Como a esquerda pode se reinventar e voltar a conquistar espaço político
1. EM BUSCA DE UMA NOVA ESQUERDA
Ontem (16.02.19) participei do fórum de um
partido político, na cidade de Feira de Santana, com
a presença de lideranças de alguns partidos. Neste
evento, estava presente João Carlos Oliveira,
Secretário de Meio Ambiente da Bahia, que fez uma
brilhante explanação sobre o momento político
passado e o atual. Entre as suas falas, ele citou que
política é estratégia; e, portanto, tomando como
base as eleições de 2018, onde o então candidato
Jair Bolsonaro, representante da extrema direita, saiu vitorioso das urnas, se faz
necessário que a esquerda passe por um processo de profunda reflexão e adote
estratégias para voltar a ser destaque no cenário político nacional.
Sabe-se que o mundo inteiro vem passando por uma transformação, e a direita é
quem melhor se aproveita desse momento e assim tem conquistado o poder em
diversas partes do globo. Aconteceu nos Estados Unidos, na Colômbia, na Argentina,
no Brasil, e está a pequenos passos da direita assumir o poder na Venezuela.
Diante desse cenário, a pergunta que fica é a seguinte: Como a esquerda irá
se reinventar, sem perder seus principais valores e ideologias?
A maioria dos representantes da esquerda entende que a melhor opção é o
enfrentamento, com o que chamam de “seremos resistência”. Porém essa não parece
ser a alternativa mais adequada para o momento. Digo isso porque essa estratégia
poderá contribuir para o aprofundamento da crise na ala da esquerda.
Nos últimos anos - no Brasil – a esquerda esteve à frente do poder, tendo como
principal líder o ex-presidente Lula. Mas diante do resultado das eleições que alçou
Bolsonaro a presidência da república, podemos inferir que esse modelo de esquerda
está defasado e não reflete mais os anseios da maioria da população. Isso podemos
deduzir visto que se os menos favorecidos, mulheres, negros, gays, professores,
nordestinos, entre outros, estivessem se sentindo bem representados, o resultado das
eleições provavelmente seria outro.
2. Roque Ronald Junior / Graduado em Administração pela Faculdade de Tecnologia e Ciências
- FTC / MBA em Gestão de Projetos pela Universidade Salvador – UNIFACS / Pós-graduando
em Finanças e Controladoria na UNIFACS / roqueronald@live.com
Algumas ações adotadas por pessoas da esquerda tem provocado o
afastamento de quem é mais ao centro. Uma parte da população não suporta mais as
publicações “chatas” nas redes sociais, tanto por parte dos “mortadela” como dos
“coxinha”. Nesse contexto, a esquerda agiria de forma inteligente se reduzisse as
publicações no Facebook e Instagram sobre temas extremos, que por não ter sido
debatido de forma adequada, podem causar desconfiança nas pessoas que não fazem
parte da direita radical. Existem pessoas que bloqueiam publicações de amigos (outros
desfazem a amizade) que são muito apelativas sobre um determinado assunto. E se as
pessoas da esquerda continuarem a fazer esses tipos de publicações, haverá uma
diminuição no alcance das mensagens e elas irão continuar a circular apenas no meio
dos que já estão convencidos (geralmente os que já apóiam as causas).
Então, qual seria o ponto de equilíbrio? Creio que o diálogo, ampliar a
participação no processo democrático. Fazer exatamente o que criticamos por a direita
não está aberta a fazer, que é dialogar, debater e chegar a um acordo sobre os
principais problemas que devemos enfrentar nos próximos anos.
Outro ponto que devemos considerar é que o foco deve ser conquistar mais
pessoas para se juntar a nós nas lutas progressistas e socialistas. E isso só será
possível se o discurso for mais comedido, esclarecedor e o máximo possível alinhado
ao centro. Sem fazer do discurso um lugar comum, raso, como acontece nos palcos
eleitorais, com discursos inflamados que ultimamente não tem agradado aos eleitores.
João Carlos também falou nesse evento sobre os anseios da população por uma
nova política, e, segundo ele, era necessário trazer pessoas novas, que ainda não
tivesse ligação com a política. Se olharmos para os resultados das eleições 2018, é
notório que houve uma grande renovação no Congresso Nacional e em vários estados.
Foram eleitos governadores e deputados que se destacaram por se intitularem como
“não políticos”, e sim como gestores. Muitos deles vindos da iniciativa privada.
É fato que se não ocorrer uma grande transformação no modo de pensar e agir
da esquerda vai demorar até que ela conquiste novamente um papel de destaque. É
melhor recuar um passo para poder avançar dois, do que permanecer estático. Ou
seja, de nada adianta a esquerda procurar apenas enfrentamento e não conseguir se
eleger para postos chave na política, pois dessa forma ela não poderá colocar em
prática a defesa do bem comum, com idéias mais voltadas para o social.