SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 19
ALTRUÍSMO DE PARENTES
    SUA ORIGEM BIOLÓGICA



             Alaor Chaves – UFMG
             alaor@fisica.ufmg.br
Paradoxo do altruísmo

Na teoria da evolução biológica, o altruísmo é paradoxal. Ao praticar um ato de
altruísmo o indivíduo está agindo contra os seus interesses em benefício dos
interesses de outro, ou de outros membros do seu grupo. Com isso, o indivíduo
está reduzindo o seu sucesso reprodutivo, ou seja, reduzindo a quantidade de
descendentes que contêm os seus genes, e ao mesmo tempo aumentando o
sucesso reprodutivo dos indivíduos que ele beneficia. Com isso, em um grupo de
animais em que há indivíduos altruístas, a cada geração a quantidade de
portadores de genes que predispõem ao altruísmo deveria decrescer, até que
finalmente a variedade altruísta fosse extinta. Sendo assim, como os genes do
altruísmo evoluíram? Um mutante altruísta parece ser mal adaptado e portanto
pouco capaz de disseminar seus genes na população! Mas o altruísmo é
altamente frequente nos animais sociais. Já no livro A Origem das Espécies,
Charles Darwin reconheceu paradoxo, para o qual buscou explicações, sem
sucesso. Segundo ele, essa dificuldade poderia acabar por demolir toda a sua
teoria.
Darwin achou especialmente desafiador o comportamento altruísta de insetos
altamente sociais como formigas, abelhas e vespas. Em uma colônia desses insetos há
uma única fêmea adulta fértil, a rainha. As outras fêmeas são operárias, que dedicam
suas vidas a cuidar dos ovos e larvas gerados pela rainha. Ou seja, um grande número
de operárias pratica uma forma de altruísmo que reduz a zero o seu sucesso
reprodutivo e aumenta enormemente o sucesso reprodutivo de sua mãe, a rainha.
Que processo evolutivo gerou e preserva essa classe de Madres Teresa de Calcutá? A
pergunta vagou por mais de um século, gerando respostas que no final mostraram
não fazer sentido dentro da teoria darwiniana.

Ações em benefício da espécie? Não faz sentido. Com efeito, com o tempo a espécie
fica cada vez menos provida dos praticantes dessas ações, até que enfim eles se
extinguem, se antes não se extinguir a própria espécie.

Seleção de grupo? Também não funciona. Nessa especulação, os grupos de animais
cooperativos têm mais sucesso do que outros grupos menos cooperativos. Mas
dentro de um dado grupo, os mais cooperativos têm menos sucesso e se extinguem.
A solução do paradoxo de Darwin exigiu uma revolução na teoria da evolução e
ainda uma teoria adicional para explicar uma forma de altruísmo que a revolução
não foi capaz de explicar. Pois há dois tipos de altruísmo e suas origens
evolucionárias são bem distintas. O primeiro tipo é o altruísmo de parentes. O
outro, entre indivíduos não relacionados por laços de sangue, ou melhor, de genes.
Como se acabou entendendo por meio da teoria dos jogos, este último tipo de
altruísmo sempre envolve alguma forma de reciprocidade e, portanto, não é
altruísmo no sentido rigoroso da palavra. Neste artigo trataremos do altruísmo
entre parentes e outro artigo será dedicado ao altruísmo entre não parentes,
também chamado altruísmo recíproco..
Visão da evolução centrada nos genes
Até os anos 1960, os evolucionistas pensavam que a seleção natural atuava a nível
de organismo (indivíduo) e também a nível de grupos (populações). Mas isso não é
verdade. Nos anos 1960 e início dos anos 1970, a teoria da evolução foi
reformulada com outra visão, centrada no gene. O que é selecionado é o gene. O
espécime pode deixar poucos descendentes, ou até mesmo nenhum descendente,
mas seus genes podem estar presentes na geração posterior por causa da
procriação de seus parentes, com os quais ele compartilha parte dos seus genes.
Isso deu origem ao altruísmo de parentes.

Essa reformulação da teoria incluiu o trabalho de vários pesquisadores, mas
algumas contribuições se destacam. Em 1957, J B S Haldane (1892 – 1964) foi
perguntado em uma entrevista se daria a vida para salvar a de um irmão. Ele
respondeu, que não, mas daria a vida para salvar a de 2 irmãos ou a de 8 primos. A
resposta de Haldane considera precisamente o compartilhamento de genes entre
irmãos bilaterais e primos primeiros:

Dois irmãos compartilham em média 1/2 dos seus genes
Dois primos compartilham em média 1/8 dos seus genes.
J B S Haldane   George C Williams      William D Hamilton           Richard Dawkins


   George Williams (1926 – 2010) demoliu, com argumentos de genética populacional, a
   ideia de seleção de grupos.
   William Hamilton (1936 – 2000) desenvolveu, em sua tese de doutorado, a teoria da
   seleção de parentesco. Teve dificuldade em ter a tese aprovada e em publicar sua teoria
   em dois artigos (1964). Mas acabou sendo reconhecido como um dos maiores teoristas
   da evolução desde Darwin.
   Richard Dawkins (1943 – ) publicou em 1976 o livro O Gene Egoísta, que alguns
   consideram o melhor livro de divulgação científica já escrito. Mas o livro não é só
   divulgação, pois ele engloba os trabalhos anteriores em uma síntese clara e rica em
   ideias originais.
O título do famoso livro de Dawkins é intrigante. Como pode um gene ser egoísta?
Quem deveria ser egoísta é o organismo, pois agindo assim ele acaba tendo mais
sucesso procriativo e deixa mais cópias dos seus genes nas gerações seguintes. O
gene é um mero fragmento molecular de matéria. Não se pode atribuir a ele
qualquer forma de comportamento análoga ao comportamento animal.

Mas alto lá! Um dado gene é uma entidade que aparece não só em um organismo,
mas também em outros organismos da mesma espécie. Suas cópias ocorrem no
banco gênico da espécie e são mais frequentes em indivíduos parentes daquele em
que estamos vendo a sua ação. Quanto mais próximo o grau de parentesco, maior a
fração r de genes que os dois organismos compartilham. Para pai-filho r = 1/2, para
irmão-irmão r = 1/2, para tio-sobrinho r = 1/4, para primos, r = 1/8 etc. Como se
expressou Dawkins, genes podem programar os organismos em que eles estão
presentes para fazer coisas contrárias aos interesses do organismo, mas que resultem
em mais cópias dos genes na geração seguinte. Podem fazer isso programando o
organismo para que ele seja altruísta com relação aos seus parentes. Ou seja, o gene
pode ser egoísta, mas o organismo em que ele reside pode ser altruísta. O organismo
é a forma de o gene fazer cópias de si mesmo. Nas palavras de Dawkins, “o
organismo é a máquina de sobrevivência dos genes”.
Hamilton elaborou sua teoria em termos matemáticos. Quando um ator presta um
benefício a um recipiente, o custo para o ator e o benefício para o recipiente podem
ser quantificados em números. Do ponto de vista de genética populacional, o custo
C é a perda relativa do sucesso reprodutivo posterior de quem presta o benefício
(ator). O benefício B é o aumento relativo do sucesso reprodutivo do recipiente
(beneficiado). Como apontou Hamilton, pela lógica do interesse do gene, a ação
altruísta é benéfica se

C < r B.       (Critério de Hamilton)

Em palavras, o custo C deve ser menor do que o produto do benefício B pela fração
r de genes que ator e recipiente compartilham.

Nota-se que Haldane tinha em mente exatamente a equação que Hamilton
escreveu anos depois. De fato, dois irmãos compartilham 1/2 dos seus genes e dois
primos compartilham 1/8 deles. O custo reprodutivo para alguém que morre é 1
(perda completa da capacidade) e o benefício de quem tem sua vida salva é 1
(preservação integral da capacidade). Assim, quando alguém morre para salvar 8
primos, o critério de Hamilton dá 1 = 1. Nesse caso não há perda nem ganho para
os genes. Se forem 9 primos, os genes saem ganhando.
O altruísmo de parentes é ubíquo no reino animal. É muito difícil quantificar os valores
de C e B, e por essa razão não foi ainda possível verificar empiricamente a validade do
critério de Hamilton. Há, por isso, quem diga que a teoria de Hamilton não está
demonstrada com base em fatos. Em primeiro lugar, eu gostaria de comentar que fatos
não podem provar uma teoria; podem sim, confirmá-la. Tomemos, por exemplo, a lei da
gravitação de Newton. Com base nela podemos prever que se cortarmos uma árvore ela
irá cair. Mas essa é uma predição que não pode ser provada. O que se sabe é que todas
as árvores cortadas até hoje caíram. Todas confirmaram a predição. Mas ela não será
demonstrada nem mesmo se cortarmos todas as árvores do planeta, pois alguma árvore
ainda não nascida poderá algum dia falseá-la. Posto isto, gostaria de dizer que não
devemos ver as equações que eventualmente aparecem na biologia da mesma maneira
que vemos uma equação da física.

Alguns aspectos da teoria de Hamilton são dignos de nota. É famosa a disposição dos
pais em se sacrificar pelos filhos. Filhos são também capazes de se sacrificar pelos pais,
mas em um nível menor. De onde vem essa assimetria? Acontece que no critério de
Hamilton os números C e B não ficam invariantes quando trocamos o ator pelo
recipiente e vice versa. O filho que se sacrifica pelo pai faz um sacrifício maior para um
benefício menor. Isto porque o filho que está se sacrificando tem um potencial maior de
procriação do que o pai pelo qual se sacrifica. Além do mais, os benefícios não são
equivalentes, principalmente se o filho for imaturo. Sem assistência paterna ou materna,
o filhote dificilmente sobrevive.
Podem surgir conflitos entre os genes de uma criança (ou de um outro
                 animal infante) e os genes da sua mãe. Esse fenômeno, denominado
                 conflito entre gerações, foi primeiro estudado por Robert Trivers (1943 – )
                 em um artigo clássico de 1974. A mãe tem outros filhos e é de interesse
                 de seus genes dedicar serviços a todos eles. Já cada filho, principalmente o
                 filho mais jovem, que mais se beneficia desses serviços, tenta maximizar a
                 atenção aos seus interesses. Desmamar o filho caçula é uma pequena
                 guerra. Isso é muito importante para os genes da mãe, pois enquanto ela
Robert Trivers   amamente não ovula, portanto não é capaz de produzir novas cópias dos
                 seus genes. A partir de certa idade do caçula, é melhor para os genes da
                 mãe que ela geração de outros filhos. Para os genes do caçula, é melhor
                 que a mãe o amamente indefinidamente.

    Mas o filho tenta maximizar para si os benefícios prestados pela mãe desde quando
    é feto, o que escapou à atenção de Trivers. Ele produz hormônios que resultam na
    maximização de sangue oxigenado na placenta, sangue que o feto drena pelo cordão
    umbilical e bombeia no próprio organismo. Para isso o feto tem de cometer
    pequenas maldades, como por exemplo fazer vasoconstricção , por ação muscular,
    dos vasos que vão para outra partes do corpo da mãe. Isso gera hipertensão na mãe.
    Às vezes o feto exagera na dose e a mãe ter eclampse, que pode ser fatal. Lá se vão
    os genes tanto da mãe quanto do filho!
Há uma diferença curiosa no tratamento que gorilas e chimpanzés dão aos animais
imaturos do bando. Os gorilas são muito mais prestativos aos animais imaturos do
que os chimpanzés. A explicação para isso é o egoísmo dos genes. Em um bando de
gorilas, um único macho, o alfa, se acasala com todas a fêmeas. Portanto, todos os
muito jovens do bando são seus filhos. Já os chimpanzés, são promíscuos. As fêmeas
praticam sexo com todos os machos do bando que não sejam seus filhos ou irmãos
maternos. Portanto, pela lógica dos genes, não é conveniente que um macho se
sacrifique muito pelos pequenos. Há uma probabilidade de que o pequeno seja um
filho, apenas isso. Um ou outro leitor irá questionar que gene não sabe cálculo das
probabilidades. Realmente não sabe, mas age como se soubesse. Do mesmo modo
que uma bala de canhão se movimenta como se conhecesse as leis da balística.

Ah, não acabei! Quando um novo gorila assume o papel de alfa no bando, sua
primeira providência é matar todos os filhotes que estejam sendo amamentados.
Assim manda o gene egoísta. Pois enquanto amamenta, a fêmea não ovula e por isso
não ajuda a fazer cópias dos genes que comandam o comportamento do macho.

Espero que nenhum político nepotista se sinta justificado alegando que age
teleguiado pelos seus genes!
Sistema haplodiploide de reprodução




A imensa maioria dos animais que reproduzem sexualmente é diploide, o que
significa o seguinte. Os cromossomos se apresentam em pares. Na reprodução, o
espermatozoide contribui com um de cada par dos cromossomos do pai e o óvulo
com um de cada par dos espermatozoides da mãe. O óvulo fecundado mistura os
dois conjuntos de cromossomos novamente em pares. O último par de cromossomos
da mãe contém dois cromossomos X. Sendo assim, o último cromossomo do óvulo é
X. Já no pai, o último par de cromossomos é composto de um cromossomo X e de
outro Y, e portanto o último cromossomo do espermatozoide pode ser tipo X ou tipo
Y. Se for tipo X, o óvulo fecundado forma um embrião de fêmea. Se for tipo Y, forma-
se um embrião de macho.
Mas na ordem Hymenoptera, à qual pertencem as formigas, abelhas e vespas, o
sistema de reprodução é haplodiploide. Tudo se dá da forma seguinte.
Em uma colônia de himenópteros há apenas uma fêmea adulta fértil, a rainha.
Quando uma nova fêmea fértil atinge a maturidade, sai da colônia no voo nupcial,
acasala-se com um único macho e armazena os espermatozoides para toda a vida.
Está então preparada para, em inteira solidão, iniciar uma nova colônia. Produz os
seus óvulos, mas não fecunda todos eles. Os óvulos fecundados conterão
espermatozoides pareados e gerarão fêmeas. Já os não fecundados conterão um
conjunto simples de espermatozoides (todos oriundos da mãe) e gerarão machos.
As larvas com cromossomos pareados se tornarão fêmeas férteis (rainhas) ou
fêmeas estéreis (operárias) dependendo da alimentação que receberem.

Essa regra peculiar de sexualidade gera graus de parentescos também peculiares.
Metade dos genes da rainha mãe estarão presentes tanto nos filhos quanto nas
filhas. Portanto, ela terá tanto com filhos quanto com filhas um grau de
parentesco r = 1/2. Já as filhas têm entre si um nível mais alto de parentesco. Pois
nelas os cromossomos oriundos do pai (que é o mesmo para todas as irmãs) são
idênticos e só os cromossomos oriundos da mãe podem diferir. Portanto, o grau
de parentesco entre as irmãs é r = 3/4. Nesse caso, as fêmeas transmitirão mais
cópias dos seus genes se abrirem mão da maternidade e destinarem seu esforço
aos cuidados das suas irmãs mais novas. Genes egoístas e organismos
absurdamente altruístas!
A solução que Hamilton deu ao paradoxo de Darwin, e que acabamos de
apresentar, foi talvez a mais brilhante ideia na teoria da evolução, desde Darwin.
Os himenópteros não só apresentam o mais elevado grau de altruísmo do reino
animal, mas também são os mais bem sucedidos animais multicelulares do
planeta. Nas floretas tropicais, onde não são perturbados pela ação do homem,
os himenópteros podem responder por até um terço, em massa, de todos os
animais. De um avião sobrevoando a Amazônia pode-se perceber ácido fólico
emanado pelas formigas.

Há uma manifestação peculiar do conflito de gerações nos himenópteros,
prevista também por Trivers. Para os animais diploides, a razão ideal entre o
número de filhas e de filhos é igual a 1, o que foi demonstrado matematicamente
por Ronald Fisher em 1930 e se verifica aproximadamente em todas as espécies.
O mesmo ocorre nos haplodiploides, do ponto de vista da mãe. Mas quem detém
o controle dessa razão são as operárias, pois elas cuidam do berçário. Do ponto
de vista dos seus genes, a razão ideal é igual a 3, ou seja é melhor que elas
tenham 3 vezes mais irmãs do que irmãos. A razão verificada na prática depende
da espécie, mas é sistematicamente maior do que 1.
Associado ao altruísmo de parentes, evoluiu o antagonismo entre grupos de animais
sociais. É de interesse dos genes que um grupo tente eliminar a competição (por
território, por alimentos) de outros com os quais compartilha menos genes. O
comportamento tribal, o patriotismo etc. são moedas de duas faces, uma de altruísmo
interno da população e a outra de agressão a outras populações. Deixaremos fora da
discussão do antagonismo tribal humano, por ser assunto onde ciência e ideologia se
misturam. Trataremos apenas dos himenópteros. Ou melhor, trataremos apenas das
formigas, o animal social em que a agressão entre grupos é mais intensa.

Todos os membros de uma colônia de formigas são irmãos, exceto a rainha, que é
mãe de todos. O conflito entre diferentes colônias se torna nesse caso mais grave. As
fêmeas estéreis na verdade formam duas castas, as operárias, que fazem todo o
trabalho, e os soldados, que cuidam das guerras. Uma larva se torna operária ou
soldado também como resultado de como é criada pelas irmãs operárias mais velhas.
Os soldados, armados de mandíbulas mortíferas, fazem expedições de guerra a outras
colônias vizinhas e cometem genocídio, se são bem sucedidos. Com frequência,
trazem os cadáveres para o formigueiro, para serem devorados. Membros de uma
colônia se reconhecem pelo cheiro. No enciclopédico livro Ants, os autores, Bert
Holldrober e Edward O Wilson comentam: “Se as formigas possuíssem armas
nucleares, destruiriam a vida em uma semana.”
Mas as formigas não se limitam a matar as concorrentes, às vezes também as
escravizam. Geralmente fazem isso com formigas de outras espécies. Batalhões de
soldados atacam outra colônia, matam todos os soldados e, cuidadosamente,
carregam os ovos que encontrarem de volta para casa. As operárias cuidam dos ovos e
depois das larvas de modo que elas se transformem em operárias escravas. A escrava
não sabe que está na colônia errada, cuidando do interesse de genes que não são os
seus. Ludibriada, segue erroneamente as instruções dos seus genes: mantenha a casa
limpa, providencie comida para toda a colônia e principalmente cuide das irmãs
imaturas.

As operárias das espécies colonizadoras acabam tendo de trabalhar pouco, pois as
escravas dão conta do serviço. Pela lógica dos genes, nesse caso elas deveriam cuidar
das larvas que são suas irmãs de modo que elas se tornem predominantemente
soldados. Não tenho conhecimento de estudos que comprovem essa predição.
Há um outro tipo de insetos que formam sociedades e castas em que toda a
prole de uma colônia é gerada por uma única fêmea, a rainha. São os cupins.
A rainha se acasala com um único macho, o que faz com que todos os outros
membros da colônia sejam irmãos bilaterais. As fêmeas estéreis também são
operárias, e em algumas espécies de cupins há também fêmeas que se
tornam soldados. Destaca-se que no caso dos cupins todas as irmãs estéreis
compartilham entre si ½ do seus genes, pois o sistema de reprodução é
diploide. Nesse caso, para os genes das fêmeas é indiferente ter filhos ou
criar os irmãos e irmãs mais jovens e o ganho para os genes está na
cooperação dentro da colônia.

Há ainda um animal um tanto bizarro que forma colônias e onde só uma
fêmea reproduz, sempre com o mesmo macho. Trata-se do rato-toupeira-
pelado, um roedor africano que forma colônias subterrâneas. A fêmea
reprodutora controla a sexualidade das outras fêmeas com feromônios. E
repele outros machos que tentam se acasalar com ela.
Altruísmo entre espécies
O egoísmo dos genes gera altruísmo mesmo entre organismos de espécies distintas. Os
exemplos são absolutamente incontáveis e recebe um nome especial, protocooperação.
Trata-se de um falso altruísmo, pois ambos os organismos interagem de maneira a obter
benefício sem custo. Quando pelo menos um dos organismos não pode sobreviver sem
o outro, diz que há uma simbiose.

 O ser humano explora um tipo especial de altruísmo entre espécies em benefício
próprio. Há um gênero de bactérias, os rizóbios, que se alimentam de substâncias
produzidas pelas raízes de plantas leguminosas. Retribuem fixando nitrogênio no solo,
que é nutriente para a planta. Pois bem, para cultivar leguminosas os agricultores
inoculam as sementes com rizóbios e dessa forma podem usar menos adubo
nitrogenado.

Algumas espécies de peixes pequenos comem detritos que encontram na pele de
peixes grandes. Fazem isso até com tubarões. Por que o intempestivo tubarão não
come esses peixinhos? Ele não sabe, mas seus genes sabem, o benefício imediato de
comê-los é menor do que o benefício que receberá deles no futuro. Neste caso, o
peixinho presta um benefício limpando o tubarão. Este retribui poupando-o da morte.
Nesse caso o tubarão é de fato altruísta, pois abre mão de um alimento fácil.
Uma forma de altruísmo entre espécies me parece especialmente interessante. Se
o leitor cultiva um jardim, ou pomar, deve ter notado que infestações de pulgões
são sempre acompanhadas de infestações de formigas, frequentemente umas
formigas pretas de tamanho mediano. Os pulgões têm grande capacidade de extrair
seiva dos vasos das folhas. Tanta capacidade que não usam todos os nutrientes da
seiva. Por isso, expelem em abundância um líquido nutritivo. Certas espécies de
formigas exploram esmeradamente essa forma de alimento. Essa coisa é antiga,
pois houve adaptação mútua a esse comportamento. Os pulgões adaptaram o seu
corpo de modo a facilitar o trabalho das formigas e estas protegem os pulgões de
predadores. Os pulgões se tornaram indefesos e um tanto dependentes das
formigas. A cooperação entre as partes vai ainda mais longe. Formigas transportam
com enorme carinho larvas de pulgões para alguma folhagem nova, especialmente
rica em seiva, para que o negócio continue prosperando. Quem sai perdendo é a
planta. Conheço formas de proteger as brotações das plantas contra essa gang
interespecífica. Se o leitor quiser, pode me enviar um email.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

A evolução de populações
A evolução de populaçõesA evolução de populações
A evolução de populaçõesunesp
 
Competição
CompetiçãoCompetição
Competiçãounesp
 
Regulação Populacional
Regulação PopulacionalRegulação Populacional
Regulação Populacionalunesp
 
Aula de Clonagem e Vetores e bibliotecas de DNA
Aula de Clonagem e Vetores e bibliotecas de DNAAula de Clonagem e Vetores e bibliotecas de DNA
Aula de Clonagem e Vetores e bibliotecas de DNAJaqueline Almeida
 
Introdução a meta populações
Introdução a meta populaçõesIntrodução a meta populações
Introdução a meta populaçõesunesp
 
Slides da aula de Biologia (Renato) sobre Introdução à Ecologia
Slides da aula de Biologia (Renato) sobre Introdução à EcologiaSlides da aula de Biologia (Renato) sobre Introdução à Ecologia
Slides da aula de Biologia (Renato) sobre Introdução à EcologiaTurma Olímpica
 
Dinâmica de comunidades e ecossistemas 3ª aula
Dinâmica de comunidades e ecossistemas   3ª aulaDinâmica de comunidades e ecossistemas   3ª aula
Dinâmica de comunidades e ecossistemas 3ª aulaLucilene G.O. Adonai
 
Introdução às algas
Introdução às algas Introdução às algas
Introdução às algas Nome Sobrenome
 
Osteichthyes: Actinopterygii
Osteichthyes: ActinopterygiiOsteichthyes: Actinopterygii
Osteichthyes: ActinopterygiiGuellity Marcel
 
Tipos de metapopulações
Tipos de metapopulaçõesTipos de metapopulações
Tipos de metapopulaçõesunesp
 
Introdução à Anatomia Animal
Introdução à Anatomia AnimalIntrodução à Anatomia Animal
Introdução à Anatomia Animalangelica luna
 
Relações ecológicas
Relações ecológicasRelações ecológicas
Relações ecológicasPaulinha Sousa
 
Evolução (primeiros conceitos)
Evolução  (primeiros conceitos)Evolução  (primeiros conceitos)
Evolução (primeiros conceitos)Gisele A. Barbosa
 
Habitat
HabitatHabitat
Habitatunesp
 
Básico de populações
Básico de populaçõesBásico de populações
Básico de populaçõesunesp
 

Mais procurados (20)

A evolução de populações
A evolução de populaçõesA evolução de populações
A evolução de populações
 
Competição
CompetiçãoCompetição
Competição
 
Regulação Populacional
Regulação PopulacionalRegulação Populacional
Regulação Populacional
 
Aula de Clonagem e Vetores e bibliotecas de DNA
Aula de Clonagem e Vetores e bibliotecas de DNAAula de Clonagem e Vetores e bibliotecas de DNA
Aula de Clonagem e Vetores e bibliotecas de DNA
 
Hymenoptera
HymenopteraHymenoptera
Hymenoptera
 
Introdução a meta populações
Introdução a meta populaçõesIntrodução a meta populações
Introdução a meta populações
 
Biodiversidade 7 ANO
Biodiversidade 7 ANOBiodiversidade 7 ANO
Biodiversidade 7 ANO
 
Slides da aula de Biologia (Renato) sobre Introdução à Ecologia
Slides da aula de Biologia (Renato) sobre Introdução à EcologiaSlides da aula de Biologia (Renato) sobre Introdução à Ecologia
Slides da aula de Biologia (Renato) sobre Introdução à Ecologia
 
Dinâmica de comunidades e ecossistemas 3ª aula
Dinâmica de comunidades e ecossistemas   3ª aulaDinâmica de comunidades e ecossistemas   3ª aula
Dinâmica de comunidades e ecossistemas 3ª aula
 
Introdução às algas
Introdução às algas Introdução às algas
Introdução às algas
 
2 ecossistemas
2 ecossistemas2 ecossistemas
2 ecossistemas
 
Osteichthyes: Actinopterygii
Osteichthyes: ActinopterygiiOsteichthyes: Actinopterygii
Osteichthyes: Actinopterygii
 
Tipos de metapopulações
Tipos de metapopulaçõesTipos de metapopulações
Tipos de metapopulações
 
Introdução à Anatomia Animal
Introdução à Anatomia AnimalIntrodução à Anatomia Animal
Introdução à Anatomia Animal
 
Relações ecológicas
Relações ecológicasRelações ecológicas
Relações ecológicas
 
Evolução (primeiros conceitos)
Evolução  (primeiros conceitos)Evolução  (primeiros conceitos)
Evolução (primeiros conceitos)
 
Habitat
HabitatHabitat
Habitat
 
Os aminiota: Répteis
Os aminiota: RépteisOs aminiota: Répteis
Os aminiota: Répteis
 
Insetos
InsetosInsetos
Insetos
 
Básico de populações
Básico de populaçõesBásico de populações
Básico de populações
 

Destaque

(Raio De Luz) Egoísmo E Altruísmo
(Raio De Luz) Egoísmo E Altruísmo(Raio De Luz) Egoísmo E Altruísmo
(Raio De Luz) Egoísmo E AltruísmoCorolário .
 
2014 11-24-sbsm028-yannicksocialevolution
2014 11-24-sbsm028-yannicksocialevolution2014 11-24-sbsm028-yannicksocialevolution
2014 11-24-sbsm028-yannicksocialevolutionYannick Wurm
 
ALTRUISM & COOPERATION (Psych 201 - Chapter 14 - Spring 2014)
ALTRUISM & COOPERATION (Psych 201 - Chapter 14 - Spring 2014)ALTRUISM & COOPERATION (Psych 201 - Chapter 14 - Spring 2014)
ALTRUISM & COOPERATION (Psych 201 - Chapter 14 - Spring 2014)Melanie Tannenbaum
 
Altruism theories
Altruism theoriesAltruism theories
Altruism theoriesabonica
 
Classificação e grau de parentesco
Classificação e grau de parentescoClassificação e grau de parentesco
Classificação e grau de parentescoMarcia Bantim
 
Happiness Revolution Webinar 3 - altruism
Happiness Revolution Webinar 3 - altruismHappiness Revolution Webinar 3 - altruism
Happiness Revolution Webinar 3 - altruismjerviel87
 
Etologia darwim principios basicos
Etologia darwim principios basicosEtologia darwim principios basicos
Etologia darwim principios basicosIlka Lira
 
Is altruism a myth
Is altruism a mythIs altruism a myth
Is altruism a mythGerd Naydock
 
Chap 5 Kin Selection Altruism
Chap 5  Kin  Selection  AltruismChap 5  Kin  Selection  Altruism
Chap 5 Kin Selection Altruismnaeempr
 
Altruism Theories
Altruism TheoriesAltruism Theories
Altruism Theoriesabonica
 
Atração Interpessoal
Atração InterpessoalAtração Interpessoal
Atração Interpessoalalicecanuto
 
Shortest presentation on Altruism
Shortest presentation on AltruismShortest presentation on Altruism
Shortest presentation on AltruismTinaaz Wadia
 
The evolution of kin selection
The evolution of kin selectionThe evolution of kin selection
The evolution of kin selectionadityakuroodi
 

Destaque (20)

Burro - Etologia
Burro - EtologiaBurro - Etologia
Burro - Etologia
 
(Raio De Luz) Egoísmo E Altruísmo
(Raio De Luz) Egoísmo E Altruísmo(Raio De Luz) Egoísmo E Altruísmo
(Raio De Luz) Egoísmo E Altruísmo
 
2014 11-24-sbsm028-yannicksocialevolution
2014 11-24-sbsm028-yannicksocialevolution2014 11-24-sbsm028-yannicksocialevolution
2014 11-24-sbsm028-yannicksocialevolution
 
Altruismo
AltruismoAltruismo
Altruismo
 
A atracção interpessoal
A atracção interpessoalA atracção interpessoal
A atracção interpessoal
 
ALTRUISM & COOPERATION (Psych 201 - Chapter 14 - Spring 2014)
ALTRUISM & COOPERATION (Psych 201 - Chapter 14 - Spring 2014)ALTRUISM & COOPERATION (Psych 201 - Chapter 14 - Spring 2014)
ALTRUISM & COOPERATION (Psych 201 - Chapter 14 - Spring 2014)
 
Animal behavior
Animal behaviorAnimal behavior
Animal behavior
 
Altruism theories
Altruism theoriesAltruism theories
Altruism theories
 
Classificação e grau de parentesco
Classificação e grau de parentescoClassificação e grau de parentesco
Classificação e grau de parentesco
 
Happiness Revolution Webinar 3 - altruism
Happiness Revolution Webinar 3 - altruismHappiness Revolution Webinar 3 - altruism
Happiness Revolution Webinar 3 - altruism
 
Etologia darwim principios basicos
Etologia darwim principios basicosEtologia darwim principios basicos
Etologia darwim principios basicos
 
Is altruism a myth
Is altruism a mythIs altruism a myth
Is altruism a myth
 
A atracção interpessoal
A atracção interpessoalA atracção interpessoal
A atracção interpessoal
 
Chap 5 Kin Selection Altruism
Chap 5  Kin  Selection  AltruismChap 5  Kin  Selection  Altruism
Chap 5 Kin Selection Altruism
 
Altruism Theories
Altruism TheoriesAltruism Theories
Altruism Theories
 
Atração Interpessoal
Atração InterpessoalAtração Interpessoal
Atração Interpessoal
 
Altruism
AltruismAltruism
Altruism
 
Shortest presentation on Altruism
Shortest presentation on AltruismShortest presentation on Altruism
Shortest presentation on Altruism
 
The evolution of kin selection
The evolution of kin selectionThe evolution of kin selection
The evolution of kin selection
 
Altruism
AltruismAltruism
Altruism
 

Semelhante a Origem do altruísmo entre parentes

50 IDEIAS DE BIOLOGIA QUE VOCÊ PRECISA CONHECER (1).pdf
50 IDEIAS DE BIOLOGIA QUE VOCÊ PRECISA CONHECER (1).pdf50 IDEIAS DE BIOLOGIA QUE VOCÊ PRECISA CONHECER (1).pdf
50 IDEIAS DE BIOLOGIA QUE VOCÊ PRECISA CONHECER (1).pdfantoniojosdaschagas
 
50 IDEIAS DE BIOLOGIA QUE VOCÊ PRECISA CONHECER (1).pdf
50 IDEIAS DE BIOLOGIA QUE VOCÊ PRECISA CONHECER (1).pdf50 IDEIAS DE BIOLOGIA QUE VOCÊ PRECISA CONHECER (1).pdf
50 IDEIAS DE BIOLOGIA QUE VOCÊ PRECISA CONHECER (1).pdfantoniojosdaschagas
 
Insetos eusociais e o desafio para a idéia de seleção natural
Insetos eusociais e o desafio para a idéia de seleção naturalInsetos eusociais e o desafio para a idéia de seleção natural
Insetos eusociais e o desafio para a idéia de seleção naturalmarciofdias
 
A teoria sintética do Darwin
A teoria sintética do DarwinA teoria sintética do Darwin
A teoria sintética do DarwinPedro Kangombe
 
Cães Produzindo Cães
Cães Produzindo CãesCães Produzindo Cães
Cães Produzindo CãesDennis Edwards
 
Senai sintexe da teoria de darwin
Senai   sintexe da teoria de darwinSenai   sintexe da teoria de darwin
Senai sintexe da teoria de darwinTuane Paixão
 
EducSpam Evolucao e Selecao Natural
EducSpam Evolucao e Selecao NaturalEducSpam Evolucao e Selecao Natural
EducSpam Evolucao e Selecao NaturalEduc Spam
 
Claudia aparecida alves criação x evolução
Claudia aparecida alves   criação x evoluçãoClaudia aparecida alves   criação x evolução
Claudia aparecida alves criação x evoluçãoAristoteles Rocha
 
O Gene Egoista - Richard Dawkins.pdf
O Gene Egoista - Richard Dawkins.pdfO Gene Egoista - Richard Dawkins.pdf
O Gene Egoista - Richard Dawkins.pdfJoão Soares
 
Amor = sobrevivência da espécie humana no planeta!
Amor = sobrevivência da espécie humana no planeta!Amor = sobrevivência da espécie humana no planeta!
Amor = sobrevivência da espécie humana no planeta!Argos Arruda Pinto
 

Semelhante a Origem do altruísmo entre parentes (20)

50 IDEIAS DE BIOLOGIA QUE VOCÊ PRECISA CONHECER (1).pdf
50 IDEIAS DE BIOLOGIA QUE VOCÊ PRECISA CONHECER (1).pdf50 IDEIAS DE BIOLOGIA QUE VOCÊ PRECISA CONHECER (1).pdf
50 IDEIAS DE BIOLOGIA QUE VOCÊ PRECISA CONHECER (1).pdf
 
50 IDEIAS DE BIOLOGIA QUE VOCÊ PRECISA CONHECER (1).pdf
50 IDEIAS DE BIOLOGIA QUE VOCÊ PRECISA CONHECER (1).pdf50 IDEIAS DE BIOLOGIA QUE VOCÊ PRECISA CONHECER (1).pdf
50 IDEIAS DE BIOLOGIA QUE VOCÊ PRECISA CONHECER (1).pdf
 
Neodarvinismo
NeodarvinismoNeodarvinismo
Neodarvinismo
 
Insetos eusociais e o desafio para a idéia de seleção natural
Insetos eusociais e o desafio para a idéia de seleção naturalInsetos eusociais e o desafio para a idéia de seleção natural
Insetos eusociais e o desafio para a idéia de seleção natural
 
A teoria sintética do Darwin
A teoria sintética do DarwinA teoria sintética do Darwin
A teoria sintética do Darwin
 
Cães Produzindo Cães
Cães Produzindo CãesCães Produzindo Cães
Cães Produzindo Cães
 
Darwin - 200 anos
Darwin - 200 anosDarwin - 200 anos
Darwin - 200 anos
 
Tema 1 genética
Tema 1   genéticaTema 1   genética
Tema 1 genética
 
Senai sintexe da teoria de darwin
Senai   sintexe da teoria de darwinSenai   sintexe da teoria de darwin
Senai sintexe da teoria de darwin
 
3 teorias evolucionistas
3 teorias evolucionistas3 teorias evolucionistas
3 teorias evolucionistas
 
Evolução Consciente
Evolução ConscienteEvolução Consciente
Evolução Consciente
 
Trabalho de ecossistema
Trabalho de ecossistemaTrabalho de ecossistema
Trabalho de ecossistema
 
Altruismo Recíproco
Altruismo RecíprocoAltruismo Recíproco
Altruismo Recíproco
 
EducSpam Evolucao e Selecao Natural
EducSpam Evolucao e Selecao NaturalEducSpam Evolucao e Selecao Natural
EducSpam Evolucao e Selecao Natural
 
Da evolucao para a criacao
Da evolucao para a criacaoDa evolucao para a criacao
Da evolucao para a criacao
 
Claudia aparecida alves criação x evolução
Claudia aparecida alves   criação x evoluçãoClaudia aparecida alves   criação x evolução
Claudia aparecida alves criação x evolução
 
Evolucao_Aula_4.pdf
Evolucao_Aula_4.pdfEvolucao_Aula_4.pdf
Evolucao_Aula_4.pdf
 
Especiação
EspeciaçãoEspeciação
Especiação
 
O Gene Egoista - Richard Dawkins.pdf
O Gene Egoista - Richard Dawkins.pdfO Gene Egoista - Richard Dawkins.pdf
O Gene Egoista - Richard Dawkins.pdf
 
Amor = sobrevivência da espécie humana no planeta!
Amor = sobrevivência da espécie humana no planeta!Amor = sobrevivência da espécie humana no planeta!
Amor = sobrevivência da espécie humana no planeta!
 

Mais de Roney Belhassof

Mais de Roney Belhassof (20)

Questing things done
Questing things doneQuesting things done
Questing things done
 
O tecido da Rede e a_narrativa_transmidia
O tecido da Rede e a_narrativa_transmidiaO tecido da Rede e a_narrativa_transmidia
O tecido da Rede e a_narrativa_transmidia
 
A morte da_web
A morte da_webA morte da_web
A morte da_web
 
Conversão 2.0
Conversão 2.0Conversão 2.0
Conversão 2.0
 
Um Safari pela Internet
Um Safari pela InternetUm Safari pela Internet
Um Safari pela Internet
 
UFF 2010 Mundo Pos Internet
UFF 2010 Mundo Pos InternetUFF 2010 Mundo Pos Internet
UFF 2010 Mundo Pos Internet
 
UFF 2010 Mundo Pos Internet
UFF 2010 Mundo Pos InternetUFF 2010 Mundo Pos Internet
UFF 2010 Mundo Pos Internet
 
Abrates 2010
Abrates 2010Abrates 2010
Abrates 2010
 
Twitter: A fronteira entre o real online e o real offline
Twitter: A fronteira entre o real online e o real offlineTwitter: A fronteira entre o real online e o real offline
Twitter: A fronteira entre o real online e o real offline
 
Sacos plásticos
Sacos plásticosSacos plásticos
Sacos plásticos
 
Rio de Janeiro em 1900
Rio de Janeiro em 1900Rio de Janeiro em 1900
Rio de Janeiro em 1900
 
Cow Parade Rio
Cow Parade RioCow Parade Rio
Cow Parade Rio
 
Snoopy Pq Mando Emails
Snoopy   Pq Mando EmailsSnoopy   Pq Mando Emails
Snoopy Pq Mando Emails
 
Agorafodeutudo(Ml)
Agorafodeutudo(Ml)Agorafodeutudo(Ml)
Agorafodeutudo(Ml)
 
Quem Somos
Quem Somos Quem Somos
Quem Somos
 
Um desafio de Deus
Um desafio de DeusUm desafio de Deus
Um desafio de Deus
 
Sorte
SorteSorte
Sorte
 
Kyrie Eleison
Kyrie EleisonKyrie Eleison
Kyrie Eleison
 
Brasil hilário (Fotos)
Brasil hilário (Fotos)Brasil hilário (Fotos)
Brasil hilário (Fotos)
 
Big Brother Brasil
Big Brother BrasilBig Brother Brasil
Big Brother Brasil
 

Último

tabela desenhos projetivos REVISADA.pdf1
tabela desenhos projetivos REVISADA.pdf1tabela desenhos projetivos REVISADA.pdf1
tabela desenhos projetivos REVISADA.pdf1Michycau1
 
caderno de matematica com as atividade e refrnciais de matematica ara o fu...
caderno de matematica  com  as atividade  e refrnciais de matematica ara o fu...caderno de matematica  com  as atividade  e refrnciais de matematica ara o fu...
caderno de matematica com as atividade e refrnciais de matematica ara o fu...EvandroAlvesAlves1
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManuais Formação
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptMaiteFerreira4
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfMarianaMoraesMathias
 
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaRotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaronaldojacademico
 
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...licinioBorges
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelGilber Rubim Rangel
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividadeMary Alvarenga
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinhaMary Alvarenga
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADOcarolinacespedes23
 
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresLilianPiola
 
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.Vitor Mineiro
 
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesA Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesMary Alvarenga
 
ANATOMIA-EM-RADIOLOGIA_light.plçkjkjiptx
ANATOMIA-EM-RADIOLOGIA_light.plçkjkjiptxANATOMIA-EM-RADIOLOGIA_light.plçkjkjiptx
ANATOMIA-EM-RADIOLOGIA_light.plçkjkjiptxlvaroSantos51
 
D9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptx
D9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptxD9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptx
D9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptxRonys4
 
interfaces entre psicologia e neurologia.pdf
interfaces entre psicologia e neurologia.pdfinterfaces entre psicologia e neurologia.pdf
interfaces entre psicologia e neurologia.pdfIvoneSantos45
 
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMCOMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMVanessaCavalcante37
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?Rosalina Simão Nunes
 

Último (20)

tabela desenhos projetivos REVISADA.pdf1
tabela desenhos projetivos REVISADA.pdf1tabela desenhos projetivos REVISADA.pdf1
tabela desenhos projetivos REVISADA.pdf1
 
caderno de matematica com as atividade e refrnciais de matematica ara o fu...
caderno de matematica  com  as atividade  e refrnciais de matematica ara o fu...caderno de matematica  com  as atividade  e refrnciais de matematica ara o fu...
caderno de matematica com as atividade e refrnciais de matematica ara o fu...
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
 
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaRotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
 
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinha
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
 
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
 
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
 
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesA Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
 
ANATOMIA-EM-RADIOLOGIA_light.plçkjkjiptx
ANATOMIA-EM-RADIOLOGIA_light.plçkjkjiptxANATOMIA-EM-RADIOLOGIA_light.plçkjkjiptx
ANATOMIA-EM-RADIOLOGIA_light.plçkjkjiptx
 
D9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptx
D9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptxD9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptx
D9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptx
 
interfaces entre psicologia e neurologia.pdf
interfaces entre psicologia e neurologia.pdfinterfaces entre psicologia e neurologia.pdf
interfaces entre psicologia e neurologia.pdf
 
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMCOMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
 
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
 

Origem do altruísmo entre parentes

  • 1. ALTRUÍSMO DE PARENTES SUA ORIGEM BIOLÓGICA Alaor Chaves – UFMG alaor@fisica.ufmg.br
  • 2. Paradoxo do altruísmo Na teoria da evolução biológica, o altruísmo é paradoxal. Ao praticar um ato de altruísmo o indivíduo está agindo contra os seus interesses em benefício dos interesses de outro, ou de outros membros do seu grupo. Com isso, o indivíduo está reduzindo o seu sucesso reprodutivo, ou seja, reduzindo a quantidade de descendentes que contêm os seus genes, e ao mesmo tempo aumentando o sucesso reprodutivo dos indivíduos que ele beneficia. Com isso, em um grupo de animais em que há indivíduos altruístas, a cada geração a quantidade de portadores de genes que predispõem ao altruísmo deveria decrescer, até que finalmente a variedade altruísta fosse extinta. Sendo assim, como os genes do altruísmo evoluíram? Um mutante altruísta parece ser mal adaptado e portanto pouco capaz de disseminar seus genes na população! Mas o altruísmo é altamente frequente nos animais sociais. Já no livro A Origem das Espécies, Charles Darwin reconheceu paradoxo, para o qual buscou explicações, sem sucesso. Segundo ele, essa dificuldade poderia acabar por demolir toda a sua teoria.
  • 3. Darwin achou especialmente desafiador o comportamento altruísta de insetos altamente sociais como formigas, abelhas e vespas. Em uma colônia desses insetos há uma única fêmea adulta fértil, a rainha. As outras fêmeas são operárias, que dedicam suas vidas a cuidar dos ovos e larvas gerados pela rainha. Ou seja, um grande número de operárias pratica uma forma de altruísmo que reduz a zero o seu sucesso reprodutivo e aumenta enormemente o sucesso reprodutivo de sua mãe, a rainha. Que processo evolutivo gerou e preserva essa classe de Madres Teresa de Calcutá? A pergunta vagou por mais de um século, gerando respostas que no final mostraram não fazer sentido dentro da teoria darwiniana. Ações em benefício da espécie? Não faz sentido. Com efeito, com o tempo a espécie fica cada vez menos provida dos praticantes dessas ações, até que enfim eles se extinguem, se antes não se extinguir a própria espécie. Seleção de grupo? Também não funciona. Nessa especulação, os grupos de animais cooperativos têm mais sucesso do que outros grupos menos cooperativos. Mas dentro de um dado grupo, os mais cooperativos têm menos sucesso e se extinguem.
  • 4. A solução do paradoxo de Darwin exigiu uma revolução na teoria da evolução e ainda uma teoria adicional para explicar uma forma de altruísmo que a revolução não foi capaz de explicar. Pois há dois tipos de altruísmo e suas origens evolucionárias são bem distintas. O primeiro tipo é o altruísmo de parentes. O outro, entre indivíduos não relacionados por laços de sangue, ou melhor, de genes. Como se acabou entendendo por meio da teoria dos jogos, este último tipo de altruísmo sempre envolve alguma forma de reciprocidade e, portanto, não é altruísmo no sentido rigoroso da palavra. Neste artigo trataremos do altruísmo entre parentes e outro artigo será dedicado ao altruísmo entre não parentes, também chamado altruísmo recíproco..
  • 5. Visão da evolução centrada nos genes Até os anos 1960, os evolucionistas pensavam que a seleção natural atuava a nível de organismo (indivíduo) e também a nível de grupos (populações). Mas isso não é verdade. Nos anos 1960 e início dos anos 1970, a teoria da evolução foi reformulada com outra visão, centrada no gene. O que é selecionado é o gene. O espécime pode deixar poucos descendentes, ou até mesmo nenhum descendente, mas seus genes podem estar presentes na geração posterior por causa da procriação de seus parentes, com os quais ele compartilha parte dos seus genes. Isso deu origem ao altruísmo de parentes. Essa reformulação da teoria incluiu o trabalho de vários pesquisadores, mas algumas contribuições se destacam. Em 1957, J B S Haldane (1892 – 1964) foi perguntado em uma entrevista se daria a vida para salvar a de um irmão. Ele respondeu, que não, mas daria a vida para salvar a de 2 irmãos ou a de 8 primos. A resposta de Haldane considera precisamente o compartilhamento de genes entre irmãos bilaterais e primos primeiros: Dois irmãos compartilham em média 1/2 dos seus genes Dois primos compartilham em média 1/8 dos seus genes.
  • 6. J B S Haldane George C Williams William D Hamilton Richard Dawkins George Williams (1926 – 2010) demoliu, com argumentos de genética populacional, a ideia de seleção de grupos. William Hamilton (1936 – 2000) desenvolveu, em sua tese de doutorado, a teoria da seleção de parentesco. Teve dificuldade em ter a tese aprovada e em publicar sua teoria em dois artigos (1964). Mas acabou sendo reconhecido como um dos maiores teoristas da evolução desde Darwin. Richard Dawkins (1943 – ) publicou em 1976 o livro O Gene Egoísta, que alguns consideram o melhor livro de divulgação científica já escrito. Mas o livro não é só divulgação, pois ele engloba os trabalhos anteriores em uma síntese clara e rica em ideias originais.
  • 7. O título do famoso livro de Dawkins é intrigante. Como pode um gene ser egoísta? Quem deveria ser egoísta é o organismo, pois agindo assim ele acaba tendo mais sucesso procriativo e deixa mais cópias dos seus genes nas gerações seguintes. O gene é um mero fragmento molecular de matéria. Não se pode atribuir a ele qualquer forma de comportamento análoga ao comportamento animal. Mas alto lá! Um dado gene é uma entidade que aparece não só em um organismo, mas também em outros organismos da mesma espécie. Suas cópias ocorrem no banco gênico da espécie e são mais frequentes em indivíduos parentes daquele em que estamos vendo a sua ação. Quanto mais próximo o grau de parentesco, maior a fração r de genes que os dois organismos compartilham. Para pai-filho r = 1/2, para irmão-irmão r = 1/2, para tio-sobrinho r = 1/4, para primos, r = 1/8 etc. Como se expressou Dawkins, genes podem programar os organismos em que eles estão presentes para fazer coisas contrárias aos interesses do organismo, mas que resultem em mais cópias dos genes na geração seguinte. Podem fazer isso programando o organismo para que ele seja altruísta com relação aos seus parentes. Ou seja, o gene pode ser egoísta, mas o organismo em que ele reside pode ser altruísta. O organismo é a forma de o gene fazer cópias de si mesmo. Nas palavras de Dawkins, “o organismo é a máquina de sobrevivência dos genes”.
  • 8. Hamilton elaborou sua teoria em termos matemáticos. Quando um ator presta um benefício a um recipiente, o custo para o ator e o benefício para o recipiente podem ser quantificados em números. Do ponto de vista de genética populacional, o custo C é a perda relativa do sucesso reprodutivo posterior de quem presta o benefício (ator). O benefício B é o aumento relativo do sucesso reprodutivo do recipiente (beneficiado). Como apontou Hamilton, pela lógica do interesse do gene, a ação altruísta é benéfica se C < r B. (Critério de Hamilton) Em palavras, o custo C deve ser menor do que o produto do benefício B pela fração r de genes que ator e recipiente compartilham. Nota-se que Haldane tinha em mente exatamente a equação que Hamilton escreveu anos depois. De fato, dois irmãos compartilham 1/2 dos seus genes e dois primos compartilham 1/8 deles. O custo reprodutivo para alguém que morre é 1 (perda completa da capacidade) e o benefício de quem tem sua vida salva é 1 (preservação integral da capacidade). Assim, quando alguém morre para salvar 8 primos, o critério de Hamilton dá 1 = 1. Nesse caso não há perda nem ganho para os genes. Se forem 9 primos, os genes saem ganhando.
  • 9. O altruísmo de parentes é ubíquo no reino animal. É muito difícil quantificar os valores de C e B, e por essa razão não foi ainda possível verificar empiricamente a validade do critério de Hamilton. Há, por isso, quem diga que a teoria de Hamilton não está demonstrada com base em fatos. Em primeiro lugar, eu gostaria de comentar que fatos não podem provar uma teoria; podem sim, confirmá-la. Tomemos, por exemplo, a lei da gravitação de Newton. Com base nela podemos prever que se cortarmos uma árvore ela irá cair. Mas essa é uma predição que não pode ser provada. O que se sabe é que todas as árvores cortadas até hoje caíram. Todas confirmaram a predição. Mas ela não será demonstrada nem mesmo se cortarmos todas as árvores do planeta, pois alguma árvore ainda não nascida poderá algum dia falseá-la. Posto isto, gostaria de dizer que não devemos ver as equações que eventualmente aparecem na biologia da mesma maneira que vemos uma equação da física. Alguns aspectos da teoria de Hamilton são dignos de nota. É famosa a disposição dos pais em se sacrificar pelos filhos. Filhos são também capazes de se sacrificar pelos pais, mas em um nível menor. De onde vem essa assimetria? Acontece que no critério de Hamilton os números C e B não ficam invariantes quando trocamos o ator pelo recipiente e vice versa. O filho que se sacrifica pelo pai faz um sacrifício maior para um benefício menor. Isto porque o filho que está se sacrificando tem um potencial maior de procriação do que o pai pelo qual se sacrifica. Além do mais, os benefícios não são equivalentes, principalmente se o filho for imaturo. Sem assistência paterna ou materna, o filhote dificilmente sobrevive.
  • 10. Podem surgir conflitos entre os genes de uma criança (ou de um outro animal infante) e os genes da sua mãe. Esse fenômeno, denominado conflito entre gerações, foi primeiro estudado por Robert Trivers (1943 – ) em um artigo clássico de 1974. A mãe tem outros filhos e é de interesse de seus genes dedicar serviços a todos eles. Já cada filho, principalmente o filho mais jovem, que mais se beneficia desses serviços, tenta maximizar a atenção aos seus interesses. Desmamar o filho caçula é uma pequena guerra. Isso é muito importante para os genes da mãe, pois enquanto ela Robert Trivers amamente não ovula, portanto não é capaz de produzir novas cópias dos seus genes. A partir de certa idade do caçula, é melhor para os genes da mãe que ela geração de outros filhos. Para os genes do caçula, é melhor que a mãe o amamente indefinidamente. Mas o filho tenta maximizar para si os benefícios prestados pela mãe desde quando é feto, o que escapou à atenção de Trivers. Ele produz hormônios que resultam na maximização de sangue oxigenado na placenta, sangue que o feto drena pelo cordão umbilical e bombeia no próprio organismo. Para isso o feto tem de cometer pequenas maldades, como por exemplo fazer vasoconstricção , por ação muscular, dos vasos que vão para outra partes do corpo da mãe. Isso gera hipertensão na mãe. Às vezes o feto exagera na dose e a mãe ter eclampse, que pode ser fatal. Lá se vão os genes tanto da mãe quanto do filho!
  • 11. Há uma diferença curiosa no tratamento que gorilas e chimpanzés dão aos animais imaturos do bando. Os gorilas são muito mais prestativos aos animais imaturos do que os chimpanzés. A explicação para isso é o egoísmo dos genes. Em um bando de gorilas, um único macho, o alfa, se acasala com todas a fêmeas. Portanto, todos os muito jovens do bando são seus filhos. Já os chimpanzés, são promíscuos. As fêmeas praticam sexo com todos os machos do bando que não sejam seus filhos ou irmãos maternos. Portanto, pela lógica dos genes, não é conveniente que um macho se sacrifique muito pelos pequenos. Há uma probabilidade de que o pequeno seja um filho, apenas isso. Um ou outro leitor irá questionar que gene não sabe cálculo das probabilidades. Realmente não sabe, mas age como se soubesse. Do mesmo modo que uma bala de canhão se movimenta como se conhecesse as leis da balística. Ah, não acabei! Quando um novo gorila assume o papel de alfa no bando, sua primeira providência é matar todos os filhotes que estejam sendo amamentados. Assim manda o gene egoísta. Pois enquanto amamenta, a fêmea não ovula e por isso não ajuda a fazer cópias dos genes que comandam o comportamento do macho. Espero que nenhum político nepotista se sinta justificado alegando que age teleguiado pelos seus genes!
  • 12. Sistema haplodiploide de reprodução A imensa maioria dos animais que reproduzem sexualmente é diploide, o que significa o seguinte. Os cromossomos se apresentam em pares. Na reprodução, o espermatozoide contribui com um de cada par dos cromossomos do pai e o óvulo com um de cada par dos espermatozoides da mãe. O óvulo fecundado mistura os dois conjuntos de cromossomos novamente em pares. O último par de cromossomos da mãe contém dois cromossomos X. Sendo assim, o último cromossomo do óvulo é X. Já no pai, o último par de cromossomos é composto de um cromossomo X e de outro Y, e portanto o último cromossomo do espermatozoide pode ser tipo X ou tipo Y. Se for tipo X, o óvulo fecundado forma um embrião de fêmea. Se for tipo Y, forma- se um embrião de macho.
  • 13. Mas na ordem Hymenoptera, à qual pertencem as formigas, abelhas e vespas, o sistema de reprodução é haplodiploide. Tudo se dá da forma seguinte. Em uma colônia de himenópteros há apenas uma fêmea adulta fértil, a rainha. Quando uma nova fêmea fértil atinge a maturidade, sai da colônia no voo nupcial, acasala-se com um único macho e armazena os espermatozoides para toda a vida. Está então preparada para, em inteira solidão, iniciar uma nova colônia. Produz os seus óvulos, mas não fecunda todos eles. Os óvulos fecundados conterão espermatozoides pareados e gerarão fêmeas. Já os não fecundados conterão um conjunto simples de espermatozoides (todos oriundos da mãe) e gerarão machos. As larvas com cromossomos pareados se tornarão fêmeas férteis (rainhas) ou fêmeas estéreis (operárias) dependendo da alimentação que receberem. Essa regra peculiar de sexualidade gera graus de parentescos também peculiares. Metade dos genes da rainha mãe estarão presentes tanto nos filhos quanto nas filhas. Portanto, ela terá tanto com filhos quanto com filhas um grau de parentesco r = 1/2. Já as filhas têm entre si um nível mais alto de parentesco. Pois nelas os cromossomos oriundos do pai (que é o mesmo para todas as irmãs) são idênticos e só os cromossomos oriundos da mãe podem diferir. Portanto, o grau de parentesco entre as irmãs é r = 3/4. Nesse caso, as fêmeas transmitirão mais cópias dos seus genes se abrirem mão da maternidade e destinarem seu esforço aos cuidados das suas irmãs mais novas. Genes egoístas e organismos absurdamente altruístas!
  • 14. A solução que Hamilton deu ao paradoxo de Darwin, e que acabamos de apresentar, foi talvez a mais brilhante ideia na teoria da evolução, desde Darwin. Os himenópteros não só apresentam o mais elevado grau de altruísmo do reino animal, mas também são os mais bem sucedidos animais multicelulares do planeta. Nas floretas tropicais, onde não são perturbados pela ação do homem, os himenópteros podem responder por até um terço, em massa, de todos os animais. De um avião sobrevoando a Amazônia pode-se perceber ácido fólico emanado pelas formigas. Há uma manifestação peculiar do conflito de gerações nos himenópteros, prevista também por Trivers. Para os animais diploides, a razão ideal entre o número de filhas e de filhos é igual a 1, o que foi demonstrado matematicamente por Ronald Fisher em 1930 e se verifica aproximadamente em todas as espécies. O mesmo ocorre nos haplodiploides, do ponto de vista da mãe. Mas quem detém o controle dessa razão são as operárias, pois elas cuidam do berçário. Do ponto de vista dos seus genes, a razão ideal é igual a 3, ou seja é melhor que elas tenham 3 vezes mais irmãs do que irmãos. A razão verificada na prática depende da espécie, mas é sistematicamente maior do que 1.
  • 15. Associado ao altruísmo de parentes, evoluiu o antagonismo entre grupos de animais sociais. É de interesse dos genes que um grupo tente eliminar a competição (por território, por alimentos) de outros com os quais compartilha menos genes. O comportamento tribal, o patriotismo etc. são moedas de duas faces, uma de altruísmo interno da população e a outra de agressão a outras populações. Deixaremos fora da discussão do antagonismo tribal humano, por ser assunto onde ciência e ideologia se misturam. Trataremos apenas dos himenópteros. Ou melhor, trataremos apenas das formigas, o animal social em que a agressão entre grupos é mais intensa. Todos os membros de uma colônia de formigas são irmãos, exceto a rainha, que é mãe de todos. O conflito entre diferentes colônias se torna nesse caso mais grave. As fêmeas estéreis na verdade formam duas castas, as operárias, que fazem todo o trabalho, e os soldados, que cuidam das guerras. Uma larva se torna operária ou soldado também como resultado de como é criada pelas irmãs operárias mais velhas. Os soldados, armados de mandíbulas mortíferas, fazem expedições de guerra a outras colônias vizinhas e cometem genocídio, se são bem sucedidos. Com frequência, trazem os cadáveres para o formigueiro, para serem devorados. Membros de uma colônia se reconhecem pelo cheiro. No enciclopédico livro Ants, os autores, Bert Holldrober e Edward O Wilson comentam: “Se as formigas possuíssem armas nucleares, destruiriam a vida em uma semana.”
  • 16. Mas as formigas não se limitam a matar as concorrentes, às vezes também as escravizam. Geralmente fazem isso com formigas de outras espécies. Batalhões de soldados atacam outra colônia, matam todos os soldados e, cuidadosamente, carregam os ovos que encontrarem de volta para casa. As operárias cuidam dos ovos e depois das larvas de modo que elas se transformem em operárias escravas. A escrava não sabe que está na colônia errada, cuidando do interesse de genes que não são os seus. Ludibriada, segue erroneamente as instruções dos seus genes: mantenha a casa limpa, providencie comida para toda a colônia e principalmente cuide das irmãs imaturas. As operárias das espécies colonizadoras acabam tendo de trabalhar pouco, pois as escravas dão conta do serviço. Pela lógica dos genes, nesse caso elas deveriam cuidar das larvas que são suas irmãs de modo que elas se tornem predominantemente soldados. Não tenho conhecimento de estudos que comprovem essa predição.
  • 17. Há um outro tipo de insetos que formam sociedades e castas em que toda a prole de uma colônia é gerada por uma única fêmea, a rainha. São os cupins. A rainha se acasala com um único macho, o que faz com que todos os outros membros da colônia sejam irmãos bilaterais. As fêmeas estéreis também são operárias, e em algumas espécies de cupins há também fêmeas que se tornam soldados. Destaca-se que no caso dos cupins todas as irmãs estéreis compartilham entre si ½ do seus genes, pois o sistema de reprodução é diploide. Nesse caso, para os genes das fêmeas é indiferente ter filhos ou criar os irmãos e irmãs mais jovens e o ganho para os genes está na cooperação dentro da colônia. Há ainda um animal um tanto bizarro que forma colônias e onde só uma fêmea reproduz, sempre com o mesmo macho. Trata-se do rato-toupeira- pelado, um roedor africano que forma colônias subterrâneas. A fêmea reprodutora controla a sexualidade das outras fêmeas com feromônios. E repele outros machos que tentam se acasalar com ela.
  • 18. Altruísmo entre espécies O egoísmo dos genes gera altruísmo mesmo entre organismos de espécies distintas. Os exemplos são absolutamente incontáveis e recebe um nome especial, protocooperação. Trata-se de um falso altruísmo, pois ambos os organismos interagem de maneira a obter benefício sem custo. Quando pelo menos um dos organismos não pode sobreviver sem o outro, diz que há uma simbiose. O ser humano explora um tipo especial de altruísmo entre espécies em benefício próprio. Há um gênero de bactérias, os rizóbios, que se alimentam de substâncias produzidas pelas raízes de plantas leguminosas. Retribuem fixando nitrogênio no solo, que é nutriente para a planta. Pois bem, para cultivar leguminosas os agricultores inoculam as sementes com rizóbios e dessa forma podem usar menos adubo nitrogenado. Algumas espécies de peixes pequenos comem detritos que encontram na pele de peixes grandes. Fazem isso até com tubarões. Por que o intempestivo tubarão não come esses peixinhos? Ele não sabe, mas seus genes sabem, o benefício imediato de comê-los é menor do que o benefício que receberá deles no futuro. Neste caso, o peixinho presta um benefício limpando o tubarão. Este retribui poupando-o da morte. Nesse caso o tubarão é de fato altruísta, pois abre mão de um alimento fácil.
  • 19. Uma forma de altruísmo entre espécies me parece especialmente interessante. Se o leitor cultiva um jardim, ou pomar, deve ter notado que infestações de pulgões são sempre acompanhadas de infestações de formigas, frequentemente umas formigas pretas de tamanho mediano. Os pulgões têm grande capacidade de extrair seiva dos vasos das folhas. Tanta capacidade que não usam todos os nutrientes da seiva. Por isso, expelem em abundância um líquido nutritivo. Certas espécies de formigas exploram esmeradamente essa forma de alimento. Essa coisa é antiga, pois houve adaptação mútua a esse comportamento. Os pulgões adaptaram o seu corpo de modo a facilitar o trabalho das formigas e estas protegem os pulgões de predadores. Os pulgões se tornaram indefesos e um tanto dependentes das formigas. A cooperação entre as partes vai ainda mais longe. Formigas transportam com enorme carinho larvas de pulgões para alguma folhagem nova, especialmente rica em seiva, para que o negócio continue prosperando. Quem sai perdendo é a planta. Conheço formas de proteger as brotações das plantas contra essa gang interespecífica. Se o leitor quiser, pode me enviar um email.