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Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2008 jul/set; 16(3):399-403. • p.399
Estelmhsts P, Brusamarello T, Borille D, Maftum MA
RESUMO:RESUMO:RESUMO:RESUMO:RESUMO: Pesquisa qualitativa descritiva desenvolvida em 2007, em instituição psiquiátrica do Paraná. O objetivo do
estudo foi conhecer como se desenvolve a prática de enfermagem nas situações de emergências a pacientes internados.
Participaram dois enfermeiros e seis auxiliares de enfermagem. Os dados foram obtidos mediante entrevista semi-estruturada
e observação participante e organizados em categorias. São resultados: a concepção dessas emergências; os cuidados de
enfermagem; a importância do diálogo como primeira intervenção junto à pessoa que necessita de atendimento de
emergência; a contenção rotineira do paciente no leito, que se contrapõe ao observado em campo, pois geralmente toda
a equipe busca o controle da situação primeiramente pelo diálogo; e a capacitação profissional para cuidar em emergên-
cia. Concluiu-se que há a necessidade de educação permanente em enfermagem como agente de transformação da
realidade na área da saúde mental no Brasil.
Palavras-chave:Palavras-chave:Palavras-chave:Palavras-chave:Palavras-chave: Enfermagem; saúde mental; emergência; equipe de enfermagem.
ABSTRACTABSTRACTABSTRACTABSTRACTABSTRACT: Descriptive qualitative study conducted in 2007 at a psychiatric institution in Paraná State, Brazil. Aim: to
learn how nursing care is provided to hospitalized patients emergency mental health situations. The participants were two
nurses and six nurse assistants. Data were obtained by semi-structured interview and participant observation and were
organized into categories. The results were: how such emergences are conceived; nursing care; the importance of
dialogue as first approach to the person needing emergency care; routine restraint of patients in bed (contrary to what was
observed during the study, when usually the whole team sought to control the situation firs by dialogue); and the need for
further capacity-building in emergency care. It was concluded that permanent education is needed in nursing as a
change-making agent in mental health care in Brazil.
Keywords:Keywords:Keywords:Keywords:Keywords: Nursing; mental health; emergency; nursing team.
RESUMEN:RESUMEN:RESUMEN:RESUMEN:RESUMEN: Investigación cualitativa descriptiva desarrollada en 2007, en una institución psiquiátrica del Estado de Paraná/
Brasil. Objetivo: Conocer como se desarrolla la práctica de enfermería en relación a situaciones de emergencias en
pacientes durante el periodo de internación. Los sujetos fueron dos enfermeros y seis auxiliares de enfermería. Los datos
fueron obtenidos por medio de entrevista semiestructurada y por observación participante y organizados en categorías. Son
resultados: la concepción de esas emergencias; los cuidados de enfermería; la importancia del diálogo como primera
intervención junto a la persona que necesita de atendimiento de emergencia; la contención rutinaria del paciente en el
lecho, lo que se contrapone al observado en campo porque, generalmente, todo el equipo busca el control de la situación
primeramente por el diálogo; y la capacitación profesional para cuidar en emergencia. Se concluyó que hay necesidad de
educación permanente en la enfermería como agente de transformación de la realidad en el área de la salud mental en Brasil.
Palabras clavePalabras clavePalabras clavePalabras clavePalabras clave: Enfermería; salud mental; emergencia; equipo de enfermería.
EMERGÊNCIAS EM SAÚDE MENTAL: PRÁTICA DA EQUIPE DE
ENFERMAGEM DURANTE O PERÍODO DE INTERNAÇÃO
MENTAL HEALTH EMERGENCIES: NURSING TEAM PRACTICE DURING THE
PERIOD OF INTERNMENT
EMERGENCIAS EN SALUD MENTAL: PRÁCTICA DEL EQUIPO DE
ENFERMERÍA DURANTE EL PERIODO DE INTERNACIÓN
Priscila EstelmhstsI
Tatiana BrusamarelloII
Dayane BorilleIII
Mariluci Alves MaftumIV
I
Acadêmica. Curso de Graduação em Enfermagem. Universidade Federal do Paraná-UFPR.
II
Acadêmica. Curso de Graduação em Enfermagem. Universidade Federal do Paraná-UFPR.
III
Enfermeira. Mestranda do Programa de pós-graduação em Enfermagem da UFPR. Membro do Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão do Cuidado
Humano de Enfermagem – NEPECHE. Co-orientadora.
IV
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente do Departamento de Enfermagem da UFPR. Membro do NEPECHE. Orientadora. Email
maftum@ufpr.br.
INTRODUÇÃO
Osprofissionaisqueatuamnaenfermagemfreqüen-
tementesedeparamcomsituaçõesdeemergênciaem
saúdementalduranteointernamentodepacientesem
hospitalpsiquiátricoeemoutrosserviçosdesaúde.Para
que o cuidado de enfermagem nas emergências desta
áreasejaeficaz,éimportanteumconhecimentoamplo
sobreoassunto,paranãocolocaremriscoasegurança
dopacientee,ainda,daspessoasaoseuredor.
p.400 • Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2008 jul/set; 16(3):399-403.
Emergências em saúde mental
Quando uma pessoa apresenta comportamen-
tos que caracterizam emergência, todos os membros
da equipe de saúde devem ter prontidão para reali-
zar o atendimento com presteza. Essa atitude é ne-
cessária, pois em geral são situações que necessitam
de mais de um profissional para prestar os primeiros
cuidados, bem como a sua continuidade até que a
situação esteja estável, e estabelecido ou dado o pros-
seguimento do plano terapêutico. De um modo ge-
ral, as situações emergenciais não são resolvidas por
umúnicoprofissional;antes,elasrequeremumaequi-
pe coesa e capacitada para tal1
.
Para prestar um cuidado efetivo à pessoa que se
encontra em momento de crise ou de um episódio
agudo em saúde mental, é essencial que os profissio-
nais procurem identificar a percepção que ela tem
em relação ao que está vivenciando, os suportes
situacionais e mecanismos de enfrentamento que
possui. Porquanto a pessoa pode apresentar uma per-
cepção diferenciada dos acontecimentos que con-
tribuirá para o surgimento de comportamentos pre-
judiciais, como auto-agressão e manifestação de pen-
samentosuicida,irritabilidade,delírio,entreoutros1,2
.
É importante que os profissionais tenham a cla-
reza de que a intervenção na crise é uma estratégia
de cuidado breve, com tempo limitado e focalizado.
Destarte, o propósito dessa ação não é fazer uma te-
rapia em profundidade, mas resolver imediatamente
umasituaçãocrítica,impedindoasuaprogressãopara
evitar danos maiores ao paciente e às demais pessoas
envolvidas1,3
.
Os profissionais de enfermagem geralmente são
em maior número na equipe de saúde, e permane-
cem mais tempo próximos aos pacientes; assim, en-
contram-se comumente em posição de oferecer aju-
da nos momentos de exacerbação dos sinais e sinto-
mas e surgimento de crise.
Este trabalho aborda a temática atuação de
enfermagem em emergência em saúde mental em
hospitalpsiquiátricoetevecomoquestãonorteadora:
como acontece a prática da enfermagem à pessoas com
transtornos mentais em situação de emergência durante
o período de internação? O objetivo do estudo foi co-
nhecer como se desenvolve a prática de enferma-
gem nas situações de emergência a pacientes no pe-
ríodo de internação hospitalar.
REFERENCIAL TEÓRICO
Emergência em saúde mental se refere a uma
condição em que a pessoa manifesta alteração do
pensamento (delírio) ou nas atitudes (agitação
motora, atos agressivos físicos e/ou verbais), o que
requer atendimento rápido. Essas alterações estão
associadas a risco de vida para a própria pessoa e /ou
para terceiros, pois, nas síndromes ou sintomas psi-
quiátricos mais freqüentes, estão presentes
agressividade, comportamento suicida e delírio com
o juízo crítico comprometido4
.
Nos serviços especializados de emergência em
saúde mental, estima-se que em torno de 20% dos
pacientes atendidos são suicidas e 10% apresentam
comportamento agressivo. Os diagnósticos mais co-
muns envolvem a depressão, mania, esquizofrenia e
dependência de álcool. Cerca de 40% dos pacientes
atendidos são encaminhados para internação4
.
As pessoas que se encontram em uma unidade
psiquiátrica geralmente estão em crise, porquanto
suas habilidades de enfrentamento estão prejudica-
das e, quando se sentem ameaçadas por motivo real
ou imaginário, podem manifestar comportamentos
que requeiram intervenções da equipe1,4,5
.
Antesderealizarumaintervenção,deve-seava-
liar a situação do paciente para depois elaborá-la e
aplicá-la, agindo com objetividade. A equipe deve
manter-secalma,evitaratitudesameaçadoras,priorizar
asegurançafísicaeemocionaldopaciente,estabelecer
limitesemostrar-lheasconseqüênciasdoseuato1-3
.
As ações da equipe devem ter o objetivo de
ajudar o paciente a tomar consciência de seus senti-
mentos, identificá-los e expressá-los de um modo
apropriado e compreensível pelos profissionais1
. As-
sim, a abordagem da comunicação terapêutica, aten-
tando-se para as expressões não verbais6
, colabora
para diminuir ou eliminar o comportamento agressi-
vo do paciente.
É preciso abordar o paciente, aproximando-se
calmamente, informando-o que ele não está sozi-
nho e transmitindo-lhe o desejo de ajudar e preocu-
pação com seu bem-estar3
. Nesse sentido, servir de
apoio, ouvir cuidadosamente e com atenção, de-
monstrando interesse pela situação que está
vivenciando, mas sem hesitar de pedir ajuda quan-
do necessário. É preciso avaliar as condições físicas
do paciente, verificar se ele está ansioso ou agressi-
vo, porque isso pode diminuir sua atenção, memória
e orientação, não permitindo a compreensão de in-
formações mais complexas2,5,6
.
Algumas medidas são eficazes tanto para pre-
venir como minimizar comportamentos alterados do
paciente com transtorno mental durante uma crise.
Um clima de respeito, diálogo franco e genuíno in-
teresse pelo paciente são atitudes essenciais que os
profissionais deverão ter com pessoas em situação de
Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2008 jul/set; 16(3):399-403. • p.401
Estelmhsts P, Brusamarello T, Borille D, Maftum MA
emergência. Ainda, deve-se procurar manter o am-
biente de trabalho seguro, com um clima de harmo-
nia: remover objetos que possam ser usados como
instrumentos de agressão; dispor os móveis de modo
a permitir fácil acesso para entrada e saída da equi-
pe, com possibilidade de afastar os demais pacientes;
não ficar de costas para o paciente e não permitir
que ele fique entre o profissional e a porta1,3
.
A experiência é necessária e auxilia o profissi-
onal na decisão de quando estabelecer e/ ou inter-
romper o diálogo1
, sobre o momento de adotar ou-
tros recursos, como a medicação e, como última es-
colha, a contenção no leito com faixas de algodão,
atentando para o uso correto da técnica. Logo que
seja possível, a equipe deve discutir o ocorrido ava-
liando as medidas tomadas7
.
Consta na Resolução nº. 1.598/2000, do Con-
selho Federal de Medicina, a indicação e prescrição
de contenção física ao paciente psiquiátrico pelo
médico8
. Entretanto, não existe qualquer normativa
do Conselho Federal de Enfermagem, e isto consti-
tui lacuna na assistência à pessoa com transtorno
mental. No Protocolo Integrado Saúde Mental de
Curitiba, há diretrizes quanto ao uso de contenção
física a pacientes com manifestação de agitação e
agressividade em que seja avaliada a extrema neces-
sidade da mesma7
.
Quando for julgado imprescindível o uso da
contenção física, todos os procedimentos realizados
pela equipe devem ser anotados no prontuário do
paciente, pois, além de contribuir para a continui-
dade do cuidado, serve como documento legal, ma-
terial de evidências ou não de ato de imperícia, im-
prudência ou negligência, diante da justiça e/ou con-
selho profissional9
.
METODOLOGIA
Trata-se de pesquisa qualitativa do tipo descri-
tiva, desenvolvida em um Hospital Psiquiátrico do
Paraná, em 2007. O estudo qualitativo se justifica
por envolver as relações humanas no campo da saú-
de e, assim, permite aprofundar o conhecimento das
dimensões e do significado do fenômeno estudado10
.
Nas pesquisas descritivas, têm-se a finalidade de des-
crever as características de determinada população
ou acontecimento contribuindo para elucidar e com-
preender o fenômeno11
.
Dos 18 profissionais de enfermagem que traba-
lham no turno da manhã nas quatro unidades de
pacientes agudos, aceitaram participar da pesquisa
dois enfermeiros e seis auxiliares de enfermagem. O
projeto foi aprovado no Comitê de Ética de Pesqui-
sa da Universidade Federal do Paraná sob o nº
3470270704. Para garantir o sigilo e anonimato, os
sujeitos foram identificados com letras, para os en-
fermeiros (E) e para os auxiliares (A), seguidas de
números arábicos.
Obteve-se os dados mediante entrevista semi-
estruturada com as questões: O que você entende
por emergências em saúde mental? Quais situações
você considera emergência? Qual a sua atitude di-
ante de uma emergência em saúde mental? Você se
sente capacitado para atuar em uma situação de
emergência em saúde mental? Utilizou-se, também,
a observação participante da realidade pesquisada
com registro em diário de campo, a qual ocorreu
durante as 360 horas de estágio curricular, sendo que
era feito o rodízio de participação de uma manhã
em cada unidade e assim sucessivamente.
Analisou-se os dados com a análise temática
de Minayo10
: pré-análise (organização do material),
exploração do material (codificação, classificação,
categorização), tratamento dos resultados obtidos e
interpretação (tratamento e reflexão).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A idade dos oito sujeitos variou entre 35 e 62
anos; seis são do sexo feminino. A conclusão do cur-
so profissional variou de 15 a 35 anos e o tempo em
que atuam na saúde mental variou de 15 a 40 anos;
três auxiliares e um enfermeiro possuem o mesmo
tempo de formação profissional e de atuação na ins-
tituição e nunca trabalharam em outro serviço de
saúde; um enfermeiro tem duplo vínculo atuando
também em um hospital geral; um auxiliar trabalha
somente na instituição campo desta pesquisa, mas já
exerceu atividade em um hospital geral; dois auxili-
ares têm maior tempo de trabalho na instituição do
que de formação, e nunca exerceram a enfermagem
em outro serviço, sendo que estes caracterizam a
categoria de atendente extinta com a Lei nº. 7.498/
86, que regulamenta o Exercício Profissional de En-
fermagem12
. Os outros dois participantes trabalham
em hospital geral.
Emergências em Saúde Mental: concepção
dos participantes
Para os sujeitos, emergência se trata de uma si-
tuação em que o paciente apresenta dificuldade de
manter o controle do seu comportamento expres-
sando atitudes que podem pôr em risco sua própria
integridade e a de outras pessoas. Listaram situações
p.402 • Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2008 jul/set; 16(3):399-403.
Emergências em saúde mental
características de emergência enfocando os diferen-
tes tipos de delírios, comportamento suicida,
autodestrutivo e todos citaram o comportamento
agressivo, como exemplificado com as falas a seguir.
Quando o paciente está correndo risco de seguran-
ça para sua integridade física ou põe em risco outras
pessoas, familiares, pessoas na rua, enfim, que não
tenha controle sobre seu comportamento. Emergên-
cia é aquilo que envolve risco à integridade física do
paciente e dos que estão ao redor dele (E.1).
Geralmente, a auto-agressão é coisa mais pra cha-
mar a atenção, não é a emergência das emergênci-
as. Tem paciente que quebra o vidro, na hora que vê
o sangue ele para (A.6).
Deacordocomaliteratura,emergênciaemsaú-
de mental se caracteriza quando uma pessoa apre-
senta qualquer perturbação nos pensamentos, senti-
mentos ou ações que precisem de intervenção ime-
diata para protegê-la, ou aos demais ao redor, de ris-
co de vida.Tem ampla abrangência e inclui o abuso
de substâncias, violência, suicídio, homicídio, estu-
pro e problemas sociais4
.
Durante o período pesquisado, acompanhamos
dois internamentos cujas causas foram por distúrbi-
os do pensamento e da percepção, tentativa de sui-
cídio e comportamento agressivo. Embora vários
pacientes tenham relatado e ainda constasse em seus
prontuários a tentativa de suicídio como causa de
sua internação, não foi presenciada nenhuma ten-
tativa de suicídio durante a realização deste estudo.
As ameaças de suicídio, tentativas, gestos e o
suicídio consumado caracterizam o comportamento
autodestrutivoousuicida.Algumastentativaspodem
ser chamadas de gestos suicidas, cujo objetivo é cha-
mar a atenção e não consumar o ato, mas não se deve
ignorá-la. Independentemente de qual categoria a
pessoa esteja, qualquer comportamento suicida, não
importa qual a intenção, deve ter total atenção da
equipe de saúde3,13
. Em discordância ao referido por
um depoente, é preciso ajudar o paciente quando ele
faz ameaças ou tenta o suicídio, pois pessoas que não
querem morrer e só estão tentando pedir ajuda po-
dem, porém, conseguir consumar o ato suicida1
.
O Cuidado de Enfermagem em Situação de
Emergência
Os sujeitos relataram que, em uma situação de
emergência, procuram dialogar com o paciente e
proteger aquele que se encontra em quadro agudo,
bem como os demais da unidade. Para eles, é preciso
ter habilidade para abordar o paciente com transtor-
no mental e na seqüência determinar outros cuida-
dos a serem realizados, como administração de me-
dicação e a contenção física. Mencionaram a técni-
ca de contenção física como rotina na instituição.
Tentar ao máximo proteger as outras pessoas. A
rotina aqui é contenção física quando o paciente está
no surto e a partir disso, avaliar se precisa de medi-
cação, só de contenção, conversa (E.1).
Quando o paciente chega muito alterado, além da
medicação, se está agressivo aí vem a contenção (A.5).
Os profissionais relataram o uso da contenção
do paciente no leito como rotina; mas esta técnica
deve ser utilizada como último recurso, após esgota-
das as tentativas de acalmá-lo pela abordagem ver-
bal. Durante a observação da realidade, constatou-
se que os funcionários, de um modo geral, dialoga-
vam com os pacientes para solucionar as
intercorrências sem usar a contenção.
Nos momentos de emergência, é importante
saber ouvir o paciente, usar as técnicas de comuni-
cação terapêutica e a comunicação não verbal, re-
forçando a idéia de que a equipe de enfermagem se
preocupa com ele.
A Capacitação dos Profissionais de Enfer-
magem para Cuidar em Emergência
Os sujeitos relataram que se sentem prepara-
dos para agir de forma rápida e eficiente em situa-
ções de emergência em saúde mental e reportaram a
necessidade da ajuda dos colegas em determinadas
situações.
Se o paciente está extremamente agressivo e não vai
dar conta, tira as pessoas de volta, as pacientes e,
enquanto não chegar ajuda você não vai poder fa-
zer nada sozinha (E.1).
Sinto-me capacitada, aprendi muito aqui. Quando
vejo o comportamento dos pacientes sinalizando que
não estão bem, fica mais fácil perceber e até falar o
que está acontecendo (E.2.)
O cuidado nas situações de emergência exige
uma equipe capacitada, pois é necessária uma ação
imediata. Ressalta-se que a capacitação deve ser
direcionada para a avaliação do paciente e a impor-
tância da intervenção verbal como primeira estraté-
gia de resolução do problema1
.
Considerando que uma situação de emergên-
cia não possui hora nem local para acontecer, ressal-
ta-se a necessidade de capacitação, e que para a ação
em emergência em saúde mental deve-se incluir to-
dos os trabalhadores da instituição (serviços gerais,
apoio, administrativo, segurança, técnicos da área
saúde ou que integram a equipe)14
.
Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2008 jul/set; 16(3):399-403. • p.403
Estelmhsts P, Brusamarello T, Borille D, Maftum MA
Embora, na maioria das vezes, o paciente se
encontre em intenso estado de agitação, risco e/ou
confusão mental, o episódio deverá ser esclarecido a
ele, se possível durante a realização da técnica. Tam-
bém, posteriormente em grupo ou individualmente,
deve ser discutido pelos membros da equipe, tanto
com o paciente que recebeu a contenção como para
os demais pacientes, o motivo, a necessidade e os
sentimentos envolvidos no processo, para que a
mesma se torne uma medida terapêutica, pois, caso
contrário, a compreensão poderá ficar distorcida e
ser entendida apenas como uma contenção ou uma
medida de repressão1,3,7
.
Em uma situação de extremo risco, na qual o
paciente se encontra muito alterado, com possibili-
dades de agressão e, ainda, se porta objetos como
arma de fogo, arma branca, caco de vidro e ameaça
quem dele se aproxima, caso não se disponha de uma
equipe em quantidade suficiente ou capaz para
abordá-lo, é preciso chamar pessoal especializado,
como corpo de bombeiros. Entretanto, um profissi-
onal deve tentar manter a situação sob controle di-
alogando com certa distância até chegar reforço, pois
não é recomendado que uma pessoa sozinha atenda
um paciente nessas condições1
.
CONCLUSÃO
Neste estudo evidenciou-se diferentes ações da
equipe de enfermagem nas situações de emergência,
como o uso da comunicação terapêutica e controle
dos movimentos do paciente mediante a técnica de
contenção no leito. Os sujeitos relataram que se sen-
tem preparados para atuar nas emergências, porém
necessitam de ajuda dos colegas, evidenciando a
importância do trabalho em equipe. Assim, consi-
dera-se importante uma educação permanente que
reforce o trabalho em equipe e vise à capacitação
profissional no atendimento de emergência em saú-
de mental para promover um cuidado de melhor
qualidade ao paciente.
É necessária a consciência de que as emergên-
cias em saúde mental não ocorrem somente nas de-
pendências dos hospitais psiquiátricos, elas podem
eclodir em hospitais gerais, nas unidades básicas de
saúde e em todos os espaços de convívio social. Para
isso, os profissionais de saúde devem estar capacita-
dos para intervir rapidamente nessas situações.
REFERÊNCIAS
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princípios e prática. Tradutora Dayse Batista. 6a
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Porto Alegre (RS): Artmed; 2001.
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quiatria: ciências do comportamento e psiquiatria clí-
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diferentes contextos da enfermagem. Barueri (SP):
Editora Manole; 2005.
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feitura de Curitiba]. 2002 [citado em 12 maio 2008];
[aproxim 111p.] Disponível em: www.curitiba.pr.gov.br/
saude/sms/protocolos/mental.pdf
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de 09 de agosto de 2000. Normatiza o atendimento
médico a pacientes portadores de transtorno mental.
[citado em 07 maio 2008]. Disponível em http://
www.cremers.com.br/cremers/Interface/biblioteca/pa-
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qualitativa em saúde. 8a
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11.Polit DF, Hungler BP, Beck CT. Fundamentos de
pesquisa em enfermagem: métodos, avaliação e utili-
zação. Tradutora Ana Thorell. 5a
ed. Porto Alegre
(RS): Artmed; 2004.
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nho de 1986. Dispõe sobre a regulamentação do exer-
cício da enfermagem e dá outras providências. Diário
Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 26
Jun. 1986. Seção 1:1.
13.Organização Mundial da Saúde. Prevenção do sui-
cídio: um manual para profissionais da saúde em aten-
ção primária. [citado em 07 maio 2008]. Genebra (Swi);
2000. Disponível em http://www.who.int/mental_health/
prevention/suicide/en/suicideprev_phc_port.pdf
14.Souza MGG, Cruz EMTN, Stefanelli MC. Educa-
ção continuada e enfermeiros de um hospital psiquiá-
trico. Rev enferm UERJ 2007; 15:190-6.
Recebido em: 11.09.2007
Aprovado em: 22.05.2008

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Prática de enfermagem em emergências de saúde mental durante internação

  • 1. Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2008 jul/set; 16(3):399-403. • p.399 Estelmhsts P, Brusamarello T, Borille D, Maftum MA RESUMO:RESUMO:RESUMO:RESUMO:RESUMO: Pesquisa qualitativa descritiva desenvolvida em 2007, em instituição psiquiátrica do Paraná. O objetivo do estudo foi conhecer como se desenvolve a prática de enfermagem nas situações de emergências a pacientes internados. Participaram dois enfermeiros e seis auxiliares de enfermagem. Os dados foram obtidos mediante entrevista semi-estruturada e observação participante e organizados em categorias. São resultados: a concepção dessas emergências; os cuidados de enfermagem; a importância do diálogo como primeira intervenção junto à pessoa que necessita de atendimento de emergência; a contenção rotineira do paciente no leito, que se contrapõe ao observado em campo, pois geralmente toda a equipe busca o controle da situação primeiramente pelo diálogo; e a capacitação profissional para cuidar em emergên- cia. Concluiu-se que há a necessidade de educação permanente em enfermagem como agente de transformação da realidade na área da saúde mental no Brasil. Palavras-chave:Palavras-chave:Palavras-chave:Palavras-chave:Palavras-chave: Enfermagem; saúde mental; emergência; equipe de enfermagem. ABSTRACTABSTRACTABSTRACTABSTRACTABSTRACT: Descriptive qualitative study conducted in 2007 at a psychiatric institution in Paraná State, Brazil. Aim: to learn how nursing care is provided to hospitalized patients emergency mental health situations. The participants were two nurses and six nurse assistants. Data were obtained by semi-structured interview and participant observation and were organized into categories. The results were: how such emergences are conceived; nursing care; the importance of dialogue as first approach to the person needing emergency care; routine restraint of patients in bed (contrary to what was observed during the study, when usually the whole team sought to control the situation firs by dialogue); and the need for further capacity-building in emergency care. It was concluded that permanent education is needed in nursing as a change-making agent in mental health care in Brazil. Keywords:Keywords:Keywords:Keywords:Keywords: Nursing; mental health; emergency; nursing team. RESUMEN:RESUMEN:RESUMEN:RESUMEN:RESUMEN: Investigación cualitativa descriptiva desarrollada en 2007, en una institución psiquiátrica del Estado de Paraná/ Brasil. Objetivo: Conocer como se desarrolla la práctica de enfermería en relación a situaciones de emergencias en pacientes durante el periodo de internación. Los sujetos fueron dos enfermeros y seis auxiliares de enfermería. Los datos fueron obtenidos por medio de entrevista semiestructurada y por observación participante y organizados en categorías. Son resultados: la concepción de esas emergencias; los cuidados de enfermería; la importancia del diálogo como primera intervención junto a la persona que necesita de atendimiento de emergencia; la contención rutinaria del paciente en el lecho, lo que se contrapone al observado en campo porque, generalmente, todo el equipo busca el control de la situación primeramente por el diálogo; y la capacitación profesional para cuidar en emergencia. Se concluyó que hay necesidad de educación permanente en la enfermería como agente de transformación de la realidad en el área de la salud mental en Brasil. Palabras clavePalabras clavePalabras clavePalabras clavePalabras clave: Enfermería; salud mental; emergencia; equipo de enfermería. EMERGÊNCIAS EM SAÚDE MENTAL: PRÁTICA DA EQUIPE DE ENFERMAGEM DURANTE O PERÍODO DE INTERNAÇÃO MENTAL HEALTH EMERGENCIES: NURSING TEAM PRACTICE DURING THE PERIOD OF INTERNMENT EMERGENCIAS EN SALUD MENTAL: PRÁCTICA DEL EQUIPO DE ENFERMERÍA DURANTE EL PERIODO DE INTERNACIÓN Priscila EstelmhstsI Tatiana BrusamarelloII Dayane BorilleIII Mariluci Alves MaftumIV I Acadêmica. Curso de Graduação em Enfermagem. Universidade Federal do Paraná-UFPR. II Acadêmica. Curso de Graduação em Enfermagem. Universidade Federal do Paraná-UFPR. III Enfermeira. Mestranda do Programa de pós-graduação em Enfermagem da UFPR. Membro do Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão do Cuidado Humano de Enfermagem – NEPECHE. Co-orientadora. IV Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente do Departamento de Enfermagem da UFPR. Membro do NEPECHE. Orientadora. Email maftum@ufpr.br. INTRODUÇÃO Osprofissionaisqueatuamnaenfermagemfreqüen- tementesedeparamcomsituaçõesdeemergênciaem saúdementalduranteointernamentodepacientesem hospitalpsiquiátricoeemoutrosserviçosdesaúde.Para que o cuidado de enfermagem nas emergências desta áreasejaeficaz,éimportanteumconhecimentoamplo sobreoassunto,paranãocolocaremriscoasegurança dopacientee,ainda,daspessoasaoseuredor.
  • 2. p.400 • Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2008 jul/set; 16(3):399-403. Emergências em saúde mental Quando uma pessoa apresenta comportamen- tos que caracterizam emergência, todos os membros da equipe de saúde devem ter prontidão para reali- zar o atendimento com presteza. Essa atitude é ne- cessária, pois em geral são situações que necessitam de mais de um profissional para prestar os primeiros cuidados, bem como a sua continuidade até que a situação esteja estável, e estabelecido ou dado o pros- seguimento do plano terapêutico. De um modo ge- ral, as situações emergenciais não são resolvidas por umúnicoprofissional;antes,elasrequeremumaequi- pe coesa e capacitada para tal1 . Para prestar um cuidado efetivo à pessoa que se encontra em momento de crise ou de um episódio agudo em saúde mental, é essencial que os profissio- nais procurem identificar a percepção que ela tem em relação ao que está vivenciando, os suportes situacionais e mecanismos de enfrentamento que possui. Porquanto a pessoa pode apresentar uma per- cepção diferenciada dos acontecimentos que con- tribuirá para o surgimento de comportamentos pre- judiciais, como auto-agressão e manifestação de pen- samentosuicida,irritabilidade,delírio,entreoutros1,2 . É importante que os profissionais tenham a cla- reza de que a intervenção na crise é uma estratégia de cuidado breve, com tempo limitado e focalizado. Destarte, o propósito dessa ação não é fazer uma te- rapia em profundidade, mas resolver imediatamente umasituaçãocrítica,impedindoasuaprogressãopara evitar danos maiores ao paciente e às demais pessoas envolvidas1,3 . Os profissionais de enfermagem geralmente são em maior número na equipe de saúde, e permane- cem mais tempo próximos aos pacientes; assim, en- contram-se comumente em posição de oferecer aju- da nos momentos de exacerbação dos sinais e sinto- mas e surgimento de crise. Este trabalho aborda a temática atuação de enfermagem em emergência em saúde mental em hospitalpsiquiátricoetevecomoquestãonorteadora: como acontece a prática da enfermagem à pessoas com transtornos mentais em situação de emergência durante o período de internação? O objetivo do estudo foi co- nhecer como se desenvolve a prática de enferma- gem nas situações de emergência a pacientes no pe- ríodo de internação hospitalar. REFERENCIAL TEÓRICO Emergência em saúde mental se refere a uma condição em que a pessoa manifesta alteração do pensamento (delírio) ou nas atitudes (agitação motora, atos agressivos físicos e/ou verbais), o que requer atendimento rápido. Essas alterações estão associadas a risco de vida para a própria pessoa e /ou para terceiros, pois, nas síndromes ou sintomas psi- quiátricos mais freqüentes, estão presentes agressividade, comportamento suicida e delírio com o juízo crítico comprometido4 . Nos serviços especializados de emergência em saúde mental, estima-se que em torno de 20% dos pacientes atendidos são suicidas e 10% apresentam comportamento agressivo. Os diagnósticos mais co- muns envolvem a depressão, mania, esquizofrenia e dependência de álcool. Cerca de 40% dos pacientes atendidos são encaminhados para internação4 . As pessoas que se encontram em uma unidade psiquiátrica geralmente estão em crise, porquanto suas habilidades de enfrentamento estão prejudica- das e, quando se sentem ameaçadas por motivo real ou imaginário, podem manifestar comportamentos que requeiram intervenções da equipe1,4,5 . Antesderealizarumaintervenção,deve-seava- liar a situação do paciente para depois elaborá-la e aplicá-la, agindo com objetividade. A equipe deve manter-secalma,evitaratitudesameaçadoras,priorizar asegurançafísicaeemocionaldopaciente,estabelecer limitesemostrar-lheasconseqüênciasdoseuato1-3 . As ações da equipe devem ter o objetivo de ajudar o paciente a tomar consciência de seus senti- mentos, identificá-los e expressá-los de um modo apropriado e compreensível pelos profissionais1 . As- sim, a abordagem da comunicação terapêutica, aten- tando-se para as expressões não verbais6 , colabora para diminuir ou eliminar o comportamento agressi- vo do paciente. É preciso abordar o paciente, aproximando-se calmamente, informando-o que ele não está sozi- nho e transmitindo-lhe o desejo de ajudar e preocu- pação com seu bem-estar3 . Nesse sentido, servir de apoio, ouvir cuidadosamente e com atenção, de- monstrando interesse pela situação que está vivenciando, mas sem hesitar de pedir ajuda quan- do necessário. É preciso avaliar as condições físicas do paciente, verificar se ele está ansioso ou agressi- vo, porque isso pode diminuir sua atenção, memória e orientação, não permitindo a compreensão de in- formações mais complexas2,5,6 . Algumas medidas são eficazes tanto para pre- venir como minimizar comportamentos alterados do paciente com transtorno mental durante uma crise. Um clima de respeito, diálogo franco e genuíno in- teresse pelo paciente são atitudes essenciais que os profissionais deverão ter com pessoas em situação de
  • 3. Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2008 jul/set; 16(3):399-403. • p.401 Estelmhsts P, Brusamarello T, Borille D, Maftum MA emergência. Ainda, deve-se procurar manter o am- biente de trabalho seguro, com um clima de harmo- nia: remover objetos que possam ser usados como instrumentos de agressão; dispor os móveis de modo a permitir fácil acesso para entrada e saída da equi- pe, com possibilidade de afastar os demais pacientes; não ficar de costas para o paciente e não permitir que ele fique entre o profissional e a porta1,3 . A experiência é necessária e auxilia o profissi- onal na decisão de quando estabelecer e/ ou inter- romper o diálogo1 , sobre o momento de adotar ou- tros recursos, como a medicação e, como última es- colha, a contenção no leito com faixas de algodão, atentando para o uso correto da técnica. Logo que seja possível, a equipe deve discutir o ocorrido ava- liando as medidas tomadas7 . Consta na Resolução nº. 1.598/2000, do Con- selho Federal de Medicina, a indicação e prescrição de contenção física ao paciente psiquiátrico pelo médico8 . Entretanto, não existe qualquer normativa do Conselho Federal de Enfermagem, e isto consti- tui lacuna na assistência à pessoa com transtorno mental. No Protocolo Integrado Saúde Mental de Curitiba, há diretrizes quanto ao uso de contenção física a pacientes com manifestação de agitação e agressividade em que seja avaliada a extrema neces- sidade da mesma7 . Quando for julgado imprescindível o uso da contenção física, todos os procedimentos realizados pela equipe devem ser anotados no prontuário do paciente, pois, além de contribuir para a continui- dade do cuidado, serve como documento legal, ma- terial de evidências ou não de ato de imperícia, im- prudência ou negligência, diante da justiça e/ou con- selho profissional9 . METODOLOGIA Trata-se de pesquisa qualitativa do tipo descri- tiva, desenvolvida em um Hospital Psiquiátrico do Paraná, em 2007. O estudo qualitativo se justifica por envolver as relações humanas no campo da saú- de e, assim, permite aprofundar o conhecimento das dimensões e do significado do fenômeno estudado10 . Nas pesquisas descritivas, têm-se a finalidade de des- crever as características de determinada população ou acontecimento contribuindo para elucidar e com- preender o fenômeno11 . Dos 18 profissionais de enfermagem que traba- lham no turno da manhã nas quatro unidades de pacientes agudos, aceitaram participar da pesquisa dois enfermeiros e seis auxiliares de enfermagem. O projeto foi aprovado no Comitê de Ética de Pesqui- sa da Universidade Federal do Paraná sob o nº 3470270704. Para garantir o sigilo e anonimato, os sujeitos foram identificados com letras, para os en- fermeiros (E) e para os auxiliares (A), seguidas de números arábicos. Obteve-se os dados mediante entrevista semi- estruturada com as questões: O que você entende por emergências em saúde mental? Quais situações você considera emergência? Qual a sua atitude di- ante de uma emergência em saúde mental? Você se sente capacitado para atuar em uma situação de emergência em saúde mental? Utilizou-se, também, a observação participante da realidade pesquisada com registro em diário de campo, a qual ocorreu durante as 360 horas de estágio curricular, sendo que era feito o rodízio de participação de uma manhã em cada unidade e assim sucessivamente. Analisou-se os dados com a análise temática de Minayo10 : pré-análise (organização do material), exploração do material (codificação, classificação, categorização), tratamento dos resultados obtidos e interpretação (tratamento e reflexão). RESULTADOS E DISCUSSÃO A idade dos oito sujeitos variou entre 35 e 62 anos; seis são do sexo feminino. A conclusão do cur- so profissional variou de 15 a 35 anos e o tempo em que atuam na saúde mental variou de 15 a 40 anos; três auxiliares e um enfermeiro possuem o mesmo tempo de formação profissional e de atuação na ins- tituição e nunca trabalharam em outro serviço de saúde; um enfermeiro tem duplo vínculo atuando também em um hospital geral; um auxiliar trabalha somente na instituição campo desta pesquisa, mas já exerceu atividade em um hospital geral; dois auxili- ares têm maior tempo de trabalho na instituição do que de formação, e nunca exerceram a enfermagem em outro serviço, sendo que estes caracterizam a categoria de atendente extinta com a Lei nº. 7.498/ 86, que regulamenta o Exercício Profissional de En- fermagem12 . Os outros dois participantes trabalham em hospital geral. Emergências em Saúde Mental: concepção dos participantes Para os sujeitos, emergência se trata de uma si- tuação em que o paciente apresenta dificuldade de manter o controle do seu comportamento expres- sando atitudes que podem pôr em risco sua própria integridade e a de outras pessoas. Listaram situações
  • 4. p.402 • Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2008 jul/set; 16(3):399-403. Emergências em saúde mental características de emergência enfocando os diferen- tes tipos de delírios, comportamento suicida, autodestrutivo e todos citaram o comportamento agressivo, como exemplificado com as falas a seguir. Quando o paciente está correndo risco de seguran- ça para sua integridade física ou põe em risco outras pessoas, familiares, pessoas na rua, enfim, que não tenha controle sobre seu comportamento. Emergên- cia é aquilo que envolve risco à integridade física do paciente e dos que estão ao redor dele (E.1). Geralmente, a auto-agressão é coisa mais pra cha- mar a atenção, não é a emergência das emergênci- as. Tem paciente que quebra o vidro, na hora que vê o sangue ele para (A.6). Deacordocomaliteratura,emergênciaemsaú- de mental se caracteriza quando uma pessoa apre- senta qualquer perturbação nos pensamentos, senti- mentos ou ações que precisem de intervenção ime- diata para protegê-la, ou aos demais ao redor, de ris- co de vida.Tem ampla abrangência e inclui o abuso de substâncias, violência, suicídio, homicídio, estu- pro e problemas sociais4 . Durante o período pesquisado, acompanhamos dois internamentos cujas causas foram por distúrbi- os do pensamento e da percepção, tentativa de sui- cídio e comportamento agressivo. Embora vários pacientes tenham relatado e ainda constasse em seus prontuários a tentativa de suicídio como causa de sua internação, não foi presenciada nenhuma ten- tativa de suicídio durante a realização deste estudo. As ameaças de suicídio, tentativas, gestos e o suicídio consumado caracterizam o comportamento autodestrutivoousuicida.Algumastentativaspodem ser chamadas de gestos suicidas, cujo objetivo é cha- mar a atenção e não consumar o ato, mas não se deve ignorá-la. Independentemente de qual categoria a pessoa esteja, qualquer comportamento suicida, não importa qual a intenção, deve ter total atenção da equipe de saúde3,13 . Em discordância ao referido por um depoente, é preciso ajudar o paciente quando ele faz ameaças ou tenta o suicídio, pois pessoas que não querem morrer e só estão tentando pedir ajuda po- dem, porém, conseguir consumar o ato suicida1 . O Cuidado de Enfermagem em Situação de Emergência Os sujeitos relataram que, em uma situação de emergência, procuram dialogar com o paciente e proteger aquele que se encontra em quadro agudo, bem como os demais da unidade. Para eles, é preciso ter habilidade para abordar o paciente com transtor- no mental e na seqüência determinar outros cuida- dos a serem realizados, como administração de me- dicação e a contenção física. Mencionaram a técni- ca de contenção física como rotina na instituição. Tentar ao máximo proteger as outras pessoas. A rotina aqui é contenção física quando o paciente está no surto e a partir disso, avaliar se precisa de medi- cação, só de contenção, conversa (E.1). Quando o paciente chega muito alterado, além da medicação, se está agressivo aí vem a contenção (A.5). Os profissionais relataram o uso da contenção do paciente no leito como rotina; mas esta técnica deve ser utilizada como último recurso, após esgota- das as tentativas de acalmá-lo pela abordagem ver- bal. Durante a observação da realidade, constatou- se que os funcionários, de um modo geral, dialoga- vam com os pacientes para solucionar as intercorrências sem usar a contenção. Nos momentos de emergência, é importante saber ouvir o paciente, usar as técnicas de comuni- cação terapêutica e a comunicação não verbal, re- forçando a idéia de que a equipe de enfermagem se preocupa com ele. A Capacitação dos Profissionais de Enfer- magem para Cuidar em Emergência Os sujeitos relataram que se sentem prepara- dos para agir de forma rápida e eficiente em situa- ções de emergência em saúde mental e reportaram a necessidade da ajuda dos colegas em determinadas situações. Se o paciente está extremamente agressivo e não vai dar conta, tira as pessoas de volta, as pacientes e, enquanto não chegar ajuda você não vai poder fa- zer nada sozinha (E.1). Sinto-me capacitada, aprendi muito aqui. Quando vejo o comportamento dos pacientes sinalizando que não estão bem, fica mais fácil perceber e até falar o que está acontecendo (E.2.) O cuidado nas situações de emergência exige uma equipe capacitada, pois é necessária uma ação imediata. Ressalta-se que a capacitação deve ser direcionada para a avaliação do paciente e a impor- tância da intervenção verbal como primeira estraté- gia de resolução do problema1 . Considerando que uma situação de emergên- cia não possui hora nem local para acontecer, ressal- ta-se a necessidade de capacitação, e que para a ação em emergência em saúde mental deve-se incluir to- dos os trabalhadores da instituição (serviços gerais, apoio, administrativo, segurança, técnicos da área saúde ou que integram a equipe)14 .
  • 5. Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2008 jul/set; 16(3):399-403. • p.403 Estelmhsts P, Brusamarello T, Borille D, Maftum MA Embora, na maioria das vezes, o paciente se encontre em intenso estado de agitação, risco e/ou confusão mental, o episódio deverá ser esclarecido a ele, se possível durante a realização da técnica. Tam- bém, posteriormente em grupo ou individualmente, deve ser discutido pelos membros da equipe, tanto com o paciente que recebeu a contenção como para os demais pacientes, o motivo, a necessidade e os sentimentos envolvidos no processo, para que a mesma se torne uma medida terapêutica, pois, caso contrário, a compreensão poderá ficar distorcida e ser entendida apenas como uma contenção ou uma medida de repressão1,3,7 . Em uma situação de extremo risco, na qual o paciente se encontra muito alterado, com possibili- dades de agressão e, ainda, se porta objetos como arma de fogo, arma branca, caco de vidro e ameaça quem dele se aproxima, caso não se disponha de uma equipe em quantidade suficiente ou capaz para abordá-lo, é preciso chamar pessoal especializado, como corpo de bombeiros. Entretanto, um profissi- onal deve tentar manter a situação sob controle di- alogando com certa distância até chegar reforço, pois não é recomendado que uma pessoa sozinha atenda um paciente nessas condições1 . CONCLUSÃO Neste estudo evidenciou-se diferentes ações da equipe de enfermagem nas situações de emergência, como o uso da comunicação terapêutica e controle dos movimentos do paciente mediante a técnica de contenção no leito. Os sujeitos relataram que se sen- tem preparados para atuar nas emergências, porém necessitam de ajuda dos colegas, evidenciando a importância do trabalho em equipe. Assim, consi- dera-se importante uma educação permanente que reforce o trabalho em equipe e vise à capacitação profissional no atendimento de emergência em saú- de mental para promover um cuidado de melhor qualidade ao paciente. É necessária a consciência de que as emergên- cias em saúde mental não ocorrem somente nas de- pendências dos hospitais psiquiátricos, elas podem eclodir em hospitais gerais, nas unidades básicas de saúde e em todos os espaços de convívio social. Para isso, os profissionais de saúde devem estar capacita- dos para intervir rapidamente nessas situações. REFERÊNCIAS 1.Stuart GW, Laraia MT. Enfermagem psiquiátrica: princípios e prática. Tradutora Dayse Batista. 6a ed. Porto Alegre (RS): Artmed; 2001. 2.Azevedo JMR, Barbosa MA. Triagem em serviços de saúde: percepções dos usuários. Rev enferm UERJ. 2007; 15:33-9. 3.Barros S, Rolim MA. Assistência de enfermagem nas emergências psiquiátricas. Rev Escol Enferm USP. 1992; (26):125-36. 4.Kaplan HI, Sadock B, Sadock V. Compêndio de psi- quiatria: ciências do comportamento e psiquiatria clí- nica. 9a ed. Porto Alegre (RS): Artes Médicas; 2007. 5.Kantorski LP, Souza J, Willrich JQ, Mielke FB. O cuidado em saúde mental: um olhar a apartir de do- cumentos e da observação participantes. Rev enferm UERJ. 2006; 14: 366-71. 6.Stefanelli MC, Carvalho EC. A comunicação nos diferentes contextos da enfermagem. Barueri (SP): Editora Manole; 2005. 7.Venetikides CH, Maceno DM, Oliveira EA, Fabre LV, Halboth NV, Simão MG. Protocolo integrado de saúde pública em Curitiba. [documento oficial da pre- feitura de Curitiba]. 2002 [citado em 12 maio 2008]; [aproxim 111p.] Disponível em: www.curitiba.pr.gov.br/ saude/sms/protocolos/mental.pdf 8.Conselho Federal de Medicina. Resolução nº 1.598, de 09 de agosto de 2000. Normatiza o atendimento médico a pacientes portadores de transtorno mental. [citado em 07 maio 2008]. Disponível em http:// www.cremers.com.br/cremers/Interface/biblioteca/pa- receres_ resolucoes.jsp#15982000. 9.Timby BK. Atendimento de enfermagem: conceitos e habilidades fundamentais. Tradutora Regina Garcez. 6a ed. Porto Alegre (RS): Artmed; 2001. 10.Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 8a ed. São Paulo: Hucitec; 2004. 11.Polit DF, Hungler BP, Beck CT. Fundamentos de pesquisa em enfermagem: métodos, avaliação e utili- zação. Tradutora Ana Thorell. 5a ed. Porto Alegre (RS): Artmed; 2004. 12.Governo Federal (Br). Lei nº 7.498, de 25 de ju- nho de 1986. Dispõe sobre a regulamentação do exer- cício da enfermagem e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 26 Jun. 1986. Seção 1:1. 13.Organização Mundial da Saúde. Prevenção do sui- cídio: um manual para profissionais da saúde em aten- ção primária. [citado em 07 maio 2008]. Genebra (Swi); 2000. Disponível em http://www.who.int/mental_health/ prevention/suicide/en/suicideprev_phc_port.pdf 14.Souza MGG, Cruz EMTN, Stefanelli MC. Educa- ção continuada e enfermeiros de um hospital psiquiá- trico. Rev enferm UERJ 2007; 15:190-6. Recebido em: 11.09.2007 Aprovado em: 22.05.2008