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RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS E O CONTEXTO ESCOLAR
http://www.ie.ufmt.br/semiedu2006/GT15-Rela%E7%F5es%20raciais%20e%20educa
%E7%E3o/Comunicacao/Comunicacao%20Angela%20-%20COMPLETO.htm
SANTOS, Ângela Maria dos
E-mail: negangela@yahoo.com.br
GT 15 Relações Raciais e Educação
A diversidade étnico-racial é um fato no cotidiano da escola, entretanto,
pesquisas realizadas[1]
no contexto escolar demonstram que o encontro entre os
diferentes, muitas vezes, é marcado por tensões em decorrência do etnocentrismo nas
relações entre negros e brancos. Esses aspectos, ao que parece, também irão marcar a
concepção de professores e alunos sobre a religião afro-brasileira.
Este trabalho parte do pressuposto de que mesmo a educação escolar muitas
vezes reproduzir o racismo e desrespeito a diversidade étnica, racial e religiosa, ainda
constitui um campo significante para desconstrução de preconceitos, visando a
reeducação das relações étnico-raciais.
Inegavelmente, as religiões de matrizes africanas no Brasil são cercadas de
várias incompreensões e estigmas. A educação escolar historicamente tem contribuído
na reprodução desse racismo. Compreender as formas que se dão à reprodução desses
elementos na escola, lança luzes para compreender como se processa a construção de
estigmas em relação as religiões afro-brasileiras e ao negro.
Observa-se que as questões abordadas neste texto decorrem de uma pesquisa
que se encontra em desenvolvimento no Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Educação
e Relações Raciais–NEPRE/UFMT. Especificamente este artigo deverá apresentar
algumas considerações a respeito das religiões afro-brasileiras, especificamente sobre a
Umbanda e o Candomblé, juntamente trazer algumas reflexões sobre a escola e a
religiosidade de origem africana no Brasil.
Como já mencionado, a referida pesquisa encontra-se em fase inicial
com levantamentos bibliográficos e realização de uma pesquisa exploratória. Os sujeitos
previstos na investigação compreendem um universo de 150 indivíduos entre
professores e alunos das escolas públicas estaduais em duas áreas periféricas das
cidades de Cuiabá, Cáceres e Várzea Grande em Mato Grosso. A seleção das escolas
estão condicionadas de estarem inseridas em bairros possuem terreiros seja de
Umbanda ou de Candomblé, busca-se com isso, ter um público que direta ou
indiretamente convivem num espaço geográfico em tenha presente essas religiões.
Buscando compreender a visão de professores e alunos sobre as religiões
afro-brasileiras, algumas indagações se apresentam: Quais elementos sustentam o
imaginário de professores e alunos em relação à religiosidade africana? Quais idéias
professores e alunos remetem às crenças africanas? Existe entre esses sujeitos uma
correlação de hierarquia racial e hierarquia religiosa? Quais padrões orientam o
pensamento religioso de alunos e professores? O que marca a percepção de professores
sobre a cultura negra? Como professores abordam a religião no contexto escolar? Quais
são os fatores inibidores da abordagem da religiosidade afro-brasileira na escola?
É necessário fazer um pequeno contexto sobre a composição racial e étnico-
cultural do estado de Mato Grosso para melhor compreender as questões aqui
propostas. Sabe-se que as raízes históricas da construção cultural no referido estado,
foram constituídas marcadamente pela participação negra e indígena. Na realidade, a
mestiçagem cultural é algo palpável no Estado. Segundo relato de Silva (op.cit.) a
mestiçagem foi a solução possível para se povoar Mato Grosso. Assim, a mestiçagem
foi incentivada através de casamentos inter-étnicos, principalmente entre negros e
índios, pois, acreditava-se que os frutos dessas uniões trariam mestiços com maior
vigor, aclimatado para os trabalhos da região.
E assim, o povoamento da então Capitania de Mato Grosso teve em grande
maioria índios, negros e mestiços. Diante do baixo número de brancos, os Governadores
tiveram que se render estrategicamente à miscigenação. Podemos dizer que no processo
de povoamento das localidades de Mato Grosso se deu a construção social sobre a
figura do negro e índio na região, marcado pela estigmatização e estereotipia em
relação aos grupos raciais indígenas e negros.
É importante observar que a população nativa foi marcada por várias
estereotipias: a de que filhos de negros e índios tinham denominação de “bastardos”; os
mestiços (mistura de negros e índios) ditos como uma “população desclassificada”[2]
, o
indígena tido como “incompetente, indolente, indomável e preguiçoso”, o negro como
“coisa, como subserviente”.
Parece que de certa forma, os estigmas construídos socialmente na
história da região em torno do negro e do índio e seus descendentes atravessaram o
tempo, e povoa de forma multifacetada o imaginário popular acerca da sua própria
identidade racial, reforçada muitas vezes pelo olhar principalmente do não-branco, dos
não nativos, que aqui vêm ou que aqui vivem. Agora, o que dizer do imaginário
construídos em torno da religiosidade africana? É uma das pretensões desta pesquisa.
Nesse sentido, a abordagem da religiosidade de matriz africana, pode
auxiliar também compreender as nossas raízes, nossa história, bem como nossas
diversas formas de experiências com o sagrado.
As religiões afro-brasileiras
Inicialmente deve-se pontuar sobre a importância de pesquisas sobre
religião, pois longe de ser um campo deslocado e neutro, a religião corrobora e interfere
nas práticas sociais, imprime no nosso comportamento percepções e visões de mudo que
podem explicitar-se nas nossas relações com o outro. Desenvolvendo esta idéia, Rubem
Alves (1999 p. 13), observa que:
É fácil identificar, isolar e estudar a religião como o comportamento
exótico de grupos sociais restritos e distantes. Mas é necessário
reconhece-la com presença invisível, sutil, disfarçada, que se
constitui num dos fios com que tece o acontecer do nosso cotidiano.
Ainda para o autor, o estudo da religião está longe de ser uma janela aberta
apenas para panoramas externos, ela “ë como um espelho de nós mesmos”, o mesmo
compreende a ciência da religião também como “ciência de nós mesmos”.
Pode-se dizer que não se pode ignorar a religião no contexto de pesquisa.
“O discurso religioso contém algo mais que a pura ausência de sentido, não podendo,
por isso mesmo, ser exorcizado pela crítica epistemológica” (ALVES 1999, p. 85).
Em relação ao aspecto conceitual, é difícil precisar a origem do termo
religião, etimologicamente o termo advém do latim religio que deriva de religare, tendo
um significado de vinculação com o “Ser Supremo”.
Religião é a crença na existência de uma força superior considerada
como criadora do Universo. Trata-se de uma experiência universal da
humanidade, através da qual tenta-se compreender os mistérios que
envolve o homem e o seu relacionamento com o Criador. Essa
crença, sendo manifestada de diversas formas, torna duvidoso o
significado etimológico da palavra "religião". Alguns acham que ela
deriva de reler, isto é, a atenta e cuidadosa observância dos rituais;
outros acham que vem de reeleger, ou seja, opção básica de vida
diante de sua meta última; outros ainda acham que procede de
religar, ou seja, a vinculação do homem com sua origem e destino[3]
.
Compreende-se neste trabalho, a religião como um fator cultural, logo, a
discussão aqui proposta, não deixa de ter uma interface com a presença negra na cultura
nacional. Daí, a nossa busca de compreender como os sujeitos na escola, pensam,
percebem a religião de origem africana no Brasil.
Conforme Bastide (2001) da Amazônia até as fronteiras com o Uruguai é
possível encontrar sobrevivências religiosas africanas no Brasil. As religiões negras
brasileiras são diversas, sofrendo variações de nomes e ritualísticas em diferentes partes
do país, ganhando algumas especificidades conforme os locais que foram
desenvolvidas. Por exemplo, o Candomblé na Bahia, Xangô em Pernambuco, Tambor
de Mina no Maranhão, Batuque no Rio Grande do Sul, Macumba e Umbanda no Rio de
Janeiro.
Ao que parece, em Mato Grosso as experiências religiosas afro-brasileiras
constituem uma dimensão cultural híbrida, miscigenada que tem na oralidade sua força.
Essa característica está presente e circula no comportamento cultural místico entre as
pessoas das classes populares nos locais de população mais tradicionais do Estado.
Particularmente podem ser perceptíveis em alguns ritos sincréticos das Festas de Santos,
nas práticas de Benzedeiras e Benzedeiros, no Cururu e Siriri, este último, traz em suas
melodias alguns fatos do cotidiano vividos pelos negros no período da escravidão.
Nesse contexto, pode-se supor que a influência da Umbanda, possivelmente
seja o culto afro-brasileiro mais praticado em Mato Grosso, mesmo que de forma
bastante silenciosa, pouco visível.
No Estado, os praticantes da religião afro não vivenciam suas experiências
religiosas de forma explícita. Talvez devido ao preconceito existente sobre essas
religiões, há pouca visibilidade dos terreiros onde desenvolvem tais práticas religiosas.
Não é comumente falado ou comentado sobre esses locais de cultos afros, como
ocorrem em outras localidades fora da Bahia, tais como o Rio de Janeiro, Minas,
Maranhão e São Paulo.
Assim, possivelmente os praticantes das religiões afro-brasileiras as
vivenciam dentro de uma certa “clandestinidade”, devido ao preconceito ainda existente
em relação a essas manifestações religiosas.
Sabe-se que as religiões de origem africanas foram trazidas para o Brasil,
pelos africanos de diversas nações como, Nagôs, Angola, Congo, Jeje e outros.
Proibidos de manifestarem suas crenças, buscaram de artifícios para cultuarem seus
deuses, utilizando símbolos católicos, como por exemplo, o uso dos Santos para
correlacionar com os Orixás. Esta era uma forma estratégica para sobrevivência de suas
crenças.
Sodré (2005) ao referir a influência dos Nagôs na cultura negra brasileira,
observa que a formação da sociedade brasileira deu-se da afluência em todo território a
ser conquistado, dos indígenas, dos colonizadores portugueses e dos africanos
escravizados. Para o autor, “no mesmo campo ideológico cristão do colonizador,
fixaram-se às organizações hierárquicas, formas religiosas, concepções estéticas,
relações míticas, musica, costumes, ritos, característicos dos diversos grupos negros”.
Para Prandi (2003) a formação das primeiras religiões afro-brasileira
deu-se no século XIX, período em que o catolicismo dominava as atividades religiosas e
tinha forte relação com o Estado.
“Para se viver no Brasil, mesmo sendo escravo, e principalmente
depois, sendo negro livre, era indispensável antes de mais nada ser
católico. Por isso, os negros que recriaram no Brasil as religiões
africanas dos orixás, voduns e inquices se diziam católicos e se
comportavam como tais. Além dos rituais de seu ancestrais,
freqüentavam também os ritos católicos. Continuaram sendo e se
dizendo católicos, mesmo com o advento da República, quando o
catolicismo perdeu a condição de religião oficial” (p. 15).
Conforme Silva (2005) até o século XVIII os calundus era o culto africano
mais ou menos organizado que antecederam os terreiros de Candomblé no século XIX.
O uso do mesmo espaço para a moradia dos negros e para os culto
dos seus deuses foi uma característica dos primeiros templos das
religiões afro-brasileiras e que possibilitou a existência dos calundus
sob a adversidade do regime de escravidão. Característica que a
maioria dos templos preserva até hoje. (SILVA op. cit. , p. 45)
O Candomblé constitui a religião afro-brasileira que mais se aproxima das
práticas religiosas africana, realizando cultos aos Orixás, deuses e deusas africanos,
dessa forma,
No Candomblé, a forma de cultuar os deuses (seus nomes, cores,
preferências alimentares, louvações, cantos, dança e música) foi
distiguido pelos negros segundo modelos de rito chamados de naçao,
numa alusao significativa de que os terreiros, além de tentarem
reproduzir os padroes africanos de culto, possuem uma identidade
grupal (étnica) como nos reinos da África (SILVA, 2005, p. 65).
A Umbanda por sua vez, é tida como uma religião genuinamente brasileira,
teve sua origem na década de 1920 e 1930, nessa religião são cultuados entidades
africanas, os espíritos ameríndios, santos católicos e outros. Segundo Silva (2005, p.
111), “a principio caboclos e pretos velhos, representando os espíritos dos índios
brasileiros e dos escravos africanos, tornaram-se centrais na nova religião que se
formava, proclamando sua missão de irmanar todas as raças e classes sociais que
formavam o povo brasileiro”.
Religiosidade afro-brasileira e a educação
O contexto social, cultural e geográfico de terminadas regiões pode nos
fornecer muitos elementos indiscutíveis da presença civilizatória africana na cultura
mato-grossense. Nas cidades mais antigas e tradicionais de Mato Grosso, essas
influências são de fácil percepção na cultura mato-grossense, presentes nas práticas e
saberes populares sobre as ervas, simpatias, rezas que marcam o cotidiano das pessoas.
Exemplos podem ser analisados nos elementos ritualísticos das Festas de
Santos, como o momento reverência ao Santo, na qual faz-se gesto batendo a cabeça no
altar. Não seria este, uma prática tão próxima dos rituais dos Terreiros de algumas
religiões de matrizes africanas? Serão elas mostras da africanização da religião católica?
No que se refere aos estudos no campo das relações raciais e educação
têm demonstrado a existência de discriminação racial nas diversos aspectos do cotidiano
escolar, que vão desde a organização curricular as diferentes interações ocorridas na
escola. Como lembra Candau (2003, p. 24), “a instituição escolar representa um
microuniverso social, que se caracteriza pela diversidade social e cultural e por, muitas
vezes, reproduz padrões de conduta que permeiam as relações sociais fora da escola”.
Nota-se que pesquisas relacionadas à religião de matriz africana e a
educação são incipientes, para não dizer inexistentes, ao menos nas produções
científicas veiculadas na região de Mato Grosso.
A pesquisa de Silva (2006) sobre a percepção de alunos professores do
Ensino Médio em Porto Alegre–RS, verificou desinformação e ou conhecimento
fragmentado por parte dos sujeitos a respeito das religiões de matrizes africanas.
Oliveira (2006) em seu estudo sobre representação das religiões afro-
brasileiras nas escolas públicas em São Paulo, diagnosticou que a dificuldade das
escolas a religião no espaço escolar, visando o diálogo entre as religiões, essa
dificuldade se torna maior no que se refere às religiões brasileira de matrizes africanas.
Os professores embora percebam a diversidade religiosa na escola, ainda conservam a
visão eurocêntrica transmitindo valores e padrões cristãos.
Indiscutivelmente as religiões de matrizes africanas no Brasil fazem parte do
panteão cultural trazido pela diáspora negra, constituindo um dos nossos elos de ligação
com a mãe África. Não serão poucas as constatações se fizermos uma análise das nossas
interações sociais e formas de agir, veremos o quanto somos circundados e ou orientado
pela mística e crença na força e energia da natureza, aspecto estritamente relacionado
ao Axé, à energia dos Orixás.
Sobre essa questão, Prandi (2003, p. 15-16) observa que “as religiões
afro-brasileiras se construíram sincréticas, estabelecendo paralelismos entre divindades
africanas e santos católicos, adotando o calendário de festas do catolicismo, valorizando
a freqüência aos ritos e sacramentos da igreja”.
Sobre os dados iniciais da pesquisa
Foi realizada entrevista de caráter exploratório com dois grupos de alunos
de uma escola pública no município de Cáceres-MT, compreendo um total de 20 alunos.
Procurei compor com diversidade étnico-racial e de idade e série. A tabela abaixo
mostra perfil dos entrevistados:
Quadro I - Perfil dos alunos segundo idade, religião e cor/raça
NOME
*
IDADE RELIGIAO DOS
ALUNOS
RELIGIAO DOS
PAIS/FAMILIA-
RES
AUTOCLASSIFICAÇÃO
COR/RAÇA
Ely 13 Católica Católica Branca
Kika 12 Católica Católica Negra
Milli 17 Católica Católica Negra
Joana 15 Deus é Amor Evangélica Parda
Roberto 12 Batista Batista Preto
Paulo 17 Católico Espírita Branco
João 15 Católico Católico Morena clara
Célia 12 Católico Católica Parda
Luana 11 Católica Umbanda Branca
Caio 14 Assembléia de Deus Assembléia de Deus Negro
Tony 10 Assembléia de Deus Assembléia de
Deus
Branco
Maria 16 Católica Católica Negra
Celso 14 Católico Católico Branco
Nelma 15 Católico Umbanda Negra
Débora 16 Católica Assembléia de Deus Parda
Felipe 13 Católico Católico Branco
Marta 17 Sem religião Assembléia de Deus Parda
Julia 16 Católica Espírita Branca
Marcos 15 Católica Católica Branca
Rita 18 Católica Umbanda Negra
Fonte: dados originários da própria pesquisa.
* Nomes apresentados são fictícios.
É possível observar que a maioria dos entrevistados se identificam com
católicos. Nenhum dos alunos se identificaram com praticantes de alguma religião afro-
brasileira, mesmo aqueles que possuem pais que participam dessas religiões.
Os alunos em sua maioria quando interpelados sobre o que pensavam sobre
as religiões de matrizes africanas, responderam inicialmente desconhecer como são
essas religiões. Mas logo em seguida, as falas foram consensuais no que se referiam a
relação sinônima de religiões afro-brasileira com “Macumba”. Indaguei aos mesmos
do que eles entendiam por Macumba, obtive algumas falas:
É fazer mal para os outros! Assim, você não gosta
daquela pessoa e faz macumba para ela (Débora,
16 anos, católica)
No meio da fala dessa aluna, uma outra integrante do grupo, faz o seguinte
comentário:
“Vôte[4]
! Isso não é religião. É só coisa de fazer mal” (Julia, 16 anos,
espírita).
Outros fizeram menção de forma fragmentada ou pejorativa sobre o que
conhecem sobre a religião em discussão. Mencionavam o nome de alguns Orixás, com
Oxalá e Iemanjá. Ou teciam comentários jocosos sobre oferendas, que encontravam nas
encruzilhadas.
De certa forma esse trecho da entrevista mostra a desinformação dos alunos
sobre as religiões afro-brasileiras, no que se refere aos aspectos fundamentais, como as
denominações e diferenças entre elas. Contudo, deixa evidente a visão errônea que leva
a comportamento preconceituoso relacionado às religiões afro-brasileiras.
Talvez a negação ou silenciamento a respeito da religião africana, encontre
explicação no modelo de educação pensado para o país. Muller (2003) observa que o
ensino público no país, na modernização da escola, caracterizou-se pela busca de
inculcar nas novas gerações uma identidade nacional. Contudo, em consonância com a
posição hierárquica das raças, originárias do povo brasileiro. Ou seja, a escola deveria
difundir valores hierárquicos sobre os componentes raciais do Brasil.
É de se imaginar, que da mesma forma, tal pensamento irá conduzir o trata
da religião na educação. Com um diferencial, as manifestações religiosas de matrizes
negras e indígenas nem serão consideradas no contexto da diversidade religiosa.
Durante a aplicação da entrevista os grupos mencionaram que nunca
estudaram sobre a religião. Revelam que quando tiveram a disciplina Ensino Religioso,
nunca houve menção sobre as religiões de matriz africana. Quando pergunto, se alguém
havia visitado algum tipo de terreiro, onde são realizadas as manifestações religiosas de
origem africanas. Todos foram unânimes em negar. Invariavelmente, completavam suas
respostas, dizendo terem receio, mostrando discordância de tal ato.
Uma aluna destoando dos demais, embora não menciona que fora em algum
terreiro de Umbanda, Candomblé ou outros, faz o seguinte comentário:
“A minha idéia dessas religiões é igual a que eu vi numa novela,
onde as pessoas dançam e cantam, rezam. Não me parece nada
de ruim, não! Eu iria... meu tio participa e ele não é uma pessoa
que deseja mal para os outros.” (Nelma, 11 anos, católica).
Observa-se que a fala da aluna é uma forma de contrapor a idéia majoritária
do grupo que vê na religião afro-brasileira uma relação com o mal, onde é freqüentado
por pessoas de má índole e pretensas ao uso da magia para prejudicar as pessoas.
Esses dados iniciais da pesquisa reforçam a urgência da construção de
uma educação para a diversidade cultural, étnica, racial e religiosa. Além disso, nos
estimula descobrir quais os elementos do racismo possivelmente as pessoas utilizam
para construir suas concepções sobre a religião de matriz africana.
Referências Bibliográficas
ALVES, Rubem. O que é religião? São Paulo: Edições Loyola, 1999.
BASTIDE, Roger. O Candomblé da Bahia: rito nagô. São Paulo: Companhia das Letras,
2001.
CAVALLEIRO, Eliane. Educação anti-racista:compromisso indispensável para um
mundo melhor. In: Eliane Cavalleiro (org.). Racismo e anti-racismo na educação:
repensando a escola. São Paulo: Summus, 2001.
MUNANGA, Kabengele. Negritude: usos e sentidos. São Paulo: Editora Ática, 1988.
OLIVEIRA, Julvam Moreira. Matrizes religiosas afro-brasileiras e educação. In:
Dimensões da inclusão no ensino médio de trabalho, religiosidade e educação
quilombola. Maria Lúcia de Santana Braga, Edileuza Penha de Souza, Ana Flávia [1]
PINTO, Regina Pahim. A escola como espaço de reflexão/ atuação no campo das
relações étnico-raciais. In: Ivan Costa Lima e Sonia M. Silveira (orgs.). Negros,
Territórios e Educação. Florianópolis-SC: NEN, Série Pensamento negro em Educação,
nº 7. , 2000.
PINTO Magalhães (orgs.). Brasília: Ministério da Educação , Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2006.
PRANDI, Reginaldo. As religiões afro-brasileiras e seus seguidores. Civitas, Revista
de Ciências Sociais, vol. 3, nº 1, pp. 15-34, Porto Alegre, PUC-RS, 2003.
SILVA, Gilberto Ferreira da. Expressões de religiosidade de matriz africana no ensino
médio: um estudo em escolas públicas no contexto de Porto Alegre (RS). In: Dimensões
da inclusão no ensino médio de trabalho, religiosidade e educação quilombola. Maria
Lúcia de Santana Braga, Edileuza Penha de Souza, Ana Flávia Magalhães Pinto (orgs.).
Brasília: Ministério da Educação , Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade, 2006.
SILVA, Juvam Vilela da. Mistura de cores: política de povoamento e população na
Capitania de Mato Grosso – Século XVIII. Cuiabá: EdUFMT, 1995.
SILVA, Vagner Gonçalves da. Candomblé e Umbanda : caminhos da devoção
brasileira. São Paulo: Selo Negro, 2005.
SODRE, Muniz. A verdade seduzida: por um conceito de cultura no Brasil.Rio de
Janeiro: DP&A,2005.
[1]
Pesquisas como de CAVALLEIRO 2004; PINHO 2004; COSTA 2004; SANTOS 2005 e outras dão
mostras dos conflitos existentes no espaço escolar em decorrência da diferença de cor/raça.
[2]
Silva, Op. Cit., p. 218. Registra a fala dos Governadores Rolim de Moura e Luis de Albuquerque de Melo Pereira
e Cáceres a respeito dos mestiços.
[3]
Conceito apresentado no site wikipedia.org/.
[4]
Uma expressão típica mato-grossense, está relacionado a idéia de negação, uma manifestação de
assombro ou horror diante de um fato.

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  • 1. RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS E O CONTEXTO ESCOLAR http://www.ie.ufmt.br/semiedu2006/GT15-Rela%E7%F5es%20raciais%20e%20educa %E7%E3o/Comunicacao/Comunicacao%20Angela%20-%20COMPLETO.htm SANTOS, Ângela Maria dos E-mail: negangela@yahoo.com.br GT 15 Relações Raciais e Educação A diversidade étnico-racial é um fato no cotidiano da escola, entretanto, pesquisas realizadas[1] no contexto escolar demonstram que o encontro entre os diferentes, muitas vezes, é marcado por tensões em decorrência do etnocentrismo nas relações entre negros e brancos. Esses aspectos, ao que parece, também irão marcar a concepção de professores e alunos sobre a religião afro-brasileira. Este trabalho parte do pressuposto de que mesmo a educação escolar muitas vezes reproduzir o racismo e desrespeito a diversidade étnica, racial e religiosa, ainda constitui um campo significante para desconstrução de preconceitos, visando a reeducação das relações étnico-raciais. Inegavelmente, as religiões de matrizes africanas no Brasil são cercadas de várias incompreensões e estigmas. A educação escolar historicamente tem contribuído na reprodução desse racismo. Compreender as formas que se dão à reprodução desses elementos na escola, lança luzes para compreender como se processa a construção de estigmas em relação as religiões afro-brasileiras e ao negro. Observa-se que as questões abordadas neste texto decorrem de uma pesquisa que se encontra em desenvolvimento no Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Educação e Relações Raciais–NEPRE/UFMT. Especificamente este artigo deverá apresentar algumas considerações a respeito das religiões afro-brasileiras, especificamente sobre a Umbanda e o Candomblé, juntamente trazer algumas reflexões sobre a escola e a religiosidade de origem africana no Brasil. Como já mencionado, a referida pesquisa encontra-se em fase inicial com levantamentos bibliográficos e realização de uma pesquisa exploratória. Os sujeitos previstos na investigação compreendem um universo de 150 indivíduos entre professores e alunos das escolas públicas estaduais em duas áreas periféricas das cidades de Cuiabá, Cáceres e Várzea Grande em Mato Grosso. A seleção das escolas estão condicionadas de estarem inseridas em bairros possuem terreiros seja de
  • 2. Umbanda ou de Candomblé, busca-se com isso, ter um público que direta ou indiretamente convivem num espaço geográfico em tenha presente essas religiões. Buscando compreender a visão de professores e alunos sobre as religiões afro-brasileiras, algumas indagações se apresentam: Quais elementos sustentam o imaginário de professores e alunos em relação à religiosidade africana? Quais idéias professores e alunos remetem às crenças africanas? Existe entre esses sujeitos uma correlação de hierarquia racial e hierarquia religiosa? Quais padrões orientam o pensamento religioso de alunos e professores? O que marca a percepção de professores sobre a cultura negra? Como professores abordam a religião no contexto escolar? Quais são os fatores inibidores da abordagem da religiosidade afro-brasileira na escola? É necessário fazer um pequeno contexto sobre a composição racial e étnico- cultural do estado de Mato Grosso para melhor compreender as questões aqui propostas. Sabe-se que as raízes históricas da construção cultural no referido estado, foram constituídas marcadamente pela participação negra e indígena. Na realidade, a mestiçagem cultural é algo palpável no Estado. Segundo relato de Silva (op.cit.) a mestiçagem foi a solução possível para se povoar Mato Grosso. Assim, a mestiçagem foi incentivada através de casamentos inter-étnicos, principalmente entre negros e índios, pois, acreditava-se que os frutos dessas uniões trariam mestiços com maior vigor, aclimatado para os trabalhos da região. E assim, o povoamento da então Capitania de Mato Grosso teve em grande maioria índios, negros e mestiços. Diante do baixo número de brancos, os Governadores tiveram que se render estrategicamente à miscigenação. Podemos dizer que no processo de povoamento das localidades de Mato Grosso se deu a construção social sobre a figura do negro e índio na região, marcado pela estigmatização e estereotipia em relação aos grupos raciais indígenas e negros. É importante observar que a população nativa foi marcada por várias estereotipias: a de que filhos de negros e índios tinham denominação de “bastardos”; os mestiços (mistura de negros e índios) ditos como uma “população desclassificada”[2] , o indígena tido como “incompetente, indolente, indomável e preguiçoso”, o negro como “coisa, como subserviente”. Parece que de certa forma, os estigmas construídos socialmente na história da região em torno do negro e do índio e seus descendentes atravessaram o tempo, e povoa de forma multifacetada o imaginário popular acerca da sua própria
  • 3. identidade racial, reforçada muitas vezes pelo olhar principalmente do não-branco, dos não nativos, que aqui vêm ou que aqui vivem. Agora, o que dizer do imaginário construídos em torno da religiosidade africana? É uma das pretensões desta pesquisa. Nesse sentido, a abordagem da religiosidade de matriz africana, pode auxiliar também compreender as nossas raízes, nossa história, bem como nossas diversas formas de experiências com o sagrado. As religiões afro-brasileiras Inicialmente deve-se pontuar sobre a importância de pesquisas sobre religião, pois longe de ser um campo deslocado e neutro, a religião corrobora e interfere nas práticas sociais, imprime no nosso comportamento percepções e visões de mudo que podem explicitar-se nas nossas relações com o outro. Desenvolvendo esta idéia, Rubem Alves (1999 p. 13), observa que: É fácil identificar, isolar e estudar a religião como o comportamento exótico de grupos sociais restritos e distantes. Mas é necessário reconhece-la com presença invisível, sutil, disfarçada, que se constitui num dos fios com que tece o acontecer do nosso cotidiano. Ainda para o autor, o estudo da religião está longe de ser uma janela aberta apenas para panoramas externos, ela “ë como um espelho de nós mesmos”, o mesmo compreende a ciência da religião também como “ciência de nós mesmos”. Pode-se dizer que não se pode ignorar a religião no contexto de pesquisa. “O discurso religioso contém algo mais que a pura ausência de sentido, não podendo, por isso mesmo, ser exorcizado pela crítica epistemológica” (ALVES 1999, p. 85). Em relação ao aspecto conceitual, é difícil precisar a origem do termo religião, etimologicamente o termo advém do latim religio que deriva de religare, tendo um significado de vinculação com o “Ser Supremo”. Religião é a crença na existência de uma força superior considerada como criadora do Universo. Trata-se de uma experiência universal da humanidade, através da qual tenta-se compreender os mistérios que envolve o homem e o seu relacionamento com o Criador. Essa crença, sendo manifestada de diversas formas, torna duvidoso o significado etimológico da palavra "religião". Alguns acham que ela deriva de reler, isto é, a atenta e cuidadosa observância dos rituais; outros acham que vem de reeleger, ou seja, opção básica de vida diante de sua meta última; outros ainda acham que procede de religar, ou seja, a vinculação do homem com sua origem e destino[3] .
  • 4. Compreende-se neste trabalho, a religião como um fator cultural, logo, a discussão aqui proposta, não deixa de ter uma interface com a presença negra na cultura nacional. Daí, a nossa busca de compreender como os sujeitos na escola, pensam, percebem a religião de origem africana no Brasil. Conforme Bastide (2001) da Amazônia até as fronteiras com o Uruguai é possível encontrar sobrevivências religiosas africanas no Brasil. As religiões negras brasileiras são diversas, sofrendo variações de nomes e ritualísticas em diferentes partes do país, ganhando algumas especificidades conforme os locais que foram desenvolvidas. Por exemplo, o Candomblé na Bahia, Xangô em Pernambuco, Tambor de Mina no Maranhão, Batuque no Rio Grande do Sul, Macumba e Umbanda no Rio de Janeiro. Ao que parece, em Mato Grosso as experiências religiosas afro-brasileiras constituem uma dimensão cultural híbrida, miscigenada que tem na oralidade sua força. Essa característica está presente e circula no comportamento cultural místico entre as pessoas das classes populares nos locais de população mais tradicionais do Estado. Particularmente podem ser perceptíveis em alguns ritos sincréticos das Festas de Santos, nas práticas de Benzedeiras e Benzedeiros, no Cururu e Siriri, este último, traz em suas melodias alguns fatos do cotidiano vividos pelos negros no período da escravidão. Nesse contexto, pode-se supor que a influência da Umbanda, possivelmente seja o culto afro-brasileiro mais praticado em Mato Grosso, mesmo que de forma bastante silenciosa, pouco visível. No Estado, os praticantes da religião afro não vivenciam suas experiências religiosas de forma explícita. Talvez devido ao preconceito existente sobre essas religiões, há pouca visibilidade dos terreiros onde desenvolvem tais práticas religiosas. Não é comumente falado ou comentado sobre esses locais de cultos afros, como ocorrem em outras localidades fora da Bahia, tais como o Rio de Janeiro, Minas, Maranhão e São Paulo. Assim, possivelmente os praticantes das religiões afro-brasileiras as vivenciam dentro de uma certa “clandestinidade”, devido ao preconceito ainda existente em relação a essas manifestações religiosas. Sabe-se que as religiões de origem africanas foram trazidas para o Brasil, pelos africanos de diversas nações como, Nagôs, Angola, Congo, Jeje e outros. Proibidos de manifestarem suas crenças, buscaram de artifícios para cultuarem seus
  • 5. deuses, utilizando símbolos católicos, como por exemplo, o uso dos Santos para correlacionar com os Orixás. Esta era uma forma estratégica para sobrevivência de suas crenças. Sodré (2005) ao referir a influência dos Nagôs na cultura negra brasileira, observa que a formação da sociedade brasileira deu-se da afluência em todo território a ser conquistado, dos indígenas, dos colonizadores portugueses e dos africanos escravizados. Para o autor, “no mesmo campo ideológico cristão do colonizador, fixaram-se às organizações hierárquicas, formas religiosas, concepções estéticas, relações míticas, musica, costumes, ritos, característicos dos diversos grupos negros”. Para Prandi (2003) a formação das primeiras religiões afro-brasileira deu-se no século XIX, período em que o catolicismo dominava as atividades religiosas e tinha forte relação com o Estado. “Para se viver no Brasil, mesmo sendo escravo, e principalmente depois, sendo negro livre, era indispensável antes de mais nada ser católico. Por isso, os negros que recriaram no Brasil as religiões africanas dos orixás, voduns e inquices se diziam católicos e se comportavam como tais. Além dos rituais de seu ancestrais, freqüentavam também os ritos católicos. Continuaram sendo e se dizendo católicos, mesmo com o advento da República, quando o catolicismo perdeu a condição de religião oficial” (p. 15). Conforme Silva (2005) até o século XVIII os calundus era o culto africano mais ou menos organizado que antecederam os terreiros de Candomblé no século XIX. O uso do mesmo espaço para a moradia dos negros e para os culto dos seus deuses foi uma característica dos primeiros templos das religiões afro-brasileiras e que possibilitou a existência dos calundus sob a adversidade do regime de escravidão. Característica que a maioria dos templos preserva até hoje. (SILVA op. cit. , p. 45) O Candomblé constitui a religião afro-brasileira que mais se aproxima das práticas religiosas africana, realizando cultos aos Orixás, deuses e deusas africanos, dessa forma, No Candomblé, a forma de cultuar os deuses (seus nomes, cores, preferências alimentares, louvações, cantos, dança e música) foi distiguido pelos negros segundo modelos de rito chamados de naçao, numa alusao significativa de que os terreiros, além de tentarem reproduzir os padroes africanos de culto, possuem uma identidade grupal (étnica) como nos reinos da África (SILVA, 2005, p. 65). A Umbanda por sua vez, é tida como uma religião genuinamente brasileira, teve sua origem na década de 1920 e 1930, nessa religião são cultuados entidades
  • 6. africanas, os espíritos ameríndios, santos católicos e outros. Segundo Silva (2005, p. 111), “a principio caboclos e pretos velhos, representando os espíritos dos índios brasileiros e dos escravos africanos, tornaram-se centrais na nova religião que se formava, proclamando sua missão de irmanar todas as raças e classes sociais que formavam o povo brasileiro”. Religiosidade afro-brasileira e a educação O contexto social, cultural e geográfico de terminadas regiões pode nos fornecer muitos elementos indiscutíveis da presença civilizatória africana na cultura mato-grossense. Nas cidades mais antigas e tradicionais de Mato Grosso, essas influências são de fácil percepção na cultura mato-grossense, presentes nas práticas e saberes populares sobre as ervas, simpatias, rezas que marcam o cotidiano das pessoas. Exemplos podem ser analisados nos elementos ritualísticos das Festas de Santos, como o momento reverência ao Santo, na qual faz-se gesto batendo a cabeça no altar. Não seria este, uma prática tão próxima dos rituais dos Terreiros de algumas religiões de matrizes africanas? Serão elas mostras da africanização da religião católica? No que se refere aos estudos no campo das relações raciais e educação têm demonstrado a existência de discriminação racial nas diversos aspectos do cotidiano escolar, que vão desde a organização curricular as diferentes interações ocorridas na escola. Como lembra Candau (2003, p. 24), “a instituição escolar representa um microuniverso social, que se caracteriza pela diversidade social e cultural e por, muitas vezes, reproduz padrões de conduta que permeiam as relações sociais fora da escola”. Nota-se que pesquisas relacionadas à religião de matriz africana e a educação são incipientes, para não dizer inexistentes, ao menos nas produções científicas veiculadas na região de Mato Grosso. A pesquisa de Silva (2006) sobre a percepção de alunos professores do Ensino Médio em Porto Alegre–RS, verificou desinformação e ou conhecimento fragmentado por parte dos sujeitos a respeito das religiões de matrizes africanas. Oliveira (2006) em seu estudo sobre representação das religiões afro- brasileiras nas escolas públicas em São Paulo, diagnosticou que a dificuldade das escolas a religião no espaço escolar, visando o diálogo entre as religiões, essa
  • 7. dificuldade se torna maior no que se refere às religiões brasileira de matrizes africanas. Os professores embora percebam a diversidade religiosa na escola, ainda conservam a visão eurocêntrica transmitindo valores e padrões cristãos. Indiscutivelmente as religiões de matrizes africanas no Brasil fazem parte do panteão cultural trazido pela diáspora negra, constituindo um dos nossos elos de ligação com a mãe África. Não serão poucas as constatações se fizermos uma análise das nossas interações sociais e formas de agir, veremos o quanto somos circundados e ou orientado pela mística e crença na força e energia da natureza, aspecto estritamente relacionado ao Axé, à energia dos Orixás. Sobre essa questão, Prandi (2003, p. 15-16) observa que “as religiões afro-brasileiras se construíram sincréticas, estabelecendo paralelismos entre divindades africanas e santos católicos, adotando o calendário de festas do catolicismo, valorizando a freqüência aos ritos e sacramentos da igreja”. Sobre os dados iniciais da pesquisa Foi realizada entrevista de caráter exploratório com dois grupos de alunos de uma escola pública no município de Cáceres-MT, compreendo um total de 20 alunos. Procurei compor com diversidade étnico-racial e de idade e série. A tabela abaixo mostra perfil dos entrevistados: Quadro I - Perfil dos alunos segundo idade, religião e cor/raça NOME * IDADE RELIGIAO DOS ALUNOS RELIGIAO DOS PAIS/FAMILIA- RES AUTOCLASSIFICAÇÃO COR/RAÇA Ely 13 Católica Católica Branca Kika 12 Católica Católica Negra Milli 17 Católica Católica Negra Joana 15 Deus é Amor Evangélica Parda
  • 8. Roberto 12 Batista Batista Preto Paulo 17 Católico Espírita Branco João 15 Católico Católico Morena clara Célia 12 Católico Católica Parda Luana 11 Católica Umbanda Branca Caio 14 Assembléia de Deus Assembléia de Deus Negro Tony 10 Assembléia de Deus Assembléia de Deus Branco Maria 16 Católica Católica Negra Celso 14 Católico Católico Branco Nelma 15 Católico Umbanda Negra Débora 16 Católica Assembléia de Deus Parda Felipe 13 Católico Católico Branco Marta 17 Sem religião Assembléia de Deus Parda Julia 16 Católica Espírita Branca Marcos 15 Católica Católica Branca Rita 18 Católica Umbanda Negra Fonte: dados originários da própria pesquisa. * Nomes apresentados são fictícios. É possível observar que a maioria dos entrevistados se identificam com católicos. Nenhum dos alunos se identificaram com praticantes de alguma religião afro- brasileira, mesmo aqueles que possuem pais que participam dessas religiões. Os alunos em sua maioria quando interpelados sobre o que pensavam sobre as religiões de matrizes africanas, responderam inicialmente desconhecer como são essas religiões. Mas logo em seguida, as falas foram consensuais no que se referiam a relação sinônima de religiões afro-brasileira com “Macumba”. Indaguei aos mesmos do que eles entendiam por Macumba, obtive algumas falas: É fazer mal para os outros! Assim, você não gosta daquela pessoa e faz macumba para ela (Débora, 16 anos, católica) No meio da fala dessa aluna, uma outra integrante do grupo, faz o seguinte comentário:
  • 9. “Vôte[4] ! Isso não é religião. É só coisa de fazer mal” (Julia, 16 anos, espírita). Outros fizeram menção de forma fragmentada ou pejorativa sobre o que conhecem sobre a religião em discussão. Mencionavam o nome de alguns Orixás, com Oxalá e Iemanjá. Ou teciam comentários jocosos sobre oferendas, que encontravam nas encruzilhadas. De certa forma esse trecho da entrevista mostra a desinformação dos alunos sobre as religiões afro-brasileiras, no que se refere aos aspectos fundamentais, como as denominações e diferenças entre elas. Contudo, deixa evidente a visão errônea que leva a comportamento preconceituoso relacionado às religiões afro-brasileiras. Talvez a negação ou silenciamento a respeito da religião africana, encontre explicação no modelo de educação pensado para o país. Muller (2003) observa que o ensino público no país, na modernização da escola, caracterizou-se pela busca de inculcar nas novas gerações uma identidade nacional. Contudo, em consonância com a posição hierárquica das raças, originárias do povo brasileiro. Ou seja, a escola deveria difundir valores hierárquicos sobre os componentes raciais do Brasil. É de se imaginar, que da mesma forma, tal pensamento irá conduzir o trata da religião na educação. Com um diferencial, as manifestações religiosas de matrizes negras e indígenas nem serão consideradas no contexto da diversidade religiosa. Durante a aplicação da entrevista os grupos mencionaram que nunca estudaram sobre a religião. Revelam que quando tiveram a disciplina Ensino Religioso, nunca houve menção sobre as religiões de matriz africana. Quando pergunto, se alguém havia visitado algum tipo de terreiro, onde são realizadas as manifestações religiosas de origem africanas. Todos foram unânimes em negar. Invariavelmente, completavam suas respostas, dizendo terem receio, mostrando discordância de tal ato. Uma aluna destoando dos demais, embora não menciona que fora em algum terreiro de Umbanda, Candomblé ou outros, faz o seguinte comentário: “A minha idéia dessas religiões é igual a que eu vi numa novela, onde as pessoas dançam e cantam, rezam. Não me parece nada de ruim, não! Eu iria... meu tio participa e ele não é uma pessoa que deseja mal para os outros.” (Nelma, 11 anos, católica).
  • 10. Observa-se que a fala da aluna é uma forma de contrapor a idéia majoritária do grupo que vê na religião afro-brasileira uma relação com o mal, onde é freqüentado por pessoas de má índole e pretensas ao uso da magia para prejudicar as pessoas. Esses dados iniciais da pesquisa reforçam a urgência da construção de uma educação para a diversidade cultural, étnica, racial e religiosa. Além disso, nos estimula descobrir quais os elementos do racismo possivelmente as pessoas utilizam para construir suas concepções sobre a religião de matriz africana. Referências Bibliográficas ALVES, Rubem. O que é religião? São Paulo: Edições Loyola, 1999. BASTIDE, Roger. O Candomblé da Bahia: rito nagô. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. CAVALLEIRO, Eliane. Educação anti-racista:compromisso indispensável para um mundo melhor. In: Eliane Cavalleiro (org.). Racismo e anti-racismo na educação: repensando a escola. São Paulo: Summus, 2001. MUNANGA, Kabengele. Negritude: usos e sentidos. São Paulo: Editora Ática, 1988. OLIVEIRA, Julvam Moreira. Matrizes religiosas afro-brasileiras e educação. In: Dimensões da inclusão no ensino médio de trabalho, religiosidade e educação quilombola. Maria Lúcia de Santana Braga, Edileuza Penha de Souza, Ana Flávia [1] PINTO, Regina Pahim. A escola como espaço de reflexão/ atuação no campo das relações étnico-raciais. In: Ivan Costa Lima e Sonia M. Silveira (orgs.). Negros, Territórios e Educação. Florianópolis-SC: NEN, Série Pensamento negro em Educação, nº 7. , 2000. PINTO Magalhães (orgs.). Brasília: Ministério da Educação , Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2006. PRANDI, Reginaldo. As religiões afro-brasileiras e seus seguidores. Civitas, Revista de Ciências Sociais, vol. 3, nº 1, pp. 15-34, Porto Alegre, PUC-RS, 2003. SILVA, Gilberto Ferreira da. Expressões de religiosidade de matriz africana no ensino médio: um estudo em escolas públicas no contexto de Porto Alegre (RS). In: Dimensões da inclusão no ensino médio de trabalho, religiosidade e educação quilombola. Maria Lúcia de Santana Braga, Edileuza Penha de Souza, Ana Flávia Magalhães Pinto (orgs.).
  • 11. Brasília: Ministério da Educação , Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2006. SILVA, Juvam Vilela da. Mistura de cores: política de povoamento e população na Capitania de Mato Grosso – Século XVIII. Cuiabá: EdUFMT, 1995. SILVA, Vagner Gonçalves da. Candomblé e Umbanda : caminhos da devoção brasileira. São Paulo: Selo Negro, 2005. SODRE, Muniz. A verdade seduzida: por um conceito de cultura no Brasil.Rio de Janeiro: DP&A,2005. [1] Pesquisas como de CAVALLEIRO 2004; PINHO 2004; COSTA 2004; SANTOS 2005 e outras dão mostras dos conflitos existentes no espaço escolar em decorrência da diferença de cor/raça. [2] Silva, Op. Cit., p. 218. Registra a fala dos Governadores Rolim de Moura e Luis de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres a respeito dos mestiços. [3] Conceito apresentado no site wikipedia.org/. [4] Uma expressão típica mato-grossense, está relacionado a idéia de negação, uma manifestação de assombro ou horror diante de um fato.