SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 9
Baixar para ler offline
84
ISSN 1517-6916
CAOS - Revista Eletrônica de Ciências Sociais
Número 11 – Outubro de 2006
Pág. 84-92
GUERREIRO RAMOS: UMA SOCIOLOGIA EM MANGAS DE CAMISA
Edison Bariani∗
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus,
rio de aço do tráfego,
Uma flor ainda desbotada
Ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio,
paralisem os negócios,
Garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
(...) É feia. Mas é uma flor.
Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
Carlos Drummond de Andrade
Resumo
As reflexões de Guerreiro Ramos sobre a sociologia no Brasil promovem uma dura
crítica da importação de idéias e o elitismo dos intelectuais, retomando algumas de suas
proposições, é possível rever a trajetória do pensamento social brasileiro, suas
contradições e dificuldades em assumir a herança de que dispõe.
Palavras-chave: Guerreiro Ramos. Sociologia. Intelligentzia. Crítica. Herança cultural.
Abstract
Guerreiro Ramos’ reflections on sociology in Brazil promote hard criticism about
importation of ideas and elitism of intellectuals, regaining some of his propositions, it’s
possible to review the trajectory of Brazilian social thinking, its contradictions and
difficulties to accept the available heritage.
Keywords: Guerreiro Ramos. Sociology. Intelligentzia. Criticism. Cultural heritage.
Introdução
∗
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Faculdade de Ciências e Letras da
Universidade Estadual Paulista – UNESP/Araraquara-SP - e bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (FAPESP), endereço eletrônico: edsnb@ig.com.br.
85
O pensamento social no Brasil - e a sociologia em particular - sofre o tormento de uma
contradição dilacerante: somos construtores de um edifício inabitado. Enquanto reúne
esforços e insumos para elaborar uma explicação da sociedade brasileira e de suas
transformações, não nos reconhecemos como edificadores desta obra; a cada lance
produzido recomeçamos de outro modo, mormente sob plantas e planos arquitetados
distantes, de fora, que vêm a suplantar o esforço dos anteriores sem o realizar, justapondo-
se aos antigos andares numa reelaboração contínua e desconexa, que sucede sem integrar,
que encerra sem definir, que sintetiza sem superar. Não bastasse, mendigamos abrigo a
tradições e teorizações alheias e, recusados, ficamos ao relento, ao pé de um edifício
abandonado: a herança que construímos. A obra de Guerreiro Ramos é uma das
contribuições no sentido de trazer à consciência os dilemas do pensamento social no Brasil
e propiciar subsídios na tentativa de superar essa situação.
Uma civilização “errante”
A formação social brasileira é fruto da transplantação - e suas conseqüências – de
uma forma de civilização que, tendo sido criada na Europa, enfrentou as contingências de
estabelecer-se nos trópicos (Prado Junior, 2000). As desventuras e desacertos da
colonização portuguesa impuseram-se como nossa história, alicerçaram nosso mundo,
legando-nos características que se esvaeceram com o tempo; submetidas à dinâmica própria
que aqui se desencadeou, tal base refez-se, originando novas modalidades de sociabilidade
a partir da preservação/superação daquelas características (Holanda, 1995).
Ao ganhar densidade e movimento, ocorreu uma complexificação dessa estrutura
social, trazendo à baila novas situações e sujeitos; que por sua vez, dotados de determinada
consciência a respeito de sua vivência social e interesses, formularam interpretações de
mundo, explicações e projetos. Entretanto, persiste a sombra do estrangeiro, o colonialismo
e o imperialismo moldaram circunstâncias e formas de consciência, subordinaram o
desenvolvimento da sociedade brasileira aos desígnios do capitalismo mundial e as
mentalidades aos ditames da cultura européia e/ou norte-americana, com o consentimento
tácito ou explícito das classes dominantes locais. Os recusados nessa partilha, os
86
despossuídos e oprimidos, o povo, foi não somente alijado das virtualidades (positivas) do
desenvolvimento capitalista (Fernandes, 1987), mas também teve negado o estatuto de
sujeito - político e cultural (Ianni, 1985).
A sociologia em mangas de camisa
Guerreiro Ramos - mulato baiano de família pobre – definia-se na esteira dessa
tradição, a negação povo e sua desqualificação como sujeito era reiterada por um legítimo
representante desse contingente social, a obnubilação da consciência atingia mesmo os mais
salientes; seja pela força direta e abrupta da dominação cultural, seja pelas sutis armadilhas
que a ideologia dominante impõe aos egressos das classes baixas: a intelectualização fútil, a
ascensão social e a rara permeabilidade das instituições, que podem cooptar o intruso,
oferecendo-lhe as benesses de status e consideração e/ou insuflando-lhe a sugestiva noção
de que, mesmo sendo diferente dos de cima, já não pertence aos de baixo, não se reconhece
neles, como um deles, torna-se uma espécie de “livre” pensador.1
Entretanto, com o progressivo advento das classes dominadas, do povo, ao cenário
político brasileiro, criou-se uma demanda no sentido de redefinir a estrutura social e
política do Brasil, e erigir a “Nação” - na acepção que lhe foi dada2
. Se anteriormente
grande parte dos intelectuais atestava a inexistência do povo, lamentava tal ausência e
sonhava organizar a Nação a partir de cima (Alberto Torres, p.ex.), na passagem para a
segunda metade do séc. XX, cabia ouvir a voz rouca das ruas; não era mais possível pensar
o Brasil sem considerar seriamente tal fato. Guerreiro Ramos não foi insensível a tal
mudança, a partir da década de 1950, empreendeu ferina crítica à sociologia e ao
pensamento social no Brasil, condenando a alienação da “elite colonizada e estúpida” e
buscando uma elaboração científica em sintonia com as novas formas de consciência que
emergiam do povo e das ânsias de autonomia nacional, de criação da Nação.
1
A idéia da negação ou invalidação do povo como grupo ou sujeito vem desde viajantes com Louis Couty e
Saint-Hilaire, e passa por uma “corrente” razoavelmente crítica do pensamento social no Brasil, que inclui
Silvio Romero, Euclides da Cunha, Alberto Torres e Oliveira Viana – corrente ao qual Guerreiro Ramos
estava ligado (Ramos, 1953, 1957).
2
“Nação” não como um território e seu povo, mas como espaço da autonomia e soberania, tanto política e
econômica quanto cultural; emanação do espírito de um povo.
87
Arregaçar as mangas
Para Guerreiro Ramos a nossa formação econômica, política e social dependente
foi erigida sob as hostes do colonialismo cultural, da subordinação mental da elite nativa
em relação à cultura dos países dominantes. A visão etnocêntrica ancorada na cultura
européia e norte-americana teria disseminado entre nós uma concepção alienada da
“realidade nacional”, homogeneizadora e propagadora de um universalismo abstrato que
relegava a especificidade do “fenômeno nacional”.
Essa visão alienadora, segundo ele, tentava solapar as contradições da sociedade
brasileira, desconsiderando a originalidade da estrutura social, tomando-a como simples
reflexo, imitação vil das determinações reinantes nos países de capitalismo central,
avançado. Tal modalidade de pensamento intentava uniformizar o diferente, apagar os
antagonismos, isolar o estranho, abafar o ruído, sincronizar os tempos históricos. A
vivência nacional, situada numa outra fase cultural3
, reclamava fidelidade à sua própria
temporalidade, sua condição de “contemporaneidade do não-coetâneo”4
instaurava uma
existência cultural própria e requisitava uma dialética específica.
Era mister - então - fazer uso da razão sociológica, da capacidade da sociologia de
aplicar(se) seu instrumental, de rever-se, refletir a respeito de si e com relação à estrutura
social à qual estava vinculada, refazendo(se) métodos e objetivos. Ao método crítico capaz
de proceder a uma reflexão dessa natureza, assimilando criticamente as contribuições
teóricas “importadas”, Guerreiro Ramos chamou “redução sociológica”.
A redução sociológica – segundo Guerreiro Ramos - é uma “atitude parentética”,
não-espontânea: põe entre parênteses os fenômenos, recusando a afirmação ou aceitação
imediata das percepções, desnaturalizando a apreensão social e impondo filtros ao pensar.
A redução tinha como suposto a “universalidade dos enunciados gerais da ciência”, todavia,
propalava o “caráter subsidiário da produção científica estrangeira”, bem como o
comprometimento do sociólogo com a realidade em questão e no que diz respeito à fase
cultural na qual a sociedade se encontra (Ramos, 1996, p. 72).
3
Guerreiro Ramos compartilhava uma concepção faseológica da história, segundo ele, alicerçada nos
trabalhos de Carl Müller-Lyer: Fases da cultura (1908), O sentido da vida e a ciência (1910) e A família
(1912), dentre outros. Hélio Jaguaribe também utilizou amplamente essa concepção.
4
Conceito tomado a W. Pinder, denotando a coexistência de tempos histórico-culturais distintos.
88
Na fundamentação dessa atitude metódica repousava a noção de que a realidade
social - em sua complexidade - é tecida por entes em sistemática conexão de sentido, não
sendo fortuitos os fatos da vida social, mas “referidos uns aos outros por um vínculo de
significação” (Ramos, 1996, p. 72). Induz daí a categoria “mundo”, na qual os sujeitos, sua
consciência e os objetos estão intrinsecamente relacionados, existindo em profunda
imbricação uns com os outros; o homem como ser social, como ser-no-mundo (e ser-do-
mundo) está fatalmente inserido num dado contexto, suas ações, formas de consciência,
valores, sua visão de mundo, está ancorada na sua existência (espaço-temporal)
historicamente particular. Infere, assim, que o pensar (e o pensamento científico em
particular) só pode ser algo relativizado, relacionado, dirigido a partir de uma perspectiva
determinada. O sociólogo, como sujeito investigador, instrumentaliza esse perspectivismo
(que é social e não individual) na procura de um conhecimento autêntico, cuja
funcionalidade esteja em conformidade com uma intencionalidade referida à estrutura
social e suas significações. Não há, portanto, posição neutra, “todo teorizar é extensão do
fazer ao nível da representação” (Ramos, 1996: 108).
Destarte, urgia à sociologia crítica atentar para a práxis, que norteia os
“imperativos práticos” do saber; a redução sociológica não é uma atitude ingênua,
desvinculada e desatenta de suas implicações, das particularidades de uma dada estrutura
social e funções conseqüentes derivam responsabilidades e emanam projetos, conhecer é -
sobretudo - transformar.
Usar os punhos
Guerreiro Ramos, perseguindo a possibilidade da autoconsciência da sociedade
brasileira, põe-se em combate por uma sociologia engajada com a realidade nacional, uma
tarefa que ele próprio qualificou como “das mais desagradáveis” (Ramos, 1953: 5).
Acertando contas com o pensamento social no Brasil5
e terçando armas com vários
5
Guerreiro Ramos distingue, no pensamento social brasileiro, basicamente, duas correntes: uma “crítica”, que
“representa o esforço de criação” e descolonização (Silvio Romero, Euclides da Cunha, Alberto Torres,
Oliveira Vianna) e outra “que consiste simplesmente numa glosa das orientações doutrinárias vigentes nos
centros de cultura estrangeiros” (Tobias Barreto, Pontes de Miranda, Tristão de Ataíde, Pinto Ferreira, Mário
Lins etc.). Tais correntes emolduram o quadro intelectual, entretanto, admitem, segundo ele, sub-ramos,
matizes e situações específicas (Ramos, 1953: 10-12).
89
intelectuais – como Florestan Fernandes, Luiz Aguiar Costa Pinto, Roger Bastide etc. –
empreendeu verdadeira cruzada contra a transplantação irrefletida de idéias e o
descompromisso com o desenvolvimento e autonomia da sociedade brasileira, não
poupando o que chamou de “sociologia importada”, “consular”, “enlatada”. Também não
escapou de sua mira as tentativas de fazer da sociologia um saber esotérico, elitista ou
proselitista, certo “bovarismo” de ostentar um saber inalcançável pelos indivíduos comuns,
pretensamente fixado em concepções profissionais e rotineiras do fazer sociológico.
Distingue severamente a “ciência em hábito”, que defendia tais posições elitistas, da
“ciência em ato”, transformadora, imbuída da consciência da necessidade de promover a
autodeterminação da sociedade. A sociologia- para ele - não deveria ser “ofício”,
“especialização”, sua vocação deve ser de resgatar o homem ao homem”, “tornar-se saber
de salvação” (Ramos, 1996: 10-11).
Batalhas da intelligentzia (quem são os amigos do povo?)
No entender de Guerreiro Ramos, só na segunda metade do séc. XX nasce - de
fato - uma intelligentzia no Brasil, ela é engendrada pelo amadurecimento da sociedade
brasileira e o nascimento do povo.
O cardinal fato político da vida brasileira nos dias de hoje é a existência do povo. Esta nova realidade
sociológica necessariamente impõe a reorganização social e política do País, apta a dar forma aos
impulsos da nova sociedade que se constituiu.... A tomada de consciência de que o povo é a novidade
radical do Brasil na presente época constitui requisito imprescindível, do ponto de vista teórico e
prático. (Ramos, 1961: 42 e 46).
Cabia então aos intelectuais tomar posição, postar-se politicamente, não de modo
privado, mas tornando públicas suas escolhas e suas funções:
Formou-se no Brasil uma concepção segundo a qual a vida da inteligência é incompatível com a
política [...] Ao contrário, num país como o Brasil, o intelectual que viva profundamente a ética da
inteligência, reconhecerá que o seu magistério terá de ser deliberadamente, intencionalmente político.
(Ibidem, 1961: 190).
90
Não havia mais espaço para o dandismo, para a afetação, havia que se descer dos
púlpitos e das cátedras, das posições olímpicas que recusavam a se conspurcar com a
miséria cotidiana, pois que a contraface da missão é necessariamente a omissão.
Há na sociedade brasileira, atualmente, um oco a preencher, que decorre da perda de exemplaridades
das idéias, por meio das quais justificava sua dominação uma classe há duas décadas em processo de
aposentadoria histórica. Está diante de nós a tarefa de organizar um Estado Nacional, ou seja, de
configurar politicamente o povo brasileiro. Para o intelectual, assumir essa tarefa não corresponde a
ser adminículo de uma classe particular. Nas condições atuais da sociedade brasileira, está aberta ao
intelectual, pela primeira vez entre nós, a oportunidade de valor por si, na proporção do teor concreto
das idéias que exprime. Tais condições necessariamente politizam o trabalho intelectual orientado
por um propósito substitutivo. E a intelligentzia não é esteticista. Pretende sempre a fundação de algo
e o exercício de tarefa pedagógica. ((Ramos, 1961: 190). 6
Como intelligentzia, insubmissos a uma dada classe, os intelectuais teriam como
missão interpretar a realidade brasileira, elucidá-la, organizar e educar o povo e alicerçar o
Estado Nacional.
A que herança renunciamos
Ao debruçar-se sobre as construções do pensamento social no Brasil, Guerreiro
Ramos estabeleceu uma relação tanto próxima quanto crítica com referência à herança
cultural e a prática intelectual; combateu duramente o que considerava alienação,
amorfismo e inautenticidade (Ramos, 1960: 93) predominantes na sociedade e produção
intelectual brasileira, assim como retomou o que avaliava como uma tradição crítica de uma
corrente razoavelmente lúcida do pensamento social no Brasil, integrada por aqueles que,
segundo ele, produziram reflexões voltadas à fidelidade e concretude da sociedade
brasileira, e dotadas de uma perspicácia de análise que procurava romper o colonialismo
6
Entretanto alerta para o fato de que: “Ordinariamente se considera o povo como conjunto de cidadãos em
menoridade. Esta concepção é falsa hoje no Brasil. O povo, coletivamente, é o principal titular de capacidade
econômica, social, política e cultural. Corresponde a um retrocesso a pretensão de tutelá-lo [...] O povo se
educa a si próprio”, todavia, “O povo não pode dirigir o processo histórico-social senão por intermédio de
sua vanguarda. A vanguarda do povo é o dirigente direto do processo nacional. O povo como totalidade é
dirigente indireto” (Ramos, 1960: 230). Mannheim (1974: 80-2) e sua formulação da inteligência como
camada intersticial capaz de síntese, norteia aqui as posições de Guerreiro Ramos.
91
cultural. Portanto, desafinando o coro dos contentes, procurou negar a legitimidade da
transplantação de idéias e afirmar a validade de dada herança que, mesmo em seus
antagonismos, fornecia elementos para a superação dos dilemas intelectuais da periferia do
capitalismo.
Manteve, desse modo, uma relação viva e fértil com a herança cultural, dialogando
criticamente com os intelectuais contemporâneos e os que precederam. Tal debate cultural
era-lhe imprescindível, a convivência com a herança e a tradição intelectual passava pelo
acerto de contas e pela redenção cultural, lidar com tal passado seria um constante combate,
não um remexer o baú de ossos.
Atualmente, em geral, lidamos com nossa herança como um médico examina um
cadáver: identificamo-nos com ela, mas não lhe reconhecemos vida. Os intelectuais no
Brasil - como em todos os pontos vitais da nossa formação social - ainda vivem as
contradições da submissão, ainda persiste o estranhamento para com a realidade brasileira e
suas misérias, a indignação reinante é mais para com o que somos que contra o que nos
oprime. Se a ruptura definitiva com tal situação é uma decisão cultural, não deixa –
entretanto - também de ser uma atitude política. Embora destronados dos púlpitos donde
pregavam aos ignaros, lançando reprimendas e conselhos, a maioria tragicamente
dominante da “inteligência” brasileira entrincheirou-se nos gabinetes, abrigados sob a
institucionalização e a profissionalização7
; as carreiras substituíram as missões e a altivez
intangível dos “sinceramente compadecidos” deu lugar a certo cinismo. Por outro lado, a
pretexto de afirmar – paradoxalmente - a convicção na impotência da convicção, pleiteia-se
a liberdade de eximir-se.
A ciência não pode ser refém da vida. Há momentos – como já foi dito por Tobias
Barreto (Meneses, 1962: 118) - em que o entusiasmo também tem o direito de resolver
questões. Principalmente, se a “sensatez” se recusa.
Referências
ANDRADE, (1984). Carlos Drummond de. A rosa do povo. Rio de Janeiro: Record.
7
Entre os intelectuais brasileiros, a partir dos anos 1990, o engajamento deu lugar à profissionalização
(LAHUERTA, 1999).
92
FERNANDES, Florestan. (1987). A revolução burguesa no Brasil: ensaio de interpretação
sociológica. 3ª
ed. Rio de Janeiro: Guanabara.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. (1995). Raízes do Brasil. 26ª
ed. São Paulo: Companhia
das Letras.
IANNI, Octavio. (1985). O ciclo da revolução burguesa. 2ª
ed. Petrópolis: Vozes.
LAHUERTA, Milton. (1999). Intelectuais e transição: entre a política e a profissão. Tese
(Doutorado em Ciência Política) apresentada à FFCLH-USP.
MANNHEIM, Karl. (1984). Sociologia da cultura. São Paulo:
Perspectiva/Edusp.
MENESES, Tobias Barreto de. (1962). Um discurso em mangas de camisa. In:
______. Estudos de Sociologia. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do
Livro/MEC.
PRADO JÚNIOR, Caio. (2000). Formação do Brasil contemporâneo: colônia. São Paulo:
Brasiliense/Publifolha.
RAMOS, Alberto Guerreiro. (1953). O processo da sociologia no Brasil: esquema de uma
história das idéias. Rio de Janeiro: [s.ed.].
______. (1957). Introdução crítica à sociologia brasileira. Rio de Janeiro: Andes.
______. (1960). O problema nacional do Brasil. 2ª
ed. Rio de Janeiro: Saga.
______. (1961). A crise do poder no Brasil: problemas da revolução nacional brasileira.
Rio de Janeiro: Zahar.
______. (1996). A redução sociológica. 3ª ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Século xx (1900 1922)pre-modernismo
Século xx (1900 1922)pre-modernismoSéculo xx (1900 1922)pre-modernismo
Século xx (1900 1922)pre-modernismoSouza Souza
 
Sociologia no Brasil - Prof.Altair Aguilar.
Sociologia no Brasil - Prof.Altair Aguilar.Sociologia no Brasil - Prof.Altair Aguilar.
Sociologia no Brasil - Prof.Altair Aguilar.Altair Moisés Aguilar
 
RESENHA CRÍTICA DO LIVRO: QUEM É O POVO NO BRASIL?
RESENHA CRÍTICA DO LIVRO: QUEM É O POVO NO BRASIL?RESENHA CRÍTICA DO LIVRO: QUEM É O POVO NO BRASIL?
RESENHA CRÍTICA DO LIVRO: QUEM É O POVO NO BRASIL?John Wainwright
 
Fases da implantação da sociologia no brasil
Fases da implantação da sociologia no brasilFases da implantação da sociologia no brasil
Fases da implantação da sociologia no brasilJoão Marcos Lima Garcia
 
Sociologia no brasil e seus principais representantes
Sociologia no brasil e seus principais representantesSociologia no brasil e seus principais representantes
Sociologia no brasil e seus principais representantesedsonfgodoy
 
Cultura e modernidade no basil prof oliven
Cultura e modernidade no basil  prof olivenCultura e modernidade no basil  prof oliven
Cultura e modernidade no basil prof oliveninformingus
 
Filosofia e Sociologia Rubia
Filosofia e Sociologia Rubia Filosofia e Sociologia Rubia
Filosofia e Sociologia Rubia Pré-Enem Seduc
 
Caio prado jr1
Caio prado jr1Caio prado jr1
Caio prado jr1NESUERJ
 
Jornalismocultural fabiogomes
Jornalismocultural fabiogomesJornalismocultural fabiogomes
Jornalismocultural fabiogomesNatália Faria
 
Preconceito de cor e racismo no brasil1
Preconceito de cor e racismo no brasil1Preconceito de cor e racismo no brasil1
Preconceito de cor e racismo no brasil1Geraa Ufms
 
Proposta de redação Preconceito
Proposta de redação PreconceitoProposta de redação Preconceito
Proposta de redação PreconceitoProfFernandaBraga
 
Pré-modernismo
Pré-modernismoPré-modernismo
Pré-modernismoJosé Levy
 
Afrobrasileiros e a construção da democracia na década de 1920
Afrobrasileiros e a construção da democracia na década de 1920Afrobrasileiros e a construção da democracia na década de 1920
Afrobrasileiros e a construção da democracia na década de 1920Carlos Sant'Anna
 
America latina e o giro decolonial
America latina e o giro decolonialAmerica latina e o giro decolonial
America latina e o giro decolonialrfolhes
 

Mais procurados (20)

Século xx (1900 1922)pre-modernismo
Século xx (1900 1922)pre-modernismoSéculo xx (1900 1922)pre-modernismo
Século xx (1900 1922)pre-modernismo
 
Sociologia no Brasil - Prof.Altair Aguilar.
Sociologia no Brasil - Prof.Altair Aguilar.Sociologia no Brasil - Prof.Altair Aguilar.
Sociologia no Brasil - Prof.Altair Aguilar.
 
RESENHA CRÍTICA DO LIVRO: QUEM É O POVO NO BRASIL?
RESENHA CRÍTICA DO LIVRO: QUEM É O POVO NO BRASIL?RESENHA CRÍTICA DO LIVRO: QUEM É O POVO NO BRASIL?
RESENHA CRÍTICA DO LIVRO: QUEM É O POVO NO BRASIL?
 
Fases da implantação da sociologia no brasil
Fases da implantação da sociologia no brasilFases da implantação da sociologia no brasil
Fases da implantação da sociologia no brasil
 
Sociologia clássica 2
Sociologia clássica 2Sociologia clássica 2
Sociologia clássica 2
 
Capítulo 1 - Evolucionismo e Diferença
Capítulo 1 - Evolucionismo e DiferençaCapítulo 1 - Evolucionismo e Diferença
Capítulo 1 - Evolucionismo e Diferença
 
Sociologia no brasil e seus principais representantes
Sociologia no brasil e seus principais representantesSociologia no brasil e seus principais representantes
Sociologia no brasil e seus principais representantes
 
Cultura e modernidade no basil prof oliven
Cultura e modernidade no basil  prof olivenCultura e modernidade no basil  prof oliven
Cultura e modernidade no basil prof oliven
 
Sociologia no brasil
Sociologia no brasilSociologia no brasil
Sociologia no brasil
 
Filosofia e Sociologia Rubia
Filosofia e Sociologia Rubia Filosofia e Sociologia Rubia
Filosofia e Sociologia Rubia
 
Caio prado jr1
Caio prado jr1Caio prado jr1
Caio prado jr1
 
Jornalismocultural fabiogomes
Jornalismocultural fabiogomesJornalismocultural fabiogomes
Jornalismocultural fabiogomes
 
Preconceito de cor e racismo no brasil1
Preconceito de cor e racismo no brasil1Preconceito de cor e racismo no brasil1
Preconceito de cor e racismo no brasil1
 
Proposta de redação Preconceito
Proposta de redação PreconceitoProposta de redação Preconceito
Proposta de redação Preconceito
 
Pré-modernismo
Pré-modernismoPré-modernismo
Pré-modernismo
 
Caio prado Junior
Caio prado  JuniorCaio prado  Junior
Caio prado Junior
 
O que é cultura
O que é culturaO que é cultura
O que é cultura
 
Caio prado
Caio pradoCaio prado
Caio prado
 
Afrobrasileiros e a construção da democracia na década de 1920
Afrobrasileiros e a construção da democracia na década de 1920Afrobrasileiros e a construção da democracia na década de 1920
Afrobrasileiros e a construção da democracia na década de 1920
 
America latina e o giro decolonial
America latina e o giro decolonialAmerica latina e o giro decolonial
America latina e o giro decolonial
 

Destaque

Como publicar en Slideshare
Como publicar en SlideshareComo publicar en Slideshare
Como publicar en SlideshareUNELLEZ
 
Miquel barceló udi
Miquel barceló  udiMiquel barceló  udi
Miquel barceló udielenmontoya
 
Artigo parauninha xx_simposio_brasileiro_recursos_hidricos_final_fapemig
Artigo parauninha xx_simposio_brasileiro_recursos_hidricos_final_fapemigArtigo parauninha xx_simposio_brasileiro_recursos_hidricos_final_fapemig
Artigo parauninha xx_simposio_brasileiro_recursos_hidricos_final_fapemigAndré Rocha Franco
 
Devassa (parte 2) - Objetivos
Devassa (parte 2) - ObjetivosDevassa (parte 2) - Objetivos
Devassa (parte 2) - ObjetivosRaya3 Propaganda
 
Harmonia e improvisação i (parte 1)
Harmonia e improvisação i (parte 1)Harmonia e improvisação i (parte 1)
Harmonia e improvisação i (parte 1)Thomaz222
 
Marco teorico electro conclu
Marco teorico electro concluMarco teorico electro conclu
Marco teorico electro concluAnibal Quintrel
 
As partículas
As partículas As partículas
As partículas 8aoiensf
 
Sistema genital masculino ii
Sistema genital masculino iiSistema genital masculino ii
Sistema genital masculino iiblanca cruz
 
Taller de clace de computacion
Taller de clace de computacionTaller de clace de computacion
Taller de clace de computacionAngelHernandezFM
 
Soulmkt | Blog Seo
Soulmkt | Blog SeoSoulmkt | Blog Seo
Soulmkt | Blog SeoBruna Moraes
 
ERIC LINKEDIN RESUME
ERIC LINKEDIN RESUMEERIC LINKEDIN RESUME
ERIC LINKEDIN RESUMEEric Dunn
 
CENTRO DE PESQUISA FAAT FACULDADES
CENTRO DE PESQUISA FAAT FACULDADESCENTRO DE PESQUISA FAAT FACULDADES
CENTRO DE PESQUISA FAAT FACULDADESrfreitas2013
 
Pilar albarrazin el_amor
Pilar albarrazin el_amorPilar albarrazin el_amor
Pilar albarrazin el_amorpilyprincess
 
Practico de fisica ii
Practico de fisica iiPractico de fisica ii
Practico de fisica iijosealdo2
 
Proyecto de ley modificaciones a la ley de autogestion
Proyecto de ley modificaciones a la ley de autogestionProyecto de ley modificaciones a la ley de autogestion
Proyecto de ley modificaciones a la ley de autogestionlegisladorsalta
 

Destaque (20)

Como publicar en Slideshare
Como publicar en SlideshareComo publicar en Slideshare
Como publicar en Slideshare
 
Miquel barceló udi
Miquel barceló  udiMiquel barceló  udi
Miquel barceló udi
 
Artigo parauninha xx_simposio_brasileiro_recursos_hidricos_final_fapemig
Artigo parauninha xx_simposio_brasileiro_recursos_hidricos_final_fapemigArtigo parauninha xx_simposio_brasileiro_recursos_hidricos_final_fapemig
Artigo parauninha xx_simposio_brasileiro_recursos_hidricos_final_fapemig
 
Devassa (parte 2) - Objetivos
Devassa (parte 2) - ObjetivosDevassa (parte 2) - Objetivos
Devassa (parte 2) - Objetivos
 
Harmonia e improvisação i (parte 1)
Harmonia e improvisação i (parte 1)Harmonia e improvisação i (parte 1)
Harmonia e improvisação i (parte 1)
 
Marco teorico electro conclu
Marco teorico electro concluMarco teorico electro conclu
Marco teorico electro conclu
 
As partículas
As partículas As partículas
As partículas
 
Sistema genital masculino ii
Sistema genital masculino iiSistema genital masculino ii
Sistema genital masculino ii
 
Taller de clace de computacion
Taller de clace de computacionTaller de clace de computacion
Taller de clace de computacion
 
Administración
AdministraciónAdministración
Administración
 
Asma
AsmaAsma
Asma
 
Identidad nacional
Identidad nacionalIdentidad nacional
Identidad nacional
 
Practica de word
Practica de wordPractica de word
Practica de word
 
Soulmkt | Blog Seo
Soulmkt | Blog SeoSoulmkt | Blog Seo
Soulmkt | Blog Seo
 
ERIC LINKEDIN RESUME
ERIC LINKEDIN RESUMEERIC LINKEDIN RESUME
ERIC LINKEDIN RESUME
 
Apresentação SindPFA à Direção do Incra em 26/6/2015
Apresentação SindPFA à Direção do Incra em 26/6/2015Apresentação SindPFA à Direção do Incra em 26/6/2015
Apresentação SindPFA à Direção do Incra em 26/6/2015
 
CENTRO DE PESQUISA FAAT FACULDADES
CENTRO DE PESQUISA FAAT FACULDADESCENTRO DE PESQUISA FAAT FACULDADES
CENTRO DE PESQUISA FAAT FACULDADES
 
Pilar albarrazin el_amor
Pilar albarrazin el_amorPilar albarrazin el_amor
Pilar albarrazin el_amor
 
Practico de fisica ii
Practico de fisica iiPractico de fisica ii
Practico de fisica ii
 
Proyecto de ley modificaciones a la ley de autogestion
Proyecto de ley modificaciones a la ley de autogestionProyecto de ley modificaciones a la ley de autogestion
Proyecto de ley modificaciones a la ley de autogestion
 

Semelhante a Uma crítica à sociologia brasileira por Guerreiro Ramos

O espetáculo das raças antropologia brasileira
O espetáculo das raças antropologia brasileiraO espetáculo das raças antropologia brasileira
O espetáculo das raças antropologia brasileiraJéssica de Paula
 
Reflexão epistemológica dos estudos culturais numa perspectiva da educação
Reflexão epistemológica dos estudos culturais numa perspectiva da educaçãoReflexão epistemológica dos estudos culturais numa perspectiva da educação
Reflexão epistemológica dos estudos culturais numa perspectiva da educaçãoProfessor Gilson Nunes
 
A questão racial presente na sintese de macunaima araujo e neves
A questão racial presente na sintese de macunaima   araujo e nevesA questão racial presente na sintese de macunaima   araujo e neves
A questão racial presente na sintese de macunaima araujo e nevesMonitoria Contabil S/C
 
O DEBATE IDENTITÁRIO NA LITERATURA PÓS-COLONIAL: John Maxwell Coetzee e Mia C...
O DEBATE IDENTITÁRIO NA LITERATURA PÓS-COLONIAL: John Maxwell Coetzee e Mia C...O DEBATE IDENTITÁRIO NA LITERATURA PÓS-COLONIAL: John Maxwell Coetzee e Mia C...
O DEBATE IDENTITÁRIO NA LITERATURA PÓS-COLONIAL: John Maxwell Coetzee e Mia C...Viegas Fernandes da Costa
 
Bourdie e Wacquant, A nova bíblia do Tio Sam
Bourdie e Wacquant, A nova bíblia do Tio SamBourdie e Wacquant, A nova bíblia do Tio Sam
Bourdie e Wacquant, A nova bíblia do Tio SamRowanaCamargo
 
Apresentação sobre a origem e desenvolvimento da Sociologia na Bolívia.pptx
Apresentação sobre a origem e desenvolvimento da Sociologia na Bolívia.pptxApresentação sobre a origem e desenvolvimento da Sociologia na Bolívia.pptx
Apresentação sobre a origem e desenvolvimento da Sociologia na Bolívia.pptxJOOLUIZDASILVALOPES
 
Entre praticas e_representacoes_os_folhetins_nos_anos_sessenta
Entre praticas e_representacoes_os_folhetins_nos_anos_sessentaEntre praticas e_representacoes_os_folhetins_nos_anos_sessenta
Entre praticas e_representacoes_os_folhetins_nos_anos_sessentaSilvana Oliveira
 
Projeto brasilidade identidade e autoestima final
Projeto brasilidade identidade e autoestima finalProjeto brasilidade identidade e autoestima final
Projeto brasilidade identidade e autoestima finalLuis Nassif
 
Entre a fé e a folia festas de reis realizadas em conceição do coité (1990 ...
Entre a fé  e a folia festas de reis realizadas em conceição do coité (1990  ...Entre a fé  e a folia festas de reis realizadas em conceição do coité (1990  ...
Entre a fé e a folia festas de reis realizadas em conceição do coité (1990 ...UNEB
 
Culturabrasileiraeidentidade
CulturabrasileiraeidentidadeCulturabrasileiraeidentidade
CulturabrasileiraeidentidadeDayse Lucide
 
RAGO_Margareth_O efeito Foucault na historiografia brasileira.pdf
RAGO_Margareth_O efeito Foucault na historiografia brasileira.pdfRAGO_Margareth_O efeito Foucault na historiografia brasileira.pdf
RAGO_Margareth_O efeito Foucault na historiografia brasileira.pdfElisaCaetano12
 
Espetáculo da miscigenação
Espetáculo da miscigenaçãoEspetáculo da miscigenação
Espetáculo da miscigenaçãoGeraa Ufms
 
A identidade cultural na pós-modernidade - Stuart Hall
A identidade cultural na pós-modernidade - Stuart HallA identidade cultural na pós-modernidade - Stuart Hall
A identidade cultural na pós-modernidade - Stuart HallSimone Braghin
 
TEO | Diáspora, identidade e cultura
TEO | Diáspora, identidade e culturaTEO | Diáspora, identidade e cultura
TEO | Diáspora, identidade e culturaEdison Ribeiro
 
O Espetaculo das Racas - Cienti - Lilia Moritz Schwarcz capítulo 2.pdf
O Espetaculo das Racas - Cienti - Lilia Moritz Schwarcz capítulo 2.pdfO Espetaculo das Racas - Cienti - Lilia Moritz Schwarcz capítulo 2.pdf
O Espetaculo das Racas - Cienti - Lilia Moritz Schwarcz capítulo 2.pdfQueleLiberato
 

Semelhante a Uma crítica à sociologia brasileira por Guerreiro Ramos (20)

O que é cultura
O que é culturaO que é cultura
O que é cultura
 
O espetáculo das raças antropologia brasileira
O espetáculo das raças antropologia brasileiraO espetáculo das raças antropologia brasileira
O espetáculo das raças antropologia brasileira
 
Reflexão epistemológica dos estudos culturais numa perspectiva da educação
Reflexão epistemológica dos estudos culturais numa perspectiva da educaçãoReflexão epistemológica dos estudos culturais numa perspectiva da educação
Reflexão epistemológica dos estudos culturais numa perspectiva da educação
 
A questão racial presente na sintese de macunaima araujo e neves
A questão racial presente na sintese de macunaima   araujo e nevesA questão racial presente na sintese de macunaima   araujo e neves
A questão racial presente na sintese de macunaima araujo e neves
 
CULTURA, DOMINAÇÃO E IDEOLOGIA
CULTURA, DOMINAÇÃO E IDEOLOGIACULTURA, DOMINAÇÃO E IDEOLOGIA
CULTURA, DOMINAÇÃO E IDEOLOGIA
 
O DEBATE IDENTITÁRIO NA LITERATURA PÓS-COLONIAL: John Maxwell Coetzee e Mia C...
O DEBATE IDENTITÁRIO NA LITERATURA PÓS-COLONIAL: John Maxwell Coetzee e Mia C...O DEBATE IDENTITÁRIO NA LITERATURA PÓS-COLONIAL: John Maxwell Coetzee e Mia C...
O DEBATE IDENTITÁRIO NA LITERATURA PÓS-COLONIAL: John Maxwell Coetzee e Mia C...
 
Bourdie e Wacquant, A nova bíblia do Tio Sam
Bourdie e Wacquant, A nova bíblia do Tio SamBourdie e Wacquant, A nova bíblia do Tio Sam
Bourdie e Wacquant, A nova bíblia do Tio Sam
 
Apresentação sobre a origem e desenvolvimento da Sociologia na Bolívia.pptx
Apresentação sobre a origem e desenvolvimento da Sociologia na Bolívia.pptxApresentação sobre a origem e desenvolvimento da Sociologia na Bolívia.pptx
Apresentação sobre a origem e desenvolvimento da Sociologia na Bolívia.pptx
 
[2ºAno] Sociologia Brasileira
[2ºAno] Sociologia Brasileira[2ºAno] Sociologia Brasileira
[2ºAno] Sociologia Brasileira
 
Intérpretes do Brasil
Intérpretes do BrasilIntérpretes do Brasil
Intérpretes do Brasil
 
Entre praticas e_representacoes_os_folhetins_nos_anos_sessenta
Entre praticas e_representacoes_os_folhetins_nos_anos_sessentaEntre praticas e_representacoes_os_folhetins_nos_anos_sessenta
Entre praticas e_representacoes_os_folhetins_nos_anos_sessenta
 
Projeto brasilidade identidade e autoestima final
Projeto brasilidade identidade e autoestima finalProjeto brasilidade identidade e autoestima final
Projeto brasilidade identidade e autoestima final
 
Entre a fé e a folia festas de reis realizadas em conceição do coité (1990 ...
Entre a fé  e a folia festas de reis realizadas em conceição do coité (1990  ...Entre a fé  e a folia festas de reis realizadas em conceição do coité (1990  ...
Entre a fé e a folia festas de reis realizadas em conceição do coité (1990 ...
 
Culturabrasileiraeidentidade
CulturabrasileiraeidentidadeCulturabrasileiraeidentidade
Culturabrasileiraeidentidade
 
RAGO_Margareth_O efeito Foucault na historiografia brasileira.pdf
RAGO_Margareth_O efeito Foucault na historiografia brasileira.pdfRAGO_Margareth_O efeito Foucault na historiografia brasileira.pdf
RAGO_Margareth_O efeito Foucault na historiografia brasileira.pdf
 
Espetáculo da miscigenação
Espetáculo da miscigenaçãoEspetáculo da miscigenação
Espetáculo da miscigenação
 
A identidade cultural na pós-modernidade - Stuart Hall
A identidade cultural na pós-modernidade - Stuart HallA identidade cultural na pós-modernidade - Stuart Hall
A identidade cultural na pós-modernidade - Stuart Hall
 
Terry eagleton cultura
Terry eagleton   culturaTerry eagleton   cultura
Terry eagleton cultura
 
TEO | Diáspora, identidade e cultura
TEO | Diáspora, identidade e culturaTEO | Diáspora, identidade e cultura
TEO | Diáspora, identidade e cultura
 
O Espetaculo das Racas - Cienti - Lilia Moritz Schwarcz capítulo 2.pdf
O Espetaculo das Racas - Cienti - Lilia Moritz Schwarcz capítulo 2.pdfO Espetaculo das Racas - Cienti - Lilia Moritz Schwarcz capítulo 2.pdf
O Espetaculo das Racas - Cienti - Lilia Moritz Schwarcz capítulo 2.pdf
 

Uma crítica à sociologia brasileira por Guerreiro Ramos

  • 1. 84 ISSN 1517-6916 CAOS - Revista Eletrônica de Ciências Sociais Número 11 – Outubro de 2006 Pág. 84-92 GUERREIRO RAMOS: UMA SOCIOLOGIA EM MANGAS DE CAMISA Edison Bariani∗ Uma flor nasceu na rua! Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego, Uma flor ainda desbotada Ilude a polícia, rompe o asfalto. Façam completo silêncio, paralisem os negócios, Garanto que uma flor nasceu. Sua cor não se percebe. Suas pétalas não se abrem. Seu nome não está nos livros. É feia. Mas é realmente uma flor. (...) É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio. Carlos Drummond de Andrade Resumo As reflexões de Guerreiro Ramos sobre a sociologia no Brasil promovem uma dura crítica da importação de idéias e o elitismo dos intelectuais, retomando algumas de suas proposições, é possível rever a trajetória do pensamento social brasileiro, suas contradições e dificuldades em assumir a herança de que dispõe. Palavras-chave: Guerreiro Ramos. Sociologia. Intelligentzia. Crítica. Herança cultural. Abstract Guerreiro Ramos’ reflections on sociology in Brazil promote hard criticism about importation of ideas and elitism of intellectuals, regaining some of his propositions, it’s possible to review the trajectory of Brazilian social thinking, its contradictions and difficulties to accept the available heritage. Keywords: Guerreiro Ramos. Sociology. Intelligentzia. Criticism. Cultural heritage. Introdução ∗ Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista – UNESP/Araraquara-SP - e bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), endereço eletrônico: edsnb@ig.com.br.
  • 2. 85 O pensamento social no Brasil - e a sociologia em particular - sofre o tormento de uma contradição dilacerante: somos construtores de um edifício inabitado. Enquanto reúne esforços e insumos para elaborar uma explicação da sociedade brasileira e de suas transformações, não nos reconhecemos como edificadores desta obra; a cada lance produzido recomeçamos de outro modo, mormente sob plantas e planos arquitetados distantes, de fora, que vêm a suplantar o esforço dos anteriores sem o realizar, justapondo- se aos antigos andares numa reelaboração contínua e desconexa, que sucede sem integrar, que encerra sem definir, que sintetiza sem superar. Não bastasse, mendigamos abrigo a tradições e teorizações alheias e, recusados, ficamos ao relento, ao pé de um edifício abandonado: a herança que construímos. A obra de Guerreiro Ramos é uma das contribuições no sentido de trazer à consciência os dilemas do pensamento social no Brasil e propiciar subsídios na tentativa de superar essa situação. Uma civilização “errante” A formação social brasileira é fruto da transplantação - e suas conseqüências – de uma forma de civilização que, tendo sido criada na Europa, enfrentou as contingências de estabelecer-se nos trópicos (Prado Junior, 2000). As desventuras e desacertos da colonização portuguesa impuseram-se como nossa história, alicerçaram nosso mundo, legando-nos características que se esvaeceram com o tempo; submetidas à dinâmica própria que aqui se desencadeou, tal base refez-se, originando novas modalidades de sociabilidade a partir da preservação/superação daquelas características (Holanda, 1995). Ao ganhar densidade e movimento, ocorreu uma complexificação dessa estrutura social, trazendo à baila novas situações e sujeitos; que por sua vez, dotados de determinada consciência a respeito de sua vivência social e interesses, formularam interpretações de mundo, explicações e projetos. Entretanto, persiste a sombra do estrangeiro, o colonialismo e o imperialismo moldaram circunstâncias e formas de consciência, subordinaram o desenvolvimento da sociedade brasileira aos desígnios do capitalismo mundial e as mentalidades aos ditames da cultura européia e/ou norte-americana, com o consentimento tácito ou explícito das classes dominantes locais. Os recusados nessa partilha, os
  • 3. 86 despossuídos e oprimidos, o povo, foi não somente alijado das virtualidades (positivas) do desenvolvimento capitalista (Fernandes, 1987), mas também teve negado o estatuto de sujeito - político e cultural (Ianni, 1985). A sociologia em mangas de camisa Guerreiro Ramos - mulato baiano de família pobre – definia-se na esteira dessa tradição, a negação povo e sua desqualificação como sujeito era reiterada por um legítimo representante desse contingente social, a obnubilação da consciência atingia mesmo os mais salientes; seja pela força direta e abrupta da dominação cultural, seja pelas sutis armadilhas que a ideologia dominante impõe aos egressos das classes baixas: a intelectualização fútil, a ascensão social e a rara permeabilidade das instituições, que podem cooptar o intruso, oferecendo-lhe as benesses de status e consideração e/ou insuflando-lhe a sugestiva noção de que, mesmo sendo diferente dos de cima, já não pertence aos de baixo, não se reconhece neles, como um deles, torna-se uma espécie de “livre” pensador.1 Entretanto, com o progressivo advento das classes dominadas, do povo, ao cenário político brasileiro, criou-se uma demanda no sentido de redefinir a estrutura social e política do Brasil, e erigir a “Nação” - na acepção que lhe foi dada2 . Se anteriormente grande parte dos intelectuais atestava a inexistência do povo, lamentava tal ausência e sonhava organizar a Nação a partir de cima (Alberto Torres, p.ex.), na passagem para a segunda metade do séc. XX, cabia ouvir a voz rouca das ruas; não era mais possível pensar o Brasil sem considerar seriamente tal fato. Guerreiro Ramos não foi insensível a tal mudança, a partir da década de 1950, empreendeu ferina crítica à sociologia e ao pensamento social no Brasil, condenando a alienação da “elite colonizada e estúpida” e buscando uma elaboração científica em sintonia com as novas formas de consciência que emergiam do povo e das ânsias de autonomia nacional, de criação da Nação. 1 A idéia da negação ou invalidação do povo como grupo ou sujeito vem desde viajantes com Louis Couty e Saint-Hilaire, e passa por uma “corrente” razoavelmente crítica do pensamento social no Brasil, que inclui Silvio Romero, Euclides da Cunha, Alberto Torres e Oliveira Viana – corrente ao qual Guerreiro Ramos estava ligado (Ramos, 1953, 1957). 2 “Nação” não como um território e seu povo, mas como espaço da autonomia e soberania, tanto política e econômica quanto cultural; emanação do espírito de um povo.
  • 4. 87 Arregaçar as mangas Para Guerreiro Ramos a nossa formação econômica, política e social dependente foi erigida sob as hostes do colonialismo cultural, da subordinação mental da elite nativa em relação à cultura dos países dominantes. A visão etnocêntrica ancorada na cultura européia e norte-americana teria disseminado entre nós uma concepção alienada da “realidade nacional”, homogeneizadora e propagadora de um universalismo abstrato que relegava a especificidade do “fenômeno nacional”. Essa visão alienadora, segundo ele, tentava solapar as contradições da sociedade brasileira, desconsiderando a originalidade da estrutura social, tomando-a como simples reflexo, imitação vil das determinações reinantes nos países de capitalismo central, avançado. Tal modalidade de pensamento intentava uniformizar o diferente, apagar os antagonismos, isolar o estranho, abafar o ruído, sincronizar os tempos históricos. A vivência nacional, situada numa outra fase cultural3 , reclamava fidelidade à sua própria temporalidade, sua condição de “contemporaneidade do não-coetâneo”4 instaurava uma existência cultural própria e requisitava uma dialética específica. Era mister - então - fazer uso da razão sociológica, da capacidade da sociologia de aplicar(se) seu instrumental, de rever-se, refletir a respeito de si e com relação à estrutura social à qual estava vinculada, refazendo(se) métodos e objetivos. Ao método crítico capaz de proceder a uma reflexão dessa natureza, assimilando criticamente as contribuições teóricas “importadas”, Guerreiro Ramos chamou “redução sociológica”. A redução sociológica – segundo Guerreiro Ramos - é uma “atitude parentética”, não-espontânea: põe entre parênteses os fenômenos, recusando a afirmação ou aceitação imediata das percepções, desnaturalizando a apreensão social e impondo filtros ao pensar. A redução tinha como suposto a “universalidade dos enunciados gerais da ciência”, todavia, propalava o “caráter subsidiário da produção científica estrangeira”, bem como o comprometimento do sociólogo com a realidade em questão e no que diz respeito à fase cultural na qual a sociedade se encontra (Ramos, 1996, p. 72). 3 Guerreiro Ramos compartilhava uma concepção faseológica da história, segundo ele, alicerçada nos trabalhos de Carl Müller-Lyer: Fases da cultura (1908), O sentido da vida e a ciência (1910) e A família (1912), dentre outros. Hélio Jaguaribe também utilizou amplamente essa concepção. 4 Conceito tomado a W. Pinder, denotando a coexistência de tempos histórico-culturais distintos.
  • 5. 88 Na fundamentação dessa atitude metódica repousava a noção de que a realidade social - em sua complexidade - é tecida por entes em sistemática conexão de sentido, não sendo fortuitos os fatos da vida social, mas “referidos uns aos outros por um vínculo de significação” (Ramos, 1996, p. 72). Induz daí a categoria “mundo”, na qual os sujeitos, sua consciência e os objetos estão intrinsecamente relacionados, existindo em profunda imbricação uns com os outros; o homem como ser social, como ser-no-mundo (e ser-do- mundo) está fatalmente inserido num dado contexto, suas ações, formas de consciência, valores, sua visão de mundo, está ancorada na sua existência (espaço-temporal) historicamente particular. Infere, assim, que o pensar (e o pensamento científico em particular) só pode ser algo relativizado, relacionado, dirigido a partir de uma perspectiva determinada. O sociólogo, como sujeito investigador, instrumentaliza esse perspectivismo (que é social e não individual) na procura de um conhecimento autêntico, cuja funcionalidade esteja em conformidade com uma intencionalidade referida à estrutura social e suas significações. Não há, portanto, posição neutra, “todo teorizar é extensão do fazer ao nível da representação” (Ramos, 1996: 108). Destarte, urgia à sociologia crítica atentar para a práxis, que norteia os “imperativos práticos” do saber; a redução sociológica não é uma atitude ingênua, desvinculada e desatenta de suas implicações, das particularidades de uma dada estrutura social e funções conseqüentes derivam responsabilidades e emanam projetos, conhecer é - sobretudo - transformar. Usar os punhos Guerreiro Ramos, perseguindo a possibilidade da autoconsciência da sociedade brasileira, põe-se em combate por uma sociologia engajada com a realidade nacional, uma tarefa que ele próprio qualificou como “das mais desagradáveis” (Ramos, 1953: 5). Acertando contas com o pensamento social no Brasil5 e terçando armas com vários 5 Guerreiro Ramos distingue, no pensamento social brasileiro, basicamente, duas correntes: uma “crítica”, que “representa o esforço de criação” e descolonização (Silvio Romero, Euclides da Cunha, Alberto Torres, Oliveira Vianna) e outra “que consiste simplesmente numa glosa das orientações doutrinárias vigentes nos centros de cultura estrangeiros” (Tobias Barreto, Pontes de Miranda, Tristão de Ataíde, Pinto Ferreira, Mário Lins etc.). Tais correntes emolduram o quadro intelectual, entretanto, admitem, segundo ele, sub-ramos, matizes e situações específicas (Ramos, 1953: 10-12).
  • 6. 89 intelectuais – como Florestan Fernandes, Luiz Aguiar Costa Pinto, Roger Bastide etc. – empreendeu verdadeira cruzada contra a transplantação irrefletida de idéias e o descompromisso com o desenvolvimento e autonomia da sociedade brasileira, não poupando o que chamou de “sociologia importada”, “consular”, “enlatada”. Também não escapou de sua mira as tentativas de fazer da sociologia um saber esotérico, elitista ou proselitista, certo “bovarismo” de ostentar um saber inalcançável pelos indivíduos comuns, pretensamente fixado em concepções profissionais e rotineiras do fazer sociológico. Distingue severamente a “ciência em hábito”, que defendia tais posições elitistas, da “ciência em ato”, transformadora, imbuída da consciência da necessidade de promover a autodeterminação da sociedade. A sociologia- para ele - não deveria ser “ofício”, “especialização”, sua vocação deve ser de resgatar o homem ao homem”, “tornar-se saber de salvação” (Ramos, 1996: 10-11). Batalhas da intelligentzia (quem são os amigos do povo?) No entender de Guerreiro Ramos, só na segunda metade do séc. XX nasce - de fato - uma intelligentzia no Brasil, ela é engendrada pelo amadurecimento da sociedade brasileira e o nascimento do povo. O cardinal fato político da vida brasileira nos dias de hoje é a existência do povo. Esta nova realidade sociológica necessariamente impõe a reorganização social e política do País, apta a dar forma aos impulsos da nova sociedade que se constituiu.... A tomada de consciência de que o povo é a novidade radical do Brasil na presente época constitui requisito imprescindível, do ponto de vista teórico e prático. (Ramos, 1961: 42 e 46). Cabia então aos intelectuais tomar posição, postar-se politicamente, não de modo privado, mas tornando públicas suas escolhas e suas funções: Formou-se no Brasil uma concepção segundo a qual a vida da inteligência é incompatível com a política [...] Ao contrário, num país como o Brasil, o intelectual que viva profundamente a ética da inteligência, reconhecerá que o seu magistério terá de ser deliberadamente, intencionalmente político. (Ibidem, 1961: 190).
  • 7. 90 Não havia mais espaço para o dandismo, para a afetação, havia que se descer dos púlpitos e das cátedras, das posições olímpicas que recusavam a se conspurcar com a miséria cotidiana, pois que a contraface da missão é necessariamente a omissão. Há na sociedade brasileira, atualmente, um oco a preencher, que decorre da perda de exemplaridades das idéias, por meio das quais justificava sua dominação uma classe há duas décadas em processo de aposentadoria histórica. Está diante de nós a tarefa de organizar um Estado Nacional, ou seja, de configurar politicamente o povo brasileiro. Para o intelectual, assumir essa tarefa não corresponde a ser adminículo de uma classe particular. Nas condições atuais da sociedade brasileira, está aberta ao intelectual, pela primeira vez entre nós, a oportunidade de valor por si, na proporção do teor concreto das idéias que exprime. Tais condições necessariamente politizam o trabalho intelectual orientado por um propósito substitutivo. E a intelligentzia não é esteticista. Pretende sempre a fundação de algo e o exercício de tarefa pedagógica. ((Ramos, 1961: 190). 6 Como intelligentzia, insubmissos a uma dada classe, os intelectuais teriam como missão interpretar a realidade brasileira, elucidá-la, organizar e educar o povo e alicerçar o Estado Nacional. A que herança renunciamos Ao debruçar-se sobre as construções do pensamento social no Brasil, Guerreiro Ramos estabeleceu uma relação tanto próxima quanto crítica com referência à herança cultural e a prática intelectual; combateu duramente o que considerava alienação, amorfismo e inautenticidade (Ramos, 1960: 93) predominantes na sociedade e produção intelectual brasileira, assim como retomou o que avaliava como uma tradição crítica de uma corrente razoavelmente lúcida do pensamento social no Brasil, integrada por aqueles que, segundo ele, produziram reflexões voltadas à fidelidade e concretude da sociedade brasileira, e dotadas de uma perspicácia de análise que procurava romper o colonialismo 6 Entretanto alerta para o fato de que: “Ordinariamente se considera o povo como conjunto de cidadãos em menoridade. Esta concepção é falsa hoje no Brasil. O povo, coletivamente, é o principal titular de capacidade econômica, social, política e cultural. Corresponde a um retrocesso a pretensão de tutelá-lo [...] O povo se educa a si próprio”, todavia, “O povo não pode dirigir o processo histórico-social senão por intermédio de sua vanguarda. A vanguarda do povo é o dirigente direto do processo nacional. O povo como totalidade é dirigente indireto” (Ramos, 1960: 230). Mannheim (1974: 80-2) e sua formulação da inteligência como camada intersticial capaz de síntese, norteia aqui as posições de Guerreiro Ramos.
  • 8. 91 cultural. Portanto, desafinando o coro dos contentes, procurou negar a legitimidade da transplantação de idéias e afirmar a validade de dada herança que, mesmo em seus antagonismos, fornecia elementos para a superação dos dilemas intelectuais da periferia do capitalismo. Manteve, desse modo, uma relação viva e fértil com a herança cultural, dialogando criticamente com os intelectuais contemporâneos e os que precederam. Tal debate cultural era-lhe imprescindível, a convivência com a herança e a tradição intelectual passava pelo acerto de contas e pela redenção cultural, lidar com tal passado seria um constante combate, não um remexer o baú de ossos. Atualmente, em geral, lidamos com nossa herança como um médico examina um cadáver: identificamo-nos com ela, mas não lhe reconhecemos vida. Os intelectuais no Brasil - como em todos os pontos vitais da nossa formação social - ainda vivem as contradições da submissão, ainda persiste o estranhamento para com a realidade brasileira e suas misérias, a indignação reinante é mais para com o que somos que contra o que nos oprime. Se a ruptura definitiva com tal situação é uma decisão cultural, não deixa – entretanto - também de ser uma atitude política. Embora destronados dos púlpitos donde pregavam aos ignaros, lançando reprimendas e conselhos, a maioria tragicamente dominante da “inteligência” brasileira entrincheirou-se nos gabinetes, abrigados sob a institucionalização e a profissionalização7 ; as carreiras substituíram as missões e a altivez intangível dos “sinceramente compadecidos” deu lugar a certo cinismo. Por outro lado, a pretexto de afirmar – paradoxalmente - a convicção na impotência da convicção, pleiteia-se a liberdade de eximir-se. A ciência não pode ser refém da vida. Há momentos – como já foi dito por Tobias Barreto (Meneses, 1962: 118) - em que o entusiasmo também tem o direito de resolver questões. Principalmente, se a “sensatez” se recusa. Referências ANDRADE, (1984). Carlos Drummond de. A rosa do povo. Rio de Janeiro: Record. 7 Entre os intelectuais brasileiros, a partir dos anos 1990, o engajamento deu lugar à profissionalização (LAHUERTA, 1999).
  • 9. 92 FERNANDES, Florestan. (1987). A revolução burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica. 3ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara. HOLANDA, Sérgio Buarque de. (1995). Raízes do Brasil. 26ª ed. São Paulo: Companhia das Letras. IANNI, Octavio. (1985). O ciclo da revolução burguesa. 2ª ed. Petrópolis: Vozes. LAHUERTA, Milton. (1999). Intelectuais e transição: entre a política e a profissão. Tese (Doutorado em Ciência Política) apresentada à FFCLH-USP. MANNHEIM, Karl. (1984). Sociologia da cultura. São Paulo: Perspectiva/Edusp. MENESES, Tobias Barreto de. (1962). Um discurso em mangas de camisa. In: ______. Estudos de Sociologia. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro/MEC. PRADO JÚNIOR, Caio. (2000). Formação do Brasil contemporâneo: colônia. São Paulo: Brasiliense/Publifolha. RAMOS, Alberto Guerreiro. (1953). O processo da sociologia no Brasil: esquema de uma história das idéias. Rio de Janeiro: [s.ed.]. ______. (1957). Introdução crítica à sociologia brasileira. Rio de Janeiro: Andes. ______. (1960). O problema nacional do Brasil. 2ª ed. Rio de Janeiro: Saga. ______. (1961). A crise do poder no Brasil: problemas da revolução nacional brasileira. Rio de Janeiro: Zahar. ______. (1996). A redução sociológica. 3ª ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ.