu amigo religioso a ponto de o terreiro o convidar, quando Manezinho faleceu,
                        para organizar o ritual do Axexê. Foi então que o Oxossi do finado não aceitou ser
                        despachado e solicitou ser despachado para a roça do Filhos de Obá. (Idem, p. 57).

           O historiador Cardoso (2011, p.1) apresenta um artigo sobre o sistema ferroviário
sergipano. Consta desse estudo que, no ano de 1908, “iniciam-se as obras do primeiro trecho,
entrando pela fronteira da Bahia, seguindo por Tomar do Geru até Aracaju”. Nesse mesmo
estudo, menciona-se a notícia daquele que ficou conhecido como “o terrível desastre do km
458”, ocorrido em 18 de março de 1946, às 19 horas, com um saldo de sessenta mortos.


3.5 Cura, Fé e ComercializaçãoReligiosa


           Em A ética protestante e o “espírito” do capitalismo, Max Weber (2008),trata dos
aspectos que envolvem a fé e a cultura do capital, esta intrinsecamente relacionada ao
protestantismo.
9


        Convém frisar que o candomblé em sua origem não tem relações com o
protestantismo e nem surgiu de uma contenda com outra religião. Entretanto, não se pode
afirmar que, a esta altura da civilização humana, haja purismo em qualquer forma de
religiosidade. Afirma Weber (2008, p. 48) que, “o capitalismo hodierno, dominando de longa
data a vida econômica, educa e cria para si mesmo, por via da seleção econômica, os sujeitos
econômicos –empresários e operários– de que necessita”.
        Bastos (1979, p. 13) esclarece quanto às origens e marcas das religiões afro-mágicas
que,

                      [...] a África foi submetida às invasões islâmicas (Oriente Médio) e bérberes
                      (Mediterrâneo), o que estabeleceu não só misturas mono-politeístas, como, aos
                      poucos, foi separando as áreas de predominância feiticista e as que se vincularam ao
                      misticismo maometano (malês).

        Em importante e premiada tese de doutorado, Miranda (2004, p.80) aprofunda a
pesquisa sobre a arte de curar, as práticas médicas e a condição de assistência à saúde dos
escravos na época do Brasil colônia. Revê a Inquisição e as ciências em Portugal de “ensino
anacrônico e sofrendo uma forte influência da pedagogia monástica [...]”. Reporta-se ao
misticismo do pajé e de seu modelo de curar, além de outros procedimentos terapêuticos dos
indígenas; ao universo dos físicos e dos cirurgiões; à arte de curar dos jesuítas; aos
curandeiros. Entre as doenças dos escravos, estão arroladas pelo autor, a exemplo de:
perturbações da nutrição, bócio, tétano, infecções bacterianas, doenças venéreas, sarna,
melancolia e etc.

                      No Brasil, a extensão territorial e os poucos profissionais mais habilitados a
                      exercerem a medicina dificultaram a prática do cumprimento dos regulamentos
                      sanitários de Portugal. Devido a esses obstáculos, a fiscalização das atividades dos
                      profissionais    médicos     praticamente      inexistiu.   Desta    forma,    todos,
                      indistintamente,medicavam de qualquer maneira. (Idem, p. 242-245).
                      [...]
                      No Brasil colonial, a falta de instituições voltadas para o ensino médico e de
                      interesse dos médicos portugueses em se transferir para a Colônia, em decorrência
                      dos baixos salários e das precárias condições de vida nesta, provocaram uma grande
                      escassez desses profissionais, em todo território da Capitania de Pernambuco. (Idem,
                      p. 267-268).

        Sobre a mesma temática da arte de curar, mais precisamente fazendo menção ao
século XIX – momento da introdução da medicina acadêmica como fundamento da
modernidade na prática médica – e ao Estado de Minas Gerais, Figueiredo (2008, p. 106) faz
constar de sua pesquisa que “os feitiços eram utilizados para uma gama variada de situações:
problemas amorosos, dificuldades financeiras, problemas de saúde”.
10


        Quanto ao curandeirismo, Figueiredo (op. cit.) anota que consta de dois dicionários
(no de Domingos Vieira, edição portuguesa de 1871; e no de Morais e Silva, de 1813)que,
tanto a atividade do curandeiro quanto a do médico-feiticeiro “estavam cercadas por um
mistério” (Idem, p. 131). Depois, tratando da clientela, apresenta um questionamento e a
correspondente resposta: “Quem procura os curandeiros? Praticamente todos que acreditavam
em sua atuação, independentemente da posição social” (Idem, p. 135)
        Acerca das doenças e de aspectos relativos à comercialização, Souza (1986, 109)
adianta que,

                       Para a maioria esmagadora dos habitantes da colônia, as doenças, as forças e
                       armadilhas da Natureza apresentavam-se como indomáveis, irredutíveis. A fé
                       mostrava, por isso mesmo, contornos tradicionais, arcaicos, onde a demanda de bens
                       materiais e de vantagens concretas assumia grande importância, como se fosse uma
                       espécie de “toma lá-dá cá”. [...] A colônia não fugia a esta regra.

        Quanto à dimensão sociológica e cosmológica do mercado, Mello e Barros (1993,
p.5), consideram que “uma viagem ao mundo afro-brasileiro começa no mercado. Nas sete
portas do Mercado Modelo ou na Ferira de Água de Meninos, pois a Bahia é, como gostava
de dizer Mãe Aninha, uma ‘Roma africana”. Trata-se de negócios de todo tipo, inclusive
relativos a “despachos”, “lavagens” e “romarias”.

                       Dinheiro e mercadorias; narrativas, informações e cumprimentos têm em comum o
                       fato de serem coisas trocadas. São regidas pelo princípio que governa todas as
                       formas da troca. E porque a troca é movimento e implica transitividade, todas elas
                       estão subordinadas a Èsù, o grande princípio dinâmico na cosmovisão do
                       candomblé. Não é pois de estranhar-se que dentre os títulos de Èsù, que são muitos,
                       se encontre também o de Olóojà, isto é, “dono-do-mercado”. (Idem, p. 7).

        Ainda vale lembrar que, conforme a tradição oral, os afrodescendentes costumavam
batizar seus filhos várias vezes com o intuito de que tivessem muitos padrinhos e, sendo
assim, ganhariam mais presentes. Assim, fé e interesses estão de mãos dadas.


4CONSIDERAÇÕES FINAIS


        Os africanos trouxeram seus usos, costumes e religiosidades quando foram
“arrastados” para o Brasil na condição de escravos. Tudo o que faziam e no que criam foi
sendo, ao longo dos anos da colonização, disseminado em terras brasileiras e se diluindo no
caldo da cultura dos europeus e também dos nativos da nova terra. Foram muitos os percalços
dessa caminhada que marcam a nossa história de povo. A opressão se perpetuou de diversas
formas enquanto as lutas para a afirmação de descendentes dessa miscigenação lograssem
algumas pequenas vitórias.
11


         O fascínio dos cultos afro exerceram e exercem ainda influência sobre os sujeitos das
diversas classes sociais. Entre os rituais destaca-se o do candomblé, objeto do presente artigo.
         Foi possível acompanhar um pouco dessa trajetória do candomblé desde o continente
africano até o Brasil e centrar o foco em sua manifestação no Estado de Sergipe onde os
praticantes da religião de presença africana também sofreram a discriminação e a perseguição,
inclusive na figura das maiores autoridades.
         Em um país de formação católico-cristã e de influência direta da catequese jesuítica,
professar a fé em orixás e tê-los na conta de deuses, não seria algo de fácil e de pacífica
aceitação. A fé dos adeptos do candomblé mostra-se forte e inabalável. Os babalorixás, as
ialorixás e os pais e as mães de santo são, no contexto do candomblé, pessoas especiais e
dotadas de poderes, inclusive sobre a vida e a morte. Esse poderio incomoda as cúpulas de
outras denominações religiosas que se sentem aviltadas ao serem colocadas em pé de
igualdade com os orixás – mesmo se sabendo que indivíduos pertencentes a diversas religiões
também frequentam cultos oferecidos aos deuses da fé africana e a eles confiam suas
necessidades, inclusive de cura. Portanto, neles crêem.
         O babalorixá mais famoso do Estado de Sergipe foi Lixandre de Laranjeiras. Este
também realizou comprovadamente feitos de sua fé que o entronizaram no imaginário
popular. Ficou conhecido por toda a população sergipana e além das divisas do estado. Era
consultado por pessoas de todas as classes sociais e tinha, ainda, inconteste aceitação na alta
sociedade, pois atendia gente “fina” e especialmente políticos. Lixandre tornou-se um motivo
de preocupação para os que lhe providenciaram uma perseguição cinematográfica, conforme
relatamos na crônica inserida ao presente texto. Lixandre de Laranjeiras ficou rico em função
das atividades que praticava no candomblé. Pessoas desesperadas e poderosas ofereciam-lhe
“mundos e fundos” para conseguirem alcançar os seus objetivos. Entretanto, sabe-se também
que o célebre “feiticeiro” também praticava o bem “sem olhar a quem” e patrocinava obras
filantrópicas.
         Constatamos nesta breve pesquisa que, o dinheiro, o lucro, a troca, sempre estiveram
presentes na religião candomblé que tem em um dos seus orixás, Èsù, um deus dos negócios.
         Este trabalho tem uma importância pequena perante a dimensão territorial e cultural
do continente africano. Entretanto, contribui para ampliar o conhecimento sobre essa parte
fascinante do mundo e que auxiliou na formação do povo brasileiro.
12


                                     REFERÊNCIAS



ANKERBERG, John; WELDON, Hohn. Os fatos sobreanjos. Quem são eles, donde vêm e o
que fazem hoje. Porto Alegre, 1995.

BARROS, Edmilson Celestino de. Raízes do candomblé e as relações de poder e
parentesco no Centro de Culto Afro-Brasileiro Filhos de Obá - Laranjeiras/SE.
Monografia apresentada como requisito à conclusão do Curso de Bacharelado em Ciências
Sociais da Universidade Federal de Sergipe. São Cristóvão/SE, 2010.

BASTIDE, Roger. As religiões africanas no Brasil. Contribuição a uma sociologia das
interpenetrações de civilizações. 1º vol. Ed. da Universidade de São Paulo. São Paulo.

CARDOSO, Amâncio.Ferrovias em Sergipe: Nota Histórica. Disponível em:
<http://www.jornaldacidade.net/vestibular/dicas–ver.php?id=83369>. Acesso em: 09 set.
2011.

Cartilha raízes brasileiras série – O negro. Disponível em:
<http://www.pousadadascores.com.br/leitura–virtual/cultura–brasileira/negro.htm>. Acesso
em: 02 set. 2011.

DANTAS, Beatriz Góis. Vovó nagô e papai branco. Usos e abusos da África no Brasil. 3.
Trimestre. Rio de Janeiro: Graal Ltda., 1988.

FIGUEIREDO, Betânia Gonçalves, 1963. A arte de curar: cirurgiões, médicos, boticários e
curandeiros no século XIX em Minas Gerais. 2. Ed. Brasília: CAPES; Belo Horizonte:
Argvmentvm, 2008.

GUILHERME, José; MAGNANI, Cantor. Umbanda. 2. Ed. São Paulo: Ática, 1991.

LODY, RAUL. O povo do santo. Religião, história e cultura dos orixás, voduns, inquices e
caboclos. 2. Ed. São Paulo: WMFMartins Fontes, 2006.

Manifestações Religiosas. Produzido por:Coordenadoria de comunicação social – CEAP.
Disponível em: <http://www.eutenhofe.org.br/downloads/manifestacoes–religiosas.pdf>.
Acesso em: 07 set. 2011.

MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de (org.). Candomblé: religiãodo corpo e da alma:
tipos psicológicos nas religiões afro-brasileiras. Rio de Janeiro: Pallas, 2000.

______. Culto aos orixás, voduns e ancestrais nas religiões afro-brasileiras. 1. Ed. Rio de
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PACHECO, Lwdmilaconstant.Discussão acerca da influência da pertença religiosa na
afirmação da negritude. Mestranda em psicologia social pela US, bolsista Fapitec. Disponível
em: <http://www.abrapso.org.br/siteprincipal/images/Anais–
XVENABRAPSO/105.%20discuss%C3o%20acerca%20da%20influ%CAncia%20da%20pert
en%C7a%20religiosa%20na%20afirma%C7%C3o%20da%20negritude.pdf>. Acesso em: 01
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13


PIERUCCI, Antônio Flávio; PRANDI, Reginaldo. A realidade social das religiões no
Brasil. São Paulo: Hucitec, 1996.

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brasileiros. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/56837981/Reginaldo-Prandi-Religioes-
Negras-no-Brasil-PDF-Usp>. Acesso em: 05 set. 2011.

______. Mitologia dos orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

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SOUSA, Vilson Caetano de. Orixás, santos e festas: encontros e desencontros do sincretismo
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VERGER, Pierre Fatumbi, 1902-1996. Notas sobre o culto aos orixás e voduns. 2. Ed. São
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______. Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia de Todos
os Santos dos séculos XVII a XIX. Edições Loyola. São Paulo: Corrupio, 1987.

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  • 1. CURA E FÉ NO CANDOMBLÉ: DAS ORIGENS À COMERCIALIZAÇÃO NO SEIO DAS RELIGIÕES Edmilson Celestino de Barros1 RESUMO O presente artigo sobre o tema Cura e fé no candomblé: das origens à comercialização das religiões apresenta uma reflexão sobreas origens da religiosidade dos africanos e sua disseminação no Brasil. Aborda ainda as perspectivas que envolvem o processo de cura e a fé que professam os adeptos da religião afrobrasileira, inclusive de como esses poderes passaram a ser consumidos dentro da ambiência do capitalismo. O estudo se justifica diante da importância da ampliação de conhecimentos sobre usos e costumes que contribuíram para a formação da cultura no Brasil. O objetivo principal deste artigo é o de esboçar linhas gerais que circundam o cenário plural da religiosidade afrobrasileira e de algumas de suas mais importantes manifestações. O presente trabalho ajusta o foco, especificamente, no recorte que pontua fenômenos relativos à cura e à fé nas divindades cultuadas nos terreiros de candomblé.Para a reflexão e posterior elaboração deste estudo foram consultadas fontes na área dos estudos relativos à africanidade. Os aspectos abordados na fundamentação teórica são: Breve notícia dos escravos e do candomblé em terras brasileiras; De como o candomblé chegou a Sergipe; Época de Perseguição aos adeptos da religião africana; A crônica de Lixandre de Laranjeiras, o mais renomado pai de santo e curandeiro sergipano; Cura, Fé e comercializaçãoreligiosa. Palavras-chave:Cura; fé; Lixandre de Laranjeiras; comercialização. ABSTRACT This article on the topic in Candomblé and faith healing: the marketing of the origins of religions is a reflection on the origins of religiosity of Africans and its dissemination in Brazil. Also discusses the prospects that involve the process of healing and faith professed fans of afro-Brazilian religion, including how these powers have to be consumed within the ambience of capitalism. The study is warranted before the importance of expanding knowledge about customs and traditions that contributed to the formation of culture in Brazil. The aim of this paper is to outline the general scenario surrounding the plural of afro-Brazilian religion and some of its most important manifestations. This work sets the focus, specifically, the cut scores that phenomena related to healing and faith in the deities worshiped in Candomblé. For reflection and further elaboration of this study were found in the sources of the studies of the African. The theoretical aspects are addressed in: Brief News of slaves and land in the Brazilian Candomblé, Candomblé came from as the Sergipe season Persecution of African religion followers; The chronic Lixandre of Orange, the most renowned and holy father Sergipe healer, Healing, Faith and commercialization of religion. Keywords: healing, faith; LixandreLaranjeiras; marketing 1 Aluno Aspirante ao Mestrado em Ciências Sociais, da Universidade Federal de Sergipe.
  • 2. 1 1INTRODUÇÃO Desde que os ritos religiosos de presença africana chegaram ao Brasil, especialmente defrontando-se com a colonização de base católica e liderada por jesuítas, o conflito sobre a fé se acirrou gerando contendas, constrangimentos e perseguições. A Igreja Católica se encontrava diante de uma realidade cultural de manifestações panteístas e cujo poder estaria centrado na mão dos deuses orixás. Esses seres transcendentais e, no mínimo, bizarros na concepção cristã eram cultuados fervorosamente e detinham poderes milagrosos, tanto da cura das doenças quanto um domínio total sobre as forças da Natureza. Senhores da vida e da morte, os orixás são os seres cultuados por adeptos do candomblé, tanto pelos africanos que aqui entraram na condição de escravos, quanto pelos seus descendentes e outros que formaramo povo brasileiro a partir da miscigenação índio-europeia-africana. Esse cenário de construção de uma história foi assinalado pelo sincretismo religioso, pelo preconceito racial e cultural e pelo fator econômico. As questões da fé aparecem, via de regra, envolvidas com as questões relativas ao lucro, ao ganho e ao poder social. Para exemplificar tal situação este texto contém um depoimento sobre o mais famoso pai de santo de Sergipe e conhecido fora dos limites do estado. No Evangelho da Lei Cristã uma passagem mostra a revolta de Cristo contra os vendilhões do templo; a Igreja Católica foi acusada de vender indulgências; outras religiões unem fé e economia sob o pretexto de necessitarem manter os seus templos e promover suas atividades. Ainda consta que, em geral, rezas, mezinhas, benzeduras, missas, cultos e rituais diversos estão ligados a pagamentos, pelo menos simbólicos. Casos há em que uma galinha serve de retribuição por alguém ter sido supostamente curado de algum mal. Há ainda as promessas pagas em espécie. Com o advento da globalização e o progresso das comunicações, religiões dispõem de todo o aparato tecnológico, incluindo redes de TV e emissoras de rádio, as quais vendem outros produtos modernos, a exemplo de CDs, DVDs e inúmeros outros artigos relativos à fé. Para a realização deste estudo foi consultada a literatura competente sobre o tema – conforme consta das referências – e, ainda, os depoimentos orais de pessoas ligadas ao candomblé, mais precisamente ao Centro Filhos de Obá.Esclareça-se que ainda há muitas deficiências e carências de estudos científicos sobre o candomblé em Sergipe. Estudos como este são importantes para o público em geral e não apenas para adeptos das religiões de presença africana.
  • 3. 2 O propósito deste estudo é o de alargar os horizontes da compreensão do continente africano, de sua relevância no processo de formação sócio-econômica do povo brasileiro e dos aspectos da fé relativos à sua religiosidade. Bastide(s/d) se ocupou em recuperar informações sobre quantos negros foram trazidos para o Brasil. Não tendo como conseguir uma resposta exata, menciona estudos de historiadores. Esses estudiosos aproximaram as quantidades da seguinte forma e por aproximação: 12 a 14 milhões (Calógeras), 2 500 000 (Pedro Calmon – número considerado por Calógeras extremamente baixo), 3 600 000 (para Taunay), etc. Sendo assim, e “por conseguinte, podemos concluir que hoje há um acordo em relação a uma quantia aproximada de 3 milhões e meio de negros chegados ao Brasil desde os primórdios da colonização até ao fim do tráfico legal ou clandestino”. (BASTIDE, p. 53). Para alcançar tal objetivo, o trabalho se encontra roteirizado em 5 (cinco) seções assim dispostas: a) Breve notícia dos escravos e do candomblé em terras brasileiras; b) De como o candomblé chegou a Sergipe; c) Época de Perseguição aos adeptos da religião africana; d) A crônica de Lixandre de Laranjeiras, o mais renomado pai de santo e curandeiro sergipano; e) Cura, Fé e comercialização religiosa. Esperamos, dessa forma, haver oferecido uma pequena contribuição aos estudos atinentes à cultura de origem e presença africana. 2METODOLOGIA O presente trabalho é uma pesquisa qualitativa do tipo teórica. Um fator interno que a move é o afeto, interesse do pesquisador que professa a religião de presença africana e cuja formação universitária palmilha os caminhos da sociologia e da antropologia. Como fator externo se pode afirmar que o tema é de suma importância social e do interesse dos universitários dos cursos dessas áreas citadas. O levantamento da literatura foi realizado nas universidades localizadas em Aracaju/SE, nas fontes eletrônicas. Todo o material foi devidamente fichado para, em seguida, ser traçado o plano de desenvolvimento textual relativo ao tema escolhido. Em seguida, foram processadas as outras partes componentes do artigo, a exemplo das considerações finais, introdução, resumo, etc. Finalmente, o texto foi revisado pelo autor e colocado nas normas da ABNT. Houve mais uma revisão da linguagem e a impressão do presente trabalho.
  • 4. 3 3DESENVOLVIMENTO 3.1BreveNotícia dos Escravos e doCandomblé em Terras Brasileiras Para Pieruccie Prandi (1996, p. 9) “não é a religião enquanto conservação e permanência que deve interessar à sociologia, mas sim a religião em mudança, a religião como possibilidade de ruptura e inovação, a mudança religiosa e, portanto, cultural.” Esta mudança cultural é evidente ao se olhar para o panorama atual do candomblé em terras brasileiras, em constante mutação, e até se distanciando de suas origens. No entender de Souza Junior (2003, p. 29), é significativo o destaque dado pelas ciências sociais ao fenômeno do sincretismo. Nota também o estudioso que esse fenômeno esteve sempre em evidência, no Brasil, e utilizado de maneira preconceituosa quando se tenta perfilar os cultos de origem africana, ao longo dos séculos,“reorganizados pelos seus descendentes”. Posterior ao silêncio que se seguiu após a obra de Nina Rodrigues, coube a Arthur Ramos o uso da palavra sincretismo para designar uma simbiose, expressa como uma mescla curiosa onde várias formas míticas entravam em contato, fundindo-se umas com as outras, as mais adiantadas absorvendo as mais atrasadas. (SOUZA JUNIOR, 2003, p. 32). Em torno dessas origens da religiosidade afro-brasileira é que Lody (2006, p.3) adianta ser [...]crescente, sem dúvida, o interesse e as questões sobre a presença do sagrado e suas muitas transformações decorrentes das diversas Áfricas aqui fixadasinterpretadas com regionalidade e crescente abrasileiramento. São marcas decisivas de tradições vivenciadas dos códigos de moral e ética, muitos deles milenares e ainda vigentes em confrontos pós-modernos. Segundo Dantas (1988, p. 59) a história do terreiro das religiões de origem africana é geralmente proveniente da oralidade e em versões não “necessariamente falsas ou verdadeiras”, mas que “orientam recortes e seleções do que será realçado ou não”, pois, [...] o que é apresentado como um simples discurso sobre o passado termina agindo sobre ele, operando reconstruções, evocando identidades, realizando, enfim, um trabalho de produção de sentido que visa legitimar ações no presente. (idem, p. 60). Foram várias as culturas do imenso continente africano que aportaram ao Brasil colônia e, longe está de se pensar tal realidade cultural como algo singular. Foi essa pluralidade que contribuiu para o assentamento do candomblé neste país. A religião que tem por base a anima (alma) da Natureza, sendo, portanto chamada de anímica, foi desenvolvida no Brasil com o conhecimento dos sacerdotes africanos que
  • 5. 4 foram escravizados e trazidos da África para o Brasil, juntamente com seus Orixás/Inquices/Voduns, sua cultura, e seu idioma, entre 1549 e 1888. O culto perpetuado no Brasil é monoteísta, ao contrário do que alguns estudiosos afirmam, pois concentra-se em um Deus Supremo e Único, com nomes que variam de acordo com cada etnia. (p. 1). Em seus estudos sobre o tráfico de escravos e o candomblé, Verger (2000, p. 19) assegura que as primeiras levas de escravos foram trazidas para o Novo Mundo em 1502, início do século XVI, “em virtude de um edito real que permitiu o transporte de escravos negros da Espanha para Hispañiola (que, mais tarde, se tornou República Dominicana e Haiti), pois a escravidão não existia na Península Ibérica”. Adianta ainda o estudioso que “O comércio entre a Bahia e o porto de Ajuda (Ouidah), na antiga Costa dos Escravos, era particularmente intenso”, (p. 21). Uma distribuição dos negros por “nação”, baseada nos contratos de compra e venda de escravos, entre 1838 e 1860, extraídos do Arquivo Municipal da cidade de Salvador (Bahia), indica as seguintes cifras: nago (2049), djêdjê (286), mina (117), Calabar (39), Benin (27), e Cacheu (12), ou seja, 3 060 de origem sudanesa; e: angola (267), cabinda (65), congo (48), benguela (29), gabão 95), cassange (4) e Moçambique (42), ou seja, 460 de origem banto. (idem, p. 23). Outra vez abordando a temática do candomblé, especificamente, Prandi (2004, p. 223) anota que a [...] religião brasileira dos orixás e outras divindades africanas que se constituiu na Bahia no século XIX – e demais modalidades religiosas conhecidas pelas denominações regionais de xangô, em Pernambuco, tambor-de-mina, no Maranhão, e batuque, no Rio Grande do Sul, formavam, até meados do século XX, uma espécie de instituição de resistência cultural, primeiramente dos africanos, e depois dos afro- descendentes, resistência à escravidão e aos mecanismos de dominação da sociedade branca e cristã que marginalizou os negros e os mestiços mesmo após a abolição da escravatura. 3.2 De como o Candomblé Chegou a Sergipe As religiões africanas se espalharam por todo o território brasileiro, especialmente pela faixa litorânea onde até a atualidade predomina. Passar da Bahia para Sergipe é um pequeno passeio, dois estados vizinhos do nordeste brasileiro. Da Bahia, os africanos eram levados para Sergipe; de Pernambuco, para Paraíba e Alagoas. Do Maranhão se espalhavam pelo Pará. Com a exploração da mineração, Minas Gerais atraiu a mão-de-obra escrava. Devido à expansão agrícola da cana-de- açúcar e do café, são requisitados para trabalhar nas terras fluminenses (hoje, Rio de Janeiro), abrangendo os cafezais paulistas. Com a queda dos engenhos nordestinos, muitos escravos foram vendidos para o Sul do País. A partir daí, de fazenda em fazenda, do trabalho na exploração das minas do Centro-Oeste ou em serviço doméstico aqui, ali, o negro foi-se espalhando e marcando sua presença em todo o País. A compra do escravo podia ser feita no local de desembarque como se fosse
  • 6. 5 mercadoria. Eram eles escolhidos pelos dentes e pelo físico. Os jornais também eram utilizados, com anúncios de compra e venda de escravos, como registra o jornal "Diário de Pernambuco", do dia quatro de maio de 1835: "Vende-se ou troca-se negra muito boa lavadeira e vendedeira de rua, por uma que engoma e coza". A troca por animais ou objetos domésticos fazia-se bastante comum: “... uma negra que saiba cozinhar e engomar ou um escravo que sirva de pajem, por uma canoa grande de carregar 1500 tijolos [...]”O Nordeste, como porta de entrada do africano, tem em sua população o maior número de descendentes. (PAULA, 2011, p.1). No que se refere à formação do candomblé, Pacheco (2011) menciona a presença de africanos sediados no nordeste, especificamente nos estados de Alagoas, Pernambuco, Sergipe e Bahia. Cumpre ainda frisar que, no que tange às modalidades religiosas,o Nordeste originou também manifestações semelhantes às religiões indígenas ou com elas entrosadas, mas que foram, gradativamente, incorporando características das religiões afro-brasileiras ou, ainda, as influenciaram de uma ou de outra maneira. Trata-se docatimbó, religião deespíritos aos quais se dá o nome de mestres ecaboclos, que se incorporam no transe paraaconselhar, receitar e curar. Esse tronco afro-ameríndio tem particularidades em diferentes lugares, sendo chamado de Jurema, toré, pajelançababaçuê,encantariaecura. (PRANDI, 1998, p. 66). 3.3 Época de Perseguição aos Adeptos da Religião Africana Todo tipo de preconceito teve espaço na sociedade do Brasil colônia: linguístico, racial, de classes sociais e o preconceito religioso, mormente contra o candomblé, o que se caracterizou um sentimento duplo contra um povo de pele negra e sua manifestação espiritual. Os escravos professavam sua fé às escondidas dos exigentes olhos da elite e da classe média que se formava no país. Entretanto, desde o início da colonização brasileira até a atualidade, sabe-se que, também às escondidas, indivíduos de todas as classes sociais buscavam e ainda buscam as religiões de presença africana. E, até hoje, situações de preconceito seguido de perseguição não mudou para os adeptos da religião africana e de suas variantesafro-brasileiras. Segundo Prandi (2004, p.225), “Continuam a sofrer agressões, hoje menos da polícia e mais de seus rivais pentecostais, e seguem sob forte preconceito, o mesmo preconceito que se volta contra os negros, independentemente de religião”.2 Ainda assim, é preciso lembrar com Bastide (s/d, p. 141) que, no que diz respeito à questão da liberdade de ação para africanos e seus descendentes, não tinha a população de 2 Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v18n52/a15v1852.pdf>. Acesso em: 15 set. 2011.
  • 7. 6 africanos e seus descendentes sempre a mesma fisionomia. Portanto,nem todos os negros foram necessariamente escravos, alguns formavam uma classe e, “se bem que ela constituísse a camada mais baixa da população livre, formava, em relação aos escravos, uma camada superior na escala social”. Os orixás são deuses, espécies de entidades míticas reverenciadas nos terreiros de candomblés. Esses orixás, ao que se acredita, escolhem, iluminam e conferem poderes aos seus representantes na terra: os pais de santo e as mães de santo. Por haverem difundido esta forma religiosa e este poder sobre as coisas, nasceu o conflito com outras religiões – no Brasil colonial, especialmente ligadoaos dogmas do cristianismo. E, assim, foram ocorrendo as perseguições. A pequisadoraCileine de Lourenço, professora da Bryant University, de RhoadIsland, nos Estados Unidos, atribui ao pensamento dos colonizadores boa parte da origem do preconceito: "Eles precisavam justificar o tráfico das pessoas e a escravidão nas colônias e para isso 'animalizaram' os negros". Ela conta que, no século 16, alguns zoológicos europeus exibiam negros e indígenas em jaulas, colocando na mesma baia indivíduos de grupos inimigos, para que brigassem diante do público. Além disso, a Igreja na época considerava civilizado somente quem era cristão. (grifo do autor).3 Por se falar de perseguições, observe-se esta passagem de fato recente, constante de um estudo de Santos et ali (2009), p. 6-7) que menciona ocorrências persecutórias em terreiro de candomblé localizado na cidade de Aracaju; Supõe-se que durante as festividades, alguns vizinhos incomodados com o barulho dos atabaques e dos fogos denunciavam os terreiros. Ou até mesmo, por haver uma rivalidade entre os terreiros existentes, algum adepto por estar chateado com alguma atitude do sacerdote denunciava com o intuito de prejudicar a festa. [...] Quando o chefe Zé D’Obakoussou foi para o estado do Rio de Janeiro, abriu assim uma filial, permanecendo por 31 anos como líder de um dos terreiros (Afro Axé IléObakoussou) mais famosos do Rio, ganhando fama e prestígio. A sua irmã, Maria da Glória (Dofona), assumiu e ficou incumbida de cuidar do terreiro na Avenida Rio de Janeiro aqui na capital aracajuana.4 3.4 A Crônica de Lixandre de Laranjeiras, o mais Renomado Pai de Santo e Curandeiro Sergipano Famoso e perseguido pai de santo, Lixandre de Laranjeiras entrou para o imaginário popular entre narrativas da oralidade e também em pesquisas. Trata esta parte do texto de um 3 Disponível em: <http://www.orixas.ifatola.com/index.php?option=com– content&view=article&id=16&Itemid=58>. Acesso em: 01 set. 2011. 4 Disponível em: <http://www.pos.ufs.br/antropologia/seciri/down/GT–04/Flavia–Delfino–dos–Santos.pdf>. Acesso em: 02 set. 2011.
  • 8. 7 depoimento de João Marcos, filho de Paulo Gitokí (irmão de santo e primo sanguíneo de Cecilinha, sua antecessora na Linhagem do terreiro Filhos de Obá), sobre Alexandre de Laranjeiras– que também foi visado pela sua fama de feiticeiro, pela fé que professava e por eventuais trabalhos envolvendo rituais de cura. Vale salientar que esse terreiro permanece inalteravelmente marcado pela figura lendária de Lixandre no tocante à prática de ritos de Magia e Fé. Considerado louco, Lixandre teria sido expulso de casa pelo pai, aos sete anos de idade, tendo sido acolhido pela fundadora do Centro Filhos de Obá. Relata-se que, nessa época, a família de Lixandre, evangélica, não aceitava e nem compreendia as ações mediúnicas do menino que já recebia dos seus orixás, poderes antes não percebidos naquela criança, como por exemplo, cura de enfermidades, contato com os mortos, dentre outros. (BARROS, 2011, p.56). Para João Marcos, segundo depoimentos que recebeu da parte de Paulo Gitokí, Lixandre não alterou nenhum dos ritos da casa, mesmo quando da introdução do Igêchá, do Angóla, da nação de Preto e Quêto, juntando-as ao Nagô, já presente naquele terreiro. E foi assim, recomendando os mesmos preceitos, que o pai de santo fortaleceu a tradição e legou a herança à sua antecessora e uma das fundadoras do Centro Filhos de Obá, Tá Joaquina. O que ocorreu certa feita, é que Lixandre– contou Paulo Gitokí a João Marcos – teria sido preso por haver, supostamente, colocado um despacho de grandes proporções em frente ao Palácio Olímpio Campos, sede do Governo de Sergipe, nos idos do final dos anos 40 e início dos anos 50. Tal feito lhe fora atribuído tendo em vista que ele era nesse período o principal ator social que compunha a tríade dos mais poderosos babalorixás de Sergipe que eram: Umbelina Araujo (Bilina), Erundina Nobre (Maná de Euí) e Alexandre José da Silva (Lixandre de Laranjeiras). Tendo em vista que a mãe de santo Bilina não confeccionava ebós de tais características como as desse que foi, ao que se crê, deixado em frente à porta principal do palácio sergipano, e, por sua vez, Maná de Euí tinha uma boa convivência com os representantes do poder político, esta estaria acima de suspeitas. Ficou para Lixandre a suposta autoria do ebó palaciano. Enfim, e por tal razão, Lixandre teve sua prisão decretada e foi exilado para a cadeia de Recife (Pernambuco), onde ficavam os presos considerados perigosos. Partedo trajeto Aracaju/Recife, àquela época, era feito por via ferroviária. Consta que o trem em que viajava o pai de santo Lixandre, descarrilou, tendo sido totalmente destruído o vagão no qual se encontrava alojado. Apesar do grave acidente, Alexandre escapa ileso, o que provocou grande admiração ao comandante da guarnição que o acompanhara para a prisão.
  • 9. 8 Esse comandante, logo após a fatalidade ocorrida e da qual escaparam ilesos ele e o feiticeiro, passou a ver no pai de santo uma espécie de divindade e o libertou para ir aonde bem entendesse, desde que se comprometesse, durante os próximos dois anos a não voltar a Sergipe. Alexandre José da Silva, desde seus cinco anos de idade, aprendera a arte dos cultos e dos feitiços africanos e, por tal motivo, tornou-se a figura mais respeitada e comentada do Candomblé em terras sergipanas (pelo mito que se criou em torno da figura do Babalorixá que tinha o poder da vida e da morte em suas mãos). (Idem, p. 58). Ao selarem o acordo, Lixandre segue adiante, embrenhando-se na espessa mata, enfrentando a fome, a sede e o rigor da natureza naquelas paragens. Foi assim que teria alcançado a localidade de Cachoeira de São Félix, região com forte tradição nos ritos de religião africana, na Bahia. Foi ali onde conheceu Manezinho de Sandaió, célebre pai de santo, de quem se torna um grande amigo e com quem troca conhecimentos relativos ao curandeirismo. Pelo que consta, então, Lixandre deve ter encontrado uma forma de chegar à Bahia, pois, ao que se sabe, seguia para Recife. De volta a Laranjeiras, acompanhado do filho de seu amigo babalorixá baiano, encontra Tá Inácia, oriunda do terreiro de Santa Bárbara, comandando por Bilina, Nessa oportunidade foi que estes três seguidores da religião de presença africana se reuniram com a finalidade de assentar os orixás na roça/terreiro. Nas viagens que fez em território brasileiro, o pai de santo de Laranjeiras sempre participava dos eventos e dos feitorios em diversos terreiros visitados, havendo estreitado mais os laços religiosos com o pessoal da Bahia. Assim, tornou-se íntimo do pai de santo Manezinho de Sandaió, de Oxossi, que muito confiava na sabedoria de seu amigo religioso a ponto de o terreiro o convidar, quando Manezinho faleceu, para organizar o ritual do Axexê. Foi então que o Oxossi do finado não aceitou ser despachado e solicitou ser despachado para a roça do Filhos de Obá. (Idem, p. 57). O historiador Cardoso (2011, p.1) apresenta um artigo sobre o sistema ferroviário sergipano. Consta desse estudo que, no ano de 1908, “iniciam-se as obras do primeiro trecho, entrando pela fronteira da Bahia, seguindo por Tomar do Geru até Aracaju”. Nesse mesmo estudo, menciona-se a notícia daquele que ficou conhecido como “o terrível desastre do km 458”, ocorrido em 18 de março de 1946, às 19 horas, com um saldo de sessenta mortos. 3.5 Cura, Fé e ComercializaçãoReligiosa Em A ética protestante e o “espírito” do capitalismo, Max Weber (2008),trata dos aspectos que envolvem a fé e a cultura do capital, esta intrinsecamente relacionada ao protestantismo.
  • 10. 9 Convém frisar que o candomblé em sua origem não tem relações com o protestantismo e nem surgiu de uma contenda com outra religião. Entretanto, não se pode afirmar que, a esta altura da civilização humana, haja purismo em qualquer forma de religiosidade. Afirma Weber (2008, p. 48) que, “o capitalismo hodierno, dominando de longa data a vida econômica, educa e cria para si mesmo, por via da seleção econômica, os sujeitos econômicos –empresários e operários– de que necessita”. Bastos (1979, p. 13) esclarece quanto às origens e marcas das religiões afro-mágicas que, [...] a África foi submetida às invasões islâmicas (Oriente Médio) e bérberes (Mediterrâneo), o que estabeleceu não só misturas mono-politeístas, como, aos poucos, foi separando as áreas de predominância feiticista e as que se vincularam ao misticismo maometano (malês). Em importante e premiada tese de doutorado, Miranda (2004, p.80) aprofunda a pesquisa sobre a arte de curar, as práticas médicas e a condição de assistência à saúde dos escravos na época do Brasil colônia. Revê a Inquisição e as ciências em Portugal de “ensino anacrônico e sofrendo uma forte influência da pedagogia monástica [...]”. Reporta-se ao misticismo do pajé e de seu modelo de curar, além de outros procedimentos terapêuticos dos indígenas; ao universo dos físicos e dos cirurgiões; à arte de curar dos jesuítas; aos curandeiros. Entre as doenças dos escravos, estão arroladas pelo autor, a exemplo de: perturbações da nutrição, bócio, tétano, infecções bacterianas, doenças venéreas, sarna, melancolia e etc. No Brasil, a extensão territorial e os poucos profissionais mais habilitados a exercerem a medicina dificultaram a prática do cumprimento dos regulamentos sanitários de Portugal. Devido a esses obstáculos, a fiscalização das atividades dos profissionais médicos praticamente inexistiu. Desta forma, todos, indistintamente,medicavam de qualquer maneira. (Idem, p. 242-245). [...] No Brasil colonial, a falta de instituições voltadas para o ensino médico e de interesse dos médicos portugueses em se transferir para a Colônia, em decorrência dos baixos salários e das precárias condições de vida nesta, provocaram uma grande escassez desses profissionais, em todo território da Capitania de Pernambuco. (Idem, p. 267-268). Sobre a mesma temática da arte de curar, mais precisamente fazendo menção ao século XIX – momento da introdução da medicina acadêmica como fundamento da modernidade na prática médica – e ao Estado de Minas Gerais, Figueiredo (2008, p. 106) faz constar de sua pesquisa que “os feitiços eram utilizados para uma gama variada de situações: problemas amorosos, dificuldades financeiras, problemas de saúde”.
  • 11. 10 Quanto ao curandeirismo, Figueiredo (op. cit.) anota que consta de dois dicionários (no de Domingos Vieira, edição portuguesa de 1871; e no de Morais e Silva, de 1813)que, tanto a atividade do curandeiro quanto a do médico-feiticeiro “estavam cercadas por um mistério” (Idem, p. 131). Depois, tratando da clientela, apresenta um questionamento e a correspondente resposta: “Quem procura os curandeiros? Praticamente todos que acreditavam em sua atuação, independentemente da posição social” (Idem, p. 135) Acerca das doenças e de aspectos relativos à comercialização, Souza (1986, 109) adianta que, Para a maioria esmagadora dos habitantes da colônia, as doenças, as forças e armadilhas da Natureza apresentavam-se como indomáveis, irredutíveis. A fé mostrava, por isso mesmo, contornos tradicionais, arcaicos, onde a demanda de bens materiais e de vantagens concretas assumia grande importância, como se fosse uma espécie de “toma lá-dá cá”. [...] A colônia não fugia a esta regra. Quanto à dimensão sociológica e cosmológica do mercado, Mello e Barros (1993, p.5), consideram que “uma viagem ao mundo afro-brasileiro começa no mercado. Nas sete portas do Mercado Modelo ou na Ferira de Água de Meninos, pois a Bahia é, como gostava de dizer Mãe Aninha, uma ‘Roma africana”. Trata-se de negócios de todo tipo, inclusive relativos a “despachos”, “lavagens” e “romarias”. Dinheiro e mercadorias; narrativas, informações e cumprimentos têm em comum o fato de serem coisas trocadas. São regidas pelo princípio que governa todas as formas da troca. E porque a troca é movimento e implica transitividade, todas elas estão subordinadas a Èsù, o grande princípio dinâmico na cosmovisão do candomblé. Não é pois de estranhar-se que dentre os títulos de Èsù, que são muitos, se encontre também o de Olóojà, isto é, “dono-do-mercado”. (Idem, p. 7). Ainda vale lembrar que, conforme a tradição oral, os afrodescendentes costumavam batizar seus filhos várias vezes com o intuito de que tivessem muitos padrinhos e, sendo assim, ganhariam mais presentes. Assim, fé e interesses estão de mãos dadas. 4CONSIDERAÇÕES FINAIS Os africanos trouxeram seus usos, costumes e religiosidades quando foram “arrastados” para o Brasil na condição de escravos. Tudo o que faziam e no que criam foi sendo, ao longo dos anos da colonização, disseminado em terras brasileiras e se diluindo no caldo da cultura dos europeus e também dos nativos da nova terra. Foram muitos os percalços dessa caminhada que marcam a nossa história de povo. A opressão se perpetuou de diversas formas enquanto as lutas para a afirmação de descendentes dessa miscigenação lograssem algumas pequenas vitórias.
  • 12. 11 O fascínio dos cultos afro exerceram e exercem ainda influência sobre os sujeitos das diversas classes sociais. Entre os rituais destaca-se o do candomblé, objeto do presente artigo. Foi possível acompanhar um pouco dessa trajetória do candomblé desde o continente africano até o Brasil e centrar o foco em sua manifestação no Estado de Sergipe onde os praticantes da religião de presença africana também sofreram a discriminação e a perseguição, inclusive na figura das maiores autoridades. Em um país de formação católico-cristã e de influência direta da catequese jesuítica, professar a fé em orixás e tê-los na conta de deuses, não seria algo de fácil e de pacífica aceitação. A fé dos adeptos do candomblé mostra-se forte e inabalável. Os babalorixás, as ialorixás e os pais e as mães de santo são, no contexto do candomblé, pessoas especiais e dotadas de poderes, inclusive sobre a vida e a morte. Esse poderio incomoda as cúpulas de outras denominações religiosas que se sentem aviltadas ao serem colocadas em pé de igualdade com os orixás – mesmo se sabendo que indivíduos pertencentes a diversas religiões também frequentam cultos oferecidos aos deuses da fé africana e a eles confiam suas necessidades, inclusive de cura. Portanto, neles crêem. O babalorixá mais famoso do Estado de Sergipe foi Lixandre de Laranjeiras. Este também realizou comprovadamente feitos de sua fé que o entronizaram no imaginário popular. Ficou conhecido por toda a população sergipana e além das divisas do estado. Era consultado por pessoas de todas as classes sociais e tinha, ainda, inconteste aceitação na alta sociedade, pois atendia gente “fina” e especialmente políticos. Lixandre tornou-se um motivo de preocupação para os que lhe providenciaram uma perseguição cinematográfica, conforme relatamos na crônica inserida ao presente texto. Lixandre de Laranjeiras ficou rico em função das atividades que praticava no candomblé. Pessoas desesperadas e poderosas ofereciam-lhe “mundos e fundos” para conseguirem alcançar os seus objetivos. Entretanto, sabe-se também que o célebre “feiticeiro” também praticava o bem “sem olhar a quem” e patrocinava obras filantrópicas. Constatamos nesta breve pesquisa que, o dinheiro, o lucro, a troca, sempre estiveram presentes na religião candomblé que tem em um dos seus orixás, Èsù, um deus dos negócios. Este trabalho tem uma importância pequena perante a dimensão territorial e cultural do continente africano. Entretanto, contribui para ampliar o conhecimento sobre essa parte fascinante do mundo e que auxiliou na formação do povo brasileiro.
  • 13. 12 REFERÊNCIAS ANKERBERG, John; WELDON, Hohn. Os fatos sobreanjos. Quem são eles, donde vêm e o que fazem hoje. Porto Alegre, 1995. BARROS, Edmilson Celestino de. Raízes do candomblé e as relações de poder e parentesco no Centro de Culto Afro-Brasileiro Filhos de Obá - Laranjeiras/SE. Monografia apresentada como requisito à conclusão do Curso de Bacharelado em Ciências Sociais da Universidade Federal de Sergipe. São Cristóvão/SE, 2010. BASTIDE, Roger. As religiões africanas no Brasil. Contribuição a uma sociologia das interpenetrações de civilizações. 1º vol. Ed. da Universidade de São Paulo. São Paulo. CARDOSO, Amâncio.Ferrovias em Sergipe: Nota Histórica. Disponível em: <http://www.jornaldacidade.net/vestibular/dicas–ver.php?id=83369>. Acesso em: 09 set. 2011. Cartilha raízes brasileiras série – O negro. Disponível em: <http://www.pousadadascores.com.br/leitura–virtual/cultura–brasileira/negro.htm>. Acesso em: 02 set. 2011. DANTAS, Beatriz Góis. Vovó nagô e papai branco. Usos e abusos da África no Brasil. 3. Trimestre. Rio de Janeiro: Graal Ltda., 1988. FIGUEIREDO, Betânia Gonçalves, 1963. A arte de curar: cirurgiões, médicos, boticários e curandeiros no século XIX em Minas Gerais. 2. Ed. Brasília: CAPES; Belo Horizonte: Argvmentvm, 2008. GUILHERME, José; MAGNANI, Cantor. Umbanda. 2. Ed. São Paulo: Ática, 1991. LODY, RAUL. O povo do santo. Religião, história e cultura dos orixás, voduns, inquices e caboclos. 2. Ed. São Paulo: WMFMartins Fontes, 2006. Manifestações Religiosas. Produzido por:Coordenadoria de comunicação social – CEAP. Disponível em: <http://www.eutenhofe.org.br/downloads/manifestacoes–religiosas.pdf>. Acesso em: 07 set. 2011. MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de (org.). Candomblé: religiãodo corpo e da alma: tipos psicológicos nas religiões afro-brasileiras. Rio de Janeiro: Pallas, 2000. ______. Culto aos orixás, voduns e ancestrais nas religiões afro-brasileiras. 1. Ed. Rio de Janeiro: Pallas, 2006. PACHECO, Lwdmilaconstant.Discussão acerca da influência da pertença religiosa na afirmação da negritude. Mestranda em psicologia social pela US, bolsista Fapitec. Disponível em: <http://www.abrapso.org.br/siteprincipal/images/Anais– XVENABRAPSO/105.%20discuss%C3o%20acerca%20da%20influ%CAncia%20da%20pert en%C7a%20religiosa%20na%20afirma%C7%C3o%20da%20negritude.pdf>. Acesso em: 01 set. 2011.
  • 14. 13 PIERUCCI, Antônio Flávio; PRANDI, Reginaldo. A realidade social das religiões no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1996. PRANDI, Reginaldo. As religiões negras do Brasil. Para uma sociologia dos cultos afro- brasileiros. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/56837981/Reginaldo-Prandi-Religioes- Negras-no-Brasil-PDF-Usp>. Acesso em: 05 set. 2011. ______. Mitologia dos orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. ______. O Brasil com axé: candomblée umbanda no mercado religioso. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v18n52/a15v1852.pdf>. Acesso em: 06 set. 2011. SOUSA, Vilson Caetano de. Orixás, santos e festas: encontros e desencontros do sincretismo afro-católico na cidade de Salvador. Salvador/BA: UNEB, 2003. VERGER, Pierre Fatumbi, 1902-1996. Notas sobre o culto aos orixás e voduns. 2. Ed. São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 2000. ______. Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVII a XIX. Edições Loyola. São Paulo: Corrupio, 1987.