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A Deusa Grega
(The Goddess of Love)
Barbara Cartland
A Deusa Grega
Lorde Warburton acreditou estar delirando ao ver aquela figura tão
linda... Só poderia ser a estátua da deusa Afrodite! Demorou alguns segundos
para perceber
que à sua frente não estava uma estátua de mármore, mas sim uma bela mulher
adormecida.
Digitalização: Nina
Revisão: Bruna Cardoso
TÃtulo original: The Goddess of Love
Copyright: (c) 1997 by Barbara Cartland
Tradução: ErcÃlia Magalhães Costa
Editor e Publisher: Janice Florido
Editor: Fernanda Gama Chefe de Arte: Ana Suely S. Dobón
Paginador: Nair Fernandes da Silva
EDITORA NOVA CULTURAL LTDA.
Rua Paes Leme, 524 - 10º andar
CEP 05424-010 - São Paulo - SP - Brasil
EDITORA NOVA CULTURAL LTDA. Copyright para lÃngua portuguesa: 2001
Fotocomposição: Editora Nova Cultural Ltda.
Impressão e acabamento:
DONNELLEY COCHRANE GRÁFICA E EDITORA BRASIL LTDA DIVISÁO CÁRCULO - FONE
(55 11) 4191-4633
CAPÁTULO UM
1899
Era um lindo dia. Sob as árvores os narcisos saudavam o sol da primavera.
As primeiras borboletas adejavam sobre os lilases.
Corina desceu as escadas cantarolando baixinho uma canção, sem ter idéia
de que ela própria parecia uma flor primaveril e que seu vestido combinava tão
bem
com os botões prestes a desabrocharem.
Seus olhos verdes, com um toque de dourado, tinham a translucidez do riacho
que passava pelo fundo do jardim. Corina desejava tanto ver seu pai! Ele, sem
dúvida,
citaria uma ode grega para descrever, melhor do que ela poderia, com suas
palavras, toda a beleza daquele dia.
No entanto, sir Priam Melville achava-se na Grécia, o que não era de
surpreender, pois desde que estivera em Oxford ele passara a ter verdadeira
obsessão por
aquele paÃs, e seu conhecimento extraordinário sobre antigüidades gregas
conquistara-lhe a fama de ser um dos maiores peritos no assunto.
A avó de sir Priam era grega; dessa forma, o grande amor e interesse que
ele tinha pela Grécia não estavam apenas em seu cérebro, mas também em seu
sangue.
Sir Priam começara a colecionar estátuas e outros objetos gregos que
atualmente enfeitavam a linda casa em estilo elizabetano na qual os Melville
moravam.
Era inevitável que ao nascer à filha do casal Melville, fosse dado a ela
um nome grego. Seus pais também esperavam que quando crescesse ela se tornasse
mais
linda do que as estátuas gregas que os fascinavam.
Dois anos atrás lady Melville morrera. Corina tentara cuidar do pai,
porém sabia que o único remédio para ajudá-lo a recuperar-se da perda que
sofrerá seria
estar na Grécia.
Felizmente ele não partira para esse paÃs logo após a morte da esposa.
Porém, passado o último Natal, ele comunicara à filha que iria viajar para o
paÃs que
tanto o atraÃa.
Corina sentia-se muito sozinha sem o pai, mas considerava-se feliz por
poder contar com a companhia da governanta, uma mulher muito inteligente.
A maior parte do ano anterior ela estivera de luto e não fora a parte
alguma. Agora que podia ir a bailes e recepções no condado, desejava ter o pai
para acompanhá-la.
Sir Priam, no entanto, estava mais entusiasmado com as deusas que havia
encontrado na Grécia do que com a própria filha.
"Acho que posso me considerar uma pessoa feliz", pensava Corina muitas
vezes, "porque as mulheres que papai admira com tanto fervor já se achavam
enterradas
há séculos ou então pertenciam ao Olimpo e não se interessavam por seres
humanos."
Ela achava graça dos próprios pensamentos. A verdade era que, da mesma
forma que o pai, ela também era apaixonada pela Grécia e sir Priam havia
prometido levá-la
consigo à quele paÃs em sua próxima viagem.
- Por que não desta vez, papai? - ela perguntara.
Sir Priam hesitara por um momento, como se procurasse as palavras. Corina,
que era muito ligada a ele, percebera que o pai talvez corresse algum risco.
- O que faz é perigoso, papai?
Ele desviara o olhar e respondera depois de uma pausa:
- Pode ser perigoso, minha querida; é por este motivo que preciso ir
sozinho.
- O que procura de modo especial?
- Ouvi falar vagamente sobre uma estátua ou estátuas que há em Delfos e
que, por mais incrÃvel que possa parecer, ainda não foi ou não foram
encontradas.
Os olhos de Corina brilharam. Qualquer assunto que tivesse relação com
Delfos deixava-a emocionada. Ela já havia lido todos os livros escritos sobre
essa cidade
e sempre bombardeava o pai com perguntas.
Em Delfos ficava o templo de Apoio que fora construÃdo abaixo dos Rochedos
Brilhantes, implacavelmente Ãngremes e distantes, e que ficavam a mil pés acima
das
cabeças dos peregrinos.
O pai lhe explicara que quando Apoio deixara a ilha sagrada de Delfos para
conquistar a Grécia, um golfinho havia guiado seu navio até a pequena cidade
de Crisa.
Disfarçado de estréia em pleno meio-dia, o jovem deus saltou do navio e,
com chamas fulgurantes saindo de seu corpo, iluminou o céu num lampejar
esplendoroso.
Apoio galgou a colina Ãngreme, alcançando o covil do dragão que guardava
os rochedos, matou-o e anunciou aos deuses que reivindicava a posse de todo o
território
que ele pudesse ver do local onde se encontrava.
Depois de ouvir a narrativa, Corina imaginara a grandiosidade daquele
momento e o pai acrescentara que Apoio havia escolhido o lugar que tinha a vista
mais
maravilhosa da Grécia.
Em Delfos existira o oráculo. As pessoas vinham de todas as partes da
região do Mediterrâneo para ouvir os pronunciamentos de uma jovem sacerdotisa
toda vez
que ela se achava possuÃda pelo deus.
Sir Priam sempre falava sobre a civilização grega antiga com emoção na
voz. Com tristeza inexprimÃvel ele contara à filha, certa vez, que o imperador
Nero havia
no século I D.C, retirado setecentas estátuas de Delfos e as teria mandado
para Roma.
Ele também explicara que três anos antes arqueólogos franceses, haviam
encontrado inúmeros templos em ruÃnas, inscrições e santuários, porém
nenhuma estátua
havia sido deixada inteira.
No entanto, arqueólogos como sir Priam continuaram as escavações; pois
não haviam perdido as esperanças de encontrar algum tesouro.
- Encontrou alguma estátua, papai? - perguntara a filha.
- Ouvi falar sobre uma estátua - ele corrigira. - Porém talvez seja
apenas um rumor. Temos tido problemas; desde que lorde Elgin retirou os
mármores do Partenon,
os gregos passaram a hostilizar qualquer um que tente carregar seus tesouros.
- Compreendo.
- Eles negligenciaram tais tesouros durante séculos, mas agora,
finalmente, começam a entender o valor que possuem. A maioria, porém, não
entende que as peças
encontradas são únicas e insubstituÃveis.
- Acredita que os gregos possam impedi-lo de ficar com o que você possa
descobrir?
Depois de alguma hesitação o pai respondera:
- Há muitas pessoas, gregas ou de diversas nacionalidades, que desejam
levar vantagem sobre qualquer descoberta, pensando simplesmente em ganhar
dinheiro.
Compreendendo que o pai se arriscava, Corina abraçara-o dizendo:
- Papai querido, tenha muito cuidado! Se acontecer alguma coisa com você,
ficarei completamente só e infeliz.
Ela viu a dor impressa nos olhos do pai, pois ele sentia desesperadamente a
falta da esposa.
- Prometo que farei tudo o que estiver ao meu alcance para voltar o mais
depressa possÃvel e talvez trazendo uma estátua de Afrodite, que será tão
linda como
você, minha querida!
Corina havia adorado aquele elogio e beijara o pai. Ela seria na verdade
muito tola se não reconhecesse que de fato se parecia muito com as mais lindas
estátuas
de Afrodite que já vira especialmente aquelas esculpidas por um artista ático
no século IV a.C.
Corina possuÃa a mesma testa oval, o mesmo nariz reto e perfeitamente
proporcional, o queixo ligeiramente pontudo e seus lábios, embora ela não
soubesse disso,
fariam qualquer homem pensar que haviam sido feitos para serem beijados. Os
poucos homens que ela havia conhecido ficaram fascinados pela sua beleza. No
entanto,
nenhum deles notara que, além de toda a perfeição fÃsica, Corina possuÃa a
mesma mente perspicaz que tornara os gregos antigos os reformadores do
pensamento em todo
o mundo.
Corina caminhava pelo hall pensando no pai, que naquele momento se achava
em Delfos. Podia imaginá-lo repetindo as palavras do oráculo para Juliano, o
Apóstata,
que visitara o santuário em 362 d.C.
Juliano perguntara o que poderia fazer para preservar a glória de Apoio,
ao que o oráculo respondera:
"Diga ao Rei que a casa primorosa desmoronou.
Apoio não tem abrigo, tampouco folhas sagradas de louro;
As fontes agora silenciaram; a voz emudeceu.
"Isso pode ser verdade", pensara Corina. Ao mesmo tempo, por mais arruinado
que possa estar o templo em Delfos, ele inspira e estimula sir Priam. Então,
nem
tudo está perdido.
Amando o pai intensamente, Corina sentia como se o acompanhasse em sua
viagem, primeiro por terra até a Itália e depois por mar até Crisa.
Juntos eles admirariam os Rochedos Brilhantes, lá no alto veriam as
águias sobrevoando-os. Depois a luz de Apoio surgiria das ruÃnas e seu pai
saberia que o
deus não estava morto, mas vivia.
Ela entrou na sala de visitas de teto rebaixado onde também havia outros
pequenos, porém extraordinários, fragmentos de esculturas gregas.
Corina imaginava se o pai iria encontrar em Delfos, desta vez, algo
precioso. Ela sabia que ele ansiava por encontrar algo tão sensacional como o
bronze representando
o condutor de uma biga, encontrado apenas há dois anos por arqueólogos
franceses. Sir Priam achara incrÃvel que ninguém o tivesse descoberto antes.
O pai de Corina lhe contara, excitado, assim que chegara como haviam
descoberto a preciosa peça. Depois que o entulho ao pé do teatro havia sido
levado pelas
chuvas da primavera, foram encontrados um pé lindamente esculpido e uma saia
longa, pregueada.
Os escavadores franceses trabalharam com excitamento febril durante os dias
seguintes, conseguindo desenterrar uma parte de um pedestal de pedra. A seguir
descobriram
fragmentos do varal da biga, duas pernas traseiras de cavalos, a cauda de um dos
animais, um casco, fragmentos das rédeas e o braço de uma criança.
- Finalmente, a primeiro de maio - continuara Sir Priam -, eles encontraram
a parte superior de um braço direito a uns dez metros de distância, mais perto
do
teatro.
- Não estavam danificados, papai? - perguntara Corina, já sabendo qual
seria a resposta.
- Não, apenas bastante corroÃdos pela umidade vinda de um cano.
- Deve ter sido tão excitante!
- Os franceses estavam emocionados e acharam extraordinário o estado de
conservação das peças e nada, a não ser um braço, foi perdido.
Corina ouvira sir Priam falar muitas vezes sobre a descoberta. Ele
descrevera os detalhes tão vividamente que ela até podia ver o garoto
sonhador, talvez com
catorze anos, o qual se acreditava, séria um prÃncipe que tomara parte nos
jogos pÃticos.
"Será que papai encontrará algo semelhante desta vez?", Corina perguntava
a si mesma.
Se tal acontecesse, seria o apogeu bem merecido para o trabalho de toda uma
vida em busca da beleza e do brilhantismo da Grécia Antiga.
Ela atravessou a sala para ir admirar de perto outra peça da coleção de
estátuas. Nela apenas as pernas e os joelhos estavam intactos, tendo uma saia
drapeada
acima deles.
Pouco restava do que fora um dia a forma perfeita de uma mulher; só de se
olhar para aqueles fragmentos tinha-se consciência de sua beleza e de sua
simetria.
A modelo viva para aquela obra que havia inspirado e estimulado os artistas
há tantos séculos, ainda inspirava e estimulava os amantes do belo dos nossos
dias.
Corina tocou suavemente o mármore, como se o acariciasse. Nesse instante a
porta abriu e o mordomo anunciou:
- Um cavalheiro deseja vê-la, Srta. Corina.
Ela virou-se, surpresa, imaginando quem poderia estar em sua casa àquela
hora da manhã.
Um homenzinho de pele amarelada entrou na sala. Ao chegar mais perto de
Corina, ela pôde ver seus cabelos escuros e os olhos mais escuros ainda. Mesmo
antes
de ele dizer uma palavra ela teve certeza de que se via diante de um grego.
- E a Srta. Melville? - ele perguntou com sotaque acentuado.
- Sim.
- Meu nome é Ion Thespidos e gostaria de conversar com a senhorita.
Corina indicou uma cadeira.
- Sente-se, por favor.
Ion obedeceu e ela sentou-se também à sua frente, intrigada com a
presença daquele homenzinho em sua casa.
Ocorreu-lhe subitamente que estava sendo tola em não ter percebido que
aquela visita só poderia ter relação com seu pai.
Ela ficou rÃgida, supondo que talvez algo tivesse acontecido com ele,
porém permaneceu calada. Preferiu esperar enquanto o coração dava saltos
dentro do peito
e seu olhar traÃa sua preocupação.
- Á a filha do prof. Priam Melville?
- Exatamente - Corina conseguiu dizer.
O visitante fixou nela seus olhos penetrantes, deixando-a desconfortável,
e ela perguntou depressa:
- Tem notÃcias de papai? Aconteceu-lhe... Alguma coisa?
- Ele não corre perigo, Srta. Melville, porém minha visita realmente diz
respeito a sir. Priam.
- Conhece meu pai?
- Nos conhecemos na Grécia e, na verdade, ele é... Meu... Hóspede.
Houve um momento de hesitação antes das palavras "meu hóspede"; sendo
uma pessoa de grande percepção, Corina teve certeza de que, se aquele homem
dizia conhecer
seu pai, certamente a relação entre ambos não era, em nenhuma circunstância,
amistosa.
- Poderia me dizer por que está aqui?
- Vim procurá-la para fazer-lhe uma proposta; o que tenho a lhe dizer é
inteiramente confidencial e um segredo.
- Sim... Compreendo.
O Sr. Thespidos pareceu considerar suas palavras antes de dizer:
- Seu pai, naturalmente, é muito conhecido na Grécia. Ele visitou-nos com
freqüência no passado e tem trazido consigo como posso ver nesta sala e vi no
hall,
alguns tesouros gregos que pertencem de fato ao meu paÃs!
Corina levantou o queixo ao replicar:
- Vocês não se preocuparam antes com eles no passado. Só agora começam
a ter consciência de como tais obras de arte são importantes para o mundo.
- O mundo pode apreciá-los, Srta. Melville, porém tais tesouros nos
pertencem.
Corina não encontrou resposta para isso e achou melhor manter-se calada.
Tudo indicava que os gregos, apesar da aparente indiferença do passado, tinham
um bom
argumento para reivindicar a posse dos tesouros que representavam a glória da
Grécia Antiga e que lhes pertenciam.
Tantas estátuas, placas, tantos vasos pintados e inscrições haviam sido
espalhados pela França, Inglaterra e outros paÃses! O que não justificava a
pilhagem
do que era um tesouro nacional.
Ela lembrava-se de que arqueólogos alemães descobriram o santuário de
OlÃmpia e fizeram escavações em toda a vila para obter o que desejavam.
Eles procuravam a estátua colossal de Zeus, que nunca encontraram, mas
descobriram outros tesouros e, naturalmente, alarmaram outros arqueólogos em
todo o mundo.
Corina permanecia em silêncio e o Sr. Thespidos prosseguiu:
- Nós acreditamos que haja em algum lugar, em Delfos, um tesouro
fantástico como a estátua da Vitória Alada. Trata-se da estátua da deusa
Afrodite, que se achava
no vestÃbulo do templo de OlÃmpia. Ela possui tal beleza que qualquer homem que
a olhe fica apaixonado pela deusa, como se ela própria estivesse ali presente.
As palavras do Sr. Thespidos eram poéticas, mas sua voz soou destituÃda de
qualquer poesia. Corina olhou para ele e sentiu que havia algo errado com aquele
homem, achou-o até mesmo repulsivo.
Tendo certeza de que o pai estava interessado exatamente na estátua Ã
qual o grego acabava de se referir, Corina teve paciência de esperar o que ele
ainda tinha
a dizer..
Ela apertou as mãos receando que não ouviria nada muito agradável.
- Seu pai admitiu que procura essa estátua de Afrodite e embora haja
apenas rumores de que ela exista, acredito que sir Priam sabe de mais alguma
coisa.
- O senhor disse que meu pai é seu hóspede?
O Sr. Thespidos apenas acenou afirmativamente a cabeça e Corina teve a
sensação terrÃvel de que se o pai estivesse realmente na casa daquele homem,
fora obrigado
a isso e não tinha como escapar.
Fazendo um esforço, perguntou:
- Sabe quando ele voltará?
- E por esta razão que vim procurá-la e a volta dele depende da
senhorita.
- De mim?!
- Sim.
- Por quê?
- Á o que passarei a lhe explicar.
Ele inclinou-se para frente ficando mais próximo de Corina e começou a
falar em voz mais baixa e ela teve que ficar atenta para poder ouvi-lo:
- Seu pai ouviu rumores de que a estátua de Afrodite está soterrada nas
ruÃnas de Delfos, mas existe uma pessoa que sabe muito mais sobre o assunto.
- Quem é essa pessoa?
- Um inglês chamado Warburton, lorde Warburton. Aquele nome era familiar a
Corina; já ouvira o pai dizer que lorde Warburton era um colecionador como ele.
Também
dissera que se tratava de um homem reservado que não fazia amizade com os
outros arqueólogos nem falava com ninguém a respeito de qualquer lugar que
pudesse interessar
a outros colegas.
Como se lesse o pensamento de Corina, o Sr. Thespidos disse:
- Lorde Warburton é um homem muito rico e pode pagar para ter suas
descobertas, mas temos motivos para acreditar que ele tenha roubado de meu paÃs
muitas peças
antigas, tesouros incalculáveis que se encontram atualmente em suas casas, na
Inglaterra.
- Viu tais peças?
Ela fez a pergunta achando que poderia ser embaraçosa, mas o grego
respondeu sem hesitar:
- Não vi os tesouros em questão, mas conheci alguém que já os viu e,
através de informações fornecidas por essa pessoa, posso afirmar que lorde
Warburton constitui
uma ameaça para a Grécia. Meu paÃs deve impedi-lo de continuar roubando nossos
tesouros.
Quem ouvisse aquele homem falando, certamente imaginaria que ele estava
imbuÃdo de profundo sentimento patriótico e de orgulho por sua herança
histórica. Corina,
no entanto, estava convencida de que o Sr. Thespidos pensava apenas em encher os
próprios bolsos e não os museus atenienses.
- Apreciaria muito se me explicasse com maior clareza o que desejaria que
eu fizesse para ajudá-lo, se é que me procurou por este motivo - ela disse
calmamente.
- Á muito simples. Se quiser ter seu pai de volta, Srta. Melville, lorde
Warburton deve ocupar o lugar dele!
Corina susteve a respiração e encarando o Sr. Thespidos, murmurou:
- Não compreendo o que quer dizer!
- Então devo ser mais claro. Eu e diversos outros amigos encontramos seu
pai escavando tarde da noite nas ruÃnas do templo de Atena, abaixo do
santuário, em
Delfos. Em pouco tempo conseguimos arrancar dele a informação que querÃamos...
Corina sentou-se muito ereta.
- Está dizendo que vocês obrigaram meu pai a contar-lhes alguma coisa
ou... Que o torturaram?
- Ele precisou apenas de alguma persuasão. Mas acreditei nele quando disse
que só ouvira rumores sobre a estátua de Afrodite e que não tinha mais
qualquer informação
do lugar onde ela pudesse estar ou sequer tinha certeza de sua existência.
Com grande dificuldade, Corina controlou-se para não ficar furiosa com
ele. Isso não traria seu pai de volta e seria mais aconselhável ouvir o que o
Sr. Thespidos
tinha a dizer.
- Fiquei sabendo de fonte segura que lorde Warburton sabe muito mais sobre
a tal estátua do que sir Priam.
- Por que não o procura?
- Infelizmente ele é um homem reservado e mantém-se a distância quando
se encontra em seu paÃs. Ouvi dizer que ele procura a estátua da deusa e
acredita que
a mesma não esteja em Delfos, mas em qualquer outro lugar.
- Então isto nada tem a ver com meu pai!
- Infelizmente, Srta. Melville, lorde Warburton não confia em ninguém
quando vai à Grécia. Só ficam sabendo que ele esteve lá depois de sua
partida.
Corina pareceu confusa, não entendia exatamente o que o Sr. Thespidos
estava insinuando.
- A Grécia é um paÃs com inúmeras pequenas baÃas naturais onde um iate
pode ficar ancorado, escondido por uma semana, talvez, sem que ninguém saiba
disso. -
Sua voz tornou-se mais enérgica quando ele acrescentou: - Portanto, quero que a
senhorita descubra onde lorde Warburton irá ancorar e me comunique.
- Mas isso é... ImpossÃvel! - ela disse atônita.
- Então receio que seu pai não volte para casa tão cedo.
- O que está dizendo... O que está tentando... Obrigar-me a fazer? Sua
voz trêmula denunciava o quanto estava assustada. Temia desesperadamente pela
vida do
pai e sentia também pavor daquele homem à sua frente.
Corina não teve dúvidas de que ele era perverso.
- Deixe-me pô-la a par do que terá que fazer - replicou o Sr. Thespidos.
- Irá procurar lorde Warburton e dizer-lhe que seu pai se encontra gravemente
enfermo
em Delfos, sem quaisquer cuidados médicos. O único modo de você chegar até
ele será se lorde Warburton levá-la a Crisa em seu iate.
- Acha que lorde Warburton atenderá meu pedido? E se ele recusar?
O Sr. Thespidos sorriu; foi um sorriso bastante desagradável.
- Só precisa levar lorde Warburton até Crisa; depois deixe tudo por minha
conta.
- Suponha que ele desconfie que meu pai seja um prisioneiro?
- O importante é que lorde Warburton chegue até Crisa, e você
conseguirá persuadi-lo a ir até lá.
Corina ergueu-se.
- Nunca ouvi maior absurdo em toda a minha vida! - explodiu. - Não
conheço lorde Warburton e é bem provável que ele nem dê importância Ã
doença de meu pai,
- Nesse caso tenho certeza de que lamentará muito por não ver seu querido
pai novamente...
O Sr. Thespidos falou vagarosa e calmamente, mas era claro que passava a
mostrar "as garras" e forçava abertamente Corina a obedecê-lo.
Desesperada, ela pensava no que poderia fazer. Embora o homenzinho não
tivesse feito menção de se levantar da cadeira, Corina sentia que ele era um
imenso pássaro
negro pairando ameaçadoramente sobre sua cabeça.
- O que me pede é... ImpossÃvel!
- Nada é impossÃvel, Srta. Melville, para uma jovem tão linda. Corina
ficou rÃgida; aquela insinuação era um insulto.
- Obviamente já sabia como eu era... Antes de vir até aqui.
- Ao ver o retrato que seu pai carrega consigo, não acreditei que pudesse
existir uma jovem tão linda. Mas me enganei! Você é tão linda quanto
Afrodite e já
fiquei sabendo que lorde Warburton sente uma grande atração pela deusa.
Corina apertou as mãos, procurando manter seu autocontrole. Sua vontade
era gritar o ordenar que aquele homem insuportável saÃsse de sua casa.
Ele não era apenas atrevido, mas também cruel e calculista. Como ele
mantinha seu pai prisioneiro, ela precisava de algum modo, salvá-lo.
- Não tenho como... Entrar em contato com lorde Warburton... Não o
conheço.
Corina pronunciou aquelas palavras com voz sumida; foi à primeira coisa
que lhe ocorrera. Ela achou que o Sr. Thespidos iria pensar que ela havia
concordado
em obedecê-lo, apesar de julgar-se incapaz de fazê-lo.
Mas no momento ela não conseguia pensar em outra coisa a não ser que seu
pai se achava nas garras daquele homem.
- Na verdade é muito fácil, Srta. Melville - disse o Sr. Thespidos,
demonstrando seu entusiasmo, parecendo que havia ganho a batalha. - Você
irá amanhã de lorde
Warburton, a qual, já me certifiquei, fica a apenas quinze milhas daqui.
Também sei que ele se encontra em casa no momento.
Corina chegou a entreabrir os lábios, disposta a responder que não
poderia fazer o que lhe era ordenado, mas tinha certeza de que seus argumentos
seriam ignorados.
- Você dirá ao lorde Warburton tudo o que lhe ordenei e se for
necessário, ajoelhe-se e implore que ele a leve até a Grécia.
- E... Se ele recusar?
- Já lhe disse que você se parece com Afrodite! - A voz dele era untuosa.
- Mas Afrodite, a qual ele busca avidamente, foi esculpida em mármore! -
respondeu Corina sarcasticamente. - Duvido que ele se interesse por uma versão
humana.
- Nesse caso seu pai ficará onde está pelo menos enquanto não o
considerarmos um estorvo!
O Sr. Thespidos não podia ser mais claro; Corina fez um esforço sobre-
humano para não gritar.
Ela virou-se e ficou de frente para a lareira, dando as costas para o
grego. Mal podia acreditar que não estava vivendo um terrÃvel pesadelo e que ao
acordar
constataria que tudo, felizmente, não acontecera.
Como podia seu pai, uma pessoa tão inteligente, cair nas garras daquele
homem horrÃvel que a estava ameaçando? Ele era certamente um dos gregos sem
escrúpulos
e cobiçosos sobre quem o pai já lhe falara.
Eles só se interessavam pelas estátuas e outros objetos considerados
valiosos e encontrados em ruÃnas, simplesmente pensando no lucro que poderiam
obter negociando-os.
Subitamente ocorreu-lhe que poderia procurar lorde Warburton e contar-lhe
toda a verdade. Mas o Sr. Thespidos, como se captasse o que ela estava pensando,
observou
calmamente:
- Se fizer qualquer coisa além do que lhe ordenei Srta. Melville poderemos
ser forçados a torturar seu pai um pouquinho mais; quem sabe ele
estará disposto
a nos dar informações, o que até o momento se recusou a fazer. Depois disso
nos livraremos dele.
Corina virou-se.
- O que está planejando é muita maldade e crime! Sempre respeitei os
gregos, mas o senhor é um charlatão e um assassino!
Ela falou em voz baixa; no entanto, cada palavra era como uma adaga
lançada no homem que odiava.
O Sr. Thespidos ouviu-a e depois deu uma risada cujo som ecoou pela sala.
- MagnÃfico! Você fica ainda mais linda quando está zangada! O que
poderia haver de mais impressionante do que uma deusa manifestar sua ira divina
contra um
homem que não a ouve?
Ainda mais cheia de ódio, Corina virou-se novamente para a lareira e ficou
algum tempo em silêncio. Depois disse em outro tom:
- Se eu tentar... Fazer o que me ordenou... Será capaz de jurar que
não... Machucará papai?
- Assim é muito melhor. Agora poderemos falar de negócios. Ela ainda
esperou um pouco, relutando em virar-se e encarar aquele bandido.
- O que tem a fazer, Srta. Melville, será executar minhas instruções e
assim que lorde Warburton lhe disser que partirá para a Grécia, basta Ã
senhorita informar
o homem que deixarei aqui.
Ele fez uma pausa e olhou-a como se a avaliasse.
- A partir desse momento poderá relaxar e deixar tudo em minhas mãos.
- Á isso... Que me aterroriza! - exclamou Corina com um lampejo de
coragem.
O Sr. Thespidos apenas sorriu.
- Conseguirá tudo o que deseja: seu pai voltará para você com ótima
saúde. Prometo-lhe que assim que o iate partir de Folkestone, onde
está ancorado no momento,
seu pai não será tocado.
Corina respirou fundo. O grego prosseguiu:
- Por outro lado, se você for tola o bastante para informar lorde
Warburton sobre o que se passou entre nós dois, ele poderá telegrafar para as
autoridades
de Atenas; então, Srta. Melville, jamais verá seu pai.
- Não posso acreditar que tudo isso seja verdade! - Corina gritou. - E
incrÃvel que possa haver homens como o senhor! Se não houvesse, este mundo
seria tão
lindo e tão feliz!
- Sempre achou o mundo belo e feliz, Srta. Melville - observou o grego com
sarcasmo. - Mas há outras pessoas famintas e outras ainda que precisam de
dinheiro!
Portanto, você deve aprender a repartir sua felicidade ou, pelo menos, pagar
por ela.
- O que me preocupa... Á apenas a segurança de papai.
O Sr. Thespidos levantou-se e fez um gesto inteiramente grego.
- Depende da senhorita. Tenho o pressentimento de que provará ser uma
jovem competente e muito ajuizada.
Sua voz endureceu uma vez mais e Corina percebeu que ele seria capaz de
toda a maldade.
- Como já lhe disse, seja de joelhos ou na cama de lorde Warburton,
consiga por estes meios salvar sir Priam!
Corina emitiu um som abafado e indistinto. Nunca em sua vida calma e
protegida alguém lhe falara daquele modo ultrajante. Sua vontade era gritar,
mas sabia
que só perderia seu tempo, suas palavras e sua dignidade.
Em vez disso, preferiu responder simplesmente:
- Não me deixou escolha, mas tentarei salvar a vida de meu pai. Só posso
rezar que mesmo sendo um criminoso o senhor saiba manter sua palavra.
O grego riu.
- Gosto da sua espirituosidade, Srta. Melville. Posso assegurar-lhe que
tão logo lorde Warburton esteja em nossas mãos, sir Priam estará nas suas. Se
for sensata,
trate de trazê-lo de volta para a Inglaterra e convença-o de que o lugar dele
é aqui.
O tom do Sr. Thespidos não foi apenas ameaçador, mas também autoritário
e agressivo; ele vangloriava-se de ter conseguido o que queria.
Ele fitou Corina de tal modo e ela viu nos olhos dele uma expressão tão
vil que sentiu náuseas.
Com altivez, numa atitude que seu pai teria aprovado, disse apenas:
- Tenha um bom dia, Sr. Thespidos. Suponho que o homem encarregado de
receber a informação sobre a partida de lorde Warburton para a Grécia também
me informará
como poderei entrar em contato com o senhor assim que chegarmos ao seu paÃs.
- Já lhe disse Srta. Melville deixe tudo em minhas mãos - ele repetiu
confiante, - Elas são extremamente capazes. Ao mesmo tempo, saiba que jamais
abandono
o que consegui agarrar.
O grego a ameaçava novamente.
Sem suportar a presença daquele homenzinho desprezÃvel, Corina deu-lhe as
costas mais uma vez, dizendo ao fazer isso:
- Tenha um bom dia, Sr. Thespidos!
Ela ouviu-o levantar-se. Mesmo de costas sentiu incidir sobre ela um olhar
candente que parecia penetrar em seu corpo.
Um medo súbito, diferente do que sentira antes, a invadiu.
O Sr. Thespidos murmurou qualquer coisa, como se falasse consigo mesmo. Ela
ouviu-o caminhar sem pressa em direção à porta; depois parou e ela teve
certeza
de que o grego havia olhado para trás.
Somente quando ouviu o barulho da porta se fechando e os passos dele se
afastando no piso de mármore do hall, Corina levou as mãos ao rosto.
Não estava chorando, apenas se sentia chocada com aquela situação horrÃ-
vel.
Desesperada, temia terrivelmente pela vida do pai e pelo futuro.
CAPÁTULO DOIS
Warburton caminhou à frente do amigo e entrou em seu escritório, um dos
mais atraentes cômodos da casa, com linda vista para o jardim.
Os quadros sobre esportes eram obras-primas pintadas por Stubbs e
Sartorius. As cadeiras eram estofadas de couro vermelho e em frente ao anteparo
da lareira
havia um assento com almofadas, onde lorde Warburton sentou-se.
- Está com ótima aparência, Charles, apenas um pouco mais magro - ele
disse ao amigo.
- Não é de admirar - respondeu o major Charles Bruton. - Estive
exercitando seus cavalos desde o romper do dia até o anoitecer.
- O que achou deles?
- Absolutamente magnÃficos! Especialmente os que têm sangue árabe.
Lorde Warburton esboçou um sorriso.
Por um momento desapareceu de seu rosto a expressão de ceticismo que o
caracterizava.
- Espero que sejamos os vencedores de inúmeras corridas com eles -
observou ele secamente.
- Estou disposto a apostar nisso!
- Infelizmente não estarei aqui para ver as corridas. Charles Bruton, que
se achava sentado confortavelmente em uma poltrona, olhou surpreso para o amigo.
- Não me diga que está novamente de partida para a Grécia!
- Tenho que partir.
- Por quê?
- Porque ouvi falar sobre algo extraordinário, exatamente o que venho
procurando há longo tempo, e não me arriscarei a perder a oportunidade de
obtê-lo.
Charles Bruton suspirou.
- Árion, pensei que você já tivesse estátuas gregas suficientes para
encher um museu!
- Acha que alguém possa ter bastante de alguma coisa de que goste? -
perguntou lorde Warburton. - Digo o mesmo sobre cavalos!
Charles riu. Ele deixara o Exército com a fama de ser o melhor cavaleiro
da Cavalaria de Guarda.
Lorde Warburton ficou sabendo que Charles encontrava-se em dificuldades
financeiras e lhe oferecera o emprego de administrador de seus haras.
Charles Bruton aceitou a proposta com entusiasmo. O haras Warburton, que
começara com o avô de lorde Warburton, era famoso. Os cavalos ali criados e
adestrados
ganhavam todas as corridas clássicas nas quais competiam e já se tornavam uma
lenda.
- Devo dizer - observou Charles -, que acho muita maldade de sua parte não
estar presente às corridas, depois de todo o trabalho que tive.
- Sinto muito, Charles, sei o quanto ficará desapontado, mas entre
corridas e a Grécia, esta vem em primeiro lugar!
- Eu já devia esperar por isto. Este objeto tão especial que o faz deixar
a Inglaterra é realmente mais extraordinário do que os que você já tem?
- Não posso responder à sua pergunta enquanto não o vir. Meu informante,
porém, me escreveu com muita convicção que a estátua é sem igual e que se
eu perder
esta oportunidade me arrependerei pelo resto da vida.
- De quem é a estátua?
- De Afrodite. Os arqueólogos, primeiro os romanos e ultimamente os
franceses e alemães, procuram-na há anos, mas só viram suas buscas
frustradas.
- Confesso que sempre achei Afrodite, a Deusa do Amor, nada apropriada para
você!
- De forma alguma. Lembre-se de que ela é feita de mármore.
- Eu ficaria muito mais feliz se você me dissesse que ia partir para Paris
à procura de uma Afrodite de carne e osso. Sabe muito bem que é isso que
deveria
estar fazendo.
- O que quer dizer com "eu deveria estar fazendo"?
- Não seja tolo, Árion. Sabe tão bem quanto eu que deve arranjar uma
esposa e ter um herdeiro. Se isso não acontecer, para quem deixará todo este
tesouro?
Enquanto falava ele estendeu os braços, num gesto que indicava as telas
valiosÃssimas e duas estátuas excepcionais que se achavam uma de cada lado da
lareira.
Estas últimas representavam dois atletas, nus e com a coroa de louros da
vitória.
Depois de um momento, lorde Warburton respondeu:
- Já fez a mesma observação antes, mas a tempo de sobra para eu pensar
nisso.
- Já tem trinta e dois anos e, se ficar muito mais velho, não
será fácil desposar uma jovem Afrodite. Então terá que se contentar com
alguma viúva que, sem
dúvida, estará interessada apenas em sua fortuna e sua posição social.
Lorde Warburton riu.
- Que quadro mais sombrio! Estou convencido de que uma jovem desajeitada e
sem inteligência seria muito pior do que uma viúva!
Charles estendeu as pernas e recostou-se no espaldar da poltrona,
observando atentamente o amigo.
- Estou preocupado com você; nestes dois anos tem-se tornado cada vez mais
cético e mais irônico. Nenhuma mulher, por mais atraente que seja, tem
conseguido
prender sua atenção.
Charles pensou que o amigo iria rir, mas lorde Warburton levantou-se e
começou a andar impacientemente pelo escritório.
Junto à janela ele parou e ficou olhando para os gramados muito verdes que
desciam até o lago, ao lado do qual havia um primoroso templo branco que ele
havia
trazido da Grécia.
- A verdade é que acho as mulheres, todas elas, decepcionantes - disse
Árion, depois de algum tempo.
- Não é possÃvel.
- Á verdade. Elas podem parecer adoráveis, mas assim que conhecemos
melhor, descobrimos que são tolas, sem graça e, muitas vezes, mal-educadas.
- Acho que você está louco!
- Não, estou perfeitamente são e asseguro-lhe que tenho muito mais prazer
em conversar com homens bem mais velhos que eu, os quais já viveram mais tempo
e com
plenitude, estando mais interessados nas glórias do passado.
- Especialmente as da Grécia! - observou Charles em voz baixa.
- Sim, da Grécia. Ah, como eu desejaria ter-me sentado aos pés de
Sócrates ou de Platão, ou de poder ter ouvido Homero! Eu acharia tudo o que
eles disseram
tão estimulante e tão notável!
- Mas eles estão mortos e chega a ser ridÃculo uma pessoa como você ficar
sonhando com coisas inatingÃveis e andar procurando ossos enterrados.
- Há outra alternativa? Seria melhor ficar dando atenção ao prÃncipe de
Gales, que já está envelhecendo, ou ouvir aqueles que cercam a rainha e que
só sabem
falar sobre o império britânico?
- Londres tem outras atrações.
- Você quer dizer que eu devia ficar louco pelas garotas do teatro de
variedades e que devia pensar que seria privilegiado em poder levar uma delas
para jantar?
- perguntou Árion sarcasticamente. - Meu Deus, você já conversou com alguma
dessas tão exaltadas beldades do teatro de variedades, Charles?
- Naturalmente, e achei-as muito divertidas!
- Acha divertido beber champanhe em chinelos de seda ou levar uma dessas
beldades para casa, numa carruagem de aluguel, ao romper do dia? - Árion
perguntou
no mesmo tom de escárnio.
- Eu poderia mencionar prazeres mais Ãntimos - murmurou Charles.
- Nessas ocasiões, não se fala nem se ouve! Charles riu.
- Muito bem, Orion você venceu. Vá para a Grécia em busca de sua
Afrodite. Tudo o que posso dizer é que o mármore é muito frio na cama e
lábios de pedra não
são nem um pouco ardentes.
Lorde Warburton voltou para o lugar onde estivera sentado e só então
disse em um tom de voz muito diferente:
- Vamos conversar; quero ouvir todos os detalhes sobre meus cavalos antes
de partir.
Charles atendeu ao seu pedido. Ele não podia deixar de pensar que, apesar
de tudo o que possuÃa seu amigo não era um homem particularmente feliz.
Desde que estiveram juntos em Eton, Charles admirava Árion. Depois ambos
foram para Oxford, onde o primeiro passara a concentrar-se mais nos esportes e a
dispensar
mais atenção aos colegas que tinham as mesmas inclinações que ele.
Árion formou-se em Arqueologia, tendo sido considerado o melhor estudante
de lÃnguas orientais que Oxford já tivera. No entanto, a amizade entre os dois
rapazes
continuou firme.
Eles foram juntos para a Cavalaria de Guarde e Charles sempre admirou o
homem que montava tão bem e que era o mais belo entre todos do regimento.
Charles e Árion também haviam servido na Ãndia, como ajudantes-de-campo
do vice-rei. Em diversas ocasiões, Árion havia corrido risco de vida, porém
sobrevivera
graças à sua mente rápida e à sua intuição, que era por vezes
fantasticamente perceptiva.
Quando os dois amigos voltaram para a Inglaterra, Árion havia herdado o
tÃtulo e, tendo deixado o regimento, passará a cuidar apenas de suas
propriedades. Durante
o ano seguinte os dois amigos viram-se muito pouco.
Então Charles passou a administrar o haras e sempre que seu patrão se
encontrava na Inglaterra, eles passavam à maior, parte do tempo juntos.
Charles preocupava-se porque Árion parecia não sentir prazer pela vida, a
não ser quando se achava na Grécia. Quando voltava, trazendo tesouros para o
Warburton
Park, então ele parecia muito entusiasmado.
Ao contrário do patrão, Charles apreciava os apaixonados casos de amor,
um sucedendo ao outro. Para ele era difÃcil acreditar que Árion pudesse ser
feliz sem
a delÃcia de ter um corpo macio e morno nos braços e lábios famintos
procurando os seus.
Lorde Warburton, no entanto, parecia imune às mulheres que o perseguiam
sem descanso. Mesmo que ele achasse uma mulher fascinante, em pouco tempo não
via qualquer
atração nela.
Charles estava ciente de que tudo isso acontecia porque Árion sofrerá uma
grande desilusão quando era mais jovem e cursava seu primeiro ano em Oxford. Na
época
ele imaginara que o incidente não tivera importância.
Mas não restava dúvidas de que fora a partir de então que lorde
Warburton passara a evitar as mulheres. Quando estava com elas, mostrava-se
indiferente ou irônico.
Como lorde Warburton era não apenas um belo homem, mas também muito rico,
as mulheres, principalmente aquelas que tinham uma mãe ambiciosa, assediavam-
no, considerando-o
um excelente "partido".
Charles considerava as mulheres lindas flores esperando apenas que ele as
colhesse e desejava que o amigo também se sentisse feliz perto de uma beldade.
Por
isso ele não conseguia compreender por que Árion ficava fascinado por aqueles
pedaços de mármore, velhos e frios.
Depois que os dois conversaram sobre os cavalos e Charles opinou sobre as
corridas nas quais esperava vê-los vencedores, ele pediu:
- Por que não muda de opinião, Árion? Esqueça a Grécia por um momento
e venha ver seus cavalos alcançarem a linha de chegada em primeiro lugar em
Newmarket
e, claro, na Royal Ascot.
- Gostaria de fazer isso, mas, se perder Afrodite, nunca mais terei uma
oportunidade como esta!
- Há muitas lindas "Afrodites" em Londres - insistiu Charles. - Uma delas,
em particular, espera há algum tempo para ser-lhe apresentada.
- Posso conhecê-la quando eu voltar e se ela for mais linda do que a
Afrodite que pretendo trazer comigo, então talvez me case com ela!
Charles riu, depois disse, em tom sério:
- Espero que faça isso, pois realmente ela seria uma ótima esposa.
Acredito, porém, que ela possa achar aborrecido ter que repartir as suas
atenções com uma
porção de mulheres lindas, ainda que feitas de mármore!
- Se está insinuando que para desposá-la eu tenha que mandar todas as
minhas deusas para um museu ou tenha que criar meu museu particular na ala oeste
desta
casa, recuso-me categoricamente a levar essa beldade ao altar!
Charles ia dar uma resposta mordaz, mas achou que não seria oportuna. Ele
não ignorava o quanto seu amigo se orgulhava daquelas antigüidades gregas.
Fazer qualquer alusão ao fato de que uma esposa poderia afastá-lo de seus
tesouros levaria Orion a jamais fazer uma proposta de casamento a tal mulher.
"Preciso ter muito tato", pensou Charles.
- Muito bem, Orion, vá para a Grécia e consiga sua Afrodite. Depois,
quando voltar para casa, procure uma deusa jovem e viva que fará seu coração
bater mais
forte e poderá te dar meia dúzia de filhos belos como o pai!
Lorde Warburton deu uma risada que soou um tanto estranha. Charles não era
a primeira pessoa que sempre tocava nesse assunto de casamento. Irritado, Orion
lembrou-se
de que seus parentes pareciam não ter outro assunto.
Ele sabia muito bem o quanto todos em sua famÃlia antipatizavam com o
herdeiro presuntivo ao tÃtulo, um primo já de meia-idade que não perdia as
esperanças
de vir a ocupar o lugar de lorde Warburton.
O primo em questão era a pessoa que mais se entusiasmava pela coleção de
lorde Warburton. O motivo desse entusiasmo era simples: ele esperava que numa
dessas
viagens pelo Mediterrâneo Árion sofresse algum acidente fatal, como um
naufrágio durante uma tempestade na baÃa de Biscay, vindo a afogar-se.
Sendo um homem de intuição apurada, lorde Warburton sabia que o primo
rezava para que algum tipo de mal lhe acontecesse. Ao invés de se abater, lorde
Warburton
sentia-se cada vez mais decidido a manter-se vivo.
Ele era também honesto consigo mesmo e sabia que mais cedo ou mais tarde
deveria se casar e ter o herdeiro para o tÃtulo, conforme a famÃlia tanto
esperava,
mesmo que a idéia de casa mento lhe soasse muito desagradável.
Charles tinha razão em pensar que o amigo desiludira-se do amor. Árion
ainda se lembrava da garota que ele amara e que zombara do interesse que ele
tinha pela
Grécia, que escarnecia dos poemas que ele achava tão lindos e que não tivera
o menor entusiasmo quando ele a levara ao Museu Britânico.
Desde muito pequeno, quando vira pela primeira vez os "mármores de Elgin",
Árion ficara emocionado. Em suas primeiras férias, quando cursava a
universidade
de Oxford, ele fora a Paris para ver as estátuas gregas do Louvre e depois as
esculturas de Munique.
Essas obras de arte significavam tanto para Árion, que ele trouxe desenhos
e fotografias das obras que o haviam emocionado.
Ele mal pôde acreditar ao ouvir a garota responder-lhe com sarcasmo que
esperava dele alguma jóia e não aquele "lixo"! Árion ficou sabendo que a
moça não apenas
caçoava daquilo que ele considerava quase sagrado, mas que também o
ridicularizava diante de suas amigas, lendo para elas os poemas no mais puro
estilo clássico
que lhe escrevia, servindo os mesmos para objeto de riso e escárnio.
A partir de então ele prometera a si mesmo jamais se deixar enganar por um
rosto bonito.
Houve muitas mulheres em sua vida; era impossÃvel evitá-las sendo um homem
tão belo e importante. Todas elas, no entanto, despertaram nele apenas prazeres
fÃsicos.
Eram como um prato apetitoso do qual se esquece assim que a refeição termina.
Árion sabia que Charles, seu grande amigo, não era capaz de compreender o
quanto era profundo o amor dele pela Grécia. As estátuas emocionavam-no muito
mais
do que qualquer mulher jamais fora capaz de fazê-lo.
Elas estimulavam sua mente e transportavam todo o seu ser rumo à luz das
estrelas. Seu nome, Orion, fora escolhido por sua mãe, uma grande amante da
poesia.
Seus outros nomes, em deferência à famÃlia, eram George Frederick.
Quando já tinha idade suficiente para decidir como desejava ser chamado,
ele insistira em usar apenas-seu nome grego, eliminando os outros dois.
As pessoas em geral achavam o nome Orion apropriado para um homem que
parecia tão romântico. Apenas Charles gostava de, às vezes, importunar o
amigo por preferir
um nome grego aos ingleses.
Os dois amigos conversavam animadamente no escritório quando a porta se
abriu.
- Desculpe-me, milorde - disse o mordomo, que já se achava no Park
há mais de trinta anos -, mas uma jovem lady insiste em ver Vossa Senhoria.
- O que ela deseja McGregor? - perguntou lorde Warburton.
- Ela diz que deseja vê-lo e que se trata de um assunto de vida ou morte!
Lorde Warburton mostrou-se surpreso e Charles riu.
- Pelo menos esta visita é bem diferente da do vigário que lhe vem pedir
contribuições para o orfanato!
- Creio que será melhor eu recebê-la - respondeu lorde Warburton
aborrecido.
Desde que viera morar em Warburton Park, Orion sempre tinha alguém o
aborrecendo com suas queixas e pedindo dinheiro para as obras beneficentes
locais.
- Conduzi a jovem lady ao Salão de Prata, milorde.
- Está bem, irei ao encontro dela.
- Assunto de vida ou morte! - comentou Charles com o amigo, depois que o
mordomo fechou a porta. - Que excitante!
- Duvido! - replicou lorde Warburton. - Meu palpite é que se trata de uma
arrecadação para uma obra missionária, na África. Estão sempre querendo
converter
os nativos, que preferem muito mais continuar com suas próprias religiões.
- Além de ser um cético, você não é nada romântico. Posso pensar em
razões muito melhores para uma jovem vir visitá-lo.
Lorde Warburton já estava próximo à porta.
- Se achar que estou demorando muito no salão, vá a meu socorro.
- Está bem, mas se ela for bonita não lhe fará mal nenhum dar-lhe uma
cédula de cinco libras.
Charles teve certeza de que o amigo não ouvira suas últimas palavras,
pois já saÃra e fechava a porta.
Ao apanhar o jornal, Charles pensava que era uma pena Orion não encontrar
alguém que o atraÃsse tanto como a Afrodite que ele estava procurando na
Grécia.
"Se ela vivesse agora", Charles pensou, "Árion sem dúvida a acharia
vulgar e enfadonha. Ele procura por algo que nunca encontrará, por isso
mantém-se tão entusiasmado."
Suspirando, ele abriu o jornal na página de esportes.
Corina acordou naquela manhã com a sensação de que o que acontecera no
dia anterior havia sido um sonho. Todavia, ao lembrar-se dos olhos escuros do
grego e
do modo como ele lhe falara, convenceu-se de que tudo fora mesmo bem real.
Para salvar o pai ela teria que ir visitar lorde Warburton. Mal podia
acreditar que se encontrava à frente daquele dilema.
Horrorizada, pensando no que poderia acontecer, ela sentou-se na cama,
tremendo apesar do calor e do sol que entrava pela janela que tinha as cortinas
abertas.
Corina preferiu não falar sobre o visitante com a Srta. Davis, sua velha
governanta; tampouco iria dizer-lhe aonde iria naquela manhã.
Apesar de a Srta. Davis ser uma mulher inteligente, Corina achou que ela
nunca entenderia a gravidade da situação e por isso dispôs-se a empenhar-se
sozinha
a salvar a vida do pai.
Era-lhe quase impossÃvel acreditar que se não seguisse rigorosamente as
instruções do Sr. Thespidos, este iria de fato assassinar seu pai.
"Como pode haver homens assim no mundo?", ela se perguntava desesperada.
Saindo da cama, ela começou a vestir-se, tendo a desagradável sensação
de que o grego não lhe fizera ameaças vãs e se ela não fizesse exatamente o
que lhe fora
ordenado, jamais veria o pai novamente.
Tudo era tão aterrador que Corina viu-se fazendo uma prece para a mãe
ajudá-la. Ela sentia-se como uma criança que, sentindo-se em perigo, corria
para o seio
materno buscando segurança.
Ela pensava se havia alguém que pudesse procurar e explicar a situação
em que se encontrava. Era, porém, improvável que acreditassem nela.
Finalmente, vendo que não tinha outra saÃda senão entrar em contato com
lorde Warburton, ela mandou preparar a carruagem, dizendo que desejava que a
mesma estivesse
à frente da porta principal em meia hora.
A criada desceu depressa as escadas para transmitir a ordem aos
cavalariços, enquanto Corina, em frente ao guarda-roupa, pensava em que vestido
usar.
Estava bem quente para o princÃpio de maio e ela olhou para um lindo
vestido que havia comprado há pouco tempo. Imediatamente lembrou-se do que o
Sr. Thespidos
lhe dissera; para salvar seu pai ela deveria se fosse preciso, ajoelhar-se ou ir
para a cama com lorde Warburton.
Se a rudeza de tais palavras a deixara chocada quando foram proferidas,
mais ainda a escandalizara quando à noite ela pôde compreender exatamente o
que o Sr.
Thespidos havia insinuado.
Corina era muito inocente e sem a menor experiência, pois sempre levara
uma vida calma no campo. Ela não ignorava que os homens tinham relações ilÃ-
citas com
mulheres, mas pouco sabia o que isso implicava.
Sabia apenas que era um pecado e um erro. Seus pais nunca haviam falado
sobre o assunto com a filha.
O exemplo que Corina tinha em casa era o de pais felizes juntos; ela
acreditava que um dia iria encontrar um homem tão inteligente e tão belo
quanto seu pai
e então ambos se apaixonariam e se casariam.
Sua vida de casada seria harmoniosa, eles teriam em comum o amor pelos
filhos, o interesse pela Grécia e apreciariam seus magnÃficos cavalos.
Tudo seria tão lindo como o desabrochar dos primeiros narcisos dourados,
na primavera, como os patinhos, atrás da mãe, nadando no lago; tão adorável
como as
pombas brancas voando sobre a casa, tendo ao fundo o azul do céu de verão.
A vida de ambos seria marcada por uma beleza enaltecedora, a mesma beleza
que ela encontrava em todos os lugares em sua casa; essa beleza resultaria do
amor.
Subitamente, como se ainda ouvisse as palavras do Sr. Thespidos sendo
sussurradas aos seus ouvidos, ela tirou do guarda-roupa o vestido de que menos
gostava.
Ela escolhera o tecido analisando-o sob luz artificial, e depois de pronto, o
vestido parecia à luz do dia sem graça e deselegante.
Antes de sair ela pôs sobre os lindos cabelos dourados um chapéu que só
usava em enterros e ainda prendeu ao mesmo um véu que pertencera à sua mãe.
Olhando-se ao espelho e receando ainda que estivesse com boa aparência,
ela foi ao quarto do pai, onde encontrou em uma pequena gaveta os óculos que
desejava.
O pai sempre os usava em suas viagens e desta vez os deixara para trás porque
uma das lentes havia trincado.
Sir Priam comprara outros óculos e Corina mandara substituir a lente
trincada e guardara os óculos já consertados numa das gavetas menores da cÃ
´moda, no quarto
do pai, esperando pela volta dele.
Como eram óculos para sol, as lentes escuras escondiam a beleza dos olhos
de Corina verdes com um toque de dourado, os quais se assemelhavam a um raio de
sol
sobre a água cristalina.
Corina pegou os óculos e guardou-os na bolsa. A carruagem já se achava Ã
sua espera e ela desceu as escadas.
Os cavalos estavam inquietos, pois precisavam de exercÃcio; eles sacudiam a
cabeça, agitando a longa crina.
Ao subir na carruagem, Corina pensou por um segundo que estava sendo uma
louca por obedecer ao Sr. Thespidos. Como poderia persuadir um homem que ela
não conhecia
a atendê-la?
"Tenho que convencê-lo!"
Mais urna vez as palavras do Sr. Thespidos pareciam chegar aos seus ouvidos
e ela estremeceu.
Na noite anterior Corina explicara à velha governanta que iria sair bem
cedo, ao que a Srta. Davis respondera:
- Nesse caso passarei a manhã na cama, já que não precisará de mim.
Não tenho dormido bem e um bom relaxamento me fará bem.
- Sim, claro - concordara Corina. - Vou recomendar que lhe tragam o almoço
para cima, em uma bandeja. Devo estar de volta para o chá.
- Estarei à sua espera - prometeu a Srta. Davis. Obrigada, querida
criança, por ser tão compreensiva.
Corina compreendeu então que sua governanta estava já bastante idosa e um
súbito receio de que ela poderia morrer a invadiu. Teria que encontrar outra
pessoa
para fazer-lhe companhia quando o pai viajasse.
Bem, no momento ela devia concentrar-se no problema mais sério, que era
lorde Warburton. Durante o percurso até Warburton Park ela tentou planejar o
que iria
dizer a ele. Tinha que ser bem convincente. Por mais inoportuna que a viagem
pudesse ser lorde Warburton precisava levá-la à Grécia.
Ela começou a imaginar como o Sr. Thespidos podia estar sabendo o que
lorde Warburton estava procurando encontrar naquele paÃs. Intrigava-a também o
fato de
o homenzinho grego estar tão bem informado sobre o que se passava na casa do
lorde inglês.
Ocorreu-lhe que talvez um dos criados de lorde Warburton fosse o
informante.
Certamente o Sr. Thespidos não hesitaria em subornar um dos serviçais de
quem quer que fosse para obter o que queria. Só em pensar no grego horroroso,
Corina
sentiu um calafrio.
Era a primeira vez na vida que tivera medo de um homem. Era uma sensação
desagradável que jamais sonhara experimentar.
O Sr. Thespidos tinha uma expressão dura no olhar e as linhas dos lábios
revelavam crueldade; todo ele inspirava temor. "Odeio-o! Oh, como o odeio!"
Corina continuou seu caminho conduzindo a carruagem, sem ao menos notar as
cercas vivas bem-cuidadas, as prÃmulas crescendo à beira dos gramados, tampouco
ouvir
os cucos cantando entre as árvores.
Em outra circunstância ela ficaria fascinada pelo azul do céu refletido
nas águas lÃmpidas dos regatos. Havia muita beleza no campo para ser admirada,
mas Corina
pensava no pai que se achava prisioneiro em algum lugar na Grécia, talvez em
uma pequena cabana.
"Irei salvá-lo, papai... irei salvá-lo!", ela murmurava do mais fundo do
seu ser, como se tentasse fazer seu espÃrito entrar em contato com o pai.
Corina sabia que ele não duvidava de que ela o amava e que orava por ele.
Eram quinze milhas até a casa de lorde Warburton. Passava pouco do meio-
dia quando Corina viu à sua frente à enorme mansão junto a um lago, tendo ao
fundo um
bosque de pinheiros.
Warburton Park era uma construção imponente. O sol brilhava nas dezenas
de janelas e o estandarte de lorde Warburton tremulava no alto do telhado,
majestosamente.
Corina conduziu a carruagem pela avenida de tÃlias vetustas. Assim que
começou a descer em direção ao lago, ficou maravilhada ao ver uma revoada
súbita de pombas
brancas que foram pousar no gramado muito verde à beira do lago.
Tudo naquele lugar era encantador e ao mesmo tempo tão perfeito e
grandioso, como se fosse ali outro mundo. A revoada de pombas brancas pensou
Corina, era,
com certeza, um sinal de boa sorte e de que suas preces seriam ouvidas.
No mesmo instante, como se o próprio demônio estivesse ao seu lado, ela
ouviu as palavras do Sr. Thespidos e lembrou-se dos óculos de sol.
Tirando-os da bolsa, colocou-os, ajustou em seguida o pequeno véu do
chapéu, enquanto a carruagem estava diante da porta principal da mansão.
Levou algum tempo para Corina convencer o mordomo de que era muito
importante ver lorde Warburton, mesmo sem tê-lo avisado de sua visita.
Finalmente ela foi conduzida para um lindo salão cuja cornija e as colunas
que a sustentavam eram revestidas de prata.
Os lustres eram de prata e cristal; todos os objetos da lareira, anteparo,
tiçoeiro e tenaz, eram de prata. As cortinas, o estofamento das cadeiras,
poltronas
e sofás eram de damasco azul, de um tom muito suave.
Dos dois lados da lareira havia mesinhas que Corina reconheceu ser um
trabalho da época de Charles II. Olhando ao redor ela viu diversos nichos com
estátuas
gregas que teriam feito seu pai vibrar.
As estátuas eram belÃssimas e eram ainda realçadas pelo revestimento de
prata dos nichos que emprestavam mais brilho ao mármore das mesmas.
"Ah, se papai pudesse vê-las!"
Lembrando-se da razão de estar ali, sentiu-se aterrorizada e respirou
fundo. Nesse instante a porta abriu-se.
Lorde Warburton entrou no salão, mas Corina, por um breve momento, não
dirigiu o olhar para ele, amedrontada, receando que ele pudesse ser tão
desagradável
e sem caráter quanto o Sr. Thespidos.
Então ela ouviu-o perguntar:
- Deseja ver-me?
Ela ergueu o rosto e viu-se diante de um homem alto, de ombros largos, na
verdade jamais vira um homem tão belo. Isso não a impediu de notar o tom seco
na voz
dele, denunciando que ele achava que a presença dela o aborrecia.
Pior ainda: as linhas no rosto dele, que desciam do nariz até os cantos
dos lábios, pareciam dizer que lorde Warburton escarnecia dela. Ele,
certamente, se
ressentia daquela intrusão.
Corina continuou a observar o dono da casa através das lentes escuras e
teve certeza de que ele a desprezava. Nervosa, ela disse depressa numa voz que
nem lhe
pareceu a sua:
- Sou a senhorita Melville, senhor, e vim procurá-lo para pedir a Vossa
Senhoria que ajude meu pai, sir Priam Melville.
Terminando de falar ela teve a impressão de que se comportara como uma
garota de escola. Fora dizendo tudo rapidamente, receando esquecer alguma coisa
do seu
discurso.
Não foi com surpresa que ouviu lorde Warburton responder-lhe calmamente:
- Suponho que podemos nos sentar, Srta. Melville, e terá ocasião de
dizer-me por que seu pai necessita de minha ajuda e por que ele não veio
procurar-me pessoalmente.
Corina sentou-se na beira do sofá, juntou as mãos sobre o colo e
explicou:
- Meu pai está no exterior... Na verdade, ele está na Grécia. Lorde
Warburton ergueu as sobrancelhas, mostrando-se surpreso e mais interessado.
- Na Grécia? Mas meu mordomo disse-me que a senhorita desejava me ver e
que o assunto era de vida ou morte.
- É verdade, senhor. Papai está desesperadamente enfermo e eu pensei
que... Isto é, ouvi dizer que vai partir para a Grécia... Quem sabe poderia
ter a bondade
de me levar junto.
Definitivamente surpreso, lorde Warburton encarou-a, parecendo não poder
acreditar no que acabara de ouvir.
- Imagino, Srta. Melville - ele respondeu após um momento -, que
poderá viajar para a Grécia de um modo bem convencional: de trem.
- Os trens são tão imprevisÃveis... Principalmente no sul da Europa. É
por isso que pensei na possibilidade de chegar à Crisa em seu iate, de um modo
muito
mais... Seguro.
- Então seu pai está em Delfos?
- Papai também é arqueólogo, como Vossa Senhoria, mas ele se encontra
muito doente.
- Quem lhe disse que ele está doente?
- Um homem chegou ontem da Grécia e me informou que papai está mal e...
Sem tratamento médico.
Corina falou de modo hesitante e teve a impressão de que não fora nada
convincente, até soou meio tola. Ninguém iria acreditar nela, muito menos
lorde Warburton.
- Você acaba de me dizer que seu pai é um arqueólogo e naturalmente não
deve estar sozinho fazendo suas pesquisas.
- Meu pai sempre trabalha sozinho. Ele não leva consigo nem seu criado
particular, pois acha que criados ingleses geralmente causam problemas quando
estão em
outro paÃs.
Lorde Warburton esboçou um leve sorriso, que foi na verdade apenas um
curvar dos lábios, antes de responder:
- Compreendo, Srta. Melville. Ao mesmo tempo ainda acho que o melhor meio
de chegar até seu pai será de trem. Meu conselho é que vá de trem até
Veneza; ali
encontrará navios que partem para a Grécia quase diariamente.
- Por favor, senhor... Leve-me até a Grécia em seu iate! Corina não
sabia mais o que dizer. Só lhe restava suplicar. Fez-se silêncio. Depois de
alguns segundos,
lorde Warburton perguntou:
- Srta. Melville, a razão de estar ansiosa para viajar comigo será porque
não pode pagar sua passagem? Nesse caso...
Horrorizada, Corina compreendeu que ele ia oferecer-lhe dinheiro e disse
depressa:
- Não... O problema não é dinheiro, é... Rapidez.
- Como já lhe expliquei Srta. Melville chegará a Crisa em menos tempo de
trem. Mesmo sendo novo e capaz de fazer catorze nós por hora, meu iate pode
ficar detido
na baÃa de Biscay se o mar estiver encapelado e há freqüentes tempestades no
Mediterrâneo que sempre atrasam a viagem.
- Eu... Eu entendo senhor... Mas, por favor... Lorde Warburton levantou-se.
- Lamento claro, não poder ajudá-la; só lhe prometo que, ao chegar Ã
Grécia, se lhe puder ser útil, basta entrar em contato comigo.
Lampejou pela mente de Corina que se ela conseguisse descobrir quando lorde
Warburton iria partir e onde iria ancorar, teria informações para dar ao Sr.
Thespidos
e este talvez se desse por satisfeito.
- Agradeço-lhe por sua bondade. Se me disser onde estará na Grécia,
será confortador saber que poderia contar com a ajuda de Vossa Senhoria se eu
não conseguir
ajudar meu pai de outra forma... Então poderei procurá-lo.
- Tenho um agente em Atenas e ele lhe dará meu endereço. Ele atravessou o
salão e foi até uma secretaire francesa, um belÃssimo móvel marchetado. Ali
abriu
uma pasta de couro ostentando seu brasão e tirou dela uma folha de papel de
carta. Quando ele começou a escrever na folha, Corina sentiu que seu coração
ia parar.
O endereço que ele estava escrevendo seria inútil.
Se lorde Warburton desejava manter tanto segredo sobre o lugar onde
pretendia ir, certamente não iria entrar em contato com seu agente ou qualquer
outra pessoa.
Ele veio ao encontro dela e entregou-lhe a folha de papel.
- Aqui está o endereço, Srta. Melville. Só posso desejar que quando
chegue à Grécia encontre seu pai bem melhor do que está imaginando.
- Vossa Senhoria pretende ir... Até o porto de Crisa? Parecendo ter
desconfiado que aquela pergunta tinha uma razão de ser, lorde Warburton
respondeu:
- A vantagem de se ter um iate, Srta. Melville, é que se pode ir aonde
quiser, sem necessidade de fazer planos antecipados.
- Sim... Naturalmente.
Corina guardou a folha de papel na bolsa e, num esforço final para salvar
seu pai das mãos do Sr. Thespidos, disse ainda:
- Por favor... Talvez ache melhor mudar de idéia e concorde em me levar
consigo. Prometo não lhe causar problemas... Na verdade, nem notará que eu
estou a bordo.
Sei que este é o melhor modo de chegar... Até meu pai.
- Sinto muito ter de desapontá-la, Srta. Melville, mas a resposta é não!
Ele falou de modo firme e parecia inflexÃvel. Corina sabia que mesmo que se
ajoelhasse como o Sr. Thespidos havia sugerido, aquele homem se manteria
irredutÃvel.
Como se desse o assunto por encerrado, lorde Warburton encaminhou-se para a
porta. Nada restava a fazer, pensou Corina, senão segui-lo.
Ele abriu a porta, esperou que ela passasse e ambos se viram no hall onde
havia dois criados de libra, um de cada lado da porta principal.
Do alto dos degraus Corina viu sua carruagem com os dois cavalos atrelados
esperando por ela.
Desesperada, pensou naquele veÃculo como sendo um carro funerário;
recusando-se a atendê-la, lorde Warburton estava destruindo seu pai, mandando-o
para a morte.
Nada mais havia para ser dito. Ele estendeu-lhe a mão:
- Adeus, Srta. Melville. Espero que sua apreensão quanto à saúde de seu
pai tenha sido desnecessária.
CAPÉTULO TRÉS
Apreensiva, Corina imaginava se já iria encontrar um dos homens do Sr.
Thespidos esperando-a. No entanto, parecia não haver ninguém ali.
Subiu para tirar o chapéu e arrumar os cabelos. Quando desceu observou que
tudo continuava quieto e foi à sala de visitas. Pela janela aberta chegava até
ela
o som do zumbido das abelhas e dos pássaros cantando nos arbustos. Diante
daquela paz, tentou se convencer de que todo o episódio fora apenas um
pesadelo.
Impaciente, ela andava da casa para o jardim vezes seguidas; as horas se
arrastavam. Quase às quatro da tarde ela ouviu o som de uma carruagem que se
aproximava.
Por um breve momento acalentou a esperança de lorde Warburton ter mudado
de idéia. Teria ele vindo procurá-la pessoalmente ou teria mandado outra
pessoa?
Mal compreendera que aquela esperança era vã, a porta abriu-se e Bates o
velho mordomo, disse:
- Um cavalheiro deseja vê-la, Srta. Corina. Mesmo antes de ver quem era
Corina estremeceu.
O Sr. Thespidos caminhou lentamente em direção a ela, como se quisesse,
com aquela atitude, intimidá-la.
Seu orgulho a fez erguer o queixo altivamente, porém juntou as mãos e
apertou-as. Com voz trêmula, ela disse:
- Tentei fazer o melhor possÃvel, mas receio ter... Falhado.
- Aconteceu o que eu esperava - falou o Sr. Thespidos, com sua voz
desagradável. - Teremos que pôr outro plano em ação.
- Outro... Plano?
- Suponho que ainda deseja salvar a vida de seu pai, não?
- Sim... Claro! Como pode fazer tal pergunta?
- Então deve fazer exatamente o que eu mandar! Se não fizer, Srta.
Melville, não tenha dúvidas, ele morrerá e não será uma morte tranqüila e
agradável!
Corina quase gritou diante da crueldade daquelas palavras. Algo enérgico e
corajoso em seu interior, porém, falou mais alto e ela recusou-se a permitir
que
o grego a calcasse sob seus pés.
- Já lhe disse que farei o que puder para ajudar meu pai, mas não vejo
necessidade de ameaças e recriminações.
Os olhos do grego cintilaram, demonstrando o quanto ele se surpreendera com
aquela atitude de desafio. Seu tom foi mais respeitoso ao dizer:
- Pensei em um modo de você salvar seu pai e dar-me a informação de que
preciso.
- Qual é?
Ele lançou um olhar especulativo a Corina, como se considerasse o que
seria mais interessante: contar-lhe logo seu plano ou deixá-la na ignorância
até o último
minuto.
Então, parecendo ficar feliz em amedrontá-la, ele observou:
- Você teve a oportunidade de resolver este problema amigavelmente e foi
malsucedida!
- Não ignoro isso.
- Agora teremos que fazer algo mais drástico!
- O que está sugerindo?
Depois de uma breve pausa, o Sr. Thespidos disse devagar:
- Você viajará clandestinamente no iate de lorde Warburton!
- Uma clandestina?!
Corina esperava tudo, menos isto. Ela olhou para o grego com uma expressão
de espanto.
- Quando ele descobri-la, ou então quando você se revelar, será tarde
demais para ele mandá-la de volta. Desta forma, será obrigado a levá-la até
Crisa, onde
eu estarei esperando.
- Mas... É impossÃvel! - ela protestou.
O Sr. Thespidos não ignorou a nota desafiadora na sua voz.
- Se ele me descobrir - Corina explicou depressa -, é mais do que
provável que me deixará em Gibraltar ou em algum porto francês.
- Nesse caso seu pai terá uma morte das mais desagradáveis e você
terá remorsos pelo resto da vida!
Corina apertou tanto as mãos até que ficassem sem circulação. Depois,
com esforço sobre-humano, disse calma e vagarosamente:
- Qual... Seria seu plano? O que está pretendendo que eu faça?
- Agora está começando a demonstrar bom senso! Seria de bom-tom, Srta.
Melville convidar-me para sentar.
Corina indicou uma cadeira e sentou-se em seguida em um sofá, sentindo que
as pernas não mais a suportariam.
Era-lhe difÃcil respirar. DifÃcil também era afastar o medo que se
avolumava em seu interior, prestes a subjugá-la.
- Tenho meu plano todo traçado e não há nele uma falha sequer. Corina
esperou um pouco, achando que ele iria dar-lhe detalhes; como ele se manteve
calado, ela
perguntou:
- E... O que decidiu?
- Tudo indica que Sua Senhoria irá partir depois de amanhã; portanto,
você deverá estar pronta amanhã cedo. Virei buscá-la às nove.
- Para... Aonde iremos?
- Para Folkestone, onde o iate de lorde Warburton está ancorado. Você já
estará a bordo quando ele chegar.
- Como poderá ser isso? Ele me descobrirá e se recusará a me levar.
O Sr. Thespidos sorriu.
- Pode deixar tudo em minhas mãos. Só o que temos a fazer no momento é
providenciar o que for necessário para viajarmos até a estação mais próxima
e ali tomaremos
um trem expresso.
Ele analisou Corina de um modo que ela achou repulsivo, dizendo em seguida:
- Leve consigo os seus vestidos mais lindos. Não seja tola a ponto de
permitir que Sua Senhoria a faça desembarcar e viaje sozinho. Se não souber
cativá-lo
a culpa será toda sua!
Corina levantou-se.
- Não tenho outra escolha, Sr. Thespidos. Estarei pronta à hora que o
senhor determinou... Mas não estou disposta a ouvir suas insinuações. Elas
são repulsivas
e extremamente vulgares!
Ela pensou que deixaria o grego embaraçado, mas ele simplesmente riu.
- Pelo que vejo, é uma garota decidida, Srta. Melville! Pode estar
afogando, mas não dobra a espinha!
Corina não respondeu. Ficou de pé, esperando que ele partisse. Mais uma
vez o grego analisou-a atentamente e a sensação de Corina foi a de estar sendo
desnudada:
- As nove, Srta. Melville.
Ele virou e encaminhou-se para a porta. Corina não cobriu o rosto como
fizera da outra vez.
Em vez disso foi até a janela; precisava de ar fresco.
"Que homem perverso, cruel, miserável e sem escrúpulos!"
Enquanto murmurava isso, ela reconhecia que estava completamente nas mãos
dele. Nada podia fazer a não ser obedecê-lo e pôr seu plano em prática,
mesmo achando
que ele estava destinado a ser um desastre.
Seria impossÃvel entrar no iate de lorde Warburton sem o conhecimento da
tripulação. Mesmo que ela tentasse ficar escondida nas sombras ou em algum
canto, acabaria
sendo descoberta.
Corina foi para seu quarto. Abrindo o guarda-roupa, tirou diversos vestidos
e estendeu-os sobre a cama. Lembrando-se de que o grego lhe dissera sobre
escolher
os trajes mais bonitos, sentiu um calafrio.
Em seguida ela tocou a campainha chamando uma criada. Quando esta atendeu
ao chamado, Corina recomendou-lhe que pusesse suas roupas em uma mala
imediatamente.
- Vai viajar senhorita?
- Vou, mas não me demorarei muito.
Ela disse aquilo convencida de que o plano do Sr. Thespidos falharia e ela
seria obrigada a desembarcar mal o iate tivesse partido.
Subitamente ocorreu-lhe que, se isso acontecesse, seu pai seria
assassinado. Sufocada por um repentino terror, ela precisou manter-se calma para
não gritar.
Sentando-se na cama, tentou recuperar-se. Depois de algum tempo foi
procurar a Srta. Davis, pois antes do almoço percebera que ela não estava nada
bem.
- Estarei melhor em um dia ou dois - dissera a governanta vagamente. -
Costumo ter estas crises e nada pode ser feito, a não ser esperar que passem.
- Não seria melhor mandar chamar o médico?
- Já consultei médicos antes e eles sempre dizem a mesma coisa. E um
problema de intestinos e, como sempre, ficarei ótima em poucos dias.
- E muito corajosa.
- Descobri durante minha vida que não temos alternativa. Todos nós
chegamos ao fim, mais cedo ou mais tarde. Já tenho bastante idade e só não
posso perder o
respeito próprio.
Corina inclinara-se e beijara a Srta. Davis no rosto.
- Deve ensinar-me a ser corajosa também - dissera, sabendo que aquelas
palavras não podiam ser mais verdadeiras.
Enquanto caminhava para o quarto da governanta, Corina ia pensando que
precisava evitar sobrecarregar a boa mulher com seus problemas. Todavia sua
vontade era
abrir-se com ela e pedir-lhe uma opinião.
A Srta. Davis era inteligente e de muita experiência, porém Corina achava
que seria impossÃvel mesmo para ela encontrar uma solução para aquele terrÃvel
impasse.
De qualquer forma não iria preocupar a governanta. Se esta soubesse
realmente do que se passava e se Corina não voltasse imediatamente de
Folkestone, a Srta.
Davis poderia até sucumbir.
"Preciso ser bastante corajosa e manter minha boca fechada."
Chegando ao quarto da governanta, ela disse:
- Como você não está bem, irei passar uns dias na casa de uma amiga.
Você terá a oportunidade de descansar e à minha volta estará curada.
- É uma atitude sensata - aprovou a governanta. - A mudança só lhe fará
bem; esta manhã achei-a um pouco pálida.
"Não é de admirar", pensou Corina.
Ela estivera acordada praticamente a noite toda, aborrecida com o resultado
de sua visita ao lorde Warburton e preocupada com o destino do pai.
- Agora vou para meu quarto cuidar da bagagem - disse Corina, achando que
não deveria dar chances para a Srta. Davis fazer mais perguntas. - Naturalmente
virei
dar-lhe boa-noite.
- Leve seus vestidos mais lindos, Corina, quem sabe conhecerá um jovem e
encantador Romeu!
A governanta costumava fazer aquele tipo de brincadeira, uma vez que havia
poucos homens atraentes na redondeza. Esforçando-se, Corina esboçou um
sorriso.
- Nunca se sabe!
Ela voltou para seu quarto pensando no Sr. Thespidos com horror e
apreensiva em relação à lorde Warburton.
Se fosse descoberta no iate depois que já se achassem em alto mar, o
encontro com ele seria extremamente desagradável. Aquele homem devia ser
assustador quando
zangado.
No entanto lorde Warburton não a amedrontou da mesma forma que o Sr.
Thespidos. Era diferente; sendo um homem importante e másculo, ele a faria
sentir-se pequena,
insignificante e completamente imbecil.
"Estou sendo imbecil mesmo!", disse a si mesma. "Se eu fosse realmente
inteligente, iria a Londres ver o ministro do exterior e lhe pediria que
salvasse papai."
Isso, ela sabia, levaria tempo. E ninguém tinha conhecimento do lugar onde
o Sr. Thespidos escondera seu pai.
"Se eu falasse com o ministro, tenho certeza de que ele entraria em contato
com a polÃcia militar de Atenas, a qual saberia o que fazer."
Então algo lhe disse que o Sr. Thespidos era esperto demais e conseguiria
escapar da polÃcia e não hesitaria em matar seu prisioneiro. Outra alternativa
seria
deixá-lo morrer de fome, sem que ninguém descobrisse onde ele estava
escondido.
"Tenho que fazer exatamente o que me mandaram", ela pensou desesperada.
Coruja esperava no hall.
És nove horas, pontualmente, o Sr. Thespidos chegou em uma carruagem
puxada por dois cavalos.
Ele não perdeu tempo cumprimentando Corina polidamente; então ela desceu
depressa os degraus, indo ao encontro dele.
Bates abriu a porta da carruagem, ela entrou, enquanto sua bagagem era
colocada na parte de trás do veÃculo e amarrada.
- Divirta-se, Srta. Corina! - disse Bates com ar paternal. - Cuidarei de
tudo na sua ausência.
- Tenho certeza disso, Bates. Espero estar logo de volta.
A carruagem partiu, Corina acomodou-se no assento, ficando o mais distante
possÃvel do grego, tendo, porém, notado que nos lábios dele havia um sorriso
de satisfação.
Dirigiu a ele apenas um olhar rápido, pois a simples presença dele na
carruagem dava-lhe náuseas.
"Odeio este homem! Odeio-o!"
Depois de uma hora a carruagem parou em um entroncamento da estrada de
ferro, onde eles poderiam pegar o trem para Folkestone.
Corina ficou feliz em viajar de primeira classe e não em um vagão
particular; assim estariam entre outros passageiros e ela não ficaria a sós
com aquele grego
horrÃvel.
Preferiu sentar-se ao lado de um cavalheiro já idoso que dormiu a maior
parte do tempo. O Sr. Thespidos sentou-se à sua frente e permaneceu em
silêncio.
Enquanto procurava distrair-se olhando pela janela, Corina podia sentir o
olhar do grego incidindo sobre ela, o que muito a desgostava.
Depois de algum tempo ela abriu o jornal mesmo sem vontade de ler. Havia
comprado o jornal na estação pensando em ter com que se ocupar durante a
viagem. Com
ele aberto, o Sr. Thespidos não podia vê-la; atrás do jornal só aparecia o
alto do seu chapéu.
O almoço foi servido aos passageiros por um garçom trajando paletó
branco.
Corina comeu muito pouco, não sentia o sabor da comida e parecia que
estava engolindo serragem. Para seu alÃvio o Sr. Thespidos adormeceu logo após
a refeição.
Analisando-o, Corina achou-o ainda mais repulsivo em repouso do que
acordado. Suas feições eram grosseiras, não pareciam, de forma alguma, as de
um grego.
Sua pele era cheia de marcas, denotando que ele tivera varÃola quando
jovem. Todas as linhas do seu rosto eram duras, emprestando-lhe aquele ar de
crueldade.
Sem o brilho dos seus olhos astutos e calculistas, o Sr. Thespidos mostrava
bem suas rugas, parecendo mais velho do que a princÃpio aparentara.
O melhor, porém, era não pensar naquele homem detestável, ainda que
estivesse sentado à sua frente.
Corina passou a concentrar-se no amor que sentia por seu pai. Ele devia
estar muito preocupado com ela, sabendo o quanto sofria por causa dele; também
devia
estar ciente de que sua filha faria o possÃvel para salvá-lo.
Se pelo menos pudesse falar com ele, ambos encontrariam uma solução. Como
isso era impossÃvel, nada restava a fazer senão rezar e acreditar que Deus, de
alguma
forma, a ajudaria.
Quando o trem estava chegando a Folkestone, o Sr. Thespidos acordou e disse
com alegria:
- Agora, começa a aventura! Se você fosse homem, estaria entusiasmada só
em pensar no que teremos pela frente!
- Infelizmente sou uma mulher!
- Você quer dizer que se fosse homem usaria de força para obrigar-me a
dizer tudo o que deseja saber.
Sem responder, Corina simplesmente ficou olhando pela janela até o trem
parar na estação.
Dando ordens rispidamente, o Sr. Thespidos retirou a bagagem de Corina do
vagão de carga.
Um homem veio ao encontro deles e cumprimentou o Sr. Thespidos
respeitosamente. Corina achou que ele trabalhava para o grego.
- Está tudo arranjado? - perguntou o Sr. Thespidos em sua lÃngua nativa.
- Sim, senhor, conforme ordenou.
Corina entendeu a conversa porque desde pequena aprendeu grego moderno com
seu pai. Ela também sabia um pouco de grego antigo que o pai lia fluentemente.
Sir Priam traduziu com freqüência as odes de PÃndaro e as peças de
Sófocles para que a filha pudesse apreciá-las.
Entretanto, Corina não deu qualquer demonstração aos dois homens que
podia entender o que eles falavam. Talvez, por algum milagre, pudesse descobrir
alguma
coisa sobre seu pai; quem sabe eles mencionariam o lugar onde o mantinham
prisioneiro.
Uma carruagem esperava por eles em frente à estação. O Sr. Thespidos e
Corina entraram nela e o homem que estivera conversando com o grego sentou-se ao
lado
do cocheiro para ensinar-lhe o caminho.
Em pouco tempo deixaram as ruas largas do centro da cidade e dirigiram-se
para o porto. Corina permanecia em silêncio, imaginando o que o Sr. Thespidos
iria
fazer.
Parecia-lhe impossÃvel escondê-la no iate à luz do dia. Haveria,
certamente, tripulantes por toda parte.
A carruagem parou em frente a um grande prédio, no cais. O homem que
estava na boléia ao lado do cocheiro desceu e abriu a porta, ajudando Corina a
sair da
carruagem.
O prédio parecia desabitado e o Sr. Thespidos tirou uma chave do bolso,
abrindo com ela a porta da frente.
O homem mais jovem entrou primeiro, sendo seguido pelo Sr. Thespidos, que
nem pediu licença a Corina, a última a entrar.
O cômodo era iluminado apenas por uma janela no alto de uma das paredes.
Corina podia ver que eles caminhavam por um longo corredor; logo chegaram a uma
escada,
que subiram até o primeiro patamar. Ali o homem que ia à frente acendeu um
lampião que lhes iluminou o caminho.
O Sr. Thespidos foi o primeiro a entrar em um cômodo que Corina observou
tratar-se de um escritório. Só então percebeu que estava em um dos armazéns
do cais
e ali naquele primeiro andar via um escritório muitÃssimo bem montado.
O tapete sobre o soalho era bem grosso e sobre ele estava uma escrivaninha,
Uma das paredes acomodava um grande número de arquivos; havia ainda ali algumas
cadeiras, duas poltronas e um sofá revestido de couro.
O homem que segurava o lampião colocou este sobre a escrivaninha e saiu do
escritório, voltando minutos depois com a mala de Corina.
Depois de colocar a mala ao lado da porta, ele ficou parado, obviamente
aguardando ordens.
- Procurou o que lhe pedi? - perguntou o Sr. Thespidos, falando em grego
novamente.
- Sim, senhor. Está lá embaixo.
- Então vá buscar. Quero que a Srta. Melville o veja.
O homem desapareceu e o Sr. Thespidos tirou o chapéu e o casaco, dizendo
rispidamente:
- Também deve ficar à vontade. Ficaremos aqui até que o dia amanheça.
- Gostaria de saber o que está planejando. Era impossÃvel conversarmos no
trem, mas, agora que estamos sozinhos, eu queria saber o que pretende. Detesto
ficar
na ignorância.
- Vou mostrar-lhe.
Enquanto falava ele foi até a porta e ouviu o outro homem subindo
vagarosamente a escada.
Ele entrou no escritório trazendo um grande caixote de embalagem. Vendo-o,
Corina não escondeu seu espanto e, numa voz sumida e estranha, perguntou:
- É... Nisso que pretende me pôr... Para chegar ao iate?
- Sabia que era uma garota inteligente! Na verdade, vai sentir-se muito
confortável nesse caixote.
Ele abriu a tampa do caixote e Corina viu que o mesmo era todo forrado com
tecido de colchão e por baixo do pano havia um enchimento muito macio.
Corina ia dizer que ficaria sufocada ali dentro, porém o Sr. Thespidos foi
logo dizendo, como se adivinhasse o que ela pensava:
- Poderá respirar perfeitamente. Faremos buracos na tampa e nos lados do
caixote. Você estará muito confortável; é assim que trazemos as cargas muito
preciosas
da Grécia!
Pelo modo como falou, Corina teve certeza de que ele negociava com as
antigüidades preciosÃssimas que alegara anteriormente pertencerem ao seu paÃs.
Não restava dúvidas de que ele queria descobrir o que seu pai o lorde
Warburton estavam procurando, simplesmente para se apossar da descoberta e
vendê-la por
um preço astronômico na Inglaterra ou em outro paÃs da Europa.
Colocando-a no caixote de embalagem, os tripulantes do iate de lorde
Warburton iriam pensar que aquele caixote era parte da bagagem de sua senhoria.
Lorde Warburton nem iria perceber que ela está a bordo. O plano era
inteligente e demonstrava do que a mente do Sr. Thespidos era capaz.
Quando o iate estivesse bem distante da Inglaterra, Corina poderia revelar-
se e lorde Warburton seria forçado a levá-la até Crisa, onde ela poderia
encontrar
seu pai.
Tudo isso passou pela cabeça de Corina enquanto ela olhava para aquele
caixote. Depois olhou de relance para o Sr. Thespidos e notou que ele estivera
observando-a.
- Não vai me dizer que sou bem esperto? - ele perguntou em tom irônico.
- Achei uma idéia terrÃvel! - Corina gritou. - E se ninguém descobrir
onde estou? Morrerei de fome ou sufocada!
- Não me subestime - disse o Sr. Thespidos, satisfeito. - Naturalmente já
pensei nisso. Há um trinco do lado de dentro que, com uma leve pressão apenas,
você
poderá abri-lo quando estiver pronta para revelar-se.
Corina sentiu um repentino calafrio de medo. Aterrorizava-a a idéia de
estar fechada em um caixote, deixada à mercê de um homem que já se recusara a
ajudá-la.
- Por favor... Não posso fazer isso! Deixe-me ver lorde Warburton quando
ele chegar ao iate. Suplicarei mais uma vez que ele me leve como sua convidada.
- E se ele se recusar novamente?
Não havia resposta para essa pergunta e o Sr. Thespidos prosseguiu:
- Tenho meus planos e você deve admitir que são muito inteligentes.
Estará confortável e não precisa ter medo de nada, pois poderá libertar-se a
qualquer momento
que desejar. Pense apenas que logo verá seu pai e ambos ficarão muito felizes!
- Jura mesmo, por tudo que considera mais... Sagrado, que eu verei meu pai
assim que eu chegar à Grécia?
- No momento que me entregar lorde Warburton, não terei qualquer interesse
pelo seu pai.
O tom do Sr. Thespidos deveria tranqüilizar Corina, mas, ao contrário,
deixou-a inquieta, pois ele mencionou o nome de lorde Warburton de um modo
horrÃvel,
como se o abocanhasse.
O grego parecia exultar diante da possibilidade de ter um homem tão
importante e tão rico em suas garras. Corina, porém, disse a si mesma que não
devia pensar
nisso; só seu pai a interessava.
Olhou mais uma vez para o caixote destampado que parecia estar abrindo a
boca para ela ali do assoalho; um calafrio percorreu-lhe toda a coluna
vertebral.
Caminhou até o sofá e sentou-se; o Sr. Thespidos dirigiu-se ao outro
homem, chamando-o pelo nome:
- Paul, leve o caixote para baixo e faça nele os buracos, conforme já o
orientei: quatro de cada lado serão suficientes. Convém deixar o estofamento
um pouco
mais alto. Devemos certificar-nos de que a lady fique bem confortável!
Desta vez ele falou em inglês para que Corina pudesse entender. Depois fez
questão de repetir tudo em grego.
Paul apanhou o caixote e desceu vagarosamente as escadas.
- Há um banheiro depois daquela porto - disse o Sr. Thespidos indicando o
lugar. - Depois de comermos qualquer coisa, aconselho-a a descansar neste sofá.
A
noite passará mais depressa se Você dormir.
Ele falou de modo casual, parecendo não estar nada preocupado com ela. A
vontade de Corina era responder que não conseguiria dormir estando tão
amedrontada
com o que iria acontecer dentro de algumas horas. Sabia, porém que seria um
erro ficar trocando palavras com um homem como aquele.
Decidiu ir ao banheiro esperando que ali houvesse um espelho para arrumar o
cabelo e uma pia para lavar as mãos. Quando voltou ao escritório viu o Sr.
Thespidos
escrevendo, sentado à escrivaninha.
Ele havia tirado o casaco, o colete e achava-se em mangas de camisa, tendo
os suspensórios sobre os ombros. Corina achou que era muita grosseria da parte
dele
tratá-la como uma pessoa sem a menor importância. Mas não disse nada.
Assim que ela sentou-se no sofá, Paul voltou com uma bandeja com comida.
Corina achou que não era das mais apetitosas, mas resolveu comer um pouco, pois
precisava
manter suas forças.
Além da salada, comeu uma porção de carne fria e aceitou um copo de
vinho grego que o Sr. Thespidos lhe ofereceu. Depois de experimentar o vinho,
não gostou
do forte sabor de resina do mesmo e deixou o copo de lado, pedindo um pouco de
água.
O Sr. Thespidos riu e disse:
- Se vai ficar no meu paÃs por algum tempo, terá que se acostumar com o
sabor de nossos vinhos!
Ele zombava dela e sua vontade era responder-lhe que desejava ver seu pai
salvo e sair da Grécia o mais cedo que pudesse. No entanto, ficou calada e
continuou
comendo sem a menor vontade, achando tudo ruim, preocupada apenas em preservar
suas forças. O Sr. Thespidos, ao contrário, comia com apetite e tomou quase
todo o
vinho. Depois da refeição, ele disse:
- Agora devemos nos acomodar e dormir; não gostaria que eu lhe desse um
beijo de boa-noite?
Corina ficou rÃgida, mas achou que seria indigno de sua parte dar uma
resposta.
O grego riu e ela pensou, apavorada, no que poderia fazer se ele tentasse
tocá-la. Como se soubesse o que ela estava pensando, ele disse:
- Você está completamente segura. Tenho um lema na vida que diz:
"Negócios primeiro", e amanhã você precisará estar muito ativa e
perfeitamente senhora de si.
Corina continuou a esforçar-se para permanecer em silêncio. Paul havia
trazido para cima travesseiros, cobertores e uma cama de armar.
Depois de tirar os sapatos Corina deitou-se no sofá e fechou os olhos
assim que pôs a cabeça no travesseiro. Ela sabia que o Sr. Thespidos a olhava
de modo
desagradável, mas teve certeza de que ele dissera a verdade quando mencionara
que os negócios vinham em primeiro lugar. Ele não seria tolo de assustá-la,
pois sabia
que ela poderia arruinar todos os seus planos.
Corina ouviu-o andando pelo escritório até que, finalmente, a cama
portátil rangeu, o lampião apagou-se e ela pôde relaxar um pouco. Somente
quando ouviu os
roncos do grego sentiu-se realmente segura.
Na escuridão, começou a rezar com toda a sua devoção e desespero,
pedindo por socorro. O futuro a aterrorizava.
Todavia, acalentava a esperança de que, por mais zangado que lorde
Warburton pudesse ficar com ela, seria preferÃvel suportar sua ira a estar perto
do Sr. Thespidos.
Como não havia dormido na noite anterior, Corina mergulhou numa
sonolência confusa, um torpor no qual seus pensamentos e sonhos se mesclavam
sem proporcionar-lhe
a bênção de um sono reparador.
Corina acordou com o barulho dos passos de Paul, que subia as escadas. A
porta abriu e ele disse em grego:
- Já são cinco e meia, sir.
Mais um ronco colossal e o Sr. Thespidos acordou. Antes que ele dissesse
qualquer coisa, Corina levantou-se e foi ao banheiro, tendo o cuidado de fechar
a porta.
Lavou o rosto e as mãos, penteou-se e achou desnecessário colocar o
chapéu.
Quando voltou ao escritório, o Sr. Thespidos já havia vestido o colete e
estava às voltas com a gravata que havia tirado para dormir.
- Há um lanche sobre a minha escrivaninha - ele disse assim que a viu. - E
melhor comer tudo, pois poderá ficar muito tempo sem ter qualquer tipo de
alimentação.
Era um conselho muito sensato e Corina apenas se ressentiu do modo como ele
falava.
Aproximando-se da escrivaninha ela viu pão, manteiga, uma grande fatia de
queijo e, para seu alÃvio, um bulinho com café. Quando começou a servir-se do
café,
viu que não havia muito e perguntou:
- Só há uma xÃcara de café. Não quer um pouco?
- Não, tome tudo. Depois que você estiver a bordo, farei meu desjejum.
- Como sabe que eles... Irão me aceitar?
- Deixe esse assunto por minha conta. Tenho inteligência demais nesta
cabeça - ele respondeu, olhando-a de soslaio.
Corina tomou o café e obrigou-se a comer o máximo que pudesse; felizmente
o pão estava fresquinho.
Ela teve vontade, de sugerir ao Sr. Thespidos que a deixasse levar um pouco
de alimento no caixote, mas convenceu-se de que se ele não havia pensado nisso,
certamente teria suas razões.
O Sr. Thespidos vestiu o paletó e consultou o relógio.
- Temos que nos preparar. Acabe seu café e irá sentir-se melhor.
Corina achou que ele tinha razão e bebeu depressa o que restava na xÃcara
e ainda serviu-se de mais um pouco que sobrara no bulinho.
Quando mexia o café para misturar bem o açúcar, começou a sentir-se
estranha. O cômodo parecia estar girando ao seu redor.
Ao estender a mão para segurar-se na beirada da escrivaninha, ficou
tateando e seu corpo parecia não obedecê-la.
Tentou então perguntar o que estava acontecendo, mas as palavras não lhe
chegaram aos lábios. Uma escuridão subiu do assoalho e a envolveu.
CAPÉTULO QUATRO
Lorde Warburton deixou sua casa extremamente animado, e ao despedir-se de
Charles, este disse:
- Faço votos que encontre sua Afrodite bem depressa, Érion, ou então
abandone de vez esta perseguição e volte para casa. Há muito que fazer aqui,
especialmente
com seus cavalos.
- No momento estou tentando ganhar um prêmio muito mais valioso do que
qualquer um que possa conseguir com meus cavalos.
- Eu me sentiria mais feliz se a sua Afrodite fosse de carne e osso e se o
visse perseguindo-a pelo mundo todo.
- Nesse caso eu não voltaria para casa durante anos! Charles riu diante
daquela lógica indiscutÃvel.
- Pelo que vejo você continua firme em seu propósito de comportar-se como
um cavaleiro das Cruzadas, que ignora os apelos da "donzela angustiada" e não
vai
ao seu encontro.
Lorde Warburton sorriu.
- O problema com você, Charles, é seu romantismo, coisa que deixei de
lado há anos e jamais me arrependi disso.
Charles não ignorava que aquilo era uma verdade, mas riu e o amigo
acrescentou:
- Será um alÃvio estar sozinho em meu iate, poder sentar-me e ler
Sófocles, que escreveu coisas muito mais sensatas que essas tolices que você
está insinuando.
- Sinto muito por você. De Sófocles, tudo o que me lembro são as
palavras:
"Há muitas maravilhas, porém nenhuma delas é tão maravilhosa quanto o
homem".
- Suponho que neste momento esteja pensando que você é uma maravilha -
disse Charles, provocando o amigo.
- Se eu tivesse uma coisa bem pesada perto de mim, jogaria na sua cabeça!
Ao mesmo tempo, espero que tenha observado que Sófocles exaltava os homens,
não as
mulheres!
- Você não tem mesmo jeito. Lavo minhas mãos!
Depois de um desjejum feito muito cedo, os dois amigos conversaram
animadamente até lorde Warburton tomar o trem no mesmo entroncamento que Corina
havia embarcado
com o Sr. Thespidos no dia anterior.
Havia todo um vagão de primeira classe reservado para lorde Warburton e
outro de segunda classe para o criado particular de Sua Senhoria e para o
acompanhante
de viagem que sempre viajava com ele para que tudo fosse perfeitamente
providenciado até o momento da partida.
Lorde Warburton estava ansioso para ver-se no mar novamente, fazendo mais
testes com seu iate. O Sea-Serpent, nome que ele dera ao iate, estava equipado
com
inúmeros dispositivos que o próprio lorde Warburton inventara.
Embora poucas pessoas soubessem disso, lorde Warburton tinha uma mente
inventiva e criadora e graças a isso ele era capaz de dominar facilmente
vários assuntos
e podia dedicar-se a várias atividades com sucesso. Todavia, seu maior
interesse sempre havia sido a Grécia.
Como ele exigia perfeição em tudo que fazia, assim que adquiriu seu iate,
interessou-se rapidamente em adaptar nele alguns dispositivos mecânicos que
tornaram
a magnÃfica embarcação superior a qualquer uma da sua categoria.
Da mesma forma ele havia equipado suas fazendas com veÃculos novos e úteis
e com máquinas diversas.
Pensando no Sea-Serpent, lorde Warburton já cogitava em mais alguns
melhoramentos que tornariam seu iate ainda superior ao que era no momento.
Na verdade isso seria difÃcil, pois o Sea-Serpent causava admiração a
todos os armadores que vinham conhecê-lo, e as pessoas interessadas em possuir
seu próprio
iate mostravam-se fascinadas ao ver que o de lorde Warburton tinha muitas
inovações que os iates de outras pessoas não tinham.
Naquele momento ele sentia-se feliz porque não teria convidados nesta sua
viagem para a Grécia. Não gostava de ter mulheres a bordo, a não ser que
soubesse
com absoluta certeza que não haveria a menor agitação no mar quando o iate
atravessasse a baÃa de Riscay.
Como isso era impossÃvel de se assegurar naquela época do ano, ele só
viajava sozinho ou com companhias masculinas. Mulheres enjoavam com muito mais
facilidade,
ficavam o tempo todo gemendo e reclamando.
O pior de tudo era que se o mar estivesse revolto, elas declaravam que só
se sentiriam seguras com a proteção dos braços dele.
No trem, lorde Warburton leu os jornais, mas o tempo todo seu pensamento
estava na Grécia.
Quem sabe, desta vez, por milagre, ele acabasse encontrando a estátua de
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  • 1. A Deusa Grega (The Goddess of Love) Barbara Cartland A Deusa Grega Lorde Warburton acreditou estar delirando ao ver aquela figura tão linda... Só poderia ser a estátua da deusa Afrodite! Demorou alguns segundos para perceber que à sua frente não estava uma estátua de mármore, mas sim uma bela mulher adormecida. Digitalização: Nina Revisão: Bruna Cardoso TÃtulo original: The Goddess of Love Copyright: (c) 1997 by Barbara Cartland Tradução: ErcÃlia Magalhães Costa Editor e Publisher: Janice Florido Editor: Fernanda Gama Chefe de Arte: Ana Suely S. Dobón Paginador: Nair Fernandes da Silva EDITORA NOVA CULTURAL LTDA. Rua Paes Leme, 524 - 10º andar CEP 05424-010 - São Paulo - SP - Brasil EDITORA NOVA CULTURAL LTDA. Copyright para lÃngua portuguesa: 2001 Fotocomposição: Editora Nova Cultural Ltda. Impressão e acabamento: DONNELLEY COCHRANE GRÁFICA E EDITORA BRASIL LTDA DIVISÁO CÁRCULO - FONE (55 11) 4191-4633
  • 2. CAPÁTULO UM 1899 Era um lindo dia. Sob as árvores os narcisos saudavam o sol da primavera. As primeiras borboletas adejavam sobre os lilases. Corina desceu as escadas cantarolando baixinho uma canção, sem ter idéia de que ela própria parecia uma flor primaveril e que seu vestido combinava tão bem com os botões prestes a desabrocharem. Seus olhos verdes, com um toque de dourado, tinham a translucidez do riacho que passava pelo fundo do jardim. Corina desejava tanto ver seu pai! Ele, sem dúvida, citaria uma ode grega para descrever, melhor do que ela poderia, com suas palavras, toda a beleza daquele dia. No entanto, sir Priam Melville achava-se na Grécia, o que não era de surpreender, pois desde que estivera em Oxford ele passara a ter verdadeira obsessão por aquele paÃs, e seu conhecimento extraordinário sobre antigüidades gregas conquistara-lhe a fama de ser um dos maiores peritos no assunto. A avó de sir Priam era grega; dessa forma, o grande amor e interesse que ele tinha pela Grécia não estavam apenas em seu cérebro, mas também em seu sangue. Sir Priam começara a colecionar estátuas e outros objetos gregos que atualmente enfeitavam a linda casa em estilo elizabetano na qual os Melville moravam. Era inevitável que ao nascer à filha do casal Melville, fosse dado a ela um nome grego. Seus pais também esperavam que quando crescesse ela se tornasse mais linda do que as estátuas gregas que os fascinavam. Dois anos atrás lady Melville morrera. Corina tentara cuidar do pai, porém sabia que o único remédio para ajudá-lo a recuperar-se da perda que sofrerá seria estar na Grécia. Felizmente ele não partira para esse paÃs logo após a morte da esposa. Porém, passado o último Natal, ele comunicara à filha que iria viajar para o paÃs que tanto o atraÃa. Corina sentia-se muito sozinha sem o pai, mas considerava-se feliz por poder contar com a companhia da governanta, uma mulher muito inteligente. A maior parte do ano anterior ela estivera de luto e não fora a parte alguma. Agora que podia ir a bailes e recepções no condado, desejava ter o pai para acompanhá-la. Sir Priam, no entanto, estava mais entusiasmado com as deusas que havia encontrado na Grécia do que com a própria filha.
  • 3. "Acho que posso me considerar uma pessoa feliz", pensava Corina muitas vezes, "porque as mulheres que papai admira com tanto fervor já se achavam enterradas há séculos ou então pertenciam ao Olimpo e não se interessavam por seres humanos." Ela achava graça dos próprios pensamentos. A verdade era que, da mesma forma que o pai, ela também era apaixonada pela Grécia e sir Priam havia prometido levá-la consigo à quele paÃs em sua próxima viagem. - Por que não desta vez, papai? - ela perguntara. Sir Priam hesitara por um momento, como se procurasse as palavras. Corina, que era muito ligada a ele, percebera que o pai talvez corresse algum risco. - O que faz é perigoso, papai? Ele desviara o olhar e respondera depois de uma pausa: - Pode ser perigoso, minha querida; é por este motivo que preciso ir sozinho. - O que procura de modo especial? - Ouvi falar vagamente sobre uma estátua ou estátuas que há em Delfos e que, por mais incrÃvel que possa parecer, ainda não foi ou não foram encontradas. Os olhos de Corina brilharam. Qualquer assunto que tivesse relação com Delfos deixava-a emocionada. Ela já havia lido todos os livros escritos sobre essa cidade e sempre bombardeava o pai com perguntas. Em Delfos ficava o templo de Apoio que fora construÃdo abaixo dos Rochedos Brilhantes, implacavelmente Ãngremes e distantes, e que ficavam a mil pés acima das cabeças dos peregrinos. O pai lhe explicara que quando Apoio deixara a ilha sagrada de Delfos para conquistar a Grécia, um golfinho havia guiado seu navio até a pequena cidade de Crisa. Disfarçado de estréia em pleno meio-dia, o jovem deus saltou do navio e, com chamas fulgurantes saindo de seu corpo, iluminou o céu num lampejar esplendoroso. Apoio galgou a colina Ãngreme, alcançando o covil do dragão que guardava os rochedos, matou-o e anunciou aos deuses que reivindicava a posse de todo o território que ele pudesse ver do local onde se encontrava. Depois de ouvir a narrativa, Corina imaginara a grandiosidade daquele momento e o pai acrescentara que Apoio havia escolhido o lugar que tinha a vista mais maravilhosa da Grécia. Em Delfos existira o oráculo. As pessoas vinham de todas as partes da região do Mediterrâneo para ouvir os pronunciamentos de uma jovem sacerdotisa toda vez que ela se achava possuÃda pelo deus. Sir Priam sempre falava sobre a civilização grega antiga com emoção na voz. Com tristeza inexprimÃvel ele contara à filha, certa vez, que o imperador Nero havia no século I D.C, retirado setecentas estátuas de Delfos e as teria mandado para Roma. Ele também explicara que três anos antes arqueólogos franceses, haviam encontrado inúmeros templos em ruÃnas, inscrições e santuários, porém nenhuma estátua havia sido deixada inteira. No entanto, arqueólogos como sir Priam continuaram as escavações; pois não haviam perdido as esperanças de encontrar algum tesouro. - Encontrou alguma estátua, papai? - perguntara a filha. - Ouvi falar sobre uma estátua - ele corrigira. - Porém talvez seja apenas um rumor. Temos tido problemas; desde que lorde Elgin retirou os mármores do Partenon, os gregos passaram a hostilizar qualquer um que tente carregar seus tesouros. - Compreendo. - Eles negligenciaram tais tesouros durante séculos, mas agora,
  • 4. finalmente, começam a entender o valor que possuem. A maioria, porém, não entende que as peças encontradas são únicas e insubstituÃveis. - Acredita que os gregos possam impedi-lo de ficar com o que você possa descobrir? Depois de alguma hesitação o pai respondera: - Há muitas pessoas, gregas ou de diversas nacionalidades, que desejam levar vantagem sobre qualquer descoberta, pensando simplesmente em ganhar dinheiro. Compreendendo que o pai se arriscava, Corina abraçara-o dizendo: - Papai querido, tenha muito cuidado! Se acontecer alguma coisa com você, ficarei completamente só e infeliz. Ela viu a dor impressa nos olhos do pai, pois ele sentia desesperadamente a falta da esposa. - Prometo que farei tudo o que estiver ao meu alcance para voltar o mais depressa possÃvel e talvez trazendo uma estátua de Afrodite, que será tão linda como você, minha querida! Corina havia adorado aquele elogio e beijara o pai. Ela seria na verdade muito tola se não reconhecesse que de fato se parecia muito com as mais lindas estátuas de Afrodite que já vira especialmente aquelas esculpidas por um artista ático no século IV a.C. Corina possuÃa a mesma testa oval, o mesmo nariz reto e perfeitamente proporcional, o queixo ligeiramente pontudo e seus lábios, embora ela não soubesse disso, fariam qualquer homem pensar que haviam sido feitos para serem beijados. Os poucos homens que ela havia conhecido ficaram fascinados pela sua beleza. No entanto, nenhum deles notara que, além de toda a perfeição fÃsica, Corina possuÃa a mesma mente perspicaz que tornara os gregos antigos os reformadores do pensamento em todo o mundo. Corina caminhava pelo hall pensando no pai, que naquele momento se achava em Delfos. Podia imaginá-lo repetindo as palavras do oráculo para Juliano, o Apóstata, que visitara o santuário em 362 d.C. Juliano perguntara o que poderia fazer para preservar a glória de Apoio, ao que o oráculo respondera: "Diga ao Rei que a casa primorosa desmoronou. Apoio não tem abrigo, tampouco folhas sagradas de louro; As fontes agora silenciaram; a voz emudeceu. "Isso pode ser verdade", pensara Corina. Ao mesmo tempo, por mais arruinado que possa estar o templo em Delfos, ele inspira e estimula sir Priam. Então, nem tudo está perdido. Amando o pai intensamente, Corina sentia como se o acompanhasse em sua viagem, primeiro por terra até a Itália e depois por mar até Crisa. Juntos eles admirariam os Rochedos Brilhantes, lá no alto veriam as águias sobrevoando-os. Depois a luz de Apoio surgiria das ruÃnas e seu pai saberia que o deus não estava morto, mas vivia. Ela entrou na sala de visitas de teto rebaixado onde também havia outros pequenos, porém extraordinários, fragmentos de esculturas gregas. Corina imaginava se o pai iria encontrar em Delfos, desta vez, algo precioso. Ela sabia que ele ansiava por encontrar algo tão sensacional como o bronze representando o condutor de uma biga, encontrado apenas há dois anos por arqueólogos franceses. Sir Priam achara incrÃvel que ninguém o tivesse descoberto antes. O pai de Corina lhe contara, excitado, assim que chegara como haviam descoberto a preciosa peça. Depois que o entulho ao pé do teatro havia sido levado pelas chuvas da primavera, foram encontrados um pé lindamente esculpido e uma saia longa, pregueada.
  • 5. Os escavadores franceses trabalharam com excitamento febril durante os dias seguintes, conseguindo desenterrar uma parte de um pedestal de pedra. A seguir descobriram fragmentos do varal da biga, duas pernas traseiras de cavalos, a cauda de um dos animais, um casco, fragmentos das rédeas e o braço de uma criança. - Finalmente, a primeiro de maio - continuara Sir Priam -, eles encontraram a parte superior de um braço direito a uns dez metros de distância, mais perto do teatro. - Não estavam danificados, papai? - perguntara Corina, já sabendo qual seria a resposta. - Não, apenas bastante corroÃdos pela umidade vinda de um cano. - Deve ter sido tão excitante! - Os franceses estavam emocionados e acharam extraordinário o estado de conservação das peças e nada, a não ser um braço, foi perdido. Corina ouvira sir Priam falar muitas vezes sobre a descoberta. Ele descrevera os detalhes tão vividamente que ela até podia ver o garoto sonhador, talvez com catorze anos, o qual se acreditava, séria um prÃncipe que tomara parte nos jogos pÃticos. "Será que papai encontrará algo semelhante desta vez?", Corina perguntava a si mesma. Se tal acontecesse, seria o apogeu bem merecido para o trabalho de toda uma vida em busca da beleza e do brilhantismo da Grécia Antiga. Ela atravessou a sala para ir admirar de perto outra peça da coleção de estátuas. Nela apenas as pernas e os joelhos estavam intactos, tendo uma saia drapeada acima deles. Pouco restava do que fora um dia a forma perfeita de uma mulher; só de se olhar para aqueles fragmentos tinha-se consciência de sua beleza e de sua simetria. A modelo viva para aquela obra que havia inspirado e estimulado os artistas há tantos séculos, ainda inspirava e estimulava os amantes do belo dos nossos dias. Corina tocou suavemente o mármore, como se o acariciasse. Nesse instante a porta abriu e o mordomo anunciou: - Um cavalheiro deseja vê-la, Srta. Corina. Ela virou-se, surpresa, imaginando quem poderia estar em sua casa à quela hora da manhã. Um homenzinho de pele amarelada entrou na sala. Ao chegar mais perto de Corina, ela pôde ver seus cabelos escuros e os olhos mais escuros ainda. Mesmo antes de ele dizer uma palavra ela teve certeza de que se via diante de um grego. - E a Srta. Melville? - ele perguntou com sotaque acentuado. - Sim. - Meu nome é Ion Thespidos e gostaria de conversar com a senhorita. Corina indicou uma cadeira. - Sente-se, por favor. Ion obedeceu e ela sentou-se também à sua frente, intrigada com a presença daquele homenzinho em sua casa. Ocorreu-lhe subitamente que estava sendo tola em não ter percebido que aquela visita só poderia ter relação com seu pai. Ela ficou rÃgida, supondo que talvez algo tivesse acontecido com ele, porém permaneceu calada. Preferiu esperar enquanto o coração dava saltos dentro do peito e seu olhar traÃa sua preocupação. - Á a filha do prof. Priam Melville? - Exatamente - Corina conseguiu dizer. O visitante fixou nela seus olhos penetrantes, deixando-a desconfortável, e ela perguntou depressa: - Tem notÃcias de papai? Aconteceu-lhe... Alguma coisa? - Ele não corre perigo, Srta. Melville, porém minha visita realmente diz respeito a sir. Priam. - Conhece meu pai?
  • 6. - Nos conhecemos na Grécia e, na verdade, ele é... Meu... Hóspede. Houve um momento de hesitação antes das palavras "meu hóspede"; sendo uma pessoa de grande percepção, Corina teve certeza de que, se aquele homem dizia conhecer seu pai, certamente a relação entre ambos não era, em nenhuma circunstância, amistosa. - Poderia me dizer por que está aqui? - Vim procurá-la para fazer-lhe uma proposta; o que tenho a lhe dizer é inteiramente confidencial e um segredo. - Sim... Compreendo. O Sr. Thespidos pareceu considerar suas palavras antes de dizer: - Seu pai, naturalmente, é muito conhecido na Grécia. Ele visitou-nos com freqüência no passado e tem trazido consigo como posso ver nesta sala e vi no hall, alguns tesouros gregos que pertencem de fato ao meu paÃs! Corina levantou o queixo ao replicar: - Vocês não se preocuparam antes com eles no passado. Só agora começam a ter consciência de como tais obras de arte são importantes para o mundo. - O mundo pode apreciá-los, Srta. Melville, porém tais tesouros nos pertencem. Corina não encontrou resposta para isso e achou melhor manter-se calada. Tudo indicava que os gregos, apesar da aparente indiferença do passado, tinham um bom argumento para reivindicar a posse dos tesouros que representavam a glória da Grécia Antiga e que lhes pertenciam. Tantas estátuas, placas, tantos vasos pintados e inscrições haviam sido espalhados pela França, Inglaterra e outros paÃses! O que não justificava a pilhagem do que era um tesouro nacional. Ela lembrava-se de que arqueólogos alemães descobriram o santuário de OlÃmpia e fizeram escavações em toda a vila para obter o que desejavam. Eles procuravam a estátua colossal de Zeus, que nunca encontraram, mas descobriram outros tesouros e, naturalmente, alarmaram outros arqueólogos em todo o mundo. Corina permanecia em silêncio e o Sr. Thespidos prosseguiu: - Nós acreditamos que haja em algum lugar, em Delfos, um tesouro fantástico como a estátua da Vitória Alada. Trata-se da estátua da deusa Afrodite, que se achava no vestÃbulo do templo de OlÃmpia. Ela possui tal beleza que qualquer homem que a olhe fica apaixonado pela deusa, como se ela própria estivesse ali presente. As palavras do Sr. Thespidos eram poéticas, mas sua voz soou destituÃda de qualquer poesia. Corina olhou para ele e sentiu que havia algo errado com aquele homem, achou-o até mesmo repulsivo. Tendo certeza de que o pai estava interessado exatamente na estátua à qual o grego acabava de se referir, Corina teve paciência de esperar o que ele ainda tinha a dizer.. Ela apertou as mãos receando que não ouviria nada muito agradável. - Seu pai admitiu que procura essa estátua de Afrodite e embora haja apenas rumores de que ela exista, acredito que sir Priam sabe de mais alguma coisa. - O senhor disse que meu pai é seu hóspede? O Sr. Thespidos apenas acenou afirmativamente a cabeça e Corina teve a sensação terrÃvel de que se o pai estivesse realmente na casa daquele homem, fora obrigado a isso e não tinha como escapar. Fazendo um esforço, perguntou: - Sabe quando ele voltará? - E por esta razão que vim procurá-la e a volta dele depende da senhorita. - De mim?! - Sim. - Por quê? - Á o que passarei a lhe explicar.
  • 7. Ele inclinou-se para frente ficando mais próximo de Corina e começou a falar em voz mais baixa e ela teve que ficar atenta para poder ouvi-lo: - Seu pai ouviu rumores de que a estátua de Afrodite está soterrada nas ruÃnas de Delfos, mas existe uma pessoa que sabe muito mais sobre o assunto. - Quem é essa pessoa? - Um inglês chamado Warburton, lorde Warburton. Aquele nome era familiar a Corina; já ouvira o pai dizer que lorde Warburton era um colecionador como ele. Também dissera que se tratava de um homem reservado que não fazia amizade com os outros arqueólogos nem falava com ninguém a respeito de qualquer lugar que pudesse interessar a outros colegas. Como se lesse o pensamento de Corina, o Sr. Thespidos disse: - Lorde Warburton é um homem muito rico e pode pagar para ter suas descobertas, mas temos motivos para acreditar que ele tenha roubado de meu paÃs muitas peças antigas, tesouros incalculáveis que se encontram atualmente em suas casas, na Inglaterra. - Viu tais peças? Ela fez a pergunta achando que poderia ser embaraçosa, mas o grego respondeu sem hesitar: - Não vi os tesouros em questão, mas conheci alguém que já os viu e, através de informações fornecidas por essa pessoa, posso afirmar que lorde Warburton constitui uma ameaça para a Grécia. Meu paÃs deve impedi-lo de continuar roubando nossos tesouros. Quem ouvisse aquele homem falando, certamente imaginaria que ele estava imbuÃdo de profundo sentimento patriótico e de orgulho por sua herança histórica. Corina, no entanto, estava convencida de que o Sr. Thespidos pensava apenas em encher os próprios bolsos e não os museus atenienses. - Apreciaria muito se me explicasse com maior clareza o que desejaria que eu fizesse para ajudá-lo, se é que me procurou por este motivo - ela disse calmamente. - Á muito simples. Se quiser ter seu pai de volta, Srta. Melville, lorde Warburton deve ocupar o lugar dele! Corina susteve a respiração e encarando o Sr. Thespidos, murmurou: - Não compreendo o que quer dizer! - Então devo ser mais claro. Eu e diversos outros amigos encontramos seu pai escavando tarde da noite nas ruÃnas do templo de Atena, abaixo do santuário, em Delfos. Em pouco tempo conseguimos arrancar dele a informação que querÃamos... Corina sentou-se muito ereta. - Está dizendo que vocês obrigaram meu pai a contar-lhes alguma coisa ou... Que o torturaram? - Ele precisou apenas de alguma persuasão. Mas acreditei nele quando disse que só ouvira rumores sobre a estátua de Afrodite e que não tinha mais qualquer informação do lugar onde ela pudesse estar ou sequer tinha certeza de sua existência. Com grande dificuldade, Corina controlou-se para não ficar furiosa com ele. Isso não traria seu pai de volta e seria mais aconselhável ouvir o que o Sr. Thespidos tinha a dizer. - Fiquei sabendo de fonte segura que lorde Warburton sabe muito mais sobre a tal estátua do que sir Priam. - Por que não o procura? - Infelizmente ele é um homem reservado e mantém-se a distância quando se encontra em seu paÃs. Ouvi dizer que ele procura a estátua da deusa e acredita que a mesma não esteja em Delfos, mas em qualquer outro lugar. - Então isto nada tem a ver com meu pai! - Infelizmente, Srta. Melville, lorde Warburton não confia em ninguém quando vai à Grécia. Só ficam sabendo que ele esteve lá depois de sua partida.
  • 8. Corina pareceu confusa, não entendia exatamente o que o Sr. Thespidos estava insinuando. - A Grécia é um paÃs com inúmeras pequenas baÃas naturais onde um iate pode ficar ancorado, escondido por uma semana, talvez, sem que ninguém saiba disso. - Sua voz tornou-se mais enérgica quando ele acrescentou: - Portanto, quero que a senhorita descubra onde lorde Warburton irá ancorar e me comunique. - Mas isso é... ImpossÃvel! - ela disse atônita. - Então receio que seu pai não volte para casa tão cedo. - O que está dizendo... O que está tentando... Obrigar-me a fazer? Sua voz trêmula denunciava o quanto estava assustada. Temia desesperadamente pela vida do pai e sentia também pavor daquele homem à sua frente. Corina não teve dúvidas de que ele era perverso. - Deixe-me pô-la a par do que terá que fazer - replicou o Sr. Thespidos. - Irá procurar lorde Warburton e dizer-lhe que seu pai se encontra gravemente enfermo em Delfos, sem quaisquer cuidados médicos. O único modo de você chegar até ele será se lorde Warburton levá-la a Crisa em seu iate. - Acha que lorde Warburton atenderá meu pedido? E se ele recusar? O Sr. Thespidos sorriu; foi um sorriso bastante desagradável. - Só precisa levar lorde Warburton até Crisa; depois deixe tudo por minha conta. - Suponha que ele desconfie que meu pai seja um prisioneiro? - O importante é que lorde Warburton chegue até Crisa, e você conseguirá persuadi-lo a ir até lá. Corina ergueu-se. - Nunca ouvi maior absurdo em toda a minha vida! - explodiu. - Não conheço lorde Warburton e é bem provável que ele nem dê importância à doença de meu pai, - Nesse caso tenho certeza de que lamentará muito por não ver seu querido pai novamente... O Sr. Thespidos falou vagarosa e calmamente, mas era claro que passava a mostrar "as garras" e forçava abertamente Corina a obedecê-lo. Desesperada, ela pensava no que poderia fazer. Embora o homenzinho não tivesse feito menção de se levantar da cadeira, Corina sentia que ele era um imenso pássaro negro pairando ameaçadoramente sobre sua cabeça. - O que me pede é... ImpossÃvel! - Nada é impossÃvel, Srta. Melville, para uma jovem tão linda. Corina ficou rÃgida; aquela insinuação era um insulto. - Obviamente já sabia como eu era... Antes de vir até aqui. - Ao ver o retrato que seu pai carrega consigo, não acreditei que pudesse existir uma jovem tão linda. Mas me enganei! Você é tão linda quanto Afrodite e já fiquei sabendo que lorde Warburton sente uma grande atração pela deusa. Corina apertou as mãos, procurando manter seu autocontrole. Sua vontade era gritar o ordenar que aquele homem insuportável saÃsse de sua casa. Ele não era apenas atrevido, mas também cruel e calculista. Como ele mantinha seu pai prisioneiro, ela precisava de algum modo, salvá-lo. - Não tenho como... Entrar em contato com lorde Warburton... Não o conheço. Corina pronunciou aquelas palavras com voz sumida; foi à primeira coisa que lhe ocorrera. Ela achou que o Sr. Thespidos iria pensar que ela havia concordado em obedecê-lo, apesar de julgar-se incapaz de fazê-lo. Mas no momento ela não conseguia pensar em outra coisa a não ser que seu pai se achava nas garras daquele homem. - Na verdade é muito fácil, Srta. Melville - disse o Sr. Thespidos, demonstrando seu entusiasmo, parecendo que havia ganho a batalha. - Você irá amanhã de lorde Warburton, a qual, já me certifiquei, fica a apenas quinze milhas daqui. Também sei que ele se encontra em casa no momento. Corina chegou a entreabrir os lábios, disposta a responder que não
  • 9. poderia fazer o que lhe era ordenado, mas tinha certeza de que seus argumentos seriam ignorados. - Você dirá ao lorde Warburton tudo o que lhe ordenei e se for necessário, ajoelhe-se e implore que ele a leve até a Grécia. - E... Se ele recusar? - Já lhe disse que você se parece com Afrodite! - A voz dele era untuosa. - Mas Afrodite, a qual ele busca avidamente, foi esculpida em mármore! - respondeu Corina sarcasticamente. - Duvido que ele se interesse por uma versão humana. - Nesse caso seu pai ficará onde está pelo menos enquanto não o considerarmos um estorvo! O Sr. Thespidos não podia ser mais claro; Corina fez um esforço sobre- humano para não gritar. Ela virou-se e ficou de frente para a lareira, dando as costas para o grego. Mal podia acreditar que não estava vivendo um terrÃvel pesadelo e que ao acordar constataria que tudo, felizmente, não acontecera. Como podia seu pai, uma pessoa tão inteligente, cair nas garras daquele homem horrÃvel que a estava ameaçando? Ele era certamente um dos gregos sem escrúpulos e cobiçosos sobre quem o pai já lhe falara. Eles só se interessavam pelas estátuas e outros objetos considerados valiosos e encontrados em ruÃnas, simplesmente pensando no lucro que poderiam obter negociando-os. Subitamente ocorreu-lhe que poderia procurar lorde Warburton e contar-lhe toda a verdade. Mas o Sr. Thespidos, como se captasse o que ela estava pensando, observou calmamente: - Se fizer qualquer coisa além do que lhe ordenei Srta. Melville poderemos ser forçados a torturar seu pai um pouquinho mais; quem sabe ele estará disposto a nos dar informações, o que até o momento se recusou a fazer. Depois disso nos livraremos dele. Corina virou-se. - O que está planejando é muita maldade e crime! Sempre respeitei os gregos, mas o senhor é um charlatão e um assassino! Ela falou em voz baixa; no entanto, cada palavra era como uma adaga lançada no homem que odiava. O Sr. Thespidos ouviu-a e depois deu uma risada cujo som ecoou pela sala. - MagnÃfico! Você fica ainda mais linda quando está zangada! O que poderia haver de mais impressionante do que uma deusa manifestar sua ira divina contra um homem que não a ouve? Ainda mais cheia de ódio, Corina virou-se novamente para a lareira e ficou algum tempo em silêncio. Depois disse em outro tom: - Se eu tentar... Fazer o que me ordenou... Será capaz de jurar que não... Machucará papai? - Assim é muito melhor. Agora poderemos falar de negócios. Ela ainda esperou um pouco, relutando em virar-se e encarar aquele bandido. - O que tem a fazer, Srta. Melville, será executar minhas instruções e assim que lorde Warburton lhe disser que partirá para a Grécia, basta à senhorita informar o homem que deixarei aqui. Ele fez uma pausa e olhou-a como se a avaliasse. - A partir desse momento poderá relaxar e deixar tudo em minhas mãos. - Á isso... Que me aterroriza! - exclamou Corina com um lampejo de coragem. O Sr. Thespidos apenas sorriu. - Conseguirá tudo o que deseja: seu pai voltará para você com ótima saúde. Prometo-lhe que assim que o iate partir de Folkestone, onde está ancorado no momento, seu pai não será tocado. Corina respirou fundo. O grego prosseguiu: - Por outro lado, se você for tola o bastante para informar lorde
  • 10. Warburton sobre o que se passou entre nós dois, ele poderá telegrafar para as autoridades de Atenas; então, Srta. Melville, jamais verá seu pai. - Não posso acreditar que tudo isso seja verdade! - Corina gritou. - E incrÃvel que possa haver homens como o senhor! Se não houvesse, este mundo seria tão lindo e tão feliz! - Sempre achou o mundo belo e feliz, Srta. Melville - observou o grego com sarcasmo. - Mas há outras pessoas famintas e outras ainda que precisam de dinheiro! Portanto, você deve aprender a repartir sua felicidade ou, pelo menos, pagar por ela. - O que me preocupa... Á apenas a segurança de papai. O Sr. Thespidos levantou-se e fez um gesto inteiramente grego. - Depende da senhorita. Tenho o pressentimento de que provará ser uma jovem competente e muito ajuizada. Sua voz endureceu uma vez mais e Corina percebeu que ele seria capaz de toda a maldade. - Como já lhe disse, seja de joelhos ou na cama de lorde Warburton, consiga por estes meios salvar sir Priam! Corina emitiu um som abafado e indistinto. Nunca em sua vida calma e protegida alguém lhe falara daquele modo ultrajante. Sua vontade era gritar, mas sabia que só perderia seu tempo, suas palavras e sua dignidade. Em vez disso, preferiu responder simplesmente: - Não me deixou escolha, mas tentarei salvar a vida de meu pai. Só posso rezar que mesmo sendo um criminoso o senhor saiba manter sua palavra. O grego riu. - Gosto da sua espirituosidade, Srta. Melville. Posso assegurar-lhe que tão logo lorde Warburton esteja em nossas mãos, sir Priam estará nas suas. Se for sensata, trate de trazê-lo de volta para a Inglaterra e convença-o de que o lugar dele é aqui. O tom do Sr. Thespidos não foi apenas ameaçador, mas também autoritário e agressivo; ele vangloriava-se de ter conseguido o que queria. Ele fitou Corina de tal modo e ela viu nos olhos dele uma expressão tão vil que sentiu náuseas. Com altivez, numa atitude que seu pai teria aprovado, disse apenas: - Tenha um bom dia, Sr. Thespidos. Suponho que o homem encarregado de receber a informação sobre a partida de lorde Warburton para a Grécia também me informará como poderei entrar em contato com o senhor assim que chegarmos ao seu paÃs. - Já lhe disse Srta. Melville deixe tudo em minhas mãos - ele repetiu confiante, - Elas são extremamente capazes. Ao mesmo tempo, saiba que jamais abandono o que consegui agarrar. O grego a ameaçava novamente. Sem suportar a presença daquele homenzinho desprezÃvel, Corina deu-lhe as costas mais uma vez, dizendo ao fazer isso: - Tenha um bom dia, Sr. Thespidos! Ela ouviu-o levantar-se. Mesmo de costas sentiu incidir sobre ela um olhar candente que parecia penetrar em seu corpo. Um medo súbito, diferente do que sentira antes, a invadiu. O Sr. Thespidos murmurou qualquer coisa, como se falasse consigo mesmo. Ela ouviu-o caminhar sem pressa em direção à porta; depois parou e ela teve certeza de que o grego havia olhado para trás. Somente quando ouviu o barulho da porta se fechando e os passos dele se afastando no piso de mármore do hall, Corina levou as mãos ao rosto. Não estava chorando, apenas se sentia chocada com aquela situação horrÃ- vel. Desesperada, temia terrivelmente pela vida do pai e pelo futuro.
  • 11. CAPÁTULO DOIS Warburton caminhou à frente do amigo e entrou em seu escritório, um dos mais atraentes cômodos da casa, com linda vista para o jardim. Os quadros sobre esportes eram obras-primas pintadas por Stubbs e Sartorius. As cadeiras eram estofadas de couro vermelho e em frente ao anteparo da lareira havia um assento com almofadas, onde lorde Warburton sentou-se. - Está com ótima aparência, Charles, apenas um pouco mais magro - ele disse ao amigo. - Não é de admirar - respondeu o major Charles Bruton. - Estive exercitando seus cavalos desde o romper do dia até o anoitecer. - O que achou deles? - Absolutamente magnÃficos! Especialmente os que têm sangue árabe. Lorde Warburton esboçou um sorriso. Por um momento desapareceu de seu rosto a expressão de ceticismo que o caracterizava. - Espero que sejamos os vencedores de inúmeras corridas com eles - observou ele secamente. - Estou disposto a apostar nisso! - Infelizmente não estarei aqui para ver as corridas. Charles Bruton, que se achava sentado confortavelmente em uma poltrona, olhou surpreso para o amigo. - Não me diga que está novamente de partida para a Grécia! - Tenho que partir. - Por quê? - Porque ouvi falar sobre algo extraordinário, exatamente o que venho procurando há longo tempo, e não me arriscarei a perder a oportunidade de obtê-lo. Charles Bruton suspirou. - Árion, pensei que você já tivesse estátuas gregas suficientes para
  • 12. encher um museu! - Acha que alguém possa ter bastante de alguma coisa de que goste? - perguntou lorde Warburton. - Digo o mesmo sobre cavalos! Charles riu. Ele deixara o Exército com a fama de ser o melhor cavaleiro da Cavalaria de Guarda. Lorde Warburton ficou sabendo que Charles encontrava-se em dificuldades financeiras e lhe oferecera o emprego de administrador de seus haras. Charles Bruton aceitou a proposta com entusiasmo. O haras Warburton, que começara com o avô de lorde Warburton, era famoso. Os cavalos ali criados e adestrados ganhavam todas as corridas clássicas nas quais competiam e já se tornavam uma lenda. - Devo dizer - observou Charles -, que acho muita maldade de sua parte não estar presente à s corridas, depois de todo o trabalho que tive. - Sinto muito, Charles, sei o quanto ficará desapontado, mas entre corridas e a Grécia, esta vem em primeiro lugar! - Eu já devia esperar por isto. Este objeto tão especial que o faz deixar a Inglaterra é realmente mais extraordinário do que os que você já tem? - Não posso responder à sua pergunta enquanto não o vir. Meu informante, porém, me escreveu com muita convicção que a estátua é sem igual e que se eu perder esta oportunidade me arrependerei pelo resto da vida. - De quem é a estátua? - De Afrodite. Os arqueólogos, primeiro os romanos e ultimamente os franceses e alemães, procuram-na há anos, mas só viram suas buscas frustradas. - Confesso que sempre achei Afrodite, a Deusa do Amor, nada apropriada para você! - De forma alguma. Lembre-se de que ela é feita de mármore. - Eu ficaria muito mais feliz se você me dissesse que ia partir para Paris à procura de uma Afrodite de carne e osso. Sabe muito bem que é isso que deveria estar fazendo. - O que quer dizer com "eu deveria estar fazendo"? - Não seja tolo, Árion. Sabe tão bem quanto eu que deve arranjar uma esposa e ter um herdeiro. Se isso não acontecer, para quem deixará todo este tesouro? Enquanto falava ele estendeu os braços, num gesto que indicava as telas valiosÃssimas e duas estátuas excepcionais que se achavam uma de cada lado da lareira. Estas últimas representavam dois atletas, nus e com a coroa de louros da vitória. Depois de um momento, lorde Warburton respondeu: - Já fez a mesma observação antes, mas a tempo de sobra para eu pensar nisso. - Já tem trinta e dois anos e, se ficar muito mais velho, não será fácil desposar uma jovem Afrodite. Então terá que se contentar com alguma viúva que, sem dúvida, estará interessada apenas em sua fortuna e sua posição social. Lorde Warburton riu. - Que quadro mais sombrio! Estou convencido de que uma jovem desajeitada e sem inteligência seria muito pior do que uma viúva! Charles estendeu as pernas e recostou-se no espaldar da poltrona, observando atentamente o amigo. - Estou preocupado com você; nestes dois anos tem-se tornado cada vez mais cético e mais irônico. Nenhuma mulher, por mais atraente que seja, tem conseguido prender sua atenção. Charles pensou que o amigo iria rir, mas lorde Warburton levantou-se e começou a andar impacientemente pelo escritório. Junto à janela ele parou e ficou olhando para os gramados muito verdes que desciam até o lago, ao lado do qual havia um primoroso templo branco que ele havia trazido da Grécia.
  • 13. - A verdade é que acho as mulheres, todas elas, decepcionantes - disse Árion, depois de algum tempo. - Não é possÃvel. - Á verdade. Elas podem parecer adoráveis, mas assim que conhecemos melhor, descobrimos que são tolas, sem graça e, muitas vezes, mal-educadas. - Acho que você está louco! - Não, estou perfeitamente são e asseguro-lhe que tenho muito mais prazer em conversar com homens bem mais velhos que eu, os quais já viveram mais tempo e com plenitude, estando mais interessados nas glórias do passado. - Especialmente as da Grécia! - observou Charles em voz baixa. - Sim, da Grécia. Ah, como eu desejaria ter-me sentado aos pés de Sócrates ou de Platão, ou de poder ter ouvido Homero! Eu acharia tudo o que eles disseram tão estimulante e tão notável! - Mas eles estão mortos e chega a ser ridÃculo uma pessoa como você ficar sonhando com coisas inatingÃveis e andar procurando ossos enterrados. - Há outra alternativa? Seria melhor ficar dando atenção ao prÃncipe de Gales, que já está envelhecendo, ou ouvir aqueles que cercam a rainha e que só sabem falar sobre o império britânico? - Londres tem outras atrações. - Você quer dizer que eu devia ficar louco pelas garotas do teatro de variedades e que devia pensar que seria privilegiado em poder levar uma delas para jantar? - perguntou Árion sarcasticamente. - Meu Deus, você já conversou com alguma dessas tão exaltadas beldades do teatro de variedades, Charles? - Naturalmente, e achei-as muito divertidas! - Acha divertido beber champanhe em chinelos de seda ou levar uma dessas beldades para casa, numa carruagem de aluguel, ao romper do dia? - Árion perguntou no mesmo tom de escárnio. - Eu poderia mencionar prazeres mais Ãntimos - murmurou Charles. - Nessas ocasiões, não se fala nem se ouve! Charles riu. - Muito bem, Orion você venceu. Vá para a Grécia em busca de sua Afrodite. Tudo o que posso dizer é que o mármore é muito frio na cama e lábios de pedra não são nem um pouco ardentes. Lorde Warburton voltou para o lugar onde estivera sentado e só então disse em um tom de voz muito diferente: - Vamos conversar; quero ouvir todos os detalhes sobre meus cavalos antes de partir. Charles atendeu ao seu pedido. Ele não podia deixar de pensar que, apesar de tudo o que possuÃa seu amigo não era um homem particularmente feliz. Desde que estiveram juntos em Eton, Charles admirava Árion. Depois ambos foram para Oxford, onde o primeiro passara a concentrar-se mais nos esportes e a dispensar mais atenção aos colegas que tinham as mesmas inclinações que ele. Árion formou-se em Arqueologia, tendo sido considerado o melhor estudante de lÃnguas orientais que Oxford já tivera. No entanto, a amizade entre os dois rapazes continuou firme. Eles foram juntos para a Cavalaria de Guarde e Charles sempre admirou o homem que montava tão bem e que era o mais belo entre todos do regimento. Charles e Árion também haviam servido na Ãndia, como ajudantes-de-campo do vice-rei. Em diversas ocasiões, Árion havia corrido risco de vida, porém sobrevivera graças à sua mente rápida e à sua intuição, que era por vezes fantasticamente perceptiva. Quando os dois amigos voltaram para a Inglaterra, Árion havia herdado o tÃtulo e, tendo deixado o regimento, passará a cuidar apenas de suas propriedades. Durante o ano seguinte os dois amigos viram-se muito pouco. Então Charles passou a administrar o haras e sempre que seu patrão se
  • 14. encontrava na Inglaterra, eles passavam à maior, parte do tempo juntos. Charles preocupava-se porque Árion parecia não sentir prazer pela vida, a não ser quando se achava na Grécia. Quando voltava, trazendo tesouros para o Warburton Park, então ele parecia muito entusiasmado. Ao contrário do patrão, Charles apreciava os apaixonados casos de amor, um sucedendo ao outro. Para ele era difÃcil acreditar que Árion pudesse ser feliz sem a delÃcia de ter um corpo macio e morno nos braços e lábios famintos procurando os seus. Lorde Warburton, no entanto, parecia imune à s mulheres que o perseguiam sem descanso. Mesmo que ele achasse uma mulher fascinante, em pouco tempo não via qualquer atração nela. Charles estava ciente de que tudo isso acontecia porque Árion sofrerá uma grande desilusão quando era mais jovem e cursava seu primeiro ano em Oxford. Na época ele imaginara que o incidente não tivera importância. Mas não restava dúvidas de que fora a partir de então que lorde Warburton passara a evitar as mulheres. Quando estava com elas, mostrava-se indiferente ou irônico. Como lorde Warburton era não apenas um belo homem, mas também muito rico, as mulheres, principalmente aquelas que tinham uma mãe ambiciosa, assediavam- no, considerando-o um excelente "partido". Charles considerava as mulheres lindas flores esperando apenas que ele as colhesse e desejava que o amigo também se sentisse feliz perto de uma beldade. Por isso ele não conseguia compreender por que Árion ficava fascinado por aqueles pedaços de mármore, velhos e frios. Depois que os dois conversaram sobre os cavalos e Charles opinou sobre as corridas nas quais esperava vê-los vencedores, ele pediu: - Por que não muda de opinião, Árion? Esqueça a Grécia por um momento e venha ver seus cavalos alcançarem a linha de chegada em primeiro lugar em Newmarket e, claro, na Royal Ascot. - Gostaria de fazer isso, mas, se perder Afrodite, nunca mais terei uma oportunidade como esta! - Há muitas lindas "Afrodites" em Londres - insistiu Charles. - Uma delas, em particular, espera há algum tempo para ser-lhe apresentada. - Posso conhecê-la quando eu voltar e se ela for mais linda do que a Afrodite que pretendo trazer comigo, então talvez me case com ela! Charles riu, depois disse, em tom sério: - Espero que faça isso, pois realmente ela seria uma ótima esposa. Acredito, porém, que ela possa achar aborrecido ter que repartir as suas atenções com uma porção de mulheres lindas, ainda que feitas de mármore! - Se está insinuando que para desposá-la eu tenha que mandar todas as minhas deusas para um museu ou tenha que criar meu museu particular na ala oeste desta casa, recuso-me categoricamente a levar essa beldade ao altar! Charles ia dar uma resposta mordaz, mas achou que não seria oportuna. Ele não ignorava o quanto seu amigo se orgulhava daquelas antigüidades gregas. Fazer qualquer alusão ao fato de que uma esposa poderia afastá-lo de seus tesouros levaria Orion a jamais fazer uma proposta de casamento a tal mulher. "Preciso ter muito tato", pensou Charles. - Muito bem, Orion, vá para a Grécia e consiga sua Afrodite. Depois, quando voltar para casa, procure uma deusa jovem e viva que fará seu coração bater mais forte e poderá te dar meia dúzia de filhos belos como o pai! Lorde Warburton deu uma risada que soou um tanto estranha. Charles não era a primeira pessoa que sempre tocava nesse assunto de casamento. Irritado, Orion lembrou-se de que seus parentes pareciam não ter outro assunto.
  • 15. Ele sabia muito bem o quanto todos em sua famÃlia antipatizavam com o herdeiro presuntivo ao tÃtulo, um primo já de meia-idade que não perdia as esperanças de vir a ocupar o lugar de lorde Warburton. O primo em questão era a pessoa que mais se entusiasmava pela coleção de lorde Warburton. O motivo desse entusiasmo era simples: ele esperava que numa dessas viagens pelo Mediterrâneo Árion sofresse algum acidente fatal, como um naufrágio durante uma tempestade na baÃa de Biscay, vindo a afogar-se. Sendo um homem de intuição apurada, lorde Warburton sabia que o primo rezava para que algum tipo de mal lhe acontecesse. Ao invés de se abater, lorde Warburton sentia-se cada vez mais decidido a manter-se vivo. Ele era também honesto consigo mesmo e sabia que mais cedo ou mais tarde deveria se casar e ter o herdeiro para o tÃtulo, conforme a famÃlia tanto esperava, mesmo que a idéia de casa mento lhe soasse muito desagradável. Charles tinha razão em pensar que o amigo desiludira-se do amor. Árion ainda se lembrava da garota que ele amara e que zombara do interesse que ele tinha pela Grécia, que escarnecia dos poemas que ele achava tão lindos e que não tivera o menor entusiasmo quando ele a levara ao Museu Britânico. Desde muito pequeno, quando vira pela primeira vez os "mármores de Elgin", Árion ficara emocionado. Em suas primeiras férias, quando cursava a universidade de Oxford, ele fora a Paris para ver as estátuas gregas do Louvre e depois as esculturas de Munique. Essas obras de arte significavam tanto para Árion, que ele trouxe desenhos e fotografias das obras que o haviam emocionado. Ele mal pôde acreditar ao ouvir a garota responder-lhe com sarcasmo que esperava dele alguma jóia e não aquele "lixo"! Árion ficou sabendo que a moça não apenas caçoava daquilo que ele considerava quase sagrado, mas que também o ridicularizava diante de suas amigas, lendo para elas os poemas no mais puro estilo clássico que lhe escrevia, servindo os mesmos para objeto de riso e escárnio. A partir de então ele prometera a si mesmo jamais se deixar enganar por um rosto bonito. Houve muitas mulheres em sua vida; era impossÃvel evitá-las sendo um homem tão belo e importante. Todas elas, no entanto, despertaram nele apenas prazeres fÃsicos. Eram como um prato apetitoso do qual se esquece assim que a refeição termina. Árion sabia que Charles, seu grande amigo, não era capaz de compreender o quanto era profundo o amor dele pela Grécia. As estátuas emocionavam-no muito mais do que qualquer mulher jamais fora capaz de fazê-lo. Elas estimulavam sua mente e transportavam todo o seu ser rumo à luz das estrelas. Seu nome, Orion, fora escolhido por sua mãe, uma grande amante da poesia. Seus outros nomes, em deferência à famÃlia, eram George Frederick. Quando já tinha idade suficiente para decidir como desejava ser chamado, ele insistira em usar apenas-seu nome grego, eliminando os outros dois. As pessoas em geral achavam o nome Orion apropriado para um homem que parecia tão romântico. Apenas Charles gostava de, à s vezes, importunar o amigo por preferir um nome grego aos ingleses. Os dois amigos conversavam animadamente no escritório quando a porta se abriu. - Desculpe-me, milorde - disse o mordomo, que já se achava no Park há mais de trinta anos -, mas uma jovem lady insiste em ver Vossa Senhoria. - O que ela deseja McGregor? - perguntou lorde Warburton. - Ela diz que deseja vê-lo e que se trata de um assunto de vida ou morte! Lorde Warburton mostrou-se surpreso e Charles riu. - Pelo menos esta visita é bem diferente da do vigário que lhe vem pedir
  • 16. contribuições para o orfanato! - Creio que será melhor eu recebê-la - respondeu lorde Warburton aborrecido. Desde que viera morar em Warburton Park, Orion sempre tinha alguém o aborrecendo com suas queixas e pedindo dinheiro para as obras beneficentes locais. - Conduzi a jovem lady ao Salão de Prata, milorde. - Está bem, irei ao encontro dela. - Assunto de vida ou morte! - comentou Charles com o amigo, depois que o mordomo fechou a porta. - Que excitante! - Duvido! - replicou lorde Warburton. - Meu palpite é que se trata de uma arrecadação para uma obra missionária, na África. Estão sempre querendo converter os nativos, que preferem muito mais continuar com suas próprias religiões. - Além de ser um cético, você não é nada romântico. Posso pensar em razões muito melhores para uma jovem vir visitá-lo. Lorde Warburton já estava próximo à porta. - Se achar que estou demorando muito no salão, vá a meu socorro. - Está bem, mas se ela for bonita não lhe fará mal nenhum dar-lhe uma cédula de cinco libras. Charles teve certeza de que o amigo não ouvira suas últimas palavras, pois já saÃra e fechava a porta. Ao apanhar o jornal, Charles pensava que era uma pena Orion não encontrar alguém que o atraÃsse tanto como a Afrodite que ele estava procurando na Grécia. "Se ela vivesse agora", Charles pensou, "Árion sem dúvida a acharia vulgar e enfadonha. Ele procura por algo que nunca encontrará, por isso mantém-se tão entusiasmado." Suspirando, ele abriu o jornal na página de esportes. Corina acordou naquela manhã com a sensação de que o que acontecera no dia anterior havia sido um sonho. Todavia, ao lembrar-se dos olhos escuros do grego e do modo como ele lhe falara, convenceu-se de que tudo fora mesmo bem real. Para salvar o pai ela teria que ir visitar lorde Warburton. Mal podia acreditar que se encontrava à frente daquele dilema. Horrorizada, pensando no que poderia acontecer, ela sentou-se na cama, tremendo apesar do calor e do sol que entrava pela janela que tinha as cortinas abertas. Corina preferiu não falar sobre o visitante com a Srta. Davis, sua velha governanta; tampouco iria dizer-lhe aonde iria naquela manhã. Apesar de a Srta. Davis ser uma mulher inteligente, Corina achou que ela nunca entenderia a gravidade da situação e por isso dispôs-se a empenhar-se sozinha a salvar a vida do pai. Era-lhe quase impossÃvel acreditar que se não seguisse rigorosamente as instruções do Sr. Thespidos, este iria de fato assassinar seu pai. "Como pode haver homens assim no mundo?", ela se perguntava desesperada. Saindo da cama, ela começou a vestir-se, tendo a desagradável sensação de que o grego não lhe fizera ameaças vãs e se ela não fizesse exatamente o que lhe fora ordenado, jamais veria o pai novamente. Tudo era tão aterrador que Corina viu-se fazendo uma prece para a mãe ajudá-la. Ela sentia-se como uma criança que, sentindo-se em perigo, corria para o seio materno buscando segurança. Ela pensava se havia alguém que pudesse procurar e explicar a situação em que se encontrava. Era, porém, improvável que acreditassem nela. Finalmente, vendo que não tinha outra saÃda senão entrar em contato com lorde Warburton, ela mandou preparar a carruagem, dizendo que desejava que a mesma estivesse à frente da porta principal em meia hora. A criada desceu depressa as escadas para transmitir a ordem aos cavalariços, enquanto Corina, em frente ao guarda-roupa, pensava em que vestido usar.
  • 17. Estava bem quente para o princÃpio de maio e ela olhou para um lindo vestido que havia comprado há pouco tempo. Imediatamente lembrou-se do que o Sr. Thespidos lhe dissera; para salvar seu pai ela deveria se fosse preciso, ajoelhar-se ou ir para a cama com lorde Warburton. Se a rudeza de tais palavras a deixara chocada quando foram proferidas, mais ainda a escandalizara quando à noite ela pôde compreender exatamente o que o Sr. Thespidos havia insinuado. Corina era muito inocente e sem a menor experiência, pois sempre levara uma vida calma no campo. Ela não ignorava que os homens tinham relações ilÃ- citas com mulheres, mas pouco sabia o que isso implicava. Sabia apenas que era um pecado e um erro. Seus pais nunca haviam falado sobre o assunto com a filha. O exemplo que Corina tinha em casa era o de pais felizes juntos; ela acreditava que um dia iria encontrar um homem tão inteligente e tão belo quanto seu pai e então ambos se apaixonariam e se casariam. Sua vida de casada seria harmoniosa, eles teriam em comum o amor pelos filhos, o interesse pela Grécia e apreciariam seus magnÃficos cavalos. Tudo seria tão lindo como o desabrochar dos primeiros narcisos dourados, na primavera, como os patinhos, atrás da mãe, nadando no lago; tão adorável como as pombas brancas voando sobre a casa, tendo ao fundo o azul do céu de verão. A vida de ambos seria marcada por uma beleza enaltecedora, a mesma beleza que ela encontrava em todos os lugares em sua casa; essa beleza resultaria do amor. Subitamente, como se ainda ouvisse as palavras do Sr. Thespidos sendo sussurradas aos seus ouvidos, ela tirou do guarda-roupa o vestido de que menos gostava. Ela escolhera o tecido analisando-o sob luz artificial, e depois de pronto, o vestido parecia à luz do dia sem graça e deselegante. Antes de sair ela pôs sobre os lindos cabelos dourados um chapéu que só usava em enterros e ainda prendeu ao mesmo um véu que pertencera à sua mãe. Olhando-se ao espelho e receando ainda que estivesse com boa aparência, ela foi ao quarto do pai, onde encontrou em uma pequena gaveta os óculos que desejava. O pai sempre os usava em suas viagens e desta vez os deixara para trás porque uma das lentes havia trincado. Sir Priam comprara outros óculos e Corina mandara substituir a lente trincada e guardara os óculos já consertados numa das gavetas menores da cà ´moda, no quarto do pai, esperando pela volta dele. Como eram óculos para sol, as lentes escuras escondiam a beleza dos olhos de Corina verdes com um toque de dourado, os quais se assemelhavam a um raio de sol sobre a água cristalina. Corina pegou os óculos e guardou-os na bolsa. A carruagem já se achava à sua espera e ela desceu as escadas. Os cavalos estavam inquietos, pois precisavam de exercÃcio; eles sacudiam a cabeça, agitando a longa crina. Ao subir na carruagem, Corina pensou por um segundo que estava sendo uma louca por obedecer ao Sr. Thespidos. Como poderia persuadir um homem que ela não conhecia a atendê-la? "Tenho que convencê-lo!" Mais urna vez as palavras do Sr. Thespidos pareciam chegar aos seus ouvidos e ela estremeceu. Na noite anterior Corina explicara à velha governanta que iria sair bem cedo, ao que a Srta. Davis respondera: - Nesse caso passarei a manhã na cama, já que não precisará de mim. Não tenho dormido bem e um bom relaxamento me fará bem. - Sim, claro - concordara Corina. - Vou recomendar que lhe tragam o almoço
  • 18. para cima, em uma bandeja. Devo estar de volta para o chá. - Estarei à sua espera - prometeu a Srta. Davis. Obrigada, querida criança, por ser tão compreensiva. Corina compreendeu então que sua governanta estava já bastante idosa e um súbito receio de que ela poderia morrer a invadiu. Teria que encontrar outra pessoa para fazer-lhe companhia quando o pai viajasse. Bem, no momento ela devia concentrar-se no problema mais sério, que era lorde Warburton. Durante o percurso até Warburton Park ela tentou planejar o que iria dizer a ele. Tinha que ser bem convincente. Por mais inoportuna que a viagem pudesse ser lorde Warburton precisava levá-la à Grécia. Ela começou a imaginar como o Sr. Thespidos podia estar sabendo o que lorde Warburton estava procurando encontrar naquele paÃs. Intrigava-a também o fato de o homenzinho grego estar tão bem informado sobre o que se passava na casa do lorde inglês. Ocorreu-lhe que talvez um dos criados de lorde Warburton fosse o informante. Certamente o Sr. Thespidos não hesitaria em subornar um dos serviçais de quem quer que fosse para obter o que queria. Só em pensar no grego horroroso, Corina sentiu um calafrio. Era a primeira vez na vida que tivera medo de um homem. Era uma sensação desagradável que jamais sonhara experimentar. O Sr. Thespidos tinha uma expressão dura no olhar e as linhas dos lábios revelavam crueldade; todo ele inspirava temor. "Odeio-o! Oh, como o odeio!" Corina continuou seu caminho conduzindo a carruagem, sem ao menos notar as cercas vivas bem-cuidadas, as prÃmulas crescendo à beira dos gramados, tampouco ouvir os cucos cantando entre as árvores. Em outra circunstância ela ficaria fascinada pelo azul do céu refletido nas águas lÃmpidas dos regatos. Havia muita beleza no campo para ser admirada, mas Corina pensava no pai que se achava prisioneiro em algum lugar na Grécia, talvez em uma pequena cabana. "Irei salvá-lo, papai... irei salvá-lo!", ela murmurava do mais fundo do seu ser, como se tentasse fazer seu espÃrito entrar em contato com o pai. Corina sabia que ele não duvidava de que ela o amava e que orava por ele. Eram quinze milhas até a casa de lorde Warburton. Passava pouco do meio- dia quando Corina viu à sua frente à enorme mansão junto a um lago, tendo ao fundo um bosque de pinheiros. Warburton Park era uma construção imponente. O sol brilhava nas dezenas de janelas e o estandarte de lorde Warburton tremulava no alto do telhado, majestosamente. Corina conduziu a carruagem pela avenida de tÃlias vetustas. Assim que começou a descer em direção ao lago, ficou maravilhada ao ver uma revoada súbita de pombas brancas que foram pousar no gramado muito verde à beira do lago. Tudo naquele lugar era encantador e ao mesmo tempo tão perfeito e grandioso, como se fosse ali outro mundo. A revoada de pombas brancas pensou Corina, era, com certeza, um sinal de boa sorte e de que suas preces seriam ouvidas. No mesmo instante, como se o próprio demônio estivesse ao seu lado, ela ouviu as palavras do Sr. Thespidos e lembrou-se dos óculos de sol. Tirando-os da bolsa, colocou-os, ajustou em seguida o pequeno véu do chapéu, enquanto a carruagem estava diante da porta principal da mansão. Levou algum tempo para Corina convencer o mordomo de que era muito importante ver lorde Warburton, mesmo sem tê-lo avisado de sua visita. Finalmente ela foi conduzida para um lindo salão cuja cornija e as colunas que a sustentavam eram revestidas de prata. Os lustres eram de prata e cristal; todos os objetos da lareira, anteparo, tiçoeiro e tenaz, eram de prata. As cortinas, o estofamento das cadeiras,
  • 19. poltronas e sofás eram de damasco azul, de um tom muito suave. Dos dois lados da lareira havia mesinhas que Corina reconheceu ser um trabalho da época de Charles II. Olhando ao redor ela viu diversos nichos com estátuas gregas que teriam feito seu pai vibrar. As estátuas eram belÃssimas e eram ainda realçadas pelo revestimento de prata dos nichos que emprestavam mais brilho ao mármore das mesmas. "Ah, se papai pudesse vê-las!" Lembrando-se da razão de estar ali, sentiu-se aterrorizada e respirou fundo. Nesse instante a porta abriu-se. Lorde Warburton entrou no salão, mas Corina, por um breve momento, não dirigiu o olhar para ele, amedrontada, receando que ele pudesse ser tão desagradável e sem caráter quanto o Sr. Thespidos. Então ela ouviu-o perguntar: - Deseja ver-me? Ela ergueu o rosto e viu-se diante de um homem alto, de ombros largos, na verdade jamais vira um homem tão belo. Isso não a impediu de notar o tom seco na voz dele, denunciando que ele achava que a presença dela o aborrecia. Pior ainda: as linhas no rosto dele, que desciam do nariz até os cantos dos lábios, pareciam dizer que lorde Warburton escarnecia dela. Ele, certamente, se ressentia daquela intrusão. Corina continuou a observar o dono da casa através das lentes escuras e teve certeza de que ele a desprezava. Nervosa, ela disse depressa numa voz que nem lhe pareceu a sua: - Sou a senhorita Melville, senhor, e vim procurá-lo para pedir a Vossa Senhoria que ajude meu pai, sir Priam Melville. Terminando de falar ela teve a impressão de que se comportara como uma garota de escola. Fora dizendo tudo rapidamente, receando esquecer alguma coisa do seu discurso. Não foi com surpresa que ouviu lorde Warburton responder-lhe calmamente: - Suponho que podemos nos sentar, Srta. Melville, e terá ocasião de dizer-me por que seu pai necessita de minha ajuda e por que ele não veio procurar-me pessoalmente. Corina sentou-se na beira do sofá, juntou as mãos sobre o colo e explicou: - Meu pai está no exterior... Na verdade, ele está na Grécia. Lorde Warburton ergueu as sobrancelhas, mostrando-se surpreso e mais interessado. - Na Grécia? Mas meu mordomo disse-me que a senhorita desejava me ver e que o assunto era de vida ou morte. - É verdade, senhor. Papai está desesperadamente enfermo e eu pensei que... Isto é, ouvi dizer que vai partir para a Grécia... Quem sabe poderia ter a bondade de me levar junto. Definitivamente surpreso, lorde Warburton encarou-a, parecendo não poder acreditar no que acabara de ouvir. - Imagino, Srta. Melville - ele respondeu após um momento -, que poderá viajar para a Grécia de um modo bem convencional: de trem. - Os trens são tão imprevisÃveis... Principalmente no sul da Europa. É por isso que pensei na possibilidade de chegar à Crisa em seu iate, de um modo muito mais... Seguro. - Então seu pai está em Delfos? - Papai também é arqueólogo, como Vossa Senhoria, mas ele se encontra muito doente. - Quem lhe disse que ele está doente? - Um homem chegou ontem da Grécia e me informou que papai está mal e... Sem tratamento médico. Corina falou de modo hesitante e teve a impressão de que não fora nada
  • 20. convincente, até soou meio tola. Ninguém iria acreditar nela, muito menos lorde Warburton. - Você acaba de me dizer que seu pai é um arqueólogo e naturalmente não deve estar sozinho fazendo suas pesquisas. - Meu pai sempre trabalha sozinho. Ele não leva consigo nem seu criado particular, pois acha que criados ingleses geralmente causam problemas quando estão em outro paÃs. Lorde Warburton esboçou um leve sorriso, que foi na verdade apenas um curvar dos lábios, antes de responder: - Compreendo, Srta. Melville. Ao mesmo tempo ainda acho que o melhor meio de chegar até seu pai será de trem. Meu conselho é que vá de trem até Veneza; ali encontrará navios que partem para a Grécia quase diariamente. - Por favor, senhor... Leve-me até a Grécia em seu iate! Corina não sabia mais o que dizer. Só lhe restava suplicar. Fez-se silêncio. Depois de alguns segundos, lorde Warburton perguntou: - Srta. Melville, a razão de estar ansiosa para viajar comigo será porque não pode pagar sua passagem? Nesse caso... Horrorizada, Corina compreendeu que ele ia oferecer-lhe dinheiro e disse depressa: - Não... O problema não é dinheiro, é... Rapidez. - Como já lhe expliquei Srta. Melville chegará a Crisa em menos tempo de trem. Mesmo sendo novo e capaz de fazer catorze nós por hora, meu iate pode ficar detido na baÃa de Biscay se o mar estiver encapelado e há freqüentes tempestades no Mediterrâneo que sempre atrasam a viagem. - Eu... Eu entendo senhor... Mas, por favor... Lorde Warburton levantou-se. - Lamento claro, não poder ajudá-la; só lhe prometo que, ao chegar à Grécia, se lhe puder ser útil, basta entrar em contato comigo. Lampejou pela mente de Corina que se ela conseguisse descobrir quando lorde Warburton iria partir e onde iria ancorar, teria informações para dar ao Sr. Thespidos e este talvez se desse por satisfeito. - Agradeço-lhe por sua bondade. Se me disser onde estará na Grécia, será confortador saber que poderia contar com a ajuda de Vossa Senhoria se eu não conseguir ajudar meu pai de outra forma... Então poderei procurá-lo. - Tenho um agente em Atenas e ele lhe dará meu endereço. Ele atravessou o salão e foi até uma secretaire francesa, um belÃssimo móvel marchetado. Ali abriu uma pasta de couro ostentando seu brasão e tirou dela uma folha de papel de carta. Quando ele começou a escrever na folha, Corina sentiu que seu coração ia parar. O endereço que ele estava escrevendo seria inútil. Se lorde Warburton desejava manter tanto segredo sobre o lugar onde pretendia ir, certamente não iria entrar em contato com seu agente ou qualquer outra pessoa. Ele veio ao encontro dela e entregou-lhe a folha de papel. - Aqui está o endereço, Srta. Melville. Só posso desejar que quando chegue à Grécia encontre seu pai bem melhor do que está imaginando. - Vossa Senhoria pretende ir... Até o porto de Crisa? Parecendo ter desconfiado que aquela pergunta tinha uma razão de ser, lorde Warburton respondeu: - A vantagem de se ter um iate, Srta. Melville, é que se pode ir aonde quiser, sem necessidade de fazer planos antecipados. - Sim... Naturalmente. Corina guardou a folha de papel na bolsa e, num esforço final para salvar seu pai das mãos do Sr. Thespidos, disse ainda: - Por favor... Talvez ache melhor mudar de idéia e concorde em me levar consigo. Prometo não lhe causar problemas... Na verdade, nem notará que eu estou a bordo. Sei que este é o melhor modo de chegar... Até meu pai.
  • 21. - Sinto muito ter de desapontá-la, Srta. Melville, mas a resposta é não! Ele falou de modo firme e parecia inflexÃvel. Corina sabia que mesmo que se ajoelhasse como o Sr. Thespidos havia sugerido, aquele homem se manteria irredutÃvel. Como se desse o assunto por encerrado, lorde Warburton encaminhou-se para a porta. Nada restava a fazer, pensou Corina, senão segui-lo. Ele abriu a porta, esperou que ela passasse e ambos se viram no hall onde havia dois criados de libra, um de cada lado da porta principal. Do alto dos degraus Corina viu sua carruagem com os dois cavalos atrelados esperando por ela. Desesperada, pensou naquele veÃculo como sendo um carro funerário; recusando-se a atendê-la, lorde Warburton estava destruindo seu pai, mandando-o para a morte. Nada mais havia para ser dito. Ele estendeu-lhe a mão: - Adeus, Srta. Melville. Espero que sua apreensão quanto à saúde de seu pai tenha sido desnecessária. CAPÉTULO TRÉS Apreensiva, Corina imaginava se já iria encontrar um dos homens do Sr. Thespidos esperando-a. No entanto, parecia não haver ninguém ali. Subiu para tirar o chapéu e arrumar os cabelos. Quando desceu observou que tudo continuava quieto e foi à sala de visitas. Pela janela aberta chegava até ela o som do zumbido das abelhas e dos pássaros cantando nos arbustos. Diante daquela paz, tentou se convencer de que todo o episódio fora apenas um pesadelo. Impaciente, ela andava da casa para o jardim vezes seguidas; as horas se arrastavam. Quase à s quatro da tarde ela ouviu o som de uma carruagem que se aproximava. Por um breve momento acalentou a esperança de lorde Warburton ter mudado de idéia. Teria ele vindo procurá-la pessoalmente ou teria mandado outra pessoa? Mal compreendera que aquela esperança era vã, a porta abriu-se e Bates o velho mordomo, disse: - Um cavalheiro deseja vê-la, Srta. Corina. Mesmo antes de ver quem era Corina estremeceu. O Sr. Thespidos caminhou lentamente em direção a ela, como se quisesse, com aquela atitude, intimidá-la. Seu orgulho a fez erguer o queixo altivamente, porém juntou as mãos e apertou-as. Com voz trêmula, ela disse: - Tentei fazer o melhor possÃvel, mas receio ter... Falhado. - Aconteceu o que eu esperava - falou o Sr. Thespidos, com sua voz desagradável. - Teremos que pôr outro plano em ação. - Outro... Plano? - Suponho que ainda deseja salvar a vida de seu pai, não?
  • 22. - Sim... Claro! Como pode fazer tal pergunta? - Então deve fazer exatamente o que eu mandar! Se não fizer, Srta. Melville, não tenha dúvidas, ele morrerá e não será uma morte tranqüila e agradável! Corina quase gritou diante da crueldade daquelas palavras. Algo enérgico e corajoso em seu interior, porém, falou mais alto e ela recusou-se a permitir que o grego a calcasse sob seus pés. - Já lhe disse que farei o que puder para ajudar meu pai, mas não vejo necessidade de ameaças e recriminações. Os olhos do grego cintilaram, demonstrando o quanto ele se surpreendera com aquela atitude de desafio. Seu tom foi mais respeitoso ao dizer: - Pensei em um modo de você salvar seu pai e dar-me a informação de que preciso. - Qual é? Ele lançou um olhar especulativo a Corina, como se considerasse o que seria mais interessante: contar-lhe logo seu plano ou deixá-la na ignorância até o último minuto. Então, parecendo ficar feliz em amedrontá-la, ele observou: - Você teve a oportunidade de resolver este problema amigavelmente e foi malsucedida! - Não ignoro isso. - Agora teremos que fazer algo mais drástico! - O que está sugerindo? Depois de uma breve pausa, o Sr. Thespidos disse devagar: - Você viajará clandestinamente no iate de lorde Warburton! - Uma clandestina?! Corina esperava tudo, menos isto. Ela olhou para o grego com uma expressão de espanto. - Quando ele descobri-la, ou então quando você se revelar, será tarde demais para ele mandá-la de volta. Desta forma, será obrigado a levá-la até Crisa, onde eu estarei esperando. - Mas... É impossÃvel! - ela protestou. O Sr. Thespidos não ignorou a nota desafiadora na sua voz. - Se ele me descobrir - Corina explicou depressa -, é mais do que provável que me deixará em Gibraltar ou em algum porto francês. - Nesse caso seu pai terá uma morte das mais desagradáveis e você terá remorsos pelo resto da vida! Corina apertou tanto as mãos até que ficassem sem circulação. Depois, com esforço sobre-humano, disse calma e vagarosamente: - Qual... Seria seu plano? O que está pretendendo que eu faça? - Agora está começando a demonstrar bom senso! Seria de bom-tom, Srta. Melville convidar-me para sentar. Corina indicou uma cadeira e sentou-se em seguida em um sofá, sentindo que as pernas não mais a suportariam. Era-lhe difÃcil respirar. DifÃcil também era afastar o medo que se avolumava em seu interior, prestes a subjugá-la. - Tenho meu plano todo traçado e não há nele uma falha sequer. Corina esperou um pouco, achando que ele iria dar-lhe detalhes; como ele se manteve calado, ela perguntou: - E... O que decidiu? - Tudo indica que Sua Senhoria irá partir depois de amanhã; portanto, você deverá estar pronta amanhã cedo. Virei buscá-la à s nove. - Para... Aonde iremos? - Para Folkestone, onde o iate de lorde Warburton está ancorado. Você já estará a bordo quando ele chegar. - Como poderá ser isso? Ele me descobrirá e se recusará a me levar. O Sr. Thespidos sorriu. - Pode deixar tudo em minhas mãos. Só o que temos a fazer no momento é providenciar o que for necessário para viajarmos até a estação mais próxima e ali tomaremos
  • 23. um trem expresso. Ele analisou Corina de um modo que ela achou repulsivo, dizendo em seguida: - Leve consigo os seus vestidos mais lindos. Não seja tola a ponto de permitir que Sua Senhoria a faça desembarcar e viaje sozinho. Se não souber cativá-lo a culpa será toda sua! Corina levantou-se. - Não tenho outra escolha, Sr. Thespidos. Estarei pronta à hora que o senhor determinou... Mas não estou disposta a ouvir suas insinuações. Elas são repulsivas e extremamente vulgares! Ela pensou que deixaria o grego embaraçado, mas ele simplesmente riu. - Pelo que vejo, é uma garota decidida, Srta. Melville! Pode estar afogando, mas não dobra a espinha! Corina não respondeu. Ficou de pé, esperando que ele partisse. Mais uma vez o grego analisou-a atentamente e a sensação de Corina foi a de estar sendo desnudada: - As nove, Srta. Melville. Ele virou e encaminhou-se para a porta. Corina não cobriu o rosto como fizera da outra vez. Em vez disso foi até a janela; precisava de ar fresco. "Que homem perverso, cruel, miserável e sem escrúpulos!" Enquanto murmurava isso, ela reconhecia que estava completamente nas mãos dele. Nada podia fazer a não ser obedecê-lo e pôr seu plano em prática, mesmo achando que ele estava destinado a ser um desastre. Seria impossÃvel entrar no iate de lorde Warburton sem o conhecimento da tripulação. Mesmo que ela tentasse ficar escondida nas sombras ou em algum canto, acabaria sendo descoberta. Corina foi para seu quarto. Abrindo o guarda-roupa, tirou diversos vestidos e estendeu-os sobre a cama. Lembrando-se de que o grego lhe dissera sobre escolher os trajes mais bonitos, sentiu um calafrio. Em seguida ela tocou a campainha chamando uma criada. Quando esta atendeu ao chamado, Corina recomendou-lhe que pusesse suas roupas em uma mala imediatamente. - Vai viajar senhorita? - Vou, mas não me demorarei muito. Ela disse aquilo convencida de que o plano do Sr. Thespidos falharia e ela seria obrigada a desembarcar mal o iate tivesse partido. Subitamente ocorreu-lhe que, se isso acontecesse, seu pai seria assassinado. Sufocada por um repentino terror, ela precisou manter-se calma para não gritar. Sentando-se na cama, tentou recuperar-se. Depois de algum tempo foi procurar a Srta. Davis, pois antes do almoço percebera que ela não estava nada bem. - Estarei melhor em um dia ou dois - dissera a governanta vagamente. - Costumo ter estas crises e nada pode ser feito, a não ser esperar que passem. - Não seria melhor mandar chamar o médico? - Já consultei médicos antes e eles sempre dizem a mesma coisa. E um problema de intestinos e, como sempre, ficarei ótima em poucos dias. - E muito corajosa. - Descobri durante minha vida que não temos alternativa. Todos nós chegamos ao fim, mais cedo ou mais tarde. Já tenho bastante idade e só não posso perder o respeito próprio. Corina inclinara-se e beijara a Srta. Davis no rosto. - Deve ensinar-me a ser corajosa também - dissera, sabendo que aquelas palavras não podiam ser mais verdadeiras. Enquanto caminhava para o quarto da governanta, Corina ia pensando que precisava evitar sobrecarregar a boa mulher com seus problemas. Todavia sua vontade era abrir-se com ela e pedir-lhe uma opinião.
  • 24. A Srta. Davis era inteligente e de muita experiência, porém Corina achava que seria impossÃvel mesmo para ela encontrar uma solução para aquele terrÃvel impasse. De qualquer forma não iria preocupar a governanta. Se esta soubesse realmente do que se passava e se Corina não voltasse imediatamente de Folkestone, a Srta. Davis poderia até sucumbir. "Preciso ser bastante corajosa e manter minha boca fechada." Chegando ao quarto da governanta, ela disse: - Como você não está bem, irei passar uns dias na casa de uma amiga. Você terá a oportunidade de descansar e à minha volta estará curada. - É uma atitude sensata - aprovou a governanta. - A mudança só lhe fará bem; esta manhã achei-a um pouco pálida. "Não é de admirar", pensou Corina. Ela estivera acordada praticamente a noite toda, aborrecida com o resultado de sua visita ao lorde Warburton e preocupada com o destino do pai. - Agora vou para meu quarto cuidar da bagagem - disse Corina, achando que não deveria dar chances para a Srta. Davis fazer mais perguntas. - Naturalmente virei dar-lhe boa-noite. - Leve seus vestidos mais lindos, Corina, quem sabe conhecerá um jovem e encantador Romeu! A governanta costumava fazer aquele tipo de brincadeira, uma vez que havia poucos homens atraentes na redondeza. Esforçando-se, Corina esboçou um sorriso. - Nunca se sabe! Ela voltou para seu quarto pensando no Sr. Thespidos com horror e apreensiva em relação à lorde Warburton. Se fosse descoberta no iate depois que já se achassem em alto mar, o encontro com ele seria extremamente desagradável. Aquele homem devia ser assustador quando zangado. No entanto lorde Warburton não a amedrontou da mesma forma que o Sr. Thespidos. Era diferente; sendo um homem importante e másculo, ele a faria sentir-se pequena, insignificante e completamente imbecil. "Estou sendo imbecil mesmo!", disse a si mesma. "Se eu fosse realmente inteligente, iria a Londres ver o ministro do exterior e lhe pediria que salvasse papai." Isso, ela sabia, levaria tempo. E ninguém tinha conhecimento do lugar onde o Sr. Thespidos escondera seu pai. "Se eu falasse com o ministro, tenho certeza de que ele entraria em contato com a polÃcia militar de Atenas, a qual saberia o que fazer." Então algo lhe disse que o Sr. Thespidos era esperto demais e conseguiria escapar da polÃcia e não hesitaria em matar seu prisioneiro. Outra alternativa seria deixá-lo morrer de fome, sem que ninguém descobrisse onde ele estava escondido. "Tenho que fazer exatamente o que me mandaram", ela pensou desesperada. Coruja esperava no hall. És nove horas, pontualmente, o Sr. Thespidos chegou em uma carruagem puxada por dois cavalos. Ele não perdeu tempo cumprimentando Corina polidamente; então ela desceu depressa os degraus, indo ao encontro dele. Bates abriu a porta da carruagem, ela entrou, enquanto sua bagagem era colocada na parte de trás do veÃculo e amarrada. - Divirta-se, Srta. Corina! - disse Bates com ar paternal. - Cuidarei de tudo na sua ausência. - Tenho certeza disso, Bates. Espero estar logo de volta. A carruagem partiu, Corina acomodou-se no assento, ficando o mais distante possÃvel do grego, tendo, porém, notado que nos lábios dele havia um sorriso de satisfação. Dirigiu a ele apenas um olhar rápido, pois a simples presença dele na carruagem dava-lhe náuseas.
  • 25. "Odeio este homem! Odeio-o!" Depois de uma hora a carruagem parou em um entroncamento da estrada de ferro, onde eles poderiam pegar o trem para Folkestone. Corina ficou feliz em viajar de primeira classe e não em um vagão particular; assim estariam entre outros passageiros e ela não ficaria a sós com aquele grego horrÃvel. Preferiu sentar-se ao lado de um cavalheiro já idoso que dormiu a maior parte do tempo. O Sr. Thespidos sentou-se à sua frente e permaneceu em silêncio. Enquanto procurava distrair-se olhando pela janela, Corina podia sentir o olhar do grego incidindo sobre ela, o que muito a desgostava. Depois de algum tempo ela abriu o jornal mesmo sem vontade de ler. Havia comprado o jornal na estação pensando em ter com que se ocupar durante a viagem. Com ele aberto, o Sr. Thespidos não podia vê-la; atrás do jornal só aparecia o alto do seu chapéu. O almoço foi servido aos passageiros por um garçom trajando paletó branco. Corina comeu muito pouco, não sentia o sabor da comida e parecia que estava engolindo serragem. Para seu alÃvio o Sr. Thespidos adormeceu logo após a refeição. Analisando-o, Corina achou-o ainda mais repulsivo em repouso do que acordado. Suas feições eram grosseiras, não pareciam, de forma alguma, as de um grego. Sua pele era cheia de marcas, denotando que ele tivera varÃola quando jovem. Todas as linhas do seu rosto eram duras, emprestando-lhe aquele ar de crueldade. Sem o brilho dos seus olhos astutos e calculistas, o Sr. Thespidos mostrava bem suas rugas, parecendo mais velho do que a princÃpio aparentara. O melhor, porém, era não pensar naquele homem detestável, ainda que estivesse sentado à sua frente. Corina passou a concentrar-se no amor que sentia por seu pai. Ele devia estar muito preocupado com ela, sabendo o quanto sofria por causa dele; também devia estar ciente de que sua filha faria o possÃvel para salvá-lo. Se pelo menos pudesse falar com ele, ambos encontrariam uma solução. Como isso era impossÃvel, nada restava a fazer senão rezar e acreditar que Deus, de alguma forma, a ajudaria. Quando o trem estava chegando a Folkestone, o Sr. Thespidos acordou e disse com alegria: - Agora, começa a aventura! Se você fosse homem, estaria entusiasmada só em pensar no que teremos pela frente! - Infelizmente sou uma mulher! - Você quer dizer que se fosse homem usaria de força para obrigar-me a dizer tudo o que deseja saber. Sem responder, Corina simplesmente ficou olhando pela janela até o trem parar na estação. Dando ordens rispidamente, o Sr. Thespidos retirou a bagagem de Corina do vagão de carga. Um homem veio ao encontro deles e cumprimentou o Sr. Thespidos respeitosamente. Corina achou que ele trabalhava para o grego. - Está tudo arranjado? - perguntou o Sr. Thespidos em sua lÃngua nativa. - Sim, senhor, conforme ordenou. Corina entendeu a conversa porque desde pequena aprendeu grego moderno com seu pai. Ela também sabia um pouco de grego antigo que o pai lia fluentemente. Sir Priam traduziu com freqüência as odes de PÃndaro e as peças de Sófocles para que a filha pudesse apreciá-las. Entretanto, Corina não deu qualquer demonstração aos dois homens que podia entender o que eles falavam. Talvez, por algum milagre, pudesse descobrir alguma coisa sobre seu pai; quem sabe eles mencionariam o lugar onde o mantinham prisioneiro.
  • 26. Uma carruagem esperava por eles em frente à estação. O Sr. Thespidos e Corina entraram nela e o homem que estivera conversando com o grego sentou-se ao lado do cocheiro para ensinar-lhe o caminho. Em pouco tempo deixaram as ruas largas do centro da cidade e dirigiram-se para o porto. Corina permanecia em silêncio, imaginando o que o Sr. Thespidos iria fazer. Parecia-lhe impossÃvel escondê-la no iate à luz do dia. Haveria, certamente, tripulantes por toda parte. A carruagem parou em frente a um grande prédio, no cais. O homem que estava na boléia ao lado do cocheiro desceu e abriu a porta, ajudando Corina a sair da carruagem. O prédio parecia desabitado e o Sr. Thespidos tirou uma chave do bolso, abrindo com ela a porta da frente. O homem mais jovem entrou primeiro, sendo seguido pelo Sr. Thespidos, que nem pediu licença a Corina, a última a entrar. O cômodo era iluminado apenas por uma janela no alto de uma das paredes. Corina podia ver que eles caminhavam por um longo corredor; logo chegaram a uma escada, que subiram até o primeiro patamar. Ali o homem que ia à frente acendeu um lampião que lhes iluminou o caminho. O Sr. Thespidos foi o primeiro a entrar em um cômodo que Corina observou tratar-se de um escritório. Só então percebeu que estava em um dos armazéns do cais e ali naquele primeiro andar via um escritório muitÃssimo bem montado. O tapete sobre o soalho era bem grosso e sobre ele estava uma escrivaninha, Uma das paredes acomodava um grande número de arquivos; havia ainda ali algumas cadeiras, duas poltronas e um sofá revestido de couro. O homem que segurava o lampião colocou este sobre a escrivaninha e saiu do escritório, voltando minutos depois com a mala de Corina. Depois de colocar a mala ao lado da porta, ele ficou parado, obviamente aguardando ordens. - Procurou o que lhe pedi? - perguntou o Sr. Thespidos, falando em grego novamente. - Sim, senhor. Está lá embaixo. - Então vá buscar. Quero que a Srta. Melville o veja. O homem desapareceu e o Sr. Thespidos tirou o chapéu e o casaco, dizendo rispidamente: - Também deve ficar à vontade. Ficaremos aqui até que o dia amanheça. - Gostaria de saber o que está planejando. Era impossÃvel conversarmos no trem, mas, agora que estamos sozinhos, eu queria saber o que pretende. Detesto ficar na ignorância. - Vou mostrar-lhe. Enquanto falava ele foi até a porta e ouviu o outro homem subindo vagarosamente a escada. Ele entrou no escritório trazendo um grande caixote de embalagem. Vendo-o, Corina não escondeu seu espanto e, numa voz sumida e estranha, perguntou: - É... Nisso que pretende me pôr... Para chegar ao iate? - Sabia que era uma garota inteligente! Na verdade, vai sentir-se muito confortável nesse caixote. Ele abriu a tampa do caixote e Corina viu que o mesmo era todo forrado com tecido de colchão e por baixo do pano havia um enchimento muito macio. Corina ia dizer que ficaria sufocada ali dentro, porém o Sr. Thespidos foi logo dizendo, como se adivinhasse o que ela pensava: - Poderá respirar perfeitamente. Faremos buracos na tampa e nos lados do caixote. Você estará muito confortável; é assim que trazemos as cargas muito preciosas da Grécia! Pelo modo como falou, Corina teve certeza de que ele negociava com as antigüidades preciosÃssimas que alegara anteriormente pertencerem ao seu paÃs. Não restava dúvidas de que ele queria descobrir o que seu pai o lorde
  • 27. Warburton estavam procurando, simplesmente para se apossar da descoberta e vendê-la por um preço astronômico na Inglaterra ou em outro paÃs da Europa. Colocando-a no caixote de embalagem, os tripulantes do iate de lorde Warburton iriam pensar que aquele caixote era parte da bagagem de sua senhoria. Lorde Warburton nem iria perceber que ela está a bordo. O plano era inteligente e demonstrava do que a mente do Sr. Thespidos era capaz. Quando o iate estivesse bem distante da Inglaterra, Corina poderia revelar- se e lorde Warburton seria forçado a levá-la até Crisa, onde ela poderia encontrar seu pai. Tudo isso passou pela cabeça de Corina enquanto ela olhava para aquele caixote. Depois olhou de relance para o Sr. Thespidos e notou que ele estivera observando-a. - Não vai me dizer que sou bem esperto? - ele perguntou em tom irônico. - Achei uma idéia terrÃvel! - Corina gritou. - E se ninguém descobrir onde estou? Morrerei de fome ou sufocada! - Não me subestime - disse o Sr. Thespidos, satisfeito. - Naturalmente já pensei nisso. Há um trinco do lado de dentro que, com uma leve pressão apenas, você poderá abri-lo quando estiver pronta para revelar-se. Corina sentiu um repentino calafrio de medo. Aterrorizava-a a idéia de estar fechada em um caixote, deixada à mercê de um homem que já se recusara a ajudá-la. - Por favor... Não posso fazer isso! Deixe-me ver lorde Warburton quando ele chegar ao iate. Suplicarei mais uma vez que ele me leve como sua convidada. - E se ele se recusar novamente? Não havia resposta para essa pergunta e o Sr. Thespidos prosseguiu: - Tenho meus planos e você deve admitir que são muito inteligentes. Estará confortável e não precisa ter medo de nada, pois poderá libertar-se a qualquer momento que desejar. Pense apenas que logo verá seu pai e ambos ficarão muito felizes! - Jura mesmo, por tudo que considera mais... Sagrado, que eu verei meu pai assim que eu chegar à Grécia? - No momento que me entregar lorde Warburton, não terei qualquer interesse pelo seu pai. O tom do Sr. Thespidos deveria tranqüilizar Corina, mas, ao contrário, deixou-a inquieta, pois ele mencionou o nome de lorde Warburton de um modo horrÃvel, como se o abocanhasse. O grego parecia exultar diante da possibilidade de ter um homem tão importante e tão rico em suas garras. Corina, porém, disse a si mesma que não devia pensar nisso; só seu pai a interessava. Olhou mais uma vez para o caixote destampado que parecia estar abrindo a boca para ela ali do assoalho; um calafrio percorreu-lhe toda a coluna vertebral. Caminhou até o sofá e sentou-se; o Sr. Thespidos dirigiu-se ao outro homem, chamando-o pelo nome: - Paul, leve o caixote para baixo e faça nele os buracos, conforme já o orientei: quatro de cada lado serão suficientes. Convém deixar o estofamento um pouco mais alto. Devemos certificar-nos de que a lady fique bem confortável! Desta vez ele falou em inglês para que Corina pudesse entender. Depois fez questão de repetir tudo em grego. Paul apanhou o caixote e desceu vagarosamente as escadas. - Há um banheiro depois daquela porto - disse o Sr. Thespidos indicando o lugar. - Depois de comermos qualquer coisa, aconselho-a a descansar neste sofá. A noite passará mais depressa se Você dormir. Ele falou de modo casual, parecendo não estar nada preocupado com ela. A vontade de Corina era responder que não conseguiria dormir estando tão amedrontada com o que iria acontecer dentro de algumas horas. Sabia, porém que seria um
  • 28. erro ficar trocando palavras com um homem como aquele. Decidiu ir ao banheiro esperando que ali houvesse um espelho para arrumar o cabelo e uma pia para lavar as mãos. Quando voltou ao escritório viu o Sr. Thespidos escrevendo, sentado à escrivaninha. Ele havia tirado o casaco, o colete e achava-se em mangas de camisa, tendo os suspensórios sobre os ombros. Corina achou que era muita grosseria da parte dele tratá-la como uma pessoa sem a menor importância. Mas não disse nada. Assim que ela sentou-se no sofá, Paul voltou com uma bandeja com comida. Corina achou que não era das mais apetitosas, mas resolveu comer um pouco, pois precisava manter suas forças. Além da salada, comeu uma porção de carne fria e aceitou um copo de vinho grego que o Sr. Thespidos lhe ofereceu. Depois de experimentar o vinho, não gostou do forte sabor de resina do mesmo e deixou o copo de lado, pedindo um pouco de água. O Sr. Thespidos riu e disse: - Se vai ficar no meu paÃs por algum tempo, terá que se acostumar com o sabor de nossos vinhos! Ele zombava dela e sua vontade era responder-lhe que desejava ver seu pai salvo e sair da Grécia o mais cedo que pudesse. No entanto, ficou calada e continuou comendo sem a menor vontade, achando tudo ruim, preocupada apenas em preservar suas forças. O Sr. Thespidos, ao contrário, comia com apetite e tomou quase todo o vinho. Depois da refeição, ele disse: - Agora devemos nos acomodar e dormir; não gostaria que eu lhe desse um beijo de boa-noite? Corina ficou rÃgida, mas achou que seria indigno de sua parte dar uma resposta. O grego riu e ela pensou, apavorada, no que poderia fazer se ele tentasse tocá-la. Como se soubesse o que ela estava pensando, ele disse: - Você está completamente segura. Tenho um lema na vida que diz: "Negócios primeiro", e amanhã você precisará estar muito ativa e perfeitamente senhora de si. Corina continuou a esforçar-se para permanecer em silêncio. Paul havia trazido para cima travesseiros, cobertores e uma cama de armar. Depois de tirar os sapatos Corina deitou-se no sofá e fechou os olhos assim que pôs a cabeça no travesseiro. Ela sabia que o Sr. Thespidos a olhava de modo desagradável, mas teve certeza de que ele dissera a verdade quando mencionara que os negócios vinham em primeiro lugar. Ele não seria tolo de assustá-la, pois sabia que ela poderia arruinar todos os seus planos. Corina ouviu-o andando pelo escritório até que, finalmente, a cama portátil rangeu, o lampião apagou-se e ela pôde relaxar um pouco. Somente quando ouviu os roncos do grego sentiu-se realmente segura. Na escuridão, começou a rezar com toda a sua devoção e desespero, pedindo por socorro. O futuro a aterrorizava. Todavia, acalentava a esperança de que, por mais zangado que lorde Warburton pudesse ficar com ela, seria preferÃvel suportar sua ira a estar perto do Sr. Thespidos. Como não havia dormido na noite anterior, Corina mergulhou numa sonolência confusa, um torpor no qual seus pensamentos e sonhos se mesclavam sem proporcionar-lhe a bênção de um sono reparador. Corina acordou com o barulho dos passos de Paul, que subia as escadas. A porta abriu e ele disse em grego: - Já são cinco e meia, sir. Mais um ronco colossal e o Sr. Thespidos acordou. Antes que ele dissesse qualquer coisa, Corina levantou-se e foi ao banheiro, tendo o cuidado de fechar
  • 29. a porta. Lavou o rosto e as mãos, penteou-se e achou desnecessário colocar o chapéu. Quando voltou ao escritório, o Sr. Thespidos já havia vestido o colete e estava à s voltas com a gravata que havia tirado para dormir. - Há um lanche sobre a minha escrivaninha - ele disse assim que a viu. - E melhor comer tudo, pois poderá ficar muito tempo sem ter qualquer tipo de alimentação. Era um conselho muito sensato e Corina apenas se ressentiu do modo como ele falava. Aproximando-se da escrivaninha ela viu pão, manteiga, uma grande fatia de queijo e, para seu alÃvio, um bulinho com café. Quando começou a servir-se do café, viu que não havia muito e perguntou: - Só há uma xÃcara de café. Não quer um pouco? - Não, tome tudo. Depois que você estiver a bordo, farei meu desjejum. - Como sabe que eles... Irão me aceitar? - Deixe esse assunto por minha conta. Tenho inteligência demais nesta cabeça - ele respondeu, olhando-a de soslaio. Corina tomou o café e obrigou-se a comer o máximo que pudesse; felizmente o pão estava fresquinho. Ela teve vontade, de sugerir ao Sr. Thespidos que a deixasse levar um pouco de alimento no caixote, mas convenceu-se de que se ele não havia pensado nisso, certamente teria suas razões. O Sr. Thespidos vestiu o paletó e consultou o relógio. - Temos que nos preparar. Acabe seu café e irá sentir-se melhor. Corina achou que ele tinha razão e bebeu depressa o que restava na xÃcara e ainda serviu-se de mais um pouco que sobrara no bulinho. Quando mexia o café para misturar bem o açúcar, começou a sentir-se estranha. O cômodo parecia estar girando ao seu redor. Ao estender a mão para segurar-se na beirada da escrivaninha, ficou tateando e seu corpo parecia não obedecê-la. Tentou então perguntar o que estava acontecendo, mas as palavras não lhe chegaram aos lábios. Uma escuridão subiu do assoalho e a envolveu. CAPÉTULO QUATRO Lorde Warburton deixou sua casa extremamente animado, e ao despedir-se de Charles, este disse: - Faço votos que encontre sua Afrodite bem depressa, Érion, ou então abandone de vez esta perseguição e volte para casa. Há muito que fazer aqui, especialmente com seus cavalos. - No momento estou tentando ganhar um prêmio muito mais valioso do que qualquer um que possa conseguir com meus cavalos. - Eu me sentiria mais feliz se a sua Afrodite fosse de carne e osso e se o visse perseguindo-a pelo mundo todo. - Nesse caso eu não voltaria para casa durante anos! Charles riu diante daquela lógica indiscutÃvel. - Pelo que vejo você continua firme em seu propósito de comportar-se como um cavaleiro das Cruzadas, que ignora os apelos da "donzela angustiada" e não vai ao seu encontro.
  • 30. Lorde Warburton sorriu. - O problema com você, Charles, é seu romantismo, coisa que deixei de lado há anos e jamais me arrependi disso. Charles não ignorava que aquilo era uma verdade, mas riu e o amigo acrescentou: - Será um alÃvio estar sozinho em meu iate, poder sentar-me e ler Sófocles, que escreveu coisas muito mais sensatas que essas tolices que você está insinuando. - Sinto muito por você. De Sófocles, tudo o que me lembro são as palavras: "Há muitas maravilhas, porém nenhuma delas é tão maravilhosa quanto o homem". - Suponho que neste momento esteja pensando que você é uma maravilha - disse Charles, provocando o amigo. - Se eu tivesse uma coisa bem pesada perto de mim, jogaria na sua cabeça! Ao mesmo tempo, espero que tenha observado que Sófocles exaltava os homens, não as mulheres! - Você não tem mesmo jeito. Lavo minhas mãos! Depois de um desjejum feito muito cedo, os dois amigos conversaram animadamente até lorde Warburton tomar o trem no mesmo entroncamento que Corina havia embarcado com o Sr. Thespidos no dia anterior. Havia todo um vagão de primeira classe reservado para lorde Warburton e outro de segunda classe para o criado particular de Sua Senhoria e para o acompanhante de viagem que sempre viajava com ele para que tudo fosse perfeitamente providenciado até o momento da partida. Lorde Warburton estava ansioso para ver-se no mar novamente, fazendo mais testes com seu iate. O Sea-Serpent, nome que ele dera ao iate, estava equipado com inúmeros dispositivos que o próprio lorde Warburton inventara. Embora poucas pessoas soubessem disso, lorde Warburton tinha uma mente inventiva e criadora e graças a isso ele era capaz de dominar facilmente vários assuntos e podia dedicar-se a várias atividades com sucesso. Todavia, seu maior interesse sempre havia sido a Grécia. Como ele exigia perfeição em tudo que fazia, assim que adquiriu seu iate, interessou-se rapidamente em adaptar nele alguns dispositivos mecânicos que tornaram a magnÃfica embarcação superior a qualquer uma da sua categoria. Da mesma forma ele havia equipado suas fazendas com veÃculos novos e úteis e com máquinas diversas. Pensando no Sea-Serpent, lorde Warburton já cogitava em mais alguns melhoramentos que tornariam seu iate ainda superior ao que era no momento. Na verdade isso seria difÃcil, pois o Sea-Serpent causava admiração a todos os armadores que vinham conhecê-lo, e as pessoas interessadas em possuir seu próprio iate mostravam-se fascinadas ao ver que o de lorde Warburton tinha muitas inovações que os iates de outras pessoas não tinham. Naquele momento ele sentia-se feliz porque não teria convidados nesta sua viagem para a Grécia. Não gostava de ter mulheres a bordo, a não ser que soubesse com absoluta certeza que não haveria a menor agitação no mar quando o iate atravessasse a baÃa de Riscay. Como isso era impossÃvel de se assegurar naquela época do ano, ele só viajava sozinho ou com companhias masculinas. Mulheres enjoavam com muito mais facilidade, ficavam o tempo todo gemendo e reclamando. O pior de tudo era que se o mar estivesse revolto, elas declaravam que só se sentiriam seguras com a proteção dos braços dele. No trem, lorde Warburton leu os jornais, mas o tempo todo seu pensamento estava na Grécia. Quem sabe, desta vez, por milagre, ele acabasse encontrando a estátua de