SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 19
Baixar para ler offline
Parte I — Antecedentes 1850-1950




    Um século para uma implantação 1851-1950



          A justificativa para este capítulo pode ser encontrada no
    fato de que compreender a Geografia Ffsica é exatamentc co-
    mo compreender o meio ambiente: necessita-sc de alguma ava-
    liação sobre como c por que o estado atual se desenvolveu. Por
    volta de 1850 estabeleceram-se os começos da Geografia,
    incluindo-se a Geografia Ffsica. Essas origens expressaram-se na
    fundação de sociedades geográficas c na criação de cátedras nas
    universidades. Nos primórdios do sc*culo muitas sociedades cien-
    tfficas novas foram fundadas, c a primeira Sociedade Geográfi-
    ca a ser estabelecida foi a da França, inaugurada cm Paris, no

    ano de 1821, rapidamente seguida pela da Alemanha, cm Ber-
    lim, no ano de 1828, c pela Royal Geographical Socicty, cm Lon-
    dres, em 1830. Procurando consolidar e concentrar esforços cm
    uma disciplina crescente, as novas sociedades foram criadas a
    fim de propiciar vcfculos para publicações. Sir Clcmcrfts Mark*
     ham, que foi um dos presidentes da Royal Geographical Society,
     assinalava em 1880 que, embora a Royal Society cm teoria hou-
     vesse publicado trabalhos geográficos desde 1662, dos 5.336 tra-
     balhos publicados no período de 1662 a 1880 somente 77 po-
     diam ser chamados de geográficos. Cada sociedade formada ten-
     tava ter a sua característica própria: a Royal Geographical So-
     cicty cfetivamcntc esteve muito ligada com as explorações, mas
     sua revista também foi foro para muitos debates esclarecedores
     (Freeman, 1980). Por volta de 1866 havia 18 sociedades gco-
gráficas, e por volta de 1930 o número se havia elevado para
                                                                     cm 1945 1950, que propiciaram os fundamentos para avanços
137. As cátedras universitárias de Geografia também começa-
                                                                     maiores na segunda metade do século vinte.
ram a ser instaladas, c, na França em 1809,. havia urna em Pa-
ris, na Sorbonnc, c por volta de 1899 mais cinco já haviam sido
criadas em outras universidades francesas :(Harrison Church,         Influências extrínsecas
1951), bem como muitas das mais importantes universidades ger-
                                                                          Para se compreender devidamente o desenvolvimento da
mânicas tinham um professor de Geografia. No Reino Unido,
                                                                     Geografia Física, é necessário inseri-la no contexto;em que
o primeiro professor foi o capitão Alexander Maconochie, no
                                                                     essa matéria surgiu e cresceu. Esse contexto foi caracterizado
Univcrsity Collcge London, cm 1833-1836 (Ward, 1960), e pos-
                                                                     por influências extrínsecas de dois tipos: primeiro, as de or-
teriormente Halford Mackindcr foi designado para a Universi-
                                                                     dem geral que criaram o meio ambiente científico geral c,
dade de Oxford, em 1887, e Yule Oldham, para a de Cambrid-
                                                                     por isso, afetaram as atitudes e abordagens na Geografia Físi-
gê, em 1893. Nos Estados Unidos, Arnold Gúyot tornou-se o pri
                                                                     ca; segundo, as de conotação teórica e factual específicas que
meiro professor de Geografia, quando foi indicado, em 1854,
                                                                     se realizaram por meio das disciplinas conexas e, então, propi-
para a Universidade de Princcton, e, antes de 1900, 12 universi-
                                                                     ciaram a construção de blocos para pesquisa e investigação
dades americanas ofereciam cursos de Geografia, embora nem
                                                                     na Geografia Física.                             :''',,!•
todas propusessem a cadeira como curso permanente em seus                                                              j -,     '..-'•',
currículos, sendo a Geografia Física frequentemente ensinada
                                                                     Uniformitarismo
nos departamentos de Geologia (Tatham, 1951). À medida que
                                                                           Talvez a influência geral mais persistente sobre, a; Geogra-
essas cátedras iam sendo criadas, a presença da Geografia Físi-
                                                                     fia Física c especialmente sobre a Gcornorfologia, haja sido a
ca podia ser muito influente, e, na Alemanha, entre 1905 c 1914,
                                                                     gradual aceitação da Theory of tke Earth, publicada cm dois
a Fisiografia era eminente por causa da influência de Penck na
                                                                     volumes por James Hutton, cm 1795, e subsequentemente mais
prestigiosa cátedra na Universidade de Berlim (van Valkenburg,
                                                                     bem esclarecida por Playfair (1802) cm sua Illustraiions ofthe
 1951).
                                                                     Huttonian Theory of tke Earth. Essa teoria rejeitava as forças
      A expansão não ocorreu de modo uniforme no último sé-
                                                                     catastróficas como explicações para o meio ambiente e deu ori-
culo, a partir de 1850, mas esteve sujeita a diversos controles
                                                                     gem ao surgimento da escola do Uniformitarismo, na qual uma
que aceleraram ou retardaram o seu desenvolvimento nos dife-
                                                                     contínua uniformidade dos processos existentes era considera-
rentes pafscs. Os detalhes das tendências em desenvolvimento
                                                                     da a chave para a compreensão da história da Terra. A fase ne-
necessitam ser vistos cm relação à influência de indivíduos ou
                                                                     cessária para suplantar os catastrofistas c aqueles tais como o
grupo, c a fundação do Instituto de Geógrafos Britânicos, cm
                                                                      deão Buckland que acreditava que o mundo começou no ano
 1933, foi a resposta de um grupo de indivíduos a uma necessi-
                                                                     4004 a.C. fornece uma história fascinante, adequadamente tra-
dade então percebida (Wise, 1983). A vida, breve, ainda que
                                                                      tada por Choricy, Dunn e Bcckinsalc (1964). Eles também de-
de umjournal of Geomorphology (1938-1942) foi, de forma se-
                                                                      monstraram como Charles Lycll, que publicou um livro sobre
 melhante, o resultado de esforços de um grupo de entusiastas,
                                                                      os Principies of Geology, cm 1830, c veio a ser considerado o
 incluindo D. W. Johnson. A abordagem sumária do progresso
                                                                      pai do Uniformitarismo, também contribuiu para a aceitação
observado entre 1850 c 1950 está sendo proposta primeiro para         da doutrina huttoniana, embora Lycll posteriormente não subs-
 considerar as influências sobre a Geografia,-quer sejam extrín-
                                                                      crevesse todas as implicações dessa teoria.
secas ou intrínsecas, e depois para verificar a consolidação que
                                                                            O Uniformitarismo não somente substituiu as ideias catas-
 se observou de 1850 a 1945, e as atitudes e abordagens veiculadas    tróficas sobre a formação das paisagens, mas também díssc-
                                                                                                                          . : , - • '      i
                                34
                                                                                                     35
minou a ideia de que "o presente é a chave do passado". Embo-
 ra essa visão tenha sido muito satisfatória quanto ao fato de a      lhante à exercida por Davis no campo da GcomorfolOgia, pro-
 superfície terrestre atual propiciar os processos e os mecanismos    pondo a sucessão das plantas como "o processo universal de
 para se compreender o passado, não se deve pressupor que as          desenvolvimento das formações... a história da vida das
 taxas de operação dos processos contemporâneos sejam a chave         formações-clfmax" (Clements, 1916). A similaridade concei-
 para o passado. Indiscutivelmente, a noção de uniformitarismo        tuai entre a sucessão das formações vegetais e o ciclo de erosão
 chegou a exercer importante influência na'Geologia c também          foi exposta por Cowlcs (1911), que produziu uma "ecologia fl-
 na Geografia Física, rnas mais recentemente há várias sugestões      siográfica" amalgamando a gcomorfología davisiana c a ecolo-
 considerando que a doutrina foi tomada de forma exagerada.           gia clementsiana (Stoddart, 1966). Em segundo, a ideia de
 Então, Sherlock (1922) chegou a essa conclusão como resultado        organização emergiu quando as íntcr-rclaçõcs e conexões en-
 das suas considerações sobre a amplitude dos efeitos das ativi-      tre todos os seres vivos e seu meio ambiente encontraram rele-
 dades humanas, localizando o homem como agente geológico             vância particular junt aos pesquisadores europeus que esta-
 e também como agente biológico (ver capítulo 6),                     vam interessados no estudo das estruturas e funções das comu-
                                              í                       nidades e, eventualmente, na ideia do ecossistema, como ex-
 Evolução                                                             posta por Tinsley (1935). Essa influência foi particularmente
       Por volta do final da década de 1850 a atenção dos geólo-      notável para o estudo de regiões, e nas décadas iniciais do
 gos e dos geógrafos físicos potenciais estava ;longe de considerar   século vinte a ideia de unidade orgânica temporariamente ser-
  as implicações do uniformitarismo^ Estas surgiram devido a uma      viu como tema unificador. A terceira, de luta e.seleção, e
 outra influência, que transformou totalmente o conjunto da Geo-      a quarta ideia, de aleatoriedade e chance, não tiveram reflexo
 grafia Física, exercida pela obra de Charles Darwin, publicada       claro c imediato na Geografia Física, pois o darwinismo foi
 cm 1859, A origem das espécies. A noção de evolução subse-           interpretado em sentido mais determinfstico do que probabi-
 quentemente se difundiu da esfera biológica para a física, so-       lístico. A única contribuição da teoria de Darwin, a da varia-
 cial c mental, c no primeiro enunciado do .ciclo de erosão, em       ção aleatória, foi negligenciada nos círculos geográficos (Stod-
 1885, Davis denominou-o "ciclo da vida". Curiosamente, Harts-        dart, 1966) e realmente não aparece nos trabalhos ícitos por
 hornc (1939, 1959) não avaliou detalhadamentc o impacto da           geógrafos físicos senão por volta dos anos. O efeito da teoria
 teoria da evolução sobre a Geografia, a despeito do fato de a        da evolução foi impor à Geografia Física uma perspectiva his-
obra de Darwin ter sido provavelmente o livro mais influente          tórica, que veio a ser a influência predominante na Gcomorfo-
do século dczcnove, sendo um daqueles de; tremendo impacto            logia, nos estudo dos solos e na Biogcografía, c também en-
sobre o pensamento social c político c a Geografia. O impacto         contra paralelos no estudos de Climatologia por, pelo menos,
sobre a Geografia foi bem analisado por Stoddart (1966), que          cem anos. Talvez tenha sido a força combinada do uniformita-
distinguiu quatro componentes. Primeiro, foi a ideia da mudança       rismo e da evolução que encorajou algumas das mais obscuras
através do tempo, que teve reflexos nas atitudes evolutivas para      manifestações da abordagem histórica.
o estudo das formas de relevo, seguindo os estudos do próprio
Darwin de 1842 a respeito da evolução das ilhas de coral, e foi       Exploração e pesquisa
especialmente influente cm relação ao cicloidc erosão proposto             Uma terceira influência extrínseca geral ocorreu pelo fato
por Davis, Também na geografia das plantas c na ecologia hou-         de que o meio ambiente terrestre ainda estava sendo sujeito às
ve influência semelhante, tal como foi exercida por Clements,         explorações no século dezenove c até mesmo cm pleno século
um homem que obteve na ecologia das plantas posição scmc*             vinte. Os resultados das expedições e explorações geralmente se
                                                                      constituíram cm bases para novas informações, que puderam,
                               36
                                                                                                    37
então, ser incorporadas à Geografia Física. Ao fazer uma aná-
    lise dos cento c cinquenta anos iniciais da Royal Geographical             de pesquisas que forneceram dados básicos c documentação pa-
   Society, Freeman (1980) observou que os proeminentes propó-                 ra que se processasse a Geografia Física. No decorrei das pesqui-
   sitos primeiros da sociedade foram as explorações e a constru-              sas geológicas foram desenvolvidos numerosos conceitos impor-
   ção de mapas. É importante lembrar que as explorações não                   tantes, e os relatórios e memórias do Geological Survey ainda são
   somente forneceram dados a respeito de áreas até então desco-               testemunhas adequadas sobre a habilidade pcrceptiva dos anti-
   nhecidas, mas também outros, adicionais, sobre áreas conhe-                gos geólogos. Outros aspectos do meio ambiente físico só foram
   cidas c salientaram que a descrição do meio ambiente é tarefa              mapeados ou monitorados muito mais recentemente na Grã-
   dependente do tempo. Desse modo, foi possível reconstruir o                 Brctanha, e o levantamento nacional dos solos data de 1949, en-
   que se conhecia sobre o país dos Bourke, na Austrália, com                 quanto o levantamento da vegetação foi incorporado aos estudos
   n/veis diferentes de informações detalhadas, recuperando as                de uso do solo em 1930 e 1960, primeiro e segundo levantamen-
  fases de 1866 e 1956'(Hcathcote, 1965). As explorações foram                tos. Na Grã-Bretanha, a monitoração do meio ambiente inclui
  importantes fatorcs de estímulo ao progresso de setores parti-              registro permanente da altura das marés desde 1860 e registros de
  culares de estudo, e a análise das ilhas de coral foi iniciada              precipitação desde 1677, cm Burnley, c da descarga contínua do
  mais cedo por causa das viagens de Charles Darwin (1842)                    Tamisa desde 1883. Todavia, por volta de 1935-36 Havia somente
  c J. D. Dana (1853 e 1872).                                                 28 postos fluviométricos na Grã-Bretanha, quantidad^ue se ele-
        A teoria glaciaria veio a ganhar consistência por causa de            vou para 81 em 1945-53. Essa quantidade de postos cresceu abrup-
   viagens feitas a numerosas áreas, es ta b ele cê rido-se a ideia de que    tamente a partir de então, de modo que existiam aproximadamen-
   os glaciares, cm vez do diluvianismo ou açko dos icebergs, po-             te 1.200 cm 1975. No período de 1899-1935 cerca de metade da
   deriam explicar aspectos e depósitos das paisagens glaciadas.              área continental dos Estados Unidos já era coberta por mapas de
   L. Agassiz c De Charpcntier, conjuntamente, sedimentaram o                solos (Barnes, 1954), e por volta de 1950 o Wcathcr Burcau norte-
  caminho para a teoria glacial. Em geral, aá explorações propi-              americano tinha 10.000 estações regulares mensurando as preci-
  ciaram familiaridade com um novo ambiente, estimulando dessa               pitações. As medições sistemáticas e contínuas das vazões dos cursos
  maneira novas ideias c opiniões. Assim, o$ exploradores do oes-            de água começaram em 1900, e a rede básica de postos fluviomé-
  te americano, incluindo John Wcslcy Powell, Grovc K. Gílbert               tricos foi estabelecida no período de 1910 a 1940. P0rvottadel950 t
  c C. E. Dutton, foram notáveis c forneceram materiais c ideias             as observações regulares eram feitas cm cerca de 6.000 locais. Es-
  que posteriormente vieram a ser incorporadas na Geomorfolo-                se crescimento da monitoração ambiental salientou como é recente
 gia, sempre via o ciclo de erosão (Chorlcy, Dunn c Bcckinsalc,              a aquisição de dados sobre o meio ambiente físico, c pôr essa ra-
  1964). Também se pode afirmar que "desde o tempo de Lyell                  zão o advento de novas técnicas para a colcta c análisc'dos dados
 nenhum novo corpo de pensamento tinha alcançado um efeito                   (capítulo 10) propicia fases estimulantes para a Geografia Física.
 imediato sobre o pensamento gcomorfológico em geral.,, par-                 Assinala-se o desenvolvimento recente da monitoração ambien-
 ticularmente sensível nos Estados Unidos...!Muitos estudos de               tal , porque uma estação automática para a medição do tempo foi
paisagens começaram prontamente a admitir a força da erosão                  mostrada por Robert Hookc, cm 1679, na Royal Society, c os pri-
subaérca" (Chorlcy, Dunn e Bcckinsalc, 1964).                                meiros registros sobre a vazão dos rios incluem as medições feitas
       O desenvolvimento das instituições de pesquisa também co-             para o Rio Elba, em Magdcburgo, em 1727-1869 (Biswas. 1970).
laborou de modo significante como fonte dc^dados para a Geo-
grafia Física. Na Grã-Brccanha, a fundaçao;do Ovdnance Sur-                  Conservação do mzio ambiente
vcy, cm 1795, c do Geological Survcy, em 1801, foi marco inicial                 O interesse pela conservação do meio ambiente começou
                                                                             na metade do século dezcnove, mas teve pouca influencia na
                                  38
                                                                                                            39
Geografia Física até o século, tendo recebido pouca atenção por
  parte dos geógrafos. O início do movimento conservacionista ge-       amplitude na referida época, por causa da ausência de interes-
  ralmente atribuído a Gcorgc Perkins Marsh, em 1864, com o             se pelo estudo dos processos das paisagens. Uma série de publi-
  livro Man and Nature (Mumford, 1931). Esse livro foi planeja-         cações editadas pelo Departamento de Agricultura dos Estados
  do como um "pequeno volume mostrando que, enquanto ou-                Unidos também exerceu grande influência nas décadas prece-
  tros pensam que a Terra modela o homem, na verdade o ho*              dentes aos anos cinquenta, c essas fontes de informação factual
  mcm atua sobre a Terra", e também, nas palavras de Marsh,             incluem os livros Soils and Men (Bennett, 1938) e Climate and
                                                                        Men (Kincer et ai, 1941).
  para "sugerir a possibilidade e a importância da restauração das
  harmonias rompidas e maneiras de se melhorar as regiões des-
                                                                        Condições específicas
 gastadas c exauridas; e, incidentalmcnte, ilustrar a doutrina de
                                                                              Torna-se algo artificial separar as influências intrínsecas
 que o homem é, tanto em espécie como cm grau, a maior força
                                                                        das externas, particularmente no século dezenove, quando nem
 entre todas as formas de vida animada, que como ele são ali-
                                                                        sempre era claro especificar se um determinado cientista era
 mentadas na mesa farta da natureza". Esse livro, que inclui a
                                                                        por si mesmo um geógrafo físico ou não, A delimitação com
 Geografia. Física em seu subtítulo, demonstrou grande impacto
                                                                        outras disciplinas mostrava fronteiras frouxas porque não so-
 na maneira como o homem visualiza e usa a terra (Lowenthal,
                                                                        mente nos Estados Unidos muitos geógrafos físicos estavam vin-
 1965), mas, no capítulo 6, mostraremos que, muitos anos an-
                                                                        culados aos departamentos de Geologia, mas também na Ale-
 tes, a Geografia Física já realizava e utilizava plenamente a orien-
 tação proposta por Marsh.                                              manha von Richthofcn, que era seguidor de Humboldt e Rit-
                                                                        ter, possuía treinamento como geólogo, e Ratzel veio para a
       Nas décadas seguintes, as experiências sobre a sensibili-        Geografia após ter sido treinado inicialmente em Geologia,
  dade de alguns meios ambientes estimularam investigações, or-         Zoologia e Anatomia Comparativa. Nas universidades britâni-
 ganizações e publicações que por sua vez também propiciaram            cas, geólogos, como A. E. Truemaa (Swansea), O.;T. Jones
 informações sobre os efeitos do uso do meio ambiente. Assim,           (Cambridge), J. K. Charlesworth (Belfast) e - A. Wood
 alguns dos mau antigos detalhes sobre a geografia física da            (Aberystwyth), realizaram colaborações que influenciaram mui-
 China, que foram publicados no ocidente,; tendiam a focalizar          tos geógrafos físicos, particularmente os geomorfólogos.
 os problemas da erosão nas terras loéssicas na bacia média do          Acrescentem-se as contribuições advindas dos cientistas de or-
 Rio Amarelo, o que foi mencionado no livro Rape oftke Earth            ganizações, como o Gcological Survey, o Mctcorological Office
 (Jacks c Whytc, 1939), embora muitos dos exemplos citados              e o Soil Survcy, em.muitos países, suplementados por : um gran-
 nesse volume mostrassem casos do Mediterrâneo, Europa, Ame-            de grupo de interessados amadores, todas cias propiciando con-
ricas do Norte c do Sul, África, Austrália e Nova Zelândia.             dições específicas para o avanço da Geografia Física. A despei-
Uma série de outros livros foram subsequentemente publica-              to dos problemas de sclcção, torna-se necessário identificar
dos na década de 30 nos Estados Unidos,; como resultado da              algumas das condições específicas que durante esse período
experiência da erosão dos solos produzida pela importação de            foram adotadas pela Geografia Física.
métodos agrícolas do Velho Mundo em ambiente do Novo Mun-                     Nas ciências do solo vcrificaram-se importantes progressos
do, descrevendo as medidas propostas para tratar os proble-             feitos pela escola russa de ciência do solo, então liderada por
mas da erosão que então surgiam (Bcnnett, 1938). É paradoxo             V. V. Dokuchacv. A percepção do solo que prevalecia havia si-
curioso que os principais problemas da erosão dos solos não             do influenciada pelos químicos da agricultura, tais como J. von
tenham atraído a atenção dos geógrafos físicos, cm qualquer             Liebig, na Alemanha, que desenvolveu a denominada teoria da
                                                                        dustbin, que considerava o solo de maneira estática, como um
                                40
                                                                                                       41
sistema fechado no qual podcr-sc-ia simplesmente substituir aqui-
    lo que era retirado pela produção agrícola* Essa noção de solo       quando Jenny publicou o livro Factors ofSoil Formatipn e usou
    como uma película, independente do que estivesse tanto acima         a noção central de que qualquer característica do solo (S) era
    como abaixo, foi superada por uma visão de solo que o consi-         uma função do clima (C), organismos (O), relevo (E)i material
   derava como o produto de fatores da formação de solos e, jun-         rochoso (M) e tempo (T), assim como de outros fatores não es-
                                                                         pecificados, na fórmula:
   tamente com seus alunos, notadamente Sibiftesev (1860-99), Do-
   kuchacv tornou-se o responsável pela teoria zonal dos solos, pu-
   blicada em 1900. Essa teoria zonal produziu a ideia de que os                             S = (C, O, R, M, T,...)
   solos zonais eram afetados principalmente pelo clima; os intra-
   zonais, por outros fatores, tais como hidrologia, tipos de rochas           Na Geomorfologia as influências naturalmente'foram de-
   ou topografia; e os solos azonais eram aindd imaturos e não ti-        rivadas particularmente da Geologia, c aqui o impacto dos de-
                                                                          senvolvimentos verificados na Geofísica foi simplesmente notá-
   nham tido tempo suficiente para se desenvolver em um dos dois
                                                                          vel. A teoria da deriva continental, exposta por Wegcncr em
  outros tipos. Essa concepção de amplas áreas de solos, zonais
                                                                          1924, intrigou os geógrafos físicos, embora essa teoria juntamente
  e relacionadas aos amplos padrões do climaie da vegetação, foi
                                                                          com a das formações de montanhas e atividade sísmicaSnao che-
  um desenvolvimento natural frente ao embasamento da distri-             gou a fornecer grande desenvolvimento. As outras'influências
  buição praticamente latitudinal do meio ambiente físico da              extrfnsecas-sobre a Geomorfologia talvez estivessem mais dirc-
  URSS. Outros cientistas russos dedicados ao estudo dos solos,           tamente ligadas com a Geologia, especialmente as relacionadas
  tais como K. D. Glinka (1867-1927), distinguiam os solos ajustá-        ao progresso de mapeamento e levantamento geológico, à elu-
 veis às influências climáticas como ectodinamórficos, enquanto          cidação da estratigrafia e às maneiras pelas quais os últimos es-
 os da classe endodinamórficos possuíam características ineren-          tágios da história terrestre, particularmente os do Cenozóico,
 tes que lhes possibilitavam resistir, ou modificar-se menos, às         estavam sendo estabelecidos. Na Geomorfologia, muitas das in-
 influências dos fatores externos.                                       fluências desse período estavam sendo canalizadas por intermédio
       Houve um lapso de tempo até que as ideias dos cientistas          do ciclo de erosão e da geomorfologia davisíana; . t
  russos sobre a formação dos solos se difundissem na Europa oci-              Os estudos da atmosfera receberam grande impulso com
  dental e na Amdrica do Norte, onde o solo continuava a ser con-        os estímulos provindos do Instituto Meteorológico de : Bergen,
 siderado sob a perspectiva geológica. Esse atraso na difusão foi       c já foi assinalado que poucos grupos haviam chegado até en-
 sintonizado pela tradução feita por C. E Marbut, então chefe            tão a dominar um campo científico tão completamente como
 do Soil Survey norte-amcricano, baseada na edição alemã do             o grupo de Bergen (Harc, 1951a) conseguiu. Estimulados pela
 trabalho de Glínka, de 1914, mas só publicada cm 1927. Mar-            deficiência de informações para a zona da guerra de'1914-1918
 but cncontrava-sc então cm posição privilegiada para juntar as         e pela densa rede de estações que então fora criada, especial-
idíias russas c as americanas c publicou um livro sobre os solos        mente na Noruega, esse grupo se colocou fundamentalmente
dos Estados Unidos, cm 1935, no qual reconciliava as necessi-           na vanguarda do mapeamento sobre o tempo. Os temas cen-
dades de uma classificação nacional com a escala das pesquisas          trais da escola de Bergen basearam-se na consideração de que
de campo, bem como escreveu numerosos artigos relacionados              a atmosfera e composta de grandes corpos de ar relativamente
com os solos para os Annah ofthe Association of American Geo*           homogéneos, separados por fronteiras suavemente inclinadas ou
graphers. A ênfase colocada pela escola russa sobre os fatores          superfícies frontais. A história de vida de um ciclone de onda
da formação dos solos só foi plenamente utilizada em 1941,              frontal foi desenvolvida por J. Bjerkness, c em 1928 c,1938 Bcr-
                                                                        geron propôs uma classificação das massas de ar que propiciou
                               42
                                                                                                        43
as bases da climatologia dinâmica. A possível descrição expli-
   cativa dos climas mundiais em função da teoria das massas de         de plantas ao longo do tempo c o ciclo de vida de um organis-
  ar não foi desenvolvida, para prejuízo dos geógrafos físicos (Hare,   mo (Harrison, 1980). A sequência do desenvolvimento da vege-
   1951a). Diversas classificações climáticas foram propostas nesse     tação foi visualizada por Clements como realizada por trajctó-
  período, incluindo as de Koepeen, datadas de 1900-1936, e a           rias específicas e envolvendo cinco fases: fase l — nudação, a
  abordagem para uma classificação racional proposta por                criação inicial de uma área desnuda; fase 2 — migração, a che-
  Thornthwaitc (1948). De signifícância para a climatologia fo-         gada das sementes de plantas; fase 3 — ecesis, o estabelecimen-
  ram os avanços realizados no campo da climatologia das mas-           to das sementes de plantas; fase 4 — reação, competição entre
  sas de ar (p. ex., Lamb, 1950; Belasco, 1952), mas as linhas in-      as plantas estabelecidas e os efeitos que elas têm sobreiO habitat
  corporadas nessas abordagens só muito mais tarde foram tra-           local; fase 5 — estabilização, quando as populações de espécies
  balhadas pelos geógrafos físicos. Os estudos sobre a atmosfera        atingem condição final cm equilíbrio com as condições do ha-
 também foram incrementados pelo advento das radiossondas,              bitat local c regional. Durante essa sequência evolutiva da ve-
 possibilitando que pequenos transmissores de rádio carregados          getação há uma série de estágios transicionais denominados se-
 por balões pudessem registrar informações de alturas superio-          res, c o equilíbrio final constitui a vegetação-clírnax.ips biólo-
 res a 18km, de modo que as cartas sinóticas do ar superior e           gos e os biogeógrafos devotaram muita atenção ao conceito de
 a signifícância das investigações da camada atmosférica supe-          sucessão, tendo sido diversos aspectos salientados, tais como a
 rior começaram a receber interpretação ligada com a compreen-          distinção entre sucessão primária, que é a sucessão sobre novas
 são das situações sinóticas.                                           áreas desnudas, e sucessão secundária, que se desenvolve ,em áreas
      O tratamento do balanço hídrico, por Thornthwaite (1948),         que anteriormente já suportaram vegetação e onde a atividade
 foi um dos marcos importantes a influenciar o desenvolvimen-           humana ou azares naturais modificaram a vegetação original
 to da Hidrologia. O volume elaborado pôr Mead (1919) foi               e iniciaram, a sucessão secundária. Harrison (1980) sugeriu que
 um dos primeiros livros ligados à Hidrologia. Embora já exis-          a visão inicial da sucessão tem sido acompanhada, mais recen-
 tissem trabalhos práticos, como o Manual] of Hydrology, de             temente, por uma perspectiva que considera a sucessão como
 Beardmorc (1851, 1862), nessa época ainda hão se possuía pa-           um processo resultante da reposição planta por planta e onde
ra essa área tratamento positivo e coerente. A ênfase sobre             os padrões gerados por esse processo de reposição possuem pro-
o balanço hídrico tornou-sc fator importante para o desenvol-           priedades estatísticas regulares. Whittakcr (1953) salientou a sig-
vimento ocorrido no século vinte, c na América do Norte bases           nificància evolutiva da sucessão c considerou o clímax como um
importantes haviam sido fornecidas por Horton (1932, 1933,              padrão de abundância de espécies que é localmente constante,
1945) c por Sherman (1932), que iniciaram a teoria da unida-            mas que varia de lugar para lugar. Harrison (1980) concluiu que
de hidrográfica.                                                        essa perspectiva é aceita por muitos biogeógrafos. Embora ini-
      Na Biogcografia, influência fundamental foi a exercida por        cialmente se pensasse que a comunidade-clfmax fosse controla-
Clcments (1916), por meio da proposta sobre aisucessão das plan-        da pelo clima, subsequentemente accitou-sc a ideia de que as
tas. A abordagem dinâmica para a ecologia incorporou o con-             comunidades-clímax são relativamente permanentes e estáveis,
ceito de vcgetação-clfmax, alcançado pelas comunidades vege-            estando ajustadas a um contexto particular de condições am-
                                                                        bientais c bidticas.
tais que passaram por todas as fases de sucessão e chegaram a
atingir estado de equilíbrio com o clima da^ região. As ideias                A separação da ecologia em auto-ccología, que trata das
iniciais de Clcments propiciaram condições para uma analogia            relações ambientais das plantas individuais, e sinecologia, que
algo insatisfatória entre o desenvolvimento de uma comunidade           se preocupa com as relações ambientais das comunidades de
                                                                        plantas, também foi muito importante. O conceito de ccossis-
                               44
                                                                                                        45
>*-


          tema, desenvolvido por A. G. Tanslcy em 1935, veio a exercer
         grande influência no tocante à abordagem sistémica. Em sua          céu um ímpeto enorme com o advento da obra Origèjas das Es-
         primeira proposição, Tanslcy considerou o ecossistema como          pécies, de Darwin, c da evolução.                          '
         composto de duas partes, designadas como bioma, que era                   Nos anos vinte surgiu cm Viena um grupo de cientistas,
         o complexo total de organismos como uma: unidade sociológi-         conhecidos como positivistas lógicos, que ampliou os princípios
         ca, incluindo plantas e animais vivendo cònjuntamente, c o          fundamentais do positivismo, argumentando que a lógica for-
         habitat ou meio ambiente físico. Tansley considerou todas as        mal e a matemática pura, de maneira semelhante às evidências
        partes de um ecossistema como fatores inleratuantes, e que,          dos sentidos, propiciam conhecimentos que por sua versão opos-
        em um ecossistema maduro, se encontram;aproximadamente               tos a todo fenómeno inverifícável. O princípio de verificação foi
        em equilíbrio. Esse conceito tornou-se muito significativo por-      central para o trabalho dos positivistas lógicos, e subsequente-
        que poderia ser aplicado a diferentes escalas c porque focali-       mente isso promoveu relevante debate na Geografia Física. En-
        zava atenção sobre os organismos, o meío ambiente, a circula-        tretanto, Comte e o positivismo não figuram na história do es-
       ção de matéria e energia e sobre a organização estrutural do          tudo das formas de relevo (Chorley, Dunn e Beckinsale, 1964),
       sistema. Propiciava, portanto, um esquema conceituai para             provavelmente rcflctindo o fato de que a abordagem, jque se tor-
       a Biogeografia, aplicável a qualquer escala desde a biosfera         nou tão fundamental em ciência, não era usada4ireta e expli-
       até o indivíduo, fornecendo uma base padrònizável em termos          citamente pelos geógrafos físicos e também o fato de que muito
       de equivalente energético para comparar comunidades dife-            da influência em Geografia pode ter sido introduzido na disci-
       rentes c incorporava a atividade humana como um compo-               plina como um todo, porque levou ao debate determinista-
       nente integral (Tivy, 1971).                                         possibilista (Harvey, 1969). Isso porque Comte acreditava que
                                                                            não somente as ciências naturais deviam procuradas leis da na-
       Embasamento positivista
                                                                            tureza, mas também que a investigação científica rd a sociedade
             A influência do positivismo no mundo científico foi extraor-   descobriria as leis que governam a sociedade.. j >.:
       dinariamente sensível, durante o período dos últimos cem anos.             Muito do desenvolvimento da ciência foi baseado sobre me-
       Estabelecido por Augusto Comte durante a década de 1830, na          todologia que requeria o desenvolvimento de hipóteses por meio
       França, como um conceito, foi considerado como substituto da         de modelos, teorias ou leis e o uso de dados empíricos para se
       especulação livre ou dúvida sistemática então definido por Re-       realizar a verificação dessas hipóteses, de modo que, em 1953,
       nc Descartes (1596-1650) c caracterizado por Comte como prin-        Braithwaitc expressava a função da ciência:
       cípio metafísico (Holt-Jcnsen, 1981). As abordagens positivistas                                                            , ut?
      forneceram os fundamentos para o que veio a ser amplamente                       "estabelecer leis gerais recobrindo o comportamento dê eventos em-
      conhecido como método científico, dependente da construção                 píricos, com os quaís ã referida ciência está preocupada, e possibilitando-
      de generalizações empíricas, enunciados com'características de             nos dessa maneira conectar nosso conhecimento sobre os eventos co-
      lei, que relacionam o fenómeno que pode ser reconhecido em-                nhecidos separadamente c estabelecer previsões confiáveis sobre even-
                                                                                 tos ainda desconhecidos".
      piricamente (Johnston, 1983b). Como o positivismo depende do
      uso cfc generalizações empíricas, também abrange o princípio                A abordagem positivista, embora não devidamente assimi-
      de verificação porque demanda o teste das hipóteses que foram         lada na Geografia Física senão no findar dos anos cinquenta, na
      propostas, levando tanto à verificação como à falsificação. O         década de 1960 já se encontrava sob cerrada artilharia:no mun-
      objctivo é estabelecer íeis gerais que não sejam específicas a um     do científico. Entretanto, o advento da mecânica e da teoria quân-
      determinado conjunto de circunstâncias, e o positivismo conhe-        tica, embora já iniciadas nos anos vinte, só começou a tcrinfluôncia
                                                                            análoga na Geografia Física meio século depois.
                                     46
                                                                                                                47
Influencias intrínsecas
                                                          ii                    Ramsay, Geikic, juntamente com os geólogos que trabalhavam
               Numerosas influências desenvolveram-se no âmago da Geo-          na região ocidental dos Estados Unidos, serviu para estabelecer
        grafia, no decorrer de 1850 a 1950, c essas influências tornaram-       a temática que Davies (1969) descreveu como a "doutrina fluvial",
        se objcto de explicação e especulação desde 1950. De acordo com         que reconhecia a eficácia do escoamento das águas na escultu-
        Harvey (1969), Hartshorne (1959) realizou análise desse assunto         ração das formas de relevo. Embora conceitos tão fundamentais,
        concluindo que as teses kantianas foram utilizadas por Hetner a         como a efetividadc da erosão glaciaria e da erosão fluvial, fos-
        fim de estabelecer que a Geografia, juntamente com a História           sem gradualmente aceitos no século dezcnove, o processo de acei-
        e outras disciplinas, era uma ciência ideográfica mais do que no-       tação geralmente demorava várias décadas e alimentava candentes
        motética. A visão excepcional is ta cm Geografia derivava de Kant       debates. No caso da erosão glaciaria, uma proposição conside-
        (1724-1804) c levou a Geografia a ser caracterizada como um ponto       rava que o glaciar não erodia mais a paisagem, mas atuava do
       de vista mais do que uma disciplina preocupada com área de es-           medo modo que o creme podia erodir sua embalagem!
       tudo específica, e também relacionada com coléção única de even-               Em terceiro lugar, situava-se a influência proveniente do
       tos ou objctos mais do que com o desenvolvimento de generaliza-          treinamento c da experiência dos primeiros geógrafos; ffisicos. Di-
       ções a propósito de classes de eventos.                                  versos exemplos já foram mencionados, assinalando que geógrafos
              Se a influência da visão cxcepcion alista sobre a Geografia Ff-   físicos foram treinados em uma disciplina e posteriormente se
       sica era mais implícita do que explícita, a influência maior da Geo-     transladaram para c ajudaram a desenvolver a Geografia Físi-
       grafia como um todo provinha do ideal regional. Essa influência          ca. Assim, Marion Newbiggin teve formação de bióloga. Na
       fez com que a pesquisa em Geografia Física se;dirccionasse para          América do Norte, C. F. Marbut (1863-1935), que escreveu nu-
       áreas específicas c, na primeira metade do século vinte» três exem-      merosos artigos em periódicos geográficos e foi presidente da
       plos evidentes dessa influência podem ser fornecidos por Stream          Associação dos Geógrafos Americanos, ocasião em que profe-
       SculptureontheAflanticSlopeQohn&on, 1951), Structure, Sur-               riu o discurso "Ascensão, declínio c revitalização do maltusia-
      face and Drainage in South East England (WoOldridgc e Linton,             nismo cm relação à Geografia c às características dos solos", foi
       1939) e GeomorpHohgy ofNew Zealand (Cotton, 1922).                       inicialmente um cientista do solo treinado cm Geologia e reali-
             Uma segunda influência interna da disciplina estava relacio-       zou notáveis contribuições à ciência do solo.
       nada com a experiência nas áreas de pesquisa de campo. Ela emer-               Torna-se difícil imaginar, na segunda metade do século vin-
      gia por causa da associação dos geógrafos físicos com a explora-          te, como o desenvolvimento da Geografia Física nos primeiros
      ção de determinadas partes do mundo, e os geógrafos físicos ale-          cinquenta anos do século foi sensível ao problema dá difusão
      mães, por exemplo, envolveram-se nas pesquisas sobre a África             de ideias. Os idiomas foram uma barreira à difusão dos conhe-
      do Sul, especialmente no Calaari, na África Oriental e em Tien            cimentos, de maneira que os trabalhos da Escola Russa de Ciên-
      Shan, entre muitas outras áreas. Tais experiências ultra-marinas          cia do Solo, formulada no final do século dezcnove, somente al-
      por vezes surgiram cm virtude das relações coloniais. Os geógra-          cançaram os Estados Unidos por volta de 1925 (Marbut, 1925)
      fos físicos franceses foram ativos na Roménia, Alpes e Europa Cen-        por meio de uma tradução feita de acordo com a tradução ale-
      tral. As experiências de campo também serviram para a elabora-            mã, publicada em 1914, do trabalho de K. D. Glinka. A barrei-
      ção de teorias na Geografia Física, com repercussões internas. As-        ra linguística também é exemplificada pela demora verificada
      sim, a cfetividade erosiva dos glaciares sobre muitas regiões euro-       na difusão das ideias de Penck. Embora seu modelo tivesse sido
      peias foi estabelecida por L. Agassiz. A experiência acumulada            inicialmente publicado em 1924, poucas apreciações efetivaa so-
      por vários pesquisadores de campo, incluindo Playfair, Jukes,             bre sua importância foram realizadas até que se tornasse dispo-
ms-                                                                             nível uma tradução, publicada em 1953 (Czcch c Boswell, 1953),
                                       48
                                                                                                                49
c cm virtude da dificuldade do conteúdo e da publicação em          século vinte pela separação em Gcomorfologia, Climatologia e
língua alemã. Por vezes, o intercâmbio de visitas e conferencis-    Biogeografia. As definições inseridas na tabela 2.1 exemplifi-
tas acelerou a difusão de ideias, c o período em que W. Morris      cam essa tendência.
Davis permaneceu como professor na Universidade de Berlim,                 Inquestionavelmente, W. M. Davis (1850-1934) exerceu a
cm 1908-1909, cm muito contribuiu para introduzir suas ideias       influência predominante sobre a Geografia Física nesse perío-
na Europa Central e também motivou a publicação de suas             do. Deve-se salientar que, embora recentemente suas ideias
ideias, cm uma obra de excelente clareza (Davis, 1912). De for-     estejam sendo discutidas e colocadas numa perspectiva muito
ma semelhante, Brown e Waters (1974) salientaram que a visita       mais abrangente da matéria, o estudo da Geografia Física te-
de Henri Baulig e suas conferências proferidas em Londres, ern       ria avançado muito mais lentamente caso ele não tivesse escri-
 1935, com subsequente publicação (Baulig, 1935), desencadea-        to mais de quinhentos artigos e livros. O enfoque essencial
ram fluxo prodigioso de estudos sobre os níveis marinhos pre*-       da geomorfologia davisiana baseava-se no fato de propiciar
glaciais c glaciais na Grã-Bretanha, assunto que ocupou mui-         um ciclo de erosão normal, de modo que se tornava possível
tos geógrafos físicos britânicos por cerca de pelo menos vinte e     classificar qualquer paisagem de acordo com o estágio alcan-
cinco anos.                                                          çado no ciclo de erosão, fosse juventude, maturidade ou senili-
                                                                     dade. Concomitantemente, oferecia uma trilogia para a com-
A Geografia Física por volta de 1945: o impacto de W. M. Davis       preensão da paisagem em função da estrutura, processos c
                                                                     estágio ou tempo alcançado em um ciclo de erosão. Sc o ciclo
      No período de 1850 a 1945 predominou a tendência de se          normal resultava do trabalho das chuvas e rios, outros ciclos
publicar material difuso, cm que se notava a ausência de abor-        diferentes foram delineados para as paisagens áridas, esculpi-
dagem coerente para ser trabalhada em função de outra, com            das sob o ciclo de erosão árido e o ciclo marinho, onde aten-
perspectiva evolutiva, que fosse seguida pela consolidação de,        ção particular era posta na emersão e submersão das Unhas
rcação para ou ampliação de tais focalizaçõcs evolutivas. Os li-      litorâneas. Dois tipos principais de acidentes também foram
vros publicados durante esse período indicam numerosas ten-           adicionados ao ciclo normal, relacionados com atividade vul-
dências que são significantes em relação ao desenvolvimento pos-      cânica e acidentes glaciares. Um aspecto fundamental do tra-
terior. Incluem-se o predomínio da Geomorfologia e o fato de,         balho de Davis consiste na clareza das ilustrações blocos dia-
algumas vezes, a Gcomorfologia ter sido considerada como a base       gramas, que levam à aceitação das ideias básicas. Em 1909
física da Geografia, como se observa no livro de Wooldridgc c         foi publicado um volume reunindo vários artigos c ensaios.
Morgan, de 1937, embora quando foi publicada a segunda edi-           King c Schumm (1980) promoveram uma compilaçã^ da Geo-
ção, cm 1951, tivesse havido inversão de título e subtítulo, que      grafia Física ensinada por Davis, com base nas notas de suas
tomaram a forma An Outline of Geomorpkology: The Pkyst-                últimas aulas. Dentre os inúmeros gcomorfdlogos que adota*
cal Basis ofGeography (Wooldridgc c Morgani 1951). Posterior-          ram c desenvolveram a mensagem davisiana, destaca-se a figu-
mente, no âmbito da Gcomorfologia, surgiu a dominância da              ra particularmente notável de Cotton (1942; 1948). Procuran-
gcomorfologia davisiana, rcflctida na feitura de livros didáticos      do avaliar o enorme sucesso da abordagem davisiana, Higgins
americanos que começaram a aparecer nas décadas de 1930 e              (1975) compilou doze razões que explicam a aceitação imedia-
 1940. Possivelmente outra tendência evidente seja a maneira pela      ta e generalizada dessa perspectiva c sua subsequente popula-
 qual a abordagem abrangente em Geografia Física, geralmente
                                                                       ridade:
 denominada Fisiografia no século dezenove, foi substituída no

                               50                                                                  51
^             '




                            Tabela 2.1 — Algumas definições de Geografia Ffsica 185O*1945                       em consequência, particularmente em relação à comunidade
                                Data Autores                                                                    geológica:
                                1868 T. H. HUXLEY — "Nós necessitamos daquilo que, na ausência
                                      de ura nome racíhor, chamarei de Geografia Física. É uma des-                  5. preenchia um vazio — e oferecia uma teoria que com-
                                      crição da terra, de seu lugar e relação com outros corpos; de                     plementava o uniformítarismo;
                                      sua estrutura geral, de seus grandes aspectos — ventos, marés,                 6. sintetizava o pensamento geológico contemporâneo —
                                      montanhas, planícies; das principais formas dos mundos animal                     incorporava numerosos conceitos que foram introduzi-
                                      c vegetal; das variedades humanas,"
                                                                                                                        dos ou que estavam sendo discutidos por outros pesqui-
                                1870 MARY SOMERVILLE - "A Geografia Ffcica é uma descrição
                                      da terra, do mar c do ar. com seus habitantes animais e vegetais,                 sadores, incluindo o nível de base (Powell, 1834-1902),
                                      de modo a considerar a distribuição desses seres organizados, c                   o equilíbrio dos rios (Gilbert, 1843-1918) e o perfil de equi-
                                      aj causas dessa distribuição".                 i                                   líbrio advogado pelos engenheiros franceses;
                                1898 W. M. DAVIS — "O sucesso do desenvolvimento da Geografia,                       7. oferecia base para predição e interpretação histórica
                                      considerada como o estudo da terra em relação ao homem, deve
                                                                                                                          — possibilitava que a Geomorfologia usasse as formas
                                      ser encontrado na Geografia Ffsica — ou Fisiografia como vem
                                      sendo denominada —, o estudo do rocio ambiente físico do ho-                       de relevo como instrumento para decifrar os últimos
                                       mem."                                                                             estágios da história terrestre c funcionar como parte
                                 1903 R. S. TARR e O. D. von ENGELN - "A Geografia Física, que                           da geologia histórica;
                                       pode ser definida como o estudo dos aspectos físicos da terra
                                       c das suas influências sobre o homem." .                                  além disso, existiram razões que influenciaram a popularidade
                                 1915 P. LAKE — "O geógrafo... está preocupado com a superfície
                                       da terra c não com o seu interior e, cm geral, ele tem de conside-        dos conceitos de Davis, tais como:
                                       rar somente a atmosfera, a hidrosfera c os aspectos visíveis da
                                       litosfera ou, em outras palavras, o ar, o oceano e as terras emersas."          8. era racional — era abordagem simples, racional,
                                 1944 K. BRYAN — "... aquilo que está racIuloVna Geografia Física.                        valendo-se do contexto positivista;
                                       Obviamente, todos os fatores do meio ambiente são físicos, ex-                  9. era consistente com a evolução;
                                       cluídos aqueles induzidos pela presença dos animais e das plan-                10. parecia confirmar o pensamento estratigráTico de sua
                                       tas. A Geografia Física tem unidi.de quando considerada sob a
                                       perspectiva do geógrafo humano. Sob a perspectiva do "geógrafo                     época — principalmente o modelo tcctònico de dias-
                                       ffsico", cia tf um grupo de ciências especializadas, cada uma se-                  trofismo rápido seguido de longo período de estabili-
                                       guindo seu próprio caminho."                                                       dade e calma litorânea;                  :
                                                                                      i                                 , considerava o clima temperado úmido çòrrjo Snormal",
                                                                                                                                                               • ' •"   j
                                    1. simplicidade — particularmente o soerguimento ini-                                  fato que foi atraente para muitos cientistas das ciên-
                                       cial;                                                                               cias da terra;
                                    2. aplicabilidade — pelos estudiosos a uma ampla vá*                              12. a abordagem cíclica também foi atraente para muitos
                                       ricdade de paisagens erosivas;                                                      cientistas das ciências terrestres.
                                    3. apresentação cm estilo lúcido, convincente e concilia-
                                       tório — o estilo do texto e dos numerosos diagramas                             Muito já se escreveu a respeito do impacto do tratamento
                                       c esquemas;                         i                                      davisiano da Geo morfologia e de sua influência no tocante às
                                    4. base aparente de cuidadosas observações de campo                           pesquisas posteriores, fatos que não podem ser negados. Por
                                        — embora não realizasse nenhuma mensuração nem                            exemplo, em uma história da Associação de Geógrafos Ameri-
                                        houvesse relação com exemplos reais;                                      canos, James e Martin (1978) escreveram:

                                                                    52                                                                            53


t.' '.TT.1 i. .•, ,-j ,-J
"A fisiograíia proclamada por Da4s e também delineada por        de relevo". Algumas das deficiências que foram mencionadas se-
    seus seguidores dominou o pensamento geográfico de uma grande           rão discutidas no início do capítulo 3.
    quantidade dos membros iniciaJs da Associação. O ensino, a pes-
                                                                                   Bishop (1980) realizou levantamento das razões iquc justi-
    quisa, os trabalhos de campo e a divulgação dos resultados torna-
    ranvsc para muitos uni modo de vida e não apenas uma atividade          ficam a aceitação contínua das ideias do ciclo davisiano du-
    esporádica, tipificada pela observação de Dodgc a Ward de que           rante tão longo tempo. Argumentou que o ciclo não 6 uma
    seu trabalho académico era um dever sagrado. Os seguidores de           teoria científica, pelo menos por dois motivos: primçiro, por-
    Davis, desde a adolescência intelectuaj, emergiam como Titãs,           que é irrefutável em relação ao conceito de estágio; c, segun-
    Johnson no sctor dos estudos litorâneos. Fenrieman na definição         do, porque a teoria foi sendo modificada de maneira ad hoc
    das regiões físíográficas, Martin no desenvolvimento da geomorfo-       à medida que se levantavam objeções contra ela. O, conceito
     logia glaciaria, Bowman por escrever sobre a geografia regional
    dos Andes, Ward c Huntington por esclarecerem algo sobre a
                                                                            subjacente na definição de Popper sobre ciência, qiae inclui
    física atmosférica e sejas efeitos sobre a fisiologia humana, e Brig-   hipóteses falsificáveis de alto conteúdo informativo, jfoi o que
    ham por estabelecer a geografia histórica... O essencial é que          levou Bishop (1980) a concluir que as hipóteses davisianas não
    o modelo davisíano ofereceu um pomo comum para a iniciação              poderiam mais ser válidas, caso continuassem a ser enuncia-
    científica, a partir do qual o pensamento estruturado tinha con-        das de modo que não pudessem ser verificadas pelos testes
     dições de evoluir."                                                    de falsificação.
                                                                                   Muitos pontos de vista e abordagens existiram sobre a Geo-
     Quando Davis se aposentou e foi trabalhar na região oci-                grafia Física em épocas precedentes a Davis. O livro de T. H.
dental da América do Norte, estabeleceu baseidiferente daque-                Huxley, Phystograpky (1877) foi importante porque, pelo me-
la que havia desenvolvido cm muitos de seus trabalhos, a meta-               nos, procurava apresentar a visão integrada do rneio ambiente
de oriental mais estabilizada, c escreveu (citado em Chorley, Bec-           físico pela Fisiografia, definida como "o estudo das relações cau-
kinsalc e Dunn, 197S, p. 647):                                               sais dos fenómenos naturais ou a consideração do 'lugar na na-
                                                                             tureza' de urn distrito particular".
     "... e a escala cm que a deposição, deformação e denudação acon-              Stoddart (1975) analisou o enorme sucesso do livro de Hux-
     teceram. mostrando milhares e milhares de pés nessa região recém-       ley, em excelente e agradável avaliação, descrcvcndo-o como "um
     construída, é de 10 ou 20 vezes maior do que a dos processos            dos melhores livros lidos por muitos em longo tempo" c "um ser-
     correspondentes observados cm minhas antigas caminhadas de              viço cfetivo à raça humana". Esse sucesso foi parcialmente devi-
     campo".                                        ,.                       do à maneira de organização, que começava com a; bacia de
                                                                             Londres c sucessivamente expunha dos fatos locais c familiares
     Thornbury (1954) observou que "a Geomorfologia prova-                   para os desconhecidos. A Físiografia, na concepção de Huxlcy,
velmente irá reter suas características por tempo muito mais longo           era particularmente apropriada para a expansão da educação
do que as de qualquer outra pessoa", c essas características so-             popular nas décadas de rápida industrialização, crescimento po-
brevivem cm muitos livros didáticos, muitas vezes sem indica-                 pulacional c consciência social despertada pela Origem das Es-
ção clara assinalando que a abordagem c* davisiana. Recente-                 pécies e assumiu posição dominante na educação britânica du-
mente, Small (1978) escreveu que "... a abordagem davisiana,                  rante aproximadamente um quarto de século, até que nas esco-
apesar de toda sua deficiência por subjctividadc, ausência de                 las foi deslocada pelas disciplinas científicas específicas, mas ja-
rccisão c ignorância dos processos, tem muito a oferecer, parti-              mais ganhou posição central na Geografia universitária cm vir-
cularmente no nível cm que estamos preocupados com a difu-                    tude da influência exercida pela Geologia. A nova ciência da
são do conhecimento introdutório no estudo sobre as formas                    Geomorfologia,

                                   54
"embora ainda denominada de fisiograíia nos Estados Unidos, foi ali-     c vulcânicos, e pelos estudos aplicados. A medida que essa ten-
               mentada com um novo princípio unificador, o ciclo de erosão; uma nova    dência estava acontecendo, também pode-se notar de modo apa-
               técnica, a análise histórica das formas de relevo; e ura novo campo de   rente nos Estados Unidos que os geógrafos físicos sé preocupa-
               análise regional, enquanto paralelamente abandonava clima, oceano-
               grafia, biogeografia e o estudo da geografia humana para outras disci-
                                                                                        ram mais com a geografia humana do que cm épocas prece-
               plinas" (Sioddart, 1975, p. 32).                                         dentes, enquanto os geólogos caminharam mais à procura de
                                                                i
                                                                                        petróleo (Peltier, 1954). Talvez a repercussão mais incisiva do
                Na França, em 1909, Emmanuel de Martonne publicava                      período davisiano não tenha ficado apenas na ênfase sobre a
          o Traité de Géographie Pkysique, que foi um livro usado mun-                  evolução da paisagem a longo termo, pois conforme Wooldrid-
          dialmente, posteriormente traduzido em outros idiomas e pu-                   ge (1951, p. 170) assinalou:
          blicado em seis edições. Os Geographical Etsays, de Davis, pri-
          meiramente publicado em 1909, reuniu vários artigos impor-                         "Um avanço significativo da Gcomorfologia no século atúal foi a tenta-
          tantes cm um volume e também foi amplamente consultado.                            tiva de relacionar suas observações com as da geologia estratigráfica.
                No período posterior a Davis, o desenvolvimento observa-                     Como programa pedagógico orientado para auxiliar o desenvolvimen-
                                                                                             to explicativo das formas de relevo, o conceito do ciclo de erosão pode
          do na Geomorfologia pode ser considerado como composto de                          fornecer tratamento im termos puramente quantitativos."
          avanços, alternativas e objeções. Os avanços foram verificados
          na pesquisa e também nos livros didáticos, em gama variada,                          Entretanto, havia também preocupação voltada à geomor-
          dentre os quais os compêndios de Wooldridge e Morgan (1937)                   fologia regional. Vários estudos de casos já foram anteriormen-
          e de von Engeln (1942) estão entre os que continuaram o ideal                 te mencionados (Wooldridge c Linton, 1939; Johnson, 1931; Cot-
          davisiano. As alternativas estão relacionadas com algumas abor-               ton 1922), e a eles dcvcm-sc acrescentar a fisiografia das regiões
          dagens, como a de Wahher Penck (1924), que se estruturaram                    oriental c ocidental dos Estados Unidos (Fenneman, 1931, 1938)
          em bases essencialmente diferentes para a Geomorfologia, que                  e, embora concebido de maneira independente, o estudo The
          não foi prontamente compreendida e aplicada e demorou muito                   Alps in the Ice Age (Pcnck c Bruckncr, 1901-1909). Os três volu-
           tempo para ser facilmente disponível ao público de língua in-                mes desta última obra foram importantes por sugerir uma cro-
          glesa (Simons, 1962); também não foram acompanhadas por                       nologia para a Europa e, principalmente, por propor uma divi-
           um grande volume de publicações, como aconteceu com as                       são quádrupla da sequência glaciaria, exercendo enorme influên-
           ideias de Davis. As objeções surgiram porque alguns geomor-                  cia sobre a interpretação da história do Pleistoceno cm muitas
           fólogos começaram a perceber possibilidades' outras além da-                 outras regiões do rrmndo.
           quela abordagem puramente davisiana. Dessa maneira, Kirk                            O tema regional também tornou-sc saliente em outros
           Bryan foi seguidor de Davis sob muitos aspectos, mas também                   ramos da Geografia Física, geralmente buscando subsídios em
           levou cm consideração as ideias de Pcnck c, juntamente com                    contribuições elaboradas cm outras disciplinas. O livro Clima-
           seus seguidores, realizou contribuições para o desenvolvimento                tologia (Millcr, 1931) exerceu enorme influência, pois analisa-
           do nascente campo da gcomorfologia periglaciál e também para                  va os elementos c fatores do clima c as classificações climáti-
           a gcomorfologia das regiões áridas. Pcltier (1954) considerou                 cas, c cerca de 60% do volume tratava dos climas dos vários
           que na geomorfologia praticada nos Estados tinidos nova era                   continentes. O significado c a finalidade da Climatologia sur-
           havia começado por volta de 1940, e essa nova era estava fun-                 giam como "... o geógrafo geralmente está mais preocupado
            damentada pelas investigações descritivas, particularmente uti-              com... a translação dos comportamentos médios em. determi-
            lizando mapeamentos, pelos estudos dinâmicos sobre os pro-                   nadas respostas biológicas". Em escala bastante diferente, o
Pfe;        cessos fluviais, de dissolução, marinhos, pcriglaciais, eólicos               livro de Vishcr (1944), Climate of Indiana, incluía mais de
&.••£•:
                                              56                                                                             57
ífJ£Vy*'?^
         '">.-'.
£&&f'*'7,x         300 mapas c exemplificava claramente a ênfase sobre os padrões
&*&$?*• ?^                                                                                       grafia como ciência (p. ex., Sverdrup, Johnson c Flerriihg, 1942),
j^£'i^ :>.•''•£'   espaciais.                                                                    embora Burke e Elliot (1954) propusessem uma nova aborda-
^.^/-s-
                          Na geografia dos vegetais, cm acréscimo à geografia ecoló-             gem para as regiõrs oceânicas, apesar de descrever c considerar
  áSsfc^           gica das plantas que abrangia a sucessão da cobertura vegetal,                que muitos dos geógrafos profissionais nos Estados Unidos eram
                    Kuchlcr (1954) identificou abordagens direcionadas aos mapas                 "homens de pç* na terra" ou "marinheiros de água doce". Mui-
                    de vegetação, ao desenvolvimento histórico da vegetação e à geo-             tos artigos sobre os solos surgiram em periódicos geográficos,
                    grafia florística, que procuravam estabelecer ás áreas ocupadas              e Mabut tentou aplicar os conceitos davisianos de juventude,
                    por espc*cies particulares e explicar sua extensão e localização.            maturidade e serulidade no estudo dos solos (Barncs, 1954, p.
                    Tais subdivisões da geografia das plantas obviamente se asseme*              386). Isaiah Bowman (1922), que por diversos anos foi diretor
                    lham às subdivisões observadas na Geomorfologia em sua épo-                  da Sociedade Geográfica Americana, procurou realizar ama sín-
                    ca, e Kuchler (1954) classificou as décadas iniciais do século vinte         tese entre solos, clima e vegetação em seu livro Forest Physio-
                    como devotadas ao ciímulo de informações e àisubsequente ten-                graphy. Diversas definições relacionadas com a Geografia Físi-
                   dência de coordenar os dados, mas duvidava de que "a geogra-                  ca, publicadas nesse período, estão reunidas na Tabela 2.2.
                   fia da vegetação viesse a ter o seu Darwin". '
                          Na primeira metade do século vinte a Geografia Física apre-                                                                  .;.. f ' vi
 âÊSgfi,»                                                                                        Tlbela 2.2 — Alguns conceitos e termos envolvendo a mtegraçSo entre as-
   ^Sf             sentou tendência para o especialismo, substituindo a integra-                 pectos do mero ambiente físico
                   ção maior observada na fisiografía do século idezenove. Entre-
                    tanto, nem todos os autores estavam de acordo sobre o conteú-                Termo                Definição                          Fonte
                    do da Geografia Ffsica. Davis preferiu usar o termo "geografia               St t to "... ura sftio pode ser definido como uma área
                   física" em vez de "geomorfologia" e mesmo erri 1951 Wooldrid*                      que, para todos os propósitos práticos, propicia por
                   gê e East (1951), em seu livro Spirit and Purpost of Geography,                    sua extensão condições locais similares de clima,
                    intitulavam um capítulo como "geografia física e biogeografia".                   fisiografia, geologia, solos,.."                     R.'.Bourne (1931)
                    Assim, não estava absolutamente claro se a Geografia Física de-              Caiena "constitui a repetiçSo regular de determina-
                    veria ou não incluir a Biogeografia. Além da geografia das plan-                  da sequência de perfis de solos em associação com
                                                                                                      determinada topografia"                              R. Milnc (1935)
                    tas, a Biogeografia deveria incluir a geografia dos animais ou
                                                                                                 Topos e vertentes "as unidades básicas do relevo são
                    zoogcografia. Stuart (1954), ao reconhecer as;trcs abordagens                     topos e vertentes, unidades pequenas de urna su-
                    ligadas com o tratamento regional, histórico e ecológico, obser-                  perfície, visíveis tanto de uma quanto de outra e
                    vou que era lamentável o fato de que os objetivos e métodos da                    não subdívisfvciscom base cm seu formato. Repre-
                    zoogcografia ainda não estivessem claramente formulados, e que                    sentam os clétrons c os prótons que compõem o
                                                                                                      conjunto das paisagens"                              D. L. Linton (1951)
                                                                                                 Unidades morfológicas "a natureza oferece duas ine-
                         "se os académicos treinados em geografia e profundamente versados nos        vitáveis unidades morfológicas, e apenas duas. Em
                         métodos do estudo regional fossem adequadamente treinados cm zoo-             um extremo, o indivisível topo ou vertente, e, no
                         logia sistemática e paleontologia, poderiam estar em posição de pres-        outro, o continente indiviso"                        D. L. Linton (1951)
                         tar serviços importantes à zoogcografia" (Stuart. 1954. p. 449).        Sistema de terreno "... í uma área com padrão recor-
                                                                                                       rente de topografia, solos e vegetação"             C. S. Christian,
                         Os oceanos já constituíam uma parte da superfície terres-                                                                         c G. A.,'Stcwart
                    tre que estava começando a ser ignorada pelos geógrafos físi-                                                                          (1955) : l f i
                    cos, devido cm parte ao surgimento independente da Oceano-

                                                       58                                                                             59
Em sucinta análise sobre o desenvolvimento das teorias cm               "a Climatologia cm um Departamento de Geografia nas univer-
         --,--
          •,_•'-   Gcomorfoíogia, Chorley (1978) identificou sete fases na história         sidades, atualraente pode ser ensinada por ura mcteorótògo compe-
                                                                                            tenternente treinado e com muito maior compreensão do seu campo
                   da disciplina, c as três primeiras (teleológica, imanente e histó-
                                                                                            de trabalho, diferente do que acontecia geralmente na época prece-
                   rica) certamente surgiram antes de 1945 e poderiam ser aplica-           dente da guerra".
                   das à Geografia Física como um todo. A perspectiva tcleológica
                   existiu anteriormente ao uniformitarismo e sobreviveu até as dé-           O surgimento de novas técnicas, tais como o advento do
                   cadas finais do século vinte, quando foi substituída pelas ideias    radar, também contribuiu para que surgissem novas linhas
                   imanentes que se dirccionavam a explicar as características das      de pesquisa no campo da Geografia Física. Esse período de
                   formas de relevo em função de seus aspectos inerentes e rochas       cinco anos pode ser considerado como o final de um século
                   subjacentes, c pode-se distinguir uma abordagem semelhante           de desenvolvimento c o começo das duas décadas subsequen-
                   na ciência do solo. As abordagens históricas incluíam as basea-      tes, quando começaram a surgir novos modelos, métodos c
                   das no ciclo de erosão davisiano c no modelo de Penck,               paradigmas. Por essa razão, procuraremos tentar sumariar os
                   observando-se analogias no tratamento da sucessão das plantas        avanços significativos verificados nesse período, que acontece-
                   c no conceito de solos zonais. A abordagem taxonômica consti-        ram no interior e fora da Geografia Física.
                   tui a quarta fase teórica distinguida por Chorley (1978), e em-            Na Climatologia a tendência baseou-se na intensificação
m                  bora ela fosse estabelecida sob vários aspectos em época antece-     dos mapcamentos c das classificações climáticas, c o advento
                   dente a 1945, também se verificaram avanços iminentes no lus-        de abordagens para uma classificação racional dos climas
                   tro que chegava a 1950,                                              (Thornthwaitc, 1948) complementou as classificações anterior-
                                                                                         mente disponíveis, propostas por Kocppen c A. A. Millcr. Em
                   O crescimento sistemático de 1945-1950                                1954, Leighly observou que, desde 1920, a instrução.académi-
                                                                                         ca cm Climatologia, em sua maioria, procurava-desenvolver
                        Após 1945, no final da Segunda Guerra' Mundial, houve            a classificação dos climas e o mapeamento das regiões climáti-
                   aumento súbito no número de geógrafos e na expansão das               cas, baseadas nas classificações existentes. Esse assunto foi te-
                   universidades. Observou-se aumento no número de estudantes            ma de um excelente trabalho elaborado por Harc (1951b).
                   c de cursos oferecidos, surgindo até mesmo diversos novos pe-              Outro crescente tema de pesquisa cm Climatologia focali-
P&^
-•^fcSJiStefWJr
                   riódicos, como o Erdkunde, que começou em 1945. Diversos              zava a frequência da ocorrência dos eventos, que encontrava
                   trabalhos muito significativos foram publicados, promissores          similitude na análise da frequência das ocorrências das cheias,
                   para modelar a Geografia Ffsica pelo menos na década se-              tendência que estimulou Gumbcl a desenvolver uma estatísti-
                   guinte. Além dos jovens estudantes, muitas pessoas desmobili-         ca apropriada para o tratamento dos valores extremos. Fora
                   zadas das Forças Armadas voltaram a completar seus cursos             da Geografia Ffsica, surgiram os trabalhos sobre evaporação,
                   de graduação c propiciaram influxo de indivíduos competen-            realizados por Pcnman, (1948), propiciando avaliação mais cor-
                   tes nos quadros universitários, sendo que muitos dos pós-             reta da variação espacial (Penman, 1950), acompanhados por
                   graduados jovens ou rctornantcs haviam ganhb experiência em           novos livros didáticos sobre hidrologia (Linslcy, Kohlcr c Pau-
                   setorcs diversos, tais como na previsão do tempo, na fotointer-       Ihus, 1949), que complementavam as obras editadas anterior-
                    prctação c na análise do terreno, de maneira que estavam             mente, disponíveis por quase uma década (Mcinzcr, 1942). Em-
                    habilitados para contribuir nos estudos pragmáticos, fato que        bora entre os geógrafos físicos houvesse crescente interesse so-
                    anteriormente jamais se tornara tão evidente. Em 1951, Harc          bre os problemas de abastecimento hídrico, notava-sc que eles
                    (1951a) observou que                         ;                       estavam ainda propensos a ignorar a hidrologia, d^ mesma

                                                   60                                                                     61
. ,.'A. . .".VJÚí«W. '
                              ._..^. f. . - f.lMUfSYti




                       foima que já haviam subestimado o estudo dos oceanos, e Meigs                   foram definidas mais precisamente, por exemplo, a respeito dos
                       (1954) considerava que as tarefas pendentes para os geógrafos                   mapeamentos e análises dos perfis longitudinais (Broyrti, 1952),
                       eram promover                                                                   e os debates envolvidos também favoreceram essa extensão, co-
                                                                                                       mo no caso de distinguir entre as superfícies de erosão de ori-
                                 "o desenvolvimento de um sistema de categorias relacionadas com       gem marinha ou subaérea (Balchin, 1952). Nessa discussão sur-
                            as características hídricas. Quando essa classificação fosse elaborada,    giram artigos com diversos pontos de vista, incluindo o do geó-
                            dever-sc-ia realíiar o mapeamento da distribuirão das diferentes for-      logo O. T. Jones (1952) que comentava:
                            mas de ocorrências hídricas no território dos Estados Unidos".
                                                                                                                 "A ideia de que nessa án;a e era outros lugares catavam represen-
                       Dessa maneira, estimulava-se a abordagem de classificação e ma-
                                                                                                            tadas séries de plataformas devido à erosão marinha provocando a re-
                       pcamento, que também estava surgindo em outros setores da                            gressão de falésias tornou-se comum nos anos recentes, muito de acor-
                       Geografia Física.                                                                    do com a moda. Parece ter-se iniciado com a visita a este páfs do pro-
                            Na Gcomorfologia, importantes avanços estavam prestes a                         fessor Baufig, há vários anos. O professor Jones foi convidado para pre-
                       ocorrer. Embora a geomorfologia davisiana estivesse sendo em-                        sidir aquela provocativa reunião, mas como conhecia qual o dano que
                                                                                                            o professor Baulig poderia causar, considerou oportuno negar presidi-
                       pregada por alguns pesquisadores, como Wooldridge, que ain-
                                                                                                            la. O professor Baulig podia estar correto, como podia estar totalmen-
                       da considerava a Geografia Física como disciplina fundamen-                          te errado. Entretanto, seus argumentos foram levados a tal grau que
                       tada cm ciências especializadas, pois                                                desconcertavam a credibilidade atí das pessoas mais ingénuas."

                                 "A Geografia Física está, em determinado Sentido, mais bem or-              Embora começassem a surgir diversas proposições a.respeito
                            ganizada do que suas contrapartidas humanas ou sociais, porque se fun-     da evolução das paisagens, essas perspectivas ainda podiam ser
                            damenta cm ciências especi a Ilíadas, como Geologia e Meteorologia, que    consideradas como ampliação da abordagem davisiana, pois cm
                            realizaram grandes avanços ames que os objetrvos da Geografia mo-          sua característica eram essencialmente históricas. As alternati-
                            derna fossem formulados de modo detalhado. Não havia carência de
                            material, mas sim uma quantidade embaraçosa c salutar, que podia
                                                                                                       vas da abordagem davisiana apareceram em virtude do crescente
                            ser utilizada para se construir a disciplina" (Wooldridge e East, 1951).   criticismo da supremacia da geomorfologia davisiana dentro do
                                                                                                       campo da Geomorfologia e da própria Geografia Física, como
                             Uma análise cxccpcionalista pode ser exemplificada pelo                   um todo. Essa desconfiança foi particularmente evidente nos Es-
Fr*ffir?*2 • ' '•'
 f*.'^tf t! --V4.--Í   artigo de Tudor David, cm seu ataque à Geografia como um                        tados Unidos, c Strahler (1950a, p. 209) observou:
 .rSS-y-"'."" J'í      todo (David, 1958). Torna-se notável salientar que esse trata-
                       mento não avaliou que a Geografia Física representasse mais de                              "o trararnento de Davts endereçava-se, como acontece,ainda hoje,
                       10% de todos os trabalhos escritos ligados aos exames do De-                          às pessoas que possuíam pouco treinamento nas ciências físicas bási-
                       partamento de Ciências c Artes, c nenhuma outra disciplina re-                        cas, mas que gostavam de cenários e da vida ao ar livre. Como contri-
                                                                                                             buição cultural, o método de análise das paisagens proposto por Davis
                       motamente se rivalizava com a Geografia Física, de 1868 a 1876,                       c* excelente; como parcela das bases para a compreensão da Geografia
                       c cm muitas escolas tornou-sc um instrumento de educação cien-                        Humana, d inteiramente adequado. Como um ramo da ciência natu-
                       tífica, embora fosse declinando à medida que as disciplinas es-                       ral, parece superficial e inadequado;*'
                       pecíficas se iam consolidando (Stoddart, 1975).
                             Os avanços foram essencialmente de três tipos: ampliação,                  e, cm uma avaliação retrospectiva, observou-se que "para al-
                        alternativas e adendos. A escola davisiana que havia estimula-                  guns, o método davisiano tornou-se uma força reprcssora ou,
                        do os estudos sobre a cronologia denudacionál foi trabalhada                    pelo menos, um sedativo" (Chorley, Beckinsalc e Durin, 1973,
                        em maior detalhe c promoveu ampliações, porque as técnicas                      p. 753).

                                                            62                                                                                   65
p*                             As alternativas surgiram porque, em primeiro lugar, ou-        truções ambientais. O sctor da geomorfologia litorânea também
                         tros modelos sobre a evolução das paisagens estavam sendo con-       estava se desenvolvendo de forma independente das ideias davi-
                         siderados. Os resultados iniciais dos trabalhos sobre as verten-     sianas, como foi exemplificado pelo trabalho de J. A. Stcers (1948)
                         tes, com base nas ideias elaboradas por Pcnck (1924), que fo-        sobre Coastlme of England and Wales.
                         ram seguidas por Wood (1942), começaram a ser incorporados                  A impressão emanada, por volta de 1950, era a de que a
                         nas pesquisas de L. C. King, que já se encontrava trabalhando        Geografia Ffsica se estava tornando um campo de pesquisa dis-
                         nas paisagens áridas e scmi-áridas da África e publicava, cm         paratado, com poucos sintomas de estudo imegrativo dos com-
                         1953. o volume Canons oflandscape evolution (King, 1953). Na         ponentes do meio ambiente físico. Mas existiam alguns sinais.
                         revista Annals ofthe Association of American Geographers, de          Embora o mapeamento c a classificação de áreas se tornassem
                          1940 a 1950, foram publicados muitos artigos que assinalavam         aspecto dominante da climatologia, geomorfologia, pedologia
                         caminhos alternativos, incluindo as análises sobre as vertentes       e geografia das plantas, todas elas denominadas abordagens ta-
                         (Strahler, 1950a). No ano precedente, obsérvou-sc que "o geo-         xonômicas por Chorley (1978), havia algumas tentativas para
                         morfólogo pode estar profundamente interessado em questões            o tratamento das ínter-relações das características ambientais,
                         de estrutura, processo c tempo, mas o geógrafo necessita de in-       talvez mais sensivelmente na URSS. Nesse país prevalecia a in-
                         formações específicas ao longo das diretrizes de o que, onde e        fluência de Dokuchaev e da escola de ciência do solo, de modo
ted!                     quanto" (Russell, 1949, p. 3-4). Outras alternativas para a abor-     que, em 1950, L. S. Berg organizou um volume tratando das
                         dagem davisiana basearam-se em estudos realizados em outros           zonas de paisagens naturais da URSS c com as inter-relações
                          ambientes. Particularmente, a signifícância dos processos peri-      no interior de cada zona. Isso propiciou bases para tentativas
                         glaciais nas paisagens antigas começou a sct apreciada a partir       posteriores procurando integrar a Geografia Ffsica (p. ex,, Sus-
                          dos trabalhos de Bryan (1946) e foi incorporada em um quadro         lov( 1961) c também a ciência da paisagem.
                          evolutivo do ciclo periglacial por Pelticr (1950). Entretanto, a           Tais abordagens foram precedentemente tentadas cm Fo-
                          difusão de importantes trabalhos realizados no continente eu-        rest Phystography (Bowman, 1922) e também em diferentes es-
                          ropeu (Dylik, 1952; Poscr, 1947) para a literatura de fala ingle-    calas. A proposta de Wboldridge (1932), de que as pequenas ver-
                          sa só ocorreu no início dos anos sessenta. •'                         tentes individualizadas seriam os átomos a partir dos quais as
                                Os adendos à teoria davisiana foram provenientes princi-       paisagens se coastruíam, conciliava-se com informações cm ou-
                          palmente dos campos da geomorfologia glacial c litorânea. Na          tras escalas espaciais no texto do artigo influente sobre a deli-
                          geomorfologia glacial, em acréscimo ao trabalho detalhado so-         mitação de regiões morfológicas (Linton, 1951), em que se re-
                          bre áreas, realizado por geólogos especializados no Pleistoceno,      conhecia a influencia dos conceitos de sítio (Bournc, 1931) c de
                          as pesquisas sobre as flutuações dos glaciares (Ahlmann, 1948)        catcna (Milnc, 1935). Os dois últimos conceitos foram muito im-
        . , í-njr".'
       i; :.-•*• V".'V
             •'
                          e o material incorporado nos volumes Glacial and Pleistocene          portantes para o avanço nas pesquisas sobre solos e sobre as ma-
                          Geology (Flint, 1947) c The Pleistocene Period (Zcuncr, 1945)         neiras pelas quais os solos distinguidos no campo se relaciona-
                          começaram a salientar uma perspectiva desinteresse potencial          vam aos conjuntos maiores de solos c às outras características
                          para os geógrafos físicos, embora alguns pesquisadores, tais co-      ambientais. Duas outras tendências para abordagens mais inte-
                          mo W. V. Lewis, já se encontrassem estabelecidos nesse setor (Lê-     gradas sobre o meio ambiente físico já eram evidentes. Os siste-
                          wis, 1949). Várias novas técnicas tornaram-se disponíveis para         mas de terrenos (land systems) foram introduzidos como base
 .?-*• -v1*,*-.1;.                                                                               para a avaliação das características do terreno, pelo CSIRO na
 &r..^                    o estudo sobre o Plcistoccno (Zcuncr, 1946), influenciando o es-
                           tudo da Biogcografia, c cm muitos casos a análise polínica,           Austrália. Muito diferente, embora também potencialmente
 í»                        particularmente, tornou-se a principal técnica para as recons-        integrativa em sua característica, é a proposta de Langbcin

                                                         64            ?                                                       65
Implantação da Geografia Física 1850-1950
Implantação da Geografia Física 1850-1950

Mais conteúdo relacionado

Destaque

éTica empresarial como fundamento de la responsabilidad social
éTica empresarial como fundamento de la responsabilidad socialéTica empresarial como fundamento de la responsabilidad social
éTica empresarial como fundamento de la responsabilidad socialJnthan Prado Alvarez
 
Responsabilidad social y visión de futuro parte i
Responsabilidad social y visión de futuro parte iResponsabilidad social y visión de futuro parte i
Responsabilidad social y visión de futuro parte iJnthan Prado Alvarez
 
La perversiones del rey arturo
La perversiones del rey arturoLa perversiones del rey arturo
La perversiones del rey arturojanersao
 
Historia de colombia
Historia de colombiaHistoria de colombia
Historia de colombiayerson813
 
Pràctiques del tema 3
Pràctiques del tema 3Pràctiques del tema 3
Pràctiques del tema 3megaupload325
 
5 cosas sobre mi
5 cosas sobre mi5 cosas sobre mi
5 cosas sobre miee10
 
Portafolio Semana2 Yois Pascuas Rengifo
Portafolio Semana2 Yois Pascuas RengifoPortafolio Semana2 Yois Pascuas Rengifo
Portafolio Semana2 Yois Pascuas Rengifoyoispascuas
 
Presentación páxina web
Presentación páxina webPresentación páxina web
Presentación páxina webana rod
 
Cnb moduo4 diagnostico_delimitacion (3)
Cnb moduo4 diagnostico_delimitacion (3)Cnb moduo4 diagnostico_delimitacion (3)
Cnb moduo4 diagnostico_delimitacion (3)Herberth Sisay
 
Diapositivas estadística
Diapositivas estadísticaDiapositivas estadística
Diapositivas estadísticalorenatorresa
 
Trabalho talyson vicente bio
Trabalho talyson vicente bioTrabalho talyson vicente bio
Trabalho talyson vicente bioRoberto Bagatini
 
CAPITULO IV : DINÁMICA
CAPITULO IV : DINÁMICACAPITULO IV : DINÁMICA
CAPITULO IV : DINÁMICACarlos Levano
 
Propuesta para la transformacion de energia eolica a electrica
Propuesta para la transformacion de energia eolica a electricaPropuesta para la transformacion de energia eolica a electrica
Propuesta para la transformacion de energia eolica a electricasergiodtrujilloperez
 
Pasos na creacion dun texto expositivo
Pasos na creacion dun texto expositivoPasos na creacion dun texto expositivo
Pasos na creacion dun texto expositivomarat1963
 

Destaque (20)

éTica empresarial como fundamento de la responsabilidad social
éTica empresarial como fundamento de la responsabilidad socialéTica empresarial como fundamento de la responsabilidad social
éTica empresarial como fundamento de la responsabilidad social
 
Responsabilidad social y visión de futuro parte i
Responsabilidad social y visión de futuro parte iResponsabilidad social y visión de futuro parte i
Responsabilidad social y visión de futuro parte i
 
Caricaturas mário
Caricaturas  márioCaricaturas  mário
Caricaturas mário
 
La perversiones del rey arturo
La perversiones del rey arturoLa perversiones del rey arturo
La perversiones del rey arturo
 
Historia de colombia
Historia de colombiaHistoria de colombia
Historia de colombia
 
Pasos ensayo t2
Pasos ensayo t2Pasos ensayo t2
Pasos ensayo t2
 
Pràctiques del tema 3
Pràctiques del tema 3Pràctiques del tema 3
Pràctiques del tema 3
 
Tutorial para crear cuenta gmail
Tutorial para crear cuenta gmailTutorial para crear cuenta gmail
Tutorial para crear cuenta gmail
 
5 cosas sobre mi
5 cosas sobre mi5 cosas sobre mi
5 cosas sobre mi
 
Portafolio Semana2 Yois Pascuas Rengifo
Portafolio Semana2 Yois Pascuas RengifoPortafolio Semana2 Yois Pascuas Rengifo
Portafolio Semana2 Yois Pascuas Rengifo
 
Ad1
Ad1Ad1
Ad1
 
Presentación páxina web
Presentación páxina webPresentación páxina web
Presentación páxina web
 
Cnb moduo4 diagnostico_delimitacion (3)
Cnb moduo4 diagnostico_delimitacion (3)Cnb moduo4 diagnostico_delimitacion (3)
Cnb moduo4 diagnostico_delimitacion (3)
 
Diuréticos
DiuréticosDiuréticos
Diuréticos
 
Diapositivas estadística
Diapositivas estadísticaDiapositivas estadística
Diapositivas estadística
 
Trabalho talyson vicente bio
Trabalho talyson vicente bioTrabalho talyson vicente bio
Trabalho talyson vicente bio
 
CAPITULO IV : DINÁMICA
CAPITULO IV : DINÁMICACAPITULO IV : DINÁMICA
CAPITULO IV : DINÁMICA
 
OPEE - Parte III
OPEE - Parte IIIOPEE - Parte III
OPEE - Parte III
 
Propuesta para la transformacion de energia eolica a electrica
Propuesta para la transformacion de energia eolica a electricaPropuesta para la transformacion de energia eolica a electrica
Propuesta para la transformacion de energia eolica a electrica
 
Pasos na creacion dun texto expositivo
Pasos na creacion dun texto expositivoPasos na creacion dun texto expositivo
Pasos na creacion dun texto expositivo
 

Semelhante a Implantação da Geografia Física 1850-1950

Corrêa, roberto lobato regi o e organizaç-o espacial
Corrêa, roberto lobato   regi o e organizaç-o espacialCorrêa, roberto lobato   regi o e organizaç-o espacial
Corrêa, roberto lobato regi o e organizaç-o espacialpedro vergasta
 
Fichamento do livro Para ensinar e aprender geografia.
Fichamento do livro Para ensinar e aprender geografia.Fichamento do livro Para ensinar e aprender geografia.
Fichamento do livro Para ensinar e aprender geografia.readna ribeiro
 
Ciência geográfica ii
Ciência geográfica iiCiência geográfica ii
Ciência geográfica iiprofleofonseca
 
PROVA PMSP 2010 TIPO 1 - Geografia
PROVA PMSP 2010 TIPO 1 - GeografiaPROVA PMSP 2010 TIPO 1 - Geografia
PROVA PMSP 2010 TIPO 1 - Geografiaoposicaopravaler
 
Introdução à Geografia
Introdução à GeografiaIntrodução à Geografia
Introdução à GeografiaCarlos Rico
 
Bases e evolução da ciência geográfica
Bases e evolução da ciência geográfica Bases e evolução da ciência geográfica
Bases e evolução da ciência geográfica Gustavo C. Souza
 
Datacoes paleontologiaepesquisa
Datacoes paleontologiaepesquisaDatacoes paleontologiaepesquisa
Datacoes paleontologiaepesquisaPetroleoecologia
 
Fundamentos da geopolitica_geral
Fundamentos da geopolitica_geralFundamentos da geopolitica_geral
Fundamentos da geopolitica_geralVanChamma
 
Introdução a Ciência Geográfica
Introdução a Ciência GeográficaIntrodução a Ciência Geográfica
Introdução a Ciência GeográficaIvanilson Lima
 
Resumo - Introduçao a Geografia
Resumo - Introduçao a GeografiaResumo - Introduçao a Geografia
Resumo - Introduçao a Geografiaguestbb4169
 
O QUE É GEOGRAFIA? (RUY MOREIRA)
 O QUE É GEOGRAFIA? (RUY MOREIRA) O QUE É GEOGRAFIA? (RUY MOREIRA)
O QUE É GEOGRAFIA? (RUY MOREIRA)Edna Vieira
 
Breve histórico da pedologia
Breve histórico da pedologiaBreve histórico da pedologia
Breve histórico da pedologiaLinuxterra Eudes
 
Apostila de geografia 100% formatada certa
Apostila de geografia 100% formatada certaApostila de geografia 100% formatada certa
Apostila de geografia 100% formatada certaRenato Brasil
 

Semelhante a Implantação da Geografia Física 1850-1950 (20)

Ajuda
Ajuda Ajuda
Ajuda
 
Aula 01
Aula 01Aula 01
Aula 01
 
Corrêa, roberto lobato regi o e organizaç-o espacial
Corrêa, roberto lobato   regi o e organizaç-o espacialCorrêa, roberto lobato   regi o e organizaç-o espacial
Corrêa, roberto lobato regi o e organizaç-o espacial
 
unisuam_geo_geral2.ppt
unisuam_geo_geral2.pptunisuam_geo_geral2.ppt
unisuam_geo_geral2.ppt
 
Fichamento do livro Para ensinar e aprender geografia.
Fichamento do livro Para ensinar e aprender geografia.Fichamento do livro Para ensinar e aprender geografia.
Fichamento do livro Para ensinar e aprender geografia.
 
Ciência geográfica ii
Ciência geográfica iiCiência geográfica ii
Ciência geográfica ii
 
PROVA PMSP 2010 TIPO 1 - Geografia
PROVA PMSP 2010 TIPO 1 - GeografiaPROVA PMSP 2010 TIPO 1 - Geografia
PROVA PMSP 2010 TIPO 1 - Geografia
 
Introdução à Geografia
Introdução à GeografiaIntrodução à Geografia
Introdução à Geografia
 
Cosmologia
CosmologiaCosmologia
Cosmologia
 
SLIDE 1.pptx
SLIDE 1.pptxSLIDE 1.pptx
SLIDE 1.pptx
 
Bases e evolução da ciência geográfica
Bases e evolução da ciência geográfica Bases e evolução da ciência geográfica
Bases e evolução da ciência geográfica
 
Calculoda idadedos astros
Calculoda idadedos astrosCalculoda idadedos astros
Calculoda idadedos astros
 
A geografia clássica
A geografia clássicaA geografia clássica
A geografia clássica
 
Datacoes paleontologiaepesquisa
Datacoes paleontologiaepesquisaDatacoes paleontologiaepesquisa
Datacoes paleontologiaepesquisa
 
Fundamentos da geopolitica_geral
Fundamentos da geopolitica_geralFundamentos da geopolitica_geral
Fundamentos da geopolitica_geral
 
Introdução a Ciência Geográfica
Introdução a Ciência GeográficaIntrodução a Ciência Geográfica
Introdução a Ciência Geográfica
 
Resumo - Introduçao a Geografia
Resumo - Introduçao a GeografiaResumo - Introduçao a Geografia
Resumo - Introduçao a Geografia
 
O QUE É GEOGRAFIA? (RUY MOREIRA)
 O QUE É GEOGRAFIA? (RUY MOREIRA) O QUE É GEOGRAFIA? (RUY MOREIRA)
O QUE É GEOGRAFIA? (RUY MOREIRA)
 
Breve histórico da pedologia
Breve histórico da pedologiaBreve histórico da pedologia
Breve histórico da pedologia
 
Apostila de geografia 100% formatada certa
Apostila de geografia 100% formatada certaApostila de geografia 100% formatada certa
Apostila de geografia 100% formatada certa
 

Mais de paulo580

Ernest b agel ciência natureza e objetivo
Ernest b agel   ciência natureza e objetivoErnest b agel   ciência natureza e objetivo
Ernest b agel ciência natureza e objetivopaulo580
 
Colangelo geografia física
Colangelo   geografia físicaColangelo   geografia física
Colangelo geografia físicapaulo580
 
Colangelo geografia física
Colangelo   geografia físicaColangelo   geografia física
Colangelo geografia físicapaulo580
 
Um século para uma implantação 1851 1950 t003
Um século para uma implantação 1851 1950 t003Um século para uma implantação 1851 1950 t003
Um século para uma implantação 1851 1950 t003paulo580
 
Fundamentos litosfera
Fundamentos litosferaFundamentos litosfera
Fundamentos litosferapaulo580
 
Fundamentos clima introdução
Fundamentos clima introduçãoFundamentos clima introdução
Fundamentos clima introduçãopaulo580
 
Fundamentos solos
Fundamentos   solosFundamentos   solos
Fundamentos solospaulo580
 
Fundamentos desertos
Fundamentos   desertosFundamentos   desertos
Fundamentos desertospaulo580
 
Fundamentos clima
Fundamentos   climaFundamentos   clima
Fundamentos climapaulo580
 
Fundamentos ambiente glacial 24-04-08
Fundamentos   ambiente glacial 24-04-08Fundamentos   ambiente glacial 24-04-08
Fundamentos ambiente glacial 24-04-08paulo580
 
Geomorfologia ii erosão fluvial
Geomorfologia ii   erosão fluvialGeomorfologia ii   erosão fluvial
Geomorfologia ii erosão fluvialpaulo580
 
Fundamentos solos
Fundamentos   solosFundamentos   solos
Fundamentos solospaulo580
 
Fundamentos clima
Fundamentos   climaFundamentos   clima
Fundamentos climapaulo580
 
Fundamentos ambiente glacial 24-04-08
Fundamentos   ambiente glacial 24-04-08Fundamentos   ambiente glacial 24-04-08
Fundamentos ambiente glacial 24-04-08paulo580
 
Geomorfologia ii erosão fluvial
Geomorfologia ii   erosão fluvialGeomorfologia ii   erosão fluvial
Geomorfologia ii erosão fluvialpaulo580
 
Tonico apoio--_ratzel_por_tonico
Tonico  apoio--_ratzel_por_tonicoTonico  apoio--_ratzel_por_tonico
Tonico apoio--_ratzel_por_tonicopaulo580
 
Tonico aula-4
Tonico  aula-4Tonico  aula-4
Tonico aula-4paulo580
 
Tonico -vidal_-_geo_humana
Tonico  -vidal_-_geo_humanaTonico  -vidal_-_geo_humana
Tonico -vidal_-_geo_humanapaulo580
 
T5 -metodologia_da_investigação_científica
T5  -metodologia_da_investigação_científicaT5  -metodologia_da_investigação_científica
T5 -metodologia_da_investigação_científicapaulo580
 
Pierre george – a geografia ativa – problemas, doutrina e método
Pierre george – a geografia ativa – problemas, doutrina e métodoPierre george – a geografia ativa – problemas, doutrina e método
Pierre george – a geografia ativa – problemas, doutrina e métodopaulo580
 

Mais de paulo580 (20)

Ernest b agel ciência natureza e objetivo
Ernest b agel   ciência natureza e objetivoErnest b agel   ciência natureza e objetivo
Ernest b agel ciência natureza e objetivo
 
Colangelo geografia física
Colangelo   geografia físicaColangelo   geografia física
Colangelo geografia física
 
Colangelo geografia física
Colangelo   geografia físicaColangelo   geografia física
Colangelo geografia física
 
Um século para uma implantação 1851 1950 t003
Um século para uma implantação 1851 1950 t003Um século para uma implantação 1851 1950 t003
Um século para uma implantação 1851 1950 t003
 
Fundamentos litosfera
Fundamentos litosferaFundamentos litosfera
Fundamentos litosfera
 
Fundamentos clima introdução
Fundamentos clima introduçãoFundamentos clima introdução
Fundamentos clima introdução
 
Fundamentos solos
Fundamentos   solosFundamentos   solos
Fundamentos solos
 
Fundamentos desertos
Fundamentos   desertosFundamentos   desertos
Fundamentos desertos
 
Fundamentos clima
Fundamentos   climaFundamentos   clima
Fundamentos clima
 
Fundamentos ambiente glacial 24-04-08
Fundamentos   ambiente glacial 24-04-08Fundamentos   ambiente glacial 24-04-08
Fundamentos ambiente glacial 24-04-08
 
Geomorfologia ii erosão fluvial
Geomorfologia ii   erosão fluvialGeomorfologia ii   erosão fluvial
Geomorfologia ii erosão fluvial
 
Fundamentos solos
Fundamentos   solosFundamentos   solos
Fundamentos solos
 
Fundamentos clima
Fundamentos   climaFundamentos   clima
Fundamentos clima
 
Fundamentos ambiente glacial 24-04-08
Fundamentos   ambiente glacial 24-04-08Fundamentos   ambiente glacial 24-04-08
Fundamentos ambiente glacial 24-04-08
 
Geomorfologia ii erosão fluvial
Geomorfologia ii   erosão fluvialGeomorfologia ii   erosão fluvial
Geomorfologia ii erosão fluvial
 
Tonico apoio--_ratzel_por_tonico
Tonico  apoio--_ratzel_por_tonicoTonico  apoio--_ratzel_por_tonico
Tonico apoio--_ratzel_por_tonico
 
Tonico aula-4
Tonico  aula-4Tonico  aula-4
Tonico aula-4
 
Tonico -vidal_-_geo_humana
Tonico  -vidal_-_geo_humanaTonico  -vidal_-_geo_humana
Tonico -vidal_-_geo_humana
 
T5 -metodologia_da_investigação_científica
T5  -metodologia_da_investigação_científicaT5  -metodologia_da_investigação_científica
T5 -metodologia_da_investigação_científica
 
Pierre george – a geografia ativa – problemas, doutrina e método
Pierre george – a geografia ativa – problemas, doutrina e métodoPierre george – a geografia ativa – problemas, doutrina e método
Pierre george – a geografia ativa – problemas, doutrina e método
 

Último

PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptxJOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptxTainTorres4
 
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaRotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaronaldojacademico
 
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -Aline Santana
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...azulassessoria9
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdfLeloIurk1
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxferreirapriscilla84
 
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfLeloIurk1
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...azulassessoria9
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxleandropereira983288
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelGilber Rubim Rangel
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
análise de redação completa - Dissertação
análise de redação completa - Dissertaçãoanálise de redação completa - Dissertação
análise de redação completa - DissertaçãoMaiteFerreira4
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxBeatrizLittig1
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Ilda Bicacro
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números Mary Alvarenga
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfCamillaBrito19
 
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdfFicha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdfFtimaMoreira35
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividadeMary Alvarenga
 

Último (20)

PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptxJOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
 
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
 
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaRotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
 
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
 
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
 
análise de redação completa - Dissertação
análise de redação completa - Dissertaçãoanálise de redação completa - Dissertação
análise de redação completa - Dissertação
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
 
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdfFicha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
 

Implantação da Geografia Física 1850-1950

  • 1. Parte I — Antecedentes 1850-1950 Um século para uma implantação 1851-1950 A justificativa para este capítulo pode ser encontrada no fato de que compreender a Geografia Ffsica é exatamentc co- mo compreender o meio ambiente: necessita-sc de alguma ava- liação sobre como c por que o estado atual se desenvolveu. Por volta de 1850 estabeleceram-se os começos da Geografia, incluindo-se a Geografia Ffsica. Essas origens expressaram-se na fundação de sociedades geográficas c na criação de cátedras nas universidades. Nos primórdios do sc*culo muitas sociedades cien- tfficas novas foram fundadas, c a primeira Sociedade Geográfi- ca a ser estabelecida foi a da França, inaugurada cm Paris, no ano de 1821, rapidamente seguida pela da Alemanha, cm Ber- lim, no ano de 1828, c pela Royal Geographical Socicty, cm Lon- dres, em 1830. Procurando consolidar e concentrar esforços cm uma disciplina crescente, as novas sociedades foram criadas a fim de propiciar vcfculos para publicações. Sir Clcmcrfts Mark* ham, que foi um dos presidentes da Royal Geographical Society, assinalava em 1880 que, embora a Royal Society cm teoria hou- vesse publicado trabalhos geográficos desde 1662, dos 5.336 tra- balhos publicados no período de 1662 a 1880 somente 77 po- diam ser chamados de geográficos. Cada sociedade formada ten- tava ter a sua característica própria: a Royal Geographical So- cicty cfetivamcntc esteve muito ligada com as explorações, mas sua revista também foi foro para muitos debates esclarecedores (Freeman, 1980). Por volta de 1866 havia 18 sociedades gco-
  • 2. gráficas, e por volta de 1930 o número se havia elevado para cm 1945 1950, que propiciaram os fundamentos para avanços 137. As cátedras universitárias de Geografia também começa- maiores na segunda metade do século vinte. ram a ser instaladas, c, na França em 1809,. havia urna em Pa- ris, na Sorbonnc, c por volta de 1899 mais cinco já haviam sido criadas em outras universidades francesas :(Harrison Church, Influências extrínsecas 1951), bem como muitas das mais importantes universidades ger- Para se compreender devidamente o desenvolvimento da mânicas tinham um professor de Geografia. No Reino Unido, Geografia Física, é necessário inseri-la no contexto;em que o primeiro professor foi o capitão Alexander Maconochie, no essa matéria surgiu e cresceu. Esse contexto foi caracterizado Univcrsity Collcge London, cm 1833-1836 (Ward, 1960), e pos- por influências extrínsecas de dois tipos: primeiro, as de or- teriormente Halford Mackindcr foi designado para a Universi- dem geral que criaram o meio ambiente científico geral c, dade de Oxford, em 1887, e Yule Oldham, para a de Cambrid- por isso, afetaram as atitudes e abordagens na Geografia Físi- gê, em 1893. Nos Estados Unidos, Arnold Gúyot tornou-se o pri ca; segundo, as de conotação teórica e factual específicas que meiro professor de Geografia, quando foi indicado, em 1854, se realizaram por meio das disciplinas conexas e, então, propi- para a Universidade de Princcton, e, antes de 1900, 12 universi- ciaram a construção de blocos para pesquisa e investigação dades americanas ofereciam cursos de Geografia, embora nem na Geografia Física. :''',,!• todas propusessem a cadeira como curso permanente em seus j -, '..-'•', currículos, sendo a Geografia Física frequentemente ensinada Uniformitarismo nos departamentos de Geologia (Tatham, 1951). À medida que Talvez a influência geral mais persistente sobre, a; Geogra- essas cátedras iam sendo criadas, a presença da Geografia Físi- fia Física c especialmente sobre a Gcornorfologia, haja sido a ca podia ser muito influente, e, na Alemanha, entre 1905 c 1914, gradual aceitação da Theory of tke Earth, publicada cm dois a Fisiografia era eminente por causa da influência de Penck na volumes por James Hutton, cm 1795, e subsequentemente mais prestigiosa cátedra na Universidade de Berlim (van Valkenburg, bem esclarecida por Playfair (1802) cm sua Illustraiions ofthe 1951). Huttonian Theory of tke Earth. Essa teoria rejeitava as forças A expansão não ocorreu de modo uniforme no último sé- catastróficas como explicações para o meio ambiente e deu ori- culo, a partir de 1850, mas esteve sujeita a diversos controles gem ao surgimento da escola do Uniformitarismo, na qual uma que aceleraram ou retardaram o seu desenvolvimento nos dife- contínua uniformidade dos processos existentes era considera- rentes pafscs. Os detalhes das tendências em desenvolvimento da a chave para a compreensão da história da Terra. A fase ne- necessitam ser vistos cm relação à influência de indivíduos ou cessária para suplantar os catastrofistas c aqueles tais como o grupo, c a fundação do Instituto de Geógrafos Britânicos, cm deão Buckland que acreditava que o mundo começou no ano 1933, foi a resposta de um grupo de indivíduos a uma necessi- 4004 a.C. fornece uma história fascinante, adequadamente tra- dade então percebida (Wise, 1983). A vida, breve, ainda que tada por Choricy, Dunn e Bcckinsalc (1964). Eles também de- de umjournal of Geomorphology (1938-1942) foi, de forma se- monstraram como Charles Lycll, que publicou um livro sobre melhante, o resultado de esforços de um grupo de entusiastas, os Principies of Geology, cm 1830, c veio a ser considerado o incluindo D. W. Johnson. A abordagem sumária do progresso pai do Uniformitarismo, também contribuiu para a aceitação observado entre 1850 c 1950 está sendo proposta primeiro para da doutrina huttoniana, embora Lycll posteriormente não subs- considerar as influências sobre a Geografia,-quer sejam extrín- crevesse todas as implicações dessa teoria. secas ou intrínsecas, e depois para verificar a consolidação que O Uniformitarismo não somente substituiu as ideias catas- se observou de 1850 a 1945, e as atitudes e abordagens veiculadas tróficas sobre a formação das paisagens, mas também díssc- . : , - • ' i 34 35
  • 3. minou a ideia de que "o presente é a chave do passado". Embo- ra essa visão tenha sido muito satisfatória quanto ao fato de a lhante à exercida por Davis no campo da GcomorfolOgia, pro- superfície terrestre atual propiciar os processos e os mecanismos pondo a sucessão das plantas como "o processo universal de para se compreender o passado, não se deve pressupor que as desenvolvimento das formações... a história da vida das taxas de operação dos processos contemporâneos sejam a chave formações-clfmax" (Clements, 1916). A similaridade concei- para o passado. Indiscutivelmente, a noção de uniformitarismo tuai entre a sucessão das formações vegetais e o ciclo de erosão chegou a exercer importante influência na'Geologia c também foi exposta por Cowlcs (1911), que produziu uma "ecologia fl- na Geografia Física, rnas mais recentemente há várias sugestões siográfica" amalgamando a gcomorfología davisiana c a ecolo- considerando que a doutrina foi tomada de forma exagerada. gia clementsiana (Stoddart, 1966). Em segundo, a ideia de Então, Sherlock (1922) chegou a essa conclusão como resultado organização emergiu quando as íntcr-rclaçõcs e conexões en- das suas considerações sobre a amplitude dos efeitos das ativi- tre todos os seres vivos e seu meio ambiente encontraram rele- dades humanas, localizando o homem como agente geológico vância particular junt aos pesquisadores europeus que esta- e também como agente biológico (ver capítulo 6), vam interessados no estudo das estruturas e funções das comu- í nidades e, eventualmente, na ideia do ecossistema, como ex- Evolução posta por Tinsley (1935). Essa influência foi particularmente Por volta do final da década de 1850 a atenção dos geólo- notável para o estudo de regiões, e nas décadas iniciais do gos e dos geógrafos físicos potenciais estava ;longe de considerar século vinte a ideia de unidade orgânica temporariamente ser- as implicações do uniformitarismo^ Estas surgiram devido a uma viu como tema unificador. A terceira, de luta e.seleção, e outra influência, que transformou totalmente o conjunto da Geo- a quarta ideia, de aleatoriedade e chance, não tiveram reflexo grafia Física, exercida pela obra de Charles Darwin, publicada claro c imediato na Geografia Física, pois o darwinismo foi cm 1859, A origem das espécies. A noção de evolução subse- interpretado em sentido mais determinfstico do que probabi- quentemente se difundiu da esfera biológica para a física, so- lístico. A única contribuição da teoria de Darwin, a da varia- cial c mental, c no primeiro enunciado do .ciclo de erosão, em ção aleatória, foi negligenciada nos círculos geográficos (Stod- 1885, Davis denominou-o "ciclo da vida". Curiosamente, Harts- dart, 1966) e realmente não aparece nos trabalhos ícitos por hornc (1939, 1959) não avaliou detalhadamentc o impacto da geógrafos físicos senão por volta dos anos. O efeito da teoria teoria da evolução sobre a Geografia, a despeito do fato de a da evolução foi impor à Geografia Física uma perspectiva his- obra de Darwin ter sido provavelmente o livro mais influente tórica, que veio a ser a influência predominante na Gcomorfo- do século dczcnove, sendo um daqueles de; tremendo impacto logia, nos estudo dos solos e na Biogcografía, c também en- sobre o pensamento social c político c a Geografia. O impacto contra paralelos no estudos de Climatologia por, pelo menos, sobre a Geografia foi bem analisado por Stoddart (1966), que cem anos. Talvez tenha sido a força combinada do uniformita- distinguiu quatro componentes. Primeiro, foi a ideia da mudança rismo e da evolução que encorajou algumas das mais obscuras através do tempo, que teve reflexos nas atitudes evolutivas para manifestações da abordagem histórica. o estudo das formas de relevo, seguindo os estudos do próprio Darwin de 1842 a respeito da evolução das ilhas de coral, e foi Exploração e pesquisa especialmente influente cm relação ao cicloidc erosão proposto Uma terceira influência extrínseca geral ocorreu pelo fato por Davis, Também na geografia das plantas c na ecologia hou- de que o meio ambiente terrestre ainda estava sendo sujeito às ve influência semelhante, tal como foi exercida por Clements, explorações no século dezenove c até mesmo cm pleno século um homem que obteve na ecologia das plantas posição scmc* vinte. Os resultados das expedições e explorações geralmente se constituíram cm bases para novas informações, que puderam, 36 37
  • 4. então, ser incorporadas à Geografia Física. Ao fazer uma aná- lise dos cento c cinquenta anos iniciais da Royal Geographical de pesquisas que forneceram dados básicos c documentação pa- Society, Freeman (1980) observou que os proeminentes propó- ra que se processasse a Geografia Física. No decorrei das pesqui- sitos primeiros da sociedade foram as explorações e a constru- sas geológicas foram desenvolvidos numerosos conceitos impor- ção de mapas. É importante lembrar que as explorações não tantes, e os relatórios e memórias do Geological Survey ainda são somente forneceram dados a respeito de áreas até então desco- testemunhas adequadas sobre a habilidade pcrceptiva dos anti- nhecidas, mas também outros, adicionais, sobre áreas conhe- gos geólogos. Outros aspectos do meio ambiente físico só foram cidas c salientaram que a descrição do meio ambiente é tarefa mapeados ou monitorados muito mais recentemente na Grã- dependente do tempo. Desse modo, foi possível reconstruir o Brctanha, e o levantamento nacional dos solos data de 1949, en- que se conhecia sobre o país dos Bourke, na Austrália, com quanto o levantamento da vegetação foi incorporado aos estudos n/veis diferentes de informações detalhadas, recuperando as de uso do solo em 1930 e 1960, primeiro e segundo levantamen- fases de 1866 e 1956'(Hcathcote, 1965). As explorações foram tos. Na Grã-Bretanha, a monitoração do meio ambiente inclui importantes fatorcs de estímulo ao progresso de setores parti- registro permanente da altura das marés desde 1860 e registros de culares de estudo, e a análise das ilhas de coral foi iniciada precipitação desde 1677, cm Burnley, c da descarga contínua do mais cedo por causa das viagens de Charles Darwin (1842) Tamisa desde 1883. Todavia, por volta de 1935-36 Havia somente c J. D. Dana (1853 e 1872). 28 postos fluviométricos na Grã-Bretanha, quantidad^ue se ele- A teoria glaciaria veio a ganhar consistência por causa de vou para 81 em 1945-53. Essa quantidade de postos cresceu abrup- viagens feitas a numerosas áreas, es ta b ele cê rido-se a ideia de que tamente a partir de então, de modo que existiam aproximadamen- os glaciares, cm vez do diluvianismo ou açko dos icebergs, po- te 1.200 cm 1975. No período de 1899-1935 cerca de metade da deriam explicar aspectos e depósitos das paisagens glaciadas. área continental dos Estados Unidos já era coberta por mapas de L. Agassiz c De Charpcntier, conjuntamente, sedimentaram o solos (Barnes, 1954), e por volta de 1950 o Wcathcr Burcau norte- caminho para a teoria glacial. Em geral, aá explorações propi- americano tinha 10.000 estações regulares mensurando as preci- ciaram familiaridade com um novo ambiente, estimulando dessa pitações. As medições sistemáticas e contínuas das vazões dos cursos maneira novas ideias c opiniões. Assim, o$ exploradores do oes- de água começaram em 1900, e a rede básica de postos fluviomé- te americano, incluindo John Wcslcy Powell, Grovc K. Gílbert tricos foi estabelecida no período de 1910 a 1940. P0rvottadel950 t c C. E. Dutton, foram notáveis c forneceram materiais c ideias as observações regulares eram feitas cm cerca de 6.000 locais. Es- que posteriormente vieram a ser incorporadas na Geomorfolo- se crescimento da monitoração ambiental salientou como é recente gia, sempre via o ciclo de erosão (Chorlcy, Dunn c Bcckinsalc, a aquisição de dados sobre o meio ambiente físico, c pôr essa ra- 1964). Também se pode afirmar que "desde o tempo de Lyell zão o advento de novas técnicas para a colcta c análisc'dos dados nenhum novo corpo de pensamento tinha alcançado um efeito (capítulo 10) propicia fases estimulantes para a Geografia Física. imediato sobre o pensamento gcomorfológico em geral.,, par- Assinala-se o desenvolvimento recente da monitoração ambien- ticularmente sensível nos Estados Unidos...!Muitos estudos de tal , porque uma estação automática para a medição do tempo foi paisagens começaram prontamente a admitir a força da erosão mostrada por Robert Hookc, cm 1679, na Royal Society, c os pri- subaérca" (Chorlcy, Dunn e Bcckinsalc, 1964). meiros registros sobre a vazão dos rios incluem as medições feitas O desenvolvimento das instituições de pesquisa também co- para o Rio Elba, em Magdcburgo, em 1727-1869 (Biswas. 1970). laborou de modo significante como fonte dc^dados para a Geo- grafia Física. Na Grã-Brccanha, a fundaçao;do Ovdnance Sur- Conservação do mzio ambiente vcy, cm 1795, c do Geological Survcy, em 1801, foi marco inicial O interesse pela conservação do meio ambiente começou na metade do século dezcnove, mas teve pouca influencia na 38 39
  • 5. Geografia Física até o século, tendo recebido pouca atenção por parte dos geógrafos. O início do movimento conservacionista ge- amplitude na referida época, por causa da ausência de interes- ralmente atribuído a Gcorgc Perkins Marsh, em 1864, com o se pelo estudo dos processos das paisagens. Uma série de publi- livro Man and Nature (Mumford, 1931). Esse livro foi planeja- cações editadas pelo Departamento de Agricultura dos Estados do como um "pequeno volume mostrando que, enquanto ou- Unidos também exerceu grande influência nas décadas prece- tros pensam que a Terra modela o homem, na verdade o ho* dentes aos anos cinquenta, c essas fontes de informação factual mcm atua sobre a Terra", e também, nas palavras de Marsh, incluem os livros Soils and Men (Bennett, 1938) e Climate and Men (Kincer et ai, 1941). para "sugerir a possibilidade e a importância da restauração das harmonias rompidas e maneiras de se melhorar as regiões des- Condições específicas gastadas c exauridas; e, incidentalmcnte, ilustrar a doutrina de Torna-se algo artificial separar as influências intrínsecas que o homem é, tanto em espécie como cm grau, a maior força das externas, particularmente no século dezenove, quando nem entre todas as formas de vida animada, que como ele são ali- sempre era claro especificar se um determinado cientista era mentadas na mesa farta da natureza". Esse livro, que inclui a por si mesmo um geógrafo físico ou não, A delimitação com Geografia. Física em seu subtítulo, demonstrou grande impacto outras disciplinas mostrava fronteiras frouxas porque não so- na maneira como o homem visualiza e usa a terra (Lowenthal, mente nos Estados Unidos muitos geógrafos físicos estavam vin- 1965), mas, no capítulo 6, mostraremos que, muitos anos an- culados aos departamentos de Geologia, mas também na Ale- tes, a Geografia Física já realizava e utilizava plenamente a orien- tação proposta por Marsh. manha von Richthofcn, que era seguidor de Humboldt e Rit- ter, possuía treinamento como geólogo, e Ratzel veio para a Nas décadas seguintes, as experiências sobre a sensibili- Geografia após ter sido treinado inicialmente em Geologia, dade de alguns meios ambientes estimularam investigações, or- Zoologia e Anatomia Comparativa. Nas universidades britâni- ganizações e publicações que por sua vez também propiciaram cas, geólogos, como A. E. Truemaa (Swansea), O.;T. Jones informações sobre os efeitos do uso do meio ambiente. Assim, (Cambridge), J. K. Charlesworth (Belfast) e - A. Wood alguns dos mau antigos detalhes sobre a geografia física da (Aberystwyth), realizaram colaborações que influenciaram mui- China, que foram publicados no ocidente,; tendiam a focalizar tos geógrafos físicos, particularmente os geomorfólogos. os problemas da erosão nas terras loéssicas na bacia média do Acrescentem-se as contribuições advindas dos cientistas de or- Rio Amarelo, o que foi mencionado no livro Rape oftke Earth ganizações, como o Gcological Survey, o Mctcorological Office (Jacks c Whytc, 1939), embora muitos dos exemplos citados e o Soil Survcy, em.muitos países, suplementados por : um gran- nesse volume mostrassem casos do Mediterrâneo, Europa, Ame- de grupo de interessados amadores, todas cias propiciando con- ricas do Norte c do Sul, África, Austrália e Nova Zelândia. dições específicas para o avanço da Geografia Física. A despei- Uma série de outros livros foram subsequentemente publica- to dos problemas de sclcção, torna-se necessário identificar dos na década de 30 nos Estados Unidos,; como resultado da algumas das condições específicas que durante esse período experiência da erosão dos solos produzida pela importação de foram adotadas pela Geografia Física. métodos agrícolas do Velho Mundo em ambiente do Novo Mun- Nas ciências do solo vcrificaram-se importantes progressos do, descrevendo as medidas propostas para tratar os proble- feitos pela escola russa de ciência do solo, então liderada por mas da erosão que então surgiam (Bcnnett, 1938). É paradoxo V. V. Dokuchacv. A percepção do solo que prevalecia havia si- curioso que os principais problemas da erosão dos solos não do influenciada pelos químicos da agricultura, tais como J. von tenham atraído a atenção dos geógrafos físicos, cm qualquer Liebig, na Alemanha, que desenvolveu a denominada teoria da dustbin, que considerava o solo de maneira estática, como um 40 41
  • 6. sistema fechado no qual podcr-sc-ia simplesmente substituir aqui- lo que era retirado pela produção agrícola* Essa noção de solo quando Jenny publicou o livro Factors ofSoil Formatipn e usou como uma película, independente do que estivesse tanto acima a noção central de que qualquer característica do solo (S) era como abaixo, foi superada por uma visão de solo que o consi- uma função do clima (C), organismos (O), relevo (E)i material derava como o produto de fatores da formação de solos e, jun- rochoso (M) e tempo (T), assim como de outros fatores não es- pecificados, na fórmula: tamente com seus alunos, notadamente Sibiftesev (1860-99), Do- kuchacv tornou-se o responsável pela teoria zonal dos solos, pu- blicada em 1900. Essa teoria zonal produziu a ideia de que os S = (C, O, R, M, T,...) solos zonais eram afetados principalmente pelo clima; os intra- zonais, por outros fatores, tais como hidrologia, tipos de rochas Na Geomorfologia as influências naturalmente'foram de- ou topografia; e os solos azonais eram aindd imaturos e não ti- rivadas particularmente da Geologia, c aqui o impacto dos de- senvolvimentos verificados na Geofísica foi simplesmente notá- nham tido tempo suficiente para se desenvolver em um dos dois vel. A teoria da deriva continental, exposta por Wegcncr em outros tipos. Essa concepção de amplas áreas de solos, zonais 1924, intrigou os geógrafos físicos, embora essa teoria juntamente e relacionadas aos amplos padrões do climaie da vegetação, foi com a das formações de montanhas e atividade sísmicaSnao che- um desenvolvimento natural frente ao embasamento da distri- gou a fornecer grande desenvolvimento. As outras'influências buição praticamente latitudinal do meio ambiente físico da extrfnsecas-sobre a Geomorfologia talvez estivessem mais dirc- URSS. Outros cientistas russos dedicados ao estudo dos solos, tamente ligadas com a Geologia, especialmente as relacionadas tais como K. D. Glinka (1867-1927), distinguiam os solos ajustá- ao progresso de mapeamento e levantamento geológico, à elu- veis às influências climáticas como ectodinamórficos, enquanto cidação da estratigrafia e às maneiras pelas quais os últimos es- os da classe endodinamórficos possuíam características ineren- tágios da história terrestre, particularmente os do Cenozóico, tes que lhes possibilitavam resistir, ou modificar-se menos, às estavam sendo estabelecidos. Na Geomorfologia, muitas das in- influências dos fatores externos. fluências desse período estavam sendo canalizadas por intermédio Houve um lapso de tempo até que as ideias dos cientistas do ciclo de erosão e da geomorfologia davisíana; . t russos sobre a formação dos solos se difundissem na Europa oci- Os estudos da atmosfera receberam grande impulso com dental e na Amdrica do Norte, onde o solo continuava a ser con- os estímulos provindos do Instituto Meteorológico de : Bergen, siderado sob a perspectiva geológica. Esse atraso na difusão foi c já foi assinalado que poucos grupos haviam chegado até en- sintonizado pela tradução feita por C. E Marbut, então chefe tão a dominar um campo científico tão completamente como do Soil Survey norte-amcricano, baseada na edição alemã do o grupo de Bergen (Harc, 1951a) conseguiu. Estimulados pela trabalho de Glínka, de 1914, mas só publicada cm 1927. Mar- deficiência de informações para a zona da guerra de'1914-1918 but cncontrava-sc então cm posição privilegiada para juntar as e pela densa rede de estações que então fora criada, especial- idíias russas c as americanas c publicou um livro sobre os solos mente na Noruega, esse grupo se colocou fundamentalmente dos Estados Unidos, cm 1935, no qual reconciliava as necessi- na vanguarda do mapeamento sobre o tempo. Os temas cen- dades de uma classificação nacional com a escala das pesquisas trais da escola de Bergen basearam-se na consideração de que de campo, bem como escreveu numerosos artigos relacionados a atmosfera e composta de grandes corpos de ar relativamente com os solos para os Annah ofthe Association of American Geo* homogéneos, separados por fronteiras suavemente inclinadas ou graphers. A ênfase colocada pela escola russa sobre os fatores superfícies frontais. A história de vida de um ciclone de onda da formação dos solos só foi plenamente utilizada em 1941, frontal foi desenvolvida por J. Bjerkness, c em 1928 c,1938 Bcr- geron propôs uma classificação das massas de ar que propiciou 42 43
  • 7. as bases da climatologia dinâmica. A possível descrição expli- cativa dos climas mundiais em função da teoria das massas de de plantas ao longo do tempo c o ciclo de vida de um organis- ar não foi desenvolvida, para prejuízo dos geógrafos físicos (Hare, mo (Harrison, 1980). A sequência do desenvolvimento da vege- 1951a). Diversas classificações climáticas foram propostas nesse tação foi visualizada por Clements como realizada por trajctó- período, incluindo as de Koepeen, datadas de 1900-1936, e a rias específicas e envolvendo cinco fases: fase l — nudação, a abordagem para uma classificação racional proposta por criação inicial de uma área desnuda; fase 2 — migração, a che- Thornthwaitc (1948). De signifícância para a climatologia fo- gada das sementes de plantas; fase 3 — ecesis, o estabelecimen- ram os avanços realizados no campo da climatologia das mas- to das sementes de plantas; fase 4 — reação, competição entre sas de ar (p. ex., Lamb, 1950; Belasco, 1952), mas as linhas in- as plantas estabelecidas e os efeitos que elas têm sobreiO habitat corporadas nessas abordagens só muito mais tarde foram tra- local; fase 5 — estabilização, quando as populações de espécies balhadas pelos geógrafos físicos. Os estudos sobre a atmosfera atingem condição final cm equilíbrio com as condições do ha- também foram incrementados pelo advento das radiossondas, bitat local c regional. Durante essa sequência evolutiva da ve- possibilitando que pequenos transmissores de rádio carregados getação há uma série de estágios transicionais denominados se- por balões pudessem registrar informações de alturas superio- res, c o equilíbrio final constitui a vegetação-clírnax.ips biólo- res a 18km, de modo que as cartas sinóticas do ar superior e gos e os biogeógrafos devotaram muita atenção ao conceito de a signifícância das investigações da camada atmosférica supe- sucessão, tendo sido diversos aspectos salientados, tais como a rior começaram a receber interpretação ligada com a compreen- distinção entre sucessão primária, que é a sucessão sobre novas são das situações sinóticas. áreas desnudas, e sucessão secundária, que se desenvolve ,em áreas O tratamento do balanço hídrico, por Thornthwaite (1948), que anteriormente já suportaram vegetação e onde a atividade foi um dos marcos importantes a influenciar o desenvolvimen- humana ou azares naturais modificaram a vegetação original to da Hidrologia. O volume elaborado pôr Mead (1919) foi e iniciaram, a sucessão secundária. Harrison (1980) sugeriu que um dos primeiros livros ligados à Hidrologia. Embora já exis- a visão inicial da sucessão tem sido acompanhada, mais recen- tissem trabalhos práticos, como o Manual] of Hydrology, de temente, por uma perspectiva que considera a sucessão como Beardmorc (1851, 1862), nessa época ainda hão se possuía pa- um processo resultante da reposição planta por planta e onde ra essa área tratamento positivo e coerente. A ênfase sobre os padrões gerados por esse processo de reposição possuem pro- o balanço hídrico tornou-sc fator importante para o desenvol- priedades estatísticas regulares. Whittakcr (1953) salientou a sig- vimento ocorrido no século vinte, c na América do Norte bases nificància evolutiva da sucessão c considerou o clímax como um importantes haviam sido fornecidas por Horton (1932, 1933, padrão de abundância de espécies que é localmente constante, 1945) c por Sherman (1932), que iniciaram a teoria da unida- mas que varia de lugar para lugar. Harrison (1980) concluiu que de hidrográfica. essa perspectiva é aceita por muitos biogeógrafos. Embora ini- Na Biogcografia, influência fundamental foi a exercida por cialmente se pensasse que a comunidade-clfmax fosse controla- Clcments (1916), por meio da proposta sobre aisucessão das plan- da pelo clima, subsequentemente accitou-sc a ideia de que as tas. A abordagem dinâmica para a ecologia incorporou o con- comunidades-clímax são relativamente permanentes e estáveis, ceito de vcgetação-clfmax, alcançado pelas comunidades vege- estando ajustadas a um contexto particular de condições am- bientais c bidticas. tais que passaram por todas as fases de sucessão e chegaram a atingir estado de equilíbrio com o clima da^ região. As ideias A separação da ecologia em auto-ccología, que trata das iniciais de Clcments propiciaram condições para uma analogia relações ambientais das plantas individuais, e sinecologia, que algo insatisfatória entre o desenvolvimento de uma comunidade se preocupa com as relações ambientais das comunidades de plantas, também foi muito importante. O conceito de ccossis- 44 45
  • 8. >*- tema, desenvolvido por A. G. Tanslcy em 1935, veio a exercer grande influência no tocante à abordagem sistémica. Em sua céu um ímpeto enorme com o advento da obra Origèjas das Es- primeira proposição, Tanslcy considerou o ecossistema como pécies, de Darwin, c da evolução. ' composto de duas partes, designadas como bioma, que era Nos anos vinte surgiu cm Viena um grupo de cientistas, o complexo total de organismos como uma: unidade sociológi- conhecidos como positivistas lógicos, que ampliou os princípios ca, incluindo plantas e animais vivendo cònjuntamente, c o fundamentais do positivismo, argumentando que a lógica for- habitat ou meio ambiente físico. Tansley considerou todas as mal e a matemática pura, de maneira semelhante às evidências partes de um ecossistema como fatores inleratuantes, e que, dos sentidos, propiciam conhecimentos que por sua versão opos- em um ecossistema maduro, se encontram;aproximadamente tos a todo fenómeno inverifícável. O princípio de verificação foi em equilíbrio. Esse conceito tornou-se muito significativo por- central para o trabalho dos positivistas lógicos, e subsequente- que poderia ser aplicado a diferentes escalas c porque focali- mente isso promoveu relevante debate na Geografia Física. En- zava atenção sobre os organismos, o meío ambiente, a circula- tretanto, Comte e o positivismo não figuram na história do es- ção de matéria e energia e sobre a organização estrutural do tudo das formas de relevo (Chorley, Dunn e Beckinsale, 1964), sistema. Propiciava, portanto, um esquema conceituai para provavelmente rcflctindo o fato de que a abordagem, jque se tor- a Biogeografia, aplicável a qualquer escala desde a biosfera nou tão fundamental em ciência, não era usada4ireta e expli- até o indivíduo, fornecendo uma base padrònizável em termos citamente pelos geógrafos físicos e também o fato de que muito de equivalente energético para comparar comunidades dife- da influência em Geografia pode ter sido introduzido na disci- rentes c incorporava a atividade humana como um compo- plina como um todo, porque levou ao debate determinista- nente integral (Tivy, 1971). possibilista (Harvey, 1969). Isso porque Comte acreditava que não somente as ciências naturais deviam procuradas leis da na- Embasamento positivista tureza, mas também que a investigação científica rd a sociedade A influência do positivismo no mundo científico foi extraor- descobriria as leis que governam a sociedade.. j >.: dinariamente sensível, durante o período dos últimos cem anos. Muito do desenvolvimento da ciência foi baseado sobre me- Estabelecido por Augusto Comte durante a década de 1830, na todologia que requeria o desenvolvimento de hipóteses por meio França, como um conceito, foi considerado como substituto da de modelos, teorias ou leis e o uso de dados empíricos para se especulação livre ou dúvida sistemática então definido por Re- realizar a verificação dessas hipóteses, de modo que, em 1953, nc Descartes (1596-1650) c caracterizado por Comte como prin- Braithwaitc expressava a função da ciência: cípio metafísico (Holt-Jcnsen, 1981). As abordagens positivistas , ut? forneceram os fundamentos para o que veio a ser amplamente "estabelecer leis gerais recobrindo o comportamento dê eventos em- conhecido como método científico, dependente da construção píricos, com os quaís ã referida ciência está preocupada, e possibilitando- de generalizações empíricas, enunciados com'características de nos dessa maneira conectar nosso conhecimento sobre os eventos co- lei, que relacionam o fenómeno que pode ser reconhecido em- nhecidos separadamente c estabelecer previsões confiáveis sobre even- tos ainda desconhecidos". piricamente (Johnston, 1983b). Como o positivismo depende do uso cfc generalizações empíricas, também abrange o princípio A abordagem positivista, embora não devidamente assimi- de verificação porque demanda o teste das hipóteses que foram lada na Geografia Física senão no findar dos anos cinquenta, na propostas, levando tanto à verificação como à falsificação. O década de 1960 já se encontrava sob cerrada artilharia:no mun- objctivo é estabelecer íeis gerais que não sejam específicas a um do científico. Entretanto, o advento da mecânica e da teoria quân- determinado conjunto de circunstâncias, e o positivismo conhe- tica, embora já iniciadas nos anos vinte, só começou a tcrinfluôncia análoga na Geografia Física meio século depois. 46 47
  • 9. Influencias intrínsecas ii Ramsay, Geikic, juntamente com os geólogos que trabalhavam Numerosas influências desenvolveram-se no âmago da Geo- na região ocidental dos Estados Unidos, serviu para estabelecer grafia, no decorrer de 1850 a 1950, c essas influências tornaram- a temática que Davies (1969) descreveu como a "doutrina fluvial", se objcto de explicação e especulação desde 1950. De acordo com que reconhecia a eficácia do escoamento das águas na escultu- Harvey (1969), Hartshorne (1959) realizou análise desse assunto ração das formas de relevo. Embora conceitos tão fundamentais, concluindo que as teses kantianas foram utilizadas por Hetner a como a efetividadc da erosão glaciaria e da erosão fluvial, fos- fim de estabelecer que a Geografia, juntamente com a História sem gradualmente aceitos no século dezcnove, o processo de acei- e outras disciplinas, era uma ciência ideográfica mais do que no- tação geralmente demorava várias décadas e alimentava candentes motética. A visão excepcional is ta cm Geografia derivava de Kant debates. No caso da erosão glaciaria, uma proposição conside- (1724-1804) c levou a Geografia a ser caracterizada como um ponto rava que o glaciar não erodia mais a paisagem, mas atuava do de vista mais do que uma disciplina preocupada com área de es- medo modo que o creme podia erodir sua embalagem! tudo específica, e também relacionada com coléção única de even- Em terceiro lugar, situava-se a influência proveniente do tos ou objctos mais do que com o desenvolvimento de generaliza- treinamento c da experiência dos primeiros geógrafos; ffisicos. Di- ções a propósito de classes de eventos. versos exemplos já foram mencionados, assinalando que geógrafos Se a influência da visão cxcepcion alista sobre a Geografia Ff- físicos foram treinados em uma disciplina e posteriormente se sica era mais implícita do que explícita, a influência maior da Geo- transladaram para c ajudaram a desenvolver a Geografia Físi- grafia como um todo provinha do ideal regional. Essa influência ca. Assim, Marion Newbiggin teve formação de bióloga. Na fez com que a pesquisa em Geografia Física se;dirccionasse para América do Norte, C. F. Marbut (1863-1935), que escreveu nu- áreas específicas c, na primeira metade do século vinte» três exem- merosos artigos em periódicos geográficos e foi presidente da plos evidentes dessa influência podem ser fornecidos por Stream Associação dos Geógrafos Americanos, ocasião em que profe- SculptureontheAflanticSlopeQohn&on, 1951), Structure, Sur- riu o discurso "Ascensão, declínio c revitalização do maltusia- face and Drainage in South East England (WoOldridgc e Linton, nismo cm relação à Geografia c às características dos solos", foi 1939) e GeomorpHohgy ofNew Zealand (Cotton, 1922). inicialmente um cientista do solo treinado cm Geologia e reali- Uma segunda influência interna da disciplina estava relacio- zou notáveis contribuições à ciência do solo. nada com a experiência nas áreas de pesquisa de campo. Ela emer- Torna-se difícil imaginar, na segunda metade do século vin- gia por causa da associação dos geógrafos físicos com a explora- te, como o desenvolvimento da Geografia Física nos primeiros ção de determinadas partes do mundo, e os geógrafos físicos ale- cinquenta anos do século foi sensível ao problema dá difusão mães, por exemplo, envolveram-se nas pesquisas sobre a África de ideias. Os idiomas foram uma barreira à difusão dos conhe- do Sul, especialmente no Calaari, na África Oriental e em Tien cimentos, de maneira que os trabalhos da Escola Russa de Ciên- Shan, entre muitas outras áreas. Tais experiências ultra-marinas cia do Solo, formulada no final do século dezcnove, somente al- por vezes surgiram cm virtude das relações coloniais. Os geógra- cançaram os Estados Unidos por volta de 1925 (Marbut, 1925) fos físicos franceses foram ativos na Roménia, Alpes e Europa Cen- por meio de uma tradução feita de acordo com a tradução ale- tral. As experiências de campo também serviram para a elabora- mã, publicada em 1914, do trabalho de K. D. Glinka. A barrei- ção de teorias na Geografia Física, com repercussões internas. As- ra linguística também é exemplificada pela demora verificada sim, a cfetividade erosiva dos glaciares sobre muitas regiões euro- na difusão das ideias de Penck. Embora seu modelo tivesse sido peias foi estabelecida por L. Agassiz. A experiência acumulada inicialmente publicado em 1924, poucas apreciações efetivaa so- por vários pesquisadores de campo, incluindo Playfair, Jukes, bre sua importância foram realizadas até que se tornasse dispo- ms- nível uma tradução, publicada em 1953 (Czcch c Boswell, 1953), 48 49
  • 10. c cm virtude da dificuldade do conteúdo e da publicação em século vinte pela separação em Gcomorfologia, Climatologia e língua alemã. Por vezes, o intercâmbio de visitas e conferencis- Biogeografia. As definições inseridas na tabela 2.1 exemplifi- tas acelerou a difusão de ideias, c o período em que W. Morris cam essa tendência. Davis permaneceu como professor na Universidade de Berlim, Inquestionavelmente, W. M. Davis (1850-1934) exerceu a cm 1908-1909, cm muito contribuiu para introduzir suas ideias influência predominante sobre a Geografia Física nesse perío- na Europa Central e também motivou a publicação de suas do. Deve-se salientar que, embora recentemente suas ideias ideias, cm uma obra de excelente clareza (Davis, 1912). De for- estejam sendo discutidas e colocadas numa perspectiva muito ma semelhante, Brown e Waters (1974) salientaram que a visita mais abrangente da matéria, o estudo da Geografia Física te- de Henri Baulig e suas conferências proferidas em Londres, ern ria avançado muito mais lentamente caso ele não tivesse escri- 1935, com subsequente publicação (Baulig, 1935), desencadea- to mais de quinhentos artigos e livros. O enfoque essencial ram fluxo prodigioso de estudos sobre os níveis marinhos pre*- da geomorfologia davisiana baseava-se no fato de propiciar glaciais c glaciais na Grã-Bretanha, assunto que ocupou mui- um ciclo de erosão normal, de modo que se tornava possível tos geógrafos físicos britânicos por cerca de pelo menos vinte e classificar qualquer paisagem de acordo com o estágio alcan- cinco anos. çado no ciclo de erosão, fosse juventude, maturidade ou senili- dade. Concomitantemente, oferecia uma trilogia para a com- A Geografia Física por volta de 1945: o impacto de W. M. Davis preensão da paisagem em função da estrutura, processos c estágio ou tempo alcançado em um ciclo de erosão. Sc o ciclo No período de 1850 a 1945 predominou a tendência de se normal resultava do trabalho das chuvas e rios, outros ciclos publicar material difuso, cm que se notava a ausência de abor- diferentes foram delineados para as paisagens áridas, esculpi- dagem coerente para ser trabalhada em função de outra, com das sob o ciclo de erosão árido e o ciclo marinho, onde aten- perspectiva evolutiva, que fosse seguida pela consolidação de, ção particular era posta na emersão e submersão das Unhas rcação para ou ampliação de tais focalizaçõcs evolutivas. Os li- litorâneas. Dois tipos principais de acidentes também foram vros publicados durante esse período indicam numerosas ten- adicionados ao ciclo normal, relacionados com atividade vul- dências que são significantes em relação ao desenvolvimento pos- cânica e acidentes glaciares. Um aspecto fundamental do tra- terior. Incluem-se o predomínio da Geomorfologia e o fato de, balho de Davis consiste na clareza das ilustrações blocos dia- algumas vezes, a Gcomorfologia ter sido considerada como a base gramas, que levam à aceitação das ideias básicas. Em 1909 física da Geografia, como se observa no livro de Wooldridgc c foi publicado um volume reunindo vários artigos c ensaios. Morgan, de 1937, embora quando foi publicada a segunda edi- King c Schumm (1980) promoveram uma compilaçã^ da Geo- ção, cm 1951, tivesse havido inversão de título e subtítulo, que grafia Física ensinada por Davis, com base nas notas de suas tomaram a forma An Outline of Geomorpkology: The Pkyst- últimas aulas. Dentre os inúmeros gcomorfdlogos que adota* cal Basis ofGeography (Wooldridgc c Morgani 1951). Posterior- ram c desenvolveram a mensagem davisiana, destaca-se a figu- mente, no âmbito da Gcomorfologia, surgiu a dominância da ra particularmente notável de Cotton (1942; 1948). Procuran- gcomorfologia davisiana, rcflctida na feitura de livros didáticos do avaliar o enorme sucesso da abordagem davisiana, Higgins americanos que começaram a aparecer nas décadas de 1930 e (1975) compilou doze razões que explicam a aceitação imedia- 1940. Possivelmente outra tendência evidente seja a maneira pela ta e generalizada dessa perspectiva c sua subsequente popula- qual a abordagem abrangente em Geografia Física, geralmente ridade: denominada Fisiografia no século dezenove, foi substituída no 50 51
  • 11. ^ ' Tabela 2.1 — Algumas definições de Geografia Ffsica 185O*1945 em consequência, particularmente em relação à comunidade Data Autores geológica: 1868 T. H. HUXLEY — "Nós necessitamos daquilo que, na ausência de ura nome racíhor, chamarei de Geografia Física. É uma des- 5. preenchia um vazio — e oferecia uma teoria que com- crição da terra, de seu lugar e relação com outros corpos; de plementava o uniformítarismo; sua estrutura geral, de seus grandes aspectos — ventos, marés, 6. sintetizava o pensamento geológico contemporâneo — montanhas, planícies; das principais formas dos mundos animal incorporava numerosos conceitos que foram introduzi- c vegetal; das variedades humanas," dos ou que estavam sendo discutidos por outros pesqui- 1870 MARY SOMERVILLE - "A Geografia Ffcica é uma descrição da terra, do mar c do ar. com seus habitantes animais e vegetais, sadores, incluindo o nível de base (Powell, 1834-1902), de modo a considerar a distribuição desses seres organizados, c o equilíbrio dos rios (Gilbert, 1843-1918) e o perfil de equi- aj causas dessa distribuição". i líbrio advogado pelos engenheiros franceses; 1898 W. M. DAVIS — "O sucesso do desenvolvimento da Geografia, 7. oferecia base para predição e interpretação histórica considerada como o estudo da terra em relação ao homem, deve — possibilitava que a Geomorfologia usasse as formas ser encontrado na Geografia Ffsica — ou Fisiografia como vem sendo denominada —, o estudo do rocio ambiente físico do ho- de relevo como instrumento para decifrar os últimos mem." estágios da história terrestre c funcionar como parte 1903 R. S. TARR e O. D. von ENGELN - "A Geografia Física, que da geologia histórica; pode ser definida como o estudo dos aspectos físicos da terra c das suas influências sobre o homem." . além disso, existiram razões que influenciaram a popularidade 1915 P. LAKE — "O geógrafo... está preocupado com a superfície da terra c não com o seu interior e, cm geral, ele tem de conside- dos conceitos de Davis, tais como: rar somente a atmosfera, a hidrosfera c os aspectos visíveis da litosfera ou, em outras palavras, o ar, o oceano e as terras emersas." 8. era racional — era abordagem simples, racional, 1944 K. BRYAN — "... aquilo que está racIuloVna Geografia Física. valendo-se do contexto positivista; Obviamente, todos os fatores do meio ambiente são físicos, ex- 9. era consistente com a evolução; cluídos aqueles induzidos pela presença dos animais e das plan- 10. parecia confirmar o pensamento estratigráTico de sua tas. A Geografia Física tem unidi.de quando considerada sob a perspectiva do geógrafo humano. Sob a perspectiva do "geógrafo época — principalmente o modelo tcctònico de dias- ffsico", cia tf um grupo de ciências especializadas, cada uma se- trofismo rápido seguido de longo período de estabili- guindo seu próprio caminho." dade e calma litorânea; : i , considerava o clima temperado úmido çòrrjo Snormal", • ' •" j 1. simplicidade — particularmente o soerguimento ini- fato que foi atraente para muitos cientistas das ciên- cial; cias da terra; 2. aplicabilidade — pelos estudiosos a uma ampla vá* 12. a abordagem cíclica também foi atraente para muitos ricdade de paisagens erosivas; cientistas das ciências terrestres. 3. apresentação cm estilo lúcido, convincente e concilia- tório — o estilo do texto e dos numerosos diagramas Muito já se escreveu a respeito do impacto do tratamento c esquemas; i davisiano da Geo morfologia e de sua influência no tocante às 4. base aparente de cuidadosas observações de campo pesquisas posteriores, fatos que não podem ser negados. Por — embora não realizasse nenhuma mensuração nem exemplo, em uma história da Associação de Geógrafos Ameri- houvesse relação com exemplos reais; canos, James e Martin (1978) escreveram: 52 53 t.' '.TT.1 i. .•, ,-j ,-J
  • 12. "A fisiograíia proclamada por Da4s e também delineada por de relevo". Algumas das deficiências que foram mencionadas se- seus seguidores dominou o pensamento geográfico de uma grande rão discutidas no início do capítulo 3. quantidade dos membros iniciaJs da Associação. O ensino, a pes- Bishop (1980) realizou levantamento das razões iquc justi- quisa, os trabalhos de campo e a divulgação dos resultados torna- ranvsc para muitos uni modo de vida e não apenas uma atividade ficam a aceitação contínua das ideias do ciclo davisiano du- esporádica, tipificada pela observação de Dodgc a Ward de que rante tão longo tempo. Argumentou que o ciclo não 6 uma seu trabalho académico era um dever sagrado. Os seguidores de teoria científica, pelo menos por dois motivos: primçiro, por- Davis, desde a adolescência intelectuaj, emergiam como Titãs, que é irrefutável em relação ao conceito de estágio; c, segun- Johnson no sctor dos estudos litorâneos. Fenrieman na definição do, porque a teoria foi sendo modificada de maneira ad hoc das regiões físíográficas, Martin no desenvolvimento da geomorfo- à medida que se levantavam objeções contra ela. O, conceito logia glaciaria, Bowman por escrever sobre a geografia regional dos Andes, Ward c Huntington por esclarecerem algo sobre a subjacente na definição de Popper sobre ciência, qiae inclui física atmosférica e sejas efeitos sobre a fisiologia humana, e Brig- hipóteses falsificáveis de alto conteúdo informativo, jfoi o que ham por estabelecer a geografia histórica... O essencial é que levou Bishop (1980) a concluir que as hipóteses davisianas não o modelo davisíano ofereceu um pomo comum para a iniciação poderiam mais ser válidas, caso continuassem a ser enuncia- científica, a partir do qual o pensamento estruturado tinha con- das de modo que não pudessem ser verificadas pelos testes dições de evoluir." de falsificação. Muitos pontos de vista e abordagens existiram sobre a Geo- Quando Davis se aposentou e foi trabalhar na região oci- grafia Física em épocas precedentes a Davis. O livro de T. H. dental da América do Norte, estabeleceu baseidiferente daque- Huxley, Phystograpky (1877) foi importante porque, pelo me- la que havia desenvolvido cm muitos de seus trabalhos, a meta- nos, procurava apresentar a visão integrada do rneio ambiente de oriental mais estabilizada, c escreveu (citado em Chorley, Bec- físico pela Fisiografia, definida como "o estudo das relações cau- kinsalc e Dunn, 197S, p. 647): sais dos fenómenos naturais ou a consideração do 'lugar na na- tureza' de urn distrito particular". "... e a escala cm que a deposição, deformação e denudação acon- Stoddart (1975) analisou o enorme sucesso do livro de Hux- teceram. mostrando milhares e milhares de pés nessa região recém- ley, em excelente e agradável avaliação, descrcvcndo-o como "um construída, é de 10 ou 20 vezes maior do que a dos processos dos melhores livros lidos por muitos em longo tempo" c "um ser- correspondentes observados cm minhas antigas caminhadas de viço cfetivo à raça humana". Esse sucesso foi parcialmente devi- campo". ,. do à maneira de organização, que começava com a; bacia de Londres c sucessivamente expunha dos fatos locais c familiares Thornbury (1954) observou que "a Geomorfologia prova- para os desconhecidos. A Físiografia, na concepção de Huxlcy, velmente irá reter suas características por tempo muito mais longo era particularmente apropriada para a expansão da educação do que as de qualquer outra pessoa", c essas características so- popular nas décadas de rápida industrialização, crescimento po- brevivem cm muitos livros didáticos, muitas vezes sem indica- pulacional c consciência social despertada pela Origem das Es- ção clara assinalando que a abordagem c* davisiana. Recente- pécies e assumiu posição dominante na educação britânica du- mente, Small (1978) escreveu que "... a abordagem davisiana, rante aproximadamente um quarto de século, até que nas esco- apesar de toda sua deficiência por subjctividadc, ausência de las foi deslocada pelas disciplinas científicas específicas, mas ja- rccisão c ignorância dos processos, tem muito a oferecer, parti- mais ganhou posição central na Geografia universitária cm vir- cularmente no nível cm que estamos preocupados com a difu- tude da influência exercida pela Geologia. A nova ciência da são do conhecimento introdutório no estudo sobre as formas Geomorfologia, 54
  • 13. "embora ainda denominada de fisiograíia nos Estados Unidos, foi ali- c vulcânicos, e pelos estudos aplicados. A medida que essa ten- mentada com um novo princípio unificador, o ciclo de erosão; uma nova dência estava acontecendo, também pode-se notar de modo apa- técnica, a análise histórica das formas de relevo; e ura novo campo de rente nos Estados Unidos que os geógrafos físicos sé preocupa- análise regional, enquanto paralelamente abandonava clima, oceano- grafia, biogeografia e o estudo da geografia humana para outras disci- ram mais com a geografia humana do que cm épocas prece- plinas" (Sioddart, 1975, p. 32). dentes, enquanto os geólogos caminharam mais à procura de i petróleo (Peltier, 1954). Talvez a repercussão mais incisiva do Na França, em 1909, Emmanuel de Martonne publicava período davisiano não tenha ficado apenas na ênfase sobre a o Traité de Géographie Pkysique, que foi um livro usado mun- evolução da paisagem a longo termo, pois conforme Wooldrid- dialmente, posteriormente traduzido em outros idiomas e pu- ge (1951, p. 170) assinalou: blicado em seis edições. Os Geographical Etsays, de Davis, pri- meiramente publicado em 1909, reuniu vários artigos impor- "Um avanço significativo da Gcomorfologia no século atúal foi a tenta- tantes cm um volume e também foi amplamente consultado. tiva de relacionar suas observações com as da geologia estratigráfica. No período posterior a Davis, o desenvolvimento observa- Como programa pedagógico orientado para auxiliar o desenvolvimen- to explicativo das formas de relevo, o conceito do ciclo de erosão pode do na Geomorfologia pode ser considerado como composto de fornecer tratamento im termos puramente quantitativos." avanços, alternativas e objeções. Os avanços foram verificados na pesquisa e também nos livros didáticos, em gama variada, Entretanto, havia também preocupação voltada à geomor- dentre os quais os compêndios de Wooldridge e Morgan (1937) fologia regional. Vários estudos de casos já foram anteriormen- e de von Engeln (1942) estão entre os que continuaram o ideal te mencionados (Wooldridge c Linton, 1939; Johnson, 1931; Cot- davisiano. As alternativas estão relacionadas com algumas abor- ton 1922), e a eles dcvcm-sc acrescentar a fisiografia das regiões dagens, como a de Wahher Penck (1924), que se estruturaram oriental c ocidental dos Estados Unidos (Fenneman, 1931, 1938) em bases essencialmente diferentes para a Geomorfologia, que e, embora concebido de maneira independente, o estudo The não foi prontamente compreendida e aplicada e demorou muito Alps in the Ice Age (Pcnck c Bruckncr, 1901-1909). Os três volu- tempo para ser facilmente disponível ao público de língua in- mes desta última obra foram importantes por sugerir uma cro- glesa (Simons, 1962); também não foram acompanhadas por nologia para a Europa e, principalmente, por propor uma divi- um grande volume de publicações, como aconteceu com as são quádrupla da sequência glaciaria, exercendo enorme influên- ideias de Davis. As objeções surgiram porque alguns geomor- cia sobre a interpretação da história do Pleistoceno cm muitas fólogos começaram a perceber possibilidades' outras além da- outras regiões do rrmndo. quela abordagem puramente davisiana. Dessa maneira, Kirk O tema regional também tornou-sc saliente em outros Bryan foi seguidor de Davis sob muitos aspectos, mas também ramos da Geografia Física, geralmente buscando subsídios em levou cm consideração as ideias de Pcnck c, juntamente com contribuições elaboradas cm outras disciplinas. O livro Clima- seus seguidores, realizou contribuições para o desenvolvimento tologia (Millcr, 1931) exerceu enorme influência, pois analisa- do nascente campo da gcomorfologia periglaciál e também para va os elementos c fatores do clima c as classificações climáti- a gcomorfologia das regiões áridas. Pcltier (1954) considerou cas, c cerca de 60% do volume tratava dos climas dos vários que na geomorfologia praticada nos Estados tinidos nova era continentes. O significado c a finalidade da Climatologia sur- havia começado por volta de 1940, e essa nova era estava fun- giam como "... o geógrafo geralmente está mais preocupado damentada pelas investigações descritivas, particularmente uti- com... a translação dos comportamentos médios em. determi- lizando mapeamentos, pelos estudos dinâmicos sobre os pro- nadas respostas biológicas". Em escala bastante diferente, o Pfe; cessos fluviais, de dissolução, marinhos, pcriglaciais, eólicos livro de Vishcr (1944), Climate of Indiana, incluía mais de &.••£•: 56 57
  • 14. ífJ£Vy*'?^ '">.-'. £&&f'*'7,x 300 mapas c exemplificava claramente a ênfase sobre os padrões &*&$?*• ?^ grafia como ciência (p. ex., Sverdrup, Johnson c Flerriihg, 1942), j^£'i^ :>.•''•£' espaciais. embora Burke e Elliot (1954) propusessem uma nova aborda- ^.^/-s- Na geografia dos vegetais, cm acréscimo à geografia ecoló- gem para as regiõrs oceânicas, apesar de descrever c considerar áSsfc^ gica das plantas que abrangia a sucessão da cobertura vegetal, que muitos dos geógrafos profissionais nos Estados Unidos eram Kuchlcr (1954) identificou abordagens direcionadas aos mapas "homens de pç* na terra" ou "marinheiros de água doce". Mui- de vegetação, ao desenvolvimento histórico da vegetação e à geo- tos artigos sobre os solos surgiram em periódicos geográficos, grafia florística, que procuravam estabelecer ás áreas ocupadas e Mabut tentou aplicar os conceitos davisianos de juventude, por espc*cies particulares e explicar sua extensão e localização. maturidade e serulidade no estudo dos solos (Barncs, 1954, p. Tais subdivisões da geografia das plantas obviamente se asseme* 386). Isaiah Bowman (1922), que por diversos anos foi diretor lham às subdivisões observadas na Geomorfologia em sua épo- da Sociedade Geográfica Americana, procurou realizar ama sín- ca, e Kuchler (1954) classificou as décadas iniciais do século vinte tese entre solos, clima e vegetação em seu livro Forest Physio- como devotadas ao ciímulo de informações e àisubsequente ten- graphy. Diversas definições relacionadas com a Geografia Físi- dência de coordenar os dados, mas duvidava de que "a geogra- ca, publicadas nesse período, estão reunidas na Tabela 2.2. fia da vegetação viesse a ter o seu Darwin". ' Na primeira metade do século vinte a Geografia Física apre- .;.. f ' vi âÊSgfi,» Tlbela 2.2 — Alguns conceitos e termos envolvendo a mtegraçSo entre as- ^Sf sentou tendência para o especialismo, substituindo a integra- pectos do mero ambiente físico ção maior observada na fisiografía do século idezenove. Entre- tanto, nem todos os autores estavam de acordo sobre o conteú- Termo Definição Fonte do da Geografia Ffsica. Davis preferiu usar o termo "geografia St t to "... ura sftio pode ser definido como uma área física" em vez de "geomorfologia" e mesmo erri 1951 Wooldrid* que, para todos os propósitos práticos, propicia por gê e East (1951), em seu livro Spirit and Purpost of Geography, sua extensão condições locais similares de clima, intitulavam um capítulo como "geografia física e biogeografia". fisiografia, geologia, solos,.." R.'.Bourne (1931) Assim, não estava absolutamente claro se a Geografia Física de- Caiena "constitui a repetiçSo regular de determina- veria ou não incluir a Biogeografia. Além da geografia das plan- da sequência de perfis de solos em associação com determinada topografia" R. Milnc (1935) tas, a Biogeografia deveria incluir a geografia dos animais ou Topos e vertentes "as unidades básicas do relevo são zoogcografia. Stuart (1954), ao reconhecer as;trcs abordagens topos e vertentes, unidades pequenas de urna su- ligadas com o tratamento regional, histórico e ecológico, obser- perfície, visíveis tanto de uma quanto de outra e vou que era lamentável o fato de que os objetivos e métodos da não subdívisfvciscom base cm seu formato. Repre- zoogcografia ainda não estivessem claramente formulados, e que sentam os clétrons c os prótons que compõem o conjunto das paisagens" D. L. Linton (1951) Unidades morfológicas "a natureza oferece duas ine- "se os académicos treinados em geografia e profundamente versados nos vitáveis unidades morfológicas, e apenas duas. Em métodos do estudo regional fossem adequadamente treinados cm zoo- um extremo, o indivisível topo ou vertente, e, no logia sistemática e paleontologia, poderiam estar em posição de pres- outro, o continente indiviso" D. L. Linton (1951) tar serviços importantes à zoogcografia" (Stuart. 1954. p. 449). Sistema de terreno "... í uma área com padrão recor- rente de topografia, solos e vegetação" C. S. Christian, Os oceanos já constituíam uma parte da superfície terres- c G. A.,'Stcwart tre que estava começando a ser ignorada pelos geógrafos físi- (1955) : l f i cos, devido cm parte ao surgimento independente da Oceano- 58 59
  • 15. Em sucinta análise sobre o desenvolvimento das teorias cm "a Climatologia cm um Departamento de Geografia nas univer- --,-- •,_•'- Gcomorfoíogia, Chorley (1978) identificou sete fases na história sidades, atualraente pode ser ensinada por ura mcteorótògo compe- tenternente treinado e com muito maior compreensão do seu campo da disciplina, c as três primeiras (teleológica, imanente e histó- de trabalho, diferente do que acontecia geralmente na época prece- rica) certamente surgiram antes de 1945 e poderiam ser aplica- dente da guerra". das à Geografia Física como um todo. A perspectiva tcleológica existiu anteriormente ao uniformitarismo e sobreviveu até as dé- O surgimento de novas técnicas, tais como o advento do cadas finais do século vinte, quando foi substituída pelas ideias radar, também contribuiu para que surgissem novas linhas imanentes que se dirccionavam a explicar as características das de pesquisa no campo da Geografia Física. Esse período de formas de relevo em função de seus aspectos inerentes e rochas cinco anos pode ser considerado como o final de um século subjacentes, c pode-se distinguir uma abordagem semelhante de desenvolvimento c o começo das duas décadas subsequen- na ciência do solo. As abordagens históricas incluíam as basea- tes, quando começaram a surgir novos modelos, métodos c das no ciclo de erosão davisiano c no modelo de Penck, paradigmas. Por essa razão, procuraremos tentar sumariar os observando-se analogias no tratamento da sucessão das plantas avanços significativos verificados nesse período, que acontece- c no conceito de solos zonais. A abordagem taxonômica consti- ram no interior e fora da Geografia Física. tui a quarta fase teórica distinguida por Chorley (1978), e em- Na Climatologia a tendência baseou-se na intensificação m bora ela fosse estabelecida sob vários aspectos em época antece- dos mapcamentos c das classificações climáticas, c o advento dente a 1945, também se verificaram avanços iminentes no lus- de abordagens para uma classificação racional dos climas tro que chegava a 1950, (Thornthwaitc, 1948) complementou as classificações anterior- mente disponíveis, propostas por Kocppen c A. A. Millcr. Em O crescimento sistemático de 1945-1950 1954, Leighly observou que, desde 1920, a instrução.académi- ca cm Climatologia, em sua maioria, procurava-desenvolver Após 1945, no final da Segunda Guerra' Mundial, houve a classificação dos climas e o mapeamento das regiões climáti- aumento súbito no número de geógrafos e na expansão das cas, baseadas nas classificações existentes. Esse assunto foi te- universidades. Observou-se aumento no número de estudantes ma de um excelente trabalho elaborado por Harc (1951b). c de cursos oferecidos, surgindo até mesmo diversos novos pe- Outro crescente tema de pesquisa cm Climatologia focali- P&^ -•^fcSJiStefWJr riódicos, como o Erdkunde, que começou em 1945. Diversos zava a frequência da ocorrência dos eventos, que encontrava trabalhos muito significativos foram publicados, promissores similitude na análise da frequência das ocorrências das cheias, para modelar a Geografia Ffsica pelo menos na década se- tendência que estimulou Gumbcl a desenvolver uma estatísti- guinte. Além dos jovens estudantes, muitas pessoas desmobili- ca apropriada para o tratamento dos valores extremos. Fora zadas das Forças Armadas voltaram a completar seus cursos da Geografia Ffsica, surgiram os trabalhos sobre evaporação, de graduação c propiciaram influxo de indivíduos competen- realizados por Pcnman, (1948), propiciando avaliação mais cor- tes nos quadros universitários, sendo que muitos dos pós- reta da variação espacial (Penman, 1950), acompanhados por graduados jovens ou rctornantcs haviam ganhb experiência em novos livros didáticos sobre hidrologia (Linslcy, Kohlcr c Pau- setorcs diversos, tais como na previsão do tempo, na fotointer- Ihus, 1949), que complementavam as obras editadas anterior- prctação c na análise do terreno, de maneira que estavam mente, disponíveis por quase uma década (Mcinzcr, 1942). Em- habilitados para contribuir nos estudos pragmáticos, fato que bora entre os geógrafos físicos houvesse crescente interesse so- anteriormente jamais se tornara tão evidente. Em 1951, Harc bre os problemas de abastecimento hídrico, notava-sc que eles (1951a) observou que ; estavam ainda propensos a ignorar a hidrologia, d^ mesma 60 61
  • 16. . ,.'A. . .".VJÚí«W. ' ._..^. f. . - f.lMUfSYti foima que já haviam subestimado o estudo dos oceanos, e Meigs foram definidas mais precisamente, por exemplo, a respeito dos (1954) considerava que as tarefas pendentes para os geógrafos mapeamentos e análises dos perfis longitudinais (Broyrti, 1952), eram promover e os debates envolvidos também favoreceram essa extensão, co- mo no caso de distinguir entre as superfícies de erosão de ori- "o desenvolvimento de um sistema de categorias relacionadas com gem marinha ou subaérea (Balchin, 1952). Nessa discussão sur- as características hídricas. Quando essa classificação fosse elaborada, giram artigos com diversos pontos de vista, incluindo o do geó- dever-sc-ia realíiar o mapeamento da distribuirão das diferentes for- logo O. T. Jones (1952) que comentava: mas de ocorrências hídricas no território dos Estados Unidos". "A ideia de que nessa án;a e era outros lugares catavam represen- Dessa maneira, estimulava-se a abordagem de classificação e ma- tadas séries de plataformas devido à erosão marinha provocando a re- pcamento, que também estava surgindo em outros setores da gressão de falésias tornou-se comum nos anos recentes, muito de acor- Geografia Física. do com a moda. Parece ter-se iniciado com a visita a este páfs do pro- Na Gcomorfologia, importantes avanços estavam prestes a fessor Baufig, há vários anos. O professor Jones foi convidado para pre- ocorrer. Embora a geomorfologia davisiana estivesse sendo em- sidir aquela provocativa reunião, mas como conhecia qual o dano que o professor Baulig poderia causar, considerou oportuno negar presidi- pregada por alguns pesquisadores, como Wooldridge, que ain- la. O professor Baulig podia estar correto, como podia estar totalmen- da considerava a Geografia Física como disciplina fundamen- te errado. Entretanto, seus argumentos foram levados a tal grau que tada cm ciências especializadas, pois desconcertavam a credibilidade atí das pessoas mais ingénuas." "A Geografia Física está, em determinado Sentido, mais bem or- Embora começassem a surgir diversas proposições a.respeito ganizada do que suas contrapartidas humanas ou sociais, porque se fun- da evolução das paisagens, essas perspectivas ainda podiam ser damenta cm ciências especi a Ilíadas, como Geologia e Meteorologia, que consideradas como ampliação da abordagem davisiana, pois cm realizaram grandes avanços ames que os objetrvos da Geografia mo- sua característica eram essencialmente históricas. As alternati- derna fossem formulados de modo detalhado. Não havia carência de material, mas sim uma quantidade embaraçosa c salutar, que podia vas da abordagem davisiana apareceram em virtude do crescente ser utilizada para se construir a disciplina" (Wooldridge e East, 1951). criticismo da supremacia da geomorfologia davisiana dentro do campo da Geomorfologia e da própria Geografia Física, como Uma análise cxccpcionalista pode ser exemplificada pelo um todo. Essa desconfiança foi particularmente evidente nos Es- Fr*ffir?*2 • ' '•' f*.'^tf t! --V4.--Í artigo de Tudor David, cm seu ataque à Geografia como um tados Unidos, c Strahler (1950a, p. 209) observou: .rSS-y-"'."" J'í todo (David, 1958). Torna-se notável salientar que esse trata- mento não avaliou que a Geografia Física representasse mais de "o trararnento de Davts endereçava-se, como acontece,ainda hoje, 10% de todos os trabalhos escritos ligados aos exames do De- às pessoas que possuíam pouco treinamento nas ciências físicas bási- partamento de Ciências c Artes, c nenhuma outra disciplina re- cas, mas que gostavam de cenários e da vida ao ar livre. Como contri- buição cultural, o método de análise das paisagens proposto por Davis motamente se rivalizava com a Geografia Física, de 1868 a 1876, c* excelente; como parcela das bases para a compreensão da Geografia c cm muitas escolas tornou-sc um instrumento de educação cien- Humana, d inteiramente adequado. Como um ramo da ciência natu- tífica, embora fosse declinando à medida que as disciplinas es- ral, parece superficial e inadequado;*' pecíficas se iam consolidando (Stoddart, 1975). Os avanços foram essencialmente de três tipos: ampliação, e, cm uma avaliação retrospectiva, observou-se que "para al- alternativas e adendos. A escola davisiana que havia estimula- guns, o método davisiano tornou-se uma força reprcssora ou, do os estudos sobre a cronologia denudacionál foi trabalhada pelo menos, um sedativo" (Chorley, Beckinsalc e Durin, 1973, em maior detalhe c promoveu ampliações, porque as técnicas p. 753). 62 65
  • 17. p* As alternativas surgiram porque, em primeiro lugar, ou- truções ambientais. O sctor da geomorfologia litorânea também tros modelos sobre a evolução das paisagens estavam sendo con- estava se desenvolvendo de forma independente das ideias davi- siderados. Os resultados iniciais dos trabalhos sobre as verten- sianas, como foi exemplificado pelo trabalho de J. A. Stcers (1948) tes, com base nas ideias elaboradas por Pcnck (1924), que fo- sobre Coastlme of England and Wales. ram seguidas por Wood (1942), começaram a ser incorporados A impressão emanada, por volta de 1950, era a de que a nas pesquisas de L. C. King, que já se encontrava trabalhando Geografia Ffsica se estava tornando um campo de pesquisa dis- nas paisagens áridas e scmi-áridas da África e publicava, cm paratado, com poucos sintomas de estudo imegrativo dos com- 1953. o volume Canons oflandscape evolution (King, 1953). Na ponentes do meio ambiente físico. Mas existiam alguns sinais. revista Annals ofthe Association of American Geographers, de Embora o mapeamento c a classificação de áreas se tornassem 1940 a 1950, foram publicados muitos artigos que assinalavam aspecto dominante da climatologia, geomorfologia, pedologia caminhos alternativos, incluindo as análises sobre as vertentes e geografia das plantas, todas elas denominadas abordagens ta- (Strahler, 1950a). No ano precedente, obsérvou-sc que "o geo- xonômicas por Chorley (1978), havia algumas tentativas para morfólogo pode estar profundamente interessado em questões o tratamento das ínter-relações das características ambientais, de estrutura, processo c tempo, mas o geógrafo necessita de in- talvez mais sensivelmente na URSS. Nesse país prevalecia a in- formações específicas ao longo das diretrizes de o que, onde e fluência de Dokuchaev e da escola de ciência do solo, de modo ted! quanto" (Russell, 1949, p. 3-4). Outras alternativas para a abor- que, em 1950, L. S. Berg organizou um volume tratando das dagem davisiana basearam-se em estudos realizados em outros zonas de paisagens naturais da URSS c com as inter-relações ambientes. Particularmente, a signifícância dos processos peri- no interior de cada zona. Isso propiciou bases para tentativas glaciais nas paisagens antigas começou a sct apreciada a partir posteriores procurando integrar a Geografia Ffsica (p. ex,, Sus- dos trabalhos de Bryan (1946) e foi incorporada em um quadro lov( 1961) c também a ciência da paisagem. evolutivo do ciclo periglacial por Pelticr (1950). Entretanto, a Tais abordagens foram precedentemente tentadas cm Fo- difusão de importantes trabalhos realizados no continente eu- rest Phystography (Bowman, 1922) e também em diferentes es- ropeu (Dylik, 1952; Poscr, 1947) para a literatura de fala ingle- calas. A proposta de Wboldridge (1932), de que as pequenas ver- sa só ocorreu no início dos anos sessenta. •' tentes individualizadas seriam os átomos a partir dos quais as Os adendos à teoria davisiana foram provenientes princi- paisagens se coastruíam, conciliava-se com informações cm ou- palmente dos campos da geomorfologia glacial c litorânea. Na tras escalas espaciais no texto do artigo influente sobre a deli- geomorfologia glacial, em acréscimo ao trabalho detalhado so- mitação de regiões morfológicas (Linton, 1951), em que se re- bre áreas, realizado por geólogos especializados no Pleistoceno, conhecia a influencia dos conceitos de sítio (Bournc, 1931) c de as pesquisas sobre as flutuações dos glaciares (Ahlmann, 1948) catcna (Milnc, 1935). Os dois últimos conceitos foram muito im- . , í-njr".' i; :.-•*• V".'V •' e o material incorporado nos volumes Glacial and Pleistocene portantes para o avanço nas pesquisas sobre solos e sobre as ma- Geology (Flint, 1947) c The Pleistocene Period (Zcuncr, 1945) neiras pelas quais os solos distinguidos no campo se relaciona- começaram a salientar uma perspectiva desinteresse potencial vam aos conjuntos maiores de solos c às outras características para os geógrafos físicos, embora alguns pesquisadores, tais co- ambientais. Duas outras tendências para abordagens mais inte- mo W. V. Lewis, já se encontrassem estabelecidos nesse setor (Lê- gradas sobre o meio ambiente físico já eram evidentes. Os siste- wis, 1949). Várias novas técnicas tornaram-se disponíveis para mas de terrenos (land systems) foram introduzidos como base .?-*• -v1*,*-.1;. para a avaliação das características do terreno, pelo CSIRO na &r..^ o estudo sobre o Plcistoccno (Zcuncr, 1946), influenciando o es- tudo da Biogcografia, c cm muitos casos a análise polínica, Austrália. Muito diferente, embora também potencialmente í» particularmente, tornou-se a principal técnica para as recons- integrativa em sua característica, é a proposta de Langbcin 64 ? 65