1. Cálculo da Idade dos Astro
Cálculo da Idade dos Astros: Para Quê?
Outro ponto misterioso da ciência, desde antigamente até hoje, diz respeito à idade do Sol e da
Terra: quantos “anos” eles têm?
Lutero e Ussher
Sabemos que o desenvolvimento das ciências foi muito vagaroso quando o laboratório eram as
igrejas e mosteiros, e a principal fonte de pesquisa era o ensinamento obtido na Bíblia. Era o tempo das
trevas. A Inquisição ditava as leis, e isso era um empecilho muito grande para o desenvolvimento cien-
tífico. Naquele tempo ainda valiam os cálculos sobre a idade da Terra feitos por Lutero (Século XVI) e
Ussher (Século XVII), ambos baseados em estudos genealógicos contidos na Bíblia. Hoje tais estudos não
mais são levados a sério.
Buffon
Em 1778 apareceu o primeiro cientista a enfrentar o problema do cálculo da idade da Terra fora
do método religioso. Foi o francês Georges-Louis Leclerc17 (1707-1788), nomeado em 1773, Conde de
Buffon, por Luis XV, em homenagem ao papel importante que teve na comunidade intelectual, científica e
política da França. Foi, como dito anteriormente, o primeiro cientista a trabalhar sem a influência bíblica
e cujas experiências já incluíam princípios da termodinâmica.
Para determinar a idade da Terra, Buffon tinha de resolver um problema anterior, isto é, seria pre-
ciso saber quando a Terra tinha “nascido”. Surgiu com isso o problema da origem da Terra. Buffon então
se aventurou em especulações sobre o tema dizendo que a origem do planeta e do Sistema Solar fora o
resultado do impacto de um cometa contra o Sol do qual saltaram vários pedaços, um dos quais formaria a
Terra depois de resfriado. Esse tipo de teoria virou moda e serve até hoje para “explicar” fenômenos cuja
origem é desconhecida, como o aparecimento da vida ou o desaparecimento da mesma, como se diz ter
acontecido com os dinossauros.
Baseado nesta suposição evidentemente errada, ele fez suas experiências para determinar a idade
da Terra. Ora, se a hipótese inicial - infra-estrutura do raciocínio - estava errada, necessariamente toda a
superestrutura do mesmo também estaria.
Buffon realizou as experiências aquecendo esferas de ferro, em um ambiente controlado, anotan-
do pela visão e pelo tato, o tempo de resfriamento dos objetos. Daí extrapolou seus resultados, para uma
esfera do tamanho da Terra. Seus cálculos indicaram uma idade para o planeta variando entre 75.000 e
168.000 anos. Esta é, provavelmente, uma das primeiras experiências onde os cientistas resvalam para
uma classe de erro muito comum: a não observação das escalas de trabalho. As experiências são feitas
em uma escala e os resultados extrapolados para outra, completamente diferente, o que não pode ser feito
impunemente. Buffon fez suas experiências em um laboratório fechado e controlado da escala humana,
transportando seus resultados para uma escala geológica, misturando as mesmas. O erro é fatal!
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2. Petróleo e Ecologia: Uma Contestação à Ciência Ortodoxa
Melhorar o desempenho das máquinas a vapor segundo leis da termodinâmica é uma coisa per-
feitamente factível, desde que são fenômenos da mesma escala. Calcular a idade da Terra ou de outro
qualquer corpo celeste, guiado pelas leis termodinâmicas das CNTP, é coisa muito diferente e que não
pode ser obtida, pois os problemas pertencem a escalas diferentes.
Buffon desconhecia três premissas básicas:
• A origem da Terra,
• Que o interior do planeta é muito mais quente do que o exterior e, finalmente
• Misturou as escalas nos seus resultados e por isso, não pôde solucionar o problema.
Os resultados de Buffon, pelos cálculos da termodinâmica, alongaram bastante o tempo de exis-
tência da Terra, mas estavam tão errados quanto os cálculos de Lutero e Ussher baseados nos ensinamen-
tos da Bíblia.
Em 1822 foi dado outro passo importante no sentido de dar à termodinâmica, bases mais firmes
como ciência. Na França, entre outros cientistas, distingue-se um jovem chamado Jean Baptiste Joseph
Fourier18 (1768-1830) que desenvolveu as equações de fluxo térmico baseado em alguns estudos feitos
anteriormente por Newton (1642-1727), levando em conta um fator (citado anteriormente) esquecido (ou
desconhecido) por Buffon: a Terra era quente, tanto por fora, como por dentro. A rocha que hoje chama-
mos de litosfera, servia como isolante e assim, a Terra demoraria muito mais tempo para esfriar do que
aquele calculado por ele. Novas bases teóricas sobre a propagação do calor foram dadas em “Theorie
Analytique de la Chaleur” e o novo raciocínio jogava por terra todo o trabalho de Buffon. A Terra seria
bem mais velha do que o tempo indicado por ele. Diz a história que o número calculado por Fourier era
tão alto que ele evitou publicá-lo, deixando apenas a fórmula para calculá-lo: 100.000.000 de anos!
Estamos acompanhando o desenvolvimento da termodinâmica porque a idade da Terra e do Sol
está baseada no conhecimento do calor, resfriamentos e aquecimentos, pois o planeta teria tido sua origem
em um cataclisma e chegado ao seu estado atual depois de resfriada.
Darwin
Em 1859, quase um século depois de Watt e sua máquina a vapor, surge o trabalho de Darwin19
(1809-1882), “On the Origin of the Species by Means of Natural Selection” onde ele percebeu pela pri-
meira vez a idéia de que os animais não tinham sido criados na forma que eram conhecidos, mas evolu-
íram a partir de parentes anteriores. Era um questionamento forte às crenças sobre a criação da vida na
Terra. Aparentemente eles, os animais, não tinham sido criados como relatado na Bíblia. Com isso surgiu
novo problema. Era preciso mais tempo para acomodar a idéia do evolucionismo.
Se os animais provinham de parentes anteriores, havia necessidade de tempo mais longo para que
o processo da evolução pudesse ser realizado. Neste ponto começaram a aparecer as contradições, tanto
com os ensinamentos religiosos, como dentro da própria ciência. O tempo passado da Terra tinha de ser
bem maior do que os cálculos até então feitos.
Vale chamar atenção para o fato de Darwin argumentar com uma segunda linha de pensamento.
A primeira escola era dos físicos. Darwin colocou em cena o argumento biológico e isso fez uma grande
diferença nas brigas entre os cientistas da época.
Darwin, o autor da teoria, também tentou calcular o tempo passado da Terra usando um método
muito empírico. Ele observou o tempo de desgaste de um cânion em Weald, ao sul da Inglaterra, e através
de cálculos chegou à conclusão de que a Terra tinha cerca de 300.000.000 de anos. Segundo suas conclu-
sões, esse tempo seria bastante para que o processo da evolução fosse completado. O cálculo da idade da
Terra jamais poderia ser conhecido pelo método imaginado por Darwin, mas o número obtido por ele, era
razoável e, naquela ocasião era conveniente para a sua teoria evolutiva.
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3. Cálculo da Idade dos Astro
Darwin seria contestado violentamente.
O problema geológico da determinação da idade da Terra passou a ser discutido entre cientistas
de duas áreas distintas como visto anteriormente: naturalistas (biólogos, zoólogos) de um lado e físicos
calculistas do outro.
Lord Kelvin
Entre os nomes da ciência daquele tempo destacava-se o de William Thomson20 (1824-1907), Ba-
ron Kelvin of Largs, uma das figuras proeminentes das ciências, das artes, letras, esportes e outros ramos
do conhecimento no final do século XIX e princípio do XX. Kelvin nada sabia de problemas evolutivos e
Darwin nada de termodinâmica. Os evolucionistas partidários de Darwin estudavam os efeitos da energia
solar, enquanto que Kelvin e seus seguidores se importavam mais com a origem da radiação solar. John
Herschell21 (1792-1871) publicou em 1833 sua obra “Treatise on Astronomy”, onde foi enfático em afir-
mar que o brilho do Sol era de importância fundamental para a vida humana. São suas palavras: “O Sol é
fonte primária dos movimentos que se realizam na Terra”.*
Mas a força do Sol não era responsável somente pela vida, mas por muitos outros processos geo-
lógicos da superfície do planeta, conclusão esta que era admitida pelos dois grupos em contenda.
Lord Kelvin não admitia a teoria darwiniana e teve de inventar uma outra, como a de Buffon
referida anteriormente. Ele sugeriu uma esquisita “teoria meteorítica”, segundo a qual o calor do Sol era
obtido pelo impacto de meteoritos caindo continuamente sobre o Sol e a contração gravitacional transfor-
mava o calor em radiação. Estamos recapitulando a história da datação da Terra, para demonstrar que na-
quele tempo como agora, os cientistas estavam ontem, e estão hoje, completamente enganados a respeito
do assunto.
Kelvin obteve a idade do Sol e conseqüentemente a da Terra através do seguinte raciocínio: ele
calculou a energia gravitacional de um corpo com a massa e raio igual ao do Sol, dividindo o resultado
pela intensidade da radiação solar. Segundo este cálculo a idade do Sol e de todo o sistema seria de trinta
milhões de anos. O cálculo de Lord Kelvin e o desenvolvido por Darwin, no cânion de Weald eram ambos
especulativos e não tinham qualquer valor científico.
Ainda segundo Kelvin, a energia química, como fonte de calor do Sol, também teria de ser des-
cartada porque esse tipo de energia é muito menos eficiente na produção de calor, o que resultaria em uma
idade menor ainda.
A personalidade imperial de Lord Kelvin e o uso da matemática para satisfação dos objetivos,
temporariamente, imporiam uma idade bem modesta para a Terra e para o Sol e Darwin, na terceira edição
do seu livro, em 1869, retiraria as suas estimativas da idade do planeta escrevendo a Wallace (co-descobri-
dor do evolucionismo)21: “As recentes observações de Thomson sobre a idade da Terra têm me magoado
muito” .**
Darwin perderia a batalha, mas só passageiramente.
Kelvin manobrava com cálculos, números e um poder de argumentação difícil de ser encarada
por outro cientista do seu tempo, e que não tivesse a mesma fortíssima personalidade.
Segundo suas idéias radicais, como seriam chamadas hoje, qualquer inferência em uma pesquisa
só teria validade se fosse apoiada nas leis fundamentais da física do seu tempo. Desse modo não acredi-
tava no futuro do rádio, era contra a surgente teoria atômica, e chegou a afirmar com veemência que os
magníficos aviões de hoje, jamais poderiam voar.
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* The Sun’s rays are the ultimate source of almost every motion which takes place on the surface of the Earth
** ...Thomson’s view on the recent age of the world have been for some time one of my sorest troubles.
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4. Petróleo e Ecologia: Uma Contestação à Ciência Ortodoxa
Os Paleontólogos
Mas, as tentativas de datação do globo terrestre não eram feitas apenas pelos físicos. Havia outra
classe de cientistas que também pensava ter os meios para conseguir o objetivo: os paleontólogos.
Façamos um corte na história dos métodos físicos, para voltar no tempo e mostrar como trabalha-
vam os naturalistas e como foi feita a união entre as duas categorias de cientistas na perseguição do mesmo
objetivo.
Por não serem importantes no contexto principal do estudo, não nos referiremos aos trabalhos de
homens como Xenóphanes, Shen Kua ou da Vinci que fizeram observações históricas pioneiras sobre a
existência dos fósseis. Também não entraremos em minúcias sobre o que escreveram ou dissertaram sobre
o interior da Terra, sem ter meios para fazê-lo, como foi o caso de Píndaro, Platão, Aristóteles, Lucrécio.
Essas pessoas, certamente tiveram oportunidade de assistir um vulcão em atividade e imaginaram como
aquele fenômeno se passaria. Suas opiniões, naquele tempo, tinham forças de definição devido ao notório
saber que aqueles filósofos tinham em outros campos de atividade intelectual, até hoje, considerados mui-
to importantes, mas nada sabiam de Geologia.
Note-se ainda que tal atitude continua a se repetir ainda hoje e muitas das assertivas sobre a Terra
e seus problemas ainda são resolvidos por importantes figuras de outras ciências, especialmente as ciên-
cias físicas e matemáticas, sem que haja alguma relação entre a Geologia e os referidos estudos.
Por essa razão, o início da história é remetido para os cientistas que contribuíram com idéias bá-
sicas para a datação da Terra e as primeiras noções da sua estrutura interna e externa e sobre sua fonte de
energia.
Tenhamos ainda em consideração que a história se inicia na Fase Religiosa (fim do século XVIII),
quando a Igreja determinava o que a ciência devia dizer ou pesquisar.
Todos os naturalistas da Fase Religiosa que tivessem intenção de escrever sobre fatos da natureza,
estavam presos a uma informação das mais arraigadas na mente dos mesmos. Essa informação era o epi-
sódio do bíblico dilúvio de Noé como contado nos capítulos 7 e 8 do livro do Gênesis na Bíblia Sagrada22.
Mesmo os sábios criam que chovera 40 dias e 40 noites e que “... todos os altos montes que havia
debaixo do céu foram cobertos. Quinze côvados acima deles prevaleceram as águas; e assim foram cober-
tos (versículos 19 e 20 do capítulo 7 do Gênesis)...”
Geologicamente falando, o trabalho mais importante para a resolução do problema foi dado pelo
naturalista, médico, fisiologista, anatomista e geólogo holandês Niels Steensen ou Nicolau Steno23 (1638-
1686). Estudando o problema da ocorrência de fósseis no interior de rochas, constatou a regra básica
para resolver o problema da datação da Terra e outros problemas basilares no estudo da Geologia. Em
suas experiências ele notou as leis da sedimentação: as partículas, inicialmente, sedimentam em camadas
horizontais e o que estiver em cima será sempre o mais novo. O enunciado, feito em 1669, é, na sua sim-
plicidade, a lei máxima da ciência geológica e a única que permite avaliar com precisão a idade da Terra
e de todos os fatos que se passaram na face do globo ao longo da sua evolução.
Entretanto, as Leis da Sedimentação constituem apenas a metade do caminho que levaria à idade
da Terra. De fato, não era a idade da Terra o fim perseguido por geólogos e paleontólogos, mas a tentati-
va de conseguir minérios e minerais preciosos pela maneira direta da garimpagem. Isso também dividia
os aventureiros. Todos procuravam os fósseis, nome pelo qual era conhecido tudo aquilo que estivesse
enterrado. Os que procuravam minérios e minerais eram os garimpeiros (hoje chamados “geólogos”) e os
que procuravam restos de animais e plantas passaram a serem chamados de paleontólogos, e eles não se
misturavam. Os garimpeiros ganhavam dinheiro achando novas minas, enquanto os paleontólogos faziam
uma espécie de ciência pura, sem lucros imediatos. O problema a uni-los, sem que eles soubessem, era a
datação do resultado dos seus trabalhos.
Após o trabalho de Steno, já no século XVIII, precisamente em 1727 surge o trabalho de John
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5. Cálculo da Idade dos Astro
Strachey24 (1671-1743) intitulado “Observations on the Different Strata of Earths and Minerals” onde ele
afirmava que havia relação entre a estrutura das rochas em superfície e as da subsuperfície, idéia nova que
não foi aceita pelos seus contemporâneos.
Em 1756, Johann Gottlob Lehmann25 (1719-1767), alemão de nascimento, originariamente mé-
dico e posteriormente geólogo, distingue-se fazendo relatórios sobre depósitos minerais, composições
químicas dos mesmos e até a sua origem. Foi ele que reconheceu que a ordem estratigráfica nas rochas
tinha a ver com a seqüência histórica da própria rocha, princípio que governa a moderna estratigrafia, mas
trabalhava em áreas restritas sem poder visualizar as unidades estratigráficas.
Em 1760, Giovanni Arduino26 (1714-1795), italiano de Veneza, tenta estabelecer as bases da
cronologia estratigráfica publicando um trabalho, onde classifica o que seria para ele os quatro principais
estratos da crosta terrestre: Primário, Secundário, Terciário e Quaternário. Aquela classificação não so-
mente levou a marca do seu principal trabalho, mas adotou em sua fase nascente o erro de determinar a
idade das rochas dependendo da presença de fósseis nos diversos estratos descritos por ele. Desse ponto
em diante tudo fica mais complicado devido a duas tendências inconciliáveis: queria-se a datação das
rochas apelando-se para a classificação dos fósseis, um problema sem solução. Não há relação entre as
duas coisas. A classificação de Arduino não foi somente o seu principal trabalho, mas também o inicio do
erro de identificar rochas pelo seu conteúdo fossilífero. Esse erro vai ser a base do trabalho de W. Smith,
em 1815 (que veremos adiante), conferindo um status de erro oficial nos trabalhos de geologia. Aparente-
mente, os geólogos daquele tempo teriam descoberto uma maneira simples, prática e correta de identificar
e datar as rochas. Os fósseis passavam a uma importância primária e as rochas ficariam na dependência
deles, invertendo-se o processo geológico. A paleontologia não era, agora, somente uma curiosidade sobre
os animais do passado, mas identificavam as rochas e também as datariam. Ledo engano e prejuízos ex-
traordinários.
Desse ponto em diante, tudo o que parecia e deveria ser mais simples e mais fácil, de fato ficou
mais complicado e difícil porque as duas tendências são inconciliáveis: buscava-se a classificação das
rochas apelando-se para a classificação dos fósseis, um problema sem solução porque desconexo. Não
há relação entre as duas coisas. É como determinar a idade de uma pessoa medindo a sua altura. Não tem
sentido. Mas naquele tempo não se sabia disso.
Uma das principais conseqüências foi a dependência em que ficaram os geólogos pelos serviços
dos paleontólogos. Os mapeamentos ficaram na dependência de coletarem-se amostras no campo para
serem mandadas aos laboratórios de paleontologia e esperarem-se os resultados das análises. O mesmo
fenômeno acontecia em relação às rochas. Os homens encarregados dos serviços do mapeamento não
conheciam as rochas no campo. Eram colhidos pedaços das mesmas, chamadas de amostras de mão, para
serem tratadas em laboratórios de petrografia e paleontologia, com resultados não somente complicados,
mas também errados. Evidente que os mapas assim construídos para nada serviam ou servem, apresentan-
do-se comumente como papéis coloridos, sem qualquer serventia, tendo de ser refeitos periodicamente.
Voltemos ao problema específico da paleontologia.
A idéia de Arduino de datar e identificar as rochas com o auxílio de fósseis ficou só como idéia
durante pouco mais de meio século, precisos 55 anos, até o aparecimento de um cartógrafo inglês por
nome William Smith27 (1769-1839), que trabalhou no serviço de construção de canais para transporte de
carvão quando observou a similitude existente entre as camadas que formavam a rocha em diversas regi-
ões em determinada parte da Inglaterra. Não somente usava as rochas, mas tudo o que podia informar-lhe
sobre o que ele chamava de geologia: solos, vegetação, topografia, fósseis, etc. Com esses dados publicou
em 1815 “A delineation of the Strata of England and Wales, with Part of Scotland”. Daí por diante fica
muito difícil mencionar nomes que tenham apresentado algum progresso na arte de mapear. Em todo o
planeta, quem queria fazer um mapa apelava para o método de Arduino/Smith. A história da Terra passou
a depender única e exclusivamente da existência de grandes, pequenos e nano fósseis existentes nas cama-
das das rochas sedimentares.
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6. Petróleo e Ecologia: Uma Contestação à Ciência Ortodoxa
Na área exclusivamente paleontológica há uma luta interna onde cada técnico está sempre achan-
do ou o mais velho, ou mais antigo, ou o maior dos fósseis da área pesquisada. Tal qualidade depende
apenas da sua própria opinião, desde que é impossível fazer-se tal datação ou comparar o tamanho do
animal em disputa. Logo a seguir, outro paleontólogo descobre outro sítio onde aparece outro fóssil que é
mais antigo ou maior do que o precedente achado pelo rival científico, e a luta prossegue até hoje. Como
os mapas chamados de geológicos dependem dessas opiniões pessoais, eles não são levados a sério nem
por geólogos (exceção feita ao autor do mapa) nem por paleontólogos. As tentativas de datar os terrenos
da litosfera continuavam agora, na mão dos paleontólogos e são muitos os que inventaram nomes para
períodos, eras, eons, estágios, épocas, fases, provocando brigas e desentendimentos entre eles, disputando
primazias e precedências às vezes ridículas. Todas, sem exceção, baseadas na existência ou não de fósseis:
Azóico, uma fase sem seres viventes, Proterozóico, Fanerozóico, Paleozóico, Mesozóico, Cenozóico. E
vinham as subdivisões: Permiano, Cretáceo, Ordoviciano, Cambriano, e cada uma tinha mais e mais divi-
sões e estágios, e é de se esperar cada vez mais detalhes, desde que elas dependem de achar mais fósseis,
coisa que é muito comum nas diversas formações tanto nas rochas continentais, como nas rochas submari-
nas. A indústria do petróleo com suas sondas abriram novas possibilidades de encontrar mais fósseis, for-
necendo mais material para novas teorias, de como a vida era naqueles tempos pretéritos. Alguns autores
se aventuram em teorias sobre abertura de oceanos e levantamento de montanhas baseados na existência
de simples carapaças, esqueletos, restos e vestígios de animais anteriormente existentes, sem que haja a
menor possibilidade de isso poder ser feito. Modernamente, alguns mais corajosos, “acham” fósseis em
camada de gelo com milhares de anos e outros adivinham a existência de vida em outros planetas anali-
sando rochas que dizem ter vindo de lá do espaço, de outros mundos...
É possível que haja aplicação da paleontologia em outro campo que não seja a exposição em
museus de curiosidades, mas não há aplicação da matéria para a datação das rochas da crosta terrestre.
Becquerel, Rutherford, Casal Curie e Arthur Holmes
Em 1709, Abraham Darby28 (1678-1717) inventou a metalurgia e em 1712 Newcomen29 (1663-1729) fazia
funcionar a sua primeira máquina a vapor e Black, em 1787, lançou suas primeiras idéias sobre a “teoria
calórica”.
No século XIX as luzes mais fortes da ciência começavam a vencer, a impor-se às trevas religio-
sas. Fourier em 1822, Herschell em 1833, Mayer e Waterson em 1840, Röntgen em 1895, Becquerel em
1896, Kelvin em 1897 e o casal Curie em 1898 revolucionaram as ciências físicas. Nas ciências biológicas
apareciam outros luminares do pensamento e iniciava-se na cabeça dos cientistas o choque entre as velhas
crenças e o novo conhecimento materialístico. Na Astronomia, em 1543, é o “De Revolutionibus Orbium
Coelestium” do polonês Kopernik30 (1473-1543) que iniciava a derrubada de um dos mitos mais importan-
tes da filosofia religiosa /aristotélica/ptolomaica: suas pesquisas indicavam que era a Terra que girava em
círculos ao redor do Sol e não o contrário. Além disso, a Terra não era o centro do universo como ditava
a Igreja. Sessenta e seis anos, depois, em 1609, surge a correção do trabalho de Kopernik, definida por
Kepler31 (1571-1630): a órbita da Terra não era um círculo, mas uma elipse e o Sol ocupava um dos focos.
Somente no fim do século, em 1896, quando Becquerel32 (1852-1908) descobriu a radiatividade,
é que se pensou de novo no problema: descobrir a idade da Terra e do Sol.
Neste ponto entra em cena uma nova técnica de datar, novos cientistas em novos ramos de pes-
quisa.
A nova onda aproveitaria a dica dada pelo fato de Becquerel (Nobel em 1903), em suas experiên-
cias, ter observado que havia emissão de raios a partir de sais de urânio e que isso não dependia da energia
do Sol. Era o novo conceito de radiatividade que aparecia e que dava novas esperanças no assunto especí-
fico de medir a idade da Terra. Entre os novos cientistas distinguiu-se o neo-zelandês Ernest Rutherford33
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7. Cálculo da Idade dos Astro
(1871-1937), um dos luminares da ciência mundial em todos os tempos, que viveu entre o fim do século
XIX e a primeira parte do XX. Rutherford penetrou e virou o átomo pelo avesso. Entre outros resultados
ele compreendeu a existência dos raios alpha e beta na radiação do urânio e descreveu suas propriedades
dando luz, em 1900, à “Teoria da Desintegração” como fruto da radiatividade atômica. Foi ele ainda que
sugeriu, em 1905, que a radiatividade poderia ser usada para datar as rochas.
Neste ponto entra um geólogo inglês chamado Arthur Holmes34 (1890-1965), que anteviu a possi-
bilidade de construir uma coluna geológica datando as rochas radiometricamente. Desse ponto em diante é
uma febre para datar rochas de qualquer parte do mundo. Em laboratórios sofisticadíssimos onde, seguin-
do uma fórmula empírica extremamente complicada, manuseia-se com extrema dificuldade quantidades
muito reduzidas de isótopos radiativos de amostras colhidas no campo, sem qualquer conhecimento da
sua origem. Suas respostas são sempre os milhões de anos aplicados de acordo com a conveniência, ou
do laboratório ou dos coletadores de amostras e seus “mapas” de duvidosa validade. É um método que se
fosse usado corretamente, deveria fornecer uma idade uniforme para todo mineral que fosse analisado,
pois todo e qualquer mineral que pertença à crosta da Terra tem a mesma origem e por isso é da mesma
idade. Os minerais foram cristalizados do mesmo magma original que formaram as rochas siálicas ou o
que se chama no jargão geológico de embasamento cristalino. Atualmente, esse mesmo material forma as
rochas, chamadas de secundárias ou sedimentares, através de mobilizações e re-mobilizações, ao longo do
tempo geológico, mas suas idades são exatamente as mesmas.
Sumariamente pode-se resumir o trabalho de datar os astros do universo e particularmente da
Terra em uma frase: as datações antigas eram exercícios de imaginação baseados em tolices, enquanto
as datações modernas são tolices baseadas em aparelhos e laboratórios sofisticados. Todas têm o mesmo
valor: nenhum.
Solução do Problema
Para se resolver o problema de datação da Terra é necessário a reunião de duas idéias surgidas
em duas épocas distintas no tempo. A primeira apareceu com a publicação do trabalho de Steno em 1669
quando descobriu as duas leis da sedimentação e as publicou no “Prodomus”. A segunda idéia só viria 317
anos depois, precisamente em 1986, com a publicação do conceito do que é uma formação geológica35.
A reunião dessas duas idéias deu possibilidade de identificar cada uma das formações e a ordenação de
todas, em um conjunto só, a partir do que foi possível:
• Montar a coluna estratigráfica global,
• Construírem-se os mapas estratigráficos e finalmente
• Obter a história geológica e a datação de todos os fenômenos do globo.
Disso tudo fica evidente que: a idade, ou o tempo da Terra não é medido em número de anos, mas
pela relação estratigráfica existente entre as diversas formações geológicas como observado no campo.
Ora, se a idade da Terra que está sob os nossos pés não é calculável, não há importância maior
calcular-se a idade dos outros astros, por qualquer método, pois o resultado será sempre falso além de
inflacionário e não ter qualquer importância prática ou científica para os habitantes da Terra.
Finalmente, todos os astros do firmamento, inclusive a Terra, são antigos, mas não há necessidade
de saber-se ou calcular-se a idade, em anos, de nenhum deles.
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