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A crônica, na maioria dos casos, é um texto curto e narrado em primeira pessoa, ou
seja, o próprio escritor está "dialogando" com o leitor. Isso faz com que a crônica
apresente uma visão totalmente pessoal de um determinado assunto: a visão do cronista.
Geralmente, as crônicas apresentam linguagem simples, espontânea, situada entre a
linguagem oral e a literária. Isso contribui também para que o leitor se identifique com o
cronista, que acaba se tornando o porta-voz daquele que lê.
A crônica jornalística traz
para o jornal a leveza do
gênero crônica que leva o
leitor a refletir criticamente,
descontraidamente sobre os
fatos da vida contemporânea.
O que dizem sobre a crônica?
“A crônica é um passeio literário. Uma volta pela cidade, pelo
pensamento, ao redor do quarto ou do próprio umbigo. È um gênero
vira-latas: pode nascer de uma notícia engravidada por um conto, de
um ensaio apaixonado por uma poesia ou ser filha de uma piada
com pai desconhecido. Já disseram que a crônica é um gênero a é.
É amicíssima da lentidão e do imprevisto. Nasce da desatenção do
todo, do esbarrão no detalhe. Brota do olhar meio zarolho que não
repara no Coliseu, mas no pipoqueiro da calçada em frente. Sabe
aquela criança que as tias achavam meio boba, de boca aberta,
olhando o vazio? Virou cronista. Não é exclusividade brasileira.
Cronista era quem escrevia para El Rey contando o que seus súditos
andavam fazendo lá onde Judas perdeu as botas (...)”. Antonio
Prata.
 “A crônica é um gênero essencialmente
literário e não jornalístico, é o pingente
do jornal. Se o pingente é uma jóia ou
não, depende do estilo do cronista.
Crônica não é notícia, embora possa
refletir sobre o noticiário. Pode também
criar sua própria realidade e ser
livremente ficcional. A crônica revela
um único e soberano ponto de vista: a
do cronista (...)”. João Paulo Cuenca.
AS FORMAS COMPOSICIONAIS DA CRÔNICA
O caráter episódico
Os episódios casuais do cotidiano vivido por seres comuns é que se
tornam os heróis do gênero.
 O lirismo
Modo como o cronista exprime seu jeito pessoal de ver as coisas.
O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e
silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar;
de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no
cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical,
depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das
mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de
solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços
luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos
de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às
vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres;
mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro
de casa o amor pode acabar; (...)
 
(trecho da crônica O amor acaba. Paulo Mendes Campos. In: O amor acaba. Editora
Civilização Brasileira – Rio de Janeiro, 1999, pág. 21)
O texto vira uma “prosa à toa”, “uma conversa fiada”. Há crônicas totalmente escritas em
forma de diálogo. Na verdade, a reprodução do diálogo é a forma mais fiel de representação de
uma situação presente. O diálogo faz a cena acontecer em nossa frente.
 
O diálogo
Ela: Você me ama mais do que tudo?
Ele: Amo.
Ela: Paixão, paixão?
Ele: Paixão, paixão mesmo.
Ela: Mais do que tudo no mundo todo?
Ele: No mundo todo e fora dele.
Ela: Não acredito.
Ele: Faz um teste.
Ela: Eu ou fios de ovos.
Ele: Você, fácil.
(...)
Ela: Fama e fortuna. A explicação do universo e do mercado de commodities, com
exclusividade. A vida eterna e um cartão de crédito que nunca expira.
Ele: Prefiro você.
Ela: Uma cerveja geladinha. A garrafa chega estalando. No copo, fica com um quarto de
espuma firme. O resto é ela, só ela, dizendo "Vem".
Ele: Hummm...
Ela: Como, hummm? Ela ou eu?
.... Silêncio de 5 segundos ...
 
Ele: Qual é a marca?
Ela: Seu cretino!
 
(trecho da crônica Amor, de Luís Fernando Veríssimo. Retirado do site:
http://www.gsdr.dc.ufscar.br/~wesley/verissimo_amor.html, capturado em 15/04/2005)
O poema –crônica
O cronista pode até construir suas frases como se fossem versos, sugerindo nele um flash da
situação. Lidos como poema, os versos descaracterizam o tom da poesia, que sempre foi
dominada pelo tom sério.
POEMA TIRADO DE UMA NOTÍCIA DE JORNAL
João Gostoso era carregador de feira-livre e morava no
morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
(In: Poesia Completa e Prosa. Nova Aguilar, Rio de Janeiro.1993)
 
 
A palavra liberada: do humor à sátira
 Um tipo de narrativa tão aberta à experimentação da linguagem não poderia de modo algum
reprimir as expressões da linguagem popular cotidiana como palavrões, gírias, xingamentos e
alguns tipos de expressões grosseiras.
(...)
E essa vem direto de Minas: "Justiça manda vigilante dividir o prêmio da Mega Sena com a
ex-mulher". Azar na sorte. Isso é o que eu chamo de ter azar na sorte! Diretas Já! Eu quero
votar pra papa. Se der um papa argentino, o Corinthians já tem estádio: o Vaticano! E, se der o
d. Claudio, ele é gaúcho! Papa gaúcho! Vai liberar o churrasco na Semana Santa! E, se der o papa
alemão, o Rubinho vai chegar em segundo. E eu já disse que papa argentino não dá certo porque
o cara já pensa que é Deus! E por que não o padre Marcelo pra papa? AGITA ROMA! Missa com
trio elétrico e aquele monte de cardeal velhinho dançando a "Aeróbica de Jesus". É mole? É
mole, mas sobe!
(...)
( trecho retirado do Caderno Ilustrada da Folha de S. Paulo, de 15/04/2005. caputrado
do site: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1504200503.htm)
"Ovo"
(Luis Fernando Verissimo)
Agora essa. Descobriram que ovo, afinal, não faz mal.
Durante anos, nos aterrorizaram. Ovos eram bombas de
colesterol. Não eram apenas desaconselháveis, eram mortais.
Você podia calcular em dias o tempo de vida perdido cada
vez que comia uma gema.
Cardíacos deviam desviar o olhar se um ovo fosse servido
num prato vizinho: ver ovo fazia mal. E agora estão dizendo
que foi tudo um engano, o ovo é inofensivo. O ovo é incapaz
de matar uma mosca.
Sei não, mas me devem algum tipo de indenização. Não se renuncia a
pouca coisa quando se renuncia ao ovo frito. Dizem que a única coisa
melhor do que ovo frito é sexo. A comparação é difícil. Não existe nada
no sexo comparável a uma gema deixada intacta em cima do arroz
depois que a clara foi comida, esperando o momento de prazer supremo
quando o garfo romperá a fina membrana que a separa do êxtase e ela
se desmanchará, sim, se desmanchará, e o líquido quente e viscoso
escorrerá e se espalhará pelo arroz como as gazelas douradas entre os
lírios de Gileade nos cantares de Salomão, sim, e você levará o arroz à
boca e o saboreará até o último grão molhado, sim, e depois ainda
limpará o prato com pão. Ou existe e eu é que tenho andado na turma
errada. O fato é que quero ser ressarcido de todos os ovos fritos que
não comi nestes anos de medo inútil.
E os ovos mexidos, e os ovos quentes, e as omeletes
babadas, e os toucinhos do céu, e, meu Deus, os fios
de ovos. Os fios de ovos que não comi para não morrer
dariam várias voltas no globo. Quem os trará de volta?
E pensar que cheguei a experimentar ovo artificial,
uma pálida paródia de ovo que, esta sim, deve ter me
roubado algumas horas de vida a cada garfada infeliz.
Ovo frito na manteiga! O rendado marrom das bordas
tostadas da clara, o amarelo provençal da gema... Eu
sei, eu sei. Manteiga ainda não foi liberada. Mas é só
uma questão de tempo.

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A crônica

  • 1.
  • 2. A crônica, na maioria dos casos, é um texto curto e narrado em primeira pessoa, ou seja, o próprio escritor está "dialogando" com o leitor. Isso faz com que a crônica apresente uma visão totalmente pessoal de um determinado assunto: a visão do cronista. Geralmente, as crônicas apresentam linguagem simples, espontânea, situada entre a linguagem oral e a literária. Isso contribui também para que o leitor se identifique com o cronista, que acaba se tornando o porta-voz daquele que lê.
  • 3. A crônica jornalística traz para o jornal a leveza do gênero crônica que leva o leitor a refletir criticamente, descontraidamente sobre os fatos da vida contemporânea.
  • 4. O que dizem sobre a crônica? “A crônica é um passeio literário. Uma volta pela cidade, pelo pensamento, ao redor do quarto ou do próprio umbigo. È um gênero vira-latas: pode nascer de uma notícia engravidada por um conto, de um ensaio apaixonado por uma poesia ou ser filha de uma piada com pai desconhecido. Já disseram que a crônica é um gênero a é. É amicíssima da lentidão e do imprevisto. Nasce da desatenção do todo, do esbarrão no detalhe. Brota do olhar meio zarolho que não repara no Coliseu, mas no pipoqueiro da calçada em frente. Sabe aquela criança que as tias achavam meio boba, de boca aberta, olhando o vazio? Virou cronista. Não é exclusividade brasileira. Cronista era quem escrevia para El Rey contando o que seus súditos andavam fazendo lá onde Judas perdeu as botas (...)”. Antonio Prata.
  • 5.  “A crônica é um gênero essencialmente literário e não jornalístico, é o pingente do jornal. Se o pingente é uma jóia ou não, depende do estilo do cronista. Crônica não é notícia, embora possa refletir sobre o noticiário. Pode também criar sua própria realidade e ser livremente ficcional. A crônica revela um único e soberano ponto de vista: a do cronista (...)”. João Paulo Cuenca.
  • 6. AS FORMAS COMPOSICIONAIS DA CRÔNICA O caráter episódico Os episódios casuais do cotidiano vivido por seres comuns é que se tornam os heróis do gênero.  O lirismo Modo como o cronista exprime seu jeito pessoal de ver as coisas.
  • 7. O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; (...)   (trecho da crônica O amor acaba. Paulo Mendes Campos. In: O amor acaba. Editora Civilização Brasileira – Rio de Janeiro, 1999, pág. 21)
  • 8. O texto vira uma “prosa à toa”, “uma conversa fiada”. Há crônicas totalmente escritas em forma de diálogo. Na verdade, a reprodução do diálogo é a forma mais fiel de representação de uma situação presente. O diálogo faz a cena acontecer em nossa frente.   O diálogo Ela: Você me ama mais do que tudo? Ele: Amo. Ela: Paixão, paixão? Ele: Paixão, paixão mesmo. Ela: Mais do que tudo no mundo todo? Ele: No mundo todo e fora dele. Ela: Não acredito. Ele: Faz um teste. Ela: Eu ou fios de ovos. Ele: Você, fácil. (...)
  • 9. Ela: Fama e fortuna. A explicação do universo e do mercado de commodities, com exclusividade. A vida eterna e um cartão de crédito que nunca expira. Ele: Prefiro você. Ela: Uma cerveja geladinha. A garrafa chega estalando. No copo, fica com um quarto de espuma firme. O resto é ela, só ela, dizendo "Vem". Ele: Hummm... Ela: Como, hummm? Ela ou eu? .... Silêncio de 5 segundos ...   Ele: Qual é a marca? Ela: Seu cretino!   (trecho da crônica Amor, de Luís Fernando Veríssimo. Retirado do site: http://www.gsdr.dc.ufscar.br/~wesley/verissimo_amor.html, capturado em 15/04/2005)
  • 10. O poema –crônica O cronista pode até construir suas frases como se fossem versos, sugerindo nele um flash da situação. Lidos como poema, os versos descaracterizam o tom da poesia, que sempre foi dominada pelo tom sério. POEMA TIRADO DE UMA NOTÍCIA DE JORNAL João Gostoso era carregador de feira-livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. (In: Poesia Completa e Prosa. Nova Aguilar, Rio de Janeiro.1993)  
  • 11.   A palavra liberada: do humor à sátira  Um tipo de narrativa tão aberta à experimentação da linguagem não poderia de modo algum reprimir as expressões da linguagem popular cotidiana como palavrões, gírias, xingamentos e alguns tipos de expressões grosseiras. (...) E essa vem direto de Minas: "Justiça manda vigilante dividir o prêmio da Mega Sena com a ex-mulher". Azar na sorte. Isso é o que eu chamo de ter azar na sorte! Diretas Já! Eu quero votar pra papa. Se der um papa argentino, o Corinthians já tem estádio: o Vaticano! E, se der o d. Claudio, ele é gaúcho! Papa gaúcho! Vai liberar o churrasco na Semana Santa! E, se der o papa alemão, o Rubinho vai chegar em segundo. E eu já disse que papa argentino não dá certo porque o cara já pensa que é Deus! E por que não o padre Marcelo pra papa? AGITA ROMA! Missa com trio elétrico e aquele monte de cardeal velhinho dançando a "Aeróbica de Jesus". É mole? É mole, mas sobe! (...) ( trecho retirado do Caderno Ilustrada da Folha de S. Paulo, de 15/04/2005. caputrado do site: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1504200503.htm)
  • 12. "Ovo" (Luis Fernando Verissimo) Agora essa. Descobriram que ovo, afinal, não faz mal. Durante anos, nos aterrorizaram. Ovos eram bombas de colesterol. Não eram apenas desaconselháveis, eram mortais. Você podia calcular em dias o tempo de vida perdido cada vez que comia uma gema. Cardíacos deviam desviar o olhar se um ovo fosse servido num prato vizinho: ver ovo fazia mal. E agora estão dizendo que foi tudo um engano, o ovo é inofensivo. O ovo é incapaz de matar uma mosca.
  • 13. Sei não, mas me devem algum tipo de indenização. Não se renuncia a pouca coisa quando se renuncia ao ovo frito. Dizem que a única coisa melhor do que ovo frito é sexo. A comparação é difícil. Não existe nada no sexo comparável a uma gema deixada intacta em cima do arroz depois que a clara foi comida, esperando o momento de prazer supremo quando o garfo romperá a fina membrana que a separa do êxtase e ela se desmanchará, sim, se desmanchará, e o líquido quente e viscoso escorrerá e se espalhará pelo arroz como as gazelas douradas entre os lírios de Gileade nos cantares de Salomão, sim, e você levará o arroz à boca e o saboreará até o último grão molhado, sim, e depois ainda limpará o prato com pão. Ou existe e eu é que tenho andado na turma errada. O fato é que quero ser ressarcido de todos os ovos fritos que não comi nestes anos de medo inútil.
  • 14. E os ovos mexidos, e os ovos quentes, e as omeletes babadas, e os toucinhos do céu, e, meu Deus, os fios de ovos. Os fios de ovos que não comi para não morrer dariam várias voltas no globo. Quem os trará de volta? E pensar que cheguei a experimentar ovo artificial, uma pálida paródia de ovo que, esta sim, deve ter me roubado algumas horas de vida a cada garfada infeliz. Ovo frito na manteiga! O rendado marrom das bordas tostadas da clara, o amarelo provençal da gema... Eu sei, eu sei. Manteiga ainda não foi liberada. Mas é só uma questão de tempo.