O documento descreve dois notáveis acidentes de engenharia civil no Brasil que resultaram em vítimas fatais: o desabamento do Pavilhão da Gameleira em 1971 que matou 61 operários e o desabamento de um prédio em Volta Redonda em 1991 que matou 8 pessoas. Ambos os acidentes ocorreram devido a uma combinação de falhas no projeto, construção e supervisão, incluindo tensões excessivas, recalques, concreto fraco e falta de coordenação entre os envolvidos. O documento argumenta que a negligência
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
Notáveis acidentes de engenharia civil com vítimas fatais no Brasil
1. UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ
CURSO DE ENGENHARIA CIVIL
DISCIPLINA DE INTRODUÇÃO À ENGENHARIA CIVIL
PROFESSOR OSNY SILVA
WEBER ALVES BRAGA
NOTÁVEIS ACIDENTES DE ENGENHARIA CIVIL COM VÍTIMAS
FATAIS NO BRASIL – COMO SE AVALIA A CULPABILIDADE CIVIL E
CRIMINAL DOS ENGENHEIROS RESPONSÁVEIS TÉCNICOS?
SOBRAL-CE
18/06/2013
2. Introdução
O engenheiro, ao exercer seu trabalho, leva consigo a responsabilidade de zelar por
vidas humanas, devendo sempre, realizar sua função de profissional ético. Por mais que isso
seja repetido várias vezes, não faltam exemplos de casos em que os engenheiros agiram
incompetentemente, expondo vidas a grandes riscos.
Diante disso, torna-se necessário frisar a importância da decisão pessoal do
engenheiro em várias situações, e este sempre deve lembrar que existem vários recursos ao
seu favor, visto a formação que teve. É necessário também, que o engenheiro tenha consigo
um conjunto de experiências vividas, que serão consultadas em vários momentos.
A hora em que se projeta uma obra é crucial para o encaminhamento desta, pois é o
momento que estuda a viabilidade da execução desta e também pré-identificam os desafios a
serem superados por meio de planejamento. É nessa hora, que o engenheiro e o projetista
devem tomar decisões que possibilitem o prosseguimento do trabalho.
Os profissionais devem discutir acerca de materiais que serão utilizados, dúvidas
acerca de especificações do projeto, custos e impactos. Tudo é pensado para que na fase de
execução não ocorram imprevistos que comprometam o empreendimento. Não só isso, mas
também é fundamental que o engenheiro tenha olhar clínico sobre problemas que surgem do
início ao fim da obra, empenhando-se em solucioná-los.
Os grandes acidentes que já ocorreram na história, são lições para os atuais
engenheiros. Alertam para os pequenos detalhes, que quando são ignorados e podem se tornar
a causa de muitos transtornos. Os pequenos equívocos e as pequenas desatenções também são
a causa de muitos prejuízos, que não podem ser toleradas pelo engenheiro que projeta e que
gerencia.
Podemos constatar que os vários acidentes estruturais ocorridos no Brasil tiveram
origens diversas – no projeto, nas técnicas de construção, nos materiais empregados, no
controle da execução, no seu uso durante sua vida útil. Os engenheiros envolvidos com as
fases de uma obra devem atentar para o cumprimento de normas técnicas, sempre avaliando
as condições de estabilidade, durabilidade e funcionalidade do empreendimento (CUNHA,
1996).
3. No texto a seguir, serão mostrados dois exemplos de acidentes estruturais com
vítimas fatais no Brasil. Todos eles tiveram grande repercussão na imprensa, e até hoje são
assunto de muitas discussões. Nos dois casos, pode-se constatar a existência de várias falhas,
com origens diversas, que concomitaram para a ocorrência dos acidentes. As falhas ao serem
analisadas, podem servir de lição, sendo uma forma de impedir que mais desastres do tipo
ocorram.
4. Notáveis acidentes de engenharia civil com vítimas fatais no Brasil
O desabamento do Pavilhão da Gameleira
O desastre da Gameleira é considerado o maior desastre da construção civil no
Brasil. Depois de quatro décadas ainda é causa de discussão quanto aos motivos que
ocasionaram o acidente. Foi em 4 de fevereiro de 1971, quando os operários descansavam
durante o intervalo para almoço, sob a obra na parte livre dos escoramentos. Morreram 61
operários e 50 ficaram feridos no desabamento.
A empresa responsável pela execução da obra era a Sergen Engenharia; a empresa
Sobraf era responsável pelas fundações e o escritório Joaquim Cardoso pelos cálculos. A
Sergen Engenharia, grande empresa do ramo da construção civil, continua em atividade até os
dias de hoje. Atualmente, é responsável por outras obras na capital mineira, dentre elas o
Fórum da cidade.
Quando ocorreu o acidente, o descimbramento da estrutura estava concluído,
faltando apenas o das vigas finais, V 103 e V 203 (ver esquema em Anexo 1). Durante o
descimbramento, houve grande dificuldade na retirada das escoras centrais do cimbre. Isso
porque, elas estavam submetidas a enormes compressões e nenhum dispositivo de alívio foi
utilizado na ocasião. Imaginou-se que isso era decorrente de existência de recalques de apoio
nas fundações. É importante destacar que os cimbres foram retirados na ordem inversa do
usual: dos apoios para o centro, que por se só justificava o aperto das escoras. O engenheiro
da empresa responsável pelas fundações havia informado que os cimbres deveriam ser
retirados do centro para os apoios. Embora a sugestão não tenha sido seguida, foi o suficiente
para incriminá-lo.
Havia sido feito uma vistoria no dia 4 de fevereiro, e constatou-se a presença de
fissuras nas vigas V 103 e V 203, porém isso não foi considerado anormal e deu-se
prosseguimento à retirada das escoras. Logo depois ocorreu o desabamento.
As fissuras foram consideradas normais pois acreditava-se eram decorrentes de
recalques. Esses recalques foram medidos, porém foram considerados insignificantes. Os
maiores recalques diferenciais na parte que ruiu ocorreram entre os pilares P4 e P9, no vão
transversal de 30,5 m. Esses recalques atingiram apenas 2,7 cm, ou seja, 1/1130 do vão. Isto
foi considerado insignificante na ocasião. Este recalque, entretanto, posteriormente ao
5. acidente, foi o fulcro para incriminação da firma responsável pelas fundações. Foi motivo
suficiente para indiciamento do possível culpado pelo acidente. O recalque foi a causa de
tudo.
A verificação do projeto revelou um defeito da maior importância nas vigas
principais, considerado causa principal do desabamento: tensões excessivas em serviço no
concreto na região dos apoios em P4-5. Não existia nem concreto nem armadura adequada
para absorver essas tensões.
Queda de um prédio em Volta Redonda-RJ com oito mortes.
Em 31 de agosto de 1991, na cidade Volta Redonda, no Rio de Janeiro, um prédio de
4 pavimentos desabou causando um total de 8 mortos e 24 feridos, incluindo o dono do
imóvel, 3 membros de sua família - dois filhos e um sobrinho - entre outras pessoas que
participavam da construção em regime de mutirão. Este acontecimento foi amplamente
divulgado pela a imprensa.
Após o desastre foi instaurado um processo conduzido pelo CREA-RJ, onde os
principais envolvidos foram ouvidos. Os depoimentos revelaram uma falta de coordenação
geral para delegar as funções específicas a cada responsável. Vejamos alguns trechos dos
depoimentos:
do profissional responsável pelo projeto perante o CREA:
-"Fui procurado pelo proprietário para fazer o projeto de um prédio de dois
pavimentos, tendo executado o projeto de arquitetura e o cálculo estrutural".
do profissional responsável pela construção perante o CREA:
-"Não sabia que a obra estava sendo executada”.
do encarregado da construção:
-"nunca recebi nenhum projeto de estrutura para executar”.
-"nunca tive orientação técnica com relação ao concreto ou ferragem".
-"executava os serviços por experiência própria de acordo com a minha vivência
profissional".
6. -"acho que a queda da obra pode ser atribuída ao mau dimensionamento dos pilares
centrais”.
Pessoas que presenciaram o desabamento relataram que as primeiras peças do prédio
a entrarem em ruptura foram os pilares centrais, isto porque houve afundamento da parte
central do andar e depois a estrutura entrou em colapso. Investigando os escombros, puderam
constatar que foram várias as causas do acidente: vigas com espaçamento de estribos
exagerado, desagregação do concreto indicando sua baixa resistência e falta de espaçadores
para garantir o cobrimento da armadura. Pode-se concluir que houve uma série de falhas na
execução de vido à falta de supervisão como: não existência de análise de solo para
assentamento da fundação, utilização de traço incorreto com adição excessiva de água ao
concreto, inexistência de cálculo estrutural, falta de vibração e de cura do concreto.
Esses fatores ocasionaram o colapso da estrutura, que foi iniciado pelos esforços
atuantes devido à ocupação dos apartamentos construídos, ao peso próprio de parte da
estrutura e à sobrecarga da operação de concretagem da 4ª laje. A falta de um projeto
elaborado, juntamente com falhas no cálculo e falhas em dimensionamento da obra foram as
principais causas do desabamento.
A qualidade do concreto também é fundamental. O traço escolhido deve ser bem
medido e experimentado para garantir uma dosagem perfeita e que corresponde ao caso em
que está sendo aplicado. É importante, a supervisão no momento da mistura e dos
componentes do concreto ainda fresco.
Cabe ao engenheiro responsável, definir os fatores que podem interferir na qualidade
da execução da obra. O profissional habilitado deve elaborar um projeto que preveja detalhes
importantes para a segurança da obra, como por exemplo, o posicionamento de componentes
em uma construção.
7. Conclusão
A autoridade do engenheiro para julgar prosseguimento da execução de uma obra
deve ser acompanhada de cuidados mínimos para a segurança dos operários e das vidas
envolvidas. O engenheiro toma decisões que são seguidas sem questionamentos, o que muitas
vezes é a causa de grandes falhas. Abrir mão da supervisão técnica, acompanhamento das
etapas da obra é atitude típica de profissionais desabilitados. Quando desastres ocorrem, a
culpa se torna não apenas do engenheiro, mas primeiramente desse, do projetista e dos
utilizadores.
Questionar procedimentos muitas vezes é necessário, e a fiscalização é
indispensável, visto que não estamos isentos de erros. Porém, na construção civil, não é
tolerável negligência, visto que são vidas humanas que estão em jogo.
Anexo 1
Esquema geral da estrutura do Pavilhão da Gameleira.
8. Fontes
CUNHA, Albino J. P da; LIMA, Nelson A.; SOUZA, Vicente C. M.. Acidentes Estruturais
na Construção Civil. Vol. 1. São Paulo: Pini, 1996.
_______. Acidentes Estruturais na Construção Civil. Vol. 2. São Paulo: Pini, 1998.