Artigo defesa do bloqueio directo por Ruben Aguiar
Entrevista a luis vaz de camões
1. Entrevista a Luis Vaz de Camões
Por
Ruben Aguiar
"Será terrível. Não só quando
Vossos netos não souberem já quem sois
Terão de me saber melhor ainda
Do que fingis que não sabeis"
Jorge Sena
ruben.aguiar14@gmail.com
3. ACT I
1 Scene 1 1
ENTREVISTADOR:(VOLTADO PARA A CAMERA)
Boa tarde! Sejam bem-vindos a mais um programa. Hoje
temos connosco, aquele que é não só um dos melhores
escritores de todos os tempos mas também um heroí
nacional. Boa tarde Luís.
CAMÕES:
Bem-haja, Excelentíssimo!
ENTREVISTADOR:
Procuraremos hoje debater o estado da nossa língua
portuguesa. Como tal, acho pertinente começar pela
seguinte pergunta: Qual a sua opinião relativamente
ao novo acordo ortográfico?
CAMÕES:
É claro que acho que, de certo modo, perdemos um
pouco a identidade com esse acordo! Mas também lhe
devo confessar que me agrada um pouco.
ENTREVISTADOR:
Acha então que este acordo dá uma certa beleza, e que
nos une aos restantes povos de língua oficial
portuguesa?
CAMÕES:
Não, de modo algum!
ENTREVISTADOR:
Como assim?
CAMÕES:
É que antes na minha lista de contactos (agora
contatos) tinha de escrever "grupo óptico" e agora
passa a ser "grupo ótico". Viu? Numa frase poupei
duas letras!
ENTREVISTADOR:
Tudo isso por duas letras?
CAMÕES:(IRRITA-SE)
Experimente o senhor escrever, com apenas um olho,
uma epopeia! Sim! Uma epopeia, cheia de cagança, e o
senhor vai ver se não vai querer poupar todas as
letras!
ENTREVISTADOR:(ARREPENDE-SE DA PERGUNTA, E TENTA
DESCULPAR-SE)
Peço desculpa se o irritei, não era minha intenção...
CAMÕES:(JÁ MAIS CALMO)
Eu é que peço desculpa a Vossa Excelência! Ando muito
nervoso.
4. 2.
ENTREVISTADOR:(A MEDO)
Quer contar-nos o que anda a atormenta-lo?
CAMÕES:(FRANCAMENTE TRISTE)
É este maltratar da nossa língua (...), e não me
refiro a esse maldito acordo.
ENTREVISTADOR:
Então?
CAMÕES:
É esta ideia insolente de escrever com "K" em vez de
"C", com "X" em vez de "S", ou expressões como
"Mékie?".
CAMÕES:(EXALTANDO-SE!)
Fique sabendo que eu não andei a levar com ondas de
dois metros e meio no focinho, nem a bater o recorde
do Phelps nadando só com um braço para ver a minha
língua chegar até aqui!
ENTREVISTADOR:
Compreendo.
CAMÕES:
Mas não é só isso...
ENTREVISTADOR:
Não?
CAMÕES:
Não! O pior são aquelas pessoas que dizem: Não
"vaias" por aí! Fique sabendo que à conta disso o meu
amigo Zé tentou suicidar-se!
ENTREVISTADOR:
O José Régio?
CAMÕES:
Não, o Zé Manel! (...) Mas pensando bem foi porque
descobriu a mulher a mudar os canos com o padeiro.
Nunca percebi bem essa história... Mas adiante!
ENTREVISTADOR:
Estava a falar das pessoas que dizem "vaias"...
CAMÕES:
Exatamente! Essas e as que dizem "Vou ir", deviam era
estar presas. É que aqui o menino, por beber uns
copos, e dar porrada a uns gajos ia lá sempre bater
com os costados. E a essa malta que passa a vida a
maltratar o português não lhes acontece nada.
ENTREVISTADOR:
Acha então que essas pessoas deviam estar presas?
5. 3.
CAMÕES:
Pois claro! Mas toda a gente sabe que a justiça neste
país é mais zarolha que eu!
ENTREVISTADOR:
Tem assim tão má imagem do nosso país?
Camões suspira e em tom de desabafo
CAMÕES:(SUSPIRA E EM TOM DE DESABAFO...)
Infelizmente, sim (...) Mas há ainda alguns
escritores que vieram depois de mim, e me dão uma
certa esperança
ENTREVISTADOR:
Como por exemplo?
CAMÕES:
Aquele puto dos óculos (...), que falava com os
amigos imaginários!
ENTREVISTADOR:
O Fernando Pessoa?
CAMÕES:
Esse mesmo! Coitado, era maluquinho, mas até parecia
bom moço...
ENTREVISTADOR:
De facto (...) Mais algum em particular?
CAMÕES:
Gostei imenso de um poema relativamente recente, que
ainda hoje me intriga. Qualquer coisa relacionada com
um entroncamento sem fim. Confesso que não percebi a
metáfora, mas pareceu me bastante interessante!
ENTREVISTADOR:
Maria Leal?
CAMÕES:
Exato! Não está ao nível de um Joaquim de Barreiros,
mas nota-se potencial.
ENTREVISTADOR:
Por falar em potencial, e para fechar a conversa,
quer deixar alguma mensagem para os jovens que querem
começar a escrever?
CAMÕES:
Sim, Claro. Vão á escola, é lá que se aprende!