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aqui?
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haviam-se fundido...
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(CONTINUED)
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(CONTINUED)
CONTINUED: 8.
GATA
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GATA
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GATA
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MÁRIO
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GATA
Podes, e perder o presente e a
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te ditará o futuro, é o agora, os
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problemas e as resoluções, isso é
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sede.
9.
A BASE
Int. Base Noite
Mário e a gata estão em cima da janela e conseguem ver a
base inteira.
NARRADOR
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visto em gatos e tamanhos que
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haver ali, mais do que uma
especie...
Mário e gata começam a descer os caixotes
NARRADOR
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caixotes, começava a surgir em
mim uma inquietude, uma sensação
de que algo estaria para
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GATA
O que se passa?
MÁRIO
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GATA
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MÁRIO
Não, é o meu corpo...
NARRADOR
Nesse momento reparei que não
conseguia ouvir o que dizia, o
meu batimento cardíaco tinha-me
tomado os ouvidos...
Nesse momento a gata saltou para cima do Mário e caem os
dois dentro de um dos caixotes...
MÁRIO
O que foi isso?!
GATA
Tens que aprender a controlar
essa energia!
A gata mostra as garras e corre para atacar o Mário.
GATA
Foca-te!
(CONTINUED)
CONTINUED: 10.
Mário respira e começa a ver a gata a deslocar-se em
câmara lenta!
Mário desvia-se da gata e esta espeta as garras na madeira
do caixote.
GATA
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MÁRIO
(ofegante)
Enlouqueceste?
GATA
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Estás melhor?
Mário repara que já não se sente inquieto e que o
batimento cardíaco está a voltar ao normal!
MÁRIO
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GATA
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a reajir ao medo ainda em bebés,
nunca pensei ter que ensinar um
adulto, ainda por cima de outra
especie.
MÁRIO
Como assim?
GATA
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só conhece duas maneiras de lidar
com o perigo... Lutar ou fugir, é
para isso que ele te prepara! O
coração bombeia mais sangue, os
sentidos ficam mais apurados, os
músculos quentes... Mas, é
preciso aprender a dominar esse
estado para não ser dominado por
ele.
MÁRIO
Então quer dizer que não me
estavas mesmo a atacar? quer
dizer, era uma lição?
GATA
Era uma lição sim, mas tambem um
ataque. E tu estiveste muito bem,
caso contrario já não falavas...
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ofuscada pelo holofote que tem no fundo!
(CONTINUED)
CONTINUED: 11.
NARRADOR
Era o maior gato que havia visto,
o seu pelo enorme e maltratado
largava um cheiro desagradavel
que rapidamente tomou conta do
caixote.
O gato mete o focinho dentro do caixote e vê-se uma
cicatriz enorme que lhe atravessa o olho esquerdo, na
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GATO
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GATA
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MÁRIO
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GATO
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MÁRIO
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o que ele queria dizer com aquilo
MÁRIO
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vosso?
GATA
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sou, não preciso de um nome para
isso.
MÁRIO
Mas... E quando se querem referir
a alguém como é que fazem?
GATA
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falar de alguem, ou falas com
alguem ou não. Porque haveria de
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MÁRIO
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que tenhas vivido com ela por
exemplo...
(CONTINUED)
CONTINUED: 12.
GATO
Se vivi não interessa, o que
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que ganhas em contar algo que já
viveste? e tu? (Dirigindo-se à
gata) o que fazes ao trazer para
aqui um Humano?
GATA
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MÁRIO
Ajudar?
GATO
Tu enlouqueceste! Já te
esquesseste de qual é a missão?
ou de como são os humanos?
GATA
Este é diferente!
MÁRIO
Diferente?...
GATA
Agora vamos, isso discute-se com
toda a gente na reunião
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se passava dentro do caixote
GATOS
(no burburinho da multidão)
Um humano?... O que ele faz
aqui?... será espião?
MÁRIO
O que se está a passar? Porque me
trouxeste para aqui?
GATA
Aqui não... vamos buscar uma
bebida...
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vão passando os gatos vão parando o que estão a fazer para
olhar para o Mário as danças, os jogos, as lutas e as
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GATA
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que se está a passar?
GATA
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convivemos com os humanos, mas
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excelentes companheiros... De
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esquecendo dos valores
fundamentais da vossa especíe e
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companheiros de vida, acolhem
outros para vos servir caprichos,
e mesmo, quando gostam de nós,
usam-nos como solução para aquilo
que são as vossas inseguranças e
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doentes... Matam-se por coisas,
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sociedade está muito longe disso!
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ajudar, de facto nem sabia ao
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A vida ao quadrado ep 2 o caminho faz se caminhando

  • 1. A Vida ao quadrado Por Ruben Aguiar Baseado em factos veridicos... ou na unica verdade... ou em verdade nenhuma.. Episodio 2 - "O caminho faz-se caminhando" ruben.aguiar14@gmail.com
  • 2. "O CAMINHO FAZ-SE CAMINHANDO" Ext. Noite Lago O Mário está ao pé do lago sentado, a observar tudo em seu redor. NARRADOR Sabem aqueles momentos em que são eternamente gratos por estarem vivos? A euforia de serem detentores de uma dádiva? Tão cheio de alegria... que aos poucos se vai tornando desconfortável... Porque raio haveria eu de sentir isto?... Mereço realmente?... Mário levanta-se e olha mais uma vez á sua volta. MÁRIO Qual o meu propósito nisto tudo? Ouve um som e tenta perceber de onde ele vem. MÁRIO Estarei a alucinar? VOZ Não! Mário olha para a mão e repara que foi a flor que respondeu. FLOR Não estás a alucinar, estás apenas ligado connosco... MÁRIO Mas... o que fazer agora? Para onde vou? FLOR Eu não sei! Sou uma flor o meu conceito de movimento é um pouco diferente do teu. MÁRIO Pois, deve ser tramado viver preso a vida inteira... FLOR Mas eu não estou presa! Aliás pouco seres vivos chegam a este estado de liberdade, de estar completamente abertos ao mundo. sentir o vento e a chuva sem (CONTINUED)
  • 3. CONTINUED: 2. preocupações, alimentar-me do sol e saber que aconteça o que acontecer a mãe Terra sempre me receberá bem... MÁRIO A mim, continua-me a parecer uma prisão... Estar preso ao mesmo lugar? era incapaz! FLOR Já pensaste porquê? MÁRIO Porque seria um tedio, morria se tal coisa me acontecesse. FLOR E não será, porque simplesmente ainda não encontraste o teu lugar. E tal como uma flor que não se adaptou à terra onde foi colocada, sofres desesperadamente por encontrar o lugar onde seja a sua casa... NARRADOR Veio-me á cabeça a vontade que sentia em aceitar a proposta de ir para fora e de desligar de tudo, mas porquê? Era infeliz aqui? MÁRIO Como é que eu sei qual a minha terra? Como é que posso saber onde serei feliz? FLOR Só as tuas raizes te podem dizer, terás de as conhecer, conhecer quem tu és... MÁRIO Mas eu sei quem sou! FLOR Então saberás onde és feliz Mário reflete naquilo enquanto olha para a flor Volta a ver a cena onde oferece a flor à namorada... MÁRIO Talvez as raizes me digam... (CONTINUED)
  • 4. CONTINUED: 3. FLOR As raizes não são mais do que os traços que te agarram ao todo, todos nós temos a nossa individualidade, em cima da terra, mas no fundo, não passamos de braços estendidos na ansia de agarrar algo que nos salve. FLOR (com ar cansado) Agora se não te importas, podias me voltar a colocar na terra? MÁRIO Claro, desculpa! Mário coloca a flor na terra e levanta-se. MÁRIO Eu tambem tenho que ir! Vou procurar as minhas raizes FLOR Não tens que as procurar, tu sabes onde elas estão... Precisas de as conhecer, ouvir e respeita-las... Estou certa que irás no caminho certo. MÁRIO Obrigado, flor Mário continuou a caminhada enquanto tentava decidir para onde ia. De subito, observa, um dos arbustos a mexer-se e caminha para lá... NARRADOR Ao chegar perto vê uns olhos brilhantes a refletir o luar. MÁRIO (Agaixando-se) Não tenhas medo pequeninho. O gato, enorme, sai do arbusto e salta para cima do Mário, derrubando-o Mário levanta-se... MÁRIO Afinal és grandinho... (CONTINUED)
  • 5. CONTINUED: 4. GATA Grandinha! MÁRIO Ah... desculpa, não olhei para as partes intimas... Quer dizer.. GATA (Com orgulho) Estás-me a dizer que não se nota logo que sou femia? MÁRIO (Embaraçado) Não é isso... está escuro... GATA Estava a brincar contigo... Isso não interessa... Não te vais atirar a mim, pois não? MÁRIO (Rindo) Claro que não. GATA Nice, anda daí então. MÁRIO Para onde? GATA Para uma festa MÁRIO Uma festa de gatos? Vamos! A gata sorri e abre caminho MÁRIO Para onde vamos? A gata caminha, sem olhar para trás GATA Para a base MÁRIO A base? GATA Sim, ao pé do Rio há um armazém abandonado, onde nós nos juntamos para festas, conversas e outras coisas, decidimos chamar-lhe a base, pois sabemos que sempre haverá lá quem nos ajude. (CONTINUED)
  • 6. CONTINUED: 5. MÁRIO Não fazia ideia que os gatos tinham esse sentido de comunidade. A gata para, olha para trás. GATA (Em reprovação) Observação estranha, vinda de um humano... NARRADOR Não sei quanto tempo demoramos ao certo até chegar á Base. Talvez porque o tempo estivesse parado ou não existisse mais... O passado o presente e o futuro haviam-se fundido... Ao caminhar junto ao rio vê uma vela, afundando-se... Junto á margem, revê-se ainda em jovem, de mão dada com avô, observando a vela com a mesma naturalidade de quem vê os barcos passar... O ceu estrelado une-se em imagens dispersas da vida de Mário. As arvores dançam ao som do vento e o caminho sobe e desce como um registo de frequência de um equalizador. NARRADOR O vento parecia indicar o caminho soprando na direcção que caminhavamos, como uma corrente de energia que garantia que não nos perdiamos. A agua do rio refletia o luar de uma forma tão intensa que dava a sensação de que a lua habitava o fundo do rio... Senti vonde de a visitar quando... GATA Esta é a base Param, junto a um armazem, degradado pelo abandono. Ouvem-se miares que aos poucos se vão transformando em vozes... MÁRIO Onde é a entrada? (CONTINUED)
  • 7. CONTINUED: 6. GATA (Apontando para uma janela, bem lá no alto) Ali! MÁRIO Mas... como é que eu subo para ali? GATA Não estás â espera que te leve, pois não? Ouve! tu és um homem, também te sabes mexer, por isso mexe-te! Com toda a agilidade sobe a parede em três pulos e na janela olha para trás com, ar de quem sabe o espetaculo que deu. GATA Vês é facil! MÁRIO (Murmurando) é facil... só se for para ela que tem super poderes... tenho que fazer isto, eu sou capaz... Mário olha á sua volta e, quase como um ato divino, iluminasse o caminho, em direcção á janela, pelas saliências do muro degradado e alguns ferros presos.. MÁRIO É isso! Mário começa a correr com toda a força em direcção á parede e, com uma subtileza de movimento que nunca tinha experienciado antes, move-se de saliencia em saliencia e quando chega a meio da parede para em cima de um dos ferros e observa todo o rio visto de ali... MÁRIO Quero viver aqui! O passaro que Mário conheceu passa a voar no horizonte e mergulha na agua. O Mário desiquilibra-se e cai. Mário está agarrado por uma das mãos ao ferro e agarra-se com as duas GATA Foda-se! Estás bem? (CONTINUED)
  • 8. CONTINUED: 7. MÁRIO Não, não sei como vou sair daqui! Mário olha para baixo e vê o chão numa espiral, como o centro de um tornado para o qual a realidade estava a ser engolida. GATA Não olhes para baixo! Faças o que fizeres não olhes para baixo! E não te larques também... Mário está prestes a perder as forças quando se lembra da melodia, a mesma que ouvira no inicio da sua jornada... A melodia vai ficando cada vez mais acelarada e o Mário mais confiante. O Mário dá balanço com o corpo e com uma rotação sobre o ferro consegue colocar-se de novo em cima dele. GATA Não podias ter feito isso logo? MÁRIO (Sorrindo e agarrando a cabeça) Não sabia que conseguia. GATA Chega de brincadeiras! Anda embora! (Murmurando) Estes humanos... Mário chega lá acima. Ext. noite armazem O Mário e a gata estão no topo da janela com o luar de fundo. GATA Em que estavas a pensar? MÁRIO (Olhando para o luar) No futuro... GATA No quê? MÁRIO No futuro! Gostava de viver aqui... (CONTINUED)
  • 9. CONTINUED: 8. GATA (Com um ar sarcástico e autoritário) Os humanos e o futuro! vocês não entendem pois não? Por estares a pensar no futuro quase morrias! Grande futuro que ias ter... Mário olha, refletindo, para o luar que emite luz de todas as cores. Gata olha para ele e de seguida para o luar GATA Vocês humanos vivem distraidos, atraidos a correr para a própria morte. A gata olha para o Mário. GATA O futuro não existe! Tu não sabes o teu destino, o caminho faz-se caminhando. não há destino sem o passo que tu estás a dar agora. MÁRIO Mas posso projetá-lo. GATA Podes, e perder o presente e a possibilidade de infinitas outras opções. Ouve, o presente é o que te ditará o futuro, é o agora, os desejos, as necessidades, os problemas e as resoluções, isso é o futuro... E agora anda, tenho sede.
  • 10. 9. A BASE Int. Base Noite Mário e a gata estão em cima da janela e conseguem ver a base inteira. NARRADOR Havia gatos de todas cores e tamanhos. Cores que nunca havia visto em gatos e tamanhos que fazia com que ao longe parecesse haver ali, mais do que uma especie... Mário e gata começam a descer os caixotes NARRADOR Á medida que iamos descendo os caixotes, começava a surgir em mim uma inquietude, uma sensação de que algo estaria para acontecer... GATA O que se passa? MÁRIO Não sei, sinto-me estranho! GATA Medo? MÁRIO Não, é o meu corpo... NARRADOR Nesse momento reparei que não conseguia ouvir o que dizia, o meu batimento cardíaco tinha-me tomado os ouvidos... Nesse momento a gata saltou para cima do Mário e caem os dois dentro de um dos caixotes... MÁRIO O que foi isso?! GATA Tens que aprender a controlar essa energia! A gata mostra as garras e corre para atacar o Mário. GATA Foca-te! (CONTINUED)
  • 11. CONTINUED: 10. Mário respira e começa a ver a gata a deslocar-se em câmara lenta! Mário desvia-se da gata e esta espeta as garras na madeira do caixote. GATA Bom trabalho! MÁRIO (ofegante) Enlouqueceste? GATA (Como se não tivesse ouvido) Estás melhor? Mário repara que já não se sente inquieto e que o batimento cardíaco está a voltar ao normal! MÁRIO (confuso) Sim, estou! GATA Óptimo! os meus filhos aprenderam a reajir ao medo ainda em bebés, nunca pensei ter que ensinar um adulto, ainda por cima de outra especie. MÁRIO Como assim? GATA O vosso corpo, tal como o nosso, só conhece duas maneiras de lidar com o perigo... Lutar ou fugir, é para isso que ele te prepara! O coração bombeia mais sangue, os sentidos ficam mais apurados, os músculos quentes... Mas, é preciso aprender a dominar esse estado para não ser dominado por ele. MÁRIO Então quer dizer que não me estavas mesmo a atacar? quer dizer, era uma lição? GATA Era uma lição sim, mas tambem um ataque. E tu estiveste muito bem, caso contrario já não falavas... Uma das paredes do caixote parte e vesse uma sombra enorme ofuscada pelo holofote que tem no fundo! (CONTINUED)
  • 12. CONTINUED: 11. NARRADOR Era o maior gato que havia visto, o seu pelo enorme e maltratado largava um cheiro desagradavel que rapidamente tomou conta do caixote. O gato mete o focinho dentro do caixote e vê-se uma cicatriz enorme que lhe atravessa o olho esquerdo, na vertical GATO Está tudo bem aqui? GATA Sim, está! MÁRIO (Sussurrando) Quem é este? GATO (Com um tom ameaçador) Quem és tu? MÁRIO Desculpe! Sou o Mário! Os gatos olham um para o outro, como se tentassem decifrar o que ele queria dizer com aquilo MÁRIO Mário! é o meu nome, qual é o vosso? GATA Nós não temos nome. Eu sou quem sou, não preciso de um nome para isso. MÁRIO Mas... E quando se querem referir a alguém como é que fazem? GATA Não fazemos! Não há sentido em falar de alguem, ou falas com alguem ou não. Porque haveria de falar dele a outro indivíduo? MÁRIO Não sei, para contar uma historia que tenhas vivido com ela por exemplo... (CONTINUED)
  • 13. CONTINUED: 12. GATO Se vivi não interessa, o que importa é o que estou a viver! O que ganhas em contar algo que já viveste? e tu? (Dirigindo-se à gata) o que fazes ao trazer para aqui um Humano? GATA Ele pode nos ajudar! MÁRIO Ajudar? GATO Tu enlouqueceste! Já te esquesseste de qual é a missão? ou de como são os humanos? GATA Este é diferente! MÁRIO Diferente?... GATA Agora vamos, isso discute-se com toda a gente na reunião Saem os três do caixote e todos os gatos observavam o que se passava dentro do caixote GATOS (no burburinho da multidão) Um humano?... O que ele faz aqui?... será espião? MÁRIO O que se está a passar? Porque me trouxeste para aqui? GATA Aqui não... vamos buscar uma bebida... Mário e a gata começam a andar pela base e, à medida que vão passando os gatos vão parando o que estão a fazer para olhar para o Mário as danças, os jogos, as lutas e as orgias... Mário tambem olha para eles com o mesmo espanto... Chegam a uma pequena sala feita com uma cortina de fios, em que os gatos mais pequenos insistiam em se pendurar.. (CONTINUED)
  • 14. CONTINUED: 13. GATA Queres-te juntar a eles? MÁRIO Ah? desculpa, eu não queria mas a curiosidade. Mário olhava para uma das orgias que estavam a acontecer... GATA Incomoda-te? MÁRIO Não! Talvez num dia normal fosse estranho, mas hoje faz sentido! Mas vamos ao que interessa... O que se está a passar? GATA Há muito tempo que nós gatos convivemos com os humanos, mas ultimamente, vocês têm perdido a esssência... A compaixão e a empatia que vos tornava excelentes companheiros... De geração para geração, vão esquecendo dos valores fundamentais da vossa especíe e centrando-se cada vez mais na individualidade. Abandonaram companheiros de vida, acolhem outros para vos servir caprichos, e mesmo, quando gostam de nós, usam-nos como solução para aquilo que são as vossas inseguranças e problemas. Estão completamente doentes... Matam-se por coisas, destroem familias, arruinam a vida uns aos outros... Mário olha atentamente... GATA Aquilo que vocês chamam de sociedade está muito longe disso! É um jogo viciado e baseado em falsas concepções que vos tornam miseráveis. MÁRIO Que concepções? GATA O dinheiro, por exemplo! A ideia que a vida é algo que vai acontecer quando fores adulto ou muitas outras que voçes criam... (CONTINUED)
  • 15. CONTINUED: 14. MÁRIO Mas isso não há como mudar! GATA Nós acreditamos que sim, aliás já algum tempo que desenvolvemos um plano para destruir essas concepções, mas apenas temos conseguido em acções de pequena escala. Esta noite, pretendemos por fim a isso de uma vez por todas! MÁRIO Acções de pequena escala? GATA Sim, os gatos que vivem com humanos têm uma simples missão, partir tudo o ue não é essencial para os humanos... Telemóveis., computadores, peças decorativas, tudo o que não interessa ou se pode partir! MÁRIO E qual o plano para hoje? O gato entra de rompante GATO Aqui estão eles! Entra um conjunto de gatos e prendem o Mário Mário é desemcapuçado olha á sua volta e está rodeado de gatos com um ar ameaçador. GATO O quê que tu sabes? MÁRIO Sei que voçes querem destruir a nossa sociedade. Ouve-se em uníssono uma reacção de espanto por parte dos outros gatos. MÁRIO Mas eu posso ajudar! GATO ai sim? e como? NARRADOR Ai percebi que não sabia como ajudar, de facto nem sabia ao certo o plano deles (CONTINUED)
  • 16. CONTINUED: 15. MÁRIO Faço o que for preciso! Eu não quero ver os humanos doentes. GATO E como podemos confiar em ti? MÁRIO Estou aqui, não estou? (Nesse momento repara que está amarrado) GATO Se queres ajudar tens que te tornar um de nós MÁRIO Não estás a propor que me case com uma gata, pois não? Gatos olham uns para os outros confusos. GATO Para te tornares um de nós tens que destruir tudo o que te liga a essa sociedade. Mário é desamarrado, coloca a mão no bolso e tira o telemóvel ondese podem ver multiplas chamadas não atendidas na sua namorada e uma mensagem que dizia: Onde estás? estou a morrer de preocupação. No outro bolso tem a carteira e um bloco onde anotava o que estava a escrever. MÁRIO Posso manter o bloco? GATO Tudo! Mário sem hesitar, atira tudo para a fogueira e vesse na carteira aberta, queimar os seus documentos. MÁRIO Agora sou um dos vossos! GATO Ainda não! O gato dá um golpe no Mário!