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Ensino história com materiais didáticos
1.
Revista Latino-Americana de
História Vol. 2, nº. 6 – Agosto de 2013 – Edição Especial © by PPGH-UNISINOS Página40 A produção de material didático para o ensino de História. Cristine Fortes Lia* Jéssica Pereira da Costa** Katani Maria Nascimento Monteiro*** Resumo: A produção de material didático para as aulas de história remete à discussão sobre as práticas de ensino e de aprendizagem. O recurso e/ou material didático precisa ser pensado através da abordagem da construção do conhecimento histórico, não se limitando a uma prática de transmissão deste conhecimento. Assim, o significado do material didático e sua produção centram-se na ideia de criar uma relação entre o aprendizado e a construção de um determinado referencial explicativo para determinados processos históricos. Através de exemplos de experiências práticos, este estudo objetiva estabelecer a relação entre a prática da construção do conhecimento e as abordagens teóricas sobre o mesmo. Palavras-chave: Material didático. Conhecimento histórico. Ensino. Abstract: The production of didactic material for history classes brings up discussions about the teaching and learning practices. The didactic method or material needs to be built up through the approach of constructing the historical knowledge, trying not to limit the teaching to the practice of merely transmitting this knowledge. Thus, the meaning of the didactic material and its production are focused on the idea of creating a relation between learning and the construction of the explanatory referential to certain historical processes. Through the exemplification of practical experiences, this study aims to establish the relation between the practices of the construction of knowledge and the theoretical approaches to the same. Keywords: Didactic material. Historical knowledge. Teaching. A prática nas aulas de história O tema da formação de professores é ao mesmo tempo complexo e instigante. Complexo por apresentar uma série de problemáticas que não encontra respostas rápidas e * Doutora em História – PUCRS. Pesquisadora e docente no Curso de História e no Mestrado Profissional em História da Universidade de Caxias do Sul - UCS ** Acadêmica do Curso de História da Universidade de Caxias do Sul – UCS e monitora do Núcleo de Apoio ao Ensino de História – NAEH - UCS *** Doutora em História – UFRGS. Pesquisadora e docente no Curso de História e no Mestrado Profissional em História da Universidade de Caxias do Sul - UCS
2.
Revista Latino-Americana de
História Vol. 2, nº. 6 – Agosto de 2013 – Edição Especial © by PPGH-UNISINOS Página41 tampouco fáceis no que se refere, por exemplo, à tão e sempre discutida relação entre a formação universitária e o cotidiano escolar. Por isso mesmo, torna-se um tema instigante, considerando-se que nele se interpenetram questões de ordem ética e política. Seguidamente vemos surgir “novos” referenciais legislativos para o desenvolvimento de uma educação plena que vislumbre a formação de professores capazes de formar cidadãos autônomos e críticos em relação ao mundo social. Conforme os governos se sucedem mudam as prerrogativas e concepções em relação ao conjunto dos pressupostos que norteiam a formação dos futuros professores da Educação Básica. No âmbito da formação docente, a associação entre teoria e prática representa um eixo basilar na configuração de um padrão educacional coerente e conectado com as demandas do contexto escolar. Nesse sentido, em 19 de fevereiro de 2002, o governo brasileiro, na tentativa de qualificar os currículos das licenciaturas, regulamentou a Resolução do Conselho Nacional de Educação1 . Através dessa resolução foi instituída a carga horária dos cursos de Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, de graduação plena em, no mínimo, 2800 horas, de forma que a articulação entre teoria e prática fosse contemplada nos projetos pedagógicos de acordo com as seguintes dimensões: I-400 horas de prática como componente curricular, vivenciadas ao longo do curso;2 II-400 horas de estágio curricular supervisionado obrigatório a partir do início da segunda metade do curso; III-1800 horas de aulas para os conteúdos curriculares de natureza científico-cultural; IV-200 horas para outras formas de atividades acadêmico-científico-culturais [as chamadas Atividades Complementares]. A inclusão da dimensão Prática como Componente Curricular nos projetos pedagógicos dos cursos de licenciaturas pode apresentar variações. Coube aos colegiados de cursos determinarem quais componentes curriculares da formação específica mereceriam maior ou menor carga horária de tal dimensão. A prática curricular, portanto, deixou de ser exclusiva dos estágios curriculares passando a compor as demais unidades de ensino. A articulação das dimensões acima expostas com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica se expressa em alguns pressupostos quanto à organização curricular dos cursos no que se refere a “outras formas de orientação inerentes à formação para a atividade docente” [além das estabelecidas na LDB/1996] tais 1 CNE. Resolução CNE/CP 2/2002. Diário Oficial da União, Brasília, 4 de março de 2002. Seção 1, p.9. 2 [Grifos das autoras]
3.
Revista Latino-Americana de
História Vol. 2, nº. 6 – Agosto de 2013 – Edição Especial © by PPGH-UNISINOS Página42 como: “a elaboração e a execução de projetos de desenvolvimento dos conteúdos curriculares” e, ainda, “o uso de tecnologias da informação e da comunicação e de metodologias, estratégias e materiais de apoio inovadores”.3 Por Prática como Componente Curricular entende-se, no contexto do documento oficial, “uma prática que produz algo no âmbito do ensino”, que deve acontecer desde o início do processo de formação, o que a distingue da prática dos estágios supervisionados obrigatórios, mas, que, conjuntamente com estes, contribui “para a formação da identidade do professor como educador”. Transformar o conhecimento científico em objeto a ser ensinado subentende transformá-lo em objeto didático, já que, inicialmente, o conhecimento não foi produzido pelo cientista com tal finalidade. A operação que transforma o saber acadêmico, no caso o conhecimento histórico, num saber escolar, pressupõe uma série de operações. É neste sentido que a Prática como Componente Curricular se reveste de um papel fundamental na formação dos professores. O Projeto Pedagógico UCS Licenciatura, concebido após um intenso processo de imersão de coordenadores de cursos de licenciaturas e membros de colegiados dos mesmos, assim se refere à questão: Esse processo de transposição requer do docente [em formação], no mínimo, sensibilidade para: recortar do conhecimento disponível o que é pertinente para a situação de ensino; contextualizar esse recorte conforme o tempo/espaço de produção e segundo os objetivos do ensino; organizar/sistematizar esse recorte – valendo-se, para isso, de diferentes linguagens e do uso adequado delas à situação enunciativa pressuposta pelo processo de ensino e aprendizagem e planejar formas de tornar acessível ao aluno esse recorte, avaliando essa acessibilidade. (SANTOS et al. 2004, p. 21) O curso de Licenciatura em História da Universidade de Caxias do Sul possui um espaço privilegiado para a execução de práticas pedagógicas, tanto no que tange aos estágios obrigatórios como no que se refere às práticas curriculares. O Núcleo de Apoio ao Ensino da História (NAEH) foi criado em 2005 e tem como objetivos promover situações de associação entre teoria e prática visando a capacitação e qualificação continuada dos profissionais de História para uma atuação reflexiva frente ao ato educativo e a História. O NAEH conta com uma estrutura bastante diversificada quanto aos materiais disponibilizados: revistas de cunho pedagógico e historiográfico, diversos livros que vão desde os didáticos até aos que oferecem suporte teórico-metodológico para o 3 CNE. Resolução CNE 1/2002. Diário Oficial da União, Brasília, 9 de abril de 2002. Seção 1, p. 31.
4.
Revista Latino-Americana de
História Vol. 2, nº. 6 – Agosto de 2013 – Edição Especial © by PPGH-UNISINOS Página43 professor/historiador, mapas, painéis, jogos educativos, imagens e filmes que podem ser usados tanto para a realização dos trabalhos solicitados pelos professores assim como nos estágios obrigatórios. Esse conjunto de recursos possibilita que o futuro docente construa, ao longo de sua formação, referenciais teóricos e práticos imprescindíveis para uma atuação profissional criativa e responsável. Este estudo orienta-se na direção de apontar possibilidades de produção e usos de materiais didáticos, através da experiência de sua função no aprendizado, no âmbito do curso de História da Universidade de Caxias do Sul, tendo em vista atividades vivenciadas por professores e acadêmicos através, também, da execução da Prática como Componente Curricular. Os usos e significados do material didático para o estudo da história A produção de recursos didáticos está intimamente ligada às atividades práticas dos docentes. Estes recursos, de diferentes naturezas, muito contribuem para o aprendizado, ampliando o potencial interpretativo do conteúdo, rompendo o limite da exposição oral. No entanto, a concepção do material didático não deve ficar restrita a uma possibilidade ilustrativa às aulas do professor, nem, tampouco, corresponder à única fonte de informação sobre determinado conteúdo, o que, muitas vezes, acontece com o livro didático. O material didático para ter função significativa no aprendizado de história deve ser concebido através de uma ação conjunta entre o professor e o aluno. Assim, este recurso não deve ser apenas utilizado em sala de aula, mas produzido na mesma, gerando um processo de interação entre o conteúdo e sua compreensão. O grande ganho com a prática de produção de materiais didáticos está em criar um elo explicativo dos temas abordados na disciplina de história. Através da produção desse recurso, o aluno cria intimidade com o assunto trabalhado, sendo capaz de perceber os significados dos processos históricos e identificar sua própria identidade dentro dos mesmos. A prática, em geral, cativa mais a atenção do discente do que a exposição oral, permitindo que o aluno descubra novas interpretações para os fenômenos históricos, identificando suas habilidades e competências dentro desse universo. Pode ser citado como exemplo, aulas praticadas em museus de cidades europeias, como Berlim (STAATLICHE MUSEEN ZU BERLIN, 2009), que objetivam criar uma perspectiva de educação patrimonial baseada na experiência de ir ao acervo e recriar o que foi
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Revista Latino-Americana de
História Vol. 2, nº. 6 – Agosto de 2013 – Edição Especial © by PPGH-UNISINOS Página44 visualizado, atribuindo valor e significado ao que foi estudado. Para estudantes de diferentes idades e etapas do processo educacional são fabricados materiais para serem utilizados como livros de pintura (EDELMANN, 2011), nos quais devem ser identificados os animais de determinadas civilizações (atividade de caráter interdisciplinar), visitadas no museu, e pintados com as cores que foram vistos nos acervos. Existem livros nos quais devem ser identificadas as divindades e suas narrativas míticas e, entre muitos outros, materiais que recriam maquetes de palácios e portais. Outras produções de caráter paradidático, publicadas no Brasil, também auxiliam na expectativa de conferir uma experiência mais adequada a prática na construção do conhecimento histórico. Publicações que permitem ao aluno experimentar, através de relatos e de propostas de atividades, o cotidiano de uma determinada civilização (MORLEY, 1996) contribuem para despertar o interesse em concretizar uma trajetória de identidade entre o aluno e o tema abordado. Bem como, para o Ensino Fundamental, é possível desenvolver uma série de atividades práticas, orientadas por publicações de qualidade, que, além de explicar conteúdos sobre as sociedades antigas, preparam materiais sobre a escrita, a alimentação, os brinquedos, o vestuário e outros aspectos do povo estudado (BROIDA, 2002). Cabe ao docente se apropriar destes recursos. Na inexistência de uma estrutura tão propicia a confecção de recursos de aprendizagem, é importante destacar que pequenas práticas despertam o potencial do aluno e do professor, concretizando um interessante diálogo de compreensão do processo histórico, que, muitas vezes, extrapola a expectativa do docente. Neste sentido, serão relatados alguns exemplos de construção de material didático, alguns pautados nas experiências realizadas pelo Núcleo de Apoio ao Ensino da História da Universidade de Caxias do Sul – NAEH-UCS. A produção de material didático como recurso de aprendizagem Quanto mais carente é um determinado assunto de informações nos materiais didáticos, mais interessante é a proposta de produzir sobre o mesmo. Quantos professores já se depararam com o desafio de ensinar sobre a civilização fenícia, partindo da certeza do pouco que tinham para ampliar a compreensão de suas explicações. Os fenícios constituem um exemplo consistente dentro da abordagem da produção do recurso didático, pois de forma esparsa existe muita informação sobre os mesmos. Estas informações são imprecisas e
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História Vol. 2, nº. 6 – Agosto de 2013 – Edição Especial © by PPGH-UNISINOS Página45 contraditórias e filtrá-las para construir slides, um pequeno livro paradidático, um jogo, transforma os fenícios em sujeitos históricos interessantíssimos. Trabalhar com o ensino de história da África e da cultura afro-brasileira é um grande desafio para o professor. A recente lei de inclusão no ensino ainda não gerou a quantidade de material didático considerado necessário para a promoção de um aprendizado significativo (além do fato de uma parcela dos professores não ter tido formação nesta área de conhecimento). A lei também traz como proposta a afirmação da cultura de matriz africana, aumentando a auto-estima dos afro-descendentes. Uma atividade para esta proposta é a produção de objetos de adorno africanos. Esta inicia com uma reflexão entre os alunos e o professor de quantos objetos que eles portam são de origem africana. Podem ser identificados os amuletos, as estampas das roupas, as bijuterias, etc. A partir desta identificação, que já revela a aproximação da cultura africana com a brasileira, servindo para ampliar a auto-estima dos afro-descendentes, pode ser iniciada a confecção de objetos como máscaras, “amarraduras” em tecido, que formam trajes de origem africana e bijuterias. Todos estes objetos são produzidos com baixos recursos e serão utilizados no cotidiano dos alunos. Importante despertar a afetividade do aluno para com o objeto produzido, este tem significado por ter passado pela compreensão de um tema estudado e foi confeccionado pelo estudante, que passa a vê-lo como algo seu, no sentido da produção e da difusão do conhecimento histórico. O aluno torna-se produtor e difusor de um determinado aprendizado; possui um artefato cultural construído por ele e sobre o qual é capaz de historicizar. É a afirmação positiva de uma identidade. Devem ser analisadas todas as etapas da produção, principalmente o significado dos componentes dos objetos: por exemplo, o que significam as cores dos tecidos? Quais animais são contemplados nestas estampas e porque? Que sementes são utilizadas nas bijuterias? Esta atividade tem potencial interdisciplinar, podendo abrir o diálogo entre várias áreas de conhecimento. Ainda pode ser privilegiada as expressões linguísticas que nos ligam ao continente africano. Não abordando apenas o conjunto de palavras diretamente herdadas do referido continente, mas enfocando nosso sotaque, nossa tendência de atribuir vogais a sonoridade das palavras como pneu, herança direta dos africanos que participaram da colonização do Brasil.
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História Vol. 2, nº. 6 – Agosto de 2013 – Edição Especial © by PPGH-UNISINOS Página46 O material didático também pode ser construído através da análise de determinadas linguagens, como campanhas publicitárias, atos comemorativos, documentários, fotografias, entre outros. O aluno pode ser estimulado a identificar a sua identidade dentro do contexto da história da cidade e/ou do bairro através da prática da fotografia, na construção de uma exposição. Assim, revela seu olhar sobre o tema abordado. Na análise de uma determinada campanha publicitária o discente pode filtrar elementos de construção de identidade histórica; por exemplo, o que pode ser identificado sobre a cultura nacional em um comercial sobre a Copa do Mundo? Assim, a construção do material didático pode acontecer através da leitura que o professor propõe, construindo um novo recurso, por proporcionar um novo olhar para o aluno sobre sua realidade, sua história. Para proporcionar aos alunos o contato com diferentes objetos da cultura material, estimulando a curiosidade para que estes desenvolvam noções de cultura, patrimônio, patrimônio material, cultura material, entre outras, pode ser desenvolvida a atividade da “Caixa da cultura material”. Indicada para o Ensino Fundamental, esta atividade pode ser usada ao se trabalhar com o Patrimônio Histórico e cultura, podendo ser adaptada para o trabalho com outros eixos temáticos. A caixa da cultura material pode ser utilizada, como exemplo, em uma aula sobre imigração; neste caso devem ser coletados, para a mesma, objetos que provoquem a reflexão sobre a cultura social do imigrante. Para a realização da atividade, sugere-se colocar os alunos em círculo, onde cada um retirará da caixa um objeto e, com o auxilio de um questionário e das provocações do professor, refletirá sobre o mesmo, estabelecendo um diálogo entre o passado e o presente dos objetos, seus significados e ressignificações, bem como, promovendo uma reflexão sobre a identidade do aluno. Para confeccioná-la são necessários poucos materiais; apenas uma caixa de sapato, 0,5 metros de TNT preto, cola e tesoura, folhas coloridas ou jornal (opcional). Com, a ajuda de um canivete recorte um retângulo na tampa da caixa de sapato, colocando o TNT de modo que este tome a forma de um saco saindo do retângulo aberto. Cole a tampa na caixa com fita adesiva de modo que esta não abra. Forre a mesma com papel colorido ou jornal. Dentro da caixa coloque diferentes objetos que possa provocar os alunos para os conceitos que o professor quer trabalhar, como cacos de louça, canetas, fotos, alimentos, objetos pessoais, etc. Para estimular o trabalho em grupo dos alunos, assim como a percepção destes sobre a organização social dos grupos humanos no Paleolítico e Neolítico, pode ser realizada a
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História Vol. 2, nº. 6 – Agosto de 2013 – Edição Especial © by PPGH-UNISINOS Página47 atividade do “Baú da pedra lascada”. Indicada para o Ensino Fundamental, podendo ser adaptada para o Ensino Médio. Consiste na confecção de peças artesanais com o uso de argila imitando os artefatos produzidos pelos grupos humanos no período da Hominização e permite perceber a dinâmica da produção de artefatos pelas sociedades dos períodos analisados. Baú da pedra lascada – acervo do NAEH Esta atividade pode ser uma mobilização para chamar a atenção dos alunos durante a introdução do conteúdo. Ou pode ser feita como fechamento da unidade quando, com a ajuda do professor, podem ser levantadas diferentes questões sobre a cultura e a organização social dessas populações. Bem como, com a mesma, pode-se refletir sobre o trabalho do arqueólogo e do historiador ao interpretar as fontes históricas. Para a realização é necessário a utilização de materiais como argila, tinta, pinceis e jornais. Para recriar o ambiente de uma escavação arqueológica, a turma pode realizar uma oficina no pátio da escola ou visitar o laboratório de arqueologia de alguma instituição; “sair da sala de aula” é, também, um estímulo ao aprendizado. Para o ensino de história antiga, que sempre transmite a equivocada ideia de distância da realidade dos alunos, existe a possibilidade de realização de atividades que criem um elo entre a antiguidade e a experiência contemporânea dos discentes. Uma estratégia bastante simples e com excelente resultado é a elaboração de um jornal. Este deve abordar questões da história do Egito antigo, por exemplo, mas dentro da dinâmica de um jornal da atualidade, dividido em seções como classificados, religião, agricultura, obituário, noticias da casa real, esportes, etc.
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História Vol. 2, nº. 6 – Agosto de 2013 – Edição Especial © by PPGH-UNISINOS Página48 Jornal “O Papiro” – acervo do NAEH Quanto maior for o interesse despertado pela civilização estudada, maior será o aprendizado. A estratégia do Jornal promove a necessidade de conhecer com detalhes a trajetória da sociedade escolhida para o mesmo. No caso de um periódico sobre uma civilização da antiguidade, como “O Papiro”, que aparece na imagem acima e foi produzido sobre o Egito4 , torna-se imprescindível que o aluno consiga reconhecer o que é do mundo antigo, mas pode ter sentido em uma publicação contemporânea. Cada item precisa criar elos entre a antiguidade e a contemporaneidade, permitindo ao aluno se inserir no universo da sociedade egípcia antiga. A turma pode ser dividida em grupos e elaborar vários jornais ou cada grupo pode elaborar uma matéria ou caderno para um único periódico. O responsável por uma seção ou caderno do jornal deverá produzir notícias imaginando estar escrevendo na época estudada. Assim, o mesmo pode ser utilizado como um recurso paradidático, pois, uma vez concluídos os trabalhos, cada exemplar pode ser utilizado pela turma como uma referência para o estudo da civilização, apoiando o livro didático. Ou, se cada discente produziu uma parte ou seção, depois de reunidas todas as contribuições, podem ser feitas várias cópias do exemplar e igualmente ser utilizado como material escrito de apoio. 4 Agradece-se a Profa. Dra. Luiza Horn Iotti, da Universidade de Caxias do Sul, por ter cedido o jornal “O Papiro” (produzido nas práticas de Metodologia do Ensino da História) para o NAEH.
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História Vol. 2, nº. 6 – Agosto de 2013 – Edição Especial © by PPGH-UNISINOS Página49 Jornal “O Papiro” – acervo do NAEH Esta atividade estimula a criatividade e o senso crítico dos alunos, proporcionando a construção de conceitos históricos de mudanças e permanências sociais. É indicada para ser realizada para o Ensino Médio, mas pode ser também, pensada para o Ensino Fundamental. Através dela outras atividades podem ser pensadas, como o desenvolvimento de um livro de receitas do Egito antigo, com a cerveja caseira, as frutas secas, alimentos em conserva, pães e outros alimentos consumidos por esta sociedade e pela contemporaneidade; sempre estabelecendo as permanências, continuidades e transformações na cultura alimentar. Inclusive, pode ser feita a degustação de alguns produtos, como as frutas secas. Nesta, devem ser destacados os tipos de “louças” utilizadas em uma refeição e a relação entre o consumo de alimentos e as divindades.
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História Vol. 2, nº. 6 – Agosto de 2013 – Edição Especial © by PPGH-UNISINOS Página50 Jornal “O Papiro” – acervo do NAEH Das páginas do jornal muitas outras práticas podem surgir. As superstições e amuletos, com a pergunta: do que você tem medo? Relacionando o imaginário da civilização com a experiência atual, indicada para o Ensino Fundamental. E, uma oficina de cosméticos e perfumaria, na qual deve ser pensada e aplicada as técnicas de maquiagem; promovendo um estudo de gênero, já que eram os homens que utilizavam a maior quantidade de recursos para maquiar o rosto. E, também, os perfumes, estudando as essências e os difusores pessoais. O desenvolvimento dessa estratégia de fabricar um jornal promove a pesquisa sobre a temática do Egito, já que as matérias do mesmo precisam estar ligadas ao cotidiano desta civilização e estimula o hábito da leitura de jornais atuais, pois os alunos precisam conhecer a estrutura dos mesmos e os estilos de escrita das seções abordadas. Pensando na interdisciplinaridade, esta prática promove um desenvolvimento das atividades de leitura, criando vínculos com as informações atuais, pois é necessário conhecer os modelos de imprensa escrita. O periódico pode ser feito em papel ou digitado; bem como, pode se apropriar de linguagens da cultura digital. Considerações finais
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Revista Latino-Americana de
História Vol. 2, nº. 6 – Agosto de 2013 – Edição Especial © by PPGH-UNISINOS Página51 A produção de material didático é uma atividade que promove a integração entre o professor, os alunos e o conteúdo trabalho. Sua função deve ser integradora, utilizada como mecanismo de construção do conhecimento e não como ilustração de temas trabalhados. Quanto maior for a integração do aluno com os recursos de produção do conhecimento mais ampla será sua aprendizagem. Um dos ganhos da prática de produção do material didático é retirar o professor do papel de transmissor e possibilitar que, junto ao aluno, ele seja um produtor de conhecimento histórico. As experiências das práticas pedagógicas favorecem a construção de sentidos históricos nos futuros educadores, bem como em seus alunos, quando estes utilizam as atividades sugeridas pela construção de material didático. Entretanto, é preciso ter consciência de que cada atividade deve ser adaptada conforme a turma e a faixa etária dos alunos, para que o material didático produzido colabore como suporte na formação crítica dos mesmos. A partir das experiências construídas pelos estudantes, nas oficinas oferecidas pelo Núcleo de Apoio ao Ensino de História – NAEH, é possível perceber a forma como os futuros educadores relacionam a teoria discutida nas aulas no ensino superior com a prática reflexiva que cada oficina propõe, possibilitando o aprimoramento profissional e a noção de como se desenvolve o trabalho no ambiente escolar. Mais que sugestões de estratégias e abordagens temáticas a confecção de materiais didáticos ajuda o próprio educar a perceber a importância do ato de criar, ou seja, perceber como o processo criativo e cognitivo que envolve a elaboração e confecção do material didático é também um processo de aprendizado, no qual desenvolvemos habilidades para a compreensão de situações históricas. Referências bibliográficas BROIDA, Marian. Egito e Masopotâmia para crianças. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. EDELMANN, Anja. Mein erstes Mal - und zählbuch. Berlin: Scala, 2011. MORLEY, Jacqueline. Como seria sua vida no Antigo Egito? São Paulo: Scipione, 1996. SANTOS, Márcia Maria Capellano dos; PEREIRA, Siloé; AZEVEDO, Tânia Maris (Orgs.). Projeto Pedagógico UCS Licenciatura (Formação Comum). Caxias do Sul: EDUCS, 2004, p. 21. STAATLICHE MUSEEN ZU BERLIN. Berlin: Prestel Verlag, 2009. Recebido em Julho de 2013 Aprovado em Agosto de 2013
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