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OPINIÃO
03
PÁG.
Bulworth
Há uns anos, Warren Beatty realizou e protago-
nizou um filme que narra a sátira política de um
candidato à Presidência que, sentindo que nada
tem a perder, avança para a campanha dizendo
aquilo que realmente pensa, um manancial de
perspectivas politicamente incorrectas que – ma-
gia de Hollywood – o elevam a favorito do elei-
torado. Esta ideia de que um político é movido
pela “realidade” a falar verdade parece, hoje,
uma impossibilidade mate-
rial, mas não deixa de ser
uma necessidade, sobretudo,
porque uma parte importan-
te da depressão por que passa
a vida do cidadão comum, e o
diálogo político entre eleito-
res e eleitos, se deve a uma
ruptura profunda e genera-
lizada das condições de en-
tendimento entre as partes.
O facto de termos transitado
de uma ditadura para uma
democracia num breve pe-
ríodo de tempo, obra de um
golpe de Estado pacífico, e a
ulterior capacidade de rever-
ter os militares golpistas aos
quartéis e os extremismos às
filas de um parlamento livremente eleito, deram
aos políticos e seus partidos um espaço de influ-
ência na sociedade demasiado grande, alçando
pessoas bastante comuns não só a um Olimpo da
vida pública, mas, fragilidade das democracias
jovens e pouco reguladas, dando-lhes oportu-
nidades de gerir a sua vida numa estratosfera
impossível de alcançar pelo povo que os elegeu.
Também lhes propiciou um conjunto razoável de
oportunidades de abuso que o povo aceitou sere-
namente como o preço a pagar pela liberdade e,
sobretudo, pela Segurança Social, ignorando ou
fechando os olhos ao compadrio, à exploração
dos buracos legislativos, àquilo em que se tor-
naram os partidos políticos e, mais geralmente,
a política. Daí à governação à vista e à prepon-
derância das agências de imagem foi um passo,
muito curto e ágil, e o demais é História.
Entretanto, o país subsiste com revoltinhas en-
vergonhadas de assobios a governantes que que-
rem fazer conferências (para quê, pergunta-se
uma pessoa, sem compreender por que motivo
largam os dossiers para dizerem banalidades em
público e para falarem de assuntos que, tantas
vezes, desconhecem ou, conhecendo, não sabem
tornar transparentes) enquanto o investimento
das últimas décadas é delapidado sem esforço.
As crianças das escolas veem a fome eliminada e
o corpo vestido de limpo por actos de magia do-
cente, enquanto os médicos fecham os olhos aos
pais que pedem para deixar as crianças curadas
mais uns dias no hospital. Os
doentes são enviados para
casa com amostras das far-
macêuticas e os maus tratos,
sobre novos e velhos, vão em
crescendo. Miúdas adolescen-
tes saem da escola para se
prostituir e a promiscuidade
a que as famílias empobreci-
das foram obrigadas propicia
e cobre todas as formas de
violência. E o país oferece,
vergado, a preço de saldo,
ondas de jovens preparados,
que saltam a fronteira para
enriquecer os países que nos
exploram, estratégia política
muito bem sucedida, pois já
se afinam baterias para lhes
vir a fornecer, a custo zero, os operários quali-
ficados que aqui se prepararão sem terem onde
trabalhar.
Contas feitas à História e à natureza humana,
não vislumbro, nem chego a desejar, a assis-
tência de políticos fabulosos, ética e tecnica-
mente superiores, pois também gostaria, radi-
calmente, de evitar os riscos, demagógicos e
populistas, dos salvadores da pátria. Espero,
sim, que se restabeleça alguma decência: da
parte da esquerda, menos vazia voracidade
pelo poder; e algum pudor também não lhes
ficava mal. Por parte do governo, menos desse
vociferar indignado, que soa frágil e mal quan-
do já não se está nas “jotas”, e mais capacida-
de para dizer “não tenho dinheiro, não posso,
não sei, não sou capaz”. Já todos sabemos que
é a dívida que nos governa pelas mãos dos agio-
tas que no-la financiam. Mas, lá por isso, não é
preciso andar a pisar as feridas do Povo com as
botas cardadas da indiferença. E até pode ser
que esta nova honestidade dê votos.
Espero, sim, que se
restabeleça alguma
decência: da parte da
esquerda, menos vazia
voracidade pelo poder; e
algum pudor também não
lhes ficava mal. Por parte
do governo, menos desse
vociferar indignado, que soa
frágil e mal quando já não
se está nas “jotas”, e mais
capacidade para dizer “não
tenho dinheiro, não posso,
não sei, não sou capaz”
Cristina Sá Carvalho
Psicóloga
r/com renascença comunicação multimédia, 2013

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Bulworth

  • 1. OPINIÃO 03 PÁG. Bulworth Há uns anos, Warren Beatty realizou e protago- nizou um filme que narra a sátira política de um candidato à Presidência que, sentindo que nada tem a perder, avança para a campanha dizendo aquilo que realmente pensa, um manancial de perspectivas politicamente incorrectas que – ma- gia de Hollywood – o elevam a favorito do elei- torado. Esta ideia de que um político é movido pela “realidade” a falar verdade parece, hoje, uma impossibilidade mate- rial, mas não deixa de ser uma necessidade, sobretudo, porque uma parte importan- te da depressão por que passa a vida do cidadão comum, e o diálogo político entre eleito- res e eleitos, se deve a uma ruptura profunda e genera- lizada das condições de en- tendimento entre as partes. O facto de termos transitado de uma ditadura para uma democracia num breve pe- ríodo de tempo, obra de um golpe de Estado pacífico, e a ulterior capacidade de rever- ter os militares golpistas aos quartéis e os extremismos às filas de um parlamento livremente eleito, deram aos políticos e seus partidos um espaço de influ- ência na sociedade demasiado grande, alçando pessoas bastante comuns não só a um Olimpo da vida pública, mas, fragilidade das democracias jovens e pouco reguladas, dando-lhes oportu- nidades de gerir a sua vida numa estratosfera impossível de alcançar pelo povo que os elegeu. Também lhes propiciou um conjunto razoável de oportunidades de abuso que o povo aceitou sere- namente como o preço a pagar pela liberdade e, sobretudo, pela Segurança Social, ignorando ou fechando os olhos ao compadrio, à exploração dos buracos legislativos, àquilo em que se tor- naram os partidos políticos e, mais geralmente, a política. Daí à governação à vista e à prepon- derância das agências de imagem foi um passo, muito curto e ágil, e o demais é História. Entretanto, o país subsiste com revoltinhas en- vergonhadas de assobios a governantes que que- rem fazer conferências (para quê, pergunta-se uma pessoa, sem compreender por que motivo largam os dossiers para dizerem banalidades em público e para falarem de assuntos que, tantas vezes, desconhecem ou, conhecendo, não sabem tornar transparentes) enquanto o investimento das últimas décadas é delapidado sem esforço. As crianças das escolas veem a fome eliminada e o corpo vestido de limpo por actos de magia do- cente, enquanto os médicos fecham os olhos aos pais que pedem para deixar as crianças curadas mais uns dias no hospital. Os doentes são enviados para casa com amostras das far- macêuticas e os maus tratos, sobre novos e velhos, vão em crescendo. Miúdas adolescen- tes saem da escola para se prostituir e a promiscuidade a que as famílias empobreci- das foram obrigadas propicia e cobre todas as formas de violência. E o país oferece, vergado, a preço de saldo, ondas de jovens preparados, que saltam a fronteira para enriquecer os países que nos exploram, estratégia política muito bem sucedida, pois já se afinam baterias para lhes vir a fornecer, a custo zero, os operários quali- ficados que aqui se prepararão sem terem onde trabalhar. Contas feitas à História e à natureza humana, não vislumbro, nem chego a desejar, a assis- tência de políticos fabulosos, ética e tecnica- mente superiores, pois também gostaria, radi- calmente, de evitar os riscos, demagógicos e populistas, dos salvadores da pátria. Espero, sim, que se restabeleça alguma decência: da parte da esquerda, menos vazia voracidade pelo poder; e algum pudor também não lhes ficava mal. Por parte do governo, menos desse vociferar indignado, que soa frágil e mal quan- do já não se está nas “jotas”, e mais capacida- de para dizer “não tenho dinheiro, não posso, não sei, não sou capaz”. Já todos sabemos que é a dívida que nos governa pelas mãos dos agio- tas que no-la financiam. Mas, lá por isso, não é preciso andar a pisar as feridas do Povo com as botas cardadas da indiferença. E até pode ser que esta nova honestidade dê votos. Espero, sim, que se restabeleça alguma decência: da parte da esquerda, menos vazia voracidade pelo poder; e algum pudor também não lhes ficava mal. Por parte do governo, menos desse vociferar indignado, que soa frágil e mal quando já não se está nas “jotas”, e mais capacidade para dizer “não tenho dinheiro, não posso, não sei, não sou capaz” Cristina Sá Carvalho Psicóloga r/com renascença comunicação multimédia, 2013