Vamos falar sobre o tema "Sócios do Desastre a Caminho | Paulo Dalla Nora Macedo
1. Paulo Dalla Nora Macedo
S Ó C I O S D O
D E S A S T R E A
C A M I N H O
2. Imediatamente após a
insurreição em 06 de janeiro,
nos EUA, vimos uma
enxurrada de análises que
ligavam a invasão do Capitólio
ao discurso que o presidente
Trump fez naquele mesmo dia
em comício chamado de “Save
America”.
3. Uma evidência de maior
responsabilidade é que
dezenas de congressistas
republicanos votaram contra a
certificação da eleição,
consoante com os desejos da
turba que ocupava o Capitólio
naquele momento, mesmo
após saberem da invasão do
prédio onde estavam. O Partido
Republicano chegou a declarar,
oficialmente, que o evento foi
um “discurso político legítimo”.
Passado mais de um ano,
essa visão estreita foi
substituída pela realidade
de que o ataque ao Capitólio
foi desencadeado por
eventos muito anteriores ao
comício do dia e mais
ainda:de que existiu um
planejamento detalhado
para subverter o resultado
das urnas. Além disso, a
hipótese real de que a
responsabilidade recai sobre
muito mais pessoas do que
apenas meramente em
Trump: por conivência ou
leniência.
Prevendo que um
movimento mais amplo de
busca de
responsabilidades
ocorreria, empresas de
tecnologia e mídia social
bloquearam as contas do
presidente, bem como
muitas das vozes
amplificadoras, em um
aplicativo que estava se
tornando um refúgio para
extremistas.
4. Empresas como Marriott, Airbnb e
Dow Chemical anunciaram que
suspenderiam as doações aos
membros do Congresso que
votaram contra a certificação
eleitoral americana. Citibank,
Goldman Sachs e JPMorgan, entre
outras instituições financeiras,
anunciaram que estavam
suspendendo todas as doações
enquanto “reavaliavam as políticas
internas de financiamento”. Todas
essas ações mostram uma
preocupação legítima e bem-vinda;
no entanto, essas medidas não
devem apagar o debate sobre
comportamentos passados.
5. Um dos maiores
doadores de
movimentos políticos
nos Estados Unidos, o
bilionário Charles
Koch, reabriu a
discussão sobre
responsabilidade por
condutas passadas.
Com seu irmão David,
que morreu em 2019,
ele ajudou a
impulsionar o
movimento Tea Party e
a ala de extrema-
direita do Partido
Republicano nos
Estados Unidos.
6. Ele fez um mea-culpa sobre sua própria conduta em seu livro mais recente, “Believe
in People”. Koch analisou que o sectarismo leva os partidos a extremos a partir de
políticas destrutivas. Ele perguntou: “A América pode sobreviver como um país se
nossos cidadãos se desprezam?”. E ele mesmo respondeu: “Rapaz, nós erramos
feio!”.
7. Aqui, no Brasil, todas as evidências
apontam que teremos algum
movimento de reação dos extremistas
locais, os bolsonaristas, a uma
eventual derrota nas eleições. Mesmo
sem um golpe se concretizar, é
provável que vejamos conturbações
graves que vão deixar sequelas
profundas: o roteiro é bem previsível e
bem mais preocupante do que o
desenhado nos EUA, onde as Forças
Armadas mantiveram uma distância
exemplar da questão. No nosso caso
elas estão fazendo um lamentável
papel de procuradores do Presidente
com as críticas ao sistema eleitoral.