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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA
PROF. DR. CLÁUDIO C. NATALINI
Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Fluminense (1984), mestrado em
Cirurgia Veterinária pela Universidade Federal de Santa Maria (1991), doutorado (Ph.D.) University of
Minnesota (2000) e pós-doutorado realizado na Louisiana State University no tema farmacologia e biologia
molecular. Atualmente é professor adjunto do departamento de farmacologia, da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul.
Esta apostila originou o livro “TEORIA E TÉCNICAS EM ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA” que possui
como colaboradores Alexandre da Silva Poydoro, Jefferson da Silva Pires, Fábio Futema, Luciana
Dambrósio Guimarães e Simone Bopp. O livro foi editado pela editora Artmed em 2007.
I - Princípios de Anestesiologia Veterinária
Capítulo 1
Introdução à Anestesiologia
TERMINOLOGIA UTILIZADA EM ANESTESIOLOGIA:
Anestesiologia
Termo utilizado para descrever o estudo dos fármacos e técnicas empregadas para
obtenção do estado anestésico. Deve ser diferenciado de anestesia que significa o ato
anestésico em si. A anestesiologia veterinária foi criada na Inglaterra em 1846 logo após
a demonstração do uso do éter em seres humanos pelo dentista Inglês MORTON no
mesmo ano. Desde então as técnicas e drogas anestésicas utilizadas em animais
acompanham a evolução da anestesiologia humana.
Anestesia
Anestesia é a obtenção de um estado reversível de não reconhecimento do
estímulo doloroso pelo cortex cerebral, podendo ser localizada ou geral com a obtenção
de inconsciência. Deve ser lembrado que o estado de inconsciência não implica
obrigatoriamente na ocorrência de anestesia apropriada para determinados procedimentos
cirúrgicos. É produzida através do uso de fármacos anestésicos que deprimem o sistema
nervoso central ou periférico. Os fármacos anestésicos desejáveis são aqueles que
produzem seu efeito farmacológico com menor freqüência possível de efeitos adversos. A
obtenção do estado anestésico pode envolver a associação de diversas técnicas e agentes.
Anestesia Local
Compreende a administração local de um ou mais agentes anestésicos com o
objetivo de produzir anestesia a uma parte localizada do organismo. Quando utilizada
isoladamente não envolve inconsciência.
Anestesia Regional
Compreende o bloqueio anestésico de uma parte localizada do organismo à
semelhança da anestesia local, embora na anestesia regional o objetivo seja o de
anestesiar um tronco nervoso e produzir anestesia de uma maior área do organismo. De
forma semelhante a anestesia local, quando utilizada isoladamente não envolve
inconsciência.
Anestesia Geral
Significa perda total da consciência e ausência de reconhecimento do estímulo
doloroso ou de resposta à manipulação diagnóstica. A anestesia geral pode ser obtida com
fármacos injetáveis ou inalatórios. Em geral a anestesia geral envolve a combinação de
mais de um fármaco, embora seja possível o uso de uma único agente (propofol ou
isoflurano por exemplo).
Anestésico
Adjetivo que define o fármaco empregado para anestesiar o paciente, os
equipamentos e aparelhos utilizados e as demais condutas clínicas relacionadas ao ato
anestésico como por exemplo os exames pré-anestésicos. O termo pré-anestésico pode
ser utilizado para designar os procedimentos e fármacos empregados antes da indução
anestésica. O termo “pré-anestesia” não é correto pois indicaria uma “anestesia antes da
anestesia” o que é técnicamente incorreto.
Tranqüilização ou Neurolepsis
Estado obtido com fármacos ou outras técnicas como hipnose ou acupuntura em
que o paciente permanece consciente embora calmo sem responder exageradamente a
manipulação. O animal tranqüilizado não deve ser submetido a procedimentos dolorosos
ou manipulado em excesso.
Sedação
Estado semelhante a tranqüilização embora com maior depressão do sistema
nervoso central em que o animal está consciente e responde com menos intensidade a
manipulação. No animal sedado com fármacos analgésicos, é possível a realização de
procedimentos pouco dolorosos ou minimamente invasivos como remoção de suturas de
pele, exames otoscópicos, exames radiográficos que não envolvam administração
parenteral de contrastes e etc.
Hipnose
Chamado sono artificial por que é induzido farmacologiamente ou através de
técnicas de auto-sugestão em seres humanos. É um estado característico da anestesia
geral pois neste caso o animal é induzido ao sono artificial.
Narcose
Estado de profunda sedação em que o animal não está em sono artificial porém
está completamente desligado do ambiente que o cerca. É um estado característico
produzido por analgésicos narcóticos em cães e por intoxicação por alguns gases como
monóxido e dióxido de carbono.
Analgesia
Perda da sensibilidade e percepção do estímulo doloroso. Os fármacos
analgésicos produzem sua ação no sistema nervoso central, principalmente na medula
espinhal. Desta forma interrompem a transmissão do estímulo doloroso ao cortex
cerebral.
Acinesia
Perda do controle motor e ausência de movimento. Esta definição é importante
pois a maioria das técnicas anestésica produz efeito acinético o que é desejável pois o
paciente não deve apresentar movimento voluntáio ou involuntário quando sob anestesia.
Neuroleptoanalgesia
Termo que descreve o estado de narcose associado a profunda analgesia. Na
neuroleptoanalgesia o paciente não reconhece estímulo dolorosos embora não seja
possível a realização de procedimentos cirúrgicos maiores pois o paciente ainda está
consciente.
Catalepsia
Estado caracterítico produzido por anestésicos dissociativos derivados da
fenciclidina como a quetamina e a tiletamina. Ocorre rigidez muscular dos membros
locomotores e o animal geralmente não responde a estimulação ou manipulação. É um
estado inadequado para cirurgia e alguns procedimentos diagnósticos pois não ocorre
relaxamento muscular.
Anestesia Dissociativa
Estado de anestesia geral em que o animal está dissociado do ambiente. Ocorre a
interrupção da neurotransmissão no nível talâmico embora a atividade no nível do cortex
cerebral seja mantida. Em geral o animal não responde a estímulos dolorosos mas
continua consciente e os reflexos protetores laríngeos como a tosse e faríngeos como a
deglutição estejam presentes.
USOS DOS FÁRMACOS ANESTÉSICOS E DAS TÉCNICAS DE ANESTESIA:
- Contenção
- Exames
- Manipulação de animais agressivos e espécies selvagens
- Cirurgias
- Controle de convulsões
- Eutanásia
VIAS DE ADMINISTRAÇÃO DOS ANESTÉSICOS:
1. Intravenosa
2. Intramuscular
3. Inalatória
4. Subcutânea
5. Tópica
6. Epidural
7. Espinhal (subaraquenóide)
Acesso Venoso e Cateterização Venosa:
O acesso venoso é utilizado em anestesiologia para administração de fármacos
anestésicos, medicamentos utilizados no período perioperatório (antibióticos, fluidos,
antiinflamatórios) e medicamentos em caso de emergência como parada cardíaca ou
respiratória.
Em animais as veias mais comumente utilizadas são a cefálica e safena em pequenos
animais e a jugular em grandes animais. Em suínos ainda utiliza-se a veia marginal da
orelha.
O acesso venoso poder ser realizado com uma agulha de calibre apropriado para a
espécie, uma dispositivo venoso como o butterfly ou um catéter venoso. Existem vários
calibres e tipos de catéteres disponíveis. A grande vantagem do catéter plástico está no
fato do equipamento não se deslocar quando apropriadamente instalado, poder ser
mantido por períodos prolongados de tempo para posterior terapia (fluidos e antibióticos).
Os dispositivos do tipo agulha hipodérmica e butterfly podem lacerar o vaso sangüíneo. A
regra geral para a instalação de um catéter venoso ou a punção venosa é a tricotomia da
região, antissepsia com álcool para os casos de punção simples e com iodo-povidona e
álcool para a instalação de um catéter, e a compressão venosa distalmente ao ponto de
punção.
Acesso Venoso Periférico no Cão:
Catéter Venoso
Butterfly
Punção Venosa Periférica no Cão
Cateterização Venosa Central no Cão
Cateterização Venosa Central no Eqüino
AVALIAÇÃO DO PACIENTE ANTES DO PROCEDIMENTO ANESTÉSICO
Uma avaliação clínica apropriada do paciente se faz necessária antes da
administração de fármacos anestésicos. O cliente ou proprietário do animal deve ser
informado dos riscos que a anestesia envolve e é recomendado que seja assinado um
termo de autorização para o profissional proceder à anestesia. Nessa autorização deve
constar claramente que o cliente está ciente dos riscos anestésicos e permite o
procedimento no seu animal. Mesmo quando se procura utilizar os fármacos e técnicas
mais seguras, a falta de uma acurada avaliação clínica do paciente pode produzir
complicações que poderiam ser facilmente evitadas. Vários fatores estão envolvidos na
avaliação do paciente e, conseqüente seleção dos fármacos e técnicas mais apropriadas. O
exame inicial deve começar com uma avaliação física e história clínica do paciente. Para
isso, deve ser realizada uma boa anamnese procurando obter do cliente a mais completa e
acurada informação sobre o animal, principalmente aquelas relacionadas aos sistemas
cardiovascular, respiratório, renal e hepático. Informações sobre episódios anestésicos
anteriores também são valiosas. Os resultados dos exames físicos de ausculta cardíaca e
pulmonar, inspeção da coloração de mucosas, estado nutricional e as informações obtidas
do proprietário vão ditar a necessidade ou não de exames especializados como patologia
clínica, por exemplo.
Outros fatores importantes
Outros fatores são importantes na seleção da técnica anestésica como espécie
animal, raça, idade, sexo, peso corporal, temperamento do animal, tipo de procedimento a
ser realizado (cirúrgico ou diagnóstico), anestésicos e equipamentos disponíveis e
experiência profissional.
A raça do animal tem importância como no caso do Doberman Pinscher que
freqüentemente apresenta problemas de coagulação pela deficiência do fator de von
Wilebrand. Nestes casos o animal deve ser tratado com acetato de desmopressina IVou
intranasal 30 a 50 minutos antes do procedimento cirúrgico. O tempo de sangramnto da
mucosa oral deve ser avaliado antes da indução anestésica e deve ser inferior a 3 minutos.
Schnauzers miniatura, principalmente as fêmeas, não raro apresentam arritmias cardíacas
devendo ser procedido uma atenciosa auscultação e obtenção do ECG para essa espécie.
Cães da raça Greyhound ou outros galgos não devem ser anestesiados com tiobarbituratos
pois são mais susceptíveis a complicações anestésicas com esses fármacos, tais como
recuperação prolongada e excitação durante a recuperação. Os animais da raça Boxer são
mais susceptíveis aos efeitos dos derivados fenotiazínicos e as doses utilizadas nesta raça
devem ser as mínimas necessárias para a obtenção doe feito tranqüilizante desejado. As
raças braquicefálicas como o Bulldog e Pug comumente apresentam obstruções
anatômicas das vias aéreas superiores. Nesses animais o uso de fármacos pré-anestésicos
da função respiratória, como os derivados opióides merecem extrema atenção.
Freqüentemente os animais braquicefálicos necessitam receber oxigênio via máscara
antes da indução anestésica que deve ser obtida com fármaco de efeito rápido como os
tiobarbituratos ou o propofol e a intubação orotraqueal deve ser procedida rapidamente.
Outro fator a ser observado é a utilização de medicamentos antes ou durante a
anestesia. Antibióticos aminoglicosídeos (gentamicina, neomicina) podem causar
bloqueio neuromuscular. Quando associado a anestésicos voláteis (inalatórios) podem
causar severa depressão . A gentamicina em altas doses ou utilizada por períodos
prolongados pode causar insuficiência renal e pacientes que receberam esse medicamento
devem ter avaliada a função renal. Barbitúricos tais como o fenobarbital, utilizados para
tratar convulõesdevem ser mantidos embora possam produzir a indução de enzimas
hepáticas que metabolizam esses fármacos requerendo doses maiores de tiobarbituratos
(tiopental sódico) para a indução anestésica.
O uso de corticosteróides por mais de dois dias deprime a liberação de hormônios
adrenocorticotróficos (ACTH) reduzindo a capacidade do organismo de reagir ao estresse
imposto pela anestesia e cirurgia. Esses animais tratados com corticosteróides devem
receber hidrocortisona ou dexametasona IV antes da anestesia.
As condições nutricionais do paciente podem interferir com a anestesia por que
muitos animais muito obesos, em geral, apresentam algum grau de insuficiência cardíaca
e pode apresentar dificuldade ventilatória principalmente quando posicionados em
decúbito dorsal. Animais com peso corporal e percentual de gordura abaixo do normal
têm menor volume para distribuição de anestésicos, conseqüentemente, será produzida
uma maior concentração anestésica sangüínea para uma mesma dose, com maiores
efeitos adversos.
A seqüência de procedimentos a serem realizados para uma adequada avaliação
do paciente a ser anestesiado está resumida no Quadro 1.
Quadro 1 - avaliação do paciente para seleção da técnica anestésica
Resenha 1. espécie
2. raça
3. idade
4. sexo
História clínica 1. afecção médica ou cirúrgica
2. tempo de evolução da enfermidade
3. sinais e sintomas
4. envolvimento de órgãos vitais
5. medicação recente ou atual
6. anestesias prévias
Exame físico 1. peso corporal (kg)
2. estado físico (nutricional, grau de hidratação)
3. sistema cardiovascular
4. sistema respiratório
5. palpação abdominal
6. avaliação neurológica
7. sistema locomotor
8. tegumento
EXAMES LABORATORIAIS E COMPLEMENTARES
Havendo necessidade de exames complementares de patologia clínica ou outros, o
ideal é que eles sejam recentes, de no máximo 7 dias de antecedência e, em alguns casos,
inferior a 24h. Resultados de exames como gases sangüíneos, hematócrito e proteínas
totais do plasma podem sofrer alteração rápida, principalmente nas afecções agudas.
Alguns exames laboratoriais podem ser indicados de acordo com a idade do animal e seu
estado clínico. Esses exames podem ser agrupados como mostra o Quadro 2.
Quadro 2 - Exames laboratorias indicados por estado clínico e idade do paciente
Estado clínico Exames
Hígido com < 5 anos de idade 1. hematócrito
2. proteínas totais plasmáticas
3. contagem total de leucócitos
4. pesquisa de microfilária
Enfermidade moderada sem risco
imediato
1. Hemograma completo
2. uréia nitrogenada do sangue
3. creatinina do sangue
4. glicose sangüinea
5. CO2 total do sangue
6. Eletrólitos do sangue (Na+
, K+
, CL-
)
Enfermidade grave com risco imediato 1. todos os exames já citados
2. análise dos gases sangüíneos
3. exames específicos (coagulação)
4. provas de função hepática
5. provas de função renal
Exames complementares
Alguns exames complementares podem ser indicados antes do procedimento
anestésico, principalmente nos pacientes portadores de afecções cardiovasculares,
respiratórias e naqueles geriátricos ou traumatizados. Exames como eletrocardiograma
(ECG), pressão arterial, ultra-sonografa, radiologia e ecografia podem identificar lesões
específicas como altertações anatômicas, cardíacas, arritmias cardíacas, obstruções
vasculares e gastrintestinais e hiper ou hipotensão arterial. O quadro 5 apresenta um
resumo das indicações de exames de acordo com a afecção apresentada pelo paciente.
Classificação do paciente - estado físico
Após a realização do exame físico e clínico do paciente e obtenção e interpretação
dos exames laboratoriais, este paciente deve ser enquadrado em um dos estados físicos
segundo a classificação da Associação Americana de Anestesiologia (ASA). O quadro 3
apresenta a relação do estado físico e a classificação que o paciente vai obter após a
realização dos exames. Esta classificação é importante pois relaciona o paciente ao risco
anestésico a que vai ser submetido. Ela é um indicador para se acessar rapidamente os
riscos anestésicos de determinado paciente.
Quadro 3 - Classificação do estado físico conforme a Associação Americana de
Anestesiologia (ASA)
Estado físico Condição do paciente
1 normal, hígido
2 enfermidade sistêmica compensada. Ex. infecção urinária sob
tratamento
3 enfermidade sistêmica moderada, parcialmente compensada.
Ex. Insuficiência cardíaca sob tratamento embora o animal
apresente sinais clínicos
4 enfermidade sistêmica severa, não compensada, que apresenta
risco de vida constante ao paciente. Ex. Síndrome
dilatação/volvo gástrico
5 animal com risco de morte iminente, com poucas chances de
sobrevivência. Ex. hemorragias agudas graves
Categoria E (emergência) Utilizada nos casos em que a intervenção anestésico-cirúrgica
deve ser imediata. Aplica-se a qualquer estado físico. Assim,
um animal pode ser 1E (cão com laceração de córnea sem
qualquer outro problema sistêmico) ou 5E (eqüino em choque
por ruptura intestinal). Em ambos os casos há necessidade de
intervenção anestésico-cirúrgica imediata.
Preparação do Paciente
O paciente a ser anestesiado deve ser cuidadosamente preparado para prevenir
complicações.
- Hospitalização:
Preferencialmente o animal deve ser hospitalizado na noite anterior ao
procedimento anestésico-cirúrgico. Isto dá chances ao paciente de se aclimatar ao
ambiente hospitalar gradativamente e proporciona ao anestesiologista a chance de uma
melhor avaliação e instituir qualquer terapia necessária como, por exemplo, hidratação
em animais desidratados ou transfusão sangüínea em animais anêmicos.
- Jejum:
Com o objetivo de evitar o vômito e a possível aspiração de conteúdos gástricos
que podem levar a pneumonia grave. O jejum deve ser instituído sempre que possível em
animais que serão submetidos a anestesia geral e, em alguns casos de anestesia local ou
regional como laparotomias, pelo flanco em ruminantes. O quadro apresenta o tempo, em
horas, recomendado para jejum ns diferentes espécies domésticas. Nas espécies silvestres
e exóticas podem ser seguidos os tempos das espécies domésticas. Ressalta-se que em
filhotes e nas espécies de metabolismo elevado como aves e pequenos roedores o jejum
deve ser evitado pelo risco de hiopoglicemia. Nos casos em que o jejum é absolutamente
necessário, deve-se monitorar a glicose sangüínea desses animais e, se necessário,
administrar solução de dextrose ou glicose de 1% a 2,5% até que os valores de glicemia
estejam dentro da variação normal para a espécie.
Quadro 4 - Tempo de jejum prévio à anestesia nas espécies domésticas.
Espécie Tempo
Pequenos animais 1. de 8 a 12 h para sólidos
2. de 1 a 2 h para líquidos
Eqüinos 1. de 12 h para sólidos
2. de 1 a 2h para líquidos
Bovinos 1. de 24 a 48 h para sólidos
2. de 12 a 24 h para líquidos
Ovinos e caprinos 1. de 24 h para sólidos
2. de 12h para líquidos
Estabilização do paciente
O paciente a ser anestesiado deve ser adequadamente estabilizado antes de
receber fármacos anestésicos. O profissional deve ter em mente que os anestésicos podem
produzir alterações fisiológicas importantes tais como hipotensão, bradicardia,
taquicardia e hipóxia. Assim, cuidados tais como hidratar o animal, fazer transfusão de
sangue quando o hematócrito for inferior a 20%, antibioticoprofilaxia, controle da
temperatura corporal, da dor e terapia de apoio em animais politraumatizados ou sofrendo
de afecções mais graves, devem ser instituídos anteriormente ao uso de técnicas
anestésicas, principalmente na anestesia geral. Pacientes que vão receber anestesia local
também devem receber cuidados prévios à anestesia, pois em alguns casos, como
infecções no local da administração do anestésico local e hipotensão arterial podem ser
contra-indicações para o uso de técnicas como anestesia epidural ou bloqueios locais.
Quadro 5 – Exames recomendados de acordo com o quadro clínico
Condição Histór
ia
Estad
o
físico
H
t e
P
T
Uréia e
Creatini
na
EC
G
Funçã
o
hepáti
ca
Glicem
ia
Eletrólit
os
Coagulaç
ão
R
X
< 12
semanas
X X X X
Adulto
hígido
X X X
Geriatra X X X X X X
Desidratad
o
X X X X X X
Enfermida
de
gastrintesti
nal
X X X X
Cardiopata X X X X X X X
Insuficiênc
ia
respiratória
X X X X
Nefropata X X X X X
Hepatopata X X X X X X X X
Sob terapia
esteróide
ou AINES
X X X X X
Diabetes
melito
X X X X X X X
Enfermo
do SNC
X X X X X X X
Paciente de
trauma
X X X X X
Com
diátese
hemorrágic
a
X X X X X
Capítulo 2
Medicação Pré-Anestésica
Os fármacos administrados ao paciente de 15 a 45 minutos antes da indução
anestésica fazem parte da medicação pré-anestésica. Estes fármacos poderão ser aqueles
relacionados diretamente com a produção do estado de anestesia como tranqüilizantes ou
sedativos, ou pertencerem a outros grupos farmacológicos como antieméticos, anti-
histamínicos, anticolinérgicos, anti-inflamatórios não-esteróides e corticoesteróides. Em
Medicina Veterinária, geralmente é necessária a associação destes fármacos para a
preparação do paciente para a indução anestésica. NÃO existe um fármaco que
individualmente produza os efeitos desejados como medicação pré-anestésica. Uma
adequada medicação pré-anestésica tem como objetivos:
1. Tranqüilizar ou sedar os animais mais apreensivos e agressivos.
2. Potencializar os efeitos dos anestésicos necessários para a indução e manutenção da
anestesia.
3. Produzir analgesia nos períodos trans e pós-operatórios.
4. Reduzir os efeitos autonômicos adversos dos fármacos anestésicos e de certos
procedimentos terapêuticos.
5. Diminuir as secreções das vias aéreas e a salivação.
6. Reduzir a secreção e a acidez do fluido gástrico.
7. Prevenir o vômito ou regurgitação.
8. Tornar os períodos de indução, manutenção e recuperação anestésicos livres de
intercorrências adversas.
Antes da escolha e administração dos fármacos pré-anestésicos, um amplo
conhecimento da farmacologia destas substâncias é necessário e diversos fatores devem
ser considerados como:
1. Temperamento e espécie animal - Animais dóceis necessitam de tranqüilização
enquanto os de temperamento mais sangüíneo devem ser sedados.
2. Necessidade de analgesia - A técnica anestesésica para procedimentos que produzam
dor intensa deve incluir um fármaco analgésico potente ou ser combinada a anestesia
local ou regional.
3. Classificação do paciente quanto ao seu estado físico - Pacientes em estado grave ou
portadores de afecções dos sistemas nervoso central, cardiovascular ou respiratório,
poderão ou não requerer medicação pré-anestésica de acordo com o caso (ver quadro
1). Pacientes hígidos deverão sempre que possível ser tratados com fármacos pré-
anestésicos.
4. Efeitos farmacológicos desejados - Os efeitos e período hábil dos fármacos pré-
anestésicos devem ser considerados de acordo com o paciente e o procedimento
terapêutico ou diagnóstico. Pacientes agressivos podem se beneficiar de fármacos
sedativos de efeito prolongado, enquanto que com os mais linfáticos, pode-se reverter
os efeitos dos fármacos tranqüilizantes se necessário.
O uso de medicação pré-anestésica em Medicina Veterinária foi iniciado em 1950
quando farmacologistas e químicos franceses descobriram os derivados fenotiazínicos e
criaram o termo neuroléptico, significando que o efeito farmacológico principal ocorre no
sistema nervoso central. Atualmente diversas substâncias de diferentes grupos
farmacológicos são empregados como medicação pré-anestésica em animais. Algumas
destas susbstâncias podem ter seus efeitos farmacológicos revertidos. Existem diversas
classificações possíveis para os fármacos utilizados na MPA. Neste capítulo os fármacos
estão agrupados de acordo as características farmacológicas. O termo tranqüilizante fica
reservado para os fenotiazínicos, benzodiazepínicos e butirofenonas, enquanto os
opióides e agonistas alfa-2-agonistas serão denominados sedativos. Os principais
fármacos utilizados pertencem as seguintes classes (ver Quadro 6 para doses e
comentários):
1. Anticolinérgicos.
2. Opióides.
3. Agonistas Alfa-2-adrenérgicos.
4. Fenotiazínicos.
5. Benzodiazepínicos.
6. Butirofenonas.
7. Neuroleptoanalgésicos.
8. Anestésicos dissociativos
ANTICOLINÉRGICOS OU ANTIMUSCARÍNICOS
Indicações para o uso - Os fármacos anticolinérgicos são utilizados para prevenir
bradicardia induzida por tono vagal aumentado ou a salivação e secreções do trato
respiratório excessivas. Em geral, opióides e agonistas alfa-2 adrenérgicos produzem
bradicardia sinusal ou bloqueio atrioventricular de primeiro e segundo graus ou completo.
Procedimentos cirúrgicos envolvendo o globo ocular, a região cervical e a manipulação
de vísceras abdominais produzem estímulo vagal com conseqüente bradicardia. Doenças
cardíacas primárias e neoplasias também podem existir produzindo bradicardia. Animais
braquicefálicos ou que receberam derivados fenciclidínicos como parte da medicação
pré-anestésica por vezes apresentam salivação profusa, havendo necessidade de serem
tratados com anticolinérgicos.
Efeitos Farmacológicos - Inibição competitiva dos receptores parasimpáticos colinérgicos
muscarínicos no nível pós-gangliônico. Em doses clínicas, produz bloqueio dos efeitos da
acetilcolina nos receptores muscarínicos sem efeito nos receptores nicotínicos.
Geralmente ocorre taquicardia sinusal, diminuição das secreções das vias aéreas e da
salivação e diminuição da motilidade gastro-intestinal. Nos ruminantes, os fármacos
anticolinérgicos devem ser evitados sempre que possível, pois diminuem as secreções
mais fluidas, tornando a saliva e secreções das vias aéreas mais espessas podendo causar
obstrução.
1. Sulfato de Atropina - O sulfato de atropina é uma amina terciária que atravessa a
barreira placento-fetal e hemato-encefálica. Bloqueia a acetilcolina nos receptores
pós-ganglionares nas terminações das fibras colinérgicas no sistema nervoso
autônomo por 1 a 1.5 horas. Produz diminuição das secreções orais, faríngeas e do
trato respiratório e broncodilatação. Em razão da broncodilatação, aumentam o
espaço morto respitatório anatômico e fisiológico, podendo produzir hipoxemia em
animais portadores de disfunção respiratória ou em animais braquicefálicos. A
atividade motora e secretória do trato gastrointestinal diminui, podendo ocorrer íleo
paralítico em eqüinos. Ocorre diminuição do tono vagal cardíaco com conseqüente
taquicardia sinusal, aumento do débito cardíaco, sem alterações significativas sobre a
pressão arterial. Em animais que receberam atropina, o efeito de fármacos agonistas
adrenérgicos é acntuado pelo bloqueio eferente dos reflexos vagais dos
baroreceptores. O sulfato de atropina quando administrado durante o período de
indução e manutenção anestésica, pode produzir arritmias cardíacas como contração
ventricular prematura e bigeminismo ventricular. Além destes efeitos, o sulfato de
atropina produz midríase por relaxamento da musculatura do esfíncter da íris e da
musculatura ciliar da lente ou cristalino, impedindo a drenagem da câmara anterior.
No trato urinário, ocorre relaxamento da musculatura lisa, causando retenção urinária
e oligúria. O sulfato de atropina pode ser administrado pelas vias, intramuscular,
subcutânea,intravenosa, intraossea, oral e intrapulmonar. O metabolismo e eliminação
do sulfato de atropina variam com a espécie. Em felinos, roedores e leporinos, a
atropina é degradada rapidamente, mesmo em grandes concentrações, por esterases
hepáticas. Em canins, após metabolismo hepático a atropina é eliminada por via
urinária, 30% a 50% sem biotransformação. Em caprinos e ovinos os efeitos
anticolinérgicos da atropina são reduzidos pela presença de atropinase no soro
sangüíneo.
2. Brometo de Glicopirrolato - O glicopirrolato é um anticolinérgico sintético, derivado
de amônia quaternária. Não atrevessa a barreira hemato-encefálica ou placento-fetal.
Produz efeitos menos acentuados do que o sulfato de atropina, não ocorrendo
taquicardia sinusal tão acentuada e praticamente é destituído de outros efeitos
arritmogênicos sobre a função cardíaca durante a indução e manutenção anestésicas.
Os efeitos antimuscarínicos são semelhantes aos da atropina. Produz aumento da
freqüência cardíaca, reduz o volume e acidez das secreções gástricas, diminui a
motilidade intestinal e reduz as secreções gastro-intestinais e do trato respiratório. O
período de efeito é de cerca de 2 a 5 horas. O glicopirrolato deve ser utilizado em
lugar do sulfato de atropina, sempre que o paciente apresentar bradicardia menos
acentuada ou como medicação pré-anestésica antes da indução anestésica com
associações neuroléptico-analgésicas.
DERIVADOS OPIÓIDES
Indicações para o uso - Os derivados opióides estão indicados como medicação pré-
anestésica, quando se necessita de analgesia pré, intra e pós-operatória, como sedativos
para contenção química de animais intratáveis e animais silvestres e como parte de
associações neurolépto-analgésicas na contenção farmacológica para procedimentos
diagnósticos como ultrasonografia, punções e cateterização venosa ou óssea.
Efeitos Farmacológicos - Os derivados opióides são aqueles compostos sintéticos ou
exógenos com afinidades por receptores opiódes específicos. O principal efeito
farmacológico dos opióides é a produção de analgesia intensa. Dependendo do fármaco
utilizado, este efeito analgésico pode ser de curta ou longa duração. Os derivados
opióides são classificados de acordo com sua afinidade e atividade sobre os diferentes
receptores. Atualmente são conhecidos os seguintes receptores opióides: Mu, Kappa,
Sigma, Delta. Existem evidencias de outros receptores opióides como os Epsilon, embora
não se conheça a importância clínica destes receptores. Os derivados opióides produzem
mínima depressão cardiovascular, sendo observada bradicardia quando estes fármacos
são administrados sem o uso concomitante de anticolinérgicos. Pode ser observado
intenso efeito depressor da função ventilatória com a ocorrência de hipercapnia e acidose
respiratória quando são utilizadas doses elevadas de agonistas dos receptores Mu como
morfina. Em geral a depressão respiratória é dose dependente e ocorre diminuição do
volume corrente pulmonar. A freqüência respiratória pode estar diminuída ou aumentada.
No sistema nervoso central os opióides produzem depressão pós-sináptica da neuro-
transmissão por bloqueio da liberação de neurotransmissores como norepinefrina. Em
algumas espécies como a eqüina, felina e suína, quando administrado por via venosa ou
subaraquinóidea, ocorre ativação da neuro-transmissão por aumento da liberação de
dopamina como efeito compensador da diminuição da concentração de norepinefrina na
fenda sináptica. O centro termoregulador fica deprimido e alguns animais desenvolvem
taquipnéia compensatória. O centro do vômito não é atingido, embora a zona de indução
ao vômito no tronco cerebral seja estimulada por agonistas Mu.
1. AGONISTAS MU OPIÓIDES
Morfina
Considerado o derivado opióide padrão, por isso arbitrariamente recebeu a referência de
potência “1” contra a qual os demais opióides são comparados. Produz vômito em
caninos e felinos. Produz intensa analgesia por longo período de tempo quando
administrada por via intramuscular ou extradural. Em caninos e felinos, quando
administrada por via venosa ocorre liberação de histamina que pode produzir hipotensão
severa e quadros de choque anafilactóide como edema de glote e pulmonar e bronco-
constrição. Por produzir disforia em eqüinos e felinos, nestas espécies o sulfato de
morfina dever ser precedido de fenotiazínicos como a acepromazina ou a
levomepromazina. Em eqüinos o uso de agonistas alfa-2-adrenérgicos também está
indicado previamente ao sulfato de morfina para produzir efeito sedativo intenso. Como a
morfina sofre metabolismo hepático, animais portadores de grave disfunção podem
apresentar sedação por períodos prolongados. Nestes casos devem ser utilizados fármacos
antagonistas opióides para reverter os efeitos do sulfato de morfina. As doses variam de
acordo com a espécie animal e o com o efeito desejado. Em alguns casos o sulfato de
morfina pode ser utilizado por infusão contínua. Nestes casos cuidados intensivos devem
ser dispensados pois pode ocorrer profunda depressão respiratória. Quando utilizada por
via extradural, o sulfato de morfina deve ser utilizado sem solução preservante. Em geral
as soluções de morfina contém fenois como preservante que podem ser tóxicos para a
medula espinhal.
Meperidina
A meperidina é menos potente que a morfina (possui apenas 25% da potência) e produz
efeito por menor período de tempo. Quando administrada por via venosa em cães produz
maior liberação de histamina que a morfina. Da mesma forma pode ser utilizada em
associação a fenotiazínicos para obtenção de intenso efeito sedativo em eqüinos. Como
pode produzir severa hipotensão, deve ser administrada com cautela em caninos e felinos.
Oximorfona
Dez vezes mais potente que a morfina, a oximorfona produz intensa analgesia por curto
período de tempo, em geral de 1 a 2 horas quando 0,1mg/kg são administrados por via
intramuscular. Esta recomendada nos casos em que se necessita de intenso efeito
analgésico por curto período de tempo. Também esta recomendada nos casos em que os
efeitos depressores ventilatórios dos opióides são indesejáveis como nos animais
braquicefálicos, geriátricos e debilitados. Não produz liberação de histamina quando
administrada por via venosa, sendo por isso recomendada em associações sedativas com
benzodiazepínicos por via intravenosa.
Tramadol
Embora não seja considerado um fármaco opióide, o tramadol exerce sua atividade
analgésica fundamentalmente por efeito sobre os receptores Mu opióides. Existem
evidências de que o tramadol também produza inibição da liberação de
neurotransmissores como a serotonina, reduzindo a neurotrasnissão nas vias de condução
e modulação do estimulo doloroso. O tramdol é cerca de dez vezes menos potente que a
morfina e produz intenso efeito emético em caninos e seres humanos.
Fentanil
O citrato de fentanil é um derivado opióide extremamente potente. Deprime a função
ventilatória e produz bradicardia intensa. Pode ser utilizado por via intramuscular como
MPA sempre associado a um fármaco anticolinérgico. Em caninos pode produzir rigidez
torácica por efeito depressor sobre os receptores de elastância da parede torácica
(deprime o reflexo de Hering-Bauer). A maior indicação para o uso do fentanil é como
analgésico intra-operatório em caninos. Não é indicado em eqüinos por produzir aumento
de atividade do sistema nervoso central, sendo necessário aumentar a concentração
alveolar mínima para manter os animais sob plano anestésico quando do uso de anestesia
volátil. Existem outros derivados semelhantes aos fentanil com maior ou menor potência
como o sufentanil, alfentanil, remifentanil e carfentanil. O carfentanil é extremamente
potente e indicado para captura de grandes mamíferos silvestres como elefantes e
rinocerontes.
Etorfina
A etorfina é um potente derivado opióide com potência cerca de dez mil vezes a da
morfina indicada para a captura de animais silvestres. Seu uso é extremamente ariscado
pois o contato a pele, mucosas ou a aspiração de vapores pode causar severa depressão
respiratória e óbito.
2. AGONISTAS PARCIAIS MU OPIÓIDES
Buprenorfina
A buprenorfina possui intensa afinidade por receptores Mu opióides, embora exerça baixa
atividade, ou seja, apesar de ligar-se aos receptores sua atividade intrínseca ou a
capacidade de ativar os receptores é baixa. O início de efeito é considerado lento, e o
tempo de efeito é prolongado. Pelo fato de ocupar os sítios nos receptores e pelo
prolongado tempo de efeito, deve ser entendido que após o uso de buprinorfina, se houver
necessidade do uso de um agonista Mu como morfina, os efeitos deste último serão
menos intensos, especialmente o efeito analgésico. A buprenorfina deve ser reservada
para produção de analgesia pós-operatória nos casos de estímulo doloroso de média
intensidade (cirurgias laparoscópicas, suturas de pele, cirurgias oftálmicas que não
envolvam o globo ocular).
3. AGONISTAS KAPPA OPIÓIDES
Butorfanol
O butorfanol é classificado como um agonista Kappa opióide e um antagonistas Mu, ou
seja, tem afinidade por receptores Kappa e Mu, embora possua atividade intrínseca
somente sobre receptores Kappa. É mais potente que a morfina, embora o período de
efeito seja breve. Produz analgesia moderada por cerca de 60 minutos quando é utilizada
dose de 0,4mg/kg por via intramuscular. Está indicado como sedativo pré-opratório, em
associações com fenotiazínicos em caninos e felinos ou com alfa-2-agonistas em eqüinos.
Assim como alguns agonistas parciais Mu, após o uso de butorfanol, na eventualidade de
ser necessária analgesia mais intensa, os agonistas Mu não produzem a mesma
intensidade de efeito pois os receptores estarão sobre efeito antagonista do butorfanol.
Nalbufina
Assim como o butorfanol, a nalbufina é um agonista Kappa e um antagonista Mu. Produz
analgesia moderada e geralmente não é utilizada como medicação pré-anestésica e sim
como analgésico pós-operatório. A maior indicação para o uso de nalbifina é em caninos
que receberam agonistas Mu como MPA e é necessária a reversão dos efeitos opióides
destes agonistas Mu, sendo necessária a manutenção do efeito analgésico. Seu efeito
persiste por 1 a 2 horas. Portanto, após este período, havendo necessidade de manutenção
do efeito analgésico, deve ser utilizada nova dose de nalbufina ou outro Kappa agonista,
pois os agonistas Mu praticamente não produzirão efeito.
4. ANTAGONISTAS OPIÓIDES
Naloxona
A naloxona reverte completamente os efeitos analgésicos e depressores dos agonistas
opióides, embora o período de efeito seja curto. Indicada para antagonizar os efeitos
sedativos dos opióides, principalmente nos casos de recuperação anestésica prolongada.
Deve ser administrada lentamente por via venosa. Pode ser administrada por via
subcutânea e intramuscular. Quando administrada rapidamente por via venosa, pode
produzir taquicardia, hipertensão e edema pulmonar. Como produz efeito por apenas 45
minutos, é recomendada a administração de uma dose intramuscular e a mesma dose por
via subcutânea para manutenção do efeito, principalmente nos casos de depressão
respiratória em cães braquicefálicos.
Naltrexona
Mais potente que a naloxona, a naltrexona está indicada para a reversão dos efeitos dos
opióides quando doses elevadas são administradas acidentalmente, principalmente por
que possui período de efeito maior. É o fármaco de eleição para a reversão dos opióides
utilzados para imobilização de animais silvestres.
AGONISTAS ALFA-2-ADRENÉRGICOS
Indicações para o uso
Os fármacos agonistas alfa-2-adrenérgicos são utilizados como sedativos e analgésicos de
curta duração de efeito em caninos, eqüinos, felinos, bovinos e animais silvestres. Em
eqüinos ocorre marcada ataxia quando os animais são sedados com xilazina ou
detomidina, o que contra-indica o uso destes fármacos nos casos de fraturas de membros
locomotores, ou quando os animais têm que ser movimentados após sedados. De forma
geral estes fármacos são utilizados em animais hígidos. A única exceção é a indicação do
uso destes fármacos nos casos de síndrome cólica em eqüinos. Os agonistas alfa-2-
adrenérgicos podem ser utilizados isoladamente para procedimentos diagnósticos não
invasivos como exames radiológicos, ultrasonográficos e otológicos. Não devem ser
utilizados para testes alergênicos dermatológicos pois interferem com a leitura de tais
testes, principalmente por que diminuem a pefusão sangüinea tecidual periférica. Em
associações farmacológicas, os agonistas alfa-2-adrenérgicos podem ser combinados a
derivados fenotiazínicos para a produção de profundo efeito sedativo em caninos e
eqüinos, com opióides para a produção de neurolépto-analgesia em eqüinos e com
anestésicos dissociativos com a quetamina para a sedação de felinos e caninos agressivos.
Efeitos Farmacológicos
O principal efeito farmacológico dos agonistas alfa-2-adrenérgicos é a inibição da
liberação de norepinefrina e o bloqueio dos receptores noradrenérgicos pré-sinápticos. Os
agonistas alfa-2-adrenérgicos produzem severas alterações cardiovasculares,
principalmente em doses elevadas. O efeito clínico mais comumente reconhecido é a
bradicardia acentuada, principalmente quando utilizados sem a administração
concomitante de um agente anticolinérgico como o sulfato de atropina. Pode ocorrer
bloqueio atrioventricular de 1° e 2° graus por efeito dromotrópico negativo sobre o nodo
sino-atrial cardíaco. O resultado final é a redução dramática do débito cardíaco. O efeito
agonista sobre os receptores vasculares alfa-2 periféricos produz intensa vasoconstrição e
aumento da resistência vascular periférica, o que mantém a pressão arterial elevada
durante os primeiros 15 a 20 minutos da administração venosa. O quadro hipertensivo
ativa os baroreceptores no arco aórtico e seio carotídeo, produzindo vasodilatação tardia,
bradicardia e maior redução do débito cardíaco. Este efeito é menos intenso quando a
administração é intramuscular. Ocorre ativação periférica de receptores alfa nos vasos
sangüíneos, no pâncreas e no trato gastrointestinal. Os agonistas alfa-2-adrenérgicos
produzem sedação, analgesia, relaxamento muscular, inibição da liberação de insulina e
conseqüente hiperglicemia, diurese osmótica, depressão respiratória com doses elevadas,
emese por ativação do centro do vômito. Ocorre vasoconstrição nos orgãos abdominais e
no útero. Animais em quadros clínicos de cólica com involvimento intestinal devem
receber doses moderadas para evitar intensa isquemia visceral e o risco de necrose e
conseqüente peritonite por extravazamento de conteúdo intestinal. Pode ser produzido
efeito abortivo principalmente em ruminantes. As doses variam entre as espécies. Suínos
e caninos necessitam de doses maiores. Ruminantes são extremamente sensíveis e
necessitam de menores doses. Em caninos pode ocorrer timpanismo gástrico por
aerofagia e síndrome dilatação-torção gástrica. Em bovinos o timpanismo também é
observado. Em felinos o uso concomitante de anticolinérgicos e agonistas alfa-2-
adrenérgicos pode produzir hipertensão acentuada por efeito somatório da taquicardia e
aumento da resistência vascular periférica.
1. Xilazina
A xilazina apesar de produzir efeito preponderante sobre receptores alfa-2, também atua
sobre receptores alfa-1. A administração arterial em produz efeito convulsógeno por
efeito sobre receptores alfa-1-adrenérgicos e no passado foi confundida como efeito
excitatório pois ocorria injeção intracarotídea ao invés de jugular em eqüinos. É o
fármaco de eleição para sedação e analgesia em eqüinos com quadro de cólica pois
produz efeito por breve período de tempo, entre 20 a 30 minutos e pode ser utilizado de
acordo com a necessidade. Em pequenos animais deve ser restrito o uso a animais jovens
e hígidos, porém está contra-indicada em pacientes pediátricos pois estes são dependentes
da freqüência cardíaca normal para manutenção do débito cardíaco e conseqüente
perfusão tecidual. Pode ser administrada por via intramuscular, venosa e subcutânea. Em
caninos e felinos produz emese. Deve ser EVITADA quando o fármaco indutor
anestésico for o tiopental sódico e a manutenção anestésica feita com halotano, pelo risco
potencial de arritmias ventriculares e assístole cardíaca. Produz sedação intensa,
salivação excessiva e decúbito esternal ou lateral em ruminantes, principalmente com
doses elevadas. Os fármacos anticolinérgicos não devem ser utilizados para inibir a
salivação e a secreção bronquial pois o volume salivar diminui as expensas de uma saliva
mais espessa que pode obstruir as vias aereas e causar hipoxemia. Em suínos é necessario
associar fármacos benzodiazepínicos, fenotiazínicos ou butirofenonas para obtenção de
efeito sedativo acentuado.
2. Medetomidina
É cerca de 50 a 100 vezes mais potente que e a xilazina. Produz efeitos semelhantes aos
da xilazina por período mais prolongado, cerca de 2 a 3 horas. Indicado para
procedimentos diagnósticos em pequenos animais. Contra-indicada como MPA em
pequenos animais pelos prolongados efeitos adversos sobre a função cardiovascular. A
única excessão são os casos em que existe a necessidade de sedação de animais
agressivos para posterior indução anestésica, quando baixas doses de medetomidina
podem ser associadas a opióides. Não é indicada em eqüinos pois pode produzir
acentuado relaxamento muscular e queda do animal.
3. Detomidina
Assim como a medetomidina, a detomidina é mais potente e seletiva para os receptores
alfa-2-adrenérgicos. Ao contrário da xilazina o período de efeito e’dose dependente e
pode extender-se por até 3 horas. É recomendada para sedação de eqüinos agressivos para
procedimentos em estação, não sendo superior a associação xilazina e butorfanol como
MPA em eqüinos. Sua diferença fundamental em relação a medetomidina reside no fato
de que a medetomidina é um fármaco que produz maior relaxamento muscular e
geralmente leva o animal ao decúbito lateral.
4. Romifidina
A romifidina produz efeitos semelhantes a detomidina, embora seja menos potente.
Produz menos ataxia do que a detomidina e xilazina, sendo possível a movimentação dos
animais após sedados. Em geral o efeito sedativo é dose dependente, embora o período de
efeito não. O tempo de efeito é de cerca de 30 a 60 minutos.
ANTAGONISTAS ALFA-2-ADRENÉRGICOS
Estes fármacos antagonizam os efeitos analgésicos e sedativos dos agonistas alfa-2-
adrenérgicos. Os fármacos pertencentes a esta categoria são a Yoimbina, a Tolazolina e o
Atipamezole. A Yoimbina não é tão efetiva como a tolazolina e o atipamezole. Quando
administrados por via venosa, pode ocorrer taquicardia, hipertensão sistêmica e pulmonar
e disforia por que a concetração de norepinefrina na fenda sináptica aumenta
bruscamente.
Em alguns animais é necessária suplementação da primeira dose do antagonista para a
obtenção de efeitos clínicos. O atipamezole está indicado para a reversão dos efeitos da
medetomidina. A tolazolina é indicada para a reversão dos efeitos da xilazina. Existem
evidências de que a tolazolina possa causar óbito em camelídeos Sul-Americanos como
Lhamas e alpacas, provavelmente pela administração de doses elevadas. Após a
administração venosa do antagonista a reversão ocorre em cerca de 1 a 2 minutos.
DERIVADOS FENOTIAZÍNICOS
Indicações para o uso
Utilizados como ansiolíticos, os derivados fenotiazínicos produzem tranqüilização sem
analgesia, com excessão da levomepromazina que possui alguma atividade analgésica em
caninos. São indicados como tranqüilizantes em caninos, felinos e eqüinos. Não
produzem efeito sedativo marcante, embora quando associados a outros fármacos
sedativos potencializem os efeitos destes últimos. Os derivados fenotiazínicos são
indicados para o uso na MPA, associados ou não a outros fármacos. Podem ser
administrados por via intramuscular, venosa e subcutânea. Caninos sedados com opióides
e que apresentam recuperação disfórica e eqüinos propensos a recuperação anestésica
agitada podem ser tratados com doses mínimas intravenosas para obtenção de efeito
tranqüilizante.
Efeitos Farmacológicos
Os fármacos fenotiazínicos primariamente produzem bloqueio dos receptores
dopaminérgicos no sistema nervoso central, produzindo seu efeito tranqüilizante e
diminuindo a concentração alveolar mínima necessária para manutenção anestésica. O
principal efeito periférico é o bloqueio dos receptores alfa-1-adrenérgicos, produzindo
vasodilatação acentuada e hipotensão dose dependente. De forma geral a freqüência
cardíaca e o débito cardíaco se mantém inalterados. De forma geral os efeitos dos demais
fármacos anestésicos é potencializado, diminuindo a dose necessária de fármacos
indutores e para manutenção anestésica. O metabolismo dos fármacos fenotiazínicos é
hepático, sendo que os metabólitos são excretados por via renal e intestinal. Animais
portadores de insuficiência hepática e/ou renal podem permanecer sob efeito por períodos
prolongados, principalmente por que não existem antagonistas específicos. No sistema
nervoso central, ocorre diminuição do limiar convulsógeno, principalmente nos animais
submetidos a exames radiológicos ou tomográficos em que se utilizam meios de contraste
iodados por via intravenosa ou via subaraquinoidea. Este efeito ocorre principalmente
pelo bloqueio dopaminérgico, ocorrendo desorganização da neurotransmissão no SNC.
Os derivados fenotiazínicos são também responsáveis por efeito antihistamínico e
antiemético moderado.
1. Acepromazina
A acepromazina não possui atividade intrínseca analgésica e deve ser utilizada sempre
associada a alguma técnica anestésica que contemple alguma forma de analgesia para os
procedimentos dolorosos. A dose recomendada é de 0,1mg/kg por via intramuscular,
sendo que a dose máxima deva ser de 3 a 4mg em caninos, 0,5mg em felinos e 10mg em
eqüinos. Por via venosa a dose máxima deve ser de 0,05mg/kg. No caso de ser necessário
efeito sedativo mais intenso, a acepromazina deve ser associada a um agonista opióide
em caninos e felinos ou alfa-2-adrenérgico em eqüinos. Existem evidências de que os
cães da raça Boxer são mais sensíveis aos efeitos dos derivados fenotiazínicos. O período
necessário para início de efeito após administração intramuscular é de 30 a 45 minutos e
o tempo de efeito varia de 3 a 6 horas. Doses elevadas podem produzir hipotensão
acentuada em animais geriátricos, no choque septicêmico e animais toxemicos. Nestes
casos pode ocorrer hipoperfusão renal e interrupção da filtração glomerular renal com
necrose renal aguda e óbito do paciente em 24 a 48 horas. Pode ocorrer parafimose em
eqüinos. Após administração a acepromazina se liga a proteínas plasmáticas. Em animais
hipoproteinêmicos, doses consideradas adequadas podem produzir efeito mais intenso
que o esperado. Em animais com dosagem de proteínas plasmáticas totais inferior a
5,0g/dl a dose de acepromazina deve ser reduzida para a terça ou quarta parte da dose
recomendada. Não ocorre depressão ventilatória ou respiratória.
2. Levomepromazina
Apresenta características fármacológicas semelhantes a acepromazina, embora seja
menos potente. A levomepromazina produz analgesia moderada quando administrada por
via venosa em caninos. O mecanismo pelo qual a levomeprozina produz analgesia não é
completamente conhecido. Pode ser empregada na maioria das espécies domésticas.
Quando associada a derivados benzodiazepínicos produz intenso efeito sedativo em
eqüinos, caninos, bovinos e suínos. Quando utilizada como MPA, diminui a dose
necessária de anestésicos dissociativos para manutenção da anestesia de maneira
semelhante aos agonistas alfa-2-adrenérgicos.
DERIVADOS BENZODIAZEPÍNICOS
Indicação para o uso
Os derivados benzodiazepínicos não são adequados para o uso na MPA isoladamente.
Existe a necessidade de associá-los a outros fármacos, pois pode ocorrer disforia se
utilizados por via intravenosa. Potencializam os efeitos dos derivados opióides e
fenotiazínicos quando empregados concomitantemente. Existe um antagonista especíco
(flumazenil). O tempo de efeito dos derivados benzodiazepínicos varia de 1 a 6 horas
dependendo do fármaco, dose e via de administração. O diazepam produz efeito mais
prolongado do que o midazolam. O flunitrazepam é mais potente e produz efeito mais
longo que o diazepam e midazolam.
Efeitos Farmacológicos
Os benzodiazepínicos potencializam os efeitos inibidores do ácido gama-aminobutírico
(GABA) no sistema nervoso central, inibindo a neurotransmissão. Existem evidências de
que quando administrados por via subaraquinoidea, os derivados benzodiazepínicos
produzem analgesia. De forma geral, considera-se que os benzodiazepínicos não
produzam analgesia quando administrados por via venosa ou muscular. No SNC ainda, os
benzodiazepínicos produzem inibição da neurotrasnissão ao nível dos neurônios
internuncais na medula espinhal, produzindo relaxamento muscular, por isso são
indicados no tratamento agudo das convulsões. Podem causar euforia e disforia quando
administrados por via venosa isoladamente. Em geral não ocorrem alterações
cardiovasculares. Podem produzir depressão respiratória quando associados a opióides e
agonistas alfa-2-adrenérgicos. O metabolismo é hepático. Disfunção hepática ou redução
do fluxo sangüineo hepático podem resultar em efeito prolongado, necessitando reversão
com o antagonista específico.
1. Diazepam
Diluído em propileno glicol, o diazepam não é indicado para administração intramuscular
pois a administração é dolorosa e a absorção inadequada. Por via venosa pode ser
associado a oximorfona ou ao fentanil para produzir sedação ou mesmo indução
anestésica. O propileno glicol produz cardiotoxicidade e o diazepam deve ser evitado em
animais portadores de insuficiência cardíaca congestiva. Em equinos pode ser associado a
agonistas alfa-2-adrenérgicos para obtenção sedação e relaxamento muscular acentuados.
2. Midazolam
Mesma potência do diazepam, embora seja hidrossolúvel e possa ser administrado por
via intramuscular. Recomendado em associações com opióides e anestésicos
dissociativos para a MPA em felinos, associado a levomepromazina para sedação de
suínos. Em caninos pode ser associado a oximorfona para sedação intravenosa.
ANTAGONISTAS BENZODIAZEPÍNICOS
Flumazenil
Desloca os derivados benzodiazepínicos dos receptores específicos, retornando a
normalidade na neurotrasmissão ao nível do sistema nervoso central, retornando a
consciência e terminando o efeito relaxante muscular. O flumazenil está indicado nos
casos em que os animais receberam derivados benzodiazepínicos como MPA ou como
parte da indução anestésica e experimentam dificuldades de recobrar a consciência e
atividade motora.
BUTIROFENONAS
Indicações para o uso
As indicações para o uso de butirofenonas em medicina veterinária são bastante
limitadas. Uma das excessões é o uso de azaperone para tranqüilização de suínos como
MPA ou para reduzir a ansiedade e o estresse do transporte. As butirofenonas também
são utilizadas em associações com derivados opióides para a produção de efeito
neuroleptoanalgésico.
Efeitos Farmacológicos
As butirofenonas apresentam efeito farmacológico semelhante aos derivados
fenotiazínicos, bloqueando a neurotransmissão ao nível do sistema nervoso central por
inibição dopaminérgica. Não possuem atividade antihistamínica ou antiemética. Não
possuem atividade analgésica. Algumas butirofenonas quando associadas a opióides
produzem efeito neuroléptico, embora em caninos estas associações sejam implicadas em
distúrbios de comportamento. Em geral os efeitos hipotensores das butirofenonas são
menos acentuados do que os dos derivados fenotiazínicos. Não ocorre depressão do
miocárdio ou depressão respiratória acentuada. O metabolismo é hepático e assim como
com outros sedativos e tranqüilizantes, quadros de disfunção hepática podem produzir
recuperação prolongada. Não existe antagonista para as butirofenonas.
1. Azaperone
Indicado para tranqüilização de suínos para transporte ou como MPA. Deve ser
administrado por via venosa ou intramuscular. Destituído de efeito analgésico. O
prolongado tempo efeito, 3 a 6 horas permite o uso para transporte dos animais.
2. Droperidol
Efeito semelhante a acepromazina em caninos. Associado ao fentanil produz profundo
efeito sedativo, embora possa provocar mudança de comportamento nos animais após a
recuperação, tornando o animal agressivo. Atualmente é contra-indicado para a espécie
canina em associação ao fentanil. Não apresenta vantagens sobre a acepromazina ou a
levomepromazina.
ANESTÉSICOS DISSOCIATIVOS
Indicações para o uso
Os anestésicos dissociativos como a quetamina e a tiletamina são utilizados para a
obtenção de sedação de felinos e caninos agressivos. É obrigatório o uso associado a
outros fármacos tranqüilizantes e relaxantes musculares pois os derivados fenciclidínicos
produzem intensa rigidez muscular e catatonia e aumentam a produção de secreções
salivares e brônquicas.
Efeitos Farmacológicos
Os anestésicos dissociativos produzem interferência na transmissão neuronal entre o
sistema límbico e as áreas talamo-corticais do cérebro, levando a dissociação entre o
tálamo e o encéfalo. Ocorre antagonismo não competitivo pelos receptores N-metil
aminoacido-excitatório (glutamato e aspartato). Este antagonismo não competitivo é
responsável pelo efeito analgésico dos anestésicos dissociativos, embora este efeito
analgésico seja de curta duração, ou seja, cerca de 45 minutos quando administrados por
via intramuscular e 20 minutos por via venosa. Os derivados fenciclidínicos produzem
intenso efeito analgésico somático e visceral. São bastante efetivos no tratamento da dor
de orígem traumática e nos casos em que o fenômeno de hiperalgesia está instalado. O
uso por via extradural em animais e seres humanos produz analgesia intensa de tempo de
efeito de 45 a 90 minutos. Como o tono simpático aumenta quando da administração de
anestésicos dissociativos, aumenta a freqüência cardíaca, a pressão arterial, a pressão
intraocular e intracraniana. Por ser extremamente hidrossolúvel, os anestésicos
dissociativos podem ser administrados por via intramuscular com rápida absorção. A
hipersalivação pode ser prevenida com o uso de anticolinérgicos. O metabolismo é
hepático em caninos, embora somente 50% da dose inicial seja metabilizada. O restante é
eliminado sem metabolismo por via renal. Em felinos cerca de 80% da dose inicial são
eliminados por via renal sem metabolismo. A presença de disfunção hepática e/ou renal
pode produzir recuperação prolongada. Não existe antagonista. A função ventilatória é
alterada com aumento da freqüência respiratória e diminuição do volume corrente. O
volume minuto pulmonar não é alterado. O padrão respiratório em geral é o apneustico.
Os efeitos cardiovasculares não são dignos de nota, a menos que outros fármacos
administrados concomitantemente produzam depressão cardiovascular. Nestes casos os
derivados fenciclidínicos podem potencializar a depressão cardiovascular e aumentar o
consumo de oxigênio pelo miocárdio. Em caninos e eqüinos os anestésicos dissociativos
podem causar efeito convulsógeno. Devem ser evitados em animais que receberão
contrastes para mielografia ou tomografia.
1. Quetamina
A quetamina é utilizada como MPA em caninos, suínos e felinos associada a um agonista
alfa-2-adrenérgico ou em associação com um derivado opióide e um benzodiazepínico.
Não é recomendado o uso como MPA em eqüinos.
2. Tiletamina
A semelhança da quetamina o uso como MPA está restrito a caninos, suínos e felinos. É
cerca de duas vezes mais potente que a quetamina. Comercializada em associação com o
zolazepam (benzodiazepínico, duas vezes mais potente que o diazepam) na forma de sal
para ser diluído. Felinos metabolizam o zolazepam lentamente pois são destituídos de
complexo enzimático adequado para tal fim, ocorrendo recuperação prolongada.
NEUROLEPTO-ANALGÉSICOS
Indicações para o uso
Quando um fármaco com atividade analgésica é associado com outro depressor do
sistema nervoso central denomina-se a associação como NEUROLEPTO-
ANALGESICA. Esta denominação não atende a todas as características de todas as
associações possíveis pois algumas produzem relaxamento muscular e outros efeitos
farmacológicos. A associação de um fármaco neuroléptico (tranqüilizante ou sedativo) a
um analgésico, é a técnica mais adequada para a obtenção dos efeitos desejados no
período que antecede a indução anestésica. O componente neuroléptico da associação
produz efeito ansiolítico e tranqüilizante, enquanto o componente analgésico permite
manipulação moderadamente invasiva como punções e cateterizações e dependendo do
fármaco utilizado este efeito analgésico estará extendido ao período intra e pós-cirúrgico.
Para a doses e indicações por espécie animal ver o Quadro 7.
Efeitos Faramacológicos
Os efeitos farmacológicos específicos variam com a associação empregada. Quando se
associa agonistas alfa-2-adrenérgicos e derivados benzodiazepínicos, o intenso efeito
relaxante muscular pode produzir apnéia. Da mesma forma, a associação de agonistas
alfaf-2-adrenérgicos e derivados fentotiazínicos produzem intenso efeito hipotensivo,
principalmente quando administrados por via venosa. Estes efeitos sinérgicos são
observados também nas características desejáveis da associação, como quando opióides e
agonistas alfa-2-adrenérgicos são associados e obten-se efeito analgésico mais intenso e
por maior período de tempo (ver Quadro 7).
Quadro 6 – Fármacos e Doses recomendados para uso na Medicação Pré-Anestésica
e na Reversão dos Efeitos Sedativo e/ou Analgésicos (em mg/kg).
Fármaco Canina Felina Eqüina Bovina Caprina/
Ovina
Suína
Atropina 0,02 IV
0,04 IM
0,02 IV
0,04 IM
0,01 IV 0,01 IV 0,1 IV
0,2 IM
0,02 IV
0,04
IM
Glicopirrolato 0,01 IV
0,02 IM
0,005 IV
0,01 IM
0,005 IV 0,005 IV 0,01 IV 0,01 IV
Acepromazina 0,05 IV
0,1 IM
0,01 IV
0,05 IM
0,05 IV
0,07 IM
0,02 IV
0,01 IV
0,05 IV
0,1 IM
0,05 IV
0,2 IM
Levomepromazin
a
0,1 IV
0,5 IM
0,05 IV
0,5 IM
0,1 IV 0,1 IV 0,1 IV
0,5 IM
0,1 IV
0,5 IM
Diazepam 0,2 IV 0,1 IV 0,05 IV 0,05 IV 0,1IV 0,2 IV
Midazolam 0,1 IV
0,5 IM
0,1 IV
0,2 IM
0,01 IV 0,01 IV 0,1 IV
0,2 IM
0,2 IV
0,5 IM
Flumazenil* 0,02 IV 0,02 IV
Azaperone 2,2 IM
Xilazina 0,1 IV
0,5 IM
0,1 IV
0,5 IM
0,5 IV
2,0 IM
0,04 IV
0,2 IM
0,04 IV
0,2 IM
0,5 IV
2,0 IM
Medetomidina 0,001IV
0,04 IM
0,001 IV
0,02 IM
Detomidina 0,01-0,02
IV
0,03 IM
Romifidina 0,06-0,08
IV
0,1 IM
Yoimbina* 0,1 IV 0,1 IV 0,1 IV 0,1 IV 0,1 IV 0,1 IV
Tolazolina* 1-2 IV 1,0 IV 1-2 IV 1-2 IV 1-2 IV 1-2 IV
Atipamezole* 0,2 IV 0,2 IV
Morfina 1-2 IM 0,3 IM 0,1 IV
Oximorfona 0,05 IV
0,1 IM
0,05 IV
0,1 IM
Fentanil 0,02 IV
0,05 IM
Buprenorfina 0,005 IV
0,01 IM
0,005 IV
0,02 IM
Meperidina 2-4 IM 2-4 IM 2,0 IM
0,2-0,4 IV
2,0 IM 2,0 IM
Tramadol 1-2 IM
Butorfanol 0,1 IV
0,4 IM
0,1 IV
0,4 IM
0,05-0,1 IV
0,2 IM
0,05 IV 0,2 IM
Nalbufina 0,1 IV IM 0,1 IV IM
Naloxone* 0,002 IV
0,01 IM
0,002 IV
0,01 IM
0,002 IV 0,002 IV 0,002 IV 0,02
IM
Quetamina** 4,0 IV
8,0 IM
4,0 IV
8,0 IM
Tiletamina/
Zolazepam
1-2 IV
5,0 IM
1,0 IV
5,0 IM
3,0-5,0
IM
IM – intramuscular; IV – intravenosa; * Antagonistas; ** sempre associado a um
sedativo ou tranqüilizante.
Quadro 7 – Associações Neurolépto-analgésicas*
Fármacos Canina Felina Eqüina* Bovina Caprina/
Ovina
Suína
Acepromazina
Morfina
0,1 IM
1,0 IM
0,05 IV
0,1 IV
Acepromazina
Meperidina
0,05 IV
0,2 IV
Diazepam
Oximorfona
0,2 IV
0,05 IV
0,2 IV
0,05 IV
Midazolam
Oximorfona
0,2 IV
0,05 IV
0,1 IV
0,05 IV
Midazolam
Oximorfona
0,2 IM
0,2 IM
0,2 IM
0,1 IM
Xilazina
Butorfanol
0,2 IM
0,4 IM
0,2 IM
0,2 IM
0,5 IV
0,005 IV
Acepromazina
Butorfanol
0,1 IM
0,4 IM
0,05 IM
0,4 IM
0,05 IV
0,1 IV
Xilazina
Meperidina
0,5 IV
0,2 IV
Levomepromazina
Midazolam
0,5 IV
0,1 IV
0,5 IM
0,5 IM
Medetomidina
Acepromazina
0,002 IM
0,1 IM
Medetomidina
Morfina
0,005 IM
1,0 IM
0,01 IM
0,2 IM
Medetomidina
Butorfanol
0,01 IM
0,4 IM
0,01 IM
0,2 IM
* O componente neuroléptico deve ser administrado com 15 minutos de antecedência.
Capítulo 3
Anestésicos Injetáveis
Em geral, os fármacos anestésicos injetáveis não produzem todos os efeitos
desejáveis para obtenção da anestesia geral (inconsciência, hipnose, analgesia,
relaxamento muscular e hiporeflexia). Estes fármacos produzem depressão não seletiva
do sistema nervoso central e inconsciência (sono artificial), que é somente um dos
componentes da anestesia geral. É comum e necessário em anestesiologia a associação de
mais de um fármaco para a obtenção da anestesia geral. O profissional deve ser treinado
para utilizar os vários grupos anestésicos e suas combinações. A adaptação a apenas um
fármaco ou uma só combinação não são aceitáveis para se tornar proficiente na arte de
anestesiar. Alguns anestésicos injetáveis não produzem hipnose como é o caso da
quetamina, devendo ser associada a um fármaco hipnótico para a produção de
inconsciência. Vários fatores devem ser considerados quando se vai selecionar um
anestésico ou uma combinação de fármacos anestésicos para produção da chamada
indução anestésica. A indução anestésica compreende o período de transição entre o
estado de consciência e a inconsciência. Nesta fase várias complicações podem ocorrer
tais como excitação ou mesmo parada cardíaca e/ou respiratória. A classificação do
paciente de acordo com a ASA é que vai determinar que fármaco anestésico é o mais
adequado para o caso.
Indicações e Restrições para o Usos dos Anestésicos Injetáveis
Os diferentes fármacos anestésicos injetáveis têm indicações específicas para o
uso na indução anestésica e estas indicações bem como as limitações destes agentes deve
ser observada. A não observação destes fatores pode produzir efeitos adversos e até o
óbito do paciente.
O tiopental sódico deve ser utilizado somente em pacientes sadios, nunca em
Greyhounds ou galgos como o Irish Wolfhound e outros. É um fármaco com curto
período de efeito (< 30 minutos). Pode ser utilizado em doses fracionadas durante a
anestesia geral em eqüinos para aprofundar o plano anestésico rapidamente.
O pentobarbital sódico é utilizado para controle das convulsões e para a indução
anestésica combinado ao tiopental em animais a serem submetidos a mielografia
contrastada principalmente quando o animal vai receber meios de contraste contendo
iodo. Indicado para indução anestésica em animais de laboratório como pequenos
roedores pois proporcina um período de anestesia mais prolongado que o tiopental.
A quetamina é freqüentemente utilizada para indução anestésica em todas as
espécies domésticas e nas silvestres e exóticas. Pode ser utilizada também para a
contenção de animais silvestres e como medicação pré-anestésica em felinos domésticos.
A tiletamina tem as mesmas indicações que a quetamina, sendo que somente deve
ser administrada associada a um derivado benzodiazepínico(zolazepam ou flunitrazepam)
potente pois é duas vezes mais potente que a quetamina e a ocorrência de efeitos adversos
tais como a catalepsia é mais freqüente.
O propofol produz indução anestésica de curta duração (< 20 minutos). Apresenta
duas vantagens em relação ao tiopental por não produzir arritmias cardíacas com a
mesma freqüência e pela rápida e completa recuperação do paciente mesmo após infusão
contínua por várias horas.
O etomidato está indicado para os pacientes cardiopatas pois não altera a função
cardiovascular. Deve ser sempre administrado associado a um benzodiazepínico como o
midazolam ou um derivado opiópide como o fentanil.
O hidrato de cloral é um agente anestésico antigo, mas que ainda tem algumas
indicações, principalmente para a contenção de animais silvestres e eqüinos agressivos.
Apresenta a vantagem de poder ser administrado por vias oral e retal o que facilita a
administração em animais intratáveis.
O Guafenisin (éter gliceril guaiacolato) é um relaxante muscular de ação no
sistema nervoso central, não produzindo inconsciência, mas está indicado associado a um
agente anestésico geral para indução anestésica em bovinos, eqüinos, animais exóticos
como Lhamas e em pequenos ruminantes. Em caninos e felinos deve ser evitado pelo
grande risco de hemólise.
Mecanismos de Ação dos Anestésicos Injetáveis
Acredita-se que os fármacos anestésicos tenham multiplos efeitos no sistema
nervoso central para a produção do estado de anestesia. Várias teorias foram propostas.
Alterações das membranas celulares dos neurônios produzindo trocas iônicas e a
interferência com o sistema neurotransmissor-receptor são as teorias mais prováveis. A
maioria dos anestésicos injetáveis como os barbituratos, propofol e etomidato
potencializam os efeitos depressores do SNC produzidos pelo GABA. Os anestésicos
dissociativos como a quetamina e a tiletamina provavelmente tem mecanismos diferentes
tais como antagonismo dos receptores muscarínicos colinérgicos no SNC, agonistas de
receptores sigma e antagonistas dos receptores N-metil-D-aspartato responsáveis pela
transmissão do estímulo doloroso ao cortéx cerebral. O guaifenesin não é um anestésico
geral, embora produza relaxamento (relaxação) muscular de orígem central através do
bloqueio da neurotransmissão ao nível dos neurônios internunciais (ou intercalares) na
medula espinhal (efeito semelhante aos benzodiazepínicos).
DERIVADOS BARBITÚRICOS
Os derivados barbitúricos são classificados quanto ao seu tempo de ação ou
efeito. Os de longa e curta duração são indicados para o controle das convulsões
enquanto os de ultra-curta duração de ação são empregados em anestesiologia:
Longa duração de ação 8-12 horas ex. Fenobarbital sódico
Curta duração de ação 1-2 horas ex. Pentobarbital sódico
Ultra-curta duração de ação 5-15 minutos ex. Tiopental sódico
1. TIOPENTAL SÓDICO:
O tiopental sódico produz início de efeito 10-30 segundos após administração
intravenosa e seu período hábil anestésico é de 5 a 15 minutos. O tiopental sódico é
um derivado sulfúrico do ácido barbitúrico (tio) análogo ao pentobarbital. Torna-se
instável em solução ou em contato com o ar. Deve ser estocado em frasco selado e a
solução utilizada em 3 dias após diluição. Quando conservado sob refrigeração pode
ser utilizado por até 10 dias. A diluição é feita com solução salina 0,9% ou água
destilada em concentrações de 1,25% a 5%. As soluções de 1,25% a 2,5% são
utilizadas em pequenos animais para evitar tromboflebites, enquanto a 5% é utilizada
em grandes animais. As soluções de tiopental sódico são extremamente alcalinas com
pH variando de 10 a 11. Soluções com pH tão elevado são potencialmente irritantes
para os tecidos causando morte celular e necrose. O tiopental sódico somente deve ser
administrado por via intravenosa e nunca perivascular. Quando ocorrer administração
acidental subcutânea ou intramuscular, administrar lidocaína 2% sem vasoconstritor
(epinefrina) para evitar vasoespasmo e grandes volumes de NaCl 0,9% para produzir
efeito diluidor.
PREPARO DA SOLUÇÃO:
a) Solução a 2,5%
1 grama de tiopental sódico = 1000mg
40ml de solução salina 0,9%
1000mg em 40ml ou 25mg/ml
Para preparar uma solução a 1,25%, usar o dobro de diluente (80ml de salina 0,9%) e
para 5% usar a metade (20ml de NaCl 0,9%). Lembre sempre que estes cálculos são
para 1 g de tiopental sódico.
Métodos de Administração:
O tiopental sódico somente deve ser administrado quando um acesso venoso foi
estabelecido através de um catéter ou disposito intravenoso do tipo butterfly.
Preferentemente os animais devem ser sedados ou tranqüilizados antes da indução
com tiopental sódico para reduzir-se as doses de tiopental, reduzir o risco de
excitação do sistema nervoso central, reduzir a estimulação simpática e evitar
arritmías cardíacas. Sem medicação pré-anestésica adequada, pode ocorrer excitação
durante a indução anestésica e durante a recuperação anestésica. Em grandes animais
principalmente não se deve administrar tiopental sem medicação pré-anestésica. Em
pequenos animais e pequenos ruminantes (ovinos e caprinos) a dose utilizada é de 10
a 15mg/kg IV. Esta dose é calculada e ½ ou 1/3 da dose é administrada rapidamente.
Após 15 segundos, o restante da dose é administrado lentamente até obter-se o grau
de relaxamento desejado. Em grandes animais este tipo de administração “ao efeito”
não deve ser utilizado. Geralmente utiliza-se 5,5mg/kg em eqüinos e bovinos adultos
e toda a dose calculada deve ser administrada rapidamente. O tiopental deve ser
administrado em dose única para intubação traqueal ou procedimentos diagnósticos
rápidos em animais jovens e sadios não portadores de arritmías cardíacas. Em animais
geriátricos ou pediátricos e nos muito debilitados deve ser evitado. Doses repetidas
são cumulativas e o tempo de recuperação anestésica será prolongado, geralmente
com hipotermia grave.
1.1 – Efeitos no Sistema Nervoso Central e Farmacologia
O tiopental produz indução anestésica rápida destituída de analgesia. Ocorre
depressão do cortéx cerebral, do tálamo e do hipotálamo. O fármaco é rapidamente
distribuído a partir da administração venosa para os orgãos ricamente vascularizados
como cérebro, coração e pulmões. Após 5 a 15 minutos o efeito anestésico desaparece
por redistribuição para outros tecidos como músculos e tecido adiposo. Ocorre
acúmulo do fármaco nestes tecidos e lentamente o fármaco acumulado retorna para o
circulação sistêmica produzindo sonolência e aumentando o tempo de recuperação.
Por este motivo doses repetidas devem ser evitadas. O pH sangüíneo e a concentração
de proteínas plasmáticas podem interferir com a potência dos barbitúricos. A acidose
(respiratória ou metabólica) aumenta a fração de tiopental ionizado aumentando a
potência da droga. O tiopental liga-se a proteínas plasmática em cerca de 65%.
Assim, animais hipoproteinêmicos (principalmente albumina) terão maior
concentração de fármaco livre (não ligado a proteínas plasmáticas) aumentando a
potência da droga e aumentando os riscos de efeitos adversos. O tiopental é
detoxificado pelo complexo enzimático hepático e os metabólitos excretados na urina.
Os Greyhounds têm dificuldade de metabolismo hepático do tiopental, ocorrendo
recuperação lenta e agitada. Por este motivo, cães desta raça NÃO devem ser
anestesiados com tiopental.
1.2 – Efeitos Cardiovasculares
Os efeitos cardiovasculares dos derivados barbitúricos podem ser deletérios em
animais geriátricos ou nos debilitados, ou quando o fármaco é utilizado em doses
altas. O tiopental sensibiliza o miocárdio ao efeito das catecolaminas endógenas e
exógenas (adrenalina) e dos inotrópicos positivos (dopamina e dobutamina)
produzindo arritmías ventriculares. Pode ocorrer taquicardia sinusal, bigeminismo
ventricular e extrassístoles. Estas arritmías podem ser transitórias (1 a 2 minutos) ou
prolongadas. Quando as arritmías são prolongadas estas podem evoluir para
taquicardia ventricular, fibrilação ventricular e parada cardíaca. As arritmías
produzidas pelo tiopental sódico podem ser potencializadas pela xilazina e outros
agonistas alfa-2 e pelo halotano. Além destes, o uso trans-cirúrgico de epinefrina
(cirurgias oculares e esplenectomias) e a dor podem desencadear arritmías em
animais anestesiados com tiopental. O tiopental sódico produz redução do débito
cardíaco e dimiuição da pressão arterial. Estes efeitos são compensados por animais
hígidos, mas não são tolerados por animais geriátricos e/ou debilitados.
1.3 – Efeitos Respiratórios
Os derivados do ácido barbitúrico são depressores potentes da ventilação pulmonar.
Ocorre depressão do centros respiratórios na medula (apneustico e pneumotácico).
Pode ocorrer apnéia temporária após indução com tiopental que pode exigir suporte
ventilatório através de intubação traqueal e ventilação artificial mecânica ou manual.
A depressão respiratória pode ser potencializada pelos fármaco utilizados na MPA,
principalmente quando a morfina ou os agonistas alfa-2-adrenérgicos forem
utilizados. Depressão respiratória prolongada pode ocorrer sendo necessária
ventilação por pressão positiva intermitente durante todo o período trans-cirúrgico. O
cloridrato de doxapram (Dopram, Viviram) podem ser utilizados por via venosa (0,5 a
1mg/kg ) como analépticos respiratórios após indução com tiopental sódico quando
houver apnéia, com excessão dos casos em que ocorrer arritmias cardíacas
concomitantes. O doxapram pode potencializar as arritmías cardíacas e ocorrer para
cardíaca. Em animais gestantes deve ser evitado pois por ser altamente lipossolúvel,
atravessa a barreira plancentária rapidamente produzindo depressão ventilatória e
cardiovascular no feto.
2. PENTOBARBITAL SÓDICO
O pentobarbital sódico produ efeito de 1 a 2 minutos após administração e seu tempo
hábil anestésico é de 1 a 2 horas. É utilizado como agente anestésico único somente
em animais de laboratório ou em pesquisas com cães. A principal indicação para o
uso do pentobarbital sódico é o controle das convulsões. O pentobarbital é um
oxibarbiturato que pode causar excitação do sistema nervoso central se o animal não
for adequadamente sedado ou tranqüilizado ou se for administrado muito lentamente.
O pentobarbital raramente causa arritmías cardíacas embora produza depressão
respiratória marcante. O tempo de recuperação pode ser longo (8 a 24 horas) quando
forem utilizadas doses elevadas ( > 30 mg/kg IV). Em sub-doses como é
recomendado para controle de convulsões ( 5mg/kg IV), o período de recuperação é
de cerca de 1 a 2 horas. Animais hipotérmicos, hipotensos ou hipoglicêmicos terão
um período de recuperação mais prolongado. O metabolismo é hepático e a
recuperação é dependente do metabolismo. Assim animais com disfunção hepática
apresentarão recuperação lenta. Não deve ser utilizado em eqüinos pois a recuperação
prolongada geralmente com episódios de excitação do sistema nervoso central.
PROPOFOL
O propofol é um alquil-fenol relativamente insolúvel. Necessita ser diluído em uma
solução (emulsão) contendo óleo de soja, glicerol e clara de ovo purificada e
fosfatada, tornando-se uma solução de aspecto leitoso. O pH da emulsão varia de 7 a
8,5. Esta emulsão em razão do conteúdo proteico torna-se facilmente um excelente
meio de cultura para microorganismos, já que não é adicionado preservativo
bacteriostático. O propofol deve ser administrado somente por via intravenosa. Como
os derivados barbitúricos, produz indução anestésica rápida. A utilização de MPA
reduz a dose necessária de propofol. Geralmente os períodos de indução e
recuperação anestésicos são destituídos de excitação, embora mioclonias e convulsões
possam ocorrer principalmente em animais com história clínica de epilepsia. Pode ser
utilizado por infusão contínua, pois o metabolismo é mais rápido e eficiente do que o
dos barbitúricos, não ocorrendo efeito cumulativo. Pode produzir dor no momento da
administração, principalmente nos animais que não foram pré-medicados. Não ocorre
irritação tecidual se for administrado perivascular como com os barbitúricos, sendo
portanto recomendado nos animais com fragilidade vascular. Em geral o propofol é
utilizado para indução anestésica, mas também pode ser utilizado para procedimentos
rápidos como exames laríngeos, pequenas suturas, radiografias, exames ortopédicos e
cirurgias de curta duração como orquiecotmias.
1.1 – Efeitos no SNC e Metabolismo
Assim como os barbitúricos, o propofol produz depressão generalizada do SNC,
sendo destituído de efeito analgésico. Após uma única dose de 4 a 6mg/kg IV, ocorre
redistribuição do fármaco do cérebro para outros compartimentos, ocorrendo
recuperação rápida (3 a 7 minutos) e o animal retoma a deambulação normal após 20
a 30 minutos (1 a 2 horas para os barbitúricos e anestésicos voláteis). O metabolismo
é parcialmente hepático e extra-hepático (pulmões, nos pneumócitos). Os metabólitos
inativos são eliminados por via renal. O propofol se liga fortemente às proteínas
plasmáticas (95%-99%), portanto animais com baixa concentração de PPT (> 3g/dl)
serão mais sensíveis aos efeitos do fármaco.
1.2 – Efeitos Cardiovasculares
Semelhantes ao tiopental sódico com excessão das arritmías cardíacas e da
taquicardia sinusal produzidas pelos barbitúricos e que não ocorrem com propofol.
Estas diferenças são marcantes e auxiliam na seleção entre um ou outro fármaco nos
animais portadores de arritmías cardíacas. Ocorre hipotensão arterial e pode ocorrer
bradicardia acentuada se opióides forem utilizados concomitantemente. Nestes casos
utiliza-se o sulfato de atropina para normalizar a FC, ou na MPA (0,044mg/kg IM) ou
0,02mg/kg IV.
1.3 – Efeitos Respiratórios
O Propofol produz depressão respiratória dose dependente, podendo ocorrer apnéia e
cianose (saturação da hemoglobina por O2 < 70%, quando a concentração de
hemoglobina > 5g/dl). Meios de suporte ventilatório devem estar disponíveis sempre
que se utiliza propofol (tubos traqueais, laringoscópio e sistema de ventilação). Para
evitar apnéia com propofol, administre a dose calculada entre 40 a 60 segundos.
1.4 – Efeitos Hematológicos
O propofol pode oxidar a hemoglobina e produzir a formação de corpúsculos de
Heinz. Este efeito foi observado em gatos que receberam propofol por 3 dias
consecutivos. Felinos que apresentem corpúsculos de Heinz não devem ser
anestesiados com propofol. Esta oxidação da hemoglobina provavelmente ocorre pelo
componente fenólico do propofol (alquil-fenol).
1.5 – Indicações e Uso Clínico
O propofol é utilizado para obtenção de indução anestésica rápida,principalmente nos
animais portadores de arritmías cardíacas. Pode ser utilizado em todas as espécies
domésticas, em doses que variam de 3-6mg/kg quando se utiliza MPA e de 4-8mg/kg
em animais que não foram pré-medicados. Outra forma de uso do propofol é através
da infusão contínua em doses de 0,3-0,6mg/kg/minuto. O propofol deve ser utilizado
sempre por via venosa.
DERIVADOS FENCICLIDÍNICOS (CICLOHEXAMÍNICOS)
1. CLORIDRATO DE QUETAMINA
A quetamina é um anestésico chamado dissociativo pois produz uma “separação”ou
dissociação química entre o tálamo e o cortéx cerebral. Este efeito produz delírios e
catatonia. O tempo de início de efeito é de cerca de 1 a 2 minutos após
administração venosa e 3 a 5 minutos após administração muscular. O tempo de
efeito total após uma única dose é de 15 a 20 minutos. A solução tem um pH de 3,5,
sendo muito irritante e dolorosa quando administrada por via intramuscular. A
apresentação mais indicada é aquela que apresente os dois isômeros (+ e -) ou seja
uma mistura racêmica.
1.1 - Métodos de Administração
A quetamina pode ser utilizada por via IV, IM, SC, oral, retal e epidural. Pode ser
utilizada na maioria das espécies domésticas e silvestres.
- Para imobilização de animais silvestres: Usar isolada por via IM ou SC de 15 a
50mg/kg dependendo da espécie (animais de maior peso corporal recebem doses
menores).
- Para anestesia dissociativa: Associar com outros fármacos como xilazina,
acepromazina, diazepam, midazolam ou romifidina
1.2 – Efeitos no Sistema Nervoso Central e Metabolismo
A quetamina produz anestesia e analgesia dose-dependente. Deprime a função
neuronal no sistema neocorticotalâmico (dissociação) e deprime neurônios
nociceptivos (analgesia); estimula áreas do sistema límbico como o hipocampo, o que
fez com que a quetamina não mais fosse utilizada em seres humanos (as pessoas
falam o que querem e o que não querem ☺). Pode ocorrer convulsão após o uso
isolado da quetamina e rigidez muscular. Estes efeitos são contornados utilizando-se
um sedativo ou tranqüilizante concomitantemente à quetamina. A quetamina produz
analgesia somática mais intensa do que visceral, portanto está mais indicada para as
cirurgias das estruturas esqueléticas, músculos, tendões e pele. A quetamina é
lipossolúvel e possui baixo peso molecular o que faz com que a transferência do
espaço epidural para o subaraquenóide seja rápida, podendo ocorrer ataxia severa e
queda do animal. A absorção após administração intramuscular é rápida pela alta
lipossolubilidade (< 5 minutos). O metabolismo é hepático em cães, eqüinos e seres
humanos ( > 50% da dose administrada). O restante é excretado sem alterações por
via urinária. Em gatos, mais de 80% da dose administrada é eliminado na urina sem
metabolismo. Assim em cães e eqüinos portadores de disfunção hepática o
metabolismo pode ser prolongado. Já em felinos, animais oligúricos ou portadores de
insuficiência renal podem apresentar recuperação longa.
1.3 – Efeitos Cardiovasculares
Entre os anestésicos a quetamina é o único que estimula o sistema cardiovascular, ao
contrário dos demais que são depressores. Os efeitos simpatomiméticos no SNC,
vasodilatação e inotropismo positivo (aumento da força de contração) do miocárdio,
resultam em aumento da freqüênica cardíaca, aumento da pressão arterial e aumento
do volume sangüíneo ejetado por minuto pelo coração (débito cardíaco). Pode ocorrer
taquicardia sinusal acentuada e aumento do consumo de oxigênio pelo miocárdio em
função deste aumento de freqüência. Os efeitos da quetamina sobre o sistema
simpático são dependentes da integridade deste último pois a quetamina produz
aumento da liberação de catecolaminas (epinefrina e norepinefrina) e animais que não
tenham reservas destes neurotransmissores não respondem adequadamente. Além
disso, lesões anatômicas do sistema simpático também bloqueiam os efeitos
simpátomiméticos da quetamina.
1.4 – Efeitos Respiratórios
A quetamina não deprime a função respiratória como outros anestésicos gerais
injetáveis. A freqüência respiratória não se altera e o volume minuto pulmonar
(FR/minuto x volume corrente) também se mantém dentro de valores normais. Doses
elevadas produzem respiração de padrão apneustico (menor volume corrente e maior
freqüência respiratória). O reflexos faríngeos e laríngeos são mantidos o que pode
dificultar a intubação orotraqueal. Ocorre aumento das secreções traqueais e
bronquiais, o que pode ser evitado com o uso de anticolinérgicos como o sulfato de
atropina.
1.5 – Outros Efeitos Farmacológicos
Hipertonicidade muscular (usar relaxantes), aumento da pressão intracraniana (evitar
nos traumatismos cranianos), aumento da pressão intraocular (evitar nas cirurgias
intraoculares como tratamento cirúrgico da catarata). Os efeitos sobre o feto são
mínimos em doses baixas (até 10 mg/kg), portanto não contra-indicação nas
cesareanas. Os reflexos oculopalpebrais são mantidos e pode ocorrer nistagmo em
eqüinos e suínos, indicando plano muito superficial de anestesia não adequado para
cirurgias.
1.6 Indicações e Uso Clínico
A quetamina é indicada para obtenção de contenção química ou indução anestésica
em diversas espécies domésticas e silvestres. De forma geral a dose para contenção
química varia de 10 a 20 mg/kg por via IM. Por via venosa a dose recomendada para
a indução anestésica varia de 2.2 mg/kg em eqüinos e bovinos a 4-6mg/kg em caninos
e felinos. Por sua ação analgésica e quetamina pode ser utilizada por via venosa em
incrementos de 0,2mg/kg durante o período trans-operatório quando ocorre
superficialização do plano anestésico em caninos, felinos e eqüinos.
2. CLORIDRATO DE TILETAMINA (TELAZOL®, ZOLETIL®)
A tiletamina é um derivado fenciclidínico similar a quetamina e o metabolismo é
semelhante nas espécies. Por ser cerca de duas vezes mais potente, o fármaco é
comercializado combinado a um benzodiazepínico (zolazepam) para produzir
relaxamento muscular. As doses são recomendadas considerando a associação como
um fármaco único. Deve-se observar nas embalagens a concentração total. O
TELAZOL apresenta 500mg e o ZOLETIL 250mg por frasco. Portanto, adicionando-
se 5ml de diluente, o TELAZOL apresenta o dobro da concentração do ZOLETIL
(100mg/ml x 50mg/ml).
A associação tiletamina-zolazepam produz anestesia similar a associação
quetamina/diazepam. Os reflexos oculopalpebrais são mantidos, os reflexos de
deglutição (faríngeo) e laríngeo também se mantém. O zolazepam evita os efeitos
convulsógenos da tiletamina. Pode ser utilizado por via IM ou IV em caninos, felinos,
suínos, ovinos e bovinos. Em eqüínos deve ser utilizado somente por via IV SEMPRE
precedido de sedação intensa, MAS INTENSA MESMO!!! Ou ocorrerá excitação do
SNC. Os efeitos adversos mais comuns são a depressão respiratória principalmente
quando associado a outros sedativos e tranqüilizantes, recuperação prolongada
(felinos > 24 horas) e excitação na recuperação de eqüinos, caninos e suínos. Felinos
metabolizam a tiletamina mais rapidamente que o zolazepam (recuperação
prolongada). Caninos metabolizam o zolazepam mais rapidamente (recuperação com
excitação).
DOSES E ASSOCIAÇÕES RECOMENDADAS:
Caninos/Felinos 2mg/kg IM como MPA
5-15mg/kg IM
4-7mg/kg IV 45 minutos de anestesia
Caninos Tiletamina-zolazepam 5mg/kg IM
Xilazina 1mg/kg IM
Butorfanol 0,2mg/kg IM
Produz cerca de 60 minutos de anestesia
Suínos Tiletamina-zolazepam 3-6mg/kg IM
Xilazina 1mg/kg IM
Produz 60 minutos de anestesia
Eqüinos Xilazina 1,1mg/kg IV
Tiletamina-zolazepam 1,5mg/kg IV
30 minutos de anestesia
ETOMIDATO
O etomidato é um derivado imidazólico dissolvido em propilenoglicol (2mg/ml em
35% propilenoglicol) com pH 5,0. Deve ser mantido sob refrigeração. O tempo para
início de efeito após administração IV é de 10-30 segundos e a duração de efeito varia
de 5-10 minutos. Em caninos e felinos deve ser utilizado por via IV exclusivamente.
Em animais de laboratório como pequenos roedores, pode ser alternativamente
utilizado por via intraperitoneal. Normalmente o etomidato é utilizado associado ou
após um derivado benzodiazepínico ou opióide. Deve ser utilizado para indução
anestésica em caninos e felinos portadores de insuficiência cardíaca grave. O
etomidato produz depressão adrenocortical importante e deve ser evitado em animais
portadores de doença de Addison (deficientes em cortisol), ou em animais em estado
de choque ou politraumatizados (necessitam de uma adequada resposta
adrenocortical)
1.1 – Efeitos no SNC e Metabolismo
O local de efeito hipnótico do etomidato parece ser a formação reticular no tronco
cerebral. Produz inconsciência mas não produz analgesia. Rapidamente é
redistribuído do cérebro para outros tecidos, por isso o tempo de ação no SNC é
curto. Sofre hidrólise e metabolismo hepático. Os metabólitos são eliminados na
urina. Cerca de 75% da dose administrada liga-se as proteínas plasmáticas. O fármaco
pode produzir mioclonias de orígem central, embora seja anticonculsivante e diminua
o metabolismo cerebral, podendo ser usado nos casos de trauma craniano.
1.2 – Efeitos Cardiovasculares e Respiratórios
É o indutor anestésico que maior estabilidade cardiovascular produz. Mantém as
funções mediadas pelos baroreceptores (resposta a hipotensão e a hipertensão,
produzindo vasoconstrição ou vasodilatação periférica e aumento ou diminuição da
freqüência cardíaca). Não produz efeito intrínseco sobre a FC e pressão arterial e não
interfere com a contração do miocárdio. Ao contrário dos barbitúricos, não é
arritmogênico para o miocárdio. Em animais alérgicos, não ocorre liberação de
histamina, sendo portanto indicado nos casos em que uma resposta histaminérgica
seja indesejada (evitando hipotensão por vasodilatação periférica). Os efeitos sobre a
freqüência e volumes ventilatórios são mínimos não ocorrendo depressão da função
respiratória.
1.3 – Indicações e Uso Clínico
O etomidato está indicado nos pacientes portadores de insuficiência cardíaca
congestiva e arritmías ventriculares graves. Também pode ser indicado nos casos de
pacientes alérgicos pois não produz liberação de histamina. Utiliza-se em doses de 1 a
2mg/kg por via intravenosa precedido de narcóicos opióides ou benzodiazepínicos
para redução da dose e evitar-se a ocorrência de mioclonias. Em roedores é possível
utilizar-se a via intraperitoneal em doses de 5 a 10mg/kg associado a um opióide
como o fentanil em doses de 10 a 20μg/kg.
CAPÍTULO 4
ASSOCIAÇÕES DE ANESTÉSICOS INJETÁVEIS
Associações de Fármacos Anestésicos Injetáveis
Existem várias razões para se associar fármacos com atividade anestésica e
analgésicas, principalmente o fato da não existência de um único anestésico que
possua todas as propriedades desejáveis para obtenção dos diferentes efeitos
necessário para anestesia do paciente. Ao associarem-se fármacos de grupos
diferentes, procura-se utilizar as características farmacológicas destes agentes para
obtenção de efeitos como analgesia, relaxamento muscular, hipnose ou narcose e
outros. Em algumas associações, determinados fármacos são incluídos para
antagonizar efeitos indesejáveis de outros, como por exemplo quando se utiliza o
diazepam com etomidato, procurando-se evitar as mioclonias deste último pelo efeito
relaxante muscular do primeiro. Outro exemplo é a associação quetamina e xilazina
na qual a quetamina é utilizada entre outras razões para antagonizar a bradicardia
característica dos agonistas alfa-2-adrenérgicos.
Embora as associações de fármacos injetáveis sejam característica da anestesiologia
veterinária, com grandes vantagens, não as são completamente destituída de
complicações. Deve-se conhecer a farmacologia dos fármacos individualmente pois
os efeitos adversos dos diferentes agentes serão somados nas associações. Geralmente
cada componente terá sua dose ajustada, ou seja, diminuída para evitar-se
superdosagem.
Comumente os efeitos adversos mais observados com as associações anestésicas
são:
- Depressão do sistema nervoso central
- Depressão respiratória
- Recuperação prolongada
- Bradicardia
- Hipotensão
- Incompatibilidade física da mistura (precipitação)
1. Associações com Quetamina
O cloridrato de quetamina pode causar uma série de efeitos indesejáveis tais como:
- hipertonicidade muscular
- mioclonias
- convulsões
- Excitação do sistema nervoso central
- Respiração do tipo apneustica
- Salivação
- Hipertermia
Estes efeitos podem tornar os períodos trans e pós-anestésicos de difícil controle,
principalmente em eqüinos. Em caninos e felinos a ocorrência de salivação intensa e
hipertermia são os principais efeitos adversos que procura-se contornar associando-se
sedativos e tranqüilizantes com os anestésicos dissociativos.
De forma geral, são utilizados os seguintes fármacos associados à quetamina em razão de
seus efeitos antagônicos:
Fármaco Propriedades
1. Xilazina Sedação, relaxamento muscular, analgesia
2. Acepromazina Tranqüilização, vasodilatação periférica (<
temperatura corporal
3. Promazina Tranqüilização
4. Diazepam Relaxamento muscular, anticonvulsivante
5. Midazolam Relaxamento muscular, anticonvulsivante
6. Morfina Analgesia, sedação
7. EGG (guaifenesin) Relaxamento muscular
8. Atropina Efeito antisialagogo
1.2 - Associações com Quetamina em Caninos
Geralmente a quetamina é utilizada por via IV para obtenção de indução anestésica
em caninos, ou para procedimentos curtos de menos de 10 minutos de duração como
radiografias e pequenas suturas. Pode também ser utilizada por via intramuscular
associada a xilazina e ao sulfato de atropina para obtenção de anestesia total injetável
para procedimentos de menos de 60 minutos de duração. Quando utilizada
isoladamente em caninos a quetamina produz rigidez muscular e salivação intensa,
sendo portanto obrigatória sua associação a outros fármacos anestésicos injetáveis.
Deve-se ter em mente que embora as associacões sejam injetáveis, é sugerido que se
observem cuidados com relação a ventilação pulmonar e estejam disponíveis tubos
traqueais e uma fonte de oxigênio para os casos de depressão respiratória e/ou apnéia.
Fármacos Doses/Vias Duração de Efeito
Acepromazina
Midazolam
Quetamina
0,05mg/kg IM
0,07mg/kg IM
6-11mg/kg IV
10-15 minutos
Acepromazina
Diazepam
Quetamina
0,05mg/kg IV
0,2g/kg IV
6-11mg/kg IV
10-20 minutos
Diazepam
Quetamina
0,2mg/kg IV
6-11mg/kg IV
10-15 minutos
Xilazina
Atropina
Quetamina
Diazepam
0,5-1mg/kg IM
0,044mg/kg IM
4-7mg/kg IV
0,2mg/kg IV
15-30 minutos
Xilazina
Atropina
Quetamina
1,0mg/kg IM
0,044mg/kg IM
20mg/kg IM
40-60 minutos
1.3 - Associações com Quetamina em Felinos
As mesmas regras gerais aplicam-se aos felinos quando se utiliza quetamina para
contenção química ou anestesia total. Os efeitos depressores respiratórios são mais
intensos em felinos, assim deve-se obervar atentamente a ocorrência de depressão
respiratória.
Fármaco Doses/Vias Duração
Xilazina
Quetamina
2mg/kg SC
10-15 mg/kg SC
10-20 minutos
Xilazina
Quetamina
0,5mg/kg IM
20mg/kg IM
20-40 minutos
Xilazina
Quetamina
2mg/kg IM
20mg/kg IM
30-60 minutos
Acepromazina
Quetamina
0,05mg/kg IM
20mg/kg IM
15-45 minutos
Acepromazina
Quetamina
Butorfanol
0,05mg/kg IM
7-11mg/kg IM
0,4mg/kg IM
45-60 minutos
Midazolam
Quetamina
0,2mg/kg IM
10-15 mg/kg IM
15-30 minutos
Midazolam
Quetamina
Butorfanol
0,1mg/kg IM
15mg/kg IM
0,4mg/kg IM
20-40 minutos
1.4 - Associações com Quetamina em Eqüinos
As associações de quetamina com outros sedativos ou tranqüinlizantes somente estão
indicadas para a obtenção de indução anestésica em eqüinos. A contenção
farmacológica com quetamina em eqüinos não é utilizada pois a quetamina quando
utilizada por via sistêmica (intravenosa ou intramuscular) produz ataxia e decúbito
nesta espécie.
Fármaco Doses/vias Duração/observações
Xilazina *
Quetamina
1,1mg/kg IV
2,2mg/kg IV
15 a 20 minutos. O animal deve
estar profundamente sedado
com a xilazina antes da
administração da quetamina.
Xilazina
Acepromazina
Quetamina
1,1mg/kg IV
0,02mg/kg IV
2,2mg/kg IV
15-25 minutos. Pequenas
cirurgias. Não deve ser
utilizada para indução
anestésica em eqüinos que
serão mantidos com anestésicos
voláteis (halotano, isoflurano,
sevoflurano).
Xilazina
Butorfanol
Quetamina
1,1mg/kg IV
0,02mg/kg IV
2,2mg/kg IV
20-30 minutos. Profunda
sedação com butorfanol e
xilazina. Esta técnica pode ser
utilizada para pequenas
cirurgias.
Xilazina
Diazepam
Quetamina
1,1mg/kg IV
0,02mg/kg IV
2,2mg/kg IV
20-30 minutos. Utilizar a
xilazina para obter sedação e a
quetamina + diazepam para a
indução anestésica ou pequenas
cirurgias.
Xilazina
Tiletamina-zolazepam
1,1mg/kg IV
1,5mg/kg IV
25-35 minutos. Pequenas
cirurgias ou indução anestésica
Xilazina
EGG
Quetamina
0,4-1,1mg/kg IV
50-100mg/kg IV
2,2mg/kg IV
20-30 minutos. Sedar com a
xilazina. Administrar o EGG
até produzir o efeito
desejado(relaxamentomuscular)
e induzir com a quetamina.
*A xilazina pode ser substituída por romifidina 80-100μg/kg IV
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Apostila natalini completa

  • 1. ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA PROF. DR. CLÁUDIO C. NATALINI Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Fluminense (1984), mestrado em Cirurgia Veterinária pela Universidade Federal de Santa Maria (1991), doutorado (Ph.D.) University of Minnesota (2000) e pós-doutorado realizado na Louisiana State University no tema farmacologia e biologia molecular. Atualmente é professor adjunto do departamento de farmacologia, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Esta apostila originou o livro “TEORIA E TÉCNICAS EM ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA” que possui como colaboradores Alexandre da Silva Poydoro, Jefferson da Silva Pires, Fábio Futema, Luciana Dambrósio Guimarães e Simone Bopp. O livro foi editado pela editora Artmed em 2007.
  • 2. I - Princípios de Anestesiologia Veterinária Capítulo 1 Introdução à Anestesiologia TERMINOLOGIA UTILIZADA EM ANESTESIOLOGIA: Anestesiologia Termo utilizado para descrever o estudo dos fármacos e técnicas empregadas para obtenção do estado anestésico. Deve ser diferenciado de anestesia que significa o ato anestésico em si. A anestesiologia veterinária foi criada na Inglaterra em 1846 logo após a demonstração do uso do éter em seres humanos pelo dentista Inglês MORTON no mesmo ano. Desde então as técnicas e drogas anestésicas utilizadas em animais acompanham a evolução da anestesiologia humana. Anestesia Anestesia é a obtenção de um estado reversível de não reconhecimento do estímulo doloroso pelo cortex cerebral, podendo ser localizada ou geral com a obtenção de inconsciência. Deve ser lembrado que o estado de inconsciência não implica obrigatoriamente na ocorrência de anestesia apropriada para determinados procedimentos cirúrgicos. É produzida através do uso de fármacos anestésicos que deprimem o sistema nervoso central ou periférico. Os fármacos anestésicos desejáveis são aqueles que produzem seu efeito farmacológico com menor freqüência possível de efeitos adversos. A obtenção do estado anestésico pode envolver a associação de diversas técnicas e agentes. Anestesia Local Compreende a administração local de um ou mais agentes anestésicos com o objetivo de produzir anestesia a uma parte localizada do organismo. Quando utilizada isoladamente não envolve inconsciência. Anestesia Regional Compreende o bloqueio anestésico de uma parte localizada do organismo à semelhança da anestesia local, embora na anestesia regional o objetivo seja o de anestesiar um tronco nervoso e produzir anestesia de uma maior área do organismo. De forma semelhante a anestesia local, quando utilizada isoladamente não envolve inconsciência. Anestesia Geral Significa perda total da consciência e ausência de reconhecimento do estímulo doloroso ou de resposta à manipulação diagnóstica. A anestesia geral pode ser obtida com
  • 3. fármacos injetáveis ou inalatórios. Em geral a anestesia geral envolve a combinação de mais de um fármaco, embora seja possível o uso de uma único agente (propofol ou isoflurano por exemplo). Anestésico Adjetivo que define o fármaco empregado para anestesiar o paciente, os equipamentos e aparelhos utilizados e as demais condutas clínicas relacionadas ao ato anestésico como por exemplo os exames pré-anestésicos. O termo pré-anestésico pode ser utilizado para designar os procedimentos e fármacos empregados antes da indução anestésica. O termo “pré-anestesia” não é correto pois indicaria uma “anestesia antes da anestesia” o que é técnicamente incorreto. Tranqüilização ou Neurolepsis Estado obtido com fármacos ou outras técnicas como hipnose ou acupuntura em que o paciente permanece consciente embora calmo sem responder exageradamente a manipulação. O animal tranqüilizado não deve ser submetido a procedimentos dolorosos ou manipulado em excesso. Sedação Estado semelhante a tranqüilização embora com maior depressão do sistema nervoso central em que o animal está consciente e responde com menos intensidade a manipulação. No animal sedado com fármacos analgésicos, é possível a realização de procedimentos pouco dolorosos ou minimamente invasivos como remoção de suturas de pele, exames otoscópicos, exames radiográficos que não envolvam administração parenteral de contrastes e etc. Hipnose Chamado sono artificial por que é induzido farmacologiamente ou através de técnicas de auto-sugestão em seres humanos. É um estado característico da anestesia geral pois neste caso o animal é induzido ao sono artificial. Narcose Estado de profunda sedação em que o animal não está em sono artificial porém está completamente desligado do ambiente que o cerca. É um estado característico produzido por analgésicos narcóticos em cães e por intoxicação por alguns gases como monóxido e dióxido de carbono. Analgesia
  • 4. Perda da sensibilidade e percepção do estímulo doloroso. Os fármacos analgésicos produzem sua ação no sistema nervoso central, principalmente na medula espinhal. Desta forma interrompem a transmissão do estímulo doloroso ao cortex cerebral. Acinesia Perda do controle motor e ausência de movimento. Esta definição é importante pois a maioria das técnicas anestésica produz efeito acinético o que é desejável pois o paciente não deve apresentar movimento voluntáio ou involuntário quando sob anestesia. Neuroleptoanalgesia Termo que descreve o estado de narcose associado a profunda analgesia. Na neuroleptoanalgesia o paciente não reconhece estímulo dolorosos embora não seja possível a realização de procedimentos cirúrgicos maiores pois o paciente ainda está consciente. Catalepsia Estado caracterítico produzido por anestésicos dissociativos derivados da fenciclidina como a quetamina e a tiletamina. Ocorre rigidez muscular dos membros locomotores e o animal geralmente não responde a estimulação ou manipulação. É um estado inadequado para cirurgia e alguns procedimentos diagnósticos pois não ocorre relaxamento muscular. Anestesia Dissociativa Estado de anestesia geral em que o animal está dissociado do ambiente. Ocorre a interrupção da neurotransmissão no nível talâmico embora a atividade no nível do cortex cerebral seja mantida. Em geral o animal não responde a estímulos dolorosos mas continua consciente e os reflexos protetores laríngeos como a tosse e faríngeos como a deglutição estejam presentes. USOS DOS FÁRMACOS ANESTÉSICOS E DAS TÉCNICAS DE ANESTESIA: - Contenção - Exames - Manipulação de animais agressivos e espécies selvagens - Cirurgias - Controle de convulsões - Eutanásia
  • 5. VIAS DE ADMINISTRAÇÃO DOS ANESTÉSICOS: 1. Intravenosa 2. Intramuscular 3. Inalatória 4. Subcutânea 5. Tópica 6. Epidural 7. Espinhal (subaraquenóide) Acesso Venoso e Cateterização Venosa: O acesso venoso é utilizado em anestesiologia para administração de fármacos anestésicos, medicamentos utilizados no período perioperatório (antibióticos, fluidos, antiinflamatórios) e medicamentos em caso de emergência como parada cardíaca ou respiratória. Em animais as veias mais comumente utilizadas são a cefálica e safena em pequenos animais e a jugular em grandes animais. Em suínos ainda utiliza-se a veia marginal da orelha. O acesso venoso poder ser realizado com uma agulha de calibre apropriado para a espécie, uma dispositivo venoso como o butterfly ou um catéter venoso. Existem vários calibres e tipos de catéteres disponíveis. A grande vantagem do catéter plástico está no fato do equipamento não se deslocar quando apropriadamente instalado, poder ser mantido por períodos prolongados de tempo para posterior terapia (fluidos e antibióticos). Os dispositivos do tipo agulha hipodérmica e butterfly podem lacerar o vaso sangüíneo. A regra geral para a instalação de um catéter venoso ou a punção venosa é a tricotomia da região, antissepsia com álcool para os casos de punção simples e com iodo-povidona e álcool para a instalação de um catéter, e a compressão venosa distalmente ao ponto de punção.
  • 6. Acesso Venoso Periférico no Cão: Catéter Venoso Butterfly
  • 8.
  • 11. AVALIAÇÃO DO PACIENTE ANTES DO PROCEDIMENTO ANESTÉSICO Uma avaliação clínica apropriada do paciente se faz necessária antes da administração de fármacos anestésicos. O cliente ou proprietário do animal deve ser informado dos riscos que a anestesia envolve e é recomendado que seja assinado um termo de autorização para o profissional proceder à anestesia. Nessa autorização deve constar claramente que o cliente está ciente dos riscos anestésicos e permite o procedimento no seu animal. Mesmo quando se procura utilizar os fármacos e técnicas mais seguras, a falta de uma acurada avaliação clínica do paciente pode produzir complicações que poderiam ser facilmente evitadas. Vários fatores estão envolvidos na avaliação do paciente e, conseqüente seleção dos fármacos e técnicas mais apropriadas. O exame inicial deve começar com uma avaliação física e história clínica do paciente. Para isso, deve ser realizada uma boa anamnese procurando obter do cliente a mais completa e acurada informação sobre o animal, principalmente aquelas relacionadas aos sistemas cardiovascular, respiratório, renal e hepático. Informações sobre episódios anestésicos anteriores também são valiosas. Os resultados dos exames físicos de ausculta cardíaca e pulmonar, inspeção da coloração de mucosas, estado nutricional e as informações obtidas do proprietário vão ditar a necessidade ou não de exames especializados como patologia clínica, por exemplo. Outros fatores importantes Outros fatores são importantes na seleção da técnica anestésica como espécie animal, raça, idade, sexo, peso corporal, temperamento do animal, tipo de procedimento a ser realizado (cirúrgico ou diagnóstico), anestésicos e equipamentos disponíveis e experiência profissional. A raça do animal tem importância como no caso do Doberman Pinscher que freqüentemente apresenta problemas de coagulação pela deficiência do fator de von Wilebrand. Nestes casos o animal deve ser tratado com acetato de desmopressina IVou intranasal 30 a 50 minutos antes do procedimento cirúrgico. O tempo de sangramnto da mucosa oral deve ser avaliado antes da indução anestésica e deve ser inferior a 3 minutos. Schnauzers miniatura, principalmente as fêmeas, não raro apresentam arritmias cardíacas devendo ser procedido uma atenciosa auscultação e obtenção do ECG para essa espécie. Cães da raça Greyhound ou outros galgos não devem ser anestesiados com tiobarbituratos pois são mais susceptíveis a complicações anestésicas com esses fármacos, tais como recuperação prolongada e excitação durante a recuperação. Os animais da raça Boxer são mais susceptíveis aos efeitos dos derivados fenotiazínicos e as doses utilizadas nesta raça devem ser as mínimas necessárias para a obtenção doe feito tranqüilizante desejado. As raças braquicefálicas como o Bulldog e Pug comumente apresentam obstruções anatômicas das vias aéreas superiores. Nesses animais o uso de fármacos pré-anestésicos da função respiratória, como os derivados opióides merecem extrema atenção. Freqüentemente os animais braquicefálicos necessitam receber oxigênio via máscara antes da indução anestésica que deve ser obtida com fármaco de efeito rápido como os tiobarbituratos ou o propofol e a intubação orotraqueal deve ser procedida rapidamente. Outro fator a ser observado é a utilização de medicamentos antes ou durante a anestesia. Antibióticos aminoglicosídeos (gentamicina, neomicina) podem causar
  • 12. bloqueio neuromuscular. Quando associado a anestésicos voláteis (inalatórios) podem causar severa depressão . A gentamicina em altas doses ou utilizada por períodos prolongados pode causar insuficiência renal e pacientes que receberam esse medicamento devem ter avaliada a função renal. Barbitúricos tais como o fenobarbital, utilizados para tratar convulõesdevem ser mantidos embora possam produzir a indução de enzimas hepáticas que metabolizam esses fármacos requerendo doses maiores de tiobarbituratos (tiopental sódico) para a indução anestésica. O uso de corticosteróides por mais de dois dias deprime a liberação de hormônios adrenocorticotróficos (ACTH) reduzindo a capacidade do organismo de reagir ao estresse imposto pela anestesia e cirurgia. Esses animais tratados com corticosteróides devem receber hidrocortisona ou dexametasona IV antes da anestesia. As condições nutricionais do paciente podem interferir com a anestesia por que muitos animais muito obesos, em geral, apresentam algum grau de insuficiência cardíaca e pode apresentar dificuldade ventilatória principalmente quando posicionados em decúbito dorsal. Animais com peso corporal e percentual de gordura abaixo do normal têm menor volume para distribuição de anestésicos, conseqüentemente, será produzida uma maior concentração anestésica sangüínea para uma mesma dose, com maiores efeitos adversos. A seqüência de procedimentos a serem realizados para uma adequada avaliação do paciente a ser anestesiado está resumida no Quadro 1. Quadro 1 - avaliação do paciente para seleção da técnica anestésica Resenha 1. espécie 2. raça 3. idade 4. sexo História clínica 1. afecção médica ou cirúrgica 2. tempo de evolução da enfermidade 3. sinais e sintomas 4. envolvimento de órgãos vitais 5. medicação recente ou atual 6. anestesias prévias Exame físico 1. peso corporal (kg) 2. estado físico (nutricional, grau de hidratação) 3. sistema cardiovascular 4. sistema respiratório 5. palpação abdominal 6. avaliação neurológica 7. sistema locomotor 8. tegumento
  • 13. EXAMES LABORATORIAIS E COMPLEMENTARES Havendo necessidade de exames complementares de patologia clínica ou outros, o ideal é que eles sejam recentes, de no máximo 7 dias de antecedência e, em alguns casos, inferior a 24h. Resultados de exames como gases sangüíneos, hematócrito e proteínas totais do plasma podem sofrer alteração rápida, principalmente nas afecções agudas. Alguns exames laboratoriais podem ser indicados de acordo com a idade do animal e seu estado clínico. Esses exames podem ser agrupados como mostra o Quadro 2. Quadro 2 - Exames laboratorias indicados por estado clínico e idade do paciente Estado clínico Exames Hígido com < 5 anos de idade 1. hematócrito 2. proteínas totais plasmáticas 3. contagem total de leucócitos 4. pesquisa de microfilária Enfermidade moderada sem risco imediato 1. Hemograma completo 2. uréia nitrogenada do sangue 3. creatinina do sangue 4. glicose sangüinea 5. CO2 total do sangue 6. Eletrólitos do sangue (Na+ , K+ , CL- ) Enfermidade grave com risco imediato 1. todos os exames já citados 2. análise dos gases sangüíneos 3. exames específicos (coagulação) 4. provas de função hepática 5. provas de função renal Exames complementares Alguns exames complementares podem ser indicados antes do procedimento anestésico, principalmente nos pacientes portadores de afecções cardiovasculares, respiratórias e naqueles geriátricos ou traumatizados. Exames como eletrocardiograma (ECG), pressão arterial, ultra-sonografa, radiologia e ecografia podem identificar lesões específicas como altertações anatômicas, cardíacas, arritmias cardíacas, obstruções vasculares e gastrintestinais e hiper ou hipotensão arterial. O quadro 5 apresenta um resumo das indicações de exames de acordo com a afecção apresentada pelo paciente. Classificação do paciente - estado físico
  • 14. Após a realização do exame físico e clínico do paciente e obtenção e interpretação dos exames laboratoriais, este paciente deve ser enquadrado em um dos estados físicos segundo a classificação da Associação Americana de Anestesiologia (ASA). O quadro 3 apresenta a relação do estado físico e a classificação que o paciente vai obter após a realização dos exames. Esta classificação é importante pois relaciona o paciente ao risco anestésico a que vai ser submetido. Ela é um indicador para se acessar rapidamente os riscos anestésicos de determinado paciente. Quadro 3 - Classificação do estado físico conforme a Associação Americana de Anestesiologia (ASA) Estado físico Condição do paciente 1 normal, hígido 2 enfermidade sistêmica compensada. Ex. infecção urinária sob tratamento 3 enfermidade sistêmica moderada, parcialmente compensada. Ex. Insuficiência cardíaca sob tratamento embora o animal apresente sinais clínicos 4 enfermidade sistêmica severa, não compensada, que apresenta risco de vida constante ao paciente. Ex. Síndrome dilatação/volvo gástrico 5 animal com risco de morte iminente, com poucas chances de sobrevivência. Ex. hemorragias agudas graves Categoria E (emergência) Utilizada nos casos em que a intervenção anestésico-cirúrgica deve ser imediata. Aplica-se a qualquer estado físico. Assim, um animal pode ser 1E (cão com laceração de córnea sem qualquer outro problema sistêmico) ou 5E (eqüino em choque por ruptura intestinal). Em ambos os casos há necessidade de intervenção anestésico-cirúrgica imediata. Preparação do Paciente O paciente a ser anestesiado deve ser cuidadosamente preparado para prevenir complicações. - Hospitalização: Preferencialmente o animal deve ser hospitalizado na noite anterior ao procedimento anestésico-cirúrgico. Isto dá chances ao paciente de se aclimatar ao ambiente hospitalar gradativamente e proporciona ao anestesiologista a chance de uma melhor avaliação e instituir qualquer terapia necessária como, por exemplo, hidratação em animais desidratados ou transfusão sangüínea em animais anêmicos.
  • 15. - Jejum: Com o objetivo de evitar o vômito e a possível aspiração de conteúdos gástricos que podem levar a pneumonia grave. O jejum deve ser instituído sempre que possível em animais que serão submetidos a anestesia geral e, em alguns casos de anestesia local ou regional como laparotomias, pelo flanco em ruminantes. O quadro apresenta o tempo, em horas, recomendado para jejum ns diferentes espécies domésticas. Nas espécies silvestres e exóticas podem ser seguidos os tempos das espécies domésticas. Ressalta-se que em filhotes e nas espécies de metabolismo elevado como aves e pequenos roedores o jejum deve ser evitado pelo risco de hiopoglicemia. Nos casos em que o jejum é absolutamente necessário, deve-se monitorar a glicose sangüínea desses animais e, se necessário, administrar solução de dextrose ou glicose de 1% a 2,5% até que os valores de glicemia estejam dentro da variação normal para a espécie. Quadro 4 - Tempo de jejum prévio à anestesia nas espécies domésticas. Espécie Tempo Pequenos animais 1. de 8 a 12 h para sólidos 2. de 1 a 2 h para líquidos Eqüinos 1. de 12 h para sólidos 2. de 1 a 2h para líquidos Bovinos 1. de 24 a 48 h para sólidos 2. de 12 a 24 h para líquidos Ovinos e caprinos 1. de 24 h para sólidos 2. de 12h para líquidos Estabilização do paciente O paciente a ser anestesiado deve ser adequadamente estabilizado antes de receber fármacos anestésicos. O profissional deve ter em mente que os anestésicos podem produzir alterações fisiológicas importantes tais como hipotensão, bradicardia, taquicardia e hipóxia. Assim, cuidados tais como hidratar o animal, fazer transfusão de sangue quando o hematócrito for inferior a 20%, antibioticoprofilaxia, controle da temperatura corporal, da dor e terapia de apoio em animais politraumatizados ou sofrendo de afecções mais graves, devem ser instituídos anteriormente ao uso de técnicas anestésicas, principalmente na anestesia geral. Pacientes que vão receber anestesia local também devem receber cuidados prévios à anestesia, pois em alguns casos, como infecções no local da administração do anestésico local e hipotensão arterial podem ser contra-indicações para o uso de técnicas como anestesia epidural ou bloqueios locais.
  • 16. Quadro 5 – Exames recomendados de acordo com o quadro clínico Condição Histór ia Estad o físico H t e P T Uréia e Creatini na EC G Funçã o hepáti ca Glicem ia Eletrólit os Coagulaç ão R X < 12 semanas X X X X Adulto hígido X X X Geriatra X X X X X X Desidratad o X X X X X X Enfermida de gastrintesti nal X X X X Cardiopata X X X X X X X Insuficiênc ia respiratória X X X X Nefropata X X X X X Hepatopata X X X X X X X X Sob terapia esteróide ou AINES X X X X X Diabetes melito X X X X X X X Enfermo do SNC X X X X X X X Paciente de trauma X X X X X Com diátese hemorrágic a X X X X X
  • 17. Capítulo 2 Medicação Pré-Anestésica Os fármacos administrados ao paciente de 15 a 45 minutos antes da indução anestésica fazem parte da medicação pré-anestésica. Estes fármacos poderão ser aqueles relacionados diretamente com a produção do estado de anestesia como tranqüilizantes ou sedativos, ou pertencerem a outros grupos farmacológicos como antieméticos, anti- histamínicos, anticolinérgicos, anti-inflamatórios não-esteróides e corticoesteróides. Em Medicina Veterinária, geralmente é necessária a associação destes fármacos para a preparação do paciente para a indução anestésica. NÃO existe um fármaco que individualmente produza os efeitos desejados como medicação pré-anestésica. Uma adequada medicação pré-anestésica tem como objetivos: 1. Tranqüilizar ou sedar os animais mais apreensivos e agressivos. 2. Potencializar os efeitos dos anestésicos necessários para a indução e manutenção da anestesia. 3. Produzir analgesia nos períodos trans e pós-operatórios. 4. Reduzir os efeitos autonômicos adversos dos fármacos anestésicos e de certos procedimentos terapêuticos. 5. Diminuir as secreções das vias aéreas e a salivação. 6. Reduzir a secreção e a acidez do fluido gástrico. 7. Prevenir o vômito ou regurgitação. 8. Tornar os períodos de indução, manutenção e recuperação anestésicos livres de intercorrências adversas. Antes da escolha e administração dos fármacos pré-anestésicos, um amplo conhecimento da farmacologia destas substâncias é necessário e diversos fatores devem ser considerados como: 1. Temperamento e espécie animal - Animais dóceis necessitam de tranqüilização enquanto os de temperamento mais sangüíneo devem ser sedados. 2. Necessidade de analgesia - A técnica anestesésica para procedimentos que produzam dor intensa deve incluir um fármaco analgésico potente ou ser combinada a anestesia local ou regional. 3. Classificação do paciente quanto ao seu estado físico - Pacientes em estado grave ou portadores de afecções dos sistemas nervoso central, cardiovascular ou respiratório, poderão ou não requerer medicação pré-anestésica de acordo com o caso (ver quadro 1). Pacientes hígidos deverão sempre que possível ser tratados com fármacos pré- anestésicos. 4. Efeitos farmacológicos desejados - Os efeitos e período hábil dos fármacos pré- anestésicos devem ser considerados de acordo com o paciente e o procedimento terapêutico ou diagnóstico. Pacientes agressivos podem se beneficiar de fármacos
  • 18. sedativos de efeito prolongado, enquanto que com os mais linfáticos, pode-se reverter os efeitos dos fármacos tranqüilizantes se necessário. O uso de medicação pré-anestésica em Medicina Veterinária foi iniciado em 1950 quando farmacologistas e químicos franceses descobriram os derivados fenotiazínicos e criaram o termo neuroléptico, significando que o efeito farmacológico principal ocorre no sistema nervoso central. Atualmente diversas substâncias de diferentes grupos farmacológicos são empregados como medicação pré-anestésica em animais. Algumas destas susbstâncias podem ter seus efeitos farmacológicos revertidos. Existem diversas classificações possíveis para os fármacos utilizados na MPA. Neste capítulo os fármacos estão agrupados de acordo as características farmacológicas. O termo tranqüilizante fica reservado para os fenotiazínicos, benzodiazepínicos e butirofenonas, enquanto os opióides e agonistas alfa-2-agonistas serão denominados sedativos. Os principais fármacos utilizados pertencem as seguintes classes (ver Quadro 6 para doses e comentários): 1. Anticolinérgicos. 2. Opióides. 3. Agonistas Alfa-2-adrenérgicos. 4. Fenotiazínicos. 5. Benzodiazepínicos. 6. Butirofenonas. 7. Neuroleptoanalgésicos. 8. Anestésicos dissociativos ANTICOLINÉRGICOS OU ANTIMUSCARÍNICOS Indicações para o uso - Os fármacos anticolinérgicos são utilizados para prevenir bradicardia induzida por tono vagal aumentado ou a salivação e secreções do trato respiratório excessivas. Em geral, opióides e agonistas alfa-2 adrenérgicos produzem bradicardia sinusal ou bloqueio atrioventricular de primeiro e segundo graus ou completo. Procedimentos cirúrgicos envolvendo o globo ocular, a região cervical e a manipulação de vísceras abdominais produzem estímulo vagal com conseqüente bradicardia. Doenças cardíacas primárias e neoplasias também podem existir produzindo bradicardia. Animais braquicefálicos ou que receberam derivados fenciclidínicos como parte da medicação pré-anestésica por vezes apresentam salivação profusa, havendo necessidade de serem tratados com anticolinérgicos. Efeitos Farmacológicos - Inibição competitiva dos receptores parasimpáticos colinérgicos muscarínicos no nível pós-gangliônico. Em doses clínicas, produz bloqueio dos efeitos da acetilcolina nos receptores muscarínicos sem efeito nos receptores nicotínicos. Geralmente ocorre taquicardia sinusal, diminuição das secreções das vias aéreas e da salivação e diminuição da motilidade gastro-intestinal. Nos ruminantes, os fármacos anticolinérgicos devem ser evitados sempre que possível, pois diminuem as secreções
  • 19. mais fluidas, tornando a saliva e secreções das vias aéreas mais espessas podendo causar obstrução. 1. Sulfato de Atropina - O sulfato de atropina é uma amina terciária que atravessa a barreira placento-fetal e hemato-encefálica. Bloqueia a acetilcolina nos receptores pós-ganglionares nas terminações das fibras colinérgicas no sistema nervoso autônomo por 1 a 1.5 horas. Produz diminuição das secreções orais, faríngeas e do trato respiratório e broncodilatação. Em razão da broncodilatação, aumentam o espaço morto respitatório anatômico e fisiológico, podendo produzir hipoxemia em animais portadores de disfunção respiratória ou em animais braquicefálicos. A atividade motora e secretória do trato gastrointestinal diminui, podendo ocorrer íleo paralítico em eqüinos. Ocorre diminuição do tono vagal cardíaco com conseqüente taquicardia sinusal, aumento do débito cardíaco, sem alterações significativas sobre a pressão arterial. Em animais que receberam atropina, o efeito de fármacos agonistas adrenérgicos é acntuado pelo bloqueio eferente dos reflexos vagais dos baroreceptores. O sulfato de atropina quando administrado durante o período de indução e manutenção anestésica, pode produzir arritmias cardíacas como contração ventricular prematura e bigeminismo ventricular. Além destes efeitos, o sulfato de atropina produz midríase por relaxamento da musculatura do esfíncter da íris e da musculatura ciliar da lente ou cristalino, impedindo a drenagem da câmara anterior. No trato urinário, ocorre relaxamento da musculatura lisa, causando retenção urinária e oligúria. O sulfato de atropina pode ser administrado pelas vias, intramuscular, subcutânea,intravenosa, intraossea, oral e intrapulmonar. O metabolismo e eliminação do sulfato de atropina variam com a espécie. Em felinos, roedores e leporinos, a atropina é degradada rapidamente, mesmo em grandes concentrações, por esterases hepáticas. Em canins, após metabolismo hepático a atropina é eliminada por via urinária, 30% a 50% sem biotransformação. Em caprinos e ovinos os efeitos anticolinérgicos da atropina são reduzidos pela presença de atropinase no soro sangüíneo. 2. Brometo de Glicopirrolato - O glicopirrolato é um anticolinérgico sintético, derivado de amônia quaternária. Não atrevessa a barreira hemato-encefálica ou placento-fetal. Produz efeitos menos acentuados do que o sulfato de atropina, não ocorrendo taquicardia sinusal tão acentuada e praticamente é destituído de outros efeitos arritmogênicos sobre a função cardíaca durante a indução e manutenção anestésicas. Os efeitos antimuscarínicos são semelhantes aos da atropina. Produz aumento da freqüência cardíaca, reduz o volume e acidez das secreções gástricas, diminui a motilidade intestinal e reduz as secreções gastro-intestinais e do trato respiratório. O período de efeito é de cerca de 2 a 5 horas. O glicopirrolato deve ser utilizado em lugar do sulfato de atropina, sempre que o paciente apresentar bradicardia menos acentuada ou como medicação pré-anestésica antes da indução anestésica com associações neuroléptico-analgésicas. DERIVADOS OPIÓIDES Indicações para o uso - Os derivados opióides estão indicados como medicação pré- anestésica, quando se necessita de analgesia pré, intra e pós-operatória, como sedativos
  • 20. para contenção química de animais intratáveis e animais silvestres e como parte de associações neurolépto-analgésicas na contenção farmacológica para procedimentos diagnósticos como ultrasonografia, punções e cateterização venosa ou óssea. Efeitos Farmacológicos - Os derivados opióides são aqueles compostos sintéticos ou exógenos com afinidades por receptores opiódes específicos. O principal efeito farmacológico dos opióides é a produção de analgesia intensa. Dependendo do fármaco utilizado, este efeito analgésico pode ser de curta ou longa duração. Os derivados opióides são classificados de acordo com sua afinidade e atividade sobre os diferentes receptores. Atualmente são conhecidos os seguintes receptores opióides: Mu, Kappa, Sigma, Delta. Existem evidencias de outros receptores opióides como os Epsilon, embora não se conheça a importância clínica destes receptores. Os derivados opióides produzem mínima depressão cardiovascular, sendo observada bradicardia quando estes fármacos são administrados sem o uso concomitante de anticolinérgicos. Pode ser observado intenso efeito depressor da função ventilatória com a ocorrência de hipercapnia e acidose respiratória quando são utilizadas doses elevadas de agonistas dos receptores Mu como morfina. Em geral a depressão respiratória é dose dependente e ocorre diminuição do volume corrente pulmonar. A freqüência respiratória pode estar diminuída ou aumentada. No sistema nervoso central os opióides produzem depressão pós-sináptica da neuro- transmissão por bloqueio da liberação de neurotransmissores como norepinefrina. Em algumas espécies como a eqüina, felina e suína, quando administrado por via venosa ou subaraquinóidea, ocorre ativação da neuro-transmissão por aumento da liberação de dopamina como efeito compensador da diminuição da concentração de norepinefrina na fenda sináptica. O centro termoregulador fica deprimido e alguns animais desenvolvem taquipnéia compensatória. O centro do vômito não é atingido, embora a zona de indução ao vômito no tronco cerebral seja estimulada por agonistas Mu. 1. AGONISTAS MU OPIÓIDES Morfina Considerado o derivado opióide padrão, por isso arbitrariamente recebeu a referência de potência “1” contra a qual os demais opióides são comparados. Produz vômito em caninos e felinos. Produz intensa analgesia por longo período de tempo quando administrada por via intramuscular ou extradural. Em caninos e felinos, quando administrada por via venosa ocorre liberação de histamina que pode produzir hipotensão severa e quadros de choque anafilactóide como edema de glote e pulmonar e bronco- constrição. Por produzir disforia em eqüinos e felinos, nestas espécies o sulfato de morfina dever ser precedido de fenotiazínicos como a acepromazina ou a levomepromazina. Em eqüinos o uso de agonistas alfa-2-adrenérgicos também está indicado previamente ao sulfato de morfina para produzir efeito sedativo intenso. Como a morfina sofre metabolismo hepático, animais portadores de grave disfunção podem apresentar sedação por períodos prolongados. Nestes casos devem ser utilizados fármacos antagonistas opióides para reverter os efeitos do sulfato de morfina. As doses variam de acordo com a espécie animal e o com o efeito desejado. Em alguns casos o sulfato de morfina pode ser utilizado por infusão contínua. Nestes casos cuidados intensivos devem ser dispensados pois pode ocorrer profunda depressão respiratória. Quando utilizada por via extradural, o sulfato de morfina deve ser utilizado sem solução preservante. Em geral
  • 21. as soluções de morfina contém fenois como preservante que podem ser tóxicos para a medula espinhal. Meperidina A meperidina é menos potente que a morfina (possui apenas 25% da potência) e produz efeito por menor período de tempo. Quando administrada por via venosa em cães produz maior liberação de histamina que a morfina. Da mesma forma pode ser utilizada em associação a fenotiazínicos para obtenção de intenso efeito sedativo em eqüinos. Como pode produzir severa hipotensão, deve ser administrada com cautela em caninos e felinos. Oximorfona Dez vezes mais potente que a morfina, a oximorfona produz intensa analgesia por curto período de tempo, em geral de 1 a 2 horas quando 0,1mg/kg são administrados por via intramuscular. Esta recomendada nos casos em que se necessita de intenso efeito analgésico por curto período de tempo. Também esta recomendada nos casos em que os efeitos depressores ventilatórios dos opióides são indesejáveis como nos animais braquicefálicos, geriátricos e debilitados. Não produz liberação de histamina quando administrada por via venosa, sendo por isso recomendada em associações sedativas com benzodiazepínicos por via intravenosa. Tramadol Embora não seja considerado um fármaco opióide, o tramadol exerce sua atividade analgésica fundamentalmente por efeito sobre os receptores Mu opióides. Existem evidências de que o tramadol também produza inibição da liberação de neurotransmissores como a serotonina, reduzindo a neurotrasnissão nas vias de condução e modulação do estimulo doloroso. O tramdol é cerca de dez vezes menos potente que a morfina e produz intenso efeito emético em caninos e seres humanos. Fentanil O citrato de fentanil é um derivado opióide extremamente potente. Deprime a função ventilatória e produz bradicardia intensa. Pode ser utilizado por via intramuscular como MPA sempre associado a um fármaco anticolinérgico. Em caninos pode produzir rigidez torácica por efeito depressor sobre os receptores de elastância da parede torácica (deprime o reflexo de Hering-Bauer). A maior indicação para o uso do fentanil é como analgésico intra-operatório em caninos. Não é indicado em eqüinos por produzir aumento de atividade do sistema nervoso central, sendo necessário aumentar a concentração alveolar mínima para manter os animais sob plano anestésico quando do uso de anestesia volátil. Existem outros derivados semelhantes aos fentanil com maior ou menor potência como o sufentanil, alfentanil, remifentanil e carfentanil. O carfentanil é extremamente
  • 22. potente e indicado para captura de grandes mamíferos silvestres como elefantes e rinocerontes. Etorfina A etorfina é um potente derivado opióide com potência cerca de dez mil vezes a da morfina indicada para a captura de animais silvestres. Seu uso é extremamente ariscado pois o contato a pele, mucosas ou a aspiração de vapores pode causar severa depressão respiratória e óbito. 2. AGONISTAS PARCIAIS MU OPIÓIDES Buprenorfina A buprenorfina possui intensa afinidade por receptores Mu opióides, embora exerça baixa atividade, ou seja, apesar de ligar-se aos receptores sua atividade intrínseca ou a capacidade de ativar os receptores é baixa. O início de efeito é considerado lento, e o tempo de efeito é prolongado. Pelo fato de ocupar os sítios nos receptores e pelo prolongado tempo de efeito, deve ser entendido que após o uso de buprinorfina, se houver necessidade do uso de um agonista Mu como morfina, os efeitos deste último serão menos intensos, especialmente o efeito analgésico. A buprenorfina deve ser reservada para produção de analgesia pós-operatória nos casos de estímulo doloroso de média intensidade (cirurgias laparoscópicas, suturas de pele, cirurgias oftálmicas que não envolvam o globo ocular). 3. AGONISTAS KAPPA OPIÓIDES Butorfanol O butorfanol é classificado como um agonista Kappa opióide e um antagonistas Mu, ou seja, tem afinidade por receptores Kappa e Mu, embora possua atividade intrínseca somente sobre receptores Kappa. É mais potente que a morfina, embora o período de efeito seja breve. Produz analgesia moderada por cerca de 60 minutos quando é utilizada dose de 0,4mg/kg por via intramuscular. Está indicado como sedativo pré-opratório, em associações com fenotiazínicos em caninos e felinos ou com alfa-2-agonistas em eqüinos. Assim como alguns agonistas parciais Mu, após o uso de butorfanol, na eventualidade de ser necessária analgesia mais intensa, os agonistas Mu não produzem a mesma intensidade de efeito pois os receptores estarão sobre efeito antagonista do butorfanol. Nalbufina Assim como o butorfanol, a nalbufina é um agonista Kappa e um antagonista Mu. Produz analgesia moderada e geralmente não é utilizada como medicação pré-anestésica e sim como analgésico pós-operatório. A maior indicação para o uso de nalbifina é em caninos que receberam agonistas Mu como MPA e é necessária a reversão dos efeitos opióides destes agonistas Mu, sendo necessária a manutenção do efeito analgésico. Seu efeito
  • 23. persiste por 1 a 2 horas. Portanto, após este período, havendo necessidade de manutenção do efeito analgésico, deve ser utilizada nova dose de nalbufina ou outro Kappa agonista, pois os agonistas Mu praticamente não produzirão efeito. 4. ANTAGONISTAS OPIÓIDES Naloxona A naloxona reverte completamente os efeitos analgésicos e depressores dos agonistas opióides, embora o período de efeito seja curto. Indicada para antagonizar os efeitos sedativos dos opióides, principalmente nos casos de recuperação anestésica prolongada. Deve ser administrada lentamente por via venosa. Pode ser administrada por via subcutânea e intramuscular. Quando administrada rapidamente por via venosa, pode produzir taquicardia, hipertensão e edema pulmonar. Como produz efeito por apenas 45 minutos, é recomendada a administração de uma dose intramuscular e a mesma dose por via subcutânea para manutenção do efeito, principalmente nos casos de depressão respiratória em cães braquicefálicos. Naltrexona Mais potente que a naloxona, a naltrexona está indicada para a reversão dos efeitos dos opióides quando doses elevadas são administradas acidentalmente, principalmente por que possui período de efeito maior. É o fármaco de eleição para a reversão dos opióides utilzados para imobilização de animais silvestres. AGONISTAS ALFA-2-ADRENÉRGICOS Indicações para o uso Os fármacos agonistas alfa-2-adrenérgicos são utilizados como sedativos e analgésicos de curta duração de efeito em caninos, eqüinos, felinos, bovinos e animais silvestres. Em eqüinos ocorre marcada ataxia quando os animais são sedados com xilazina ou detomidina, o que contra-indica o uso destes fármacos nos casos de fraturas de membros locomotores, ou quando os animais têm que ser movimentados após sedados. De forma geral estes fármacos são utilizados em animais hígidos. A única exceção é a indicação do uso destes fármacos nos casos de síndrome cólica em eqüinos. Os agonistas alfa-2- adrenérgicos podem ser utilizados isoladamente para procedimentos diagnósticos não invasivos como exames radiológicos, ultrasonográficos e otológicos. Não devem ser utilizados para testes alergênicos dermatológicos pois interferem com a leitura de tais testes, principalmente por que diminuem a pefusão sangüinea tecidual periférica. Em associações farmacológicas, os agonistas alfa-2-adrenérgicos podem ser combinados a derivados fenotiazínicos para a produção de profundo efeito sedativo em caninos e eqüinos, com opióides para a produção de neurolépto-analgesia em eqüinos e com anestésicos dissociativos com a quetamina para a sedação de felinos e caninos agressivos.
  • 24. Efeitos Farmacológicos O principal efeito farmacológico dos agonistas alfa-2-adrenérgicos é a inibição da liberação de norepinefrina e o bloqueio dos receptores noradrenérgicos pré-sinápticos. Os agonistas alfa-2-adrenérgicos produzem severas alterações cardiovasculares, principalmente em doses elevadas. O efeito clínico mais comumente reconhecido é a bradicardia acentuada, principalmente quando utilizados sem a administração concomitante de um agente anticolinérgico como o sulfato de atropina. Pode ocorrer bloqueio atrioventricular de 1° e 2° graus por efeito dromotrópico negativo sobre o nodo sino-atrial cardíaco. O resultado final é a redução dramática do débito cardíaco. O efeito agonista sobre os receptores vasculares alfa-2 periféricos produz intensa vasoconstrição e aumento da resistência vascular periférica, o que mantém a pressão arterial elevada durante os primeiros 15 a 20 minutos da administração venosa. O quadro hipertensivo ativa os baroreceptores no arco aórtico e seio carotídeo, produzindo vasodilatação tardia, bradicardia e maior redução do débito cardíaco. Este efeito é menos intenso quando a administração é intramuscular. Ocorre ativação periférica de receptores alfa nos vasos sangüíneos, no pâncreas e no trato gastrointestinal. Os agonistas alfa-2-adrenérgicos produzem sedação, analgesia, relaxamento muscular, inibição da liberação de insulina e conseqüente hiperglicemia, diurese osmótica, depressão respiratória com doses elevadas, emese por ativação do centro do vômito. Ocorre vasoconstrição nos orgãos abdominais e no útero. Animais em quadros clínicos de cólica com involvimento intestinal devem receber doses moderadas para evitar intensa isquemia visceral e o risco de necrose e conseqüente peritonite por extravazamento de conteúdo intestinal. Pode ser produzido efeito abortivo principalmente em ruminantes. As doses variam entre as espécies. Suínos e caninos necessitam de doses maiores. Ruminantes são extremamente sensíveis e necessitam de menores doses. Em caninos pode ocorrer timpanismo gástrico por aerofagia e síndrome dilatação-torção gástrica. Em bovinos o timpanismo também é observado. Em felinos o uso concomitante de anticolinérgicos e agonistas alfa-2- adrenérgicos pode produzir hipertensão acentuada por efeito somatório da taquicardia e aumento da resistência vascular periférica. 1. Xilazina A xilazina apesar de produzir efeito preponderante sobre receptores alfa-2, também atua sobre receptores alfa-1. A administração arterial em produz efeito convulsógeno por efeito sobre receptores alfa-1-adrenérgicos e no passado foi confundida como efeito excitatório pois ocorria injeção intracarotídea ao invés de jugular em eqüinos. É o fármaco de eleição para sedação e analgesia em eqüinos com quadro de cólica pois produz efeito por breve período de tempo, entre 20 a 30 minutos e pode ser utilizado de acordo com a necessidade. Em pequenos animais deve ser restrito o uso a animais jovens e hígidos, porém está contra-indicada em pacientes pediátricos pois estes são dependentes da freqüência cardíaca normal para manutenção do débito cardíaco e conseqüente perfusão tecidual. Pode ser administrada por via intramuscular, venosa e subcutânea. Em caninos e felinos produz emese. Deve ser EVITADA quando o fármaco indutor anestésico for o tiopental sódico e a manutenção anestésica feita com halotano, pelo risco
  • 25. potencial de arritmias ventriculares e assístole cardíaca. Produz sedação intensa, salivação excessiva e decúbito esternal ou lateral em ruminantes, principalmente com doses elevadas. Os fármacos anticolinérgicos não devem ser utilizados para inibir a salivação e a secreção bronquial pois o volume salivar diminui as expensas de uma saliva mais espessa que pode obstruir as vias aereas e causar hipoxemia. Em suínos é necessario associar fármacos benzodiazepínicos, fenotiazínicos ou butirofenonas para obtenção de efeito sedativo acentuado. 2. Medetomidina É cerca de 50 a 100 vezes mais potente que e a xilazina. Produz efeitos semelhantes aos da xilazina por período mais prolongado, cerca de 2 a 3 horas. Indicado para procedimentos diagnósticos em pequenos animais. Contra-indicada como MPA em pequenos animais pelos prolongados efeitos adversos sobre a função cardiovascular. A única excessão são os casos em que existe a necessidade de sedação de animais agressivos para posterior indução anestésica, quando baixas doses de medetomidina podem ser associadas a opióides. Não é indicada em eqüinos pois pode produzir acentuado relaxamento muscular e queda do animal. 3. Detomidina Assim como a medetomidina, a detomidina é mais potente e seletiva para os receptores alfa-2-adrenérgicos. Ao contrário da xilazina o período de efeito e’dose dependente e pode extender-se por até 3 horas. É recomendada para sedação de eqüinos agressivos para procedimentos em estação, não sendo superior a associação xilazina e butorfanol como MPA em eqüinos. Sua diferença fundamental em relação a medetomidina reside no fato de que a medetomidina é um fármaco que produz maior relaxamento muscular e geralmente leva o animal ao decúbito lateral. 4. Romifidina A romifidina produz efeitos semelhantes a detomidina, embora seja menos potente. Produz menos ataxia do que a detomidina e xilazina, sendo possível a movimentação dos animais após sedados. Em geral o efeito sedativo é dose dependente, embora o período de efeito não. O tempo de efeito é de cerca de 30 a 60 minutos. ANTAGONISTAS ALFA-2-ADRENÉRGICOS Estes fármacos antagonizam os efeitos analgésicos e sedativos dos agonistas alfa-2- adrenérgicos. Os fármacos pertencentes a esta categoria são a Yoimbina, a Tolazolina e o Atipamezole. A Yoimbina não é tão efetiva como a tolazolina e o atipamezole. Quando administrados por via venosa, pode ocorrer taquicardia, hipertensão sistêmica e pulmonar e disforia por que a concetração de norepinefrina na fenda sináptica aumenta bruscamente. Em alguns animais é necessária suplementação da primeira dose do antagonista para a obtenção de efeitos clínicos. O atipamezole está indicado para a reversão dos efeitos da
  • 26. medetomidina. A tolazolina é indicada para a reversão dos efeitos da xilazina. Existem evidências de que a tolazolina possa causar óbito em camelídeos Sul-Americanos como Lhamas e alpacas, provavelmente pela administração de doses elevadas. Após a administração venosa do antagonista a reversão ocorre em cerca de 1 a 2 minutos. DERIVADOS FENOTIAZÍNICOS Indicações para o uso Utilizados como ansiolíticos, os derivados fenotiazínicos produzem tranqüilização sem analgesia, com excessão da levomepromazina que possui alguma atividade analgésica em caninos. São indicados como tranqüilizantes em caninos, felinos e eqüinos. Não produzem efeito sedativo marcante, embora quando associados a outros fármacos sedativos potencializem os efeitos destes últimos. Os derivados fenotiazínicos são indicados para o uso na MPA, associados ou não a outros fármacos. Podem ser administrados por via intramuscular, venosa e subcutânea. Caninos sedados com opióides e que apresentam recuperação disfórica e eqüinos propensos a recuperação anestésica agitada podem ser tratados com doses mínimas intravenosas para obtenção de efeito tranqüilizante. Efeitos Farmacológicos Os fármacos fenotiazínicos primariamente produzem bloqueio dos receptores dopaminérgicos no sistema nervoso central, produzindo seu efeito tranqüilizante e diminuindo a concentração alveolar mínima necessária para manutenção anestésica. O principal efeito periférico é o bloqueio dos receptores alfa-1-adrenérgicos, produzindo vasodilatação acentuada e hipotensão dose dependente. De forma geral a freqüência cardíaca e o débito cardíaco se mantém inalterados. De forma geral os efeitos dos demais fármacos anestésicos é potencializado, diminuindo a dose necessária de fármacos indutores e para manutenção anestésica. O metabolismo dos fármacos fenotiazínicos é hepático, sendo que os metabólitos são excretados por via renal e intestinal. Animais portadores de insuficiência hepática e/ou renal podem permanecer sob efeito por períodos prolongados, principalmente por que não existem antagonistas específicos. No sistema nervoso central, ocorre diminuição do limiar convulsógeno, principalmente nos animais submetidos a exames radiológicos ou tomográficos em que se utilizam meios de contraste iodados por via intravenosa ou via subaraquinoidea. Este efeito ocorre principalmente pelo bloqueio dopaminérgico, ocorrendo desorganização da neurotransmissão no SNC. Os derivados fenotiazínicos são também responsáveis por efeito antihistamínico e antiemético moderado. 1. Acepromazina
  • 27. A acepromazina não possui atividade intrínseca analgésica e deve ser utilizada sempre associada a alguma técnica anestésica que contemple alguma forma de analgesia para os procedimentos dolorosos. A dose recomendada é de 0,1mg/kg por via intramuscular, sendo que a dose máxima deva ser de 3 a 4mg em caninos, 0,5mg em felinos e 10mg em eqüinos. Por via venosa a dose máxima deve ser de 0,05mg/kg. No caso de ser necessário efeito sedativo mais intenso, a acepromazina deve ser associada a um agonista opióide em caninos e felinos ou alfa-2-adrenérgico em eqüinos. Existem evidências de que os cães da raça Boxer são mais sensíveis aos efeitos dos derivados fenotiazínicos. O período necessário para início de efeito após administração intramuscular é de 30 a 45 minutos e o tempo de efeito varia de 3 a 6 horas. Doses elevadas podem produzir hipotensão acentuada em animais geriátricos, no choque septicêmico e animais toxemicos. Nestes casos pode ocorrer hipoperfusão renal e interrupção da filtração glomerular renal com necrose renal aguda e óbito do paciente em 24 a 48 horas. Pode ocorrer parafimose em eqüinos. Após administração a acepromazina se liga a proteínas plasmáticas. Em animais hipoproteinêmicos, doses consideradas adequadas podem produzir efeito mais intenso que o esperado. Em animais com dosagem de proteínas plasmáticas totais inferior a 5,0g/dl a dose de acepromazina deve ser reduzida para a terça ou quarta parte da dose recomendada. Não ocorre depressão ventilatória ou respiratória. 2. Levomepromazina Apresenta características fármacológicas semelhantes a acepromazina, embora seja menos potente. A levomepromazina produz analgesia moderada quando administrada por via venosa em caninos. O mecanismo pelo qual a levomeprozina produz analgesia não é completamente conhecido. Pode ser empregada na maioria das espécies domésticas. Quando associada a derivados benzodiazepínicos produz intenso efeito sedativo em eqüinos, caninos, bovinos e suínos. Quando utilizada como MPA, diminui a dose necessária de anestésicos dissociativos para manutenção da anestesia de maneira semelhante aos agonistas alfa-2-adrenérgicos. DERIVADOS BENZODIAZEPÍNICOS Indicação para o uso Os derivados benzodiazepínicos não são adequados para o uso na MPA isoladamente. Existe a necessidade de associá-los a outros fármacos, pois pode ocorrer disforia se utilizados por via intravenosa. Potencializam os efeitos dos derivados opióides e fenotiazínicos quando empregados concomitantemente. Existe um antagonista especíco (flumazenil). O tempo de efeito dos derivados benzodiazepínicos varia de 1 a 6 horas dependendo do fármaco, dose e via de administração. O diazepam produz efeito mais prolongado do que o midazolam. O flunitrazepam é mais potente e produz efeito mais longo que o diazepam e midazolam.
  • 28. Efeitos Farmacológicos Os benzodiazepínicos potencializam os efeitos inibidores do ácido gama-aminobutírico (GABA) no sistema nervoso central, inibindo a neurotransmissão. Existem evidências de que quando administrados por via subaraquinoidea, os derivados benzodiazepínicos produzem analgesia. De forma geral, considera-se que os benzodiazepínicos não produzam analgesia quando administrados por via venosa ou muscular. No SNC ainda, os benzodiazepínicos produzem inibição da neurotrasnissão ao nível dos neurônios internuncais na medula espinhal, produzindo relaxamento muscular, por isso são indicados no tratamento agudo das convulsões. Podem causar euforia e disforia quando administrados por via venosa isoladamente. Em geral não ocorrem alterações cardiovasculares. Podem produzir depressão respiratória quando associados a opióides e agonistas alfa-2-adrenérgicos. O metabolismo é hepático. Disfunção hepática ou redução do fluxo sangüineo hepático podem resultar em efeito prolongado, necessitando reversão com o antagonista específico. 1. Diazepam Diluído em propileno glicol, o diazepam não é indicado para administração intramuscular pois a administração é dolorosa e a absorção inadequada. Por via venosa pode ser associado a oximorfona ou ao fentanil para produzir sedação ou mesmo indução anestésica. O propileno glicol produz cardiotoxicidade e o diazepam deve ser evitado em animais portadores de insuficiência cardíaca congestiva. Em equinos pode ser associado a agonistas alfa-2-adrenérgicos para obtenção sedação e relaxamento muscular acentuados. 2. Midazolam Mesma potência do diazepam, embora seja hidrossolúvel e possa ser administrado por via intramuscular. Recomendado em associações com opióides e anestésicos dissociativos para a MPA em felinos, associado a levomepromazina para sedação de suínos. Em caninos pode ser associado a oximorfona para sedação intravenosa. ANTAGONISTAS BENZODIAZEPÍNICOS Flumazenil Desloca os derivados benzodiazepínicos dos receptores específicos, retornando a normalidade na neurotrasmissão ao nível do sistema nervoso central, retornando a consciência e terminando o efeito relaxante muscular. O flumazenil está indicado nos casos em que os animais receberam derivados benzodiazepínicos como MPA ou como parte da indução anestésica e experimentam dificuldades de recobrar a consciência e atividade motora.
  • 29. BUTIROFENONAS Indicações para o uso As indicações para o uso de butirofenonas em medicina veterinária são bastante limitadas. Uma das excessões é o uso de azaperone para tranqüilização de suínos como MPA ou para reduzir a ansiedade e o estresse do transporte. As butirofenonas também são utilizadas em associações com derivados opióides para a produção de efeito neuroleptoanalgésico. Efeitos Farmacológicos As butirofenonas apresentam efeito farmacológico semelhante aos derivados fenotiazínicos, bloqueando a neurotransmissão ao nível do sistema nervoso central por inibição dopaminérgica. Não possuem atividade antihistamínica ou antiemética. Não possuem atividade analgésica. Algumas butirofenonas quando associadas a opióides produzem efeito neuroléptico, embora em caninos estas associações sejam implicadas em distúrbios de comportamento. Em geral os efeitos hipotensores das butirofenonas são menos acentuados do que os dos derivados fenotiazínicos. Não ocorre depressão do miocárdio ou depressão respiratória acentuada. O metabolismo é hepático e assim como com outros sedativos e tranqüilizantes, quadros de disfunção hepática podem produzir recuperação prolongada. Não existe antagonista para as butirofenonas. 1. Azaperone Indicado para tranqüilização de suínos para transporte ou como MPA. Deve ser administrado por via venosa ou intramuscular. Destituído de efeito analgésico. O prolongado tempo efeito, 3 a 6 horas permite o uso para transporte dos animais. 2. Droperidol Efeito semelhante a acepromazina em caninos. Associado ao fentanil produz profundo efeito sedativo, embora possa provocar mudança de comportamento nos animais após a recuperação, tornando o animal agressivo. Atualmente é contra-indicado para a espécie canina em associação ao fentanil. Não apresenta vantagens sobre a acepromazina ou a levomepromazina. ANESTÉSICOS DISSOCIATIVOS Indicações para o uso
  • 30. Os anestésicos dissociativos como a quetamina e a tiletamina são utilizados para a obtenção de sedação de felinos e caninos agressivos. É obrigatório o uso associado a outros fármacos tranqüilizantes e relaxantes musculares pois os derivados fenciclidínicos produzem intensa rigidez muscular e catatonia e aumentam a produção de secreções salivares e brônquicas. Efeitos Farmacológicos Os anestésicos dissociativos produzem interferência na transmissão neuronal entre o sistema límbico e as áreas talamo-corticais do cérebro, levando a dissociação entre o tálamo e o encéfalo. Ocorre antagonismo não competitivo pelos receptores N-metil aminoacido-excitatório (glutamato e aspartato). Este antagonismo não competitivo é responsável pelo efeito analgésico dos anestésicos dissociativos, embora este efeito analgésico seja de curta duração, ou seja, cerca de 45 minutos quando administrados por via intramuscular e 20 minutos por via venosa. Os derivados fenciclidínicos produzem intenso efeito analgésico somático e visceral. São bastante efetivos no tratamento da dor de orígem traumática e nos casos em que o fenômeno de hiperalgesia está instalado. O uso por via extradural em animais e seres humanos produz analgesia intensa de tempo de efeito de 45 a 90 minutos. Como o tono simpático aumenta quando da administração de anestésicos dissociativos, aumenta a freqüência cardíaca, a pressão arterial, a pressão intraocular e intracraniana. Por ser extremamente hidrossolúvel, os anestésicos dissociativos podem ser administrados por via intramuscular com rápida absorção. A hipersalivação pode ser prevenida com o uso de anticolinérgicos. O metabolismo é hepático em caninos, embora somente 50% da dose inicial seja metabilizada. O restante é eliminado sem metabolismo por via renal. Em felinos cerca de 80% da dose inicial são eliminados por via renal sem metabolismo. A presença de disfunção hepática e/ou renal pode produzir recuperação prolongada. Não existe antagonista. A função ventilatória é alterada com aumento da freqüência respiratória e diminuição do volume corrente. O volume minuto pulmonar não é alterado. O padrão respiratório em geral é o apneustico. Os efeitos cardiovasculares não são dignos de nota, a menos que outros fármacos administrados concomitantemente produzam depressão cardiovascular. Nestes casos os derivados fenciclidínicos podem potencializar a depressão cardiovascular e aumentar o consumo de oxigênio pelo miocárdio. Em caninos e eqüinos os anestésicos dissociativos podem causar efeito convulsógeno. Devem ser evitados em animais que receberão contrastes para mielografia ou tomografia. 1. Quetamina A quetamina é utilizada como MPA em caninos, suínos e felinos associada a um agonista alfa-2-adrenérgico ou em associação com um derivado opióide e um benzodiazepínico. Não é recomendado o uso como MPA em eqüinos. 2. Tiletamina
  • 31. A semelhança da quetamina o uso como MPA está restrito a caninos, suínos e felinos. É cerca de duas vezes mais potente que a quetamina. Comercializada em associação com o zolazepam (benzodiazepínico, duas vezes mais potente que o diazepam) na forma de sal para ser diluído. Felinos metabolizam o zolazepam lentamente pois são destituídos de complexo enzimático adequado para tal fim, ocorrendo recuperação prolongada. NEUROLEPTO-ANALGÉSICOS Indicações para o uso Quando um fármaco com atividade analgésica é associado com outro depressor do sistema nervoso central denomina-se a associação como NEUROLEPTO- ANALGESICA. Esta denominação não atende a todas as características de todas as associações possíveis pois algumas produzem relaxamento muscular e outros efeitos farmacológicos. A associação de um fármaco neuroléptico (tranqüilizante ou sedativo) a um analgésico, é a técnica mais adequada para a obtenção dos efeitos desejados no período que antecede a indução anestésica. O componente neuroléptico da associação produz efeito ansiolítico e tranqüilizante, enquanto o componente analgésico permite manipulação moderadamente invasiva como punções e cateterizações e dependendo do fármaco utilizado este efeito analgésico estará extendido ao período intra e pós-cirúrgico. Para a doses e indicações por espécie animal ver o Quadro 7. Efeitos Faramacológicos Os efeitos farmacológicos específicos variam com a associação empregada. Quando se associa agonistas alfa-2-adrenérgicos e derivados benzodiazepínicos, o intenso efeito relaxante muscular pode produzir apnéia. Da mesma forma, a associação de agonistas alfaf-2-adrenérgicos e derivados fentotiazínicos produzem intenso efeito hipotensivo, principalmente quando administrados por via venosa. Estes efeitos sinérgicos são observados também nas características desejáveis da associação, como quando opióides e agonistas alfa-2-adrenérgicos são associados e obten-se efeito analgésico mais intenso e por maior período de tempo (ver Quadro 7).
  • 32. Quadro 6 – Fármacos e Doses recomendados para uso na Medicação Pré-Anestésica e na Reversão dos Efeitos Sedativo e/ou Analgésicos (em mg/kg). Fármaco Canina Felina Eqüina Bovina Caprina/ Ovina Suína Atropina 0,02 IV 0,04 IM 0,02 IV 0,04 IM 0,01 IV 0,01 IV 0,1 IV 0,2 IM 0,02 IV 0,04 IM Glicopirrolato 0,01 IV 0,02 IM 0,005 IV 0,01 IM 0,005 IV 0,005 IV 0,01 IV 0,01 IV Acepromazina 0,05 IV 0,1 IM 0,01 IV 0,05 IM 0,05 IV 0,07 IM 0,02 IV 0,01 IV 0,05 IV 0,1 IM 0,05 IV 0,2 IM Levomepromazin a 0,1 IV 0,5 IM 0,05 IV 0,5 IM 0,1 IV 0,1 IV 0,1 IV 0,5 IM 0,1 IV 0,5 IM Diazepam 0,2 IV 0,1 IV 0,05 IV 0,05 IV 0,1IV 0,2 IV Midazolam 0,1 IV 0,5 IM 0,1 IV 0,2 IM 0,01 IV 0,01 IV 0,1 IV 0,2 IM 0,2 IV 0,5 IM Flumazenil* 0,02 IV 0,02 IV Azaperone 2,2 IM Xilazina 0,1 IV 0,5 IM 0,1 IV 0,5 IM 0,5 IV 2,0 IM 0,04 IV 0,2 IM 0,04 IV 0,2 IM 0,5 IV 2,0 IM Medetomidina 0,001IV 0,04 IM 0,001 IV 0,02 IM Detomidina 0,01-0,02 IV 0,03 IM Romifidina 0,06-0,08 IV 0,1 IM Yoimbina* 0,1 IV 0,1 IV 0,1 IV 0,1 IV 0,1 IV 0,1 IV Tolazolina* 1-2 IV 1,0 IV 1-2 IV 1-2 IV 1-2 IV 1-2 IV Atipamezole* 0,2 IV 0,2 IV Morfina 1-2 IM 0,3 IM 0,1 IV Oximorfona 0,05 IV 0,1 IM 0,05 IV 0,1 IM Fentanil 0,02 IV 0,05 IM Buprenorfina 0,005 IV 0,01 IM 0,005 IV 0,02 IM Meperidina 2-4 IM 2-4 IM 2,0 IM 0,2-0,4 IV 2,0 IM 2,0 IM Tramadol 1-2 IM Butorfanol 0,1 IV 0,4 IM 0,1 IV 0,4 IM 0,05-0,1 IV 0,2 IM 0,05 IV 0,2 IM Nalbufina 0,1 IV IM 0,1 IV IM Naloxone* 0,002 IV 0,01 IM 0,002 IV 0,01 IM 0,002 IV 0,002 IV 0,002 IV 0,02 IM Quetamina** 4,0 IV 8,0 IM 4,0 IV 8,0 IM Tiletamina/ Zolazepam 1-2 IV 5,0 IM 1,0 IV 5,0 IM 3,0-5,0 IM IM – intramuscular; IV – intravenosa; * Antagonistas; ** sempre associado a um sedativo ou tranqüilizante.
  • 33. Quadro 7 – Associações Neurolépto-analgésicas* Fármacos Canina Felina Eqüina* Bovina Caprina/ Ovina Suína Acepromazina Morfina 0,1 IM 1,0 IM 0,05 IV 0,1 IV Acepromazina Meperidina 0,05 IV 0,2 IV Diazepam Oximorfona 0,2 IV 0,05 IV 0,2 IV 0,05 IV Midazolam Oximorfona 0,2 IV 0,05 IV 0,1 IV 0,05 IV Midazolam Oximorfona 0,2 IM 0,2 IM 0,2 IM 0,1 IM Xilazina Butorfanol 0,2 IM 0,4 IM 0,2 IM 0,2 IM 0,5 IV 0,005 IV Acepromazina Butorfanol 0,1 IM 0,4 IM 0,05 IM 0,4 IM 0,05 IV 0,1 IV Xilazina Meperidina 0,5 IV 0,2 IV Levomepromazina Midazolam 0,5 IV 0,1 IV 0,5 IM 0,5 IM Medetomidina Acepromazina 0,002 IM 0,1 IM Medetomidina Morfina 0,005 IM 1,0 IM 0,01 IM 0,2 IM Medetomidina Butorfanol 0,01 IM 0,4 IM 0,01 IM 0,2 IM * O componente neuroléptico deve ser administrado com 15 minutos de antecedência.
  • 34. Capítulo 3 Anestésicos Injetáveis Em geral, os fármacos anestésicos injetáveis não produzem todos os efeitos desejáveis para obtenção da anestesia geral (inconsciência, hipnose, analgesia, relaxamento muscular e hiporeflexia). Estes fármacos produzem depressão não seletiva do sistema nervoso central e inconsciência (sono artificial), que é somente um dos componentes da anestesia geral. É comum e necessário em anestesiologia a associação de mais de um fármaco para a obtenção da anestesia geral. O profissional deve ser treinado para utilizar os vários grupos anestésicos e suas combinações. A adaptação a apenas um fármaco ou uma só combinação não são aceitáveis para se tornar proficiente na arte de anestesiar. Alguns anestésicos injetáveis não produzem hipnose como é o caso da quetamina, devendo ser associada a um fármaco hipnótico para a produção de inconsciência. Vários fatores devem ser considerados quando se vai selecionar um anestésico ou uma combinação de fármacos anestésicos para produção da chamada indução anestésica. A indução anestésica compreende o período de transição entre o estado de consciência e a inconsciência. Nesta fase várias complicações podem ocorrer tais como excitação ou mesmo parada cardíaca e/ou respiratória. A classificação do paciente de acordo com a ASA é que vai determinar que fármaco anestésico é o mais adequado para o caso. Indicações e Restrições para o Usos dos Anestésicos Injetáveis Os diferentes fármacos anestésicos injetáveis têm indicações específicas para o uso na indução anestésica e estas indicações bem como as limitações destes agentes deve ser observada. A não observação destes fatores pode produzir efeitos adversos e até o óbito do paciente. O tiopental sódico deve ser utilizado somente em pacientes sadios, nunca em Greyhounds ou galgos como o Irish Wolfhound e outros. É um fármaco com curto período de efeito (< 30 minutos). Pode ser utilizado em doses fracionadas durante a anestesia geral em eqüinos para aprofundar o plano anestésico rapidamente. O pentobarbital sódico é utilizado para controle das convulsões e para a indução anestésica combinado ao tiopental em animais a serem submetidos a mielografia contrastada principalmente quando o animal vai receber meios de contraste contendo iodo. Indicado para indução anestésica em animais de laboratório como pequenos roedores pois proporcina um período de anestesia mais prolongado que o tiopental. A quetamina é freqüentemente utilizada para indução anestésica em todas as espécies domésticas e nas silvestres e exóticas. Pode ser utilizada também para a contenção de animais silvestres e como medicação pré-anestésica em felinos domésticos. A tiletamina tem as mesmas indicações que a quetamina, sendo que somente deve ser administrada associada a um derivado benzodiazepínico(zolazepam ou flunitrazepam) potente pois é duas vezes mais potente que a quetamina e a ocorrência de efeitos adversos tais como a catalepsia é mais freqüente.
  • 35. O propofol produz indução anestésica de curta duração (< 20 minutos). Apresenta duas vantagens em relação ao tiopental por não produzir arritmias cardíacas com a mesma freqüência e pela rápida e completa recuperação do paciente mesmo após infusão contínua por várias horas. O etomidato está indicado para os pacientes cardiopatas pois não altera a função cardiovascular. Deve ser sempre administrado associado a um benzodiazepínico como o midazolam ou um derivado opiópide como o fentanil. O hidrato de cloral é um agente anestésico antigo, mas que ainda tem algumas indicações, principalmente para a contenção de animais silvestres e eqüinos agressivos. Apresenta a vantagem de poder ser administrado por vias oral e retal o que facilita a administração em animais intratáveis. O Guafenisin (éter gliceril guaiacolato) é um relaxante muscular de ação no sistema nervoso central, não produzindo inconsciência, mas está indicado associado a um agente anestésico geral para indução anestésica em bovinos, eqüinos, animais exóticos como Lhamas e em pequenos ruminantes. Em caninos e felinos deve ser evitado pelo grande risco de hemólise. Mecanismos de Ação dos Anestésicos Injetáveis Acredita-se que os fármacos anestésicos tenham multiplos efeitos no sistema nervoso central para a produção do estado de anestesia. Várias teorias foram propostas. Alterações das membranas celulares dos neurônios produzindo trocas iônicas e a interferência com o sistema neurotransmissor-receptor são as teorias mais prováveis. A maioria dos anestésicos injetáveis como os barbituratos, propofol e etomidato potencializam os efeitos depressores do SNC produzidos pelo GABA. Os anestésicos dissociativos como a quetamina e a tiletamina provavelmente tem mecanismos diferentes tais como antagonismo dos receptores muscarínicos colinérgicos no SNC, agonistas de receptores sigma e antagonistas dos receptores N-metil-D-aspartato responsáveis pela transmissão do estímulo doloroso ao cortéx cerebral. O guaifenesin não é um anestésico geral, embora produza relaxamento (relaxação) muscular de orígem central através do bloqueio da neurotransmissão ao nível dos neurônios internunciais (ou intercalares) na medula espinhal (efeito semelhante aos benzodiazepínicos). DERIVADOS BARBITÚRICOS Os derivados barbitúricos são classificados quanto ao seu tempo de ação ou efeito. Os de longa e curta duração são indicados para o controle das convulsões enquanto os de ultra-curta duração de ação são empregados em anestesiologia: Longa duração de ação 8-12 horas ex. Fenobarbital sódico Curta duração de ação 1-2 horas ex. Pentobarbital sódico Ultra-curta duração de ação 5-15 minutos ex. Tiopental sódico
  • 36. 1. TIOPENTAL SÓDICO: O tiopental sódico produz início de efeito 10-30 segundos após administração intravenosa e seu período hábil anestésico é de 5 a 15 minutos. O tiopental sódico é um derivado sulfúrico do ácido barbitúrico (tio) análogo ao pentobarbital. Torna-se instável em solução ou em contato com o ar. Deve ser estocado em frasco selado e a solução utilizada em 3 dias após diluição. Quando conservado sob refrigeração pode ser utilizado por até 10 dias. A diluição é feita com solução salina 0,9% ou água destilada em concentrações de 1,25% a 5%. As soluções de 1,25% a 2,5% são utilizadas em pequenos animais para evitar tromboflebites, enquanto a 5% é utilizada em grandes animais. As soluções de tiopental sódico são extremamente alcalinas com pH variando de 10 a 11. Soluções com pH tão elevado são potencialmente irritantes para os tecidos causando morte celular e necrose. O tiopental sódico somente deve ser administrado por via intravenosa e nunca perivascular. Quando ocorrer administração acidental subcutânea ou intramuscular, administrar lidocaína 2% sem vasoconstritor (epinefrina) para evitar vasoespasmo e grandes volumes de NaCl 0,9% para produzir efeito diluidor. PREPARO DA SOLUÇÃO: a) Solução a 2,5% 1 grama de tiopental sódico = 1000mg 40ml de solução salina 0,9% 1000mg em 40ml ou 25mg/ml Para preparar uma solução a 1,25%, usar o dobro de diluente (80ml de salina 0,9%) e para 5% usar a metade (20ml de NaCl 0,9%). Lembre sempre que estes cálculos são para 1 g de tiopental sódico. Métodos de Administração: O tiopental sódico somente deve ser administrado quando um acesso venoso foi estabelecido através de um catéter ou disposito intravenoso do tipo butterfly. Preferentemente os animais devem ser sedados ou tranqüilizados antes da indução com tiopental sódico para reduzir-se as doses de tiopental, reduzir o risco de excitação do sistema nervoso central, reduzir a estimulação simpática e evitar arritmías cardíacas. Sem medicação pré-anestésica adequada, pode ocorrer excitação durante a indução anestésica e durante a recuperação anestésica. Em grandes animais principalmente não se deve administrar tiopental sem medicação pré-anestésica. Em pequenos animais e pequenos ruminantes (ovinos e caprinos) a dose utilizada é de 10 a 15mg/kg IV. Esta dose é calculada e ½ ou 1/3 da dose é administrada rapidamente. Após 15 segundos, o restante da dose é administrado lentamente até obter-se o grau de relaxamento desejado. Em grandes animais este tipo de administração “ao efeito”
  • 37. não deve ser utilizado. Geralmente utiliza-se 5,5mg/kg em eqüinos e bovinos adultos e toda a dose calculada deve ser administrada rapidamente. O tiopental deve ser administrado em dose única para intubação traqueal ou procedimentos diagnósticos rápidos em animais jovens e sadios não portadores de arritmías cardíacas. Em animais geriátricos ou pediátricos e nos muito debilitados deve ser evitado. Doses repetidas são cumulativas e o tempo de recuperação anestésica será prolongado, geralmente com hipotermia grave. 1.1 – Efeitos no Sistema Nervoso Central e Farmacologia O tiopental produz indução anestésica rápida destituída de analgesia. Ocorre depressão do cortéx cerebral, do tálamo e do hipotálamo. O fármaco é rapidamente distribuído a partir da administração venosa para os orgãos ricamente vascularizados como cérebro, coração e pulmões. Após 5 a 15 minutos o efeito anestésico desaparece por redistribuição para outros tecidos como músculos e tecido adiposo. Ocorre acúmulo do fármaco nestes tecidos e lentamente o fármaco acumulado retorna para o circulação sistêmica produzindo sonolência e aumentando o tempo de recuperação. Por este motivo doses repetidas devem ser evitadas. O pH sangüíneo e a concentração de proteínas plasmáticas podem interferir com a potência dos barbitúricos. A acidose (respiratória ou metabólica) aumenta a fração de tiopental ionizado aumentando a potência da droga. O tiopental liga-se a proteínas plasmática em cerca de 65%. Assim, animais hipoproteinêmicos (principalmente albumina) terão maior concentração de fármaco livre (não ligado a proteínas plasmáticas) aumentando a potência da droga e aumentando os riscos de efeitos adversos. O tiopental é detoxificado pelo complexo enzimático hepático e os metabólitos excretados na urina. Os Greyhounds têm dificuldade de metabolismo hepático do tiopental, ocorrendo recuperação lenta e agitada. Por este motivo, cães desta raça NÃO devem ser anestesiados com tiopental. 1.2 – Efeitos Cardiovasculares Os efeitos cardiovasculares dos derivados barbitúricos podem ser deletérios em animais geriátricos ou nos debilitados, ou quando o fármaco é utilizado em doses altas. O tiopental sensibiliza o miocárdio ao efeito das catecolaminas endógenas e exógenas (adrenalina) e dos inotrópicos positivos (dopamina e dobutamina) produzindo arritmías ventriculares. Pode ocorrer taquicardia sinusal, bigeminismo ventricular e extrassístoles. Estas arritmías podem ser transitórias (1 a 2 minutos) ou prolongadas. Quando as arritmías são prolongadas estas podem evoluir para taquicardia ventricular, fibrilação ventricular e parada cardíaca. As arritmías produzidas pelo tiopental sódico podem ser potencializadas pela xilazina e outros agonistas alfa-2 e pelo halotano. Além destes, o uso trans-cirúrgico de epinefrina (cirurgias oculares e esplenectomias) e a dor podem desencadear arritmías em animais anestesiados com tiopental. O tiopental sódico produz redução do débito cardíaco e dimiuição da pressão arterial. Estes efeitos são compensados por animais hígidos, mas não são tolerados por animais geriátricos e/ou debilitados.
  • 38. 1.3 – Efeitos Respiratórios Os derivados do ácido barbitúrico são depressores potentes da ventilação pulmonar. Ocorre depressão do centros respiratórios na medula (apneustico e pneumotácico). Pode ocorrer apnéia temporária após indução com tiopental que pode exigir suporte ventilatório através de intubação traqueal e ventilação artificial mecânica ou manual. A depressão respiratória pode ser potencializada pelos fármaco utilizados na MPA, principalmente quando a morfina ou os agonistas alfa-2-adrenérgicos forem utilizados. Depressão respiratória prolongada pode ocorrer sendo necessária ventilação por pressão positiva intermitente durante todo o período trans-cirúrgico. O cloridrato de doxapram (Dopram, Viviram) podem ser utilizados por via venosa (0,5 a 1mg/kg ) como analépticos respiratórios após indução com tiopental sódico quando houver apnéia, com excessão dos casos em que ocorrer arritmias cardíacas concomitantes. O doxapram pode potencializar as arritmías cardíacas e ocorrer para cardíaca. Em animais gestantes deve ser evitado pois por ser altamente lipossolúvel, atravessa a barreira plancentária rapidamente produzindo depressão ventilatória e cardiovascular no feto. 2. PENTOBARBITAL SÓDICO O pentobarbital sódico produ efeito de 1 a 2 minutos após administração e seu tempo hábil anestésico é de 1 a 2 horas. É utilizado como agente anestésico único somente em animais de laboratório ou em pesquisas com cães. A principal indicação para o uso do pentobarbital sódico é o controle das convulsões. O pentobarbital é um oxibarbiturato que pode causar excitação do sistema nervoso central se o animal não for adequadamente sedado ou tranqüilizado ou se for administrado muito lentamente. O pentobarbital raramente causa arritmías cardíacas embora produza depressão respiratória marcante. O tempo de recuperação pode ser longo (8 a 24 horas) quando forem utilizadas doses elevadas ( > 30 mg/kg IV). Em sub-doses como é recomendado para controle de convulsões ( 5mg/kg IV), o período de recuperação é de cerca de 1 a 2 horas. Animais hipotérmicos, hipotensos ou hipoglicêmicos terão um período de recuperação mais prolongado. O metabolismo é hepático e a recuperação é dependente do metabolismo. Assim animais com disfunção hepática apresentarão recuperação lenta. Não deve ser utilizado em eqüinos pois a recuperação prolongada geralmente com episódios de excitação do sistema nervoso central.
  • 39. PROPOFOL O propofol é um alquil-fenol relativamente insolúvel. Necessita ser diluído em uma solução (emulsão) contendo óleo de soja, glicerol e clara de ovo purificada e fosfatada, tornando-se uma solução de aspecto leitoso. O pH da emulsão varia de 7 a 8,5. Esta emulsão em razão do conteúdo proteico torna-se facilmente um excelente meio de cultura para microorganismos, já que não é adicionado preservativo bacteriostático. O propofol deve ser administrado somente por via intravenosa. Como os derivados barbitúricos, produz indução anestésica rápida. A utilização de MPA reduz a dose necessária de propofol. Geralmente os períodos de indução e recuperação anestésicos são destituídos de excitação, embora mioclonias e convulsões possam ocorrer principalmente em animais com história clínica de epilepsia. Pode ser utilizado por infusão contínua, pois o metabolismo é mais rápido e eficiente do que o dos barbitúricos, não ocorrendo efeito cumulativo. Pode produzir dor no momento da administração, principalmente nos animais que não foram pré-medicados. Não ocorre irritação tecidual se for administrado perivascular como com os barbitúricos, sendo portanto recomendado nos animais com fragilidade vascular. Em geral o propofol é utilizado para indução anestésica, mas também pode ser utilizado para procedimentos rápidos como exames laríngeos, pequenas suturas, radiografias, exames ortopédicos e cirurgias de curta duração como orquiecotmias. 1.1 – Efeitos no SNC e Metabolismo Assim como os barbitúricos, o propofol produz depressão generalizada do SNC, sendo destituído de efeito analgésico. Após uma única dose de 4 a 6mg/kg IV, ocorre redistribuição do fármaco do cérebro para outros compartimentos, ocorrendo recuperação rápida (3 a 7 minutos) e o animal retoma a deambulação normal após 20 a 30 minutos (1 a 2 horas para os barbitúricos e anestésicos voláteis). O metabolismo é parcialmente hepático e extra-hepático (pulmões, nos pneumócitos). Os metabólitos inativos são eliminados por via renal. O propofol se liga fortemente às proteínas plasmáticas (95%-99%), portanto animais com baixa concentração de PPT (> 3g/dl) serão mais sensíveis aos efeitos do fármaco. 1.2 – Efeitos Cardiovasculares Semelhantes ao tiopental sódico com excessão das arritmías cardíacas e da taquicardia sinusal produzidas pelos barbitúricos e que não ocorrem com propofol. Estas diferenças são marcantes e auxiliam na seleção entre um ou outro fármaco nos animais portadores de arritmías cardíacas. Ocorre hipotensão arterial e pode ocorrer bradicardia acentuada se opióides forem utilizados concomitantemente. Nestes casos utiliza-se o sulfato de atropina para normalizar a FC, ou na MPA (0,044mg/kg IM) ou 0,02mg/kg IV.
  • 40. 1.3 – Efeitos Respiratórios O Propofol produz depressão respiratória dose dependente, podendo ocorrer apnéia e cianose (saturação da hemoglobina por O2 < 70%, quando a concentração de hemoglobina > 5g/dl). Meios de suporte ventilatório devem estar disponíveis sempre que se utiliza propofol (tubos traqueais, laringoscópio e sistema de ventilação). Para evitar apnéia com propofol, administre a dose calculada entre 40 a 60 segundos. 1.4 – Efeitos Hematológicos O propofol pode oxidar a hemoglobina e produzir a formação de corpúsculos de Heinz. Este efeito foi observado em gatos que receberam propofol por 3 dias consecutivos. Felinos que apresentem corpúsculos de Heinz não devem ser anestesiados com propofol. Esta oxidação da hemoglobina provavelmente ocorre pelo componente fenólico do propofol (alquil-fenol). 1.5 – Indicações e Uso Clínico O propofol é utilizado para obtenção de indução anestésica rápida,principalmente nos animais portadores de arritmías cardíacas. Pode ser utilizado em todas as espécies domésticas, em doses que variam de 3-6mg/kg quando se utiliza MPA e de 4-8mg/kg em animais que não foram pré-medicados. Outra forma de uso do propofol é através da infusão contínua em doses de 0,3-0,6mg/kg/minuto. O propofol deve ser utilizado sempre por via venosa. DERIVADOS FENCICLIDÍNICOS (CICLOHEXAMÍNICOS) 1. CLORIDRATO DE QUETAMINA A quetamina é um anestésico chamado dissociativo pois produz uma “separação”ou dissociação química entre o tálamo e o cortéx cerebral. Este efeito produz delírios e catatonia. O tempo de início de efeito é de cerca de 1 a 2 minutos após administração venosa e 3 a 5 minutos após administração muscular. O tempo de efeito total após uma única dose é de 15 a 20 minutos. A solução tem um pH de 3,5, sendo muito irritante e dolorosa quando administrada por via intramuscular. A apresentação mais indicada é aquela que apresente os dois isômeros (+ e -) ou seja uma mistura racêmica. 1.1 - Métodos de Administração A quetamina pode ser utilizada por via IV, IM, SC, oral, retal e epidural. Pode ser utilizada na maioria das espécies domésticas e silvestres.
  • 41. - Para imobilização de animais silvestres: Usar isolada por via IM ou SC de 15 a 50mg/kg dependendo da espécie (animais de maior peso corporal recebem doses menores). - Para anestesia dissociativa: Associar com outros fármacos como xilazina, acepromazina, diazepam, midazolam ou romifidina 1.2 – Efeitos no Sistema Nervoso Central e Metabolismo A quetamina produz anestesia e analgesia dose-dependente. Deprime a função neuronal no sistema neocorticotalâmico (dissociação) e deprime neurônios nociceptivos (analgesia); estimula áreas do sistema límbico como o hipocampo, o que fez com que a quetamina não mais fosse utilizada em seres humanos (as pessoas falam o que querem e o que não querem ☺). Pode ocorrer convulsão após o uso isolado da quetamina e rigidez muscular. Estes efeitos são contornados utilizando-se um sedativo ou tranqüilizante concomitantemente à quetamina. A quetamina produz analgesia somática mais intensa do que visceral, portanto está mais indicada para as cirurgias das estruturas esqueléticas, músculos, tendões e pele. A quetamina é lipossolúvel e possui baixo peso molecular o que faz com que a transferência do espaço epidural para o subaraquenóide seja rápida, podendo ocorrer ataxia severa e queda do animal. A absorção após administração intramuscular é rápida pela alta lipossolubilidade (< 5 minutos). O metabolismo é hepático em cães, eqüinos e seres humanos ( > 50% da dose administrada). O restante é excretado sem alterações por via urinária. Em gatos, mais de 80% da dose administrada é eliminado na urina sem metabolismo. Assim em cães e eqüinos portadores de disfunção hepática o metabolismo pode ser prolongado. Já em felinos, animais oligúricos ou portadores de insuficiência renal podem apresentar recuperação longa. 1.3 – Efeitos Cardiovasculares Entre os anestésicos a quetamina é o único que estimula o sistema cardiovascular, ao contrário dos demais que são depressores. Os efeitos simpatomiméticos no SNC, vasodilatação e inotropismo positivo (aumento da força de contração) do miocárdio, resultam em aumento da freqüênica cardíaca, aumento da pressão arterial e aumento do volume sangüíneo ejetado por minuto pelo coração (débito cardíaco). Pode ocorrer taquicardia sinusal acentuada e aumento do consumo de oxigênio pelo miocárdio em função deste aumento de freqüência. Os efeitos da quetamina sobre o sistema simpático são dependentes da integridade deste último pois a quetamina produz aumento da liberação de catecolaminas (epinefrina e norepinefrina) e animais que não tenham reservas destes neurotransmissores não respondem adequadamente. Além disso, lesões anatômicas do sistema simpático também bloqueiam os efeitos simpátomiméticos da quetamina. 1.4 – Efeitos Respiratórios
  • 42. A quetamina não deprime a função respiratória como outros anestésicos gerais injetáveis. A freqüência respiratória não se altera e o volume minuto pulmonar (FR/minuto x volume corrente) também se mantém dentro de valores normais. Doses elevadas produzem respiração de padrão apneustico (menor volume corrente e maior freqüência respiratória). O reflexos faríngeos e laríngeos são mantidos o que pode dificultar a intubação orotraqueal. Ocorre aumento das secreções traqueais e bronquiais, o que pode ser evitado com o uso de anticolinérgicos como o sulfato de atropina. 1.5 – Outros Efeitos Farmacológicos Hipertonicidade muscular (usar relaxantes), aumento da pressão intracraniana (evitar nos traumatismos cranianos), aumento da pressão intraocular (evitar nas cirurgias intraoculares como tratamento cirúrgico da catarata). Os efeitos sobre o feto são mínimos em doses baixas (até 10 mg/kg), portanto não contra-indicação nas cesareanas. Os reflexos oculopalpebrais são mantidos e pode ocorrer nistagmo em eqüinos e suínos, indicando plano muito superficial de anestesia não adequado para cirurgias. 1.6 Indicações e Uso Clínico A quetamina é indicada para obtenção de contenção química ou indução anestésica em diversas espécies domésticas e silvestres. De forma geral a dose para contenção química varia de 10 a 20 mg/kg por via IM. Por via venosa a dose recomendada para a indução anestésica varia de 2.2 mg/kg em eqüinos e bovinos a 4-6mg/kg em caninos e felinos. Por sua ação analgésica e quetamina pode ser utilizada por via venosa em incrementos de 0,2mg/kg durante o período trans-operatório quando ocorre superficialização do plano anestésico em caninos, felinos e eqüinos. 2. CLORIDRATO DE TILETAMINA (TELAZOL®, ZOLETIL®) A tiletamina é um derivado fenciclidínico similar a quetamina e o metabolismo é semelhante nas espécies. Por ser cerca de duas vezes mais potente, o fármaco é comercializado combinado a um benzodiazepínico (zolazepam) para produzir relaxamento muscular. As doses são recomendadas considerando a associação como um fármaco único. Deve-se observar nas embalagens a concentração total. O TELAZOL apresenta 500mg e o ZOLETIL 250mg por frasco. Portanto, adicionando- se 5ml de diluente, o TELAZOL apresenta o dobro da concentração do ZOLETIL (100mg/ml x 50mg/ml). A associação tiletamina-zolazepam produz anestesia similar a associação quetamina/diazepam. Os reflexos oculopalpebrais são mantidos, os reflexos de deglutição (faríngeo) e laríngeo também se mantém. O zolazepam evita os efeitos convulsógenos da tiletamina. Pode ser utilizado por via IM ou IV em caninos, felinos, suínos, ovinos e bovinos. Em eqüínos deve ser utilizado somente por via IV SEMPRE
  • 43. precedido de sedação intensa, MAS INTENSA MESMO!!! Ou ocorrerá excitação do SNC. Os efeitos adversos mais comuns são a depressão respiratória principalmente quando associado a outros sedativos e tranqüilizantes, recuperação prolongada (felinos > 24 horas) e excitação na recuperação de eqüinos, caninos e suínos. Felinos metabolizam a tiletamina mais rapidamente que o zolazepam (recuperação prolongada). Caninos metabolizam o zolazepam mais rapidamente (recuperação com excitação). DOSES E ASSOCIAÇÕES RECOMENDADAS: Caninos/Felinos 2mg/kg IM como MPA 5-15mg/kg IM 4-7mg/kg IV 45 minutos de anestesia Caninos Tiletamina-zolazepam 5mg/kg IM Xilazina 1mg/kg IM Butorfanol 0,2mg/kg IM Produz cerca de 60 minutos de anestesia Suínos Tiletamina-zolazepam 3-6mg/kg IM Xilazina 1mg/kg IM Produz 60 minutos de anestesia Eqüinos Xilazina 1,1mg/kg IV Tiletamina-zolazepam 1,5mg/kg IV 30 minutos de anestesia ETOMIDATO O etomidato é um derivado imidazólico dissolvido em propilenoglicol (2mg/ml em 35% propilenoglicol) com pH 5,0. Deve ser mantido sob refrigeração. O tempo para início de efeito após administração IV é de 10-30 segundos e a duração de efeito varia de 5-10 minutos. Em caninos e felinos deve ser utilizado por via IV exclusivamente. Em animais de laboratório como pequenos roedores, pode ser alternativamente utilizado por via intraperitoneal. Normalmente o etomidato é utilizado associado ou após um derivado benzodiazepínico ou opióide. Deve ser utilizado para indução
  • 44. anestésica em caninos e felinos portadores de insuficiência cardíaca grave. O etomidato produz depressão adrenocortical importante e deve ser evitado em animais portadores de doença de Addison (deficientes em cortisol), ou em animais em estado de choque ou politraumatizados (necessitam de uma adequada resposta adrenocortical) 1.1 – Efeitos no SNC e Metabolismo O local de efeito hipnótico do etomidato parece ser a formação reticular no tronco cerebral. Produz inconsciência mas não produz analgesia. Rapidamente é redistribuído do cérebro para outros tecidos, por isso o tempo de ação no SNC é curto. Sofre hidrólise e metabolismo hepático. Os metabólitos são eliminados na urina. Cerca de 75% da dose administrada liga-se as proteínas plasmáticas. O fármaco pode produzir mioclonias de orígem central, embora seja anticonculsivante e diminua o metabolismo cerebral, podendo ser usado nos casos de trauma craniano. 1.2 – Efeitos Cardiovasculares e Respiratórios É o indutor anestésico que maior estabilidade cardiovascular produz. Mantém as funções mediadas pelos baroreceptores (resposta a hipotensão e a hipertensão, produzindo vasoconstrição ou vasodilatação periférica e aumento ou diminuição da freqüência cardíaca). Não produz efeito intrínseco sobre a FC e pressão arterial e não interfere com a contração do miocárdio. Ao contrário dos barbitúricos, não é arritmogênico para o miocárdio. Em animais alérgicos, não ocorre liberação de histamina, sendo portanto indicado nos casos em que uma resposta histaminérgica seja indesejada (evitando hipotensão por vasodilatação periférica). Os efeitos sobre a freqüência e volumes ventilatórios são mínimos não ocorrendo depressão da função respiratória. 1.3 – Indicações e Uso Clínico O etomidato está indicado nos pacientes portadores de insuficiência cardíaca congestiva e arritmías ventriculares graves. Também pode ser indicado nos casos de pacientes alérgicos pois não produz liberação de histamina. Utiliza-se em doses de 1 a 2mg/kg por via intravenosa precedido de narcóicos opióides ou benzodiazepínicos para redução da dose e evitar-se a ocorrência de mioclonias. Em roedores é possível utilizar-se a via intraperitoneal em doses de 5 a 10mg/kg associado a um opióide como o fentanil em doses de 10 a 20μg/kg.
  • 45. CAPÍTULO 4 ASSOCIAÇÕES DE ANESTÉSICOS INJETÁVEIS Associações de Fármacos Anestésicos Injetáveis Existem várias razões para se associar fármacos com atividade anestésica e analgésicas, principalmente o fato da não existência de um único anestésico que possua todas as propriedades desejáveis para obtenção dos diferentes efeitos necessário para anestesia do paciente. Ao associarem-se fármacos de grupos diferentes, procura-se utilizar as características farmacológicas destes agentes para obtenção de efeitos como analgesia, relaxamento muscular, hipnose ou narcose e outros. Em algumas associações, determinados fármacos são incluídos para antagonizar efeitos indesejáveis de outros, como por exemplo quando se utiliza o diazepam com etomidato, procurando-se evitar as mioclonias deste último pelo efeito relaxante muscular do primeiro. Outro exemplo é a associação quetamina e xilazina na qual a quetamina é utilizada entre outras razões para antagonizar a bradicardia característica dos agonistas alfa-2-adrenérgicos. Embora as associações de fármacos injetáveis sejam característica da anestesiologia veterinária, com grandes vantagens, não as são completamente destituída de complicações. Deve-se conhecer a farmacologia dos fármacos individualmente pois os efeitos adversos dos diferentes agentes serão somados nas associações. Geralmente cada componente terá sua dose ajustada, ou seja, diminuída para evitar-se superdosagem. Comumente os efeitos adversos mais observados com as associações anestésicas são: - Depressão do sistema nervoso central - Depressão respiratória - Recuperação prolongada - Bradicardia - Hipotensão - Incompatibilidade física da mistura (precipitação)
  • 46. 1. Associações com Quetamina O cloridrato de quetamina pode causar uma série de efeitos indesejáveis tais como: - hipertonicidade muscular - mioclonias - convulsões - Excitação do sistema nervoso central - Respiração do tipo apneustica - Salivação - Hipertermia Estes efeitos podem tornar os períodos trans e pós-anestésicos de difícil controle, principalmente em eqüinos. Em caninos e felinos a ocorrência de salivação intensa e hipertermia são os principais efeitos adversos que procura-se contornar associando-se sedativos e tranqüilizantes com os anestésicos dissociativos. De forma geral, são utilizados os seguintes fármacos associados à quetamina em razão de seus efeitos antagônicos: Fármaco Propriedades 1. Xilazina Sedação, relaxamento muscular, analgesia 2. Acepromazina Tranqüilização, vasodilatação periférica (< temperatura corporal 3. Promazina Tranqüilização 4. Diazepam Relaxamento muscular, anticonvulsivante 5. Midazolam Relaxamento muscular, anticonvulsivante 6. Morfina Analgesia, sedação 7. EGG (guaifenesin) Relaxamento muscular 8. Atropina Efeito antisialagogo
  • 47. 1.2 - Associações com Quetamina em Caninos Geralmente a quetamina é utilizada por via IV para obtenção de indução anestésica em caninos, ou para procedimentos curtos de menos de 10 minutos de duração como radiografias e pequenas suturas. Pode também ser utilizada por via intramuscular associada a xilazina e ao sulfato de atropina para obtenção de anestesia total injetável para procedimentos de menos de 60 minutos de duração. Quando utilizada isoladamente em caninos a quetamina produz rigidez muscular e salivação intensa, sendo portanto obrigatória sua associação a outros fármacos anestésicos injetáveis. Deve-se ter em mente que embora as associacões sejam injetáveis, é sugerido que se observem cuidados com relação a ventilação pulmonar e estejam disponíveis tubos traqueais e uma fonte de oxigênio para os casos de depressão respiratória e/ou apnéia. Fármacos Doses/Vias Duração de Efeito Acepromazina Midazolam Quetamina 0,05mg/kg IM 0,07mg/kg IM 6-11mg/kg IV 10-15 minutos Acepromazina Diazepam Quetamina 0,05mg/kg IV 0,2g/kg IV 6-11mg/kg IV 10-20 minutos Diazepam Quetamina 0,2mg/kg IV 6-11mg/kg IV 10-15 minutos Xilazina Atropina Quetamina Diazepam 0,5-1mg/kg IM 0,044mg/kg IM 4-7mg/kg IV 0,2mg/kg IV 15-30 minutos Xilazina Atropina Quetamina 1,0mg/kg IM 0,044mg/kg IM 20mg/kg IM 40-60 minutos
  • 48. 1.3 - Associações com Quetamina em Felinos As mesmas regras gerais aplicam-se aos felinos quando se utiliza quetamina para contenção química ou anestesia total. Os efeitos depressores respiratórios são mais intensos em felinos, assim deve-se obervar atentamente a ocorrência de depressão respiratória. Fármaco Doses/Vias Duração Xilazina Quetamina 2mg/kg SC 10-15 mg/kg SC 10-20 minutos Xilazina Quetamina 0,5mg/kg IM 20mg/kg IM 20-40 minutos Xilazina Quetamina 2mg/kg IM 20mg/kg IM 30-60 minutos Acepromazina Quetamina 0,05mg/kg IM 20mg/kg IM 15-45 minutos Acepromazina Quetamina Butorfanol 0,05mg/kg IM 7-11mg/kg IM 0,4mg/kg IM 45-60 minutos Midazolam Quetamina 0,2mg/kg IM 10-15 mg/kg IM 15-30 minutos Midazolam Quetamina Butorfanol 0,1mg/kg IM 15mg/kg IM 0,4mg/kg IM 20-40 minutos
  • 49. 1.4 - Associações com Quetamina em Eqüinos As associações de quetamina com outros sedativos ou tranqüinlizantes somente estão indicadas para a obtenção de indução anestésica em eqüinos. A contenção farmacológica com quetamina em eqüinos não é utilizada pois a quetamina quando utilizada por via sistêmica (intravenosa ou intramuscular) produz ataxia e decúbito nesta espécie. Fármaco Doses/vias Duração/observações Xilazina * Quetamina 1,1mg/kg IV 2,2mg/kg IV 15 a 20 minutos. O animal deve estar profundamente sedado com a xilazina antes da administração da quetamina. Xilazina Acepromazina Quetamina 1,1mg/kg IV 0,02mg/kg IV 2,2mg/kg IV 15-25 minutos. Pequenas cirurgias. Não deve ser utilizada para indução anestésica em eqüinos que serão mantidos com anestésicos voláteis (halotano, isoflurano, sevoflurano). Xilazina Butorfanol Quetamina 1,1mg/kg IV 0,02mg/kg IV 2,2mg/kg IV 20-30 minutos. Profunda sedação com butorfanol e xilazina. Esta técnica pode ser utilizada para pequenas cirurgias. Xilazina Diazepam Quetamina 1,1mg/kg IV 0,02mg/kg IV 2,2mg/kg IV 20-30 minutos. Utilizar a xilazina para obter sedação e a quetamina + diazepam para a indução anestésica ou pequenas cirurgias. Xilazina Tiletamina-zolazepam 1,1mg/kg IV 1,5mg/kg IV 25-35 minutos. Pequenas cirurgias ou indução anestésica Xilazina EGG Quetamina 0,4-1,1mg/kg IV 50-100mg/kg IV 2,2mg/kg IV 20-30 minutos. Sedar com a xilazina. Administrar o EGG até produzir o efeito desejado(relaxamentomuscular) e induzir com a quetamina. *A xilazina pode ser substituída por romifidina 80-100μg/kg IV