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GUDYNAS, E. Diez tesis urgentes sobre el nuevo extractivismo: contexto e
demandas bajo el progressismo sudamericano actual. Mesa redonda “Alternativas a
uma economia extrativista”, CAAP y FLACSO, Quito 2009.
O neoextrativismo é um modelo de desenvolvimento focado no crescimento
econômico e baseado na apropriação de recursos naturais, em redes produtivas
pouco diversificadas e na inserção internacional subordinada.
No modelo proposto por Gudynas (2009), o Estado tem um papel ativo, buscando
sua legitimação por meio da apropriação e redistribuição de parte da renda gerada,
apresentando afinidades com a emergência de governos autodefinidos como
progressistas.
 Setores: mineração, petróleo, agroindústria,
monoculturas (ex. eucalipto, soja)
 Financiamento estatal para as obras de infraestrutura,
logística e telecomunicações
 Mercado global como destino da produção
Nos governos progressistas os setores
extrativistas mantém sua importância
e são um dos pilares das estratégias
atuais de desenvolvimento.
 Extrativismo em 1980 e 1990: privatização,
flexibilização das leis trabalhistas, a busca pelo Estado
Mínimo.
 Extrativismo progressista: reestatização de algumas
empresas, fortalecimento de algumas estatais, ajustes
tributários
 Mas, além da propriedade dos recursos, se repetem as
regras e funcionamentos dos processo produtivos
orientados para a competitividade, aumentar a
rentabilidade sob critérios de eficiência clássicos,
incluindo a externalização de impactos sociais e
ambientais.
O estilo de extrativismo progressista
é diferente daquele observado nas
décadas de 1980 e 1990.
O ataque às privatizações se tornou uma das principais armas
eleitorais do PT contra os adversários tucanos, cujo governo
promoveu as maiores vendas de estatais. Mas Dilma teve de lançar
um pacote de concessões de rodovias, ferrovias e aeroportos para
tentar sanar as deficiências de infraestrutura do país.
http://dinheiropublico.blogfolha.uol.com.br/2013/11/22/de-
collor-a-dilma-veja-o-que-cada-presidente-privatizou
Por que as privatizações são
interessantes ao governo?
 Valorização da exportação de matérias-primas: as
metas de exportação se converteram em um fator
chave para a manutenção e expansão do extrativismo
 Velho extrativismo: exportação e mercado mundial
 Neoextrativismo: globalização e competitividade
 Governos progressistas aceitam a institucionalidade do
comércio global e portanto, da OMC, assim, as
exportações passam a desempenhar papel chave nas
decisões produtivas nacionais
 Mesmo existindo “margens de manobra” para as
economias nacionais, os governos progressistas
fortaleceram ainda mais o papel da OMC.
O Estado progressista desempenha
um papel mais ativo com
intervenções tanto diretas como
indiretas sobre os setores extrativos..
 Argentina: manutenção de leis que favorecem os
projetos de mineração, livre transferência de lucros,
dedução de custos investidos em obras de
infraestrutura e de custos de comercialização.
Definição do valor do mineral definido pela própria
empresa com interferência mínima do Estado.
 Chile: aumento de emissão de lucros
 Brasil: mineradoras não pagam ICMS, os royalties e os
valores da contribuição financeira pela exploração
mineira são muito baixos. No Brasil os preços também
são definidos pelas empresas.
O neoextrativismo é funcional à
globalização comercial – financeira e
mantém a inserção internacional
subordinada da América do Sul.
Fonte: http://www.ibram.org.br/sites/1300/1382/00001068.pdf
“A mensagem que queremos passar é
de que queremos que o país cresça,
mas que também cresça em parceria
com as empresas”, disse o secretário
de Petróleo, Gás Natural e
Combustíveis Renováveis do
Ministério de Minas e Energia, Marco
Antônio Martins Almeida, durante
participação no UK Energy in Brazil
2016, evento organizado pela Missão
Diplomática Britânica no Brasil, com
a intenção de promover negócios e
parcerias entre os dois países no
setor de energia.
Fonte:
http://agenciabrasil.ebc.com.br/eco
nomia/noticia/2016-03/governo-
planeja-leilao-de-areas-do-pre-sal-
em-2017
 Mudanças na configuração do espaço.
 Mudanças nos atores que constroem essa nova
configuração e suas formas de relação
 Representa a chegada de um novo processo produtivo
em áreas remotas, algumas delas habitadas por
comunidade rurais e povos indígenas.
 As áreas produtivas são conectadas por corredores de
transporte e de energia a outras zonas do país
buscando os portos de exportação.
 As atividades neoextrativas são resguardadas pelo
próprio Estado por meio de proteção policial e militar
No neoextrativismo persiste a
fragmentação territorial em áreas
desterritorializadas, gerando regiões
conectados com os mercados globais
agravando as tensões territoriais
 Extrativismo como mediador dos planos de
ordenamento territorial, definição de áreas protegidas,
distribuição de terras e reforma agrária
 Para a Comissão Pastoral da Terra (CPT) a reforma
agrária é limitada por dois princípios: não ocorre nos
domínios da agroindústria e só avança onde pode ser
útil ao agronegócio
No neoextrativismo persiste a
fragmentação territorial em áreas
desterritorializadas, gerando regiões
conectados com os mercados globais
agravando as tensões territoriais
O Projeto de Lei – PL
3682 proposto em 2012, de
autoria do deputado Vinicius
Gurgel (PR-AP), que dispõe
sobre mineração em unidades de
conservação, visa alterar o
Sistema Nacional de Unidades
de Conservação – SNUC para
permitir a exploração mineral
em 10% das unidades de
proteção integral. “Esta
legislação proposta contraria
totalmente o princípio que
justifica a criação destas
unidades, além de sobrepor
interesses particulares em
detrimento dos interesses
coletivos de ter um meio
ambiente equilibrado”, diz a
pesquisadora Joice Ferreira.
Fonte:
http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/537538-pl-3682-
propoe-modificacoes-no-snuc-e-impactara-diretamente-
as-areas-protegidas-brasileiras-entrevista-especial-com-
joice-ferreira
http://odia.ig.com.br/portal/cienciaesaude/vidaemeioambiente/briga-por-terras-faz-brasil-ser-l%C3%ADder-em-mortes-1.468831
Onde o Estado não assegura sua presença de forma adequada e homogênea, onde há limitações no
atendimento aos direitos humanos, nos serviços de saúde e na aplicação da justiça, o mesmo Estado se
mostra ativo e presente em apoiar e proteger atividades extrativas para atender ao interesse de alguns
grupos.
 A performance social e ambiental das empresas
petrolíferas estatais é pobre e muito discutível
 Busca de legimatimação do neoextrativismo a partir da
flexibilização das regulações e permissões ambientais
Apesar de algumas mudanças na
propriedade dos recursos, se repetem
as regras e funcionamentos dos
processos produtivos orientados para
a competitividade, aumento da
rentabilidade e o atendimento aos
critérios clássicos da externalização
de impactos sociais e ambientais
Em um contexto em que os governos
flexibilizam as leis em benefício do
neoextrativimo, a quem caberá a
regulação das externalidades ?
 Postula-se que devam ser aceitadas áreas de
“sacrifício” em troca de benefícios para toda a nação
 Os governos se negam a reconhecer as causas dos
prejuízos sociais e ambientais e acusam líderes de
movimentos de defenderem interesses dos partidos da
oposição
Nos governos progressistas os
impactos sociais e ambientais se
mantém e alguns casos são
acentuados e as ações para enfrenta-
los são pouco efetivas.
 Bolsa Fámília x Reforma Agrária: o refluxo do
movimento de massas e o fluxo dos recursos
financeiros governamentais canalizadas para políticas
compensatórias (pacotes de ajuda de todos os tipos...)
estão apaziguando aqueles que lutaram energicamente
pela reforma agrária nos últimos 30 anos. Tudo indica
que os processos estão relacionados.
 Onde não existem compensações sociais as
manifestações contra o neoextrativismo são muito mais
intensas
 Os mecanismos de compensação estão mais presentes
no governos progressista do que nos governos de
direita
 O neoextrativismo tem alcançado legimidade social em
muitos países
O Estado progressista capta uma
maior proporção do excedente e uma
parte é destinada a programas sociais
que geram legitimação, tanto para os
governos como para os
empreendimentos extrativistas e isso
contribui em alguma medida para
apaziguar demais sociais locais.
 2003 – 2007: Néstor Kirchner
 2007 – 2011 e 2011 – 2015 : Cristina Kirchner
 Néstor abraçou a bandeira nacional-desenvolvimentista
quando chegou ao poder e defendia a autonomia em
relação aos Estados Unidos, ao contrário do antecessor
Carlos Menem.
 O aumento da demanda chinesa por commodities
agrícolas beneficiou as exportações e possibilitou a
distribuição de renda e diminuição da miséria e da
pobreza, com programas sociais semelhantes aos
adotados no Brasil
 Em 2008 a diminuição do preço das commodities levou
o governo a enfrentar uma grande crise com o setor
rural, pois o equilíbrio das contas públicas estava
ligado ao mercado exportador da soja
 Os grandes e pequenos produtores reagiram ao
aumento de impostos sobre as sementes gerando uma
grande tensão no governo de Cristina
 Importante destacar que os programas sociais promovidos
durante a “Era K” estavam mais concentrados nas áreas
urbanas e foram pouco efetivos em ajudar os pequenos
produtores rurais
 O que parecia improvável aconteceu: pequenos e grandes
produtores se colocaram contra o governo. Contudo, não
questionavam a expansão da monocultura, sobretudo da
soja, ou incentivo ao uso de transgênicos. O incômodo se
concentrava efetivamente no aumento dos impostos
 Os Kirchner estatizaram empresas de serviços e
nacionalizaram o setor de petróleo. Os correios e a empresa
de água de Buenos Aires foram nacionalizadas primeiro por
Néstor, enquanto Cristina tornou estatais importantes
empresas como as Aerolíneas Argentinas, a petrolífera YPF,
assim como o sistema ferroviário e os de fundos de pensão.
 Nos últimos anos de governo a pobreza, o trabalho informal
e a concentração de renda voltaram a aumentar.
1. Quais os avanços sociais
verificados durante os governos
progressistas?
2. Qual a origem dos recursos que
financiaram alguns desses
avanços socias?
3. Os avanços sociais são
permanentes? Ou seja, a saída da
situação de pobreza se deu de
uma forma libertadora,
promovendo a autonomia ou
existe ainda uma relação de
dependência com o Estado?
1. Qual a relação entre avanços
sociais, aumento de consumo e o
avanço das multinacionais?
1. O que a concentração da
produção de alimentos e
produtos de primeira
necessidade nas mãos de poucas
empresas pode significar a longo
prazo ?
2. Qual a relação entre essa
concentração e o
neoextrativismo?
 Os governos progressistas não superaram a visão
reducionista que iguala crescimento econômico com
desenvolvimento
 A busca na “industrialização” dos recursos naturais
 A chegada de empresas neoextrativistas é apresentada
como sinônimo de progresso e modernidade:
empregos, urbanização, bem-estar social mediante o
crescimento da economia local amparada pelo
financiamento do Estado (isenção fiscal, obras de
infra-estrutura etc)
 Pagamento de royalties, compensações ambientais,
prioridade na contratação como trabalhadores,
garantia de salários etc são argumentos apresentados
às comunidades indígenas
O neoextrativismo é aceito como um
dos motores fundamentais do
crescimento econômico e contribui
para combater a pobreza em escala
nacional.
A Petrobras e a massiva propaganda governamental, assentadas em projeções de
“potenciais” 50, 35 ou 28 bilhões de barris em reservas no pré-sal, geravam uma euforia na
sociedade brasileira. Acenavam para o conjunto da sociedade com a possibilidade de um
“Wellfarstate” brasileiro, onde saúde, educação, moradia, saneamento, reforma agrária,
tudo estaria “garantido” com um Brasil potencia petroleira, um Brasil dos royalties.
Fonte: https://areaslivresdepetroleo.wordpress.com/category/artigos/
 Grupos indígenas e campesinos que se opõe a mineradoras e
empresas de petróleo são chamados de “neoliberais” e ONG’s
que se posicionam a favor do meio ambiente são acusadas de
desorientar a população
 Os governos progressistas são mais tolerantes às ONG’s que se
converteram em executoras das ações sociais (por meio de
convênios financiados pelo Estado)
 Como forma de controle das ONG’s críticas ao atual modelo
de desenvolvimento, o governo do Equador adotou três
medidas:
O neoextrativismo é aceito como um
dos motores fundamentais do
crescimento econômico e contribui
para combater a pobreza em escala
nacional.
1. Criou um ente governamental para coordenar, regular e
vigiar as ONG’s: Secretaria de Povos, Movimentos Sociais e
Participação Cidadã;
2. Decreto executivo sobre participação social de acordo
com a lei da gestão ambiental que restringe os
movimentos às “observações técnicas e
economicamente viáveis”
3. Discurso oficial que deslegitima essas ONG’s, desmonte de
suas estruturas de apoio incluindo sua existência jurídica
 A ideia de progresso continuado, baseado na técnica e
nutrido pelos recursos naturais tem sido a expressão
clássica da modernidade com a qual a esquerda sul-
americana tem corroborado
 Governos progressistas desejam ampliar seu papel de
exportador de matérias primas e consideram que essa
atividade é fundamental para o enfrentamento de
situações de crise
 O crescimento do consumo na China e India é
celebrado por esses governos que lutam pela
liberalização do comércio global para suas
commodities
 Esse discurso sobre o âmbito internacional é quase
oposto ao da esquerda clássica latino-americana
durante boa parte do século XX.
O neoextrativismo é parte de uma
versão contemporânea do
desenvolvimentismo próprio da
América do Sul, onde se mantém o
mito do progresso sob uma nova
hibridação política e cultural
 Neoextrativismo não é uma estratégia neoliberal
similar às observadas em décadas anteriores, também
não é uma promissora alternativa que mecanicamente
melhora a qualidade de vida e promove a autonomia
dos cidadãos
 Existem mudanças sociais, mas a chegada da esquerda
ao poder não significou o surgimento de um paraíso
socialista
 Tenta-se libertar os países da herança neoliberal, mas
não existem conjuntos de propostas alternativas
nítidas
 As externalidades sociais e ambientais são crescentes
 No contexto de crise, os governos progressistas tendem
a aprofundar o estilo extrativista como saída
econômica
Michelle Galvão
PPGA/UNIFOR
Programa de Pós-Graduação em Administração
Universidade de Fortaleza
michellegalvao@unifor.br

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10 teses sobre o neoextrativismo

  • 1.
  • 2. GUDYNAS, E. Diez tesis urgentes sobre el nuevo extractivismo: contexto e demandas bajo el progressismo sudamericano actual. Mesa redonda “Alternativas a uma economia extrativista”, CAAP y FLACSO, Quito 2009.
  • 3. O neoextrativismo é um modelo de desenvolvimento focado no crescimento econômico e baseado na apropriação de recursos naturais, em redes produtivas pouco diversificadas e na inserção internacional subordinada. No modelo proposto por Gudynas (2009), o Estado tem um papel ativo, buscando sua legitimação por meio da apropriação e redistribuição de parte da renda gerada, apresentando afinidades com a emergência de governos autodefinidos como progressistas.
  • 4.
  • 5.
  • 6.  Setores: mineração, petróleo, agroindústria, monoculturas (ex. eucalipto, soja)  Financiamento estatal para as obras de infraestrutura, logística e telecomunicações  Mercado global como destino da produção Nos governos progressistas os setores extrativistas mantém sua importância e são um dos pilares das estratégias atuais de desenvolvimento.
  • 7.
  • 8.  Extrativismo em 1980 e 1990: privatização, flexibilização das leis trabalhistas, a busca pelo Estado Mínimo.  Extrativismo progressista: reestatização de algumas empresas, fortalecimento de algumas estatais, ajustes tributários  Mas, além da propriedade dos recursos, se repetem as regras e funcionamentos dos processo produtivos orientados para a competitividade, aumentar a rentabilidade sob critérios de eficiência clássicos, incluindo a externalização de impactos sociais e ambientais. O estilo de extrativismo progressista é diferente daquele observado nas décadas de 1980 e 1990.
  • 9. O ataque às privatizações se tornou uma das principais armas eleitorais do PT contra os adversários tucanos, cujo governo promoveu as maiores vendas de estatais. Mas Dilma teve de lançar um pacote de concessões de rodovias, ferrovias e aeroportos para tentar sanar as deficiências de infraestrutura do país. http://dinheiropublico.blogfolha.uol.com.br/2013/11/22/de- collor-a-dilma-veja-o-que-cada-presidente-privatizou Por que as privatizações são interessantes ao governo?
  • 10.
  • 11.  Valorização da exportação de matérias-primas: as metas de exportação se converteram em um fator chave para a manutenção e expansão do extrativismo  Velho extrativismo: exportação e mercado mundial  Neoextrativismo: globalização e competitividade  Governos progressistas aceitam a institucionalidade do comércio global e portanto, da OMC, assim, as exportações passam a desempenhar papel chave nas decisões produtivas nacionais  Mesmo existindo “margens de manobra” para as economias nacionais, os governos progressistas fortaleceram ainda mais o papel da OMC. O Estado progressista desempenha um papel mais ativo com intervenções tanto diretas como indiretas sobre os setores extrativos..
  • 12.
  • 13.  Argentina: manutenção de leis que favorecem os projetos de mineração, livre transferência de lucros, dedução de custos investidos em obras de infraestrutura e de custos de comercialização. Definição do valor do mineral definido pela própria empresa com interferência mínima do Estado.  Chile: aumento de emissão de lucros  Brasil: mineradoras não pagam ICMS, os royalties e os valores da contribuição financeira pela exploração mineira são muito baixos. No Brasil os preços também são definidos pelas empresas. O neoextrativismo é funcional à globalização comercial – financeira e mantém a inserção internacional subordinada da América do Sul.
  • 14.
  • 15.
  • 17. “A mensagem que queremos passar é de que queremos que o país cresça, mas que também cresça em parceria com as empresas”, disse o secretário de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis do Ministério de Minas e Energia, Marco Antônio Martins Almeida, durante participação no UK Energy in Brazil 2016, evento organizado pela Missão Diplomática Britânica no Brasil, com a intenção de promover negócios e parcerias entre os dois países no setor de energia. Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br/eco nomia/noticia/2016-03/governo- planeja-leilao-de-areas-do-pre-sal- em-2017
  • 18.
  • 19.  Mudanças na configuração do espaço.  Mudanças nos atores que constroem essa nova configuração e suas formas de relação  Representa a chegada de um novo processo produtivo em áreas remotas, algumas delas habitadas por comunidade rurais e povos indígenas.  As áreas produtivas são conectadas por corredores de transporte e de energia a outras zonas do país buscando os portos de exportação.  As atividades neoextrativas são resguardadas pelo próprio Estado por meio de proteção policial e militar No neoextrativismo persiste a fragmentação territorial em áreas desterritorializadas, gerando regiões conectados com os mercados globais agravando as tensões territoriais
  • 20.  Extrativismo como mediador dos planos de ordenamento territorial, definição de áreas protegidas, distribuição de terras e reforma agrária  Para a Comissão Pastoral da Terra (CPT) a reforma agrária é limitada por dois princípios: não ocorre nos domínios da agroindústria e só avança onde pode ser útil ao agronegócio No neoextrativismo persiste a fragmentação territorial em áreas desterritorializadas, gerando regiões conectados com os mercados globais agravando as tensões territoriais
  • 21.
  • 22. O Projeto de Lei – PL 3682 proposto em 2012, de autoria do deputado Vinicius Gurgel (PR-AP), que dispõe sobre mineração em unidades de conservação, visa alterar o Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC para permitir a exploração mineral em 10% das unidades de proteção integral. “Esta legislação proposta contraria totalmente o princípio que justifica a criação destas unidades, além de sobrepor interesses particulares em detrimento dos interesses coletivos de ter um meio ambiente equilibrado”, diz a pesquisadora Joice Ferreira. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/537538-pl-3682- propoe-modificacoes-no-snuc-e-impactara-diretamente- as-areas-protegidas-brasileiras-entrevista-especial-com- joice-ferreira
  • 23.
  • 25.
  • 26. Onde o Estado não assegura sua presença de forma adequada e homogênea, onde há limitações no atendimento aos direitos humanos, nos serviços de saúde e na aplicação da justiça, o mesmo Estado se mostra ativo e presente em apoiar e proteger atividades extrativas para atender ao interesse de alguns grupos.
  • 27.
  • 28.  A performance social e ambiental das empresas petrolíferas estatais é pobre e muito discutível  Busca de legimatimação do neoextrativismo a partir da flexibilização das regulações e permissões ambientais Apesar de algumas mudanças na propriedade dos recursos, se repetem as regras e funcionamentos dos processos produtivos orientados para a competitividade, aumento da rentabilidade e o atendimento aos critérios clássicos da externalização de impactos sociais e ambientais
  • 29. Em um contexto em que os governos flexibilizam as leis em benefício do neoextrativimo, a quem caberá a regulação das externalidades ?
  • 30.
  • 31.  Postula-se que devam ser aceitadas áreas de “sacrifício” em troca de benefícios para toda a nação  Os governos se negam a reconhecer as causas dos prejuízos sociais e ambientais e acusam líderes de movimentos de defenderem interesses dos partidos da oposição Nos governos progressistas os impactos sociais e ambientais se mantém e alguns casos são acentuados e as ações para enfrenta- los são pouco efetivas.
  • 32.
  • 33.  Bolsa Fámília x Reforma Agrária: o refluxo do movimento de massas e o fluxo dos recursos financeiros governamentais canalizadas para políticas compensatórias (pacotes de ajuda de todos os tipos...) estão apaziguando aqueles que lutaram energicamente pela reforma agrária nos últimos 30 anos. Tudo indica que os processos estão relacionados.  Onde não existem compensações sociais as manifestações contra o neoextrativismo são muito mais intensas  Os mecanismos de compensação estão mais presentes no governos progressista do que nos governos de direita  O neoextrativismo tem alcançado legimidade social em muitos países O Estado progressista capta uma maior proporção do excedente e uma parte é destinada a programas sociais que geram legitimação, tanto para os governos como para os empreendimentos extrativistas e isso contribui em alguma medida para apaziguar demais sociais locais.
  • 34.  2003 – 2007: Néstor Kirchner  2007 – 2011 e 2011 – 2015 : Cristina Kirchner  Néstor abraçou a bandeira nacional-desenvolvimentista quando chegou ao poder e defendia a autonomia em relação aos Estados Unidos, ao contrário do antecessor Carlos Menem.  O aumento da demanda chinesa por commodities agrícolas beneficiou as exportações e possibilitou a distribuição de renda e diminuição da miséria e da pobreza, com programas sociais semelhantes aos adotados no Brasil  Em 2008 a diminuição do preço das commodities levou o governo a enfrentar uma grande crise com o setor rural, pois o equilíbrio das contas públicas estava ligado ao mercado exportador da soja  Os grandes e pequenos produtores reagiram ao aumento de impostos sobre as sementes gerando uma grande tensão no governo de Cristina
  • 35.  Importante destacar que os programas sociais promovidos durante a “Era K” estavam mais concentrados nas áreas urbanas e foram pouco efetivos em ajudar os pequenos produtores rurais  O que parecia improvável aconteceu: pequenos e grandes produtores se colocaram contra o governo. Contudo, não questionavam a expansão da monocultura, sobretudo da soja, ou incentivo ao uso de transgênicos. O incômodo se concentrava efetivamente no aumento dos impostos  Os Kirchner estatizaram empresas de serviços e nacionalizaram o setor de petróleo. Os correios e a empresa de água de Buenos Aires foram nacionalizadas primeiro por Néstor, enquanto Cristina tornou estatais importantes empresas como as Aerolíneas Argentinas, a petrolífera YPF, assim como o sistema ferroviário e os de fundos de pensão.  Nos últimos anos de governo a pobreza, o trabalho informal e a concentração de renda voltaram a aumentar.
  • 36. 1. Quais os avanços sociais verificados durante os governos progressistas? 2. Qual a origem dos recursos que financiaram alguns desses avanços socias? 3. Os avanços sociais são permanentes? Ou seja, a saída da situação de pobreza se deu de uma forma libertadora, promovendo a autonomia ou existe ainda uma relação de dependência com o Estado?
  • 37. 1. Qual a relação entre avanços sociais, aumento de consumo e o avanço das multinacionais?
  • 38. 1. O que a concentração da produção de alimentos e produtos de primeira necessidade nas mãos de poucas empresas pode significar a longo prazo ? 2. Qual a relação entre essa concentração e o neoextrativismo?
  • 39.
  • 40.  Os governos progressistas não superaram a visão reducionista que iguala crescimento econômico com desenvolvimento  A busca na “industrialização” dos recursos naturais  A chegada de empresas neoextrativistas é apresentada como sinônimo de progresso e modernidade: empregos, urbanização, bem-estar social mediante o crescimento da economia local amparada pelo financiamento do Estado (isenção fiscal, obras de infra-estrutura etc)  Pagamento de royalties, compensações ambientais, prioridade na contratação como trabalhadores, garantia de salários etc são argumentos apresentados às comunidades indígenas O neoextrativismo é aceito como um dos motores fundamentais do crescimento econômico e contribui para combater a pobreza em escala nacional.
  • 41. A Petrobras e a massiva propaganda governamental, assentadas em projeções de “potenciais” 50, 35 ou 28 bilhões de barris em reservas no pré-sal, geravam uma euforia na sociedade brasileira. Acenavam para o conjunto da sociedade com a possibilidade de um “Wellfarstate” brasileiro, onde saúde, educação, moradia, saneamento, reforma agrária, tudo estaria “garantido” com um Brasil potencia petroleira, um Brasil dos royalties. Fonte: https://areaslivresdepetroleo.wordpress.com/category/artigos/
  • 42.  Grupos indígenas e campesinos que se opõe a mineradoras e empresas de petróleo são chamados de “neoliberais” e ONG’s que se posicionam a favor do meio ambiente são acusadas de desorientar a população  Os governos progressistas são mais tolerantes às ONG’s que se converteram em executoras das ações sociais (por meio de convênios financiados pelo Estado)  Como forma de controle das ONG’s críticas ao atual modelo de desenvolvimento, o governo do Equador adotou três medidas: O neoextrativismo é aceito como um dos motores fundamentais do crescimento econômico e contribui para combater a pobreza em escala nacional. 1. Criou um ente governamental para coordenar, regular e vigiar as ONG’s: Secretaria de Povos, Movimentos Sociais e Participação Cidadã; 2. Decreto executivo sobre participação social de acordo com a lei da gestão ambiental que restringe os movimentos às “observações técnicas e economicamente viáveis” 3. Discurso oficial que deslegitima essas ONG’s, desmonte de suas estruturas de apoio incluindo sua existência jurídica
  • 43.
  • 44.  A ideia de progresso continuado, baseado na técnica e nutrido pelos recursos naturais tem sido a expressão clássica da modernidade com a qual a esquerda sul- americana tem corroborado  Governos progressistas desejam ampliar seu papel de exportador de matérias primas e consideram que essa atividade é fundamental para o enfrentamento de situações de crise  O crescimento do consumo na China e India é celebrado por esses governos que lutam pela liberalização do comércio global para suas commodities  Esse discurso sobre o âmbito internacional é quase oposto ao da esquerda clássica latino-americana durante boa parte do século XX. O neoextrativismo é parte de uma versão contemporânea do desenvolvimentismo próprio da América do Sul, onde se mantém o mito do progresso sob uma nova hibridação política e cultural
  • 45.
  • 46.  Neoextrativismo não é uma estratégia neoliberal similar às observadas em décadas anteriores, também não é uma promissora alternativa que mecanicamente melhora a qualidade de vida e promove a autonomia dos cidadãos  Existem mudanças sociais, mas a chegada da esquerda ao poder não significou o surgimento de um paraíso socialista  Tenta-se libertar os países da herança neoliberal, mas não existem conjuntos de propostas alternativas nítidas  As externalidades sociais e ambientais são crescentes  No contexto de crise, os governos progressistas tendem a aprofundar o estilo extrativista como saída econômica
  • 47. Michelle Galvão PPGA/UNIFOR Programa de Pós-Graduação em Administração Universidade de Fortaleza michellegalvao@unifor.br