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ITU NA INFÂNCIA
Prof. Dr. Armando J. Gabriel
EPIDEMIOLOGIA
• As infecções do trato urinário (ITU) estão entre as infecções bacterianas mais comuns em crianças.
• Até 8% das crianças experimentam pelo menos uma ITU entre um mês e 11 anos
• Até 30% experimentam infecções recorrentes durante os primeiros 6 a 12 meses após a ITU inicial.
• O pico da idade da ITU é bimodal, com um na fase da lactância e o outro entre 2 e 4 anos de
idade (treinamento da higiene).
• A proporção menina: menino varia de 1:1 a 1:4 nos primeiros 2 meses de vida.
• Esta relação aumenta com a idade, sendo cerca de 2:1 entre 2 meses e 1 ano, 4:1 durante o 2º
ano e > 5:1 após o 4º ano.
• Nas meninas, as infecções são geralmente ascendentes e causam bacteremia com menor
frequência.
• A preponderância acentuada entre as meninas é atribuída a uretra curta feminina e a circuncisão
nos meninos.
PATOGENIA
O papel das bactérias
• A urina e o trato urinário são normalmente estéreis.
• O períneo e a zona periuretral de neonatos e lactentes estão colonizados por: Escherichia coli,
Enterobacteriaceae e Enterococus sp além de que o prepúcio de meninos não circuncidados é um
reservatório para várias espécies de Proteus.
• Esta colonização diminui após o primeiro ano de vida sendo rara após os cinco anos.
• A ITU ocorre quando estas bactérias ascendem o trato urinário.
• Oitenta por cento das infecções urinárias adquiridas na comunidade são causadas pela E. coli
uropatogênica (UPEC).
• AS UPEC isoladas de pacientes com ITU febril (pielonefrite) apresentam fatores de virulência que
aumentam sua sobrevivência no hospedeiro. São as Pili ou fimbrias (S, P e a tipo 1) que facilitam
a sua ascensão ao trato urinário por mecanismo de contra-corrente por aderirem ao epitélio tanto
da bexiga como do trato urinário superior.
PATOGENIA
O papel da defesa do hospedeiro
• A resistência do hospedeiro à ITU depende em grande parte das defesas imunológicas inatas,
principalmente durante a fase aguda da doença.
• A resposta à E. coli uropatogênica é ativada pela adesão mediada por fímbria P aos receptores
glicolipídicos e leva à ativação de TLRs, dos quais o TLR4 foi considerado o principal.
• A ativação da sinalização do TLR4 resulta na liberação de fatores de transcrição como IRF3, que
acionam o recrutamento de neutrófilos e a produção de citocinas para matar bactérias. Esses
mecanismos determinam os sintomas e sinais de ITU.
• As células uroteliais produzem interleucina-8 (IL-8), que atrai neutrófilos para o trato urinário e leva
à piúria. A própria infecção melhora a expressão dos receptores de IL-8 e estimula ainda mais a
atração e ativação de neutrófilos.
• A interleucina-6 (IL-6) também é secretada pelas células uroteliais. A IL-6 ativa a produção da
proteína C reativa (PCR) e estimula a produção de IgA da mucosa.
PATOGENIA
O papel das anormalidades do trato urinário
• As ITUs podem ser o evento sentinela para anomalias congênitas subjacentes do rim e trato
urinário (CAKUT), embora a anatomia normal seja mais comum.
• Em 30% das crianças com CAKUT, a ITU pode ser o primeiro sinal. Se o pediatra não detectar os
pacientes em risco de CAKUT, o trato urinário superior pode ser danificado.
• Teoricamente, alterações anatômicas ou funcionais no fluxo urinário normal podem certamente
predispor a episódios de ITU e esses episódios provavelmente ocorrerão em neonatos ou lactentes
jovens.
• As anomalias mais comuns foram RVU, sistema coletor duplicado, valvas uretrais posteriores,
obstrução da junção ureteropiélica e hipodisplasia renal.
SINAIS E
SINTOMAS
RN -
inespecíficos
Dificuldade para se alimentar
Diarreia
Dificuldade para ganhar peso
Vômitos
Icterícia leve (que costuma ser elevação de bilirrubina direta)
Letargia
Febre
Hipotermia
SEPSE
SINAIS E
SINTOMAS
LACTENTES E
< 2 ANOS
SINAIS ESCASSOS DE
LOCALIZAÇÃO
Febre
Vômitos
Diarreia
Dor abdominal
Urina com mau cheiro
SINAIS E
SINTOMAS
> 2 ANOS
Pode aparecer quadro clássico de cistite ou pielonefrite.
Os sintomas de cistite incluem disúria, frequência, hematúria,
retenção urinária, dor suprapúbica, urgência, prurido, incontinência,
urina com mau cheiro e enurese.
Os sintomas de pielonefrite incluem febre alta, calafrios, dor costo-
vertebral e dor à palpação.
Dados sugestivos associados a anormalidades do trato urinário
incluem massas abdominais, rins volumosos, anormalidade do meato
uretral e sinais de malformações da região inferior da coluna. Jato
urinário fraco pode sugerir obstrução ou bexiga neurogênica.
SEMPRE
INVESTIGAR
ITU:
Em qualquer criança e adolescente com sintomas
urinários
Em qualquer criança, especialmente bebês, com febre
inexplicada
Em qualquer recém-nascido com sinais ou sintomas
de bacteremia
Em qualquer recém-nascido com bilirrubina sérica
conjugada elevada
Em qualquer criança com atraso de crescimento
EXAME DE
URINA
COLETA
SACO PLÁSTICO
JATO
CATETERISMO VESICAL
PUNÇÃO SUPRA-PÚBICA
URINA TIPO I
• ESTERASE LEUCOCITÁRIA –
INDICATIVA DE LEUCOCITÚRIA/PIÚRIA
• PROVA DO NITRITO: CONVERSÃO DE
NITRATO EM NITRITO POR BACTÉRIAS
– INDICATIVA DE BACTERIÚRIA
• LEUCOCITÚRIA
• > 3 LEUCÓCITOS /CAMPO
• > 10 LEUCÓCITOS/CAMPO
SENSIBILIDADE ESPECIFICIDADE
ESTERASE
LEUCOCITÁRIA
83 78
PROVA DO
NITRITO
50 92
LEUCOCITÚRIA 73 81
BACTERIOSCOPIA 81 83
GRAM 93 95
UROCULTURA
• A cultura de urina ainda é o padrão-ouro para o diagnóstico de ITU.
• Na urina recém-excretada, um crescimento de mais de 105 UFC/ml é considerado como o ponto
de corte entre a contaminação e a ITU.
• No entanto, o que não é amplamente entendido é que a quantificação de UFC é um teste
semiquantitativo. O método baseia-se na diferenciação infalível por técnico de microbiologia de 10
e 100 UFCs separadas em uma placa de ágar, que foi semeada com 1 mL de urina. Por causa da
imprecisão intrínseca do método, os médicos devem levar em consideração os sinais e
sintomas da ITU para tratar uma criança. Deve-se mencionar que algumas crianças com ITU
não atingem o limiar diagnóstico tradicional de 105/mL UFC.
• O ponto de corte usado para amostras colhidas por cateterização da bexiga é 104 UFC/mL.
• Qualquer crescimento bacteriano na urina obtido por PSP indica ITU.
EXAME DE
SANGUE
Hemograma
Em especial se febre
Testes para processos inflamatórios (VHS, proteína C-
reativa, procalcitonina) podem ajudar a diagnosticar
infecção nas crianças em situações de achados urinários
limítrofes.
Alguns especialistas avaliam os valores de ureia e
creatinina no primeiro episódio de ITU.
As hemoculturas são apropriadas para aqueles
lactentes com infecções do trato urinário e para
crianças > 1 a 2 anos com aspecto toxêmico.
IMAGEM
ULTRASSONOGRAFIA
CINTILOGRAFIA RENAL
(DMSA)
URETROCISTOGRAFIA
MICCIONAL
EM QUEM
FAZER?
Infecções recorrentes
Sinais clínicos, inclusive fluxo urinário deficiente ou rins palpáveis
Organismos incomuns (aqueles que não são Escherichia coli)
Infecção do trato urinário associada a bacteremia ou septicemia
Curso clínico prolongado com insucesso da resposta total ao tratamento com
antibióticos dentro de 48 a 72 horas
Apresentação clínica incomum, como um menino mais velho
Dilatação ou anormalidade conhecida na triagem pré-natal por ultrassom do trato
urinário
Marks et al. Pediatric Nephrology volume 23, pages 9–17(2008)
IMAGEM
ITU
US
NORMAL ALTERADO
DMSA
NORMAL ALTERADO
UCM
DMSA
UCM
IMAGEM
clinicacocuzza.com.br
saudedireta.com.br
TRATAMENTO
OBJETIVOS PRINCIPAIS
• Resolução dos sintomas agudos da infecção;
• Reconhecimento imediato de bacteremia
concomitante, principalmente em bebês com menos
de 2 meses;
• Prevenção de danos renais por erradicação do
patógeno bacteriano;
• Identificação de anormalidades do trato urinário;
• Prevenção de infecções recorrentes.
ANTIBIOTICOTERAPIA
ORIENTAÇÕES GERAIS
• O manejo clínico das ITUs em crianças deve ser adaptado de acordo com a idade do paciente, gravidade da apresentação e local da infecção (cistite
X pielonefrite).
• O tratamento com antibióticos é a pedra angular do tratamento para ITU aguda.
• A decisão de iniciar o tratamento empírico deve basear-se na suspeita clínica de ITU, que inclui histórico cuidadoso e exame físico, e exame de urina
positivo em uma amostra de urina coletada adequadamente.
• O clínico deve basear a escolha do agente nos padrões locais de sensibilidade antimicrobiana (se disponível) e ajustar a escolha de acordo com o
teste de sensibilidade do uropatógeno isolado.
• A maioria dos pacientes pode ser tratada ambulatorialmente com terapia oral, se a criança apresenta aparência atóxica, pode tolerar medicações
orais e a família segue as recomendações.
• Por outro lado, a terapia parenteral em regime de internação deve ser considerada em crianças com doença aguda, crianças que não toleram terapia
oral ou quando a adesão ao regime prescrito é questionada.
• Bebês com 3 meses ou menos de ITU devem ser tratados inicialmente com antibióticos intravenosos devido ao risco de urosepse e à maior
possibilidade de anomalia estrutural do trato urinário. Além disso, bebês com menos de 60 a 90 dias têm maior probabilidade de mudar abruptamente
o curso da doença devido ao seu sistema imunológico incompletamente desenvolvido.
ATB
PARENTERAL
PARA
PIELONEFRITE
AGUDA
Antibiótico Dose: mg/kg/dia Intervalo
Ampicilina 100 mg A cada 6 h
Gentamicina 7,5 mg A cada 8 h
Ceftriaxona 50-100 mg A cada 12 h
Cefotaxima 100-200 mg A cada 8 h
Cefepima 100 mg A cada 12 h
ATB ORAL
Antibiótico Dose: mg/kg/dia Intervalo
Sulfametoxazol + Trimetoprima 40 mg (SMT) A cada 12 h
Cefadroxila 30-50 mg A cada 12 h
Cefalexina 50-100 mg A cada 6 h
Amoxicilina + Clavulanato 40 mg (Amoxicilina) A cada 12 h
Prevenção da
ITU
RECORRENTE
e Profilaxia
com
antibióticos
A prevenção de ITU recorrente é uma questão discutível
no cenário pediátrico.
Pacientes com anormalidades significativas do trato
urinário ou ITU sintomática frequente podem se
beneficiar de antibióticos profiláticos.
Fármacos profiláticos comumente utilizados, se a
profilaxia é desejada, incluem nitrofurantoína 2 mg/kg
VO uma vez ao dia ou sulfametoxazol-trimetoprima
(SMX-TMP) 3 mg/kg VO (do componente TMP) uma vez
ao dia, geralmente à noite, na hora de deitar.
PROGNÓSTICO
• O envolvimento do parênquima renal na ITU
pode levar a uma reação inflamatória com
risco de dano permanente.
• As consequências em longo prazo de tais
danos incluem hipertensão e função renal
comprometida, mas a frequência dessas
complicações ainda é pouco conhecida.
• A questão principal é a dificuldade de
acompanhar os pacientes ao longo de várias
décadas, o que é necessário para obter
resultados confiáveis.
BIBLIOGRAFIA
DESTA AULA
• BEHRMAN, R.E.; KLIEGMAN, R., JENSON H.B.
Nelson - Tratado de Pediatria. 20 ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2017.
• Simões e Silva AC, Oliveira EA, Mak RH.
Urinary tract infection in pediatrics: an
overview. J Pediatr (Rio J). 2020;96(S1):65-
79.
• EAU Guidelines on Paediatric Urology, 2020

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  • 1. ITU NA INFÂNCIA Prof. Dr. Armando J. Gabriel
  • 2. EPIDEMIOLOGIA • As infecções do trato urinário (ITU) estão entre as infecções bacterianas mais comuns em crianças. • Até 8% das crianças experimentam pelo menos uma ITU entre um mês e 11 anos • Até 30% experimentam infecções recorrentes durante os primeiros 6 a 12 meses após a ITU inicial. • O pico da idade da ITU é bimodal, com um na fase da lactância e o outro entre 2 e 4 anos de idade (treinamento da higiene). • A proporção menina: menino varia de 1:1 a 1:4 nos primeiros 2 meses de vida. • Esta relação aumenta com a idade, sendo cerca de 2:1 entre 2 meses e 1 ano, 4:1 durante o 2º ano e > 5:1 após o 4º ano. • Nas meninas, as infecções são geralmente ascendentes e causam bacteremia com menor frequência. • A preponderância acentuada entre as meninas é atribuída a uretra curta feminina e a circuncisão nos meninos.
  • 3. PATOGENIA O papel das bactérias • A urina e o trato urinário são normalmente estéreis. • O períneo e a zona periuretral de neonatos e lactentes estão colonizados por: Escherichia coli, Enterobacteriaceae e Enterococus sp além de que o prepúcio de meninos não circuncidados é um reservatório para várias espécies de Proteus. • Esta colonização diminui após o primeiro ano de vida sendo rara após os cinco anos. • A ITU ocorre quando estas bactérias ascendem o trato urinário. • Oitenta por cento das infecções urinárias adquiridas na comunidade são causadas pela E. coli uropatogênica (UPEC). • AS UPEC isoladas de pacientes com ITU febril (pielonefrite) apresentam fatores de virulência que aumentam sua sobrevivência no hospedeiro. São as Pili ou fimbrias (S, P e a tipo 1) que facilitam a sua ascensão ao trato urinário por mecanismo de contra-corrente por aderirem ao epitélio tanto da bexiga como do trato urinário superior.
  • 4.
  • 5. PATOGENIA O papel da defesa do hospedeiro • A resistência do hospedeiro à ITU depende em grande parte das defesas imunológicas inatas, principalmente durante a fase aguda da doença. • A resposta à E. coli uropatogênica é ativada pela adesão mediada por fímbria P aos receptores glicolipídicos e leva à ativação de TLRs, dos quais o TLR4 foi considerado o principal. • A ativação da sinalização do TLR4 resulta na liberação de fatores de transcrição como IRF3, que acionam o recrutamento de neutrófilos e a produção de citocinas para matar bactérias. Esses mecanismos determinam os sintomas e sinais de ITU. • As células uroteliais produzem interleucina-8 (IL-8), que atrai neutrófilos para o trato urinário e leva à piúria. A própria infecção melhora a expressão dos receptores de IL-8 e estimula ainda mais a atração e ativação de neutrófilos. • A interleucina-6 (IL-6) também é secretada pelas células uroteliais. A IL-6 ativa a produção da proteína C reativa (PCR) e estimula a produção de IgA da mucosa.
  • 6. PATOGENIA O papel das anormalidades do trato urinário • As ITUs podem ser o evento sentinela para anomalias congênitas subjacentes do rim e trato urinário (CAKUT), embora a anatomia normal seja mais comum. • Em 30% das crianças com CAKUT, a ITU pode ser o primeiro sinal. Se o pediatra não detectar os pacientes em risco de CAKUT, o trato urinário superior pode ser danificado. • Teoricamente, alterações anatômicas ou funcionais no fluxo urinário normal podem certamente predispor a episódios de ITU e esses episódios provavelmente ocorrerão em neonatos ou lactentes jovens. • As anomalias mais comuns foram RVU, sistema coletor duplicado, valvas uretrais posteriores, obstrução da junção ureteropiélica e hipodisplasia renal.
  • 7. SINAIS E SINTOMAS RN - inespecíficos Dificuldade para se alimentar Diarreia Dificuldade para ganhar peso Vômitos Icterícia leve (que costuma ser elevação de bilirrubina direta) Letargia Febre Hipotermia SEPSE
  • 8. SINAIS E SINTOMAS LACTENTES E < 2 ANOS SINAIS ESCASSOS DE LOCALIZAÇÃO Febre Vômitos Diarreia Dor abdominal Urina com mau cheiro
  • 9. SINAIS E SINTOMAS > 2 ANOS Pode aparecer quadro clássico de cistite ou pielonefrite. Os sintomas de cistite incluem disúria, frequência, hematúria, retenção urinária, dor suprapúbica, urgência, prurido, incontinência, urina com mau cheiro e enurese. Os sintomas de pielonefrite incluem febre alta, calafrios, dor costo- vertebral e dor à palpação. Dados sugestivos associados a anormalidades do trato urinário incluem massas abdominais, rins volumosos, anormalidade do meato uretral e sinais de malformações da região inferior da coluna. Jato urinário fraco pode sugerir obstrução ou bexiga neurogênica.
  • 10. SEMPRE INVESTIGAR ITU: Em qualquer criança e adolescente com sintomas urinários Em qualquer criança, especialmente bebês, com febre inexplicada Em qualquer recém-nascido com sinais ou sintomas de bacteremia Em qualquer recém-nascido com bilirrubina sérica conjugada elevada Em qualquer criança com atraso de crescimento
  • 12. URINA TIPO I • ESTERASE LEUCOCITÁRIA – INDICATIVA DE LEUCOCITÚRIA/PIÚRIA • PROVA DO NITRITO: CONVERSÃO DE NITRATO EM NITRITO POR BACTÉRIAS – INDICATIVA DE BACTERIÚRIA • LEUCOCITÚRIA • > 3 LEUCÓCITOS /CAMPO • > 10 LEUCÓCITOS/CAMPO SENSIBILIDADE ESPECIFICIDADE ESTERASE LEUCOCITÁRIA 83 78 PROVA DO NITRITO 50 92 LEUCOCITÚRIA 73 81 BACTERIOSCOPIA 81 83 GRAM 93 95
  • 13. UROCULTURA • A cultura de urina ainda é o padrão-ouro para o diagnóstico de ITU. • Na urina recém-excretada, um crescimento de mais de 105 UFC/ml é considerado como o ponto de corte entre a contaminação e a ITU. • No entanto, o que não é amplamente entendido é que a quantificação de UFC é um teste semiquantitativo. O método baseia-se na diferenciação infalível por técnico de microbiologia de 10 e 100 UFCs separadas em uma placa de ágar, que foi semeada com 1 mL de urina. Por causa da imprecisão intrínseca do método, os médicos devem levar em consideração os sinais e sintomas da ITU para tratar uma criança. Deve-se mencionar que algumas crianças com ITU não atingem o limiar diagnóstico tradicional de 105/mL UFC. • O ponto de corte usado para amostras colhidas por cateterização da bexiga é 104 UFC/mL. • Qualquer crescimento bacteriano na urina obtido por PSP indica ITU.
  • 14. EXAME DE SANGUE Hemograma Em especial se febre Testes para processos inflamatórios (VHS, proteína C- reativa, procalcitonina) podem ajudar a diagnosticar infecção nas crianças em situações de achados urinários limítrofes. Alguns especialistas avaliam os valores de ureia e creatinina no primeiro episódio de ITU. As hemoculturas são apropriadas para aqueles lactentes com infecções do trato urinário e para crianças > 1 a 2 anos com aspecto toxêmico.
  • 16. EM QUEM FAZER? Infecções recorrentes Sinais clínicos, inclusive fluxo urinário deficiente ou rins palpáveis Organismos incomuns (aqueles que não são Escherichia coli) Infecção do trato urinário associada a bacteremia ou septicemia Curso clínico prolongado com insucesso da resposta total ao tratamento com antibióticos dentro de 48 a 72 horas Apresentação clínica incomum, como um menino mais velho Dilatação ou anormalidade conhecida na triagem pré-natal por ultrassom do trato urinário Marks et al. Pediatric Nephrology volume 23, pages 9–17(2008)
  • 19. TRATAMENTO OBJETIVOS PRINCIPAIS • Resolução dos sintomas agudos da infecção; • Reconhecimento imediato de bacteremia concomitante, principalmente em bebês com menos de 2 meses; • Prevenção de danos renais por erradicação do patógeno bacteriano; • Identificação de anormalidades do trato urinário; • Prevenção de infecções recorrentes.
  • 20. ANTIBIOTICOTERAPIA ORIENTAÇÕES GERAIS • O manejo clínico das ITUs em crianças deve ser adaptado de acordo com a idade do paciente, gravidade da apresentação e local da infecção (cistite X pielonefrite). • O tratamento com antibióticos é a pedra angular do tratamento para ITU aguda. • A decisão de iniciar o tratamento empírico deve basear-se na suspeita clínica de ITU, que inclui histórico cuidadoso e exame físico, e exame de urina positivo em uma amostra de urina coletada adequadamente. • O clínico deve basear a escolha do agente nos padrões locais de sensibilidade antimicrobiana (se disponível) e ajustar a escolha de acordo com o teste de sensibilidade do uropatógeno isolado. • A maioria dos pacientes pode ser tratada ambulatorialmente com terapia oral, se a criança apresenta aparência atóxica, pode tolerar medicações orais e a família segue as recomendações. • Por outro lado, a terapia parenteral em regime de internação deve ser considerada em crianças com doença aguda, crianças que não toleram terapia oral ou quando a adesão ao regime prescrito é questionada. • Bebês com 3 meses ou menos de ITU devem ser tratados inicialmente com antibióticos intravenosos devido ao risco de urosepse e à maior possibilidade de anomalia estrutural do trato urinário. Além disso, bebês com menos de 60 a 90 dias têm maior probabilidade de mudar abruptamente o curso da doença devido ao seu sistema imunológico incompletamente desenvolvido.
  • 21. ATB PARENTERAL PARA PIELONEFRITE AGUDA Antibiótico Dose: mg/kg/dia Intervalo Ampicilina 100 mg A cada 6 h Gentamicina 7,5 mg A cada 8 h Ceftriaxona 50-100 mg A cada 12 h Cefotaxima 100-200 mg A cada 8 h Cefepima 100 mg A cada 12 h
  • 22. ATB ORAL Antibiótico Dose: mg/kg/dia Intervalo Sulfametoxazol + Trimetoprima 40 mg (SMT) A cada 12 h Cefadroxila 30-50 mg A cada 12 h Cefalexina 50-100 mg A cada 6 h Amoxicilina + Clavulanato 40 mg (Amoxicilina) A cada 12 h
  • 23. Prevenção da ITU RECORRENTE e Profilaxia com antibióticos A prevenção de ITU recorrente é uma questão discutível no cenário pediátrico. Pacientes com anormalidades significativas do trato urinário ou ITU sintomática frequente podem se beneficiar de antibióticos profiláticos. Fármacos profiláticos comumente utilizados, se a profilaxia é desejada, incluem nitrofurantoína 2 mg/kg VO uma vez ao dia ou sulfametoxazol-trimetoprima (SMX-TMP) 3 mg/kg VO (do componente TMP) uma vez ao dia, geralmente à noite, na hora de deitar.
  • 24. PROGNÓSTICO • O envolvimento do parênquima renal na ITU pode levar a uma reação inflamatória com risco de dano permanente. • As consequências em longo prazo de tais danos incluem hipertensão e função renal comprometida, mas a frequência dessas complicações ainda é pouco conhecida. • A questão principal é a dificuldade de acompanhar os pacientes ao longo de várias décadas, o que é necessário para obter resultados confiáveis.
  • 25. BIBLIOGRAFIA DESTA AULA • BEHRMAN, R.E.; KLIEGMAN, R., JENSON H.B. Nelson - Tratado de Pediatria. 20 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. • Simões e Silva AC, Oliveira EA, Mak RH. Urinary tract infection in pediatrics: an overview. J Pediatr (Rio J). 2020;96(S1):65- 79. • EAU Guidelines on Paediatric Urology, 2020