Artigo defesa do bloqueio directo por Ruben Aguiar
A vida ao Quadrado - Ep1 - A perceção
1. Vida ao quadrado
Por
Ruben Aguiar
Baseado em factos veridicos...
ou na unica verdade...
ou em verdade nenhuma....
Episodio 1 - A percepção ruben.aguiar14@gmail.com
2. 75 ANOS...
INT. NOITE CASA DO MARIO
A FAMILIA ESTÁ TODA REUNIDA PARA CELEBRAR O SEU 75º
ANIVERSARIO.
ACABAM OS PARABENS, O MARIO SOPRA AS VELAS E SUSSURRA...
MARIO
O meu desejo é que estivesses aqui
comigo de novo...
NETO
Vô que historia era aquela que a
avó estava sempre a querer saber? é
hoje que nos contas o que aconteceu
contigo naquela noite?
MARIO
(Sorrindo)
Estou aqui, essa é a historia...
FILHA
Sim pai, isso foi sempre o que nos
respondeste, mas a verdade é que
ninguém sabe o que te aconteceu
naquela noite... Aliás, segundo a
mãe faz percisamente hoje 50 anos.
foi no dia do teu aniversario não
foi?
MIGUEL
Bem, pelo menos a partir de certa
parte... Para te ser honesto,
gostava de não morrer antes de
saber que viagem foi essa...
MARIO
(Levantando-se)
Bem, já perdi a oportunidade de
explicar á mulher que eu amo, a
noite que mudou a minha vida... Não
quero que o mesmo se passe
convosco... (dirige-se ao cofre) o
Problema está em que eu nunca
pensei viver tanto tempo. Tinha
isto guardado para quando morresse.
POUSA UM LIVRO EM QUE SE PODE LER: A VIDA AO QUADRADO.
(CONTINUED)
3. CONTINUED: 2.
MARIO
Esta é a historia desssa noite..
OLHAM UNS PARA OS OUTROS PREPLEXOS...
MARIO
Então? não queriam a historia dessa
noite? Ah!!!! Tambem querem que vos
leia... Muito bem, Miguel queres
fazer a introdução?
4. 3.
O TROWBACK
INT. CASA DO MIGUEL NOITE
É a festa de anos do Mario, o Miguel conidou os amigos
todos.
Estão dispersados por grupos a conversar e a beber.
O Miguel está a conversar com o Mario e de subito
levanta-se.
MIGUEL
(de copo no ar)
Ao Mario! O maior escritor de
sempre! Que nao escreve merda
nenhuma!
MARIO
(Sorrindo)
Cabrão...
Todos brindam!
NARRADOR
Eram tempos complicados para o
vosso avô, ou ele era complicado
para aqueles tempos...
Voltam á conversa
MARIO
Tu não entendes, não é só de um
final para o guião que ando á
procura, mas sim do meu tambem...
Eu não sei se quero ficar com ela
(enquanto sorri para sua namorada),
não sei se quero casar ou ter
filhos ou simplesmente aceitar a
proposta e desaparecer sem dizer
nada a ninguém... Sinto que toda a
minha vida quis ter o poder de
tomar decisões e agora que o tenho
não faço a minima ideia que fazer..
MIGUEL
Hey! Calma... Tem acontecido tudo
muito rapido, a vossa relação,
agora a proposta... tens um mundo a
acontecer á tua frente e isso
assusta qualquer um... Lembraste do
Hom Waaf, o guia esperitual que
conheci no nepal?
(CONTINUED)
5. CONTINUED: 4.
Miguel levanta-se e vai ao quarto buscar uma caixinha
MARIO
Sim, o que tem, sabes alguma
tecnica para resolver o meu
problema...
Miguel volta
MIGUEL
Não é bem uma tecnica, mas ele
deu-me uma coisa.
MIGUEL
(Declamando)
"O quadrado que te iluminará quando
o teu caminho tiver escuro!"
MARIO
Ah?
MIGUEL
Foram as palavras dele. Nunca Mais
me esqueci
MARIO
O que é?
MIGUEL
É a raiz de uma planta, que,
curiosamente, nasce sempre com a
forma de um quadrado perfeito e
segundo ele tem o poder de iluminar
a mente e de encontrar as respostas
que procuras.
MARIO
E tu acreditas nisso?
MIGUEL
Nunca pensei muito nisso, mas
guardei-a, não fosse um dia
precisar e porque não experimentar?
Mas neste momento pareces precisar
mais do que eu, por isso, se
quiseres, é teu...
Mario olha à sua volta
MARIO
Sabes que mais? Porque não?
MARIO TOMA O QUADRADO, E AO LONGO DO TEMPO VAI NOTANDO AS
MUDANÇAS DE PERCEPÇÃO DAS CORES, DOS SONS...
(CONTINUED)
6. CONTINUED: 5.
MARIO
o que se passa com o meu estomago?
MIGUEL
Estás te a sentir mal?
MARIO
Não, estou me a sentir fantastico,
mas o meu estomago está estranho,
apesar desta sensação me ser
familiar, isto é... Amor!
MARIO
Exato! sabes quando és criança e te
apaixonas pela primeira vez e o teu
estomago vira um campo de
borboletas...
MIGUEL
Agora viraste poeta?
Mario, levanta-se.
MARIO
Tenho que ir!
MIGUEL
Hei!!! Acalma lá os cavalos! Tu não
vais a lado nenhum assim...
MARIO
Tu não estás a perceber, já sei o
final para o filme, tenho que ir
para casa escrever...
MIGUEL
Calma, eu vou chama-la e vão os
dois..
MARIO
Não! Eu vou sozinho, eu perciso de
ir sozinho!
MIGUEL
Entendo...
NARRADOR
Até aos dias de hoje me questiono
como é que aceitei essa loucura.
MIGUEL
Está bem,faz a viagem que tens que
fazer, arranja o final para o
(CONTINUED)
7. CONTINUED: 6.
filme, e quem sabe para tua
historia também...
MARIO
Obrigado amigo, toma conta dela...
MIGUEL
Toma conta de ti
ABRAÇAM-SE.
8. 7.
FIM DA INTRODUÇÃO
Int. Casa do Mario Noite
NETO
Não acredito! Parece um filme! O
quão incrivel!
MARIO
Não, meu querido incrivel, foi a
viagem que tive...
FILHA
Eu ainda estou em choque! Tu
voltaste a tomar isso?
NETO
Por favor diz que sim!
MARIO
(Enquanto abre o livro)
Querem ouvir a historia?
HÁ UM SILENCIO CONCORDANTE NA SALA.
ENTÃO O MARIO AVANÇA...
9. 8.
A VIDA AO QUADRADO O INICIO
Ext. Rua Noite
Mario respira fundo e olha para a rua.
NARRADOR
E ali estava eu, diante do mesmo
caminho que fazia diariamente, mas
hoje tudo estava diferente, e não
eram apenas as cores que gritavam
por mim, nem a banda sonora que
parecia não ser ouvida por mais
ninguem, mas que insestentemente
tocava na minha cabeça tudo estava
diferente como se de repente
tivesse sido transportado para uma
realidade paralela...
Mario começa a caminhar
NARRADOR
Então comecei a caminhar, com mais
certeza do que nunca e sem certeza
nenhuma e, aos poucos, embalado por
aquela melodia que, magistralmente,
marcava o compasso de tudo que
estava á minha volta: as cores dos
semaforos, os passos das pessoas, e
até o vento mudavam consoante o seu
andamento.
Oberva tudo, sentindo o ritmo!
NARRADOR
As folhas dançavam, alegres, e tudo
finalmente fazia sentido. Tudo! O
que eu via, escutava, ou sentia
fazia parte da mesma melodia.
Vê um caixote do lixo no meio do chão
NARRADOR
Por muito pequeno e insignificante
que fosse, a melodia era diferente
sem qualquer um daqueles elementos.
Então eu tambem era parte daquela
melodia... mas qual era o meu
papel?... Deixei que a melodia me
conduzisse...
Mario dança, cheira as flores brinca com os animais.
(CONTINUED)
10. CONTINUED: 9.
NARRADOR
e levou me por locais incriveis. Os
mesmo locais que, enfadado, passava
todos os dias e nunca tive a
decencia de contemplar, tocar,
sentir ou ouvir...
Mario encontra um matilha de cães.
CÃO 1
Vem connosco!
Mario começa a correr com eles e um bando de passaros corre
com eles.
NARRADOR
Comecei a correr, como um cão que
incapaz de conter tanta felicidade
corre de lingua de fora até que se
esgotem as forças...
Mario olha á sua volta enquanto desacelera e acelera a
corrida
NARRADOR
E ai percebi o meu papel na
melodia: era o maestro! era eu quem
acelarava e desecelarava a melodia,
quem coordenava o voo dos passaros
que corriam comigo ou fugiam de
mim, até só restar um!
Mario para ao pé do lago e fica ligeiramente assustado.
NARRADOR
Cansado, sentei-me ao pé do lago,
sozinho, e a melodia que me
trouxera até aqui dissuadia-se na
escuridao que me cercava e era
substituida pelo barulho da noite,
a principio pensei que ia perder o
controle.
MARIO
- BURRO! Porquê que fazes isto a ti
propio?
Mario bate na cabeça, desesperado quando olha para o lago.
NARRADOR
E assim que vi o meu reflexo
congelei. Aquele não era eu! estava
visivelmente mais magro do que me
conhecia.
11. 10.
O PASSARO
Ext. Lago Noite
MARIO
Eu sou assim?
PASSARO:
Assim como?
MARIO
Como me vejo ali, magro.
PASSARO:
Eu sou assim?
MARIO
Assim como?
PASSARO:
Parece-te normal, estares a falar
com um passaro?
MARIO
Não, por isso é que queria saber se
eu sou mesmo assim ou é efeito do
que tomei.
O passaro voa por cima dele e pousa do outro lado
PASSARO:
Ouve o que vês ali é uma
representação tua, tão real como um
espelho, tu não emagreceste se é
isso que te assusta.
MARIO
Não é isso... a questão é: este sou
mesmo eu?
PASSARO:
Tu não entendes pois não. tu não és
assim, nem mais magro, ou gordo, a
tua percepão é quem dita isso, o
problema é que voces humanos são
tão centrados em vocês mesmos que
criam uma imagem imutavel e por
isso quando se olham ao espelho,
com uma percepção diferente não
conseguem entender.
o passaro atira uma pedra para o lago e, ao inves de as
ondas sairem do ponto de contacto da pedra em direção ás
margens percorrem o caminho oposto.
(CONTINUED)
12. CONTINUED: 11.
MARIO
Entender o que?
Mario Vê as ondas e entende a diferença
PASSARO:
A razão pela qual voces dizem que
conseguem atingir a verdade quando
estão nesse estado, é porque estão
abertos a outras preceçoes que não
essa egocentrista que voces tem
criado!
O passaro mergulha e comeca a nadar de costas.
PASSARO:
A verdade é essa, não há verdade.
tudo que te rodeia é determinado
segundo aquilo que é a tua
percepçao sobre o mundo, então esse
Mario que vez aí refletido é o
mesmo que vez todas as manhãs ao
espelho ou que eu estou a ver aqui.
Passaro sai do lago.
MARIO
(Confuso)
Então eu estou mesmo magro?
PASSARO:
Segundo quem? A percepçao do mundo
varia de pessoa para pessoa, ou de
momento para momento e não percisas
de tomar nada para entender isso.
Passaro colhe uma flor e olha para ela
PASSARO:
Quando estás apaixonado, por
exemplo, a tua percepão sobre o
mundo muda, tudo parece mais
bonito, a tua amada parece perfeita
e tudo parece encaixar, por outro
lado, quando estás deprimido, tudo
parece vazio, distante, mesmo que
não esteja.
Estende a flor para o Mario
MARIO
Estou a ver... Mas assim sendo,
como sou eu na realidade?
(CONTINUED)
13. CONTINUED: 12.
Mario recebe a flor e nesse momento tem um flashback do
primeiro encontro com a namorada naque lago.
PASSARO:
Segundo quem? Não há uma realidade
objectiva, há uma percepçao que é
construida e alterada a todo o
momento. A realidade é a tua
percepção.
Ainda desorientado com a visão
MARIO
Deixa me ver se percebi, estás me a
dizer que nada é real, que não
passamos de imagens que construimos
e que constroem sobre nós?
PASSARO:
Não, é percisamente o oposto, tudo
é real. O Mario que conheces, o que
vês agora ou que eu estou a ver.
todas essas imagens é o que tu és,
visto de forma diferente. Olha para
essa flor. Consoante o angulo que
tu a ves ela muda, de cima tu nem
dirias que tem caule, de frente não
verias o seu interior, mas a flor é
a mesma. Muda apenas a tua
percepção.
MARIO
(Observando a flor)
Entendi...
PASSARO:
Isso é que pode ser assustador
quando estás aberto a outas
perceções, porque criaste a ideia
que a realidade é algo imutavel
objectivo, mas a realidade não
existe sem percepção. E, quando
entendes isso, percebes que o mundo
não é maravilhoso, nem caotico és
tu quem determina como o vês...
MARIO
Então, qual é o papel do quadrado
nisto tudo?
PASSARO:
Apenas um! Libertar te dessa
concepção. Atraves do acido dessa
(CONTINUED)
14. CONTINUED: 13.
planta tu deixas de controlar a
percepção das coisas, o teu cerebro
ativasse a ponto de captar tudo o
que normalmente filtra para que
caiba dentro da tua realidade.
Mario observa a flor a mudar de cor
PASSARO:
Quando retiras esse filtro tudo
passa: as cores abrem-se, os
objetos parados movem-se ou os
animais falam... É como se
conseguisses ver a flor de varios
angulos agora.
MARIO
Woow, incrivel!
PASSARO:
Sim, mas cuidado, tambem verás o
que não queres ver...
MARIO
(Num tom triste)
Isso só é um problema para quem
sabe o que quer.
PASSARO:
se estiveres atento nesta viagem
encontrarás tudo o que procuras.
MARIO
Duvido! este é o caminho que faço
todos os dias. (Olha em volta e
hesita) Ok, já não é bem...
PASSARO:
Não, este é o caminho pela tua
mente.
O passaro voa...
Mario está sozinho ao pé do lago...
Fadeout visto de cima.