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             8 de Março
Tens agora outro rosto, outra beleza:

Um rosto que é preciso imaginar,

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Mãos irreais que tornam irreal

O barro que nos foge da retina.

Barro que em ti passou de luz carnal

A bruma feminina….


Mas nesse novo encanto

Te conjuro

Que permaneças.

Distante e preservada na distância.

Olímpica recusa, disfarçada

De terrena promessa

Feita aos olhos tentados e descrentes.

Nenhum mito regressa…

Todas as deusas são mulheres ausentes…
Miguel Torga
Coimbra, 20 de Março de 1963
Diário IX
A Mulher Mais Bonita do Mundo


estás tão bonita hoje. quando digo que nasceram
flores novas na terra do jardim, quero dizer
que estás bonita.

entro na casa, entro no quarto, abro o armário,
abro uma gaveta, abro uma caixa onde está o teu fio
de ouro.


entre os dedos, seguro o teu fino fio de ouro, como
se tocasse a pele do teu pescoço.

há o céu, a casa, o quarto, e tu estás dentro de mim.

estás tão bonita hoje.

os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.

estás dentro de algo que está dentro de todas as
coisas, a minha voz nomeia-te para descrever
a beleza.

os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.

de encontro ao silêncio, dentro do mundo,
estás tão bonita é aquilo que quero dizer.

José Luís Peixoto, in "A Casa, a Escuridão"
Nunca Envelhecerás

       A tua cabeleira
é já grisalha ou mesmo branca?
Para mim é toda loira
e circundada de estrelas.
Sobre ela
o tempo não poisou
o inverno dos anos
que se escoam maldosos
insinuando rugas, fios brancos...

       Ao teu corpo colou-se
o vestido de seda,
como segunda pele;

entre os seios pequenos
viceja perene
um raminho de cravos...

Pétalas esguias
emolduram-te os dedos...
E revoadas de aves
traçam ao teu redor
volutas de primavera.

Nunca envelhecerás na minha lembrança!...

Saúl Dias, in "Sangue"
A Luz que Vem das Pedras


A luz que vem das pedras, do íntimo da
pedra,
tu a colhes, mulher, a distribuis
tão generosa e à janela do mundo.

O sal do mar percorre a tua língua;
não são de mais em ti as coisas mais.
Melhor que tudo, o voo dos insectos,
o ritmo nocturno do girar dos bichos,
a chave do momento em que começa o
canto
da ave ou da cigarra
— a mão que tal comanda no mesmo
gesto fere
a corda do que em ti faz acordar
os olhos densos de cada dia um só.
Quem está salvando nesta respiração
boca a boca real com o universo?

Pedro Tamen, in "Agora, Estar"
És Aquela que tudo te entristece
Irrita e amargura, tudo humilha;
Aquela a quem a Mágoa chamou filha;
A que aos homens e a Deus nada merece.

Aquela que o sol claro entenebrece


A que nem sabe a estrada que ora trilha,
Que nem um lindo amor de maravilha
Sequer deslumbra, e ilumina e aquece!

Mar-Morto sem marés nem ondas largas,
A rastejar no chão como as mendigas,
Todo feito de lágrimas amargas!

És ano que não teve Primavera...
Ah! Não seres como as outras raparigas
Ó Princesa Encantada da Quimera!...

Florbela Espanca, in "Livro de Sóror
Saudade"
Retrato de Mulher Triste

Vestiu-se para um baile que não há.
Sentou-se com suas últimas jóias.
E olha para o lado, imóvel.

Está vendo os salões que se acabaram,
embala-se em valsas que não dançou,
levemente sorri para um homem.
O homem que não existiu.

Se alguém lhe disser que sonha,
levantará com desdém o arco das sobrancelhas,
Pois jamais se viveu com tanta plenitude.

Mas para falar de sua vida
tem de abaixar as quase infantis pestanas,
e esperar que se apaguem duas infinitas lágrimas.

Cecília Meireles, in 'Poemas (1942-1959)'
Há uma Mulher a Morrer Sentada

Há uma mulher a morrer sentada
Uma planta depois de muito tempo
Dorme sossegadamente
Como cisne que se prepara
Para cantar

Ela está sentada à janela. Sei que nunca
Mais se levantará para abri-la
Porque está sentada do lado de fora
E nenhum de nós pode trazê-la para dentro

Ela é tão bonita ao relento
Inesgotável

É tão leve como um cisne em pensamento
E está sobre as águas
É um nenúfar, é um fluir já anterior
Ao tempo

Sei que não posso chamá-la das margens

Daniel Faria, in "Dos Líquidos"
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  • 1. 8 poemas 8 mulheres 8 imagens Dia Internacional da Mulher 8 de Março
  • 2. Tens agora outro rosto, outra beleza: Um rosto que é preciso imaginar, E uma beleza mais furtiva ainda… Assim te modelaram, caprichosas, As sombras da lonjura, Mãos irreais que tornam irreal O barro que nos foge da retina. Barro que em ti passou de luz carnal A bruma feminina…. Mas nesse novo encanto Te conjuro Que permaneças. Distante e preservada na distância. Olímpica recusa, disfarçada De terrena promessa Feita aos olhos tentados e descrentes. Nenhum mito regressa… Todas as deusas são mulheres ausentes… Miguel Torga Coimbra, 20 de Março de 1963 Diário IX
  • 3. A Mulher Mais Bonita do Mundo estás tão bonita hoje. quando digo que nasceram flores novas na terra do jardim, quero dizer que estás bonita. entro na casa, entro no quarto, abro o armário, abro uma gaveta, abro uma caixa onde está o teu fio de ouro. entre os dedos, seguro o teu fino fio de ouro, como se tocasse a pele do teu pescoço. há o céu, a casa, o quarto, e tu estás dentro de mim. estás tão bonita hoje. os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios. estás dentro de algo que está dentro de todas as coisas, a minha voz nomeia-te para descrever a beleza. os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios. de encontro ao silêncio, dentro do mundo, estás tão bonita é aquilo que quero dizer. José Luís Peixoto, in "A Casa, a Escuridão"
  • 4. Nunca Envelhecerás A tua cabeleira é já grisalha ou mesmo branca? Para mim é toda loira e circundada de estrelas. Sobre ela o tempo não poisou o inverno dos anos que se escoam maldosos insinuando rugas, fios brancos... Ao teu corpo colou-se o vestido de seda, como segunda pele; entre os seios pequenos viceja perene um raminho de cravos... Pétalas esguias emolduram-te os dedos... E revoadas de aves traçam ao teu redor volutas de primavera. Nunca envelhecerás na minha lembrança!... Saúl Dias, in "Sangue"
  • 5. A Luz que Vem das Pedras A luz que vem das pedras, do íntimo da pedra, tu a colhes, mulher, a distribuis tão generosa e à janela do mundo. O sal do mar percorre a tua língua; não são de mais em ti as coisas mais. Melhor que tudo, o voo dos insectos, o ritmo nocturno do girar dos bichos, a chave do momento em que começa o canto da ave ou da cigarra — a mão que tal comanda no mesmo gesto fere a corda do que em ti faz acordar os olhos densos de cada dia um só. Quem está salvando nesta respiração boca a boca real com o universo? Pedro Tamen, in "Agora, Estar"
  • 6. És Aquela que tudo te entristece Irrita e amargura, tudo humilha; Aquela a quem a Mágoa chamou filha; A que aos homens e a Deus nada merece. Aquela que o sol claro entenebrece A que nem sabe a estrada que ora trilha, Que nem um lindo amor de maravilha Sequer deslumbra, e ilumina e aquece! Mar-Morto sem marés nem ondas largas, A rastejar no chão como as mendigas, Todo feito de lágrimas amargas! És ano que não teve Primavera... Ah! Não seres como as outras raparigas Ó Princesa Encantada da Quimera!... Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"
  • 7. Retrato de Mulher Triste Vestiu-se para um baile que não há. Sentou-se com suas últimas jóias. E olha para o lado, imóvel. Está vendo os salões que se acabaram, embala-se em valsas que não dançou, levemente sorri para um homem. O homem que não existiu. Se alguém lhe disser que sonha, levantará com desdém o arco das sobrancelhas, Pois jamais se viveu com tanta plenitude. Mas para falar de sua vida tem de abaixar as quase infantis pestanas, e esperar que se apaguem duas infinitas lágrimas. Cecília Meireles, in 'Poemas (1942-1959)'
  • 8. Há uma Mulher a Morrer Sentada Há uma mulher a morrer sentada Uma planta depois de muito tempo Dorme sossegadamente Como cisne que se prepara Para cantar Ela está sentada à janela. Sei que nunca Mais se levantará para abri-la Porque está sentada do lado de fora E nenhum de nós pode trazê-la para dentro Ela é tão bonita ao relento Inesgotável É tão leve como um cisne em pensamento E está sobre as águas É um nenúfar, é um fluir já anterior Ao tempo Sei que não posso chamá-la das margens Daniel Faria, in "Dos Líquidos"
  • 9. Eu não dei por esta mudança Tão simples, tão certa, tão fácil. Em que espelho Ficou perdida A minha face? Cecília Meireles