"Somos, esta semana, aos olhos do mundo, um país binário.
Se tudo correr conforme o planejado, neste final de semana a Câmara dos Deputados protagonizará o primeiro plebiscito indireto da História.
Quando os jardins estiverem lotados de brasileiros, divididos em dois grupos, teremos chegado ao mais baixo de nível de nossa intransigência."
O muro da vergonha: como o Congresso dividiu o Brasil em dois
1. "Poucas coisas na História do Brasil recente são mais vergonhosas do que o muro levantado
diante do Congresso Nacional para dividir os brasileiros.
Com 27 partidos com representatividade na Câmara, com milhões de tons de pele, com
imigrantes de milhares de nacionalidades, com gente que gosta de todos os ritmos e ritos,
gente de todos os credos e crenças, de todas os times e escolas de samba, de todas as
idades, de todas as comidas, de todas as artes, de todas as profissões, seremos oficialmente
reduzidos a apenas dois grupos. Os brasileiros do sim e os brasileiros do não.
Somos, esta semana, aos olhos do mundo, um país binário.
Se tudo correr conforme o planejado, neste final de semana a Câmara dos Deputados
protagonizará o primeiro plebiscito indireto da História.
Quando os jardins estiverem lotados de brasileiros, divididos em dois grupos, teremos chegado
ao mais baixo de nível de nossa intransigência.
Com o muro, fica institucionalizado que só existe uma verdade: a nossa aqui desse lado.
Só que ao entrar pelo Congresso, seria cômico se não fosse trágico, o maniqueísmo do lado de
fora dá lugar a uma plêiade de interesses e opininões.
Lá dentro não é mais o sim e o não que interessam. Lá dentro da Câmara o que interessa é o
que cada deputado vai levar com seu voto.
Para eles, que se dane o apartheid que esta classe política medíocre conseguiu impor ao país
com régias doses de incompetência e corrupção.
Para eles, que se dane se nos dividiram em dois Brasis.
Para eles o que interessa mesmo é o vil metal. Os conchavos. As vantaginhas. As benesses.
Os cargos.
Porque, não se engane. A culpa não é nem de Lula, nem de Aécio. Nem de Dilma, nem de
Alckmin. A culpa não é de apenas um. A culpa é de todos, FHC incluído.
A culpa não é sua nem minha. Você votou em quem pode votar. O sistema já estava podre
muito antes de você tirar o título de eleitor.
A culpa por esse crash histórico é de uma classe política podre, que se compra e se vende
descaradamente.
E não me venha dizer que sempre foi assim, desde 1500.
Bobagem.
No fim do Governo Militar poderíamos ter zerado o "sistema".
Ou na Diretas Já.
Ou na Constituinte.
2. Ou no Collor.
Mas nunca tomaram vergonha.
Depois de décadas dessa gente porca, inútil, escondida em Brasília roubando o futuro de
nossos filhos, finalmente nós chegamos ao sim e ao não. Ao nós e aos eles.
Como se qualquer uma dessas mudanças, impeachment, renúncia, nova eleição, fosse fazer
qualquer diferença.
Aqui fora, os sins vão odiar os nãos, e vice versa. Temo que esse muro não vá nem aguentar
tanta ira.
Só não percebem, os sins e os não, que o inimigo não mora ao lado. Está lá na frente. O certo
não será pular o muro. O certo seria invadir o Congresso e cobrar daquele chiqueiro o que
fizeram com o nosso país."
NETO, Mentor Muniz.