Pesquisadores da USP de São Carlos desenvolveram um método barato para realizar exames clínicos usando papel especial. O método envolve impressão de "selos" no papel que mudam de cor quando em contato com amostras, indicando doenças. Os testes podem custar apenas R$0,10 cada e poderão ser usados em locais remotos, melhorando o acesso a diagnósticos. O método pode ser expandido no futuro para detectar outros problemas de saúde como câncer.
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USP São Carlos
1. II – São Paulo, 121 (68) Diário Oficial Poder Executivo - Seção I terça-feira, 12 de abril de 2011
Geraldo Alckmin - Governador
Volume 121 • Número 68 • São Paulo, terça-feira, 12 de abril de 2011 www.imprensaoficial.com.br
UM NOVO ALIADO
É
DA SAÚDE
um simples pedaço de papel que ocorrem em laboratório de análises
medindo cerca de dois centímetros clínicas podem ser transportadas para o
quadrados de área – e será capaz papel”, afirma Carrilho.
de ajudar a salvar vidas. Pela sim- Segundo o pesquisador, não há limi-
plicidade da tecnologia utilizada tes para aprimoramento do estudo. A pró-
parece até difícil imaginar como xima etapa da pesquisa incluirá a detecção
essas minúsculas formas serão de alguns tipos de câncer. Uma vantagem
importantes para os pacientes. Parceria inédita entre a USP São Carlos e Universidade a mais para municípios com poucos recur-
Orientada pelo professor Emanuel de Harvard cria método mais eficaz e com menos custos sos e que dependem de serviços laborato-
Carrilho, do Instituto de Química riais exclusivos. A aplicabilidade vai além,
da USP de São Carlos, a pesquisa de análises clínicas para identificação de várias doenças pois a tecnologia poderá levar atendimen-
utiliza uma espécie de “selo postal” to médico a locais mais distantes e iso-
no processo de análises clínicas numa parceria com o pesquisador George o que a deixava inviável financeiramente, lados do País. “Uma das intenções nesse
para diagnosticar doenças como Whitesides na Universidade de Harvard, num primeiro momento. projeto é direcionar nosso esforços na
diabetes, disfunções renais, malá- em Cambridge, Massachusetts. Carrilho busca de soluções inovadoras e de baixo
ria, mal de Chagas e até aids. Outra ficou interessado pela inovação, porém, o Diagnósticos múltiplos – A con- custo. Seria possível levar o método a
vantagem do estudo é o baixo custo processo de fabricação original utilizava tribuição do pesquisador da USP permitiu regiões carentes, onde os recursos de polí-
dos kits de análise. solventes e polímeros para fazer o teste. Ou o uso de folhas de papel especial de cro- ticas públicas e de qualidade de vida não
O professor Carrilho aper- seja, a produção necessariamente deveria matografia (um tipo poroso, semelhante chegam, transformando os habitantes do
feiçoou o método no exterior, passar por um laboratório especializado, ao do coador de café) e uma impressora local em verdadeiros agentes de saúde”.
FOTOS: FERNANDES DIAS PEREIRA
Coleção de amos-
tras – Com esse méto-
do, ele enxerga a possi-
bilidade do uso até da
telemedicina, que redu-
ziria a proximidade do
paciente com o especia-
lista. O teste pode ser
aplicado até no meio
de uma floresta ou
por uma pessoa pouco
experiente. Com o celu-
lar será possível o pró-
prio paciente tirar foto-
grafia e enviar a amos-
tra para um especialis-
ta que daria o diagnos-
tico ou sugeriria o que
Pesquisadora da USP-São Carlos
fazer no próximo passo.
aplica reagente no papel especial (acima); Ou ainda exportar os resultados para um
método é simples e pode ser usado para banco de dados internacional da área
vários tipos de análises clínicas científica (tipo Google).
O professor Emanuel Carrilho prevê,
a laser com tinta a base de cera. De acor- ainda em 2011, fazer uma experiência ini-
do com Carrilho, o teste é parecido com cial na cidade de Santa Luzia do Itanhy, em
o usado para detectar gravidez, porém, Sergipe. Porém, a sua equipe ainda aguarda
mais barato e aplicável a inúmeras doen- liberação de financiamento para a realiza-
ças. “Para ativá-los basta uma gota de ção do trabalho de campo em parceria com
urina, sangue, lágrima ou saliva. Em con- um instituto de pesquisa, o IPTI – Instituto
tato com reagentes, o papel muda de cor de Pesquisa de Tecnologia e Inovação. A
de acordo com cada tipo de enfermidade”, ideia inicial é executar testes de glicemia e
afirma o pesquisador. proteinúria (proteína do plasma produzida
Os pesquisadores ainda precisam pelo fígado, através do metabolismo dos
definir alguns materiais a serem utiliza- alimentos ricos em proteínas, tais como
dos nesse processo, mas o custo médio carnes, ovos, leite e derivados) em 4,7 mil
de cada exame não deverá passar de R$ crianças e adolescentes. Em caso de suces-
0,10. Além das doenças, o teste pode ser so, a experiência será estendida para outras
usado para detectar metais pesados como cidades nos próximos anos, ampliando
mercúrio e chumbo, e até pesticidas na também a gama de exames realizados.
água ou em outros líquidos. “O núme-
ro de variações da pesquisa é ilimitado. Anderson Moriel Mattos
Em princípio, quase todas as reações Da Agência Imprensa Oficial