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Título: A Psicologia para além das práticas do mercado formal de trabalho: análise de
uma experiência pragmática de cooperativismo
João César de Freitas Fonseca1
Mara Marçal Sales2
Introdução:
O trabalho em bases cooperadas tem ganhado destaque na atualidade. Trata-se de
um tema cuja história não é recente: pensadores como Saint-Simon e Fourier, e Owen e
Proudhon já enfocavam a autogestão respectivamente nos séculos XVIII e XIX, a partir dos
referenciais sócio-históricos de então. Agora, contudo, frente aos dilemas apresentados
pelas incisivas modificações verificáveis nos processos de trabalho e pela necessidade de
construção de alternativas para enfrentamento do desemprego, este tema mostra-se
renovado. Este interesse, despertado a partir da constatação do aguçamento dos processos
de exclusão social, parte de atores muito diferentes, como sugere Lisboa (2000): por um
lado, organizações como o Banco Mundial e o Sebrae e, por outro, no Brasil, instâncias
governamentais ligadas a projetos políticos da esquerda, em destaque o próprio governo
federal na gestão Lula, através da criação da Secretaria Nacional de Economia Solidária.
Além destes, o cooperativismo permanece na pauta de movimentos sociais, sindicatos e
ongs, dentre outros3.
A expansão das unidades cooperadas, bem como a crescente visibilidade obtida pelo
tema são, assim, constatações inelutáveis. Contudo, a este crescimento corresponde
igualmente a extensão das dúvidas, desafios e impasses sobre as formas de constituição,
funcionamento e possibilidades integração ao mercado de iniciativas de trabalho
cooperado. O presente artigo apresenta os resultados de uma pesquisa realizada em uma
cooperativa de serviços da cidade de Belo Horizonte. Trata-se de um estudo de caso cujos
objetivos abrangeram: investigar a forma de organização da cooperativa focalizada,
analisando convergências e dissonâncias entre os princípios do cooperativismo e as práticas
efetivas; investigar o sentido atribuído ao trabalho pelos cooperados e analisar as
possibilidades de atuação da Psicologia no campo do trabalho em bases cooperadas.

1

Professor Adjunto IV da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – Núcleo São Gabriel/ Doutor em
Educação – UFMG.
2
Professora Adjunta IV da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – Núcleo São Gabriel/ Doutora
em Educação – UFMG.
A pesquisa contou também com a participação de cinco alunas da Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais/ Núcleo São Gabriel: Jéssica Damasceno, Josiane Kelly da Cruz, Ligiane Regina da Silva, Priscila
Tatiane Oliveira Vale e Tatiana Seabra de Souza.
3
Deve-se, contudo, observar que estes diferentes atores sociais apresentam compreensões distintas sobre o
tema cooperativismo, podendo este ser tomado por alguns como uma simples estratégia para geração de
trabalho e renda, enquanto outros apresentam-no também como uma possibilidade de construção de relações
de trabalho diferenciadas e mais autônomas, interpretação esta com conotação política direta.
1
A Psicologia para além das práticas do mercado formal de trabalho:
Um breve olhar pelas experiências e pesquisas que buscam inter-relacionar a
atuação da Psicologia ao campo associativo/cooperado, nos mostra uma pluralidade de
acepções e a conseqüente concomitância de práticas diferenciadas. Alguns estudos neste
campo voltam-se, basicamente, para a análise das dimensões psicossociais presentes nas
experiências de trabalho em cooperativas. Assim, Kemp (2001), realizou uma pesquisa
segundo a qual:
(Constata-se a) existência de poucas análises que enfocam a maneira como os
trabalhadores envolvidos nas práticas associativas da economia solidária, se
inserem no concreto cotidiano dessas experiências. Parte-se (neste estudo) do
pressuposto de que as alterações provocadas pelas práticas associativas da
economia solidária não significam somente modificações nos processos
produtivos, mas são, talvez antes de tudo, maneiras de reconstituição do laço
social e das identidades sócio-profissionais (...). (KEMP, 2001)

Já Trajano (2002), em pesquisa realizada em uma cooperativa que atua na área de
caldeiraria, buscou analisar

como se configuram as relações entre a organização

autogestionária do trabalho e processos de construção identitária. Outra corrente de
análises, contudo, busca refletir especificamente sobre as práticas e propostas da Psicologia
frente ao florescimento de iniciativas de base associada e cooperada. Para estes
pesquisadores, faz-se necessário refletir sobre as possibilidades em si de inserção da
Psicologia neste campo, atualizando-se a questão sobre as formas e objetivos de atuação.
Assim, Coutinho et al (2005), endossando uma prática vinculada à Psicologia Comunitária,
indicam que a atuação nesta área deve buscar re-significar a identidade profissional dos
cooperados e fortalecer os vínculos grupais. Para os autores:
Os métodos tradicionais da psicologia do trabalho, construídos nos setores de
recursos humanos das organizações de grande porte, não são compatíveis com as
organizações solidárias, daí decorre a necessidade de desenvolvimento de
metodologias oriundas da psicologia comunitária e centradas nos processos
grupais. (COUTINHO et al, 2005, p. 5)

O fundamento da atuação da Psicologia, para estes autores, deve buscar contribuir
para a organização e a gestão dos empreendimentos solidários, utilizando, para isso, de
técnicas de dinâmicas de grupo adaptadas à escolarização e características gerais dos
membros da cooperativa4.
Já Fávero e Eidelwin (2004), relatando o trabalho desenvolvido junto a uma
cooperativa de feirantes, ressaltam a relevância da atuação da Psicologia na construção de
uma participação realmente consciente dos cooperados. Para elas:
A intervenção psicológica pode se constituir em uma estratégia importante de
escuta, que possibilite o esclarecimento de dúvidas, a formação de cultura de
participação e relacionamento econômico dentro da proposta da economia
4

Deve-se, contudo, apontar, na experiência descrita pelos autores, a abordagem de temas tradicionais da
Psicologia Organizacional, como comunicação, liderança e tomada de decisões em grupo em concomitância a
conteúdos mais próximos ao campo da economia popular solidária como cooperação/solidariedade e
identidade profissional e coletiva.

2
solidária, prevenindo problemas futuros de não adequação de alguns feirantes à
organização da cooperativa. (FÁVERO e EIDELWIN, 2004, p. 5)

Veronese e Guareschi (2005) buscam, através de um estudo de caso sobre a
trajetória de uma cooperativa de distribuição de produtos, contribuir para a inserção da
psicologia social crítica no campo do trabalho autogestionário. Retomando Santos (2001),
os autores indicam a necessidade de transformação das relações de poder: de uma relação
de dominação, para relações de autoridade compartilhada. Para Santos, citado por Veronese
e Guareschi (2005):
(...) o que é mais característico das nossas sociedades é o fato de a desigualdade
material estar profundamente entrelaçada com a desigualdade não-material,
sobretudo com a educação desigual, a desigualdade das capacidades
representacionais/comunicativas e expressivas e ainda a desigualdade de
oportunidades e de capacidades para organizar interesses e para participar
autonomamente em processos de tomada de decisão significativa. (SANTOS,
2000, p. 249)

A partir desta consideração, os autores entendem que a “psicologia social crítica do
trabalho poderia ocupar-se de participar (...) das transformações da subjetividade, na micropolítica das relações laborais” (VERONESE e GUARESCHI, 2005, p. 11). Desta forma, há
a defesa da adoção de práticas dialógicas, cabendo ao campo psi a busca por uma inserção
em espaços já existentes, como as assembléias, reuniões e iniciativas de formação
profissional. Para os autores, faz-se necessária a efetivação de programas de educação para
a autogestão, nos quais a Psicologia estaria intrinsecamente envolvida. Eles também se
voltam para o trabalho com grupos e propõem como temas profícuos para a Psicologia no
campo da autogestão: consumo ético, produção associativa, comércio justo, dentre outros.
Este brevíssimo olhar para experiências de articulação da Psicologia ao campo do
cooperativismo nos indica que, pelo menos até o momento, a ênfase tem recaído nos
aspectos de formação e fortalecimento grupal, com uso de recursos e fundamentação
teórica típicos das áreas da Psicologia Social Crítica e Psicologia Comunitária. Desta
forma, os estudos e análises dão relevo a duas considerações: (1ª) a participação em
experiências de base cooperada de trabalho exige o desenvolvimento de atributos
cognitivos que garantam uma real compreensão sobre o funcionamento desta forma de
organização e (2ª) em concomitância ao entendimento das bases do cooperativismo, é
necessário o desenvolvimento de competências e habilidades que permitam a atuação nesta
modalidade laboral. Tais dimensões, embora diferentes, são intrinsecamente articuladas e
desdobram-se em inúmeros desafios, dentre os quais, citamos: refletir sobre a posição que
toma as atuais relações de trabalho, forjadas no escopo do modelo capitalista, como
naturais e imutáveis; analisar de forma realística e crítica as possibilidades de inserção da
iniciativa cooperada em um mercado fortemente competitivo e construir práticas e acepções
que expressem efetivamente relações autônomas, democráticas e solidárias de trabalho.

3
A Magnólia Cooperativa de Prestação de Serviços: uma interpretação pragmática
para o cooperativismo
A partir da análise das perspectivas que preponderam no campo da atuação da
Psicologia frente à economia popular solidária, faz-se necessário apresentar os dados obtidos
em campo5.
A Magnólia Cooperativa de Prestação de Serviços6 foi fundada em 2002. A
iniciativa para a organização da entidade partiu da mobilização empreendida por dois
trabalhadores de um tradicional hotel da capital mineira que apostavam na possibilidade de
poder compatibilizar o exercício no mercado formal com a atuação autônoma. A cooperativa
atua na área de hotelaria e restaurante. Atualmente, a entidade tem como clientes os
principais hotéis da cidade de Belo Horizonte e possui quase 700 cooperados cadastrados 7,
distribuídos em funções como camareira, serviços gerais, e garçom8.
Deste pequeno histórico pode-se apontar uma primeira observação sobre a
configuração assumida pela Magnólia. Frequentemente, toma-se as cooperativas como uma
opção para segmentos sociais de baixa renda, atingidos pelo desemprego estrutural. Aqui,
pelo menos em seu influxo primeiro, esta iniciativa econômica buscava não estritamente
combater o desemprego, mas aumentar a renda de pessoas que já mantinham um vínculo no
mercado formal de trabalho. Mesmo que este não seja o movimento que prepondere hoje
entre os associados, deve-se indicar que a origem da iniciativa constitui-se como uma
marca muito expressiva e que, inclusive, parece compor uma relação de interdependência
entre o mercado formal e a atuação via cooperativa. Este nascimento assim configurado já
nos aponta a ênfase em um olhar pragmático, que vislumbra no trabalho cooperado as
possibilidades de aumento de renda, para os cooperados, e de desoneração de encargos
trabalhistas, para as empresas contratantes.
Este viés pragmático revela-se também em duas outras ações da entidade: (a) serão
acionados para trabalhar preferencialmente aqueles cooperados indicados por hotéis ou
5

Esta pesquisa foi desenvolvida a partir de um estágio supervisionado e envolveu uma equipe da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais – núcleo São Gabriel. Ela teve cunho qualitativo e foi realizada no
segundo semestre de 2005 e no primeiro semestre de 2006. A coleta de dados fez uso dos seguintes
instrumentos: entrevistas semi-estruturadas (com dez cooperados e com dois diretores da cooperativa),
observação participante nas rotinas de admissão de novos cooperados/convocação dos membros para prestação
de serviços e análise dos instrumentos e formulários utilizados pela cooperativa.
6
Para resguardar a identidade da organização, adotamos um nome fictício para a cooperativa.
7
O número de cooperados ativos, contudo, gira em torno dos 250 profissionais.
8
Deve-se notar o grande crescimento apresentado pela Magnólia que, hoje com cinco anos de existência, conta
com expressivo número de associados e com uma inserção muito positiva no mercado de prestação de serviços.
Tal fato é decorrente de dois fatores: (1º) ela constitui-se como uma das poucas cooperativas de serviços que
volta sua atuação para o mercado da hotelaria em Belo Horizonte; (2º) a capital mineira tem investido esforços
no sentido de tornar a cidade um destino mais atraente, especialmente para o chamado turismo de negócios. A
Magnólia conta, então, com um campo muito fértil para seu desenvolvimento. Segundo a Belo Horizonte
Turismo - BELOTUR (2005), a indústria hoteleira em Belo Horizonte, atualmente, conta com 72 hotéis e
apresenta um total de 8.585 unidades habitacionais. Desde o ano de 1997 até os dias atuais, percebe-se um
crescimento muito significativo na oferta de estabelecimentos hoteleiros na cidade evidenciado por um aumento
de mais de 184% no número de hotéis desde então.

4
restaurantes (ou seja, o princípio da livre adesão é constrangido pela prática da indicação,
de forma que as organizações clientes podem ter ao seu serviço profissionais que lhes
interessam, sem arcar com os custos da contração formal) e (b) o investimento na difusão
dos princípios do cooperativismo é praticamente nulo.9
Outro ponto que deve ser analisado para obtermos uma melhor caracterização da
cooperativa estudada, refere-se à participação cotidiana dos sócios-cooperados. A
observação participante mostrou ser excepcional o comparecimento de cooperados à sede.
Mesmo para a realização de assembléias há normalmente um pequeno quorum: em uma
delas, dos cerca de 250 cooperados ativos, somente 27 compareceram10.
Ora, a caracterização aqui apresentada nos aponta ser a Magnólia uma iniciativa que
não coaduna efetivamente os princípios do cooperativismo à sua prática. De fato, deve-se
apontar que seu funcionamento está muito próximo a uma empresa, não obstante ela se
apresentar de modo diferente. No cotidiano, a Magnólia é coordenada por dois diretores e
quatro funcionários (uma recepcionista, duas estagiárias e uma auxiliar administrativo). Em
decorrência, especialmente, dos bons acordos para prestação de serviços já firmados no
contexto belorizontino, ela representa para os associados uma chance concreta de inserção
no mercado, com obtenção de uma renda superior ao geralmente praticado 11. Contudo, as
bases em si do cooperativismo ficam ofuscadas pela oportunidade comercial. Não há
investimento na formação dos associados, não há ações que fomentem a intercooperação e,
especialmente, a gestão democrática não se constitui como um norte de atuação. Não há,
ainda, qualquer mínimo esboço de reflexão sobre os impasses e desafios do atual modelo de
trabalho assalariado, ficando patente o desinteresse pela promoção política dos sócioscooperados. Assim, a Magnólia, embora formalmente se constitua como uma cooperativa,
na prática, mostra-se distante deste universo.
Se a Magnólia mostra-se afastada dos princípios do cooperativismo, ela também,
por outro lado, não absorveu rotinas típicas das organizações que têm fins lucrativos (e não

9

A insuficiência deste investimento fica patente na análise empreendida no processo de entrada de novos
sócios-cooperados: para tornar-se um cooperado, o interessado participa de uma palestra sobre o tema,
conduzida por um funcionário administrativo da Magnólia. Ao final, o novo cooperado deve responder a um
questionário sobre os princípios do cooperativismo e este documento, denominado “Curso de
Cooperativismo”, ficará arquivado na entidade. Contudo, a estranheza e incompreensão frente ao tema são
constantes e, aliadas à baixa escolaridade de parte significativa dos trabalhadores, causam dificuldades
recorrentes para preenchimento do formulário – mesmo considerando-se que se trata de um questionário
simplificado. Tais dificuldades são normalmente superadas pela ajuda oferecida pelos funcionários da
cooperativa, que sopram as respostas aos novos sócios. Assim, se as palestras constituem-se como o único
instrumento utilizado para esclarecimento quanto ao cooperativismo, os questionários, mesmo que
flagrantemente manipulados, funcionam como atestado de compreensão dos princípios, regras e
compromissos que ordenam o funcionamento da Magnólia. A superficialidade desta estratégia fica patente
quando, ao se analisar as entrevistas realizadas, pode-se identificar a repetição em uníssono dos conteúdos
empobrecidos das palestras. Desta forma, quando solicitados a esclarecer o que entendiam por cooperativa, os
entrevistados invariavelmente reproduzem: “conjunto de pessoas reunidas pelo mesmo objetivo.”
10
Cabe observar que nesta assembléia foi estipulada uma multa de R$ 50,00 a ser aplicada a aqueles que não
comparecerem às futuras assembléias – medida cuja eficácia ainda está por ser avaliada.
11
Embora certamente não sejam todos os associados que alcancem este patamar, a média de remuneração dos
garçons que atuam pela Magnólia , por exemplo, chega a R$ 1 200,00 – montante bem superior aos R$ 700,00
praticados no mercado formal.
5
estamos dizendo aqui que isto seria desejável), muito embora seu funcionamento possa ser,
em vários aspectos, comparado a estas.
Como exemplo, enfocaremos o acompanhamento das atividades desempenhadas
pelos cooperados. O fato de não buscar a maximização de lucros para terceiros não isenta
as cooperativas de enfrentar temas como a qualidade do serviço prestado e a avaliação de
desempenho dos cooperados – até porque elas atuam em um mercado extremamente
competitivo e querem obter ganhos para seus associados. Contudo, tal questão ganha
contornos especiais na medida em que as bases do cooperativismo assentam-se em
princípios como a gestão democrática e a solidariedade12. Na Magnólia, frente ao
significativo número de hotéis e profissionais envolvidos, a cooperativa elaborou um
quadro que busca registrar a performance e acompanhar o número de vezes que cada
associado é acionado mensalmente. A análise deste instrumento mostra uma distorção
crassa. Trata-se da utilização de palavras de cunho depreciativo para registrar o
desempenho dos associados e a conseqüente consideração desta avaliação como algo
interno, sob a qual o cooperado não tem ciência e não pode contrapor-se. Assim,
encontramos fichas que descreviam cooperados como “bomba”, “nó cego” e “toupeira”,
dentre outras alcunhas desrespeitosas13. O cooperado, não sendo informado sobre esta
avaliação, passava simplesmente a não ser acionado.
Mais uma vez, nota-se a não observância de um princípio básico do cooperativismo
– o investimento na formação de seus associados. Agora, contudo, está posto outra
dimensão igualmente ignorada: a ética no trato com os pares. A Magnólia não somente
mostra-se

claudicante

no

tocante

ao

desenvolvimento

de

uma

estratégia

de

acompanhamento dos cooperados. Ao estigmatizar os sócios sobre quem pesam avaliações
negativas, ela compromete seriamente sua atuação, e o que poderia ser tomado como mero
amadorismo, acaba por resvalar o campo da pura grosseria. A cooperativa, supostamente
constituída para apoiar e criar oportunidades para seus sócios, inverte completamente esta
lógica, não dá voz aos cooperados e toma as considerações dos contratantes como bússulas
exclusivas de suas decisões.
Em uma cooperativa genuína seria de se supor que os processos de
acompanhamento do desempenho dos profissionais fosse um dos grandes motes para a
organização grupal, havendo a necessidade de serem construídos pactos, a partir de
indicadores democraticamente elaborados, sobre os procedimentos para acompanhar,
mensurar e, se necessário, buscar modificar a atuação dos sócios. A questão do
12

De fato, a pretensão freqüentemente aventada nas empresas de cunho capitalista de fazer da avaliação de
desempenho não um instrumento coercitivo e de pressão, mas sim um elemento mais consentido e
participativo, no qual o avaliado e o avaliador pudessem realizar um diagnóstico conjunto, traçando metas
realísticas para o desempenho, aproxima-se dos contornos de atuação propugnados pelo cooperativismo.
Restam, contudo, dúvidas sobre como operacionalizar tais pontos de convergência.
13

Tais avaliações eram fruto do contato com as empresas que repassavam as suas considerações sobre o
trabalhador. O funcionário da cooperativa interpretava as reclamações e problemas, condensando-os nestes
rótulos grosseiros.
6
acompanhamento, não se deve esquecer, tem o potencial de incidir diretamente sobre a
freqüência com que um profissional é chamado a trabalhar e, portanto, vincula-se
diretamente à remuneração. Contudo, o caráter pragmático da Magnólia silencia este
desafio, transformando o desempenho insuficiente em motivo de exclusão oficiosa.
Desta forma, a investigação sobre a forma de organização da cooperativa focalizada
mostra grandes dissonâncias entre os princípios do cooperativismo e as práticas efetivas. As
rotinas da entidade e as posturas dos integrantes convergem para uma consideração do
trabalho cooperado como um artifício voltado estritamente para o aumento da renda –
proposta que pode representar melhorias financeiras para os envolvidos, mas que não se
coaduna com o cerne da proposta de autogestão.
A constatação da configuração assumida pela Magnólia, embora certamente
frustrante, não deve ser tomada como um caso atípico. De fato, a análise do trabalho em
bases cooperadas mostra que sob a denominação genérica cooperativa, encontra-se uma
polissemia de experiências, sentidos e perspectivas. Lechat (2002), ao tratar das origens da
economia solidária e de seus conceitos, chama a atenção para os diferentes termos
existentes e os significados diferenciados. No Brasil, Tiriba (1998), ao tratar das diversas
experiências econômicas levadas a cabo por setores populares, nos aponta a existência de
diferentes denominações: economia popular, economia solidária, associativa, informal,
subterrânea ou economia invisível. Para a autora, as organizações econômicas populares
(OEPs), embora apresentem inúmeras diferenças, têm um traço em comum: “(Elas) podem
muitas vezes representar os germes de uma nova cultura do trabalho, apresentando-se como
alternativa à crise do emprego e/ou como parte integrante do projeto maior de
transformação da sociedade”. (TIRIBA, 1998, p. 191)
Lima (2004) indica a existência de dois grandes tipos de cooperativas:

as

"pragmáticas" (ou cooperfraudes), que funcionam terceirizadas para empresas ou integram
programas estatais de geração de renda e são desvinculadas dos princípios do movimento
cooperativista; e as cooperativas "defensivas", formadas a partir de movimentos de
trabalhadores para manutenção do emprego em fábricas em situação falimentar, ou de
programas governamentais de geração de renda para populações pobres e que se enquadram
na proposta de "economia solidária", na qual os valores da autogestão dos trabalhadores, o
combate ao desemprego e o desenvolvimento sustentável são norteadores14.
Ora, a Magnólia não se constitui como uma representante das Organizações
Econômicas Populares (TIRIBA, 1998), e nem, tampouco, pode ser incluída no campo da
economia popular solidária. Desta forma, a Magnólia atua basicamente como uma vertente
pragmática, realizando o que Lisboa (2000), de forma contundente, chama de flexibilidade
espúria. Ela é bem sucedida ao propiciar ganhos compensadores aos associados – embora,
14

Além destes tipos principais, o autor indica a existência ainda de outros três tipos de cooperativas: as
chamadas Endowed Co-operatives, as cooperativas "alternativas" e as cooperativas de "geração de renda".

7
obviamente, não para todos. Mas não realiza de forma concreta as transformações nas
relações de trabalho que caracterizam o campo do cooperativismo.
E a Psicologia frente a este quadro?
Frente a este diagnóstico, é imprescindível fazermos uma pequena reflexão sobre a
ação possível da Psicologia em uma cooperativa que se mostra pouco afeita aos princípios
mesmos do cooperativismo. Os estudos sobre a inserção da Psicologia em cooperativas
enfatizam o fato de tratar-se de atividades cercadas por grandes desafios, especialmente por
envolver, em grande medida, o investimento, utópico para alguns, em outras formas de
relações de trabalho. Uma cooperativa pragmática como a estudada, não apresenta esta
delicadeza. O trabalho fundado na organização grupal só teria sentido se buscasse resgatar
(ou inaugurar) os fundamentos do cooperativismo, tendo como objetivo implicar os
associados na assunção genuína do projeto cooperado. Trata-se, obviamente, de uma
proposta com grandes chances de ser refutada por organizações assim postadas. Na outra
ponta, haveria a possibilidade de se buscar alternativas para as rotinas de acompanhamento
e desenvolvimento dos cooperados, mas aqui a mera transposição de práticas adotadas nas
empresas tradicionais não se mostra condizente com as balizas do cooperativismo. A
atuação da Psicologia, ao menos se observadas as bases éticas e resguardados os
fundamentos do movimento cooperativista, mostra-se então praticamente inviabilizado no
contexto de iniciativas pragmáticas – a não ser que se observe a disposição

para a

mudança. Assim, a entrada neste espaço de trabalho requer dos profissionais de Psicologia
uma inevitável postura crítica,

capaz de discernir sobre as formas assumidas pela

cooperativa em questão, visto que, sob guarda-chuva “cooperativa”, acham-se
empreendimentos de variadas configurações.
Contudo, deve-se indicar que a realização da presente pesquisa possibilitou o
descortinamento de um grande ponto ainda pouco explorado. Trata-se da necessidade de
maior aproximação entre aportes da Psicologia do Trabalho e da Psicologia Organizacional.
Ou, dito de outra forma, se os estudos realizados até o momento concentram-se em aspectos
como a organização grupal e o fomento à assunção do projeto e das práticas cooperativas,
quase nada foi descrito quanto ao enfrentamento de questões afeitas aos processos de
gestão de pessoas presentes nas rotinas de produção ou prestação de serviço em contextos
cooperados.
A atuação dos psicólogos na área de trabalho tem, ainda hoje, nas empresas
tradicionais, como atividades básicas os procedimentos de recrutamento, seleção, avaliação
de pessoas e os processos de treinamento e desenvolvimento. Se tomarmos o
cooperativismo como foco, é evidente que tais práticas não podem ser simplesmente

8
transplantadas para as unidades cooperadas. Assim, resta analisar o que pode ser feito e o
formato que estas iniciativas devem apresentar.
Desta forma, tal cenário aponta duas grandes frentes de atuação para a Psicologia
Organizacional e do Trabalho: uma, já razoavelmente explorada na literatura da área,
relaciona-se ao campo dos fenômenos grupais, na condução de processos que possam
contribuir para uma real entendimento

dos princípios do cooperativismo e dos

fundamentos da autogestão. Outra relaciona-se à adaptação de rotinas de gestão de pessoas
que, não se propondo a simplesmente reproduzir as práticas típicas das organizações que
pautam-se exclusivamente pela busca do lucro, possam contribuir para melhoria do
desempenho tanto dos indivíduos quanto do coletivo de trabalho. Assim, a performance da
Psicologia no campo do trabalho cooperado exige a articulação de saberes e fazeres que se
apoiam em atributos teóricos abrangentes e, em certo sentido, podem favorecer uma maior
convergência entre aportes da Psicologia Organizacional e da Psicologia do Trabalho.
Por certo, não estamos desconsiderando aqui os tensionamentos que existem entre
estas diferentes áreas da Psicologia, nem tampouco a diferenciação dos enfoques e
abordagens teóricas. Assim, não se está aqui propondo um ecletismo teórico, raso em
fundamentação conceitual e superficial na justaposição de técnicas. Ao contrário, para nós
está claro o tamanho do desafio. Mas, indubitavelmente, deve-se apontar que quando
trabalhadores assumem as rédeas de suas iniciativas laborais, a Psicologia aplicada ao
trabalho deve confrontar-se com temas que são freqüentemente focalizados pela Psicóloga
Organizacional: motivação, treinamento, acompanhamento de desempenho, etc. Como
gerar vantagens para os sócios-cooperados e como enfrentar um mercado assustadoramente
competitivo, resguardando-se os imperativos da máxima participação, da democracia e do
espírito solidário? Esta é a questão apresentada pela expansão e maior profissionalização
dos empreendimentos cooperativos e que, certamente, desafiará cada vez mais a atuação da
Psicologia no espaço cooperativo.
Finalmente, essa experiência revalidou a convicção dos autores de que é possível e
necessário propor modelos alternativos de gestão dos trabalhadores, que considerem a
dimensão política e privilegiem o protagonismo como possibilidade efetiva de intervenção.
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Script=sci_arttext&pid= S0102-71822004000300005&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 0102-7182.
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9
LECHAT, Noëlle Marie Paule. As raízes históricas da economia solidária
e seu aparecimento no Brasil. Palestra proferida na UNICAMP por ocasião do II Seminário de incubadoras
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LIMA, Jacob Carlos. O trabalho autogestionário em cooperativas de produção: o paradigma revisitado. Rev.
bras. Ci. Soc. [online]. out. 2004, vol.19, no.56 [citado 12 Maio 2006], p.45-62. Disponível na World Wide
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TRAJANO, Ana Rita Castro. Trabalho e identidade em novas configurações socioprodutivas: autogestão,
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VERONESE, Marília Veríssimo e GUARESCHI, Pedrinho. Possibilidades solidárias e emancipatórias do
trabalho: campo fértil para a prática da psicologia social crítica. Psicol. Soc. [online]. maio/ago. 2005, vol.17,
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A Psicologia para além das práticas do mercado formal

  • 1. Título: A Psicologia para além das práticas do mercado formal de trabalho: análise de uma experiência pragmática de cooperativismo João César de Freitas Fonseca1 Mara Marçal Sales2 Introdução: O trabalho em bases cooperadas tem ganhado destaque na atualidade. Trata-se de um tema cuja história não é recente: pensadores como Saint-Simon e Fourier, e Owen e Proudhon já enfocavam a autogestão respectivamente nos séculos XVIII e XIX, a partir dos referenciais sócio-históricos de então. Agora, contudo, frente aos dilemas apresentados pelas incisivas modificações verificáveis nos processos de trabalho e pela necessidade de construção de alternativas para enfrentamento do desemprego, este tema mostra-se renovado. Este interesse, despertado a partir da constatação do aguçamento dos processos de exclusão social, parte de atores muito diferentes, como sugere Lisboa (2000): por um lado, organizações como o Banco Mundial e o Sebrae e, por outro, no Brasil, instâncias governamentais ligadas a projetos políticos da esquerda, em destaque o próprio governo federal na gestão Lula, através da criação da Secretaria Nacional de Economia Solidária. Além destes, o cooperativismo permanece na pauta de movimentos sociais, sindicatos e ongs, dentre outros3. A expansão das unidades cooperadas, bem como a crescente visibilidade obtida pelo tema são, assim, constatações inelutáveis. Contudo, a este crescimento corresponde igualmente a extensão das dúvidas, desafios e impasses sobre as formas de constituição, funcionamento e possibilidades integração ao mercado de iniciativas de trabalho cooperado. O presente artigo apresenta os resultados de uma pesquisa realizada em uma cooperativa de serviços da cidade de Belo Horizonte. Trata-se de um estudo de caso cujos objetivos abrangeram: investigar a forma de organização da cooperativa focalizada, analisando convergências e dissonâncias entre os princípios do cooperativismo e as práticas efetivas; investigar o sentido atribuído ao trabalho pelos cooperados e analisar as possibilidades de atuação da Psicologia no campo do trabalho em bases cooperadas. 1 Professor Adjunto IV da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – Núcleo São Gabriel/ Doutor em Educação – UFMG. 2 Professora Adjunta IV da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – Núcleo São Gabriel/ Doutora em Educação – UFMG. A pesquisa contou também com a participação de cinco alunas da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais/ Núcleo São Gabriel: Jéssica Damasceno, Josiane Kelly da Cruz, Ligiane Regina da Silva, Priscila Tatiane Oliveira Vale e Tatiana Seabra de Souza. 3 Deve-se, contudo, observar que estes diferentes atores sociais apresentam compreensões distintas sobre o tema cooperativismo, podendo este ser tomado por alguns como uma simples estratégia para geração de trabalho e renda, enquanto outros apresentam-no também como uma possibilidade de construção de relações de trabalho diferenciadas e mais autônomas, interpretação esta com conotação política direta. 1
  • 2. A Psicologia para além das práticas do mercado formal de trabalho: Um breve olhar pelas experiências e pesquisas que buscam inter-relacionar a atuação da Psicologia ao campo associativo/cooperado, nos mostra uma pluralidade de acepções e a conseqüente concomitância de práticas diferenciadas. Alguns estudos neste campo voltam-se, basicamente, para a análise das dimensões psicossociais presentes nas experiências de trabalho em cooperativas. Assim, Kemp (2001), realizou uma pesquisa segundo a qual: (Constata-se a) existência de poucas análises que enfocam a maneira como os trabalhadores envolvidos nas práticas associativas da economia solidária, se inserem no concreto cotidiano dessas experiências. Parte-se (neste estudo) do pressuposto de que as alterações provocadas pelas práticas associativas da economia solidária não significam somente modificações nos processos produtivos, mas são, talvez antes de tudo, maneiras de reconstituição do laço social e das identidades sócio-profissionais (...). (KEMP, 2001) Já Trajano (2002), em pesquisa realizada em uma cooperativa que atua na área de caldeiraria, buscou analisar como se configuram as relações entre a organização autogestionária do trabalho e processos de construção identitária. Outra corrente de análises, contudo, busca refletir especificamente sobre as práticas e propostas da Psicologia frente ao florescimento de iniciativas de base associada e cooperada. Para estes pesquisadores, faz-se necessário refletir sobre as possibilidades em si de inserção da Psicologia neste campo, atualizando-se a questão sobre as formas e objetivos de atuação. Assim, Coutinho et al (2005), endossando uma prática vinculada à Psicologia Comunitária, indicam que a atuação nesta área deve buscar re-significar a identidade profissional dos cooperados e fortalecer os vínculos grupais. Para os autores: Os métodos tradicionais da psicologia do trabalho, construídos nos setores de recursos humanos das organizações de grande porte, não são compatíveis com as organizações solidárias, daí decorre a necessidade de desenvolvimento de metodologias oriundas da psicologia comunitária e centradas nos processos grupais. (COUTINHO et al, 2005, p. 5) O fundamento da atuação da Psicologia, para estes autores, deve buscar contribuir para a organização e a gestão dos empreendimentos solidários, utilizando, para isso, de técnicas de dinâmicas de grupo adaptadas à escolarização e características gerais dos membros da cooperativa4. Já Fávero e Eidelwin (2004), relatando o trabalho desenvolvido junto a uma cooperativa de feirantes, ressaltam a relevância da atuação da Psicologia na construção de uma participação realmente consciente dos cooperados. Para elas: A intervenção psicológica pode se constituir em uma estratégia importante de escuta, que possibilite o esclarecimento de dúvidas, a formação de cultura de participação e relacionamento econômico dentro da proposta da economia 4 Deve-se, contudo, apontar, na experiência descrita pelos autores, a abordagem de temas tradicionais da Psicologia Organizacional, como comunicação, liderança e tomada de decisões em grupo em concomitância a conteúdos mais próximos ao campo da economia popular solidária como cooperação/solidariedade e identidade profissional e coletiva. 2
  • 3. solidária, prevenindo problemas futuros de não adequação de alguns feirantes à organização da cooperativa. (FÁVERO e EIDELWIN, 2004, p. 5) Veronese e Guareschi (2005) buscam, através de um estudo de caso sobre a trajetória de uma cooperativa de distribuição de produtos, contribuir para a inserção da psicologia social crítica no campo do trabalho autogestionário. Retomando Santos (2001), os autores indicam a necessidade de transformação das relações de poder: de uma relação de dominação, para relações de autoridade compartilhada. Para Santos, citado por Veronese e Guareschi (2005): (...) o que é mais característico das nossas sociedades é o fato de a desigualdade material estar profundamente entrelaçada com a desigualdade não-material, sobretudo com a educação desigual, a desigualdade das capacidades representacionais/comunicativas e expressivas e ainda a desigualdade de oportunidades e de capacidades para organizar interesses e para participar autonomamente em processos de tomada de decisão significativa. (SANTOS, 2000, p. 249) A partir desta consideração, os autores entendem que a “psicologia social crítica do trabalho poderia ocupar-se de participar (...) das transformações da subjetividade, na micropolítica das relações laborais” (VERONESE e GUARESCHI, 2005, p. 11). Desta forma, há a defesa da adoção de práticas dialógicas, cabendo ao campo psi a busca por uma inserção em espaços já existentes, como as assembléias, reuniões e iniciativas de formação profissional. Para os autores, faz-se necessária a efetivação de programas de educação para a autogestão, nos quais a Psicologia estaria intrinsecamente envolvida. Eles também se voltam para o trabalho com grupos e propõem como temas profícuos para a Psicologia no campo da autogestão: consumo ético, produção associativa, comércio justo, dentre outros. Este brevíssimo olhar para experiências de articulação da Psicologia ao campo do cooperativismo nos indica que, pelo menos até o momento, a ênfase tem recaído nos aspectos de formação e fortalecimento grupal, com uso de recursos e fundamentação teórica típicos das áreas da Psicologia Social Crítica e Psicologia Comunitária. Desta forma, os estudos e análises dão relevo a duas considerações: (1ª) a participação em experiências de base cooperada de trabalho exige o desenvolvimento de atributos cognitivos que garantam uma real compreensão sobre o funcionamento desta forma de organização e (2ª) em concomitância ao entendimento das bases do cooperativismo, é necessário o desenvolvimento de competências e habilidades que permitam a atuação nesta modalidade laboral. Tais dimensões, embora diferentes, são intrinsecamente articuladas e desdobram-se em inúmeros desafios, dentre os quais, citamos: refletir sobre a posição que toma as atuais relações de trabalho, forjadas no escopo do modelo capitalista, como naturais e imutáveis; analisar de forma realística e crítica as possibilidades de inserção da iniciativa cooperada em um mercado fortemente competitivo e construir práticas e acepções que expressem efetivamente relações autônomas, democráticas e solidárias de trabalho. 3
  • 4. A Magnólia Cooperativa de Prestação de Serviços: uma interpretação pragmática para o cooperativismo A partir da análise das perspectivas que preponderam no campo da atuação da Psicologia frente à economia popular solidária, faz-se necessário apresentar os dados obtidos em campo5. A Magnólia Cooperativa de Prestação de Serviços6 foi fundada em 2002. A iniciativa para a organização da entidade partiu da mobilização empreendida por dois trabalhadores de um tradicional hotel da capital mineira que apostavam na possibilidade de poder compatibilizar o exercício no mercado formal com a atuação autônoma. A cooperativa atua na área de hotelaria e restaurante. Atualmente, a entidade tem como clientes os principais hotéis da cidade de Belo Horizonte e possui quase 700 cooperados cadastrados 7, distribuídos em funções como camareira, serviços gerais, e garçom8. Deste pequeno histórico pode-se apontar uma primeira observação sobre a configuração assumida pela Magnólia. Frequentemente, toma-se as cooperativas como uma opção para segmentos sociais de baixa renda, atingidos pelo desemprego estrutural. Aqui, pelo menos em seu influxo primeiro, esta iniciativa econômica buscava não estritamente combater o desemprego, mas aumentar a renda de pessoas que já mantinham um vínculo no mercado formal de trabalho. Mesmo que este não seja o movimento que prepondere hoje entre os associados, deve-se indicar que a origem da iniciativa constitui-se como uma marca muito expressiva e que, inclusive, parece compor uma relação de interdependência entre o mercado formal e a atuação via cooperativa. Este nascimento assim configurado já nos aponta a ênfase em um olhar pragmático, que vislumbra no trabalho cooperado as possibilidades de aumento de renda, para os cooperados, e de desoneração de encargos trabalhistas, para as empresas contratantes. Este viés pragmático revela-se também em duas outras ações da entidade: (a) serão acionados para trabalhar preferencialmente aqueles cooperados indicados por hotéis ou 5 Esta pesquisa foi desenvolvida a partir de um estágio supervisionado e envolveu uma equipe da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – núcleo São Gabriel. Ela teve cunho qualitativo e foi realizada no segundo semestre de 2005 e no primeiro semestre de 2006. A coleta de dados fez uso dos seguintes instrumentos: entrevistas semi-estruturadas (com dez cooperados e com dois diretores da cooperativa), observação participante nas rotinas de admissão de novos cooperados/convocação dos membros para prestação de serviços e análise dos instrumentos e formulários utilizados pela cooperativa. 6 Para resguardar a identidade da organização, adotamos um nome fictício para a cooperativa. 7 O número de cooperados ativos, contudo, gira em torno dos 250 profissionais. 8 Deve-se notar o grande crescimento apresentado pela Magnólia que, hoje com cinco anos de existência, conta com expressivo número de associados e com uma inserção muito positiva no mercado de prestação de serviços. Tal fato é decorrente de dois fatores: (1º) ela constitui-se como uma das poucas cooperativas de serviços que volta sua atuação para o mercado da hotelaria em Belo Horizonte; (2º) a capital mineira tem investido esforços no sentido de tornar a cidade um destino mais atraente, especialmente para o chamado turismo de negócios. A Magnólia conta, então, com um campo muito fértil para seu desenvolvimento. Segundo a Belo Horizonte Turismo - BELOTUR (2005), a indústria hoteleira em Belo Horizonte, atualmente, conta com 72 hotéis e apresenta um total de 8.585 unidades habitacionais. Desde o ano de 1997 até os dias atuais, percebe-se um crescimento muito significativo na oferta de estabelecimentos hoteleiros na cidade evidenciado por um aumento de mais de 184% no número de hotéis desde então. 4
  • 5. restaurantes (ou seja, o princípio da livre adesão é constrangido pela prática da indicação, de forma que as organizações clientes podem ter ao seu serviço profissionais que lhes interessam, sem arcar com os custos da contração formal) e (b) o investimento na difusão dos princípios do cooperativismo é praticamente nulo.9 Outro ponto que deve ser analisado para obtermos uma melhor caracterização da cooperativa estudada, refere-se à participação cotidiana dos sócios-cooperados. A observação participante mostrou ser excepcional o comparecimento de cooperados à sede. Mesmo para a realização de assembléias há normalmente um pequeno quorum: em uma delas, dos cerca de 250 cooperados ativos, somente 27 compareceram10. Ora, a caracterização aqui apresentada nos aponta ser a Magnólia uma iniciativa que não coaduna efetivamente os princípios do cooperativismo à sua prática. De fato, deve-se apontar que seu funcionamento está muito próximo a uma empresa, não obstante ela se apresentar de modo diferente. No cotidiano, a Magnólia é coordenada por dois diretores e quatro funcionários (uma recepcionista, duas estagiárias e uma auxiliar administrativo). Em decorrência, especialmente, dos bons acordos para prestação de serviços já firmados no contexto belorizontino, ela representa para os associados uma chance concreta de inserção no mercado, com obtenção de uma renda superior ao geralmente praticado 11. Contudo, as bases em si do cooperativismo ficam ofuscadas pela oportunidade comercial. Não há investimento na formação dos associados, não há ações que fomentem a intercooperação e, especialmente, a gestão democrática não se constitui como um norte de atuação. Não há, ainda, qualquer mínimo esboço de reflexão sobre os impasses e desafios do atual modelo de trabalho assalariado, ficando patente o desinteresse pela promoção política dos sócioscooperados. Assim, a Magnólia, embora formalmente se constitua como uma cooperativa, na prática, mostra-se distante deste universo. Se a Magnólia mostra-se afastada dos princípios do cooperativismo, ela também, por outro lado, não absorveu rotinas típicas das organizações que têm fins lucrativos (e não 9 A insuficiência deste investimento fica patente na análise empreendida no processo de entrada de novos sócios-cooperados: para tornar-se um cooperado, o interessado participa de uma palestra sobre o tema, conduzida por um funcionário administrativo da Magnólia. Ao final, o novo cooperado deve responder a um questionário sobre os princípios do cooperativismo e este documento, denominado “Curso de Cooperativismo”, ficará arquivado na entidade. Contudo, a estranheza e incompreensão frente ao tema são constantes e, aliadas à baixa escolaridade de parte significativa dos trabalhadores, causam dificuldades recorrentes para preenchimento do formulário – mesmo considerando-se que se trata de um questionário simplificado. Tais dificuldades são normalmente superadas pela ajuda oferecida pelos funcionários da cooperativa, que sopram as respostas aos novos sócios. Assim, se as palestras constituem-se como o único instrumento utilizado para esclarecimento quanto ao cooperativismo, os questionários, mesmo que flagrantemente manipulados, funcionam como atestado de compreensão dos princípios, regras e compromissos que ordenam o funcionamento da Magnólia. A superficialidade desta estratégia fica patente quando, ao se analisar as entrevistas realizadas, pode-se identificar a repetição em uníssono dos conteúdos empobrecidos das palestras. Desta forma, quando solicitados a esclarecer o que entendiam por cooperativa, os entrevistados invariavelmente reproduzem: “conjunto de pessoas reunidas pelo mesmo objetivo.” 10 Cabe observar que nesta assembléia foi estipulada uma multa de R$ 50,00 a ser aplicada a aqueles que não comparecerem às futuras assembléias – medida cuja eficácia ainda está por ser avaliada. 11 Embora certamente não sejam todos os associados que alcancem este patamar, a média de remuneração dos garçons que atuam pela Magnólia , por exemplo, chega a R$ 1 200,00 – montante bem superior aos R$ 700,00 praticados no mercado formal. 5
  • 6. estamos dizendo aqui que isto seria desejável), muito embora seu funcionamento possa ser, em vários aspectos, comparado a estas. Como exemplo, enfocaremos o acompanhamento das atividades desempenhadas pelos cooperados. O fato de não buscar a maximização de lucros para terceiros não isenta as cooperativas de enfrentar temas como a qualidade do serviço prestado e a avaliação de desempenho dos cooperados – até porque elas atuam em um mercado extremamente competitivo e querem obter ganhos para seus associados. Contudo, tal questão ganha contornos especiais na medida em que as bases do cooperativismo assentam-se em princípios como a gestão democrática e a solidariedade12. Na Magnólia, frente ao significativo número de hotéis e profissionais envolvidos, a cooperativa elaborou um quadro que busca registrar a performance e acompanhar o número de vezes que cada associado é acionado mensalmente. A análise deste instrumento mostra uma distorção crassa. Trata-se da utilização de palavras de cunho depreciativo para registrar o desempenho dos associados e a conseqüente consideração desta avaliação como algo interno, sob a qual o cooperado não tem ciência e não pode contrapor-se. Assim, encontramos fichas que descreviam cooperados como “bomba”, “nó cego” e “toupeira”, dentre outras alcunhas desrespeitosas13. O cooperado, não sendo informado sobre esta avaliação, passava simplesmente a não ser acionado. Mais uma vez, nota-se a não observância de um princípio básico do cooperativismo – o investimento na formação de seus associados. Agora, contudo, está posto outra dimensão igualmente ignorada: a ética no trato com os pares. A Magnólia não somente mostra-se claudicante no tocante ao desenvolvimento de uma estratégia de acompanhamento dos cooperados. Ao estigmatizar os sócios sobre quem pesam avaliações negativas, ela compromete seriamente sua atuação, e o que poderia ser tomado como mero amadorismo, acaba por resvalar o campo da pura grosseria. A cooperativa, supostamente constituída para apoiar e criar oportunidades para seus sócios, inverte completamente esta lógica, não dá voz aos cooperados e toma as considerações dos contratantes como bússulas exclusivas de suas decisões. Em uma cooperativa genuína seria de se supor que os processos de acompanhamento do desempenho dos profissionais fosse um dos grandes motes para a organização grupal, havendo a necessidade de serem construídos pactos, a partir de indicadores democraticamente elaborados, sobre os procedimentos para acompanhar, mensurar e, se necessário, buscar modificar a atuação dos sócios. A questão do 12 De fato, a pretensão freqüentemente aventada nas empresas de cunho capitalista de fazer da avaliação de desempenho não um instrumento coercitivo e de pressão, mas sim um elemento mais consentido e participativo, no qual o avaliado e o avaliador pudessem realizar um diagnóstico conjunto, traçando metas realísticas para o desempenho, aproxima-se dos contornos de atuação propugnados pelo cooperativismo. Restam, contudo, dúvidas sobre como operacionalizar tais pontos de convergência. 13 Tais avaliações eram fruto do contato com as empresas que repassavam as suas considerações sobre o trabalhador. O funcionário da cooperativa interpretava as reclamações e problemas, condensando-os nestes rótulos grosseiros. 6
  • 7. acompanhamento, não se deve esquecer, tem o potencial de incidir diretamente sobre a freqüência com que um profissional é chamado a trabalhar e, portanto, vincula-se diretamente à remuneração. Contudo, o caráter pragmático da Magnólia silencia este desafio, transformando o desempenho insuficiente em motivo de exclusão oficiosa. Desta forma, a investigação sobre a forma de organização da cooperativa focalizada mostra grandes dissonâncias entre os princípios do cooperativismo e as práticas efetivas. As rotinas da entidade e as posturas dos integrantes convergem para uma consideração do trabalho cooperado como um artifício voltado estritamente para o aumento da renda – proposta que pode representar melhorias financeiras para os envolvidos, mas que não se coaduna com o cerne da proposta de autogestão. A constatação da configuração assumida pela Magnólia, embora certamente frustrante, não deve ser tomada como um caso atípico. De fato, a análise do trabalho em bases cooperadas mostra que sob a denominação genérica cooperativa, encontra-se uma polissemia de experiências, sentidos e perspectivas. Lechat (2002), ao tratar das origens da economia solidária e de seus conceitos, chama a atenção para os diferentes termos existentes e os significados diferenciados. No Brasil, Tiriba (1998), ao tratar das diversas experiências econômicas levadas a cabo por setores populares, nos aponta a existência de diferentes denominações: economia popular, economia solidária, associativa, informal, subterrânea ou economia invisível. Para a autora, as organizações econômicas populares (OEPs), embora apresentem inúmeras diferenças, têm um traço em comum: “(Elas) podem muitas vezes representar os germes de uma nova cultura do trabalho, apresentando-se como alternativa à crise do emprego e/ou como parte integrante do projeto maior de transformação da sociedade”. (TIRIBA, 1998, p. 191) Lima (2004) indica a existência de dois grandes tipos de cooperativas: as "pragmáticas" (ou cooperfraudes), que funcionam terceirizadas para empresas ou integram programas estatais de geração de renda e são desvinculadas dos princípios do movimento cooperativista; e as cooperativas "defensivas", formadas a partir de movimentos de trabalhadores para manutenção do emprego em fábricas em situação falimentar, ou de programas governamentais de geração de renda para populações pobres e que se enquadram na proposta de "economia solidária", na qual os valores da autogestão dos trabalhadores, o combate ao desemprego e o desenvolvimento sustentável são norteadores14. Ora, a Magnólia não se constitui como uma representante das Organizações Econômicas Populares (TIRIBA, 1998), e nem, tampouco, pode ser incluída no campo da economia popular solidária. Desta forma, a Magnólia atua basicamente como uma vertente pragmática, realizando o que Lisboa (2000), de forma contundente, chama de flexibilidade espúria. Ela é bem sucedida ao propiciar ganhos compensadores aos associados – embora, 14 Além destes tipos principais, o autor indica a existência ainda de outros três tipos de cooperativas: as chamadas Endowed Co-operatives, as cooperativas "alternativas" e as cooperativas de "geração de renda". 7
  • 8. obviamente, não para todos. Mas não realiza de forma concreta as transformações nas relações de trabalho que caracterizam o campo do cooperativismo. E a Psicologia frente a este quadro? Frente a este diagnóstico, é imprescindível fazermos uma pequena reflexão sobre a ação possível da Psicologia em uma cooperativa que se mostra pouco afeita aos princípios mesmos do cooperativismo. Os estudos sobre a inserção da Psicologia em cooperativas enfatizam o fato de tratar-se de atividades cercadas por grandes desafios, especialmente por envolver, em grande medida, o investimento, utópico para alguns, em outras formas de relações de trabalho. Uma cooperativa pragmática como a estudada, não apresenta esta delicadeza. O trabalho fundado na organização grupal só teria sentido se buscasse resgatar (ou inaugurar) os fundamentos do cooperativismo, tendo como objetivo implicar os associados na assunção genuína do projeto cooperado. Trata-se, obviamente, de uma proposta com grandes chances de ser refutada por organizações assim postadas. Na outra ponta, haveria a possibilidade de se buscar alternativas para as rotinas de acompanhamento e desenvolvimento dos cooperados, mas aqui a mera transposição de práticas adotadas nas empresas tradicionais não se mostra condizente com as balizas do cooperativismo. A atuação da Psicologia, ao menos se observadas as bases éticas e resguardados os fundamentos do movimento cooperativista, mostra-se então praticamente inviabilizado no contexto de iniciativas pragmáticas – a não ser que se observe a disposição para a mudança. Assim, a entrada neste espaço de trabalho requer dos profissionais de Psicologia uma inevitável postura crítica, capaz de discernir sobre as formas assumidas pela cooperativa em questão, visto que, sob guarda-chuva “cooperativa”, acham-se empreendimentos de variadas configurações. Contudo, deve-se indicar que a realização da presente pesquisa possibilitou o descortinamento de um grande ponto ainda pouco explorado. Trata-se da necessidade de maior aproximação entre aportes da Psicologia do Trabalho e da Psicologia Organizacional. Ou, dito de outra forma, se os estudos realizados até o momento concentram-se em aspectos como a organização grupal e o fomento à assunção do projeto e das práticas cooperativas, quase nada foi descrito quanto ao enfrentamento de questões afeitas aos processos de gestão de pessoas presentes nas rotinas de produção ou prestação de serviço em contextos cooperados. A atuação dos psicólogos na área de trabalho tem, ainda hoje, nas empresas tradicionais, como atividades básicas os procedimentos de recrutamento, seleção, avaliação de pessoas e os processos de treinamento e desenvolvimento. Se tomarmos o cooperativismo como foco, é evidente que tais práticas não podem ser simplesmente 8
  • 9. transplantadas para as unidades cooperadas. Assim, resta analisar o que pode ser feito e o formato que estas iniciativas devem apresentar. Desta forma, tal cenário aponta duas grandes frentes de atuação para a Psicologia Organizacional e do Trabalho: uma, já razoavelmente explorada na literatura da área, relaciona-se ao campo dos fenômenos grupais, na condução de processos que possam contribuir para uma real entendimento dos princípios do cooperativismo e dos fundamentos da autogestão. Outra relaciona-se à adaptação de rotinas de gestão de pessoas que, não se propondo a simplesmente reproduzir as práticas típicas das organizações que pautam-se exclusivamente pela busca do lucro, possam contribuir para melhoria do desempenho tanto dos indivíduos quanto do coletivo de trabalho. Assim, a performance da Psicologia no campo do trabalho cooperado exige a articulação de saberes e fazeres que se apoiam em atributos teóricos abrangentes e, em certo sentido, podem favorecer uma maior convergência entre aportes da Psicologia Organizacional e da Psicologia do Trabalho. Por certo, não estamos desconsiderando aqui os tensionamentos que existem entre estas diferentes áreas da Psicologia, nem tampouco a diferenciação dos enfoques e abordagens teóricas. Assim, não se está aqui propondo um ecletismo teórico, raso em fundamentação conceitual e superficial na justaposição de técnicas. Ao contrário, para nós está claro o tamanho do desafio. Mas, indubitavelmente, deve-se apontar que quando trabalhadores assumem as rédeas de suas iniciativas laborais, a Psicologia aplicada ao trabalho deve confrontar-se com temas que são freqüentemente focalizados pela Psicóloga Organizacional: motivação, treinamento, acompanhamento de desempenho, etc. Como gerar vantagens para os sócios-cooperados e como enfrentar um mercado assustadoramente competitivo, resguardando-se os imperativos da máxima participação, da democracia e do espírito solidário? Esta é a questão apresentada pela expansão e maior profissionalização dos empreendimentos cooperativos e que, certamente, desafiará cada vez mais a atuação da Psicologia no espaço cooperativo. Finalmente, essa experiência revalidou a convicção dos autores de que é possível e necessário propor modelos alternativos de gestão dos trabalhadores, que considerem a dimensão política e privilegiem o protagonismo como possibilidade efetiva de intervenção. Referências: COUTINHO, Maria Chalfin, BEIRAS, Adriano, PICININ, Dhiancarlos et al. Novos caminhos, cooperação e solidariedade: a Psicologia em empreendimentos solidários. Psicol. Soc., jan/abr. 2005, vol.17, no.1, p.7-13. ISSN 0102-7182. FAVERO, Eveline e EIDELWEIN, Karen. Psicologia e cooperetivismo solidário: possíveis (des)encontros. Psicol. Soc. [online]. set./dez. 2004, vol.16, no.3 [citado 26 Maio 2006], p.35-40. Disponível na World Wide Web: <http://www.scielo.br/scielo.php? Script=sci_arttext&pid= S0102-71822004000300005&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 0102-7182. KEMP, Valéria Heloísa. Práticas Associativas da economia solidária e laço social. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/ Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social. São Paulo. Tese de Doutorado, 2001. 9
  • 10. LECHAT, Noëlle Marie Paule. As raízes históricas da economia solidária e seu aparecimento no Brasil. Palestra proferida na UNICAMP por ocasião do II Seminário de incubadoras tecnológicas de cooperativas populares dia 20/03/2002. Disponível em http://www.ecosol.org.br/txt/historic.doc LIMA, Jacob Carlos. O trabalho autogestionário em cooperativas de produção: o paradigma revisitado. Rev. bras. Ci. Soc. [online]. out. 2004, vol.19, no.56 [citado 12 Maio 2006], p.45-62. Disponível na World Wide Web: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010269092004000300004&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 0102-6909. LISBOA, Armando de Melo. Os desafios da economia popular solidária. Cadernos do CEAS, Salvador, n. 189, p. 51-68, 2000. TIRIBA, Lia Vargas. Economia popular e produção de uma nova cultura do trabalho: contradições e desafios frente à crise do trabalho assalariado. In: FRIGOTTO, Gaudêncio (org.). Educação e crise do trabalho: perspectivas de final de século. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998. TRAJANO, Ana Rita Castro. Trabalho e identidade em novas configurações socioprodutivas: autogestão, autonomia e solidariedade em construção. Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Mestrado em Psicologia Social, 2002. VERONESE, Marília Veríssimo e GUARESCHI, Pedrinho. Possibilidades solidárias e emancipatórias do trabalho: campo fértil para a prática da psicologia social crítica. Psicol. Soc. [online]. maio/ago. 2005, vol.17, no.2 [citado 30 Maio 2006], p.58-69. Disponível na World Wide Web: <http://www.scielo.br/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S0102-71822005000200009&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 0102-7182. 10