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L O G I A
maisfontesdenotícias,
ucodiálogoentreospolos
brunO marOn| cartum
Nossos debates se
complicam não só
porque não chegamos
a um acordo, mas
porque, para começar,
não conseguimos nos
entender sobre o que
merece ser discutido
Domingo, 24 DE SEtEmbro DE 2017 ★ ★ ★ ilustríssima 7ab
taformas legitimam o discurso on-
line, precisamos ter em mente a
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Nossaformaçãocívicapassape-
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identidade, uma maneira de pro-
clamar a afinidade daqueles que
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portagens (“factchecking”), o blo-
queio de notícias falsas ou o estí-
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údojornalísticomaisdiversificado
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vavelmentefalharãoemimpediro
avançodenotíciaspartidarizadas.
Nãosóelassãomaisagradáveis
(para mim, é um bálsamo assistir
a Trevor Noah, do “Daily Show”,
ouaSamanthaBee,do“FullFron-
tal”, e imagino que meus amigos
de direita sintam a mesma coisa
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Fox News) como sua difusão ofe-
recerecompensassociaisecriaum
senso de eficácia compartilhada
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do) de que você está promovendo
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ambiente de informação.
TrumP e BreITBArT A pes-
quisa que Benkler e nossa equipe
MediaCloudconduziramdemons-
tra a rapidez com que esses ecos-
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Examinando 1,25 milhão de re-
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lary Clinton [democrata] do que
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Nossa pesquisa delineou um
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ligadoseseguidosapenaspeladi-
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da durante o governo de [Barack]
Obama [2009-17). Essa comuni-
dade de interesses tem baixa so-
breposição com fontes conserva-
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Street Journal” e a revista “Nati-
onal Review”.
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blicaçõescomoessasúltimastêm
baixa influência na internet e que
seu conteúdo é compartilhado
tanto por usuários de direitista
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enquanto o aglomerado de veí-
culos capitaneado pelo Breitbart
funciona como câmara de eco.
O surgimento de câmaras de
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Breitbart complica ainda mais a
verificação factual. A professora
e pesquisadora Danah Boyd ex-
plicaque,aoensinaraalunosque
nãoconfiemnaWikipédia,nósos
encorajamos a triangular seu ca-
minho rumo à verdade com base
emresultadosdebuscanoGoogle.
Nocasodetemasquesãoosten-
sivamentecobertospeloBreitbart
eporsitesassemelhados(masnão
pela mídia mais ampla), isso gera
umefeitoperverso.[Nocomeçodo
caso,]buscarinformaçõessobreo
Pizzagate provavelmente resulta-
ria em links para outros sites de
extrema direita que estavam tra-
tando da história [em 2016, circu-
lou o boato de que uma pizzaria
servia de fachada para esconder
uma rede de prostituição infantil
liderada por Hillary Clinton].
Quando veículos como o “New
York Times” enfim começaram a
cobriroassuntoeamostrarqueas
informações eram falsas, muitas
pessoasinteressadasnoescânda-
loestavamconvencidasdequeele
eraverdadeiro,graçasàrepetição
daversãoporumconjuntodesites
relacionados entre si.
A situação chegou a tal pon-
to que um sujeito instável deci-
diu sair armado para “investigar
sozinho” a controvérsia [em de-
zembro, foram disparados tiros
de fuzil AR-15 contra a pizzaria].
DIÁLoGo ImPossÍVeL As
esferas definidas por Daniel Hal-
lin (a do consenso, a do desvio
e a da controvérsia legítima) su-
gerem que questionemos se nos
sentimos estimulados a discutir
gama suficientemente ampla de
assuntos no campo da controvér-
sia legítima. Nosso problema atu-
al é que o diálogo é difícil, se não
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lado vê como esfera de consenso
representa para o outro a esfera
do desvio, e vice-versa.
Nossos debates se complicam
não só porque não conseguimos
chegaraacordosobreumconjun-
to de fatos compartilhados, mas
porque,paracomeçar,nãoconse-
guimos nos entender sobre o que
merece ser discutido.
Nãotenhopanaceiasaoferecer
para a polarização e para as câ-
maras de eco. Ainda assim, vale
a pena identificar tais fenômenos
—ereconheceraprofundidadede
suasraízes—enquantobuscamos
soluções para esses problemas.
Vale notar que a pesquisa que
a equipe dirigida por Benkler e eu
conduziusugereumfenômenode
polarizaçãoassimétrica—emnos-
sa análise, as pessoas de extrema
direitaestãomaisisoladas,emter-
mos de ponto de vista, do que as
pessoas de extrema esquerda.
Nada no estudo sugere que a
direita seja inerentemente mais
propensaaisolamentoideológico.
Aocompreenderdequemaneiraa
polarização extrema se desenvol-
veurecentemente,podeserpossí-
velimpedirqueaesquerdadesen-
volva câmara de eco semelhante.
A pesquisa também sugere que
acentro-direitatemumpapelpro-
dutivo a desempenhar na criação
de alternativas de mídia que ape-
lem à direita rebelde e alienada,
o que manteria esses importantes
pontos de vista em comunicação
comascomunidadesexistentesda
esquerda, centro e direita.
Acredito que a polarização do
diálogo na mídia resulte de novas
tecnologias,damaneirapelaqual
o civismo é praticado hoje e das
mudanças profundas nos indica-
doresdeconfiançaeminstituições
[muitaspesquisasdemonstraram,
nas últimas décadas, um decrés-
cimo constante da confiança em
todotipodeinstituição—governo,
Congresso, religião, mídia, ban-
cos, escolas públicas e assim por
diante, um fenômeno que afeta
não só os EUA mas diversos paí-
sesocidentais,incluindooBrasil].
Abreitbartosferaépossívelnão
só porque se tornou mais fácil do
que nunca criar um veículo de
mídia e compartilhar pontos de
vista com pessoas que pensam
parecido,masporqueaconfiança
baixa no governo leva as pessoas
a buscar novas modalidades de
engajamento efetivo —e, mais es-
pecificamente, a baixa confiança
na mídia as leva a buscar fontes
diferentes de informação.
Criar e disseminar veículos e
conteúdodemídiapareceseruma
das maneiras mais efetivas de en-
gajamento cívico em um mundo
em que a confiança desapareceu,
e as eleições de 2016 sugerem que
essa mídia cívica é uma força po-
derosaqueestamosapenascome-
çando a compreender.
recidocomoqueencontramhoje.
A mídia de interesse geral, co-
mo as redes de televisão aberta
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tradicionalmente se vê como res-
ponsável por oferecer equilíbrio
ideológico, perspectiva mundial
e diversidade de cobertura.
(Se tem sucesso nesses esforços
é outra questão —já ouvi muitas
pessoas não brancas dizerem que
se sentiam invisíveis nos “bons e
velhosdias”equeamídiacontem-
porânea, mais fragmentada, lhes
confere visibilidade maior.)
Àmedidaqueomodelodenegó-
cio da mídia de interesse geral se
tornamenosviável,poisosleitores
gravitamemtornodematerialcom
queseidentificamideologicamen-
te, vale perguntar se plataformas
comooFacebookterãoapetitepara
realizar esse tipo de trabalho.
Atéomomento,arespostapare-
cesernegativa.OFacebooktemse
esquivadodeserclassificadocomo
provedordeconteúdo,tentandoa
um só tempo evitar responsabili-
dadelegalpeloconteúdoqueseus
usuários veiculam (sob cláusulas
deproteçãoquefazempartedalei
de internet dos Estados Unidos) e
driblar críticas pelo exercício de
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Facebook são graves. Os pedidos
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maioriadoconteúdorotuladodes-
seformanãoéincontestavelmente
fraudulento.SeoFacebookcome-
çar a bloquear sites como o Breit-
bart, será acusado de censurar
conteúdo político —e com razão.
Umasaídaseriaeliminaracura-
doriadeseufeeddenotíciasporal-
goritmoserecuaraummundose-
melhante ao do Twitter, no qual a
mídiasocialéumjatodeinforma-
çõesprovenientesdequalquerum
aquemousuáriodediqueatenção.
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uma solução como a que propo-
mosnoGobo,queentregaaousu-
ário o controle dos filtros. Não se
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Como afirma a pesquisadora Judith Donath, “notícias não são compartilhadasapenasparainfor- mar ou para convencer. Também sãousadascomoummarcadorde identidade, uma maneira de pro- clamar a afinidade daqueles que as divulgam com uma determina- da comunidade”. O raciocínio de Donath explica porque a verificação factual de re- portagens (“factchecking”), o blo- queio de notícias falsas ou o estí- muloaquepessoasapoiemconte- údojornalísticomaisdiversificado e baseado em fatos concretos pro- vavelmentefalharãoemimpediro avançodenotíciaspartidarizadas. Nãosóelassãomaisagradáveis (para mim, é um bálsamo assistir a Trevor Noah, do “Daily Show”, ouaSamanthaBee,do“FullFron- tal”, e imagino que meus amigos de direita sintam a mesma coisa em relação aos comentaristas da Fox News) como sua difusão ofe- recerecompensassociaisecriaum senso de eficácia compartilhada —o sentimento (real ou imagina- do) de que você está promovendo mudança social ao configurar o ambiente de informação. 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DIÁLoGo ImPossÍVeL As esferas definidas por Daniel Hal- lin (a do consenso, a do desvio e a da controvérsia legítima) su- gerem que questionemos se nos sentimos estimulados a discutir gama suficientemente ampla de assuntos no campo da controvér- sia legítima. Nosso problema atu- al é que o diálogo é difícil, se não impossível,porqueaquiloqueum lado vê como esfera de consenso representa para o outro a esfera do desvio, e vice-versa. Nossos debates se complicam não só porque não conseguimos chegaraacordosobreumconjun- to de fatos compartilhados, mas porque,paracomeçar,nãoconse- guimos nos entender sobre o que merece ser discutido. Nãotenhopanaceiasaoferecer para a polarização e para as câ- maras de eco. Ainda assim, vale a pena identificar tais fenômenos —ereconheceraprofundidadede suasraízes—enquantobuscamos soluções para esses problemas. 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Acredito que a polarização do diálogo na mídia resulte de novas tecnologias,damaneirapelaqual o civismo é praticado hoje e das mudanças profundas nos indica- doresdeconfiançaeminstituições [muitaspesquisasdemonstraram, nas últimas décadas, um decrés- cimo constante da confiança em todotipodeinstituição—governo, Congresso, religião, mídia, ban- cos, escolas públicas e assim por diante, um fenômeno que afeta não só os EUA mas diversos paí- sesocidentais,incluindooBrasil]. Abreitbartosferaépossívelnão só porque se tornou mais fácil do que nunca criar um veículo de mídia e compartilhar pontos de vista com pessoas que pensam parecido,masporqueaconfiança baixa no governo leva as pessoas a buscar novas modalidades de engajamento efetivo —e, mais es- pecificamente, a baixa confiança na mídia as leva a buscar fontes diferentes de informação. Criar e disseminar veículos e conteúdodemídiapareceseruma das maneiras mais efetivas de en- gajamento cívico em um mundo em que a confiança desapareceu, e as eleições de 2016 sugerem que essa mídia cívica é uma força po- derosaqueestamosapenascome- çando a compreender. recidocomoqueencontramhoje. A mídia de interesse geral, co- mo as redes de televisão aberta e os jornais de alcance nacional, tradicionalmente se vê como res- ponsável por oferecer equilíbrio ideológico, perspectiva mundial e diversidade de cobertura. (Se tem sucesso nesses esforços é outra questão —já ouvi muitas pessoas não brancas dizerem que se sentiam invisíveis nos “bons e velhosdias”equeamídiacontem- porânea, mais fragmentada, lhes confere visibilidade maior.) Àmedidaqueomodelodenegó- cio da mídia de interesse geral se tornamenosviável,poisosleitores gravitamemtornodematerialcom queseidentificamideologicamen- te, vale perguntar se plataformas comooFacebookterãoapetitepara realizar esse tipo de trabalho. Atéomomento,arespostapare- cesernegativa.OFacebooktemse esquivadodeserclassificadocomo provedordeconteúdo,tentandoa um só tempo evitar responsabili- dadelegalpeloconteúdoqueseus usuários veiculam (sob cláusulas deproteçãoquefazempartedalei de internet dos Estados Unidos) e driblar críticas pelo exercício de mau julgamento editorial. Osproblemasenfrentadospelo Facebook são graves. Os pedidos para que bloqueie notícias falsas representam um desafio, já que a maioriadoconteúdorotuladodes- seformanãoéincontestavelmente fraudulento.SeoFacebookcome- çar a bloquear sites como o Breit- bart, será acusado de censurar conteúdo político —e com razão. Umasaídaseriaeliminaracura- doriadeseufeeddenotíciasporal- goritmoserecuaraummundose- melhante ao do Twitter, no qual a mídiasocialéumjatodeinforma- çõesprovenientesdequalquerum aquemousuáriodediqueatenção. Outrapossibilidadeseriaadotar uma solução como a que propo- mosnoGobo,queentregaaousu- ário o controle dos filtros. Não se sabe, porém, se o Facebook esco- lherá um caminho que daria mais controle às pessoas. IDeNTIDADe De GruPo Ao considerar de que maneira as pla- noseugalho