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UNEB - UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
      DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO-CAMPUS XIV
                 COLEGIADO DE HISTÓRIA




        FELIPE COUTINHO DE LIMA SANTIAGO




A HISTÓRIA DO CORONELISMO EM CONCEIÇÃO DO COITÉ:
   UMA ANÁLISE DAS PERMANÊNCIAS E RUPTURAS POLÍTICAS DO
   PODER LOCAL ENTRE 1930 E 1990.




                 Conceição do Coité

                      2010
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        FELIPE COUTINHO DE LIMA SANTIAGO




A HISTÓRIA DO CORONELISMO EM CONCEIÇÃO DO COITÉ:
       UMA ANÁLISE DAS PERMANÊNCIAS E RUPTURAS
       POLÍTICAS DO PODER LOCAL ENTRE 1930 E 1990.




                         Monografia apresentada ao Departamento de
                         Educação – Campus XIV/UNEB, como requisito
                         parcial para a obtenção do título de Licenciatura
                         em História.

                         Orientador: Prof. Ms. Eduardo Borges




                   Conceição do Coité

                         2010
3


AGRADECIMENTOS



Ao professor Eduardo Borges, que me acompanhou sabiamente na construção
deste trabalho como orientador e amigo.




Aos meus queridos pais, por estarem sempre ao meu lado me apoiando nas
minhas decisões e me ajudando a escolher o melhor caminho para viver.




À Priscila, que sempre está do meu lado como fiel companheira, e por fazer
minha vida ficar cada vez melhor.




Aos meus irmãos, que fazem parte da minha vida sabendo transformá-la em
uma verdadeira aventura.




Aos meus amigos, que descobri entre os colegas de faculdade, que nunca
mais sairão das minhas lembranças nem da minha vida: Alex Teixeira, Moises
de Oliveira, Juliana Carneiro, Thiago Gordiano, Jaqueline Rios, Michele Nunes,
João Vitor de Oliveira, Carla Pinho, Ismael de Jesus, Ana Priscila de Carvalho,
Ana Vilma dos Santos, Aurineia Almeida.
4


RESUMO



Esta monografia analisa a história do coronelismo em Conceição do Coité
como uma permanência política entre 1930 e 1990, com o objetivo de
compreender como este sistema conseguiu manter-se no poder local sendo a
estrutura política predominante. O conceito de coronelismo é abordado através
dos processos de adaptação política, observados por autores que analisam
este sistema. A discussão teórica é baseada nas relações de poder que se
estruturam entre os coronéis e seus dependentes. Na sociedade coiteense, o
coronelismo está presente nas estratégias políticas de dois coronéis, Seu Mota
e Hamilton Rios. Este trabalho mostra uma perspectiva histórica que identifica,
nestas estratégias locais, as características políticas e econômicas que
estruturam o coronelismo.

Palavras-Chave: Coronelismo; Conceição do Coité; Seu Mota; Hamilton Rios;




ABSTRACT


This paper analyzes the history of the Colonels in Conceição do Coité as a
permanent policy between 1930 and 1990, with the goal of understand how this
system has managed to remain in local power and the prevailing political
structures. The concept of the Colonels is addressed through the processes of
adaptation policy, observed by authors who analyze this system. The theoretical
discussion is based on power relations that are structured among the colonels
and their dependents. In society coiteense, the Colonels is present in the
political strategies of two colonels, Mr. Mota and Hamilton Rivers. This work
shows a historical perspective that identifies, these local strategies, the
characteristics of political and economic structure the Colonels.


      Keywords: Colonels; Conceição do Coité; Mr. Mota, Hamilton Rios;
5


                                      SUMÁRIO




INTRODUÇÃO.....................................................................................................6



1. DISCUSSÃO TEÓRICA SOBRE O CONCEITO DE CORONELISMO...........8



2. COITÉ DE SEU MOTA – 1930 A 1972...................................................................18



3. COITÉ DE HAMILTON RIOS – 1972 A 1990..............................................26



CONCLUSÃO....................................................................................................36



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................38



FONTES............................................................................................................41
6


INTRODUÇÃO




      Esta monografia que tem como título, A história do coronelismo em
Conceição do Coité: Uma análise das permanências e rupturas políticas do
poder local entre 1930 1990. Este pesquisa busca identificar em Conceição do
Coité características políticas que estruturam o fenômeno coronelístico e que
analisa o papel político dos líderes locais na sua relação com os eleitores e
governos durante os sessenta anos da pesquisa.
      Esta análise tem como foco a discussão do coronelismo através da sua
permanência política para que se possa compreender como este sistema
conseguiu se manter no poder local por tanto tempo. Nesta monografia, a
discussão será feita com base nas relações de poder que se estruturam a partir
dos elementos e padrões políticos presentes na sociedade coiteense. A
discussão abordada mostra uma perspectiva que tenta identificar nas
especificidades políticas locais os aspectos políticos e econômicos que
estruturam o coronelismo.
      O fenômeno político a ser analisado é o coronelismo que surgiu com o
título de coronel, que era um título da Guarda Nacional surgido em 1831 que
era dado a fazendeiros do interior por serem líderes locais que com o título de
coronel passaram a ter um amplo poder, inclusive o poder militar local
oficializado. Contudo, o coronelismo ultrapassou os limites deste título oficial, e
ganhou força na República Velha tornando-se um sistema político que imperou
em vários municípios de todo o Brasil, sobretudo no Nordeste. Esta estrutura
política apesar de ter sofrido algumas transformações que acompanharam as
mudanças econômicas, ainda mantêm características que não se perderam
com o tempo.
      Estas características estão baseadas na relação de clientelismo entre o
“coronel” e seus dependentes, onde o político se apropria do poder local
público como se fosse particular através do apoio do governo estadual e
federal, instaura a política de apadrinhamento de familiares e no período das
eleições, compra votos para garantir o seu curral eleitoral. Todos estes
7

aspectos estruturam o coronelismo como fenômeno político-social que
consegue se adaptar aos diversos contextos históricos.
       Identificar estas características do coronelismo que permaneceram no
cenário político de Conceição do Coité adaptadas a uma nova realidade em
que estavam inseridas é essencial para compreendermos este fenômeno. Com
isto, poderemos entender como os coronéis conseguiram manter a sua
influência política sobre a população coiteense por tanto tempo.
       Para atingir este objetivo foi necessário no primeiro capítulo a
elaboração de uma discussão teórica sobre o conceito de coronelismo para
entendermos as características e as transformações políticas deste conceito
que se flexibilizou diante de novos contextos socioeconômicos. Desta forma
poderemos identificar os mecanismos coronelísticos que permaneceram nas
relações de poder entre os coronéis e os seus dependentes é fundamental que
sejam analisadas as trajetórias pessoais e políticas de dois líderes locais de
Conceição do Coité, “Seu Mota” e Hamilton Rios.
       No segundo capítulo é discutida a trajetória política de “Seu Mota” e as
suas estratégias coronelísticas para se manter no poder local como principal
liderança política. No terceiro capítulo é analisada a trajetória política de
Hamilton Rios comparando as suas estratégias políticas com as utilizadas por
Seu Mota. Com isso, poderemos compreender quais das principais
características do coronelismo permaneceram presentes e quais sofreram
adaptações para que fosse possível manter este sistema estruturado e
presente na política local.
       Analisar o coronelismo como uma permanência política é mostrar uma
visão mais ampla de sua importância na sociedade brasileira que é formada
por tantos municípios que ainda mantêm os políticos como donos do poder
local se utilizando da máquina pública para dar continuidade a esta estrutura
que ainda gera dependência política e econômica para as populações.
8


1. Discussão teórica sobre o conceito de coronelismo




        Para analisar o coronelismo é preciso que este conceito seja bem
trabalhado e definido a partir dos aspectos políticos que estruturam este
sistema de relações baseadas no clientelismo e no paternalismo.
        O primeiro aspecto a discutir é considerar como “coronel” não apenas
os lideres municipais que receberam o titulo da Guarda Nacional, mas também
todo fazendeiro que adquiriu autoridade política através da utilização do poder
público para aumentar o seu poder econômico e consequentemente aumentar
também a sua influencia como liderança na política local.
        Este poder se efetiva a partir de duas frentes determinantes. A primeira
frente de poder se estabelece através da relação entre o coronel e seus
dependentes, na qual cumprir os favores pessoais pedidos pelos dependentes
faz parte da estratégia política do coronel. A segunda frente de poder é a
relação entre o coronel e o governo estadual, esta relação se estabelece
também como uma troca de favores, enquanto o coronel depende da verba
estadual, o governo estadual depende dos votos do coronel.
        Vitor Nunes Leal, demonstra em seu livro uma construção histórica
mais rígida atrelando totalmente o coronelismo a vida no campo. “A força
eleitoral presta-lhe prestígio político a partir da sua privilegiada situação
econômica e social de dono da terra.” (1997, p. 42)
        O autor afirma que o poder local no interior do Brasil só era exercido
por chefes municipais que tivessem uma ligação direta com o campo. Esta
relação entre coronelismo e poder rural no interior é tão sólida para Leal que “a
vitalidade (do coronelismo) é inversamente proporcional ao desenvolvimento
das atividades urbanas.” (1997, p. 275) .
      Diferente do que afirma Leal, Faoro não considera que o coronelismo
está totalmente vinculado ao território agrícola em que apenas os fazendeiros
teriam condições políticas para exercer a função de “coronel” da política local.
Faoro afirma que existiam categorias de coronelismo atreladas a cidade.
“Outros categorias, que não as territoriais, podem ocupar a posição de coronel,
como o coronel advogado, o coronel comerciante, o coronel médico, o coronel
9

padre.” (2000, p. 710) Dentro desta discussão conceitual Janotti considera que
:


                     Não houve uma simples substituição de dirigentes, antes define-se
                     uma nova composição de força, entremeada por novas situações
                     econômicas (...) À medida que se desenvolviam as funções urbanas
                     no município, sua importância econômica e, consequentemente,
                     eleitoral passava, então a ser exercido por pessoas que não
                     detinham, necessariamente, a posse da terra. (1981, p. 69)



      A partir da discussão desses autores fica evidente que a presença do
coronelismo na cidade existia e que não dependia tanto da fazenda. Mas a
presença do coronelismo na cidade só vai aumentar com o tempo. Já nas
décadas de 20 e 30 do século XX começa-se a perceber este deslocamento do
poder local para a cidade sem deixar de ter influência nas fazendas.
      Ainda que existam divergências neste aspecto territorial do coronelismo,
nota-se que há entre os autores uma convergência de idéias sobre o papel
fundamental da relação existente entre o poder público e privado como aspecto
essencial para a estruturação do coronelismo. Cada autor faz uma
interpretação diferenciada desta relação , eles sabem da sua importância
política para os coronéis. Leal afirma que:


                     O coronelismo é antes uma forma peculiar de manifestação do poder
                     privado, ou seja, uma adaptação em virtude do qual os resíduos do
                     nosso antigo e exorbitante poder privado tem conseguido coexistir
                     com um regime político de extensa base representativa.” (1997, p. 40)


      Este autor deixa bem claro que para o coronelismo existir é necessário
que se faça o uso do poder privado como mecanismo político para alimentar as
relações de confiança que fazem parte da sua estrutura de influência.
      Autores como Pang considera que “a principal função do coronelismo
era a hábil utilização do poder privado acumulado pelo patriarca de um clã ou
uma família mais extensa” (1979, p. 21). Esta habilidade aplicada também na
sua política de favores que baseia toda a estrutura coronelista que se constrói
a partir deste poder privado.
        O aumento do poder dos “coronéis” gera também um aumento da
dependência econômica e política que faz parte da relação pessoal existente
entre os “coronéis” e seus dependentes. Segundo Faoro, o “coronel” exerce
10

este poder político com base no seu poder econômico que está atrelado ao
próprio governo. Para ele a relação entre poder público e privado é muito mais
complexa por não considerar que a função pública é apenas um prolongamento
do poder privado (2000, p. 700)
      Para que o “coronel” possa manter a sua política de favores, ele precisa
ser rico ou no mínimo ter uma renda capaz de satisfazer as necessidades de
muitos dependentes que quando precisam de algum favor vão procurá-lo.
Queiroz defende que “a fortuna é um dos meios principais de se fazer
benefícios (...) O prestigio dos coronéis “lhes advém da capacidade de fazer
favores” (1976, p. 191). Esta riqueza se mostra fundamental para que os
“coronéis” possam aplicar a sua política de favores como principal mecanismo
para a manutenção da dependência econômica e política dos seus agregados.
      Contudo, a estrutura coronelística não se resume apenas a relação de
dependência econômica e política. Existe também o aspecto social que sofre
forte influencia do coronelismo. Esta influência é percebida através da relação
de autoridade local do “coronel” que tem poderes ilimitados dentro da sua
fazenda ou do seu município.


                     O reconhecimento tácito que a comunidade tem da autoridade do
                     Coronel. Abandonada pelos poderes públicos no que se refere à
                     saúde, à justiça, e à instrução, pois o município não tinha condições
                     de atende-la, via o Coronel como protetor natural. (JANOTTI, 1981, p.
                     57)


      Ser a autoridade máxima nesses locais é lidar com todo tipo de situação
na qual ele seja o juiz, o delegado, o prefeito, o fazendeiro, e o padrinho. Um
desses papéis sociais é exercido no momento em que ele é utilizado como
referencial de justiça, moral e ordem.

                     A não ser em época de eleições, o Coronel, na maior parte da s
                     vezes não necessita despender capital para atender aos solicitantes.
                     Soluciona dissídios forçando o “acordo” entre as partes, o seu
                     prestígio é o aval da “sentença”. A garantia é dada, segundo o dito
                     popular, “pelo fio de sua barba”, isto é, a palavra do Coronel substitui
                     o contrato escrito. (JANOTTI, 1981, p. 59)


      Além do papel de autoridade que o “coronel” exerce sobre sua clientela,
o seu papel social de padrinho é fundamental para que mantenha o controle
sobre os seus afilhados. Como padrinho, ele constrói uma solidariedade entre o
11

dominante e o dominado que aproxima socialmente os dois principais atores do
coronelismo. “As relações de compadrio tão difundidas no coronelismo
“suavizam as distâncias sociais e economias entre o chefe e o chefiado.””
(JANOTTI, 1981, p. 57)
      Estas relações de compadrio influenciaram na estruturação das
“parentelas” em torno da autoridade política do coronel. As “parentelas”
asseguram a proximidade política entre as camadas sociais antagônicas que
se expressam no coronelismo. Ainda que esta aproximação tenha uma barreira
econômica que impede uma maior aproximação entre os membros das
diferentes camadas sociais existentes em uma só parentela.


                     Entendemos por “parentela” brasileira um núcleo bastante extenso de
                     indivíduos unidos por parentesco de sangue, formado por várias
                     famílias nucleares, regra geral, economicamente independentes,
                     vivendo cada qual em sua morada; as famílias podem-se dispersar a
                     grandes distâncias, o afastamento geográfico não quebrando a
                     vitalidade dos laços ou das obrigações reunindo os indivíduos uns
                     aos outros no interior do grupo. A característica principal do grupo é
                     sua estrutura interna, bastante complexa, e variando de uma
                     configuração mais igualitária, até uma estratificação em vários níveis.
                     (QUEIROZ, 1976, p. 182)



      A parentela mostra-se uma estrutura complexa que aceita variações no
fenômeno coronelístico através da relação existente entre as camadas sociais
que compõem esta estrutura. O coronel sempre representa a efetiva
estratificação social dentro da parentela, mesmo que esta tenha “uma
configuração mais igualitária”, o coronel e seus familiares têm uma forte
distinção econômica e política dentro do grupo ao qual pertencem.
      Este conceito de parentela de Queiroz define o grupo social liderado
pelo coronel que se modifica de acordo com as estratificações políticas e
econômicas através das relações entre as camadas sociais e por isso se
aproxima muito do conceito de oligarquia familiocrática de Pang. A oligarquia
familiocrática basea-se numa interpretação que o autor faz sobre o conceito de
parentela de Queiroz. Contudo, o autor mostra que existiu diversos grupos
sociais, chamados pelo autor de oligarquias, que estavam atrelados ao
coronelismo tendo características sócio-políticas distintas entre si por surgirem
em locais diferenciados. O grupo mais presente na sociedade brasileira foi a
12

oligarquia familiocrática, porém também surgiu a oligarquia tribal, colegiada e
personalista.
      Pang afirma que:
                     A maioria dos coronéis brasileiros situa-se nesta categoria (oligarquia
                     familiocrática).Caracteristicamente organizada pelo chefe de uma
                     única família, ou clã, a esfera de influencia existia dentro de uma
                     município. A participação numa oligarquia (nesse caso um clã) incluía
                     a família em si, pessoas da mesma linhagem, parentes por afinidade,
                     afilhados de batismo ou de casamento e, às vezes, o povo
                     dependente do ponto de vista sócio-econômico. (...) Possui diversas
                     características únicas: o sucessor do chefe não precisa ser um
                     herdeiro direto do líder do clã; os membros podiam ser dispersos
                     geograficamente; tanto a solidariedade vertical, quanto a
                     solidariedade horizontal eram permitidas na competição externa.
                     (PANG, 1979, p. 40)


      Além desta estrutura social o coronelismo também era formado por uma
estrutura político-partidária que valorizava as suas ações políticas nos
municípios. Esta relação é mantida entre os coronéis e os Partidos
Republicanos de cada estado. O P. R. é o velho Partido Republicano anterior a
1930, que fora o órgão do coronelismo rural; é o partido conservador rural.” (
QUEIROZ, 1979, p. 26). Este partido juntamente com os coronéis garantiram
os seus poderes políticos com a institucionalização da política dos
governadores na Primeira República. Foi com esta estratégia de governo que o
então presidente do Brasil, Campos Sales, governou o Brasil tendo uma
relação de compromissos e barganhas com os coronéis e governadores dos
estados que garantiram a sua vitória para Presidente. “O coronelismo, como
forma de domínio oligárquico, foi reforçado pela evolução política da Primeira
República” (PANG, 1979, p. 55)
      E para que o coronelismo se mantivesse como estrutura predominante
na Primeira República o principal instrumento dos coronéis eram as eleições.
Neste período, os favores aumentavam para que o “voto de cabresto” fosse
destinado ao candidato que o coronel apoiava. “É, portanto, perfeitamente
compreensível que o eleitor da roça obedeça à orientação de quem tudo lhe
paga, e com insistência, para praticar um ato que lhe é completamente
indiferente.” (LEAL, 1997, p. 56-7)
      As fraudes eleitorais também estão vinculadas a nítida autoridade que
os coronéis tinham sobre a sua clientela e também sobre toda a cidade. Porque
13

todo o processo eleitoral era controlado por ele, do registro dos eleitores até a
apuração dos votos.


                      Durante a elaboração da lista definitiva, seus responsáveis se
                      encarregavam de excluir determinados eleitores, omitindo seus
                      nomes da relação, por estarem em posição política oposta à do
                      Coronel. No dia das eleições, a Mesa Receptora dos Votos interferia
                      em todos os sentidos sobre o eleitorado. (...) O momento da apuração
                      se constituía no mais privilegiado para favorecer determinados
                      candidatos; sob o mínimo pretexto anulavam-se cédulas ou
                      acrescentavam-se cédulas, sem a mínima fiscalização da oposição,
                      impedida de entrar no recinto. (JANOTTI, 1981, p. 51)


      As eleições eram muito importantes para este contexto de favorecimento
político mútuo porque os chefes locais dependiam dos Estados para a
liberação de verba para os municípios. E assim, continuaram com sua política
clientelista nas regiões. “A chance do controle político estará na compreensão
eleitoral, como sempre, não necessariamente sanguinária, mas com o sacrifício
da autonomia municipal.” (FAORO, 2000, p. 702)
      Os coronéis compreendiam muito bem o processo eleitoral fraudulento
ao qual faziam parte e queriam mantê-lo intacto para que não perdessem
nenhum privilégio que tinham como garantia da sua continua autoridade local e
para isso tinham o apoio dos governadores e presidente.

                      Despejando seus votos nos candidatos governistas nas eleições
                      estaduais e federais, os dirigentes políticos do interior fazem-se
                      credores de especial recompensa, que consiste em ficarem com as
                      mãos livres para consolidarem sua dominação no município. (LEAL,
                      1997, p. 279)


      Janotti considera que é nesse momento que se efetiva a política de
compromissos entre coronéis, Estado e União. A eleição garante a todos a
continuidade   e   manutenção       da   política   coronelística.    “O    papel    que
desempenhava o Coronel no processo eleitoral garantia a sobrevivência de um
sistema político que alijava as classe populares.” (JANOTTI, 1981, p. 50) E
aumentava a barganha entre coronéis e governantes que tinham que alimentar
as vontades políticas muito particulares dos coronéis exigindo-lhes fidelidade
incondicional. Pang afirma que: “o resultado das eleições, na Primeira
República, era um produto da colaboração dos que controlavam os municípios
14

(os coronéis), e os que controlavam o legislativo (presidente e governadores).”
(1979, p. 36)
      Esta relação de dependência que os coronéis têm com o Estado pode
ser analisada de várias formas. Leal (1997, p. 70) analisa esta dependência se
limitada ao momento da eleição, onde se o coronel apoiar o candidato que
vencer as eleições estaduais e federais, aquele terá total liberdade política par
agir no seu município. No entanto, Raymundo Faoro afirma que esta relação
vai ser de obediência do coronel com o governador que é garantida através da
autoridade da milícia estadual e também através da dependência econômica
do município em relação ao Estado. Para Janotti, esta relação é estabelecida
através de uma política de compromissos em que os dois lados têm direitos e
deveres a cumprir e exigir.
      Todos os aspectos que foram abordados fazem parte da caracterização
do coronelismo “clássico” que durou até a década de 1930. Depois deste
período muitas transformações políticas ocorreram no Brasil. Getulio Vargas
tomou o poder e começou a estruturar sua política autoritária que se
concretizou totalmente com a implantação inconstitucional do Estado Novo.
      Faoro observa que com Getúlio Vargas no poder a autoridade dos
coronéis enfraqueceu bastante porque “o coronel cede lugar aos agentes semi-
oficiais, os pelegos, com o chefe do governo colocado no papel de protetor e
pai, sempre autoritariamente, pai que distribui favores simbólicos e castigos
reais.” (2000, p.793) A visão deste autor não considera que houve muitos
acordos políticos entre coronéis e Getúlio Vargas. Para que a estratégia política
centralizadora de Vargas funcionasse, ele precisava de apoio em todo o Brasil.
Nos municípios do interior do Nordeste e de outros lugares do Brasil, o apoio
vinha dos coronéis, ainda que estes perdessem alguns dos seus privilégios
políticos. Um deles era aceitar a nomeação dos prefeitos feita diretamente pelo
presidente.

                     O poder privado dos “coronéis” - que a instituição dos prefeitos de
                     nomeação, doutrinariamente, visava destruir – não desapareceu:
                     acomodou-se para sobreviver. A morte aparente dos “coronéis” no
                     Estado Novo não se deve, pois aos prefeitos nomeados, mas a
                     abolição do regime representativo em nossa terra. Convocai o povo
                     para as urnas, como sucedeu em 1945, e o “coronelismo” ressurgirá
                     das próprias cinzas. (LEAL,1997, p. 160)
15

      Getúlio Vargas não “matou” politicamente os coronéis. Eles continuaram
influentes em seus redutos, apesar de estarem em com menos poder. Segundo
Janotti, “após a Revolução de 30 modificações são registradas nas relações
coronelísticas, mas não a ponto de determinar sua extinção. Não há duvida que
Getúlio Vargas se valeu dos coronéis do sertão (...) para tomar o poder e nele
se manter”. (1981, p. 80)
      Com a volta da democracia como modelo político vigente, voltaram os
coronéis a ter força com seus métodos de dominação e influencia política.
Métodos que já foram abordados, mas que ganharam novas característica e
sua dimensão político-social aumentou muito. “O coronelismo não declinou,
mas evoluiu para uma nova forma de domínio oligárquico.” (PANG, 1979, p. 62)
      As mudanças sócio-econômicas ocorridas no Brasil durante este período
criou um novo coronel que está adaptado a vida multipartidária da democracia
e a sua maior dependência ao governo estadual e federal. Ainda que esteja
ligado a uma economia tradicional. “O coronelismo demonstra, portanto, ter
uma estrutura bastante plástica, adaptando-se a sucessivos momentos
históricos (JANOTTI, 1981, p. 80)
      Vilaça (1988) defende a idéia de que é o coronel que tem melhores
condições econômicas para trazer a modernidade para o seu reduto. Esta
iniciativa é uma tentativa de continuar controlando a economia local. Apesar de
parecer ser um líder “moderno”, a sua postura se mantêm muito conservadora
para manter a sua autoridade política.
      O coronelismo para Pang (1979) teve que se adaptar ao crescimento da
industrialização e ao surgimento dos partidos políticos em 1945. Nesta
adaptação, ele perdeu sua “importância militar” de representante da ordem
publica que tinha poderes ilimitados no seu município. Mas ganhou novas
ferramentas para dominar politicamente os seus dependentes.
      Com o surgimento das rádios e sua ampla difusão no período do Estado
Novo, elas ganharam uma importância política no interior muito grande por ter
sido por muito tempo o único meio de informação das cidades do interior do
Brasil. Por causa desta importância a maioria das rádios passaram a ser
controladas por grandes empresas que tinham os políticos como os
empresários.
16

       A utilização dos meios de comunicação para influenciar diretamente na
política oficial é chamada de “coronelismo eletrônico”. Segundo Suzi dos
Santos:


                   No Brasil das duas últimas décadas, podemos estabelecera
                   atualização do conceito de coronelismo trabalhado em Victor Nunes
                   Leal para o de coronelismo eletrônico através da adição das empresas
                   de comunicação de massa, em especial as de radiodifusão, como um
                   dos vértices do compromisso de troca de proveitos. Assim, a parceria
                   entre as redes de comunicações nacionais e os chefes políticos locais
                   torna possível uma concentração de audiência e influência política.
                   (2006, p. 5)


       Este tipo de coronelismo está totalmente inserido na realidade política
brasileira. Mas ele precisa ser definido como um novo mecanismo de
dominação que coexiste com as outras formas de dominação coronelista
clássica. O novo coronel, além de dominar os seus dependentes através de
favores cotidianos como dar remédio, comida, roupa e aumentar sua influencia
em época de eleição, também controla através da informação transmitida nas
rádios e canais de televisão que domina.
       Apesar desta aparente plasticidade política que é percebida pela
tentativa dos coronéis de se adaptarem aos novos tempos, o coronelismo se
mostra cada vez mais enfraquecido. Mesmo que ainda existam coronéis que
conseguiram se adaptar bem as novas estruturas sociais e as novas
tecnologias. Eles, agora, têm que disputar o poder local com outras forças
políticas.


                     E quer arroteando segurança e permanência, ou, mais raramente,
                     afetando prudência e evitando choques, se torna cada vez mais
                     dependente, para ser forte, de forças que, se ele ainda influencia ,
                     nunca controla: depende dos governos, das polícias, dos votos; presa
                     de uma imagem sua facilmente transfigurada pela imprensa, ou nos
                     comícios, já permitidos, a contra gosto aos adversários. ( VILAÇA,
                     1988, p. 18)


       O coronel já não é mais o mesmo. Este contexto político democrático
facilita a entrada ao poder de pessoas que quebram a hegemonia política do
coronel. O seu prestígio já não atinge tantos cidadãos, a sua clientela diminuiu
significativamente. O coronelismo vive um nítido processo de declínio. Segundo
17

Queiroz, “o desaparecimento do coronelismo não se apresenta, pois, apenas
progressivo, como também irregular” (1979, p. 211)
       Esse processo de declínio do coronel é visto segundo Bursztyn “como
uma “seleção natural” imposta pela modernização do capitalismo na região,
conseqüência do poder econômico e político local.” (1984, p. 32)
       Os poucos coronéis que ainda conseguem sobreviver a este ambiente
hostil e que podem em pouco tempo ser extintos, vivem a própria mutação
política. “O coronel deixa de ser o sujeito da ação do estado para tornar-se
objeto” (1984, p. 31) Um objeto político que tenta revigorar o seu valor local
adaptando-se aos novos contextos sócio-econômicos para manter a sua
autoridade política o menos alterada quanto possível. Conceição do Coité é
uma cidade que passa por este processo e para que possamos compreender
como o coronelismo sobreviveu nesta cidade é necessário entendermos como
este sistema político funcionou antes de sofrer significativas transformações
políticas e sociais.
18


2. COITÉ DE SEU MOTA DE 1926 a 1972




      A estrutura coronelística que foi discutida no primeiro capitulo se
desenvolveu em Conceição do Coité a partir da figura de Wercelêncio Calixto
da Mota, Seu Mota. Ele se tornou um coronel de patente e de poder porque
exercia o seu papel político de Coronel. Desta forma, é necessário que
entendermos como se estruturou o coronelismo de Seu Mota. Discutindo as
suas estratégias políticas e econômicas que se assemelham com as
caracterizadas no primeiro capítulo e também abordando as estratégias
originais oriundas da política local. Para analisarmos o período em que
Conceição do Coité teve como líder e coronel, Wercelêncio Calixto da Mota,
Seu Mota, é fundamental que possamos conhecer e entender sobre a vida
pessoal deste político.
      Seu Mota nasceu em 1894 no Arraial de Valente, que fazia parte da vila
de Coité, tendo uma vida humilde e já aos três anos de idade ficou órfão de pai
e muito novo se mudou para a Vila de Coité distanciando-se um pouco da zona
rural e tendo um contato aproximado com os comerciantes daquela vila. O que
facilitou ainda mais a aproximação de Seu Mota aos comerciantes foi o
casamento de uma de suas irmãs com um comerciante de Conceição do Coité,
Abílio Araújo. Seu Mota passou a ser empregado de Abílio Araújo e com o
tempo se tornou sócio do próprio Abílio.
      Neste contexto social, o carisma de Seu Mota será um diferencial
percebido desde a sua infância. Aos dez anos de idade já chamava muita
atenção das pessoas em Coité por causa do seu carisma e por ser um menino
muito comunicativo. Com este seu jeito ele ganhou a confiança de João da
Pedreira, que era o Coronel João Manuel Amâncio, uma das principais
lideranças locais no período imperial e também no começo da República. Esta
liderança local passou a lhe tratar como o filho que ele não tinha.
      Podemos perceber que Seu Mota construiu a sua liderança através
deste dois pilares sociais que vão ser a base para o seu surgimento como um
dos lideres locais. Seu Mota foi influenciado por este dois homens que tinham
19

papéis sociais distintos, um era um comerciante, Abílio Araújo, e o outro, um
político, João Manuel Amâncio. Wercelêncio Calixto da Mota se desenvolveu
socialmente a partir destas duas características pessoais atrelado a sua própria
personalidade. Estes fatores vão favorecer no surgimento da figura populista e
carismática do seu personagem político que era “Seu Mota”.
       Diante destas características políticas podemos analisar Seu Mota como
um coronel que não se encaixa com o perfil do coronel clássico de Leal (1975)
em que todo o seu domínio político está ligado a fazenda e que os seus
agregados são tem uma dependência econômica direta em relação ao coronel.
       O perfil de Seu Mota se encaixa muito bem com o conceito de coronel
comerciante construído por Pang (1979) que considera como coronelismo a
relação de dependência econômica e social que existe entre coronel e
agregado sem considerar como fundamental que esta relação esteja inserida
na zona rural. Por isso que este autor, afirma que esta relação pode ocorrer
entre coronéis de diversos tipos sociais como coronel padre, coronel advogado
e coronel médico e também o coronel comerciante.
       A sua imagem de político e comerciante já estava sendo construída aos
poucos. Segundo relato de Orlando Matos, Seu Mota foi candidato a vereador
já em 1921, e ganhou, porém não foi empossado por disputas políticas que
conseguiram invalidar a sua posse por causa da sua ligação familiar com o
intendente Abílio Araújo.
       O início da sua carreira política no poder legislativo local é adiada,
contudo este obstáculo não gerou repercussões negativas em sua imagem .
Segundo relato de Orlando Matos, Seu Mota começa a se tornar um líder
político em Coité a partir de 1925, quando o Coronel João Manuel Amâncio,
João da Pedreira, morre e Seu Mota se torna, literalmente, o seu herdeiro
político. Vilaça e Alburquerque (1965, p.21) demonstram como pode acontecer
esta transição política.


                      O declínio político do coronel quase sempre provoca esfacelamento
                      de poder, atritos e lutas políticas mais acirradas. Com o tempo,
                      aquela forma de supremacia sócio-política se substitui por outra,
                      mais sutil, menos ostensiva, na pessoa de um líder mais moço.
20

      O impacto dos acontecimentos na vida política de Seu Mota é sentido
rapidamente, já em 1926, ele se torna Intendente Municipal e neste mesmo ano
foi o único que recebeu a Coluna Prestes em Coité. Carlos Prestes e seu grupo
eram vistos em Coité como os revoltosos. Mesmo com esta imagem, Seu Mota
os recebeu em seu comércio e lhes vendeu pão e bolachas. Este episódio ficou
marcado na memória dos coiteenses daquela época, o que ajudou a solidificar
a imagem de Seu Mota como líder político local.
      Como Intendente ele concretiza no poder executivo toda a sua influência
política que já era exercida através do seu carisma e da sua condição
econômica. Nesta época, a condição econômica era fundamental para que
alguém pudesse exercer uma função política. Isto acontecia, porque os cargos
executivos não eram decididos por eleição e sim por indicação.
      Então, para ser indicado era necessário que se tivesse alguma relação
econômica ou familiar com os membros do governo estadual ou com
deputados que pudessem fazer esta intermediação. Segundo Pang (1975, p.
21), esta condição econômica era fundamental para sustentar o coronelismo
porque “ a principal função do coronelismo era a hábil utilização do poder
privado acumulado pelo patriarca de um clã ou uma família mais extensa.”
      Diante desta estrutura política de indicação, Seu Mota estava muito bem
inserido, além de comerciante, ele era representante bancário de vários bancos
em Coité e também comprou a sua patente de Coronel da Guarda Nacional.
Porém, segundo relato de Orlando Matos, ele não usava a sua patente de
Coronel Mota preferia ser chamado de Seu Mota.
      Todo este dinamismo econômico demonstrado por Seu Mota faz parte
da necessidade do próprio coronel trazer para a sua cidade o progresso.
Segundo Vilaça (1965, p. 19) “é o coronel , consciente ou inconscientemente,
um veículo de mudanças. Vê-se levado a promovê-las como que para não
perder a iniciativa social e para assegurar seu cetro paternalista de doador de
coisas, de patrocinador de causas.”
      Para manter este seu poder econômico e político sempre fortalecido,
Seu Mota, tinha os seus parceiros políticos de oligarquia que a eles era dada a
oportunidade de administrar a cidade de Conceição do Coité por indicação
direta de Seu Mota, inclusive João Paulo Fragoso, segundo relato de Orlando
Matos, também foi indicado por ele e conseguiu se eleger para ser o primeiro
21

prefeito eleito de Conceição do Coité. Esta era uma das estratégias políticas de
Seu Mota não controlar “totalmente” o poder em suas mãos, ele ao mesmo
tempo que indicava, estava dividindo um pouco o seu poder com os seus
parceiros, porém mesmo fora do poder executivo oficial ele era a principal
referência política da época.
      Apenas João Paulo Fragoso em 1934 foi eleito para exercer o cargo de
prefeito porque em 1937 Getúlio Vargas instaura no Brasil o Estado Novo e
acaba com as eleições para prefeito criando o cargo de interventor federal.
Esta medida atinge Coité em 1938 quando Tiburtino Ferreira da Silva é
nomeado interventor federal para Coité.
      Durante este período de intervenção federal no poder executivo
municipal, Vanilson (2002) considera que, a cidade de Conceição do Coité
ficou dividida politicamente pelas oligarquias locais de Seu Mota e de Eustógio
Pinto Resedá. Até 1948, os dois vão indicar os interventores federais em Coité,
cada um favorecendo a sua oligarquia. Mesmo com este cenário político local
dividido, Wercelêncio era uma grande autoridade política. Isto se confirma
quando as eleições voltam a ser realizadas em 1948 e Teocrito Calixto da
Cunha se elege apoiado pelo seu tio, Seu Mota, que tinha lhe indicado.
      É a partir deste ano que se consolida a influência política de Seu Mota e
do seu partido, o Partido Social Democrata (PSD) em Conceição do Coité.
Depois do mandato de Teocrito, o próprio Wercelêncio se elege prefeito de
Coité em 1955, dando continuidade a sua política clientelista que o tornava
cada vez mias poderoso politicamente em Coité.
      Ainda que ele não gostasse de utilizar o seu título de Coronel como
distinção social, as suas atitudes diante dos seus eleitores e a sua própria
postura como líder local mostram que ele tinha poderes, literalmente, de um
coronel. Desta forma, Seu Mota com sua estrutura econômica pessoal voltada
para o comércio e seus investimentos em associações culturais o tornam um
coronel “moderno” para a sua época.
      Estas atividades que ele realizava para manter-se no poder fazem parte
da base do coronelismo, que segundo Costa Porto apud Queiroz (1976, p.
197), era “a capacidade de fazer favores”, o comerciante, pequeno ou grande,
aparecia realmente como alguém dotado de excelentes meios de “fazer
favores” aos outros.”
22

       Este perfil político de coronel presente em Seu Mota se aproxima em
vários aspectos do Coronel Veremundo Soares do livro Coronel Coronéis de
Vilaça e Albuquerque, considerando algumas diferenças sociais e até mesmo
econômicas, os dois estão participando ativamente do processo de mudança
econômica que o nordeste esta vivendo neste período.


                     Veremundo Soares, de Salgueiro, finalmente, é, no sertão, o coronel
                     mais corrompido pelas novas formas sociais, o mais vizinho da
                     modernidade. Lido, viajado, burguês em família e no trato, burguês
                     até no status social. Fazendeiro, mas sobretudo comerciante e
                     industrial.(...) Coronel dono de ruas, de farmácia, de maternidade, de
                     pontos de comércio. Coronel de dar grandes festas, bastante sagaz
                     para saber, em tempo, transmitir o seu legado político ou no pactuar
                     com a audácia de novos valores que o desafiam. (1965, p. 45)



       Sua influência política era tão forte na cidade que na eleição de 1958 ele
resolveu apoiar a candidatura de Emídio Ramos que era seu adversário político
e ele venceu as eleições. Esta fato mostra a capacidade que Seu mota tinha de
controlar os seus eleitores, não penas pelo voto, mas pelo apoio político
irrestrito. Porque as pessoas não estavam apoiando apenas o candidato a
prefeito, estavam apoiando Seu Mota. Queiroz (1976, p. 197) afirma que “a
exigência de um coronel, para que seus apaniguados votem em determinado
candidato – imposição muitas vezes sem apelo tem como contrapartida o dever
moral que o coronel assume de auxiliar e defender quem lhe deu o voto”.
       Este poder político perde a sua principal representatividade que estava
construída na imagem de Wercelêncio Calixto da Mota. Porém, Seu Mota
morre em 1959, muito embora o sua influência política continua viva no seu
grupo político oligárquico. E como afirma Janotti (1984, 79), “a própria morte
de um Coronel não extingue o poder coronelístico. Seu prestígio político e
social é transferido para outro indivíduo que nem sempre é um membro de sua
família.”
       Nas eleições de 1963, Antonio Ferreira é eleito como candidato do grupo
de Seu Mota. Contudo, alguns fatores significativos levaram a uma disputa
eleitoral, extremamente, acirrada: O primeiro fator foi que Emídio Ramos não
tinha feito uma boa administração por causa disso a imagem de grupo ficou
enfraquecida; O segundo foi que a própria ausência física e política do próprio
Wercelêncio enfraqueceu o “seu” candidato.
23

      Vanilson (2002, p. 77) afirma que, Antonio Ferreira ganhou a eleição de
Evódio Resedá por uma diferença de 22 votos, mas o próprio Evódio relata,
que a diferença foi de apenas 11 votos e que nesta eleição o juiz eleitoral foi
influenciado politicamente para que Antônio Ferreira ganhasse a eleição. Para
Vilaça e Albuquerque (1965, p. 39) o coronelismo “utiliza-se, enfim, das mais
tremendas formas de fraude, usando todos os meios que pode mobilizar em
favor de seus objetivos e de sua paixão política.”
      Esta divisão política bipolarizada nestes dois partidos, o PR e o PSD,
atinge até mesmo a Igreja que representada pelo padre Antonio Tarashi,
vigário desta Freguesia , relata no livro de tombo, que “o povo está dividido em
dois partidos: o PR – a maioria que pertence a este partido constitui o povo
mau da cidade, inclusive os maçons pertencem a este partido, e o PSD, que
representa o povo bom da cidade.”
      Estes dois partidos eram as representações políticas dos coronéis no
cenário eleitoral republicano. Porém, cada partido representava este grupo
social de formas diferentes. Queiroz (1976, 26-7) considera que:


                     o P. R. é o velho Partido Republicano anterior a 1930, que fora o
                     órgão do coronelismo rural; é, pois, um partido conservador rural.(...)
                     É o P. S.D. a expressão da nova camada de gente rica; não criou
                     esse partido nenhuma forma nova de participação política, exprimiu-
                     se através do tipo coronelista.


      Esta divisão política feita pelo padre Antonio Tarashi está carregada de
juízo de valor e com isso podemos notar que ele defende o partido do PSD
considerando-o como o grupo formado por pessoas, segundo ele, “boas”. Esta
é uma análise política de um religioso carregada de sentidos morais que
simplifica um processo político complexo estruturado através da relação destes
partidos com o objetivo de conquistar o poder local.
      Para Janotti (1984, p. 54), “a dominação oligárquica sempre foi violenta
podendo assumir tanto formas sutis de coerção, quanto procedimentos da
maior crueldade, variáveis de acordo com o lugar e a ocasião.” A disputa pelo
poder entre estes dois partidos é o reflexo desta rivalidade oligárquica entre os
políticos , Wercelêncio Calixto da Mota e de Eustógio Pinto Resedá. Eles eram
as principais lideranças políticas e quando não faziam mais parte do cenário
político local, estavam sendo representados por herdeiros familiares e políticos.
24

       Contudo, este contexto político sofre uma forte modificação com o golpe
militar de 64. Ainda que Antonio Ferreira tenha continuado como prefeito, os
partido políticos são extintos e surgem apenas duas legendas; a ARENA,
Aliança Renovadora Nacional que representava o governo ditatorial dos
militares e o MDB, o Movimento Democrático Brasileiro que representava uma
dita oposição que não tinha liberdade de expressão.
       Dentro deste contexto nacional, Conceição do Coité tinha duas sub-
legendas do ARENA, is quer dizer que, os dois grupos que disputavam o poder
apoiavam a ditadura. O ARENA 1 representava o grupo do prefeito que era do
grupo de Seu Mota e o ARENA 2 representava o grupo liderado por Evódio
Resedá.
       O golpe militar, além de transformar a vida partidária, motiva um acordo
entre os dois ARENAs que gerou a indicação de Teognes Antonio Calixto como
candidato único a prefeitura, e para que o acordo fosse selado, Teognes teria
que apoiar Evódio Resedá como candidato único a prefeito nas próximas
eleições para prefeito. Porém, este acordo não foi cumprido porque houve um
conflito de interesses entre os grupos e Evódio saiu candidato sem o apoio do
grupo de Seu Mota.
       Evódio disputou a eleição de 1970 contra Doutor Pinheiro, que era um
médico muito conhecido na cidade por atender pessoas com problemas de
saúde e não cobrava aos pobres os atendimentos que fazia. Nesta eleição, Dr.
Pinheiro ganhou fazendo Evódio Resedá perder novamente uma eleição para
prefeito.
       Dr. Pinheiro conseguiu esta vitória eleitoral não apenas por causa da sua
imagem política fortalecida pelo seu assistencialismo social vinculado a sua
atividade médica, também porque pertencia ao grupo de Seu Mota. Contudo,
esta vitória também vai trazer para a política local um novo adversário político,
Hamilton Rios, que começa uma forte campanha política para derrubar o grupo
de seu Mota para que ele mesmo possa se tornar o novo prefeito de Coité.
25
26


3. Coité de Hamilton Rios – 1972 a 1990




      Neste capítulo discutiremos como Hamilton Rios conseguiu acabar com
a hegemonia política do grupo de seu Mota e quais foram as permanências e
as rupturas políticas que ele implantou na política local para que pudesse
manter muitas características do coronelismo presentes em Conceição do
Coité. Para entendermos os aspectos políticos é fundamental que possamos
discutir também como Hamilton Rios se estabeleceu economicamente como
exportador de sisal. E como estes dois aspectos, o político e o econômico são
essenciais para a construção da imagem do coronel é necessário que se faça
uma análise da sua biografia para entendermos como estes aspectos se
relacionam.
      Hamilton Rios de Araújo antes de tornar-se um grande líder político em
Conceição do Coité já pertencia a uma família de prestigio nesta cidade. O seu
avô, Antonio Felix de Araújo, em 1894, já tinha sido Intendente de Conceição
do Coité. Apesar de não ter usufruído desta vantagem de ter ser de família
tradicional porque o seu pai herdou pouca coisa e não deu uma vida de luxo e
riqueza para Hamilton Rios e seus irmãos, nesta fase da vida, Hamilon Rios
trabalhou bastante na roça ajudando o seu pai que não tinha muitos recursos.
Contudo, pertencer a uma família tradicional em uma cidade pequena ainda é
uma forma de distinção social.
      Hamilton Rios começa a mudar de vida quando o seu irmão, Almir, lhe
convida para trabalhar com sisal.    Este seu irmão já estava começando a
trabalhar com o sisal. E deu a oportunidade para Hamilton entrar no ramo,
dando a ele um motor de sisal. Hamilton Rios e o seu outro irmão, Ewerton,
fizeram o negócio crescer. Com os lucros iniciais compraram mais motores e
depois campos de sisal para que pudessem controlar o negócio cada vez mais.
Porque havia em Conceição do Coité vários comerciantes de sisal e era
necessário enfrentar esta concorrência.
      Nesta época, Misael Ferreira, já era comerciante, e também Teocrito
Calixto da Cunha tinha uma empresa que trabalhava com sisal. E existiam
comerciantes menores, contudo a pretensão de Hamilton Rios e seu irmão,
27

Ewerton, eram ser grandes comerciantes de sisal e foi o que aconteceu. Como
Hamilton Rios percebeu a necessidade de investir em todo o processo de
manufatura do sisal, porque todos os outros comerciantes inclusive ele
pagavam para que o sisal fosse “batido”. Então, ele comprou uma maquina
para ele mesmo “bater” o sisal e não mais depender de outra pessoa para
deixar o seu produto pronto. Com isso, ele estava controlando ainda mais o
processo de produção do sisal e tendo cada vez mais lucros.
      Este diferencial comercial fez com que ele e seu irmão enriquecessem
rapidamente com o sisal. Mesmo antes de tornar-se um político, ele já “batia” o
sisal dos outros comerciantes de Coité e região, além de já ser um exportador
do produto. Quando entra para política já estava com uma renda alta suficiente
para sustentar a estrutura coronelística já existente e que ele desenvolveria
ainda mais em torno de sua imagem pública.
      O aspecto econômico é fundamental para que o “coronel” seja
caracterizado como tal. Ele precisa ter condições financeiras pessoais para
sustentar a sua política assistencialista ainda que se utilize dos recursos
públicos é necessário que o mesmo seja capaz de manter o sistema
coronelístico sem depender totalmente da prefeitura.
      É por isso que Queiroz (1976) considera fundamental a diferenciação
econômica entre o coronel e sua clientela, era a fortuna que estabelecia a
posição social dos membros da parentela, quanto mais rico mais poder tinha e
mais influência exercia sobre os outros membros do grupo.
      Hamilton Rios teve dois motivos para entrar na política, o primeiro foi
que ele não queria que o grupo de seu Mota continuasse no poder porque já
estava a muito tempo dominando politicamente Conceição do Coité e segundo
porque Evódio já tinha sido derrotado três vezes para prefeito. Quando Dr.
Pinheiro ganha as eleições contra Evódio Resedá, provocando assim a terceira
derrota do mesmo, Hamilton Rios declara para todos que será o candidato da
oposição. Ele podia fazer esta declaração porque tinha alguma forma de
influência política por causa da sua condição social e econômica. Ele fez esta
afirmação sem consultar ninguém do grupo que fazia oposição a seu Mota. Ele
consulta seu Evódio apenas depois que tomou a decisão e que fez a sua
declaração, e seu Evódio concordou com a candidatura.
28

      Esta condição de autoridade e líder que ele impõe a si mesmo diante de
um grupo político enfraquecido é uma demonstração de como vai funcionar sua
estratégia política. Seria ele que ditaria as regras políticas do grupo a partir
daquele momento. Hamilton Rios já era o candidato a prefeito quando as
eleições tinham acabado de acontecer.
      Hamilton Rios pode tornar-se um líder político porque também era um
líder econômico. Faoro (2001, p. 700) considera que para um coronel tornar-se
um líder político é fundamental que este poder político esteja atrelado a sua
condição econômica que possa sustentar o coronelismo. Sendo um homem
rico poderia exercer o seu papel político diante de seus partidários. Este
mesmo poder econômico também foi demonstrado por seu Mota para lhe
garantir uma autoridade local e influência política. Estes dois lideres locais
souberam utilizar o seu poder econômico com objetivos políticos que lhes
garantiu um longo período no poder. Para Janotti ( 1981, p. 69):

                     à medida que se desenvolviam as funções urbana do município, sua
                     importância econômica, e, consequentemente, eleitoral, também,
                     crescia. O poder coronelístico passava, então, a ser exercido por
                     pessoas que não detinham, necessariamente, a posse da terra.



      Esta foi a sua forma de entrar na política, com todo o seu poder
econômico impôs uma vontade pessoal, a de ser o novo prefeito. A sua
campanha eleitoral começou, exatamente, naquele momento em que disse que
seria o novo candidato. Mesmo faltando dois anos para as eleições, Hamilton
Rios trabalhava na sua candidatura distribuindo água pelos povoados de
Conceição do Coité, dando cesta básica, cimento, remédio. O povo ia a sua
casa pedir o que precisava e ele, para garantir a sua vitória, dava o que podia.
      Foi a partir desta política de assistencialismo que Hamilton Rios
começou a construir a sua imagem de          “coronel” que para Queiroz (1979,
p.176-7) faz parte da política de barganha em que o voto é usado como objeto
de troca por favores pessoais.
      Em 1974 aconteceu a eleição para a qual Hamilton Rios já fazia
campanha desde 1972. Esta eleição foi disputada por dois comerciantes de
sisal, Hamilton Rios era um exportador do produto e Misael, um dos primeiros
comerciantes a investir nesta atividade que disputava espaço comercial com o
próprio Hamilton.
29

       Desta forma, podemos perceber como a condição econômica influencia
na escolha da liderança política. Os dois candidatos a prefeito eram grandes
comerciantes de sisal, e estavam em grupos políticos opostos. A disputa
comercial passou também a ser uma disputa política.
       Contudo, a condição econômica não é o único fator que influencia em
uma eleição. Outros fatores devem ser levados em consideração. Hamilton
Rios com a sua política assistencialista que atingia a população desde 1972
influenciou muito não só na zona rural, mas também na zona urbana de
Conceição do Coité. E esta política foi decisiva para que ele garantisse uma
vitória com uma boa diferença de votos em relação aos do seu adversário
político.
       Hamilton Rios conseguiu acabar com a hegemonia do grupo de seu
Mota derrotando Misael Ferreira. Dando início ao seu governo e a seu domínio
político sobre a cidade. É nesta eleição em que os grupos políticos de Coité
vão passar a ser chamados de “vermelhos”, o grupo de Hamilton Rios, e os
“azuis”, o grupo de Misael Ferreira que pertencia ao grupo de seu Mota.
       Como Hamilton Rios conseguiu colocar os “vermelhos” no poder e ele
controlava o poder público como prefeito, a sua política assistencialista seria
fortalecida diante da necessidade econômica da maioria da população. Uma
parcela desta população se torna dependente dos favores que o prefeito,
Hamilton Rios, realizava e por isso era chamado de “Pai da Pobreza”.
       Esta era a sua principal estratégia política, tornar as pessoas
dependentes do seu poder econômico e político alimentando uma relação de
proximidade afetiva com os seus eleitores. A relação ente prefeito e partidários
é a mesma do coronel e seus dependentes em que os dois influenciam as
pessoas pela política, pelos favores, e pelo afeto. Hamilton Rios foi padrinho de
muitos filhos de seus partidários. Isto mostra, que a sua estratégia extrapola a
questão política e econômica tendo uma relação direta com a questão pessoal.
       Este aspecto afetivo é demonstrado pela relação de compadrio que o
coronel estabelece com os seus dependentes. Janotti (1981, p. 58) considera
que isto ameniza as diferenças sociais entre eles. Esta aproximação favorecia
a manutenção, por parte do coronel, do seu poder. Queiroz (1979, p. 167-8)
afirma que no coronelismo:
30

                     as relações pessoais envolvem a afetividade na determinação do
                     voto, (...) apresenta na realidade como uma reciprocidade de favores,
                     como que um contrato tácito entre o cabo eleitoral e os eleitores.
                     Estes oferecem seus votos na expectativa de um favor ser alcançado,
                     podendo o contrato ser rompido quando uma das partes não cumpre
                     o que dela se espera.


      A sua política foi totalmente escancarada. Todos sabiam que ele
“ajudava” as pessoas desta forma assistencialista. Diferente do que acontecia
no período de seu Mota em que esta estratégia já era usada, mas Vanilson
afirma que era uma estratégia disfarçada com poucos favores sendo
realizados.
      Seu Mota apesar de também manter uma relação muito pessoal com os
seus eleitores não alimentava tanto este assistencialismo cotidiano. O que
acontecia com mais freqüência era o clientelismo que é a troca de favores, os
mais diversos possíveis, pelo voto do eleitor.
      Hamilton Rios desenvolve a sua política através do assistencialismo e do
clientelismo. O assistencialismo ele alimenta com favores cotidianos que não
influenciam diretamente nas eleições, são favores que mantêm a dependência
econômica dos mesmos diante da sua imagem de político e “coronel”. O
clientelismo se estrutura numa política voltada, exclusivamente, para as
eleições em que são atendidos os pedidos e os favores com o objetivo direto
de trocar pelos votos das pessoas.
       Desta forma Queiroz (1979, p. 178) considera que o eleitor não vota
passivamente, ele vota consciente no candidato indicado pelo seu coronel em
troca de favores. Contudo, é difícil sustentar que este voto possa ser de alguma
forma consciente, ainda que seja diante da percepção de que está negociando
o seu voto em troca de algo. Com isto, podemos perceber que o sistema
coronelístico limita a consciência política dos eleitores que não compreendem a
importância do seu próprio voto.
      Além desta estratégia política voltada para os seus eleitores, Hamilton
Rios como prefeito realizou algumas obras, como a construção do Estádio
Municipal, a reforma de escolas, posto de saúde. Realizações que
influenciaram muito para que a sua imagem política fosse associada a de um
bom “coronel”. Com todo este prestígio na cidade, as suas vontades políticas
começaram a ganhar força e eram atendidas sem muita discussão. Como a lei
31

não permitia a reeleição, Hamilton Rios indicou Walter Ramos como candidato
a prefeito do grupo dos “vermelhos” para as eleições de 1976. Ele foi escolhido
porque já tinha sido vereador e era muito influente nos distritos de Aroeira e
Salgadália.
       Indicar o candidato a prefeito era uma clara demonstração de poder
diante dos seus partidários. Ele podia impor a suas vontades políticas porque
sabia que não seria contestado e que tinha a seu favor o poder privado em
detrimento do poder público. Hamilton Rios desenvolveu uma relação entre o
poder privado e o público muito característica do coronelismo que é fazer do
poder público parte do poder privado. Como bem afirma Leal (1997, p. 275) o
“coronelismo é a incursão do poder privado no domínio público.” E com o
dinheiro público o coronel consegue manter a continuidade do seu sistema.
       Diante destes aspectos, Walter Ramos disputou a eleição contra Sinval
Mascarenhas em uma disputa que todos já sabiam o resultado. Walter sendo
apoiado por Hamilton Rios teria a vitória garantida diante do grupo dos “azuis”
que estava enfraquecido pela derrota eleitoral que sofreram por causa do
próprio “Mitinho”.
       Nos dois primeiros anos, Walter Ramos foi influenciado politicamente por
Hamilton Rios em seu governo. Porém, houve um rompimento político entre
Walter Ramos e Hamilton Rios. Walter Ramos não aceitou a relação de
obediência que tinha que manter com Hamilton Rios. Então, passou a negociar
com outros políticos obras para Conceição do Coité, como esses políticos não
eram os correligionários de Hamilton Rios houve o rompimento. Este
rompimento chegou ao ponto de cada um apoiar um deputado estadual
diferente para as eleições de 1978. Hamilton Rios apoiou Luis Eduardo
Magalhães e Walter Ramos apoiou João Emílio. Walter Ramos governou por
mais quatro anos e continuava inimigo político de Hamilton Rios. Ainda no
poder Walter Ramos já apoiava Misael para prefeito e nas eleições este seu
apoio enfraqueceu a candidatura de Hamilton Rios em 1982.
       Este enfraquecimento político foi provocado por um fenômeno que Leal
(1997) já considerava presente no coronelismo que era o aumento da
dependência econômica do coronel sobre os recursos públicos. A falta destes
recursos gera um significativo déficit na manutenção da política clientelista
administrada pelo coronel.
32

      É tanto que, Orlando Matos afirma que, a campanha de 1982 foi toda
financiada por Hamilton Rios, até mesmo porque ele não tinha acesso aos
cofres públicos para que pudesse utilizar estes recursos para investir em sua
campanha eleitoral. Mesmo enfraquecido politicamente Hamilton Rios ainda
tinha muita força econômica para garantir a sua volta para a prefeitura.
      Nas eleições para 1982, Hamilton Rios, apesar de estar enfraquecido
pelos quatro anos de governo de Walter Ramos, saiu como candidato pelo
grupo dos “vermelhos”. O enfraquecimento do seu poder político aconteceu
por ter ficado distante do poder público que era uma fonte de recursos
financeiros que ajudava a sustentar a sua imagem política.
      Mesmo com este enfraquecimento Hamilton Rios conseguiu vencer as
eleições por uma diferença de 229 votos a mais que o seu adversário, Misael
Ferreira. O resultado desta eleição demonstra como a política local se
estruturava neste período.
      Hamilton Rios mesmo sem ter acesso aos recursos públicos para manter
a sua política assistencialista conseguiu voltar a ser prefeito. Este fator
atrapalhou o desenvolvimento desta estratégia, contudo não impediu que ela
continuasse a existir porque Hamilton Rios já era um grande empresário e tinha
condições econômicas pessoais para sustentar esta política.
      Esta vitória eleitoral de Hamilton Rios deve ser considerada também
pelo aspecto afetivo que o próprio Hamilton Rios construiu em sua relação com
seus eleitores nesta política assistencialista que ele desenvolveu. A relação de
apadrinhamento é uma demonstração da importância deste aspecto afetivo de
até que ponto esta relação pode chegar. O político tornando-se parte da própria
família do seu eleitor. Outro aspecto que favorece o estabelecimento desta
relação pessoal é o que Queiroz (1979, p. 199) caracteriza como “”carisma” –
conjunto de dotes pessoais que impõe um indivíduo aos outros, fazendo com
que estes lhe obedeçam, tornando suas ordens indiscutíveis justamente porque
emanam dele.”
       Além desta sua política assistencialista local, Hamilton Rios construiu
relações políticas e também pessoais com as principais lideranças do estado
da Bahia. Como era partidário de Antonio Carlos Magalhães, ele mantinha com
a ACM uma relação política em que eram negociados os apoios em eleições
33

estaduais e os recursos e obras que seriam investidos em Conceição do Coité
pelo governo estadual.
      Esta relação com o governo estadual faz parte da estratégia política do
coronelismo que é a negociação do coronel, que manipula os seus
dependentes nas eleições estaduais, com o governo estadual para barganhar
investimentos na cidade, porque o poder local ainda é muito dependente das
verbas públicas enviadas pelo governo federal e estadual. Faoro (2001, p. 708)
considera que esta relação é controlada pelo governo estadual que tem os
instrumentos políticos e econômicos para submeter os coronéis ao seu poder.
Isto é o que aconteceu com Hamilton Rios e ACM. A relação entre eles era
ditada pelas ordens do governador que era ACM.
      A essência do compromisso coronelístico, para Leal (1997, p. 70), está
dividida em duas partes, a primeira os chefes locais precisam apoiar,
totalmente, nas eleições os candidatos estaduais e federais que fazem parte do
governo e a segunda o governo estadual deve permitir que os chefes locais
tenham total controle sobre os seus municípios.       Bursztyn (1984, p. 12)
também tem um posicionamento parecido ao considerar que “há uma enorme
interdependência entre os poderes central e local, em cuja essência
encontramos os imperativos da legitimação recíproca.” Argumento este que se
relaciona com a idéia de Janotti (1981, p. 59) de que o coronel é a conexão de
uma teia de compromissos políticos que tem dois extremos, um é o vaqueiro, o
outro é o governador do Estado.
      Hamilton Rios manteve esta estratégia política praticamente intacta no
seu novo governo. A sua forte política assistencialista era o que lhe mantinha
no poder, tendo uma boa relação com o governo do Estado. Por isso dar
continuidade a estas relações era essencial para que ele pudesse se manter no
poder público.
      Contudo, durante este governo surge uma figura pública que se torna
seu concorrente utilizando a mesma política assistencialista que ele
alimentava. Dr. Iêdo surgirá no cenário político coiteense como a liderança que
faltava para o grupo dos “azuis”. O seu assistencialismo estava relacionado aos
problemas de saúde. Para Vanilson Lopes, ele realizava operações sem cobrar
pelos custos tendo como objetivo derrotar o grupo de Hamilton Rios.
34

      Com isso, Dr. Iêdo tornou-se o principal adversário político de “Mitinho”.
Iêdo ficava cada vez mais popular por causa desta relação que ele construía
com seus pacientes. A demonstração que esta liderança estava ameaçando
politicamente Hamilton Rios é que nas eleições de 1984 o candidato que Dr.
Iêdo apoiou para governador, Waldir Pires, teve mais votos em Coité do que o
candidato de Hamilton Rios, Josafá Marinho. Este resultado repercutiu como
uma ameaça à hegemonia política dos “vermelhos” em Coité para as próximas
eleições municipais. Por isso, Hamilton Rios precisava escolher um sucessor
para disputar as eleições de 1988 contra Dr. Iêdo.
      Faoro (2001, p. 729-30) afirma que “o que mata o coronel é o próprio
exercício de suas funções, em certo momento inúteis, diante dos meios diretos
de convívio do governo com o povo.” E que “o coronel flutuará entre ventos
adversos, triturado pelos partidos de quadros, burocratizados na sua
organização,   revolvidos    os   próprios   sertões   pelas   periódicas   ondas
carismáticas, irradiadas das cidades, nacionais em sua amplitude.”
      Contudo, Dr. Iêdo morre em 1987 por causa de um acidente de carro.
Esta tragédia teve duas repercussões políticas importantes para Conceição do
Coité. A primeira que os “azuis” não tinham outro candidato para substituir a
liderança de Dr. Iêdo o que levou o grupo a ficar divido entre Misael e a viúva
de Dr. Iêdo, Tânia. No final das negociações dentro do grupo, Tânia foi
escolhida por um grupo totalmente esfacelado. A segunda repercussão está
relacionada à escolha do candidato do grupo dos “vermelhos”. Com a morte de
Dr. Iêdo e Tânia sendo a candidata, Hamilton Rios não escolhe nenhum político
que fazia parte do grupo, mas o seu sobrinho, Ewerton Rios de Araújo Filho,
Vertinho.
      Diante deste cenário, a eleição de 1988 foi o momento em que Hamilton
Rios conseguiu dar continuidade ao seu poder colocando o seu sobrinho na
prefeitura. Para Janotti (1981, p. 79), esta pode ser uma tentativa de transferir a
sua influência política para outro membro do grupo que poderia ser o seu
sucessor quando o coronel morrer.
       Esta atitude política de escolher um membro da sua família como
sucessor é um reflexo de como ele relaciona as questões públicas com as
particulares a partir da sua autoridade política que impõe a suas vontades
como se fossem, realmente a vontade do grupo. Hamilton Rios não fez uma
35

escolha política, ele fez uma escolha pessoal, particular em que sua família é
inserida em um contexto público.
      Esta é uma atitude de um “coronel” em que somente ele tem voz dentro
do seu grupo político. Ainda que outros partidários tenham condições
econômicas e políticas de contestá-lo preferem aceitar as suas imposições a
sofrer represálias ou punições políticas. E uma destas imposições é a escolha
individual e pessoal do seu sucessor.
      O sucessor foi escolhido e o contexto político colaborou para que as
eleições fossem vencidas por ele. Neste contexto devemos considerar a forte
influência política de Hamilton Rios que tornou prefeito um sobrinho que era
desconhecido na cidade e a morte de seu principal adversário político, Dr. Iêdo.
Eleições vencidas, começa o mandato de Ewerton Rios Filho, Vertinho, dando
continuidade ao governo de Hamilton Rios mantendo o grupo dos “vermelhos”
no poder com uma política assistencialista em que se estrutura o sistema
coronelístico. Mesmo com Vertinho no poder público efetivo quem vai manter a
administração do poder local com a sua influência política é Hamilton Rios.
      Hamilton Rios continua sendo a conexão entre os dois mundos do
coronelismo, o mundo do vaqueiro e o mundo do governador. Mundos políticos
que se relacionam na manutenção do coronelismo em Conceição do Coité.
36


CONCLUSÃO




       O coronelismo é um tema que traçou diversos caminhos teóricos, da
história   factual   a   análise   sociológica.   Cada   uma   destas   dimensões
epistemológicas deu a sua devida colaboração historiográfica como registro de
uma época e como análise de uma estrutura política que ainda faz parte do
nosso cotidiano.
       O coronelismo é um conjunto de políticas assistencialistas que são
geridas por uma autoridade local, o coronel, e que este mantêm o seu poder
político estabelecido através da relação pessoal com seus eleitores e da
negociação eleitoral com o Estado em busca de verbas. O coronelismo não é
um sistema político fechado, mas uma estrutura social e política complexa que
foi capaz de se adaptar as mudanças estruturais que ocorreram na sociedade
brasileira. O coronel é o grande personagem histórico desta história, pode ser
Seu Mota ou Hamilton Rios, não importa, quem controla a cidade com a sua
presença e liderança é o coronel.
       Seu Mota, em 1930, já era um coronel comerciante que influenciava
politicamente na cidade a partir do seu próprio comércio. A estratégia política
que manteve a sua oligarquia muito tempo no poder foi a sua capacidade de
dividir o poder local com os seus parentes e partidários, dando a eles o controle
da máquina pública. No entanto, o poder político de Seu Mota estava acima do
cargo de prefeito ou de intendente, ele controlava politicamente a cidade
utilizando a sua influência econômica. Seu Mota foi um coronel de patente e de
poder que não usava a patente mas soube usar muito bem o seu poder
mantendo o seu grupo político no poder executivo municipal por 40 anos.
       Hamilton Rios surgiu como um adversário político do grupo do Seu Mota
e com uma política agressiva de assistencialismo conseguiu acabar com estes
40 anos de hegemonia política de Seu Mota. As estratégias políticas de
Hamilton Rios foram muito mais agressivas que as de Seu Mota. Enquanto Seu
Mota estruturava sua política clientelista na compra de votos no período de
campanha e no desenvolvimento de associações culturais, Hamilton Rios
37

construiu o seu poder político através de uma ostensiva manutenção de um
assistencialismo diário, em que as pessoas não tem acesso a serviços públicos
de qualidade e dependem dos seus favores para adquirirem serviços e
produtos. Este tipo de clientelismo é uma mudança significativa na
caracterização do coronelismo em Conceição do Coité.
         Hamilton Rios também administrou o poder local de uma forma diferente
da de Seu Mota. Ele centralizava as decisões políticas e mantinha os seus
partidários como executores das decisões tomadas. Seu Mota apesar de
também centralizar as decisões tentava dividir o seu poder com os seus
partidários, preferia tomar as decisões nos bastidores. A postura política de
Mitinho era outra, ele só indicava outro candidato a prefeitura porque a
legislação não permitia reeleição, porque o candidato do grupo era ele.
Hamilton Rios era um coronel sem patente mas que tinha muito poder e
exerceu este poder quase como um coronel de patente.
         Muitas destas características do coronelismo ainda podem ser
percebidas em nossa sociedade porque as políticas públicas básicas ainda não
atingem a todos igualmente. Desta forma, parte da população ainda necessita
pedir favores a políticos que negociam estes pedidos com os votos destas
pessoas. A barganha entre políticos ainda faz parte da nossa cultura política, o
prefeito negocia obras para a sua cidade em troca de apoio eleitoral ao
governo do Estado. E ainda há uma dificuldade muito grande em separar no
poder executivo municipal a esfera pública da privada.
         Mesmo que tenha havido muitas mudanças e adaptações o sistema
coronelístico em Conceição do Coité manteve a sua estrutura básica
desenvolvida a partir do clientelismo que alimenta a dependência econômica
dos eleitores em relação ao coronel e a dependência política do coronel em
relação aos eleitores.    O coronelismo em Coité se transformou, mas ainda
preserva muito da originalidade estabelecida por Leal. Esta transformação se
estabelece a partir de novas estratégias políticas para a manutenção do
coronelismo como forma dominante de poder na política local de Conceição do
Coité.
38


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS




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padre coronel? In: _________ Padre Cícero: sociologia de um Padre,
antropologia de um santo. Rio de Janeiro: Edusc, 2008.


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39




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VILAÇA, Marcos Vinicios e ALBUQUERQUE, Roberto Cavalcanti. Coronel,
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41


FONTES


DOCUMENTOS DIVERSOS


Livro de Tombo da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição do Coité.


Jornal Tribuna Coiteense, Conceição do Coité, edições quinzenais de 1987 a
1990.



ENTREVISTAS


Evódio Ducas Resedá. Conceição do Coité, 23 de julho de 2009.


Orlando Matos Barreto. Conceição do Coité. 25 de julho de 2009.


Vanilson Lopes de Oliveira. Conceição do Coité. 19 de maio de 2009

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A história do coronelismo em conceição do coité entre 1930 e 1990

  • 1. UNEB - UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO-CAMPUS XIV COLEGIADO DE HISTÓRIA FELIPE COUTINHO DE LIMA SANTIAGO A HISTÓRIA DO CORONELISMO EM CONCEIÇÃO DO COITÉ: UMA ANÁLISE DAS PERMANÊNCIAS E RUPTURAS POLÍTICAS DO PODER LOCAL ENTRE 1930 E 1990. Conceição do Coité 2010
  • 2. 2 FELIPE COUTINHO DE LIMA SANTIAGO A HISTÓRIA DO CORONELISMO EM CONCEIÇÃO DO COITÉ: UMA ANÁLISE DAS PERMANÊNCIAS E RUPTURAS POLÍTICAS DO PODER LOCAL ENTRE 1930 E 1990. Monografia apresentada ao Departamento de Educação – Campus XIV/UNEB, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciatura em História. Orientador: Prof. Ms. Eduardo Borges Conceição do Coité 2010
  • 3. 3 AGRADECIMENTOS Ao professor Eduardo Borges, que me acompanhou sabiamente na construção deste trabalho como orientador e amigo. Aos meus queridos pais, por estarem sempre ao meu lado me apoiando nas minhas decisões e me ajudando a escolher o melhor caminho para viver. À Priscila, que sempre está do meu lado como fiel companheira, e por fazer minha vida ficar cada vez melhor. Aos meus irmãos, que fazem parte da minha vida sabendo transformá-la em uma verdadeira aventura. Aos meus amigos, que descobri entre os colegas de faculdade, que nunca mais sairão das minhas lembranças nem da minha vida: Alex Teixeira, Moises de Oliveira, Juliana Carneiro, Thiago Gordiano, Jaqueline Rios, Michele Nunes, João Vitor de Oliveira, Carla Pinho, Ismael de Jesus, Ana Priscila de Carvalho, Ana Vilma dos Santos, Aurineia Almeida.
  • 4. 4 RESUMO Esta monografia analisa a história do coronelismo em Conceição do Coité como uma permanência política entre 1930 e 1990, com o objetivo de compreender como este sistema conseguiu manter-se no poder local sendo a estrutura política predominante. O conceito de coronelismo é abordado através dos processos de adaptação política, observados por autores que analisam este sistema. A discussão teórica é baseada nas relações de poder que se estruturam entre os coronéis e seus dependentes. Na sociedade coiteense, o coronelismo está presente nas estratégias políticas de dois coronéis, Seu Mota e Hamilton Rios. Este trabalho mostra uma perspectiva histórica que identifica, nestas estratégias locais, as características políticas e econômicas que estruturam o coronelismo. Palavras-Chave: Coronelismo; Conceição do Coité; Seu Mota; Hamilton Rios; ABSTRACT This paper analyzes the history of the Colonels in Conceição do Coité as a permanent policy between 1930 and 1990, with the goal of understand how this system has managed to remain in local power and the prevailing political structures. The concept of the Colonels is addressed through the processes of adaptation policy, observed by authors who analyze this system. The theoretical discussion is based on power relations that are structured among the colonels and their dependents. In society coiteense, the Colonels is present in the political strategies of two colonels, Mr. Mota and Hamilton Rivers. This work shows a historical perspective that identifies, these local strategies, the characteristics of political and economic structure the Colonels. Keywords: Colonels; Conceição do Coité; Mr. Mota, Hamilton Rios;
  • 5. 5 SUMÁRIO INTRODUÇÃO.....................................................................................................6 1. DISCUSSÃO TEÓRICA SOBRE O CONCEITO DE CORONELISMO...........8 2. COITÉ DE SEU MOTA – 1930 A 1972...................................................................18 3. COITÉ DE HAMILTON RIOS – 1972 A 1990..............................................26 CONCLUSÃO....................................................................................................36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................38 FONTES............................................................................................................41
  • 6. 6 INTRODUÇÃO Esta monografia que tem como título, A história do coronelismo em Conceição do Coité: Uma análise das permanências e rupturas políticas do poder local entre 1930 1990. Este pesquisa busca identificar em Conceição do Coité características políticas que estruturam o fenômeno coronelístico e que analisa o papel político dos líderes locais na sua relação com os eleitores e governos durante os sessenta anos da pesquisa. Esta análise tem como foco a discussão do coronelismo através da sua permanência política para que se possa compreender como este sistema conseguiu se manter no poder local por tanto tempo. Nesta monografia, a discussão será feita com base nas relações de poder que se estruturam a partir dos elementos e padrões políticos presentes na sociedade coiteense. A discussão abordada mostra uma perspectiva que tenta identificar nas especificidades políticas locais os aspectos políticos e econômicos que estruturam o coronelismo. O fenômeno político a ser analisado é o coronelismo que surgiu com o título de coronel, que era um título da Guarda Nacional surgido em 1831 que era dado a fazendeiros do interior por serem líderes locais que com o título de coronel passaram a ter um amplo poder, inclusive o poder militar local oficializado. Contudo, o coronelismo ultrapassou os limites deste título oficial, e ganhou força na República Velha tornando-se um sistema político que imperou em vários municípios de todo o Brasil, sobretudo no Nordeste. Esta estrutura política apesar de ter sofrido algumas transformações que acompanharam as mudanças econômicas, ainda mantêm características que não se perderam com o tempo. Estas características estão baseadas na relação de clientelismo entre o “coronel” e seus dependentes, onde o político se apropria do poder local público como se fosse particular através do apoio do governo estadual e federal, instaura a política de apadrinhamento de familiares e no período das eleições, compra votos para garantir o seu curral eleitoral. Todos estes
  • 7. 7 aspectos estruturam o coronelismo como fenômeno político-social que consegue se adaptar aos diversos contextos históricos. Identificar estas características do coronelismo que permaneceram no cenário político de Conceição do Coité adaptadas a uma nova realidade em que estavam inseridas é essencial para compreendermos este fenômeno. Com isto, poderemos entender como os coronéis conseguiram manter a sua influência política sobre a população coiteense por tanto tempo. Para atingir este objetivo foi necessário no primeiro capítulo a elaboração de uma discussão teórica sobre o conceito de coronelismo para entendermos as características e as transformações políticas deste conceito que se flexibilizou diante de novos contextos socioeconômicos. Desta forma poderemos identificar os mecanismos coronelísticos que permaneceram nas relações de poder entre os coronéis e os seus dependentes é fundamental que sejam analisadas as trajetórias pessoais e políticas de dois líderes locais de Conceição do Coité, “Seu Mota” e Hamilton Rios. No segundo capítulo é discutida a trajetória política de “Seu Mota” e as suas estratégias coronelísticas para se manter no poder local como principal liderança política. No terceiro capítulo é analisada a trajetória política de Hamilton Rios comparando as suas estratégias políticas com as utilizadas por Seu Mota. Com isso, poderemos compreender quais das principais características do coronelismo permaneceram presentes e quais sofreram adaptações para que fosse possível manter este sistema estruturado e presente na política local. Analisar o coronelismo como uma permanência política é mostrar uma visão mais ampla de sua importância na sociedade brasileira que é formada por tantos municípios que ainda mantêm os políticos como donos do poder local se utilizando da máquina pública para dar continuidade a esta estrutura que ainda gera dependência política e econômica para as populações.
  • 8. 8 1. Discussão teórica sobre o conceito de coronelismo Para analisar o coronelismo é preciso que este conceito seja bem trabalhado e definido a partir dos aspectos políticos que estruturam este sistema de relações baseadas no clientelismo e no paternalismo. O primeiro aspecto a discutir é considerar como “coronel” não apenas os lideres municipais que receberam o titulo da Guarda Nacional, mas também todo fazendeiro que adquiriu autoridade política através da utilização do poder público para aumentar o seu poder econômico e consequentemente aumentar também a sua influencia como liderança na política local. Este poder se efetiva a partir de duas frentes determinantes. A primeira frente de poder se estabelece através da relação entre o coronel e seus dependentes, na qual cumprir os favores pessoais pedidos pelos dependentes faz parte da estratégia política do coronel. A segunda frente de poder é a relação entre o coronel e o governo estadual, esta relação se estabelece também como uma troca de favores, enquanto o coronel depende da verba estadual, o governo estadual depende dos votos do coronel. Vitor Nunes Leal, demonstra em seu livro uma construção histórica mais rígida atrelando totalmente o coronelismo a vida no campo. “A força eleitoral presta-lhe prestígio político a partir da sua privilegiada situação econômica e social de dono da terra.” (1997, p. 42) O autor afirma que o poder local no interior do Brasil só era exercido por chefes municipais que tivessem uma ligação direta com o campo. Esta relação entre coronelismo e poder rural no interior é tão sólida para Leal que “a vitalidade (do coronelismo) é inversamente proporcional ao desenvolvimento das atividades urbanas.” (1997, p. 275) . Diferente do que afirma Leal, Faoro não considera que o coronelismo está totalmente vinculado ao território agrícola em que apenas os fazendeiros teriam condições políticas para exercer a função de “coronel” da política local. Faoro afirma que existiam categorias de coronelismo atreladas a cidade. “Outros categorias, que não as territoriais, podem ocupar a posição de coronel, como o coronel advogado, o coronel comerciante, o coronel médico, o coronel
  • 9. 9 padre.” (2000, p. 710) Dentro desta discussão conceitual Janotti considera que : Não houve uma simples substituição de dirigentes, antes define-se uma nova composição de força, entremeada por novas situações econômicas (...) À medida que se desenvolviam as funções urbanas no município, sua importância econômica e, consequentemente, eleitoral passava, então a ser exercido por pessoas que não detinham, necessariamente, a posse da terra. (1981, p. 69) A partir da discussão desses autores fica evidente que a presença do coronelismo na cidade existia e que não dependia tanto da fazenda. Mas a presença do coronelismo na cidade só vai aumentar com o tempo. Já nas décadas de 20 e 30 do século XX começa-se a perceber este deslocamento do poder local para a cidade sem deixar de ter influência nas fazendas. Ainda que existam divergências neste aspecto territorial do coronelismo, nota-se que há entre os autores uma convergência de idéias sobre o papel fundamental da relação existente entre o poder público e privado como aspecto essencial para a estruturação do coronelismo. Cada autor faz uma interpretação diferenciada desta relação , eles sabem da sua importância política para os coronéis. Leal afirma que: O coronelismo é antes uma forma peculiar de manifestação do poder privado, ou seja, uma adaptação em virtude do qual os resíduos do nosso antigo e exorbitante poder privado tem conseguido coexistir com um regime político de extensa base representativa.” (1997, p. 40) Este autor deixa bem claro que para o coronelismo existir é necessário que se faça o uso do poder privado como mecanismo político para alimentar as relações de confiança que fazem parte da sua estrutura de influência. Autores como Pang considera que “a principal função do coronelismo era a hábil utilização do poder privado acumulado pelo patriarca de um clã ou uma família mais extensa” (1979, p. 21). Esta habilidade aplicada também na sua política de favores que baseia toda a estrutura coronelista que se constrói a partir deste poder privado. O aumento do poder dos “coronéis” gera também um aumento da dependência econômica e política que faz parte da relação pessoal existente entre os “coronéis” e seus dependentes. Segundo Faoro, o “coronel” exerce
  • 10. 10 este poder político com base no seu poder econômico que está atrelado ao próprio governo. Para ele a relação entre poder público e privado é muito mais complexa por não considerar que a função pública é apenas um prolongamento do poder privado (2000, p. 700) Para que o “coronel” possa manter a sua política de favores, ele precisa ser rico ou no mínimo ter uma renda capaz de satisfazer as necessidades de muitos dependentes que quando precisam de algum favor vão procurá-lo. Queiroz defende que “a fortuna é um dos meios principais de se fazer benefícios (...) O prestigio dos coronéis “lhes advém da capacidade de fazer favores” (1976, p. 191). Esta riqueza se mostra fundamental para que os “coronéis” possam aplicar a sua política de favores como principal mecanismo para a manutenção da dependência econômica e política dos seus agregados. Contudo, a estrutura coronelística não se resume apenas a relação de dependência econômica e política. Existe também o aspecto social que sofre forte influencia do coronelismo. Esta influência é percebida através da relação de autoridade local do “coronel” que tem poderes ilimitados dentro da sua fazenda ou do seu município. O reconhecimento tácito que a comunidade tem da autoridade do Coronel. Abandonada pelos poderes públicos no que se refere à saúde, à justiça, e à instrução, pois o município não tinha condições de atende-la, via o Coronel como protetor natural. (JANOTTI, 1981, p. 57) Ser a autoridade máxima nesses locais é lidar com todo tipo de situação na qual ele seja o juiz, o delegado, o prefeito, o fazendeiro, e o padrinho. Um desses papéis sociais é exercido no momento em que ele é utilizado como referencial de justiça, moral e ordem. A não ser em época de eleições, o Coronel, na maior parte da s vezes não necessita despender capital para atender aos solicitantes. Soluciona dissídios forçando o “acordo” entre as partes, o seu prestígio é o aval da “sentença”. A garantia é dada, segundo o dito popular, “pelo fio de sua barba”, isto é, a palavra do Coronel substitui o contrato escrito. (JANOTTI, 1981, p. 59) Além do papel de autoridade que o “coronel” exerce sobre sua clientela, o seu papel social de padrinho é fundamental para que mantenha o controle sobre os seus afilhados. Como padrinho, ele constrói uma solidariedade entre o
  • 11. 11 dominante e o dominado que aproxima socialmente os dois principais atores do coronelismo. “As relações de compadrio tão difundidas no coronelismo “suavizam as distâncias sociais e economias entre o chefe e o chefiado.”” (JANOTTI, 1981, p. 57) Estas relações de compadrio influenciaram na estruturação das “parentelas” em torno da autoridade política do coronel. As “parentelas” asseguram a proximidade política entre as camadas sociais antagônicas que se expressam no coronelismo. Ainda que esta aproximação tenha uma barreira econômica que impede uma maior aproximação entre os membros das diferentes camadas sociais existentes em uma só parentela. Entendemos por “parentela” brasileira um núcleo bastante extenso de indivíduos unidos por parentesco de sangue, formado por várias famílias nucleares, regra geral, economicamente independentes, vivendo cada qual em sua morada; as famílias podem-se dispersar a grandes distâncias, o afastamento geográfico não quebrando a vitalidade dos laços ou das obrigações reunindo os indivíduos uns aos outros no interior do grupo. A característica principal do grupo é sua estrutura interna, bastante complexa, e variando de uma configuração mais igualitária, até uma estratificação em vários níveis. (QUEIROZ, 1976, p. 182) A parentela mostra-se uma estrutura complexa que aceita variações no fenômeno coronelístico através da relação existente entre as camadas sociais que compõem esta estrutura. O coronel sempre representa a efetiva estratificação social dentro da parentela, mesmo que esta tenha “uma configuração mais igualitária”, o coronel e seus familiares têm uma forte distinção econômica e política dentro do grupo ao qual pertencem. Este conceito de parentela de Queiroz define o grupo social liderado pelo coronel que se modifica de acordo com as estratificações políticas e econômicas através das relações entre as camadas sociais e por isso se aproxima muito do conceito de oligarquia familiocrática de Pang. A oligarquia familiocrática basea-se numa interpretação que o autor faz sobre o conceito de parentela de Queiroz. Contudo, o autor mostra que existiu diversos grupos sociais, chamados pelo autor de oligarquias, que estavam atrelados ao coronelismo tendo características sócio-políticas distintas entre si por surgirem em locais diferenciados. O grupo mais presente na sociedade brasileira foi a
  • 12. 12 oligarquia familiocrática, porém também surgiu a oligarquia tribal, colegiada e personalista. Pang afirma que: A maioria dos coronéis brasileiros situa-se nesta categoria (oligarquia familiocrática).Caracteristicamente organizada pelo chefe de uma única família, ou clã, a esfera de influencia existia dentro de uma município. A participação numa oligarquia (nesse caso um clã) incluía a família em si, pessoas da mesma linhagem, parentes por afinidade, afilhados de batismo ou de casamento e, às vezes, o povo dependente do ponto de vista sócio-econômico. (...) Possui diversas características únicas: o sucessor do chefe não precisa ser um herdeiro direto do líder do clã; os membros podiam ser dispersos geograficamente; tanto a solidariedade vertical, quanto a solidariedade horizontal eram permitidas na competição externa. (PANG, 1979, p. 40) Além desta estrutura social o coronelismo também era formado por uma estrutura político-partidária que valorizava as suas ações políticas nos municípios. Esta relação é mantida entre os coronéis e os Partidos Republicanos de cada estado. O P. R. é o velho Partido Republicano anterior a 1930, que fora o órgão do coronelismo rural; é o partido conservador rural.” ( QUEIROZ, 1979, p. 26). Este partido juntamente com os coronéis garantiram os seus poderes políticos com a institucionalização da política dos governadores na Primeira República. Foi com esta estratégia de governo que o então presidente do Brasil, Campos Sales, governou o Brasil tendo uma relação de compromissos e barganhas com os coronéis e governadores dos estados que garantiram a sua vitória para Presidente. “O coronelismo, como forma de domínio oligárquico, foi reforçado pela evolução política da Primeira República” (PANG, 1979, p. 55) E para que o coronelismo se mantivesse como estrutura predominante na Primeira República o principal instrumento dos coronéis eram as eleições. Neste período, os favores aumentavam para que o “voto de cabresto” fosse destinado ao candidato que o coronel apoiava. “É, portanto, perfeitamente compreensível que o eleitor da roça obedeça à orientação de quem tudo lhe paga, e com insistência, para praticar um ato que lhe é completamente indiferente.” (LEAL, 1997, p. 56-7) As fraudes eleitorais também estão vinculadas a nítida autoridade que os coronéis tinham sobre a sua clientela e também sobre toda a cidade. Porque
  • 13. 13 todo o processo eleitoral era controlado por ele, do registro dos eleitores até a apuração dos votos. Durante a elaboração da lista definitiva, seus responsáveis se encarregavam de excluir determinados eleitores, omitindo seus nomes da relação, por estarem em posição política oposta à do Coronel. No dia das eleições, a Mesa Receptora dos Votos interferia em todos os sentidos sobre o eleitorado. (...) O momento da apuração se constituía no mais privilegiado para favorecer determinados candidatos; sob o mínimo pretexto anulavam-se cédulas ou acrescentavam-se cédulas, sem a mínima fiscalização da oposição, impedida de entrar no recinto. (JANOTTI, 1981, p. 51) As eleições eram muito importantes para este contexto de favorecimento político mútuo porque os chefes locais dependiam dos Estados para a liberação de verba para os municípios. E assim, continuaram com sua política clientelista nas regiões. “A chance do controle político estará na compreensão eleitoral, como sempre, não necessariamente sanguinária, mas com o sacrifício da autonomia municipal.” (FAORO, 2000, p. 702) Os coronéis compreendiam muito bem o processo eleitoral fraudulento ao qual faziam parte e queriam mantê-lo intacto para que não perdessem nenhum privilégio que tinham como garantia da sua continua autoridade local e para isso tinham o apoio dos governadores e presidente. Despejando seus votos nos candidatos governistas nas eleições estaduais e federais, os dirigentes políticos do interior fazem-se credores de especial recompensa, que consiste em ficarem com as mãos livres para consolidarem sua dominação no município. (LEAL, 1997, p. 279) Janotti considera que é nesse momento que se efetiva a política de compromissos entre coronéis, Estado e União. A eleição garante a todos a continuidade e manutenção da política coronelística. “O papel que desempenhava o Coronel no processo eleitoral garantia a sobrevivência de um sistema político que alijava as classe populares.” (JANOTTI, 1981, p. 50) E aumentava a barganha entre coronéis e governantes que tinham que alimentar as vontades políticas muito particulares dos coronéis exigindo-lhes fidelidade incondicional. Pang afirma que: “o resultado das eleições, na Primeira República, era um produto da colaboração dos que controlavam os municípios
  • 14. 14 (os coronéis), e os que controlavam o legislativo (presidente e governadores).” (1979, p. 36) Esta relação de dependência que os coronéis têm com o Estado pode ser analisada de várias formas. Leal (1997, p. 70) analisa esta dependência se limitada ao momento da eleição, onde se o coronel apoiar o candidato que vencer as eleições estaduais e federais, aquele terá total liberdade política par agir no seu município. No entanto, Raymundo Faoro afirma que esta relação vai ser de obediência do coronel com o governador que é garantida através da autoridade da milícia estadual e também através da dependência econômica do município em relação ao Estado. Para Janotti, esta relação é estabelecida através de uma política de compromissos em que os dois lados têm direitos e deveres a cumprir e exigir. Todos os aspectos que foram abordados fazem parte da caracterização do coronelismo “clássico” que durou até a década de 1930. Depois deste período muitas transformações políticas ocorreram no Brasil. Getulio Vargas tomou o poder e começou a estruturar sua política autoritária que se concretizou totalmente com a implantação inconstitucional do Estado Novo. Faoro observa que com Getúlio Vargas no poder a autoridade dos coronéis enfraqueceu bastante porque “o coronel cede lugar aos agentes semi- oficiais, os pelegos, com o chefe do governo colocado no papel de protetor e pai, sempre autoritariamente, pai que distribui favores simbólicos e castigos reais.” (2000, p.793) A visão deste autor não considera que houve muitos acordos políticos entre coronéis e Getúlio Vargas. Para que a estratégia política centralizadora de Vargas funcionasse, ele precisava de apoio em todo o Brasil. Nos municípios do interior do Nordeste e de outros lugares do Brasil, o apoio vinha dos coronéis, ainda que estes perdessem alguns dos seus privilégios políticos. Um deles era aceitar a nomeação dos prefeitos feita diretamente pelo presidente. O poder privado dos “coronéis” - que a instituição dos prefeitos de nomeação, doutrinariamente, visava destruir – não desapareceu: acomodou-se para sobreviver. A morte aparente dos “coronéis” no Estado Novo não se deve, pois aos prefeitos nomeados, mas a abolição do regime representativo em nossa terra. Convocai o povo para as urnas, como sucedeu em 1945, e o “coronelismo” ressurgirá das próprias cinzas. (LEAL,1997, p. 160)
  • 15. 15 Getúlio Vargas não “matou” politicamente os coronéis. Eles continuaram influentes em seus redutos, apesar de estarem em com menos poder. Segundo Janotti, “após a Revolução de 30 modificações são registradas nas relações coronelísticas, mas não a ponto de determinar sua extinção. Não há duvida que Getúlio Vargas se valeu dos coronéis do sertão (...) para tomar o poder e nele se manter”. (1981, p. 80) Com a volta da democracia como modelo político vigente, voltaram os coronéis a ter força com seus métodos de dominação e influencia política. Métodos que já foram abordados, mas que ganharam novas característica e sua dimensão político-social aumentou muito. “O coronelismo não declinou, mas evoluiu para uma nova forma de domínio oligárquico.” (PANG, 1979, p. 62) As mudanças sócio-econômicas ocorridas no Brasil durante este período criou um novo coronel que está adaptado a vida multipartidária da democracia e a sua maior dependência ao governo estadual e federal. Ainda que esteja ligado a uma economia tradicional. “O coronelismo demonstra, portanto, ter uma estrutura bastante plástica, adaptando-se a sucessivos momentos históricos (JANOTTI, 1981, p. 80) Vilaça (1988) defende a idéia de que é o coronel que tem melhores condições econômicas para trazer a modernidade para o seu reduto. Esta iniciativa é uma tentativa de continuar controlando a economia local. Apesar de parecer ser um líder “moderno”, a sua postura se mantêm muito conservadora para manter a sua autoridade política. O coronelismo para Pang (1979) teve que se adaptar ao crescimento da industrialização e ao surgimento dos partidos políticos em 1945. Nesta adaptação, ele perdeu sua “importância militar” de representante da ordem publica que tinha poderes ilimitados no seu município. Mas ganhou novas ferramentas para dominar politicamente os seus dependentes. Com o surgimento das rádios e sua ampla difusão no período do Estado Novo, elas ganharam uma importância política no interior muito grande por ter sido por muito tempo o único meio de informação das cidades do interior do Brasil. Por causa desta importância a maioria das rádios passaram a ser controladas por grandes empresas que tinham os políticos como os empresários.
  • 16. 16 A utilização dos meios de comunicação para influenciar diretamente na política oficial é chamada de “coronelismo eletrônico”. Segundo Suzi dos Santos: No Brasil das duas últimas décadas, podemos estabelecera atualização do conceito de coronelismo trabalhado em Victor Nunes Leal para o de coronelismo eletrônico através da adição das empresas de comunicação de massa, em especial as de radiodifusão, como um dos vértices do compromisso de troca de proveitos. Assim, a parceria entre as redes de comunicações nacionais e os chefes políticos locais torna possível uma concentração de audiência e influência política. (2006, p. 5) Este tipo de coronelismo está totalmente inserido na realidade política brasileira. Mas ele precisa ser definido como um novo mecanismo de dominação que coexiste com as outras formas de dominação coronelista clássica. O novo coronel, além de dominar os seus dependentes através de favores cotidianos como dar remédio, comida, roupa e aumentar sua influencia em época de eleição, também controla através da informação transmitida nas rádios e canais de televisão que domina. Apesar desta aparente plasticidade política que é percebida pela tentativa dos coronéis de se adaptarem aos novos tempos, o coronelismo se mostra cada vez mais enfraquecido. Mesmo que ainda existam coronéis que conseguiram se adaptar bem as novas estruturas sociais e as novas tecnologias. Eles, agora, têm que disputar o poder local com outras forças políticas. E quer arroteando segurança e permanência, ou, mais raramente, afetando prudência e evitando choques, se torna cada vez mais dependente, para ser forte, de forças que, se ele ainda influencia , nunca controla: depende dos governos, das polícias, dos votos; presa de uma imagem sua facilmente transfigurada pela imprensa, ou nos comícios, já permitidos, a contra gosto aos adversários. ( VILAÇA, 1988, p. 18) O coronel já não é mais o mesmo. Este contexto político democrático facilita a entrada ao poder de pessoas que quebram a hegemonia política do coronel. O seu prestígio já não atinge tantos cidadãos, a sua clientela diminuiu significativamente. O coronelismo vive um nítido processo de declínio. Segundo
  • 17. 17 Queiroz, “o desaparecimento do coronelismo não se apresenta, pois, apenas progressivo, como também irregular” (1979, p. 211) Esse processo de declínio do coronel é visto segundo Bursztyn “como uma “seleção natural” imposta pela modernização do capitalismo na região, conseqüência do poder econômico e político local.” (1984, p. 32) Os poucos coronéis que ainda conseguem sobreviver a este ambiente hostil e que podem em pouco tempo ser extintos, vivem a própria mutação política. “O coronel deixa de ser o sujeito da ação do estado para tornar-se objeto” (1984, p. 31) Um objeto político que tenta revigorar o seu valor local adaptando-se aos novos contextos sócio-econômicos para manter a sua autoridade política o menos alterada quanto possível. Conceição do Coité é uma cidade que passa por este processo e para que possamos compreender como o coronelismo sobreviveu nesta cidade é necessário entendermos como este sistema político funcionou antes de sofrer significativas transformações políticas e sociais.
  • 18. 18 2. COITÉ DE SEU MOTA DE 1926 a 1972 A estrutura coronelística que foi discutida no primeiro capitulo se desenvolveu em Conceição do Coité a partir da figura de Wercelêncio Calixto da Mota, Seu Mota. Ele se tornou um coronel de patente e de poder porque exercia o seu papel político de Coronel. Desta forma, é necessário que entendermos como se estruturou o coronelismo de Seu Mota. Discutindo as suas estratégias políticas e econômicas que se assemelham com as caracterizadas no primeiro capítulo e também abordando as estratégias originais oriundas da política local. Para analisarmos o período em que Conceição do Coité teve como líder e coronel, Wercelêncio Calixto da Mota, Seu Mota, é fundamental que possamos conhecer e entender sobre a vida pessoal deste político. Seu Mota nasceu em 1894 no Arraial de Valente, que fazia parte da vila de Coité, tendo uma vida humilde e já aos três anos de idade ficou órfão de pai e muito novo se mudou para a Vila de Coité distanciando-se um pouco da zona rural e tendo um contato aproximado com os comerciantes daquela vila. O que facilitou ainda mais a aproximação de Seu Mota aos comerciantes foi o casamento de uma de suas irmãs com um comerciante de Conceição do Coité, Abílio Araújo. Seu Mota passou a ser empregado de Abílio Araújo e com o tempo se tornou sócio do próprio Abílio. Neste contexto social, o carisma de Seu Mota será um diferencial percebido desde a sua infância. Aos dez anos de idade já chamava muita atenção das pessoas em Coité por causa do seu carisma e por ser um menino muito comunicativo. Com este seu jeito ele ganhou a confiança de João da Pedreira, que era o Coronel João Manuel Amâncio, uma das principais lideranças locais no período imperial e também no começo da República. Esta liderança local passou a lhe tratar como o filho que ele não tinha. Podemos perceber que Seu Mota construiu a sua liderança através deste dois pilares sociais que vão ser a base para o seu surgimento como um dos lideres locais. Seu Mota foi influenciado por este dois homens que tinham
  • 19. 19 papéis sociais distintos, um era um comerciante, Abílio Araújo, e o outro, um político, João Manuel Amâncio. Wercelêncio Calixto da Mota se desenvolveu socialmente a partir destas duas características pessoais atrelado a sua própria personalidade. Estes fatores vão favorecer no surgimento da figura populista e carismática do seu personagem político que era “Seu Mota”. Diante destas características políticas podemos analisar Seu Mota como um coronel que não se encaixa com o perfil do coronel clássico de Leal (1975) em que todo o seu domínio político está ligado a fazenda e que os seus agregados são tem uma dependência econômica direta em relação ao coronel. O perfil de Seu Mota se encaixa muito bem com o conceito de coronel comerciante construído por Pang (1979) que considera como coronelismo a relação de dependência econômica e social que existe entre coronel e agregado sem considerar como fundamental que esta relação esteja inserida na zona rural. Por isso que este autor, afirma que esta relação pode ocorrer entre coronéis de diversos tipos sociais como coronel padre, coronel advogado e coronel médico e também o coronel comerciante. A sua imagem de político e comerciante já estava sendo construída aos poucos. Segundo relato de Orlando Matos, Seu Mota foi candidato a vereador já em 1921, e ganhou, porém não foi empossado por disputas políticas que conseguiram invalidar a sua posse por causa da sua ligação familiar com o intendente Abílio Araújo. O início da sua carreira política no poder legislativo local é adiada, contudo este obstáculo não gerou repercussões negativas em sua imagem . Segundo relato de Orlando Matos, Seu Mota começa a se tornar um líder político em Coité a partir de 1925, quando o Coronel João Manuel Amâncio, João da Pedreira, morre e Seu Mota se torna, literalmente, o seu herdeiro político. Vilaça e Alburquerque (1965, p.21) demonstram como pode acontecer esta transição política. O declínio político do coronel quase sempre provoca esfacelamento de poder, atritos e lutas políticas mais acirradas. Com o tempo, aquela forma de supremacia sócio-política se substitui por outra, mais sutil, menos ostensiva, na pessoa de um líder mais moço.
  • 20. 20 O impacto dos acontecimentos na vida política de Seu Mota é sentido rapidamente, já em 1926, ele se torna Intendente Municipal e neste mesmo ano foi o único que recebeu a Coluna Prestes em Coité. Carlos Prestes e seu grupo eram vistos em Coité como os revoltosos. Mesmo com esta imagem, Seu Mota os recebeu em seu comércio e lhes vendeu pão e bolachas. Este episódio ficou marcado na memória dos coiteenses daquela época, o que ajudou a solidificar a imagem de Seu Mota como líder político local. Como Intendente ele concretiza no poder executivo toda a sua influência política que já era exercida através do seu carisma e da sua condição econômica. Nesta época, a condição econômica era fundamental para que alguém pudesse exercer uma função política. Isto acontecia, porque os cargos executivos não eram decididos por eleição e sim por indicação. Então, para ser indicado era necessário que se tivesse alguma relação econômica ou familiar com os membros do governo estadual ou com deputados que pudessem fazer esta intermediação. Segundo Pang (1975, p. 21), esta condição econômica era fundamental para sustentar o coronelismo porque “ a principal função do coronelismo era a hábil utilização do poder privado acumulado pelo patriarca de um clã ou uma família mais extensa.” Diante desta estrutura política de indicação, Seu Mota estava muito bem inserido, além de comerciante, ele era representante bancário de vários bancos em Coité e também comprou a sua patente de Coronel da Guarda Nacional. Porém, segundo relato de Orlando Matos, ele não usava a sua patente de Coronel Mota preferia ser chamado de Seu Mota. Todo este dinamismo econômico demonstrado por Seu Mota faz parte da necessidade do próprio coronel trazer para a sua cidade o progresso. Segundo Vilaça (1965, p. 19) “é o coronel , consciente ou inconscientemente, um veículo de mudanças. Vê-se levado a promovê-las como que para não perder a iniciativa social e para assegurar seu cetro paternalista de doador de coisas, de patrocinador de causas.” Para manter este seu poder econômico e político sempre fortalecido, Seu Mota, tinha os seus parceiros políticos de oligarquia que a eles era dada a oportunidade de administrar a cidade de Conceição do Coité por indicação direta de Seu Mota, inclusive João Paulo Fragoso, segundo relato de Orlando Matos, também foi indicado por ele e conseguiu se eleger para ser o primeiro
  • 21. 21 prefeito eleito de Conceição do Coité. Esta era uma das estratégias políticas de Seu Mota não controlar “totalmente” o poder em suas mãos, ele ao mesmo tempo que indicava, estava dividindo um pouco o seu poder com os seus parceiros, porém mesmo fora do poder executivo oficial ele era a principal referência política da época. Apenas João Paulo Fragoso em 1934 foi eleito para exercer o cargo de prefeito porque em 1937 Getúlio Vargas instaura no Brasil o Estado Novo e acaba com as eleições para prefeito criando o cargo de interventor federal. Esta medida atinge Coité em 1938 quando Tiburtino Ferreira da Silva é nomeado interventor federal para Coité. Durante este período de intervenção federal no poder executivo municipal, Vanilson (2002) considera que, a cidade de Conceição do Coité ficou dividida politicamente pelas oligarquias locais de Seu Mota e de Eustógio Pinto Resedá. Até 1948, os dois vão indicar os interventores federais em Coité, cada um favorecendo a sua oligarquia. Mesmo com este cenário político local dividido, Wercelêncio era uma grande autoridade política. Isto se confirma quando as eleições voltam a ser realizadas em 1948 e Teocrito Calixto da Cunha se elege apoiado pelo seu tio, Seu Mota, que tinha lhe indicado. É a partir deste ano que se consolida a influência política de Seu Mota e do seu partido, o Partido Social Democrata (PSD) em Conceição do Coité. Depois do mandato de Teocrito, o próprio Wercelêncio se elege prefeito de Coité em 1955, dando continuidade a sua política clientelista que o tornava cada vez mias poderoso politicamente em Coité. Ainda que ele não gostasse de utilizar o seu título de Coronel como distinção social, as suas atitudes diante dos seus eleitores e a sua própria postura como líder local mostram que ele tinha poderes, literalmente, de um coronel. Desta forma, Seu Mota com sua estrutura econômica pessoal voltada para o comércio e seus investimentos em associações culturais o tornam um coronel “moderno” para a sua época. Estas atividades que ele realizava para manter-se no poder fazem parte da base do coronelismo, que segundo Costa Porto apud Queiroz (1976, p. 197), era “a capacidade de fazer favores”, o comerciante, pequeno ou grande, aparecia realmente como alguém dotado de excelentes meios de “fazer favores” aos outros.”
  • 22. 22 Este perfil político de coronel presente em Seu Mota se aproxima em vários aspectos do Coronel Veremundo Soares do livro Coronel Coronéis de Vilaça e Albuquerque, considerando algumas diferenças sociais e até mesmo econômicas, os dois estão participando ativamente do processo de mudança econômica que o nordeste esta vivendo neste período. Veremundo Soares, de Salgueiro, finalmente, é, no sertão, o coronel mais corrompido pelas novas formas sociais, o mais vizinho da modernidade. Lido, viajado, burguês em família e no trato, burguês até no status social. Fazendeiro, mas sobretudo comerciante e industrial.(...) Coronel dono de ruas, de farmácia, de maternidade, de pontos de comércio. Coronel de dar grandes festas, bastante sagaz para saber, em tempo, transmitir o seu legado político ou no pactuar com a audácia de novos valores que o desafiam. (1965, p. 45) Sua influência política era tão forte na cidade que na eleição de 1958 ele resolveu apoiar a candidatura de Emídio Ramos que era seu adversário político e ele venceu as eleições. Esta fato mostra a capacidade que Seu mota tinha de controlar os seus eleitores, não penas pelo voto, mas pelo apoio político irrestrito. Porque as pessoas não estavam apoiando apenas o candidato a prefeito, estavam apoiando Seu Mota. Queiroz (1976, p. 197) afirma que “a exigência de um coronel, para que seus apaniguados votem em determinado candidato – imposição muitas vezes sem apelo tem como contrapartida o dever moral que o coronel assume de auxiliar e defender quem lhe deu o voto”. Este poder político perde a sua principal representatividade que estava construída na imagem de Wercelêncio Calixto da Mota. Porém, Seu Mota morre em 1959, muito embora o sua influência política continua viva no seu grupo político oligárquico. E como afirma Janotti (1984, 79), “a própria morte de um Coronel não extingue o poder coronelístico. Seu prestígio político e social é transferido para outro indivíduo que nem sempre é um membro de sua família.” Nas eleições de 1963, Antonio Ferreira é eleito como candidato do grupo de Seu Mota. Contudo, alguns fatores significativos levaram a uma disputa eleitoral, extremamente, acirrada: O primeiro fator foi que Emídio Ramos não tinha feito uma boa administração por causa disso a imagem de grupo ficou enfraquecida; O segundo foi que a própria ausência física e política do próprio Wercelêncio enfraqueceu o “seu” candidato.
  • 23. 23 Vanilson (2002, p. 77) afirma que, Antonio Ferreira ganhou a eleição de Evódio Resedá por uma diferença de 22 votos, mas o próprio Evódio relata, que a diferença foi de apenas 11 votos e que nesta eleição o juiz eleitoral foi influenciado politicamente para que Antônio Ferreira ganhasse a eleição. Para Vilaça e Albuquerque (1965, p. 39) o coronelismo “utiliza-se, enfim, das mais tremendas formas de fraude, usando todos os meios que pode mobilizar em favor de seus objetivos e de sua paixão política.” Esta divisão política bipolarizada nestes dois partidos, o PR e o PSD, atinge até mesmo a Igreja que representada pelo padre Antonio Tarashi, vigário desta Freguesia , relata no livro de tombo, que “o povo está dividido em dois partidos: o PR – a maioria que pertence a este partido constitui o povo mau da cidade, inclusive os maçons pertencem a este partido, e o PSD, que representa o povo bom da cidade.” Estes dois partidos eram as representações políticas dos coronéis no cenário eleitoral republicano. Porém, cada partido representava este grupo social de formas diferentes. Queiroz (1976, 26-7) considera que: o P. R. é o velho Partido Republicano anterior a 1930, que fora o órgão do coronelismo rural; é, pois, um partido conservador rural.(...) É o P. S.D. a expressão da nova camada de gente rica; não criou esse partido nenhuma forma nova de participação política, exprimiu- se através do tipo coronelista. Esta divisão política feita pelo padre Antonio Tarashi está carregada de juízo de valor e com isso podemos notar que ele defende o partido do PSD considerando-o como o grupo formado por pessoas, segundo ele, “boas”. Esta é uma análise política de um religioso carregada de sentidos morais que simplifica um processo político complexo estruturado através da relação destes partidos com o objetivo de conquistar o poder local. Para Janotti (1984, p. 54), “a dominação oligárquica sempre foi violenta podendo assumir tanto formas sutis de coerção, quanto procedimentos da maior crueldade, variáveis de acordo com o lugar e a ocasião.” A disputa pelo poder entre estes dois partidos é o reflexo desta rivalidade oligárquica entre os políticos , Wercelêncio Calixto da Mota e de Eustógio Pinto Resedá. Eles eram as principais lideranças políticas e quando não faziam mais parte do cenário político local, estavam sendo representados por herdeiros familiares e políticos.
  • 24. 24 Contudo, este contexto político sofre uma forte modificação com o golpe militar de 64. Ainda que Antonio Ferreira tenha continuado como prefeito, os partido políticos são extintos e surgem apenas duas legendas; a ARENA, Aliança Renovadora Nacional que representava o governo ditatorial dos militares e o MDB, o Movimento Democrático Brasileiro que representava uma dita oposição que não tinha liberdade de expressão. Dentro deste contexto nacional, Conceição do Coité tinha duas sub- legendas do ARENA, is quer dizer que, os dois grupos que disputavam o poder apoiavam a ditadura. O ARENA 1 representava o grupo do prefeito que era do grupo de Seu Mota e o ARENA 2 representava o grupo liderado por Evódio Resedá. O golpe militar, além de transformar a vida partidária, motiva um acordo entre os dois ARENAs que gerou a indicação de Teognes Antonio Calixto como candidato único a prefeitura, e para que o acordo fosse selado, Teognes teria que apoiar Evódio Resedá como candidato único a prefeito nas próximas eleições para prefeito. Porém, este acordo não foi cumprido porque houve um conflito de interesses entre os grupos e Evódio saiu candidato sem o apoio do grupo de Seu Mota. Evódio disputou a eleição de 1970 contra Doutor Pinheiro, que era um médico muito conhecido na cidade por atender pessoas com problemas de saúde e não cobrava aos pobres os atendimentos que fazia. Nesta eleição, Dr. Pinheiro ganhou fazendo Evódio Resedá perder novamente uma eleição para prefeito. Dr. Pinheiro conseguiu esta vitória eleitoral não apenas por causa da sua imagem política fortalecida pelo seu assistencialismo social vinculado a sua atividade médica, também porque pertencia ao grupo de Seu Mota. Contudo, esta vitória também vai trazer para a política local um novo adversário político, Hamilton Rios, que começa uma forte campanha política para derrubar o grupo de seu Mota para que ele mesmo possa se tornar o novo prefeito de Coité.
  • 25. 25
  • 26. 26 3. Coité de Hamilton Rios – 1972 a 1990 Neste capítulo discutiremos como Hamilton Rios conseguiu acabar com a hegemonia política do grupo de seu Mota e quais foram as permanências e as rupturas políticas que ele implantou na política local para que pudesse manter muitas características do coronelismo presentes em Conceição do Coité. Para entendermos os aspectos políticos é fundamental que possamos discutir também como Hamilton Rios se estabeleceu economicamente como exportador de sisal. E como estes dois aspectos, o político e o econômico são essenciais para a construção da imagem do coronel é necessário que se faça uma análise da sua biografia para entendermos como estes aspectos se relacionam. Hamilton Rios de Araújo antes de tornar-se um grande líder político em Conceição do Coité já pertencia a uma família de prestigio nesta cidade. O seu avô, Antonio Felix de Araújo, em 1894, já tinha sido Intendente de Conceição do Coité. Apesar de não ter usufruído desta vantagem de ter ser de família tradicional porque o seu pai herdou pouca coisa e não deu uma vida de luxo e riqueza para Hamilton Rios e seus irmãos, nesta fase da vida, Hamilon Rios trabalhou bastante na roça ajudando o seu pai que não tinha muitos recursos. Contudo, pertencer a uma família tradicional em uma cidade pequena ainda é uma forma de distinção social. Hamilton Rios começa a mudar de vida quando o seu irmão, Almir, lhe convida para trabalhar com sisal. Este seu irmão já estava começando a trabalhar com o sisal. E deu a oportunidade para Hamilton entrar no ramo, dando a ele um motor de sisal. Hamilton Rios e o seu outro irmão, Ewerton, fizeram o negócio crescer. Com os lucros iniciais compraram mais motores e depois campos de sisal para que pudessem controlar o negócio cada vez mais. Porque havia em Conceição do Coité vários comerciantes de sisal e era necessário enfrentar esta concorrência. Nesta época, Misael Ferreira, já era comerciante, e também Teocrito Calixto da Cunha tinha uma empresa que trabalhava com sisal. E existiam comerciantes menores, contudo a pretensão de Hamilton Rios e seu irmão,
  • 27. 27 Ewerton, eram ser grandes comerciantes de sisal e foi o que aconteceu. Como Hamilton Rios percebeu a necessidade de investir em todo o processo de manufatura do sisal, porque todos os outros comerciantes inclusive ele pagavam para que o sisal fosse “batido”. Então, ele comprou uma maquina para ele mesmo “bater” o sisal e não mais depender de outra pessoa para deixar o seu produto pronto. Com isso, ele estava controlando ainda mais o processo de produção do sisal e tendo cada vez mais lucros. Este diferencial comercial fez com que ele e seu irmão enriquecessem rapidamente com o sisal. Mesmo antes de tornar-se um político, ele já “batia” o sisal dos outros comerciantes de Coité e região, além de já ser um exportador do produto. Quando entra para política já estava com uma renda alta suficiente para sustentar a estrutura coronelística já existente e que ele desenvolveria ainda mais em torno de sua imagem pública. O aspecto econômico é fundamental para que o “coronel” seja caracterizado como tal. Ele precisa ter condições financeiras pessoais para sustentar a sua política assistencialista ainda que se utilize dos recursos públicos é necessário que o mesmo seja capaz de manter o sistema coronelístico sem depender totalmente da prefeitura. É por isso que Queiroz (1976) considera fundamental a diferenciação econômica entre o coronel e sua clientela, era a fortuna que estabelecia a posição social dos membros da parentela, quanto mais rico mais poder tinha e mais influência exercia sobre os outros membros do grupo. Hamilton Rios teve dois motivos para entrar na política, o primeiro foi que ele não queria que o grupo de seu Mota continuasse no poder porque já estava a muito tempo dominando politicamente Conceição do Coité e segundo porque Evódio já tinha sido derrotado três vezes para prefeito. Quando Dr. Pinheiro ganha as eleições contra Evódio Resedá, provocando assim a terceira derrota do mesmo, Hamilton Rios declara para todos que será o candidato da oposição. Ele podia fazer esta declaração porque tinha alguma forma de influência política por causa da sua condição social e econômica. Ele fez esta afirmação sem consultar ninguém do grupo que fazia oposição a seu Mota. Ele consulta seu Evódio apenas depois que tomou a decisão e que fez a sua declaração, e seu Evódio concordou com a candidatura.
  • 28. 28 Esta condição de autoridade e líder que ele impõe a si mesmo diante de um grupo político enfraquecido é uma demonstração de como vai funcionar sua estratégia política. Seria ele que ditaria as regras políticas do grupo a partir daquele momento. Hamilton Rios já era o candidato a prefeito quando as eleições tinham acabado de acontecer. Hamilton Rios pode tornar-se um líder político porque também era um líder econômico. Faoro (2001, p. 700) considera que para um coronel tornar-se um líder político é fundamental que este poder político esteja atrelado a sua condição econômica que possa sustentar o coronelismo. Sendo um homem rico poderia exercer o seu papel político diante de seus partidários. Este mesmo poder econômico também foi demonstrado por seu Mota para lhe garantir uma autoridade local e influência política. Estes dois lideres locais souberam utilizar o seu poder econômico com objetivos políticos que lhes garantiu um longo período no poder. Para Janotti ( 1981, p. 69): à medida que se desenvolviam as funções urbana do município, sua importância econômica, e, consequentemente, eleitoral, também, crescia. O poder coronelístico passava, então, a ser exercido por pessoas que não detinham, necessariamente, a posse da terra. Esta foi a sua forma de entrar na política, com todo o seu poder econômico impôs uma vontade pessoal, a de ser o novo prefeito. A sua campanha eleitoral começou, exatamente, naquele momento em que disse que seria o novo candidato. Mesmo faltando dois anos para as eleições, Hamilton Rios trabalhava na sua candidatura distribuindo água pelos povoados de Conceição do Coité, dando cesta básica, cimento, remédio. O povo ia a sua casa pedir o que precisava e ele, para garantir a sua vitória, dava o que podia. Foi a partir desta política de assistencialismo que Hamilton Rios começou a construir a sua imagem de “coronel” que para Queiroz (1979, p.176-7) faz parte da política de barganha em que o voto é usado como objeto de troca por favores pessoais. Em 1974 aconteceu a eleição para a qual Hamilton Rios já fazia campanha desde 1972. Esta eleição foi disputada por dois comerciantes de sisal, Hamilton Rios era um exportador do produto e Misael, um dos primeiros comerciantes a investir nesta atividade que disputava espaço comercial com o próprio Hamilton.
  • 29. 29 Desta forma, podemos perceber como a condição econômica influencia na escolha da liderança política. Os dois candidatos a prefeito eram grandes comerciantes de sisal, e estavam em grupos políticos opostos. A disputa comercial passou também a ser uma disputa política. Contudo, a condição econômica não é o único fator que influencia em uma eleição. Outros fatores devem ser levados em consideração. Hamilton Rios com a sua política assistencialista que atingia a população desde 1972 influenciou muito não só na zona rural, mas também na zona urbana de Conceição do Coité. E esta política foi decisiva para que ele garantisse uma vitória com uma boa diferença de votos em relação aos do seu adversário político. Hamilton Rios conseguiu acabar com a hegemonia do grupo de seu Mota derrotando Misael Ferreira. Dando início ao seu governo e a seu domínio político sobre a cidade. É nesta eleição em que os grupos políticos de Coité vão passar a ser chamados de “vermelhos”, o grupo de Hamilton Rios, e os “azuis”, o grupo de Misael Ferreira que pertencia ao grupo de seu Mota. Como Hamilton Rios conseguiu colocar os “vermelhos” no poder e ele controlava o poder público como prefeito, a sua política assistencialista seria fortalecida diante da necessidade econômica da maioria da população. Uma parcela desta população se torna dependente dos favores que o prefeito, Hamilton Rios, realizava e por isso era chamado de “Pai da Pobreza”. Esta era a sua principal estratégia política, tornar as pessoas dependentes do seu poder econômico e político alimentando uma relação de proximidade afetiva com os seus eleitores. A relação ente prefeito e partidários é a mesma do coronel e seus dependentes em que os dois influenciam as pessoas pela política, pelos favores, e pelo afeto. Hamilton Rios foi padrinho de muitos filhos de seus partidários. Isto mostra, que a sua estratégia extrapola a questão política e econômica tendo uma relação direta com a questão pessoal. Este aspecto afetivo é demonstrado pela relação de compadrio que o coronel estabelece com os seus dependentes. Janotti (1981, p. 58) considera que isto ameniza as diferenças sociais entre eles. Esta aproximação favorecia a manutenção, por parte do coronel, do seu poder. Queiroz (1979, p. 167-8) afirma que no coronelismo:
  • 30. 30 as relações pessoais envolvem a afetividade na determinação do voto, (...) apresenta na realidade como uma reciprocidade de favores, como que um contrato tácito entre o cabo eleitoral e os eleitores. Estes oferecem seus votos na expectativa de um favor ser alcançado, podendo o contrato ser rompido quando uma das partes não cumpre o que dela se espera. A sua política foi totalmente escancarada. Todos sabiam que ele “ajudava” as pessoas desta forma assistencialista. Diferente do que acontecia no período de seu Mota em que esta estratégia já era usada, mas Vanilson afirma que era uma estratégia disfarçada com poucos favores sendo realizados. Seu Mota apesar de também manter uma relação muito pessoal com os seus eleitores não alimentava tanto este assistencialismo cotidiano. O que acontecia com mais freqüência era o clientelismo que é a troca de favores, os mais diversos possíveis, pelo voto do eleitor. Hamilton Rios desenvolve a sua política através do assistencialismo e do clientelismo. O assistencialismo ele alimenta com favores cotidianos que não influenciam diretamente nas eleições, são favores que mantêm a dependência econômica dos mesmos diante da sua imagem de político e “coronel”. O clientelismo se estrutura numa política voltada, exclusivamente, para as eleições em que são atendidos os pedidos e os favores com o objetivo direto de trocar pelos votos das pessoas. Desta forma Queiroz (1979, p. 178) considera que o eleitor não vota passivamente, ele vota consciente no candidato indicado pelo seu coronel em troca de favores. Contudo, é difícil sustentar que este voto possa ser de alguma forma consciente, ainda que seja diante da percepção de que está negociando o seu voto em troca de algo. Com isto, podemos perceber que o sistema coronelístico limita a consciência política dos eleitores que não compreendem a importância do seu próprio voto. Além desta estratégia política voltada para os seus eleitores, Hamilton Rios como prefeito realizou algumas obras, como a construção do Estádio Municipal, a reforma de escolas, posto de saúde. Realizações que influenciaram muito para que a sua imagem política fosse associada a de um bom “coronel”. Com todo este prestígio na cidade, as suas vontades políticas começaram a ganhar força e eram atendidas sem muita discussão. Como a lei
  • 31. 31 não permitia a reeleição, Hamilton Rios indicou Walter Ramos como candidato a prefeito do grupo dos “vermelhos” para as eleições de 1976. Ele foi escolhido porque já tinha sido vereador e era muito influente nos distritos de Aroeira e Salgadália. Indicar o candidato a prefeito era uma clara demonstração de poder diante dos seus partidários. Ele podia impor a suas vontades políticas porque sabia que não seria contestado e que tinha a seu favor o poder privado em detrimento do poder público. Hamilton Rios desenvolveu uma relação entre o poder privado e o público muito característica do coronelismo que é fazer do poder público parte do poder privado. Como bem afirma Leal (1997, p. 275) o “coronelismo é a incursão do poder privado no domínio público.” E com o dinheiro público o coronel consegue manter a continuidade do seu sistema. Diante destes aspectos, Walter Ramos disputou a eleição contra Sinval Mascarenhas em uma disputa que todos já sabiam o resultado. Walter sendo apoiado por Hamilton Rios teria a vitória garantida diante do grupo dos “azuis” que estava enfraquecido pela derrota eleitoral que sofreram por causa do próprio “Mitinho”. Nos dois primeiros anos, Walter Ramos foi influenciado politicamente por Hamilton Rios em seu governo. Porém, houve um rompimento político entre Walter Ramos e Hamilton Rios. Walter Ramos não aceitou a relação de obediência que tinha que manter com Hamilton Rios. Então, passou a negociar com outros políticos obras para Conceição do Coité, como esses políticos não eram os correligionários de Hamilton Rios houve o rompimento. Este rompimento chegou ao ponto de cada um apoiar um deputado estadual diferente para as eleições de 1978. Hamilton Rios apoiou Luis Eduardo Magalhães e Walter Ramos apoiou João Emílio. Walter Ramos governou por mais quatro anos e continuava inimigo político de Hamilton Rios. Ainda no poder Walter Ramos já apoiava Misael para prefeito e nas eleições este seu apoio enfraqueceu a candidatura de Hamilton Rios em 1982. Este enfraquecimento político foi provocado por um fenômeno que Leal (1997) já considerava presente no coronelismo que era o aumento da dependência econômica do coronel sobre os recursos públicos. A falta destes recursos gera um significativo déficit na manutenção da política clientelista administrada pelo coronel.
  • 32. 32 É tanto que, Orlando Matos afirma que, a campanha de 1982 foi toda financiada por Hamilton Rios, até mesmo porque ele não tinha acesso aos cofres públicos para que pudesse utilizar estes recursos para investir em sua campanha eleitoral. Mesmo enfraquecido politicamente Hamilton Rios ainda tinha muita força econômica para garantir a sua volta para a prefeitura. Nas eleições para 1982, Hamilton Rios, apesar de estar enfraquecido pelos quatro anos de governo de Walter Ramos, saiu como candidato pelo grupo dos “vermelhos”. O enfraquecimento do seu poder político aconteceu por ter ficado distante do poder público que era uma fonte de recursos financeiros que ajudava a sustentar a sua imagem política. Mesmo com este enfraquecimento Hamilton Rios conseguiu vencer as eleições por uma diferença de 229 votos a mais que o seu adversário, Misael Ferreira. O resultado desta eleição demonstra como a política local se estruturava neste período. Hamilton Rios mesmo sem ter acesso aos recursos públicos para manter a sua política assistencialista conseguiu voltar a ser prefeito. Este fator atrapalhou o desenvolvimento desta estratégia, contudo não impediu que ela continuasse a existir porque Hamilton Rios já era um grande empresário e tinha condições econômicas pessoais para sustentar esta política. Esta vitória eleitoral de Hamilton Rios deve ser considerada também pelo aspecto afetivo que o próprio Hamilton Rios construiu em sua relação com seus eleitores nesta política assistencialista que ele desenvolveu. A relação de apadrinhamento é uma demonstração da importância deste aspecto afetivo de até que ponto esta relação pode chegar. O político tornando-se parte da própria família do seu eleitor. Outro aspecto que favorece o estabelecimento desta relação pessoal é o que Queiroz (1979, p. 199) caracteriza como “”carisma” – conjunto de dotes pessoais que impõe um indivíduo aos outros, fazendo com que estes lhe obedeçam, tornando suas ordens indiscutíveis justamente porque emanam dele.” Além desta sua política assistencialista local, Hamilton Rios construiu relações políticas e também pessoais com as principais lideranças do estado da Bahia. Como era partidário de Antonio Carlos Magalhães, ele mantinha com a ACM uma relação política em que eram negociados os apoios em eleições
  • 33. 33 estaduais e os recursos e obras que seriam investidos em Conceição do Coité pelo governo estadual. Esta relação com o governo estadual faz parte da estratégia política do coronelismo que é a negociação do coronel, que manipula os seus dependentes nas eleições estaduais, com o governo estadual para barganhar investimentos na cidade, porque o poder local ainda é muito dependente das verbas públicas enviadas pelo governo federal e estadual. Faoro (2001, p. 708) considera que esta relação é controlada pelo governo estadual que tem os instrumentos políticos e econômicos para submeter os coronéis ao seu poder. Isto é o que aconteceu com Hamilton Rios e ACM. A relação entre eles era ditada pelas ordens do governador que era ACM. A essência do compromisso coronelístico, para Leal (1997, p. 70), está dividida em duas partes, a primeira os chefes locais precisam apoiar, totalmente, nas eleições os candidatos estaduais e federais que fazem parte do governo e a segunda o governo estadual deve permitir que os chefes locais tenham total controle sobre os seus municípios. Bursztyn (1984, p. 12) também tem um posicionamento parecido ao considerar que “há uma enorme interdependência entre os poderes central e local, em cuja essência encontramos os imperativos da legitimação recíproca.” Argumento este que se relaciona com a idéia de Janotti (1981, p. 59) de que o coronel é a conexão de uma teia de compromissos políticos que tem dois extremos, um é o vaqueiro, o outro é o governador do Estado. Hamilton Rios manteve esta estratégia política praticamente intacta no seu novo governo. A sua forte política assistencialista era o que lhe mantinha no poder, tendo uma boa relação com o governo do Estado. Por isso dar continuidade a estas relações era essencial para que ele pudesse se manter no poder público. Contudo, durante este governo surge uma figura pública que se torna seu concorrente utilizando a mesma política assistencialista que ele alimentava. Dr. Iêdo surgirá no cenário político coiteense como a liderança que faltava para o grupo dos “azuis”. O seu assistencialismo estava relacionado aos problemas de saúde. Para Vanilson Lopes, ele realizava operações sem cobrar pelos custos tendo como objetivo derrotar o grupo de Hamilton Rios.
  • 34. 34 Com isso, Dr. Iêdo tornou-se o principal adversário político de “Mitinho”. Iêdo ficava cada vez mais popular por causa desta relação que ele construía com seus pacientes. A demonstração que esta liderança estava ameaçando politicamente Hamilton Rios é que nas eleições de 1984 o candidato que Dr. Iêdo apoiou para governador, Waldir Pires, teve mais votos em Coité do que o candidato de Hamilton Rios, Josafá Marinho. Este resultado repercutiu como uma ameaça à hegemonia política dos “vermelhos” em Coité para as próximas eleições municipais. Por isso, Hamilton Rios precisava escolher um sucessor para disputar as eleições de 1988 contra Dr. Iêdo. Faoro (2001, p. 729-30) afirma que “o que mata o coronel é o próprio exercício de suas funções, em certo momento inúteis, diante dos meios diretos de convívio do governo com o povo.” E que “o coronel flutuará entre ventos adversos, triturado pelos partidos de quadros, burocratizados na sua organização, revolvidos os próprios sertões pelas periódicas ondas carismáticas, irradiadas das cidades, nacionais em sua amplitude.” Contudo, Dr. Iêdo morre em 1987 por causa de um acidente de carro. Esta tragédia teve duas repercussões políticas importantes para Conceição do Coité. A primeira que os “azuis” não tinham outro candidato para substituir a liderança de Dr. Iêdo o que levou o grupo a ficar divido entre Misael e a viúva de Dr. Iêdo, Tânia. No final das negociações dentro do grupo, Tânia foi escolhida por um grupo totalmente esfacelado. A segunda repercussão está relacionada à escolha do candidato do grupo dos “vermelhos”. Com a morte de Dr. Iêdo e Tânia sendo a candidata, Hamilton Rios não escolhe nenhum político que fazia parte do grupo, mas o seu sobrinho, Ewerton Rios de Araújo Filho, Vertinho. Diante deste cenário, a eleição de 1988 foi o momento em que Hamilton Rios conseguiu dar continuidade ao seu poder colocando o seu sobrinho na prefeitura. Para Janotti (1981, p. 79), esta pode ser uma tentativa de transferir a sua influência política para outro membro do grupo que poderia ser o seu sucessor quando o coronel morrer. Esta atitude política de escolher um membro da sua família como sucessor é um reflexo de como ele relaciona as questões públicas com as particulares a partir da sua autoridade política que impõe a suas vontades como se fossem, realmente a vontade do grupo. Hamilton Rios não fez uma
  • 35. 35 escolha política, ele fez uma escolha pessoal, particular em que sua família é inserida em um contexto público. Esta é uma atitude de um “coronel” em que somente ele tem voz dentro do seu grupo político. Ainda que outros partidários tenham condições econômicas e políticas de contestá-lo preferem aceitar as suas imposições a sofrer represálias ou punições políticas. E uma destas imposições é a escolha individual e pessoal do seu sucessor. O sucessor foi escolhido e o contexto político colaborou para que as eleições fossem vencidas por ele. Neste contexto devemos considerar a forte influência política de Hamilton Rios que tornou prefeito um sobrinho que era desconhecido na cidade e a morte de seu principal adversário político, Dr. Iêdo. Eleições vencidas, começa o mandato de Ewerton Rios Filho, Vertinho, dando continuidade ao governo de Hamilton Rios mantendo o grupo dos “vermelhos” no poder com uma política assistencialista em que se estrutura o sistema coronelístico. Mesmo com Vertinho no poder público efetivo quem vai manter a administração do poder local com a sua influência política é Hamilton Rios. Hamilton Rios continua sendo a conexão entre os dois mundos do coronelismo, o mundo do vaqueiro e o mundo do governador. Mundos políticos que se relacionam na manutenção do coronelismo em Conceição do Coité.
  • 36. 36 CONCLUSÃO O coronelismo é um tema que traçou diversos caminhos teóricos, da história factual a análise sociológica. Cada uma destas dimensões epistemológicas deu a sua devida colaboração historiográfica como registro de uma época e como análise de uma estrutura política que ainda faz parte do nosso cotidiano. O coronelismo é um conjunto de políticas assistencialistas que são geridas por uma autoridade local, o coronel, e que este mantêm o seu poder político estabelecido através da relação pessoal com seus eleitores e da negociação eleitoral com o Estado em busca de verbas. O coronelismo não é um sistema político fechado, mas uma estrutura social e política complexa que foi capaz de se adaptar as mudanças estruturais que ocorreram na sociedade brasileira. O coronel é o grande personagem histórico desta história, pode ser Seu Mota ou Hamilton Rios, não importa, quem controla a cidade com a sua presença e liderança é o coronel. Seu Mota, em 1930, já era um coronel comerciante que influenciava politicamente na cidade a partir do seu próprio comércio. A estratégia política que manteve a sua oligarquia muito tempo no poder foi a sua capacidade de dividir o poder local com os seus parentes e partidários, dando a eles o controle da máquina pública. No entanto, o poder político de Seu Mota estava acima do cargo de prefeito ou de intendente, ele controlava politicamente a cidade utilizando a sua influência econômica. Seu Mota foi um coronel de patente e de poder que não usava a patente mas soube usar muito bem o seu poder mantendo o seu grupo político no poder executivo municipal por 40 anos. Hamilton Rios surgiu como um adversário político do grupo do Seu Mota e com uma política agressiva de assistencialismo conseguiu acabar com estes 40 anos de hegemonia política de Seu Mota. As estratégias políticas de Hamilton Rios foram muito mais agressivas que as de Seu Mota. Enquanto Seu Mota estruturava sua política clientelista na compra de votos no período de campanha e no desenvolvimento de associações culturais, Hamilton Rios
  • 37. 37 construiu o seu poder político através de uma ostensiva manutenção de um assistencialismo diário, em que as pessoas não tem acesso a serviços públicos de qualidade e dependem dos seus favores para adquirirem serviços e produtos. Este tipo de clientelismo é uma mudança significativa na caracterização do coronelismo em Conceição do Coité. Hamilton Rios também administrou o poder local de uma forma diferente da de Seu Mota. Ele centralizava as decisões políticas e mantinha os seus partidários como executores das decisões tomadas. Seu Mota apesar de também centralizar as decisões tentava dividir o seu poder com os seus partidários, preferia tomar as decisões nos bastidores. A postura política de Mitinho era outra, ele só indicava outro candidato a prefeitura porque a legislação não permitia reeleição, porque o candidato do grupo era ele. Hamilton Rios era um coronel sem patente mas que tinha muito poder e exerceu este poder quase como um coronel de patente. Muitas destas características do coronelismo ainda podem ser percebidas em nossa sociedade porque as políticas públicas básicas ainda não atingem a todos igualmente. Desta forma, parte da população ainda necessita pedir favores a políticos que negociam estes pedidos com os votos destas pessoas. A barganha entre políticos ainda faz parte da nossa cultura política, o prefeito negocia obras para a sua cidade em troca de apoio eleitoral ao governo do Estado. E ainda há uma dificuldade muito grande em separar no poder executivo municipal a esfera pública da privada. Mesmo que tenha havido muitas mudanças e adaptações o sistema coronelístico em Conceição do Coité manteve a sua estrutura básica desenvolvida a partir do clientelismo que alimenta a dependência econômica dos eleitores em relação ao coronel e a dependência política do coronel em relação aos eleitores. O coronelismo em Coité se transformou, mas ainda preserva muito da originalidade estabelecida por Leal. Esta transformação se estabelece a partir de novas estratégias políticas para a manutenção do coronelismo como forma dominante de poder na política local de Conceição do Coité.
  • 38. 38 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRAGA, Antonio Mendes da Costa. Liderança e Carisma em Padre Cícero: Um padre coronel? In: _________ Padre Cícero: sociologia de um Padre, antropologia de um santo. Rio de Janeiro: Edusc, 2008. BURSZTYN, Marcel. O Poder dos Donos - Planejamento e Clientelismo no Nordeste. Petrópolis: Vozes, 1984. BURKE, Peter; PAULA, Sergio Goes de. O que é história cultural?. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2005. CARVALHO, José Murilo de. Mandonismo, Coronelismo, Clientelismo: Uma Discussão Conceitual. Dados, Rio de Janeiro, v. 40, n. 2, 1997 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S001152581997000 200003&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 01 out. 2009. CARVALHO, José Murilo de. Metaformoses do Coronel. Disponível em <http://www.ppghis.ifcs.ufrj.br/media/carvalho_metamorfoses_coronel.pdf> Acesso em: 18 set. 2009. FAORO, Raymundo. Os donos do poder: Formação do patronato político brasileiro. 3 ed. São Paulo: Globo, 2001. FLAMARION, Ciro Cardoso. VAINFAS, Ronaldo. (orgs.) Domínios da história: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997. FOUCAULT, Michel. A Microfísica do poder. 10. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1992. GARCIA, Maria Tereza. Do coronelismo de enxada ao coronelismo das câmeras e microfones: a influência do voto nas mãos dos latifundiários e empresários. Disponível em: < http://www.mercadoideias.com.br/mercado /artigos/coronelismo.pdf> Acesso em: 08 jul. 2009. JANOTTI, Maria de Lourdes M. O coronelismo: uma política de compromissos. 3 ed. São Paulo: Brasiliense, 1984.
  • 39. 39 LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, Enxada e Voto: O município e o regime representativo no Brasil. 4 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. LEMENHE, Maria Auxiliadora. Família, Tradição e Poder: o(caso) dos cornéis. São Paulo: Annablume, 1995. MACHADO, Paulo Pinheiro. Coronelismo “sem” enxada e “sem” voto: aspectos políticos e sociais do coronelismo no planalto catarinense Trajetos, Fortaleza, n. 4. Disponível em: http://www.historia.ufc.br/admin/upload/Trajetos4.pdf Acesso em: 15 out. 2009. MARTINS, José de Souza. O poder do atraso: Ensaios de Sociologia da História Lenta. São Paulo: Hucitec, 1994. MAYER, Arno J. A força da tradição: a persistência do antigo regime (1848- 1914). São Paulo: Companhia das Letras, 1990. OLIVEIRA, Vanilson. Conceição do Coité e os Sertões dos Tocós. Conceição do Coité: Clip, 2002. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. O coronelismo numa interpretação sociológica. In: O mandonismo local na vida política brasileira. São Paulo: Alfa-Omega, 1976. RIOS, Iara Nancy Araújo. Nossa Senhora da Conceição do Coité: poder e política no século XIX. 2003. 154f. Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2003. SANTIN, Janaína. Rigo. O tratamento histórico do poder local no Brasile e a gestão democrática municipal. In: II Seminário Nacional Movimentos Sociais, Participação e Democracia, 1, 2007, Florianóplis. Anais... Florianóplis, UFSC, 2007. p. 323-340 SANTOS, Francisco de Assis Alves. Na mira dos coronéis: cartas a um professor coiteense. 2000. 70f. Monografia (Especialização em Estudos Literários) – Universidade do Estado da Bahia, Conceição do Coité, 2000.
  • 40. 40 SANTOS, Suzy dos. Coronelismo, radiodifusão e voto: a nova face de um velho conceito. Disponível em: < http: //www.enecos.org.br/xivcobrecos/textos %20site/comunica%C3%A7%C3%A3o/com%205%20Coronelismo.doc.> Aces so em: 20 maio 2008. PANG, Eul Soo. Coronelismo e Oligarquias (1889-1934). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. VILAÇA, Marcos Vinicios e ALBUQUERQUE, Roberto Cavalcanti. Coronel, coronéis. 3ª ed., Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1988.
  • 41. 41 FONTES DOCUMENTOS DIVERSOS Livro de Tombo da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição do Coité. Jornal Tribuna Coiteense, Conceição do Coité, edições quinzenais de 1987 a 1990. ENTREVISTAS Evódio Ducas Resedá. Conceição do Coité, 23 de julho de 2009. Orlando Matos Barreto. Conceição do Coité. 25 de julho de 2009. Vanilson Lopes de Oliveira. Conceição do Coité. 19 de maio de 2009