Artigo defesa do bloqueio directo por Ruben Aguiar
A vida ao quadrado ep 2 o caminho faz se caminhando
1. A Vida ao quadrado
Por
Ruben Aguiar
Baseado em factos veridicos...
ou na unica verdade...
ou em verdade nenhuma..
Episodio 2 - "O caminho faz-se
caminhando"
ruben.aguiar14@gmail.com
2. "O CAMINHO FAZ-SE CAMINHANDO"
Ext. Noite Lago
O Mário está ao pé do lago sentado, a observar tudo em seu
redor.
NARRADOR
Sabem aqueles momentos em que são
eternamente gratos por estarem
vivos? A euforia de serem
detentores de uma dádiva? Tão
cheio de alegria... que aos
poucos se vai tornando
desconfortável... Porque raio
haveria eu de sentir isto?...
Mereço realmente?...
Mário levanta-se e olha mais uma vez á sua volta.
MÁRIO
Qual o meu propósito nisto tudo?
Ouve um som e tenta perceber de onde ele vem.
MÁRIO
Estarei a alucinar?
VOZ
Não!
Mário olha para a mão e repara que foi a flor que
respondeu.
FLOR
Não estás a alucinar, estás
apenas ligado connosco...
MÁRIO
Mas... o que fazer agora? Para
onde vou?
FLOR
Eu não sei! Sou uma flor o meu
conceito de movimento é um pouco
diferente do teu.
MÁRIO
Pois, deve ser tramado viver
preso a vida inteira...
FLOR
Mas eu não estou presa! Aliás
pouco seres vivos chegam a este
estado de liberdade, de estar
completamente abertos ao mundo.
sentir o vento e a chuva sem
(CONTINUED)
3. CONTINUED: 2.
preocupações, alimentar-me do sol
e saber que aconteça o que
acontecer a mãe Terra sempre me
receberá bem...
MÁRIO
A mim, continua-me a parecer uma
prisão... Estar preso ao mesmo
lugar? era incapaz!
FLOR
Já pensaste porquê?
MÁRIO
Porque seria um tedio, morria se
tal coisa me acontecesse.
FLOR
E não será, porque simplesmente
ainda não encontraste o teu
lugar. E tal como uma flor que
não se adaptou à terra onde foi
colocada, sofres desesperadamente
por encontrar o lugar onde seja a
sua casa...
NARRADOR
Veio-me á cabeça a vontade que
sentia em aceitar a proposta de
ir para fora e de desligar de
tudo, mas porquê? Era infeliz
aqui?
MÁRIO
Como é que eu sei qual a minha
terra? Como é que posso saber
onde serei feliz?
FLOR
Só as tuas raizes te podem dizer,
terás de as conhecer, conhecer
quem tu és...
MÁRIO
Mas eu sei quem sou!
FLOR
Então saberás onde és feliz
Mário reflete naquilo enquanto olha para a flor
Volta a ver a cena onde oferece a flor à namorada...
MÁRIO
Talvez as raizes me digam...
(CONTINUED)
4. CONTINUED: 3.
FLOR
As raizes não são mais do que os
traços que te agarram ao todo,
todos nós temos a nossa
individualidade, em cima da
terra, mas no fundo, não passamos
de braços estendidos na ansia de
agarrar algo que nos salve.
FLOR
(com ar cansado)
Agora se não te importas, podias
me voltar a colocar na terra?
MÁRIO
Claro, desculpa!
Mário coloca a flor na terra e levanta-se.
MÁRIO
Eu tambem tenho que ir! Vou
procurar as minhas raizes
FLOR
Não tens que as procurar, tu
sabes onde elas estão... Precisas
de as conhecer, ouvir e
respeita-las... Estou certa que
irás no caminho certo.
MÁRIO
Obrigado, flor
Mário continuou a caminhada enquanto tentava decidir para
onde ia.
De subito, observa, um dos arbustos a mexer-se e caminha
para lá...
NARRADOR
Ao chegar perto vê uns olhos brilhantes a refletir o luar.
MÁRIO
(Agaixando-se)
Não tenhas medo pequeninho.
O gato, enorme, sai do arbusto e salta para cima do Mário,
derrubando-o
Mário levanta-se...
MÁRIO
Afinal és grandinho...
(CONTINUED)
5. CONTINUED: 4.
GATA
Grandinha!
MÁRIO
Ah... desculpa, não olhei para as
partes intimas... Quer dizer..
GATA
(Com orgulho)
Estás-me a dizer que não se nota
logo que sou femia?
MÁRIO
(Embaraçado)
Não é isso... está escuro...
GATA
Estava a brincar contigo... Isso
não interessa... Não te vais
atirar a mim, pois não?
MÁRIO
(Rindo)
Claro que não.
GATA
Nice, anda daí então.
MÁRIO
Para onde?
GATA
Para uma festa
MÁRIO
Uma festa de gatos? Vamos!
A gata sorri e abre caminho
MÁRIO
Para onde vamos?
A gata caminha, sem olhar para trás
GATA
Para a base
MÁRIO
A base?
GATA
Sim, ao pé do Rio há um armazém
abandonado, onde nós nos juntamos
para festas, conversas e outras
coisas, decidimos chamar-lhe a
base, pois sabemos que sempre
haverá lá quem nos ajude.
(CONTINUED)
6. CONTINUED: 5.
MÁRIO
Não fazia ideia que os gatos
tinham esse sentido de
comunidade.
A gata para, olha para trás.
GATA
(Em reprovação)
Observação estranha, vinda de um
humano...
NARRADOR
Não sei quanto tempo demoramos ao
certo até chegar á Base. Talvez
porque o tempo estivesse parado
ou não existisse mais... O
passado o presente e o futuro
haviam-se fundido...
Ao caminhar junto ao rio vê uma vela, afundando-se...
Junto á margem, revê-se ainda em jovem, de mão dada com
avô, observando a vela com a mesma naturalidade de quem vê
os barcos passar...
O ceu estrelado une-se em imagens dispersas da vida de
Mário.
As arvores dançam ao som do vento e o caminho sobe e desce
como um registo de frequência de um equalizador.
NARRADOR
O vento parecia indicar o caminho
soprando na direcção que
caminhavamos, como uma corrente
de energia que garantia que não
nos perdiamos. A agua do rio
refletia o luar de uma forma tão
intensa que dava a sensação de
que a lua habitava o fundo do
rio... Senti vonde de a visitar
quando...
GATA
Esta é a base
Param, junto a um armazem, degradado pelo abandono.
Ouvem-se miares que aos poucos se vão transformando em
vozes...
MÁRIO
Onde é a entrada?
(CONTINUED)
7. CONTINUED: 6.
GATA
(Apontando para uma janela,
bem lá no alto)
Ali!
MÁRIO
Mas... como é que eu subo para
ali?
GATA
Não estás â espera que te leve,
pois não? Ouve! tu és um homem,
também te sabes mexer, por isso
mexe-te!
Com toda a agilidade sobe a parede em três pulos e na
janela olha para trás com, ar de quem sabe o espetaculo
que deu.
GATA
Vês é facil!
MÁRIO
(Murmurando)
é facil... só se for para ela que
tem super poderes... tenho que
fazer isto, eu sou capaz...
Mário olha á sua volta e, quase como um ato divino,
iluminasse o caminho, em direcção á janela, pelas
saliências do muro degradado e alguns ferros presos..
MÁRIO
É isso!
Mário começa a correr com toda a força em direcção á
parede e, com uma subtileza de movimento que nunca tinha
experienciado antes, move-se de saliencia em saliencia e
quando chega a meio da parede para em cima de um dos
ferros e observa todo o rio visto de ali...
MÁRIO
Quero viver aqui!
O passaro que Mário conheceu passa a voar no horizonte e
mergulha na agua.
O Mário desiquilibra-se e cai.
Mário está agarrado por uma das mãos ao ferro e agarra-se
com as duas
GATA
Foda-se! Estás bem?
(CONTINUED)
8. CONTINUED: 7.
MÁRIO
Não, não sei como vou sair daqui!
Mário olha para baixo e vê o chão numa espiral, como o
centro de um tornado para o qual a realidade estava a ser
engolida.
GATA
Não olhes para baixo! Faças o que
fizeres não olhes para baixo! E
não te larques também...
Mário está prestes a perder as forças quando se lembra da
melodia, a mesma que ouvira no inicio da sua jornada...
A melodia vai ficando cada vez mais acelarada e o Mário
mais confiante.
O Mário dá balanço com o corpo e com uma rotação sobre o
ferro consegue colocar-se de novo em cima dele.
GATA
Não podias ter feito isso logo?
MÁRIO
(Sorrindo e agarrando a
cabeça)
Não sabia que conseguia.
GATA
Chega de brincadeiras! Anda
embora! (Murmurando) Estes
humanos...
Mário chega lá acima.
Ext. noite armazem
O Mário e a gata estão no topo da janela com o luar de
fundo.
GATA
Em que estavas a pensar?
MÁRIO
(Olhando para o luar)
No futuro...
GATA
No quê?
MÁRIO
No futuro! Gostava de viver
aqui...
(CONTINUED)
9. CONTINUED: 8.
GATA
(Com um ar sarcástico e
autoritário)
Os humanos e o futuro! vocês não
entendem pois não? Por estares a
pensar no futuro quase morrias!
Grande futuro que ias ter...
Mário olha, refletindo, para o luar que emite luz de todas
as cores.
Gata olha para ele e de seguida para o luar
GATA
Vocês humanos vivem distraidos,
atraidos a correr para a própria
morte.
A gata olha para o Mário.
GATA
O futuro não existe! Tu não sabes
o teu destino, o caminho faz-se
caminhando. não há destino sem o
passo que tu estás a dar agora.
MÁRIO
Mas posso projetá-lo.
GATA
Podes, e perder o presente e a
possibilidade de infinitas outras
opções. Ouve, o presente é o que
te ditará o futuro, é o agora, os
desejos, as necessidades, os
problemas e as resoluções, isso é
o futuro... E agora anda, tenho
sede.
10. 9.
A BASE
Int. Base Noite
Mário e a gata estão em cima da janela e conseguem ver a
base inteira.
NARRADOR
Havia gatos de todas cores e
tamanhos. Cores que nunca havia
visto em gatos e tamanhos que
fazia com que ao longe parecesse
haver ali, mais do que uma
especie...
Mário e gata começam a descer os caixotes
NARRADOR
Á medida que iamos descendo os
caixotes, começava a surgir em
mim uma inquietude, uma sensação
de que algo estaria para
acontecer...
GATA
O que se passa?
MÁRIO
Não sei, sinto-me estranho!
GATA
Medo?
MÁRIO
Não, é o meu corpo...
NARRADOR
Nesse momento reparei que não
conseguia ouvir o que dizia, o
meu batimento cardíaco tinha-me
tomado os ouvidos...
Nesse momento a gata saltou para cima do Mário e caem os
dois dentro de um dos caixotes...
MÁRIO
O que foi isso?!
GATA
Tens que aprender a controlar
essa energia!
A gata mostra as garras e corre para atacar o Mário.
GATA
Foca-te!
(CONTINUED)
11. CONTINUED: 10.
Mário respira e começa a ver a gata a deslocar-se em
câmara lenta!
Mário desvia-se da gata e esta espeta as garras na madeira
do caixote.
GATA
Bom trabalho!
MÁRIO
(ofegante)
Enlouqueceste?
GATA
(Como se não tivesse ouvido)
Estás melhor?
Mário repara que já não se sente inquieto e que o
batimento cardíaco está a voltar ao normal!
MÁRIO
(confuso)
Sim, estou!
GATA
Óptimo! os meus filhos aprenderam
a reajir ao medo ainda em bebés,
nunca pensei ter que ensinar um
adulto, ainda por cima de outra
especie.
MÁRIO
Como assim?
GATA
O vosso corpo, tal como o nosso,
só conhece duas maneiras de lidar
com o perigo... Lutar ou fugir, é
para isso que ele te prepara! O
coração bombeia mais sangue, os
sentidos ficam mais apurados, os
músculos quentes... Mas, é
preciso aprender a dominar esse
estado para não ser dominado por
ele.
MÁRIO
Então quer dizer que não me
estavas mesmo a atacar? quer
dizer, era uma lição?
GATA
Era uma lição sim, mas tambem um
ataque. E tu estiveste muito bem,
caso contrario já não falavas...
Uma das paredes do caixote parte e vesse uma sombra enorme
ofuscada pelo holofote que tem no fundo!
(CONTINUED)
12. CONTINUED: 11.
NARRADOR
Era o maior gato que havia visto,
o seu pelo enorme e maltratado
largava um cheiro desagradavel
que rapidamente tomou conta do
caixote.
O gato mete o focinho dentro do caixote e vê-se uma
cicatriz enorme que lhe atravessa o olho esquerdo, na
vertical
GATO
Está tudo bem aqui?
GATA
Sim, está!
MÁRIO
(Sussurrando)
Quem é este?
GATO
(Com um tom ameaçador)
Quem és tu?
MÁRIO
Desculpe! Sou o Mário!
Os gatos olham um para o outro, como se tentassem decifrar
o que ele queria dizer com aquilo
MÁRIO
Mário! é o meu nome, qual é o
vosso?
GATA
Nós não temos nome. Eu sou quem
sou, não preciso de um nome para
isso.
MÁRIO
Mas... E quando se querem referir
a alguém como é que fazem?
GATA
Não fazemos! Não há sentido em
falar de alguem, ou falas com
alguem ou não. Porque haveria de
falar dele a outro indivíduo?
MÁRIO
Não sei, para contar uma historia
que tenhas vivido com ela por
exemplo...
(CONTINUED)
13. CONTINUED: 12.
GATO
Se vivi não interessa, o que
importa é o que estou a viver! O
que ganhas em contar algo que já
viveste? e tu? (Dirigindo-se à
gata) o que fazes ao trazer para
aqui um Humano?
GATA
Ele pode nos ajudar!
MÁRIO
Ajudar?
GATO
Tu enlouqueceste! Já te
esquesseste de qual é a missão?
ou de como são os humanos?
GATA
Este é diferente!
MÁRIO
Diferente?...
GATA
Agora vamos, isso discute-se com
toda a gente na reunião
Saem os três do caixote e todos os gatos observavam o que
se passava dentro do caixote
GATOS
(no burburinho da multidão)
Um humano?... O que ele faz
aqui?... será espião?
MÁRIO
O que se está a passar? Porque me
trouxeste para aqui?
GATA
Aqui não... vamos buscar uma
bebida...
Mário e a gata começam a andar pela base e, à medida que
vão passando os gatos vão parando o que estão a fazer para
olhar para o Mário as danças, os jogos, as lutas e as
orgias...
Mário tambem olha para eles com o mesmo espanto...
Chegam a uma pequena sala feita com uma cortina de fios,
em que os gatos mais pequenos insistiam em se pendurar..
(CONTINUED)
14. CONTINUED: 13.
GATA
Queres-te juntar a eles?
MÁRIO
Ah? desculpa, eu não queria mas a
curiosidade.
Mário olhava para uma das orgias que estavam a
acontecer...
GATA
Incomoda-te?
MÁRIO
Não! Talvez num dia normal fosse
estranho, mas hoje faz sentido!
Mas vamos ao que interessa... O
que se está a passar?
GATA
Há muito tempo que nós gatos
convivemos com os humanos, mas
ultimamente, vocês têm perdido a
esssência... A compaixão e a
empatia que vos tornava
excelentes companheiros... De
geração para geração, vão
esquecendo dos valores
fundamentais da vossa especíe e
centrando-se cada vez mais na
individualidade. Abandonaram
companheiros de vida, acolhem
outros para vos servir caprichos,
e mesmo, quando gostam de nós,
usam-nos como solução para aquilo
que são as vossas inseguranças e
problemas. Estão completamente
doentes... Matam-se por coisas,
destroem familias, arruinam a
vida uns aos outros...
Mário olha atentamente...
GATA
Aquilo que vocês chamam de
sociedade está muito longe disso!
É um jogo viciado e baseado em
falsas concepções que vos tornam
miseráveis.
MÁRIO
Que concepções?
GATA
O dinheiro, por exemplo! A ideia
que a vida é algo que vai
acontecer quando fores adulto ou
muitas outras que voçes criam...
(CONTINUED)
15. CONTINUED: 14.
MÁRIO
Mas isso não há como mudar!
GATA
Nós acreditamos que sim, aliás já
algum tempo que desenvolvemos um
plano para destruir essas
concepções, mas apenas temos
conseguido em acções de pequena
escala. Esta noite, pretendemos
por fim a isso de uma vez por
todas!
MÁRIO
Acções de pequena escala?
GATA
Sim, os gatos que vivem com
humanos têm uma simples missão,
partir tudo o ue não é essencial
para os humanos... Telemóveis.,
computadores, peças decorativas,
tudo o que não interessa ou se
pode partir!
MÁRIO
E qual o plano para hoje?
O gato entra de rompante
GATO
Aqui estão eles!
Entra um conjunto de gatos e prendem o Mário
Mário é desemcapuçado olha á sua volta e está rodeado de
gatos com um ar ameaçador.
GATO
O quê que tu sabes?
MÁRIO
Sei que voçes querem destruir a
nossa sociedade.
Ouve-se em uníssono uma reacção de espanto por parte dos
outros gatos.
MÁRIO
Mas eu posso ajudar!
GATO
ai sim? e como?
NARRADOR
Ai percebi que não sabia como
ajudar, de facto nem sabia ao
certo o plano deles
(CONTINUED)
16. CONTINUED: 15.
MÁRIO
Faço o que for preciso! Eu não
quero ver os humanos doentes.
GATO
E como podemos confiar em ti?
MÁRIO
Estou aqui, não estou? (Nesse
momento repara que está amarrado)
GATO
Se queres ajudar tens que te
tornar um de nós
MÁRIO
Não estás a propor que me case
com uma gata, pois não?
Gatos olham uns para os outros confusos.
GATO
Para te tornares um de nós tens
que destruir tudo o que te liga a
essa sociedade.
Mário é desamarrado, coloca a mão no bolso e tira o
telemóvel ondese podem ver multiplas chamadas não
atendidas na sua namorada e uma mensagem que dizia: Onde
estás? estou a morrer de preocupação. No outro bolso tem a
carteira e um bloco onde anotava o que estava a escrever.
MÁRIO
Posso manter o bloco?
GATO
Tudo!
Mário sem hesitar, atira tudo para a fogueira e vesse na
carteira aberta, queimar os seus documentos.
MÁRIO
Agora sou um dos vossos!
GATO
Ainda não!
O gato dá um golpe no Mário!