1. Carta ao professor
LAURABEATRIZ
Novos tempos, novos modelos
Foi uma tarefa árdua para a minha filha terminar o Ensino Médio, mas aprendi
com ela que esse modelo de escola não serve mais
Por Anna Claudia Ramos
No alto dos seus 6 anos, minha filha me disse muito segura de si: “Eu odeio a
escola, eu odeio as regras da escola e nunca vou obedecer às regras da
escola”. Passei todo o período escolar de minha filha reinventando a vida,
porque ela brigava veementemente com tudo o que fosse imposto e com a
forma rígida das tarefas. E me perguntava por que não poderia ser diferente.
Este mês ela completa 20 anos. É leitora de filosofia e literatura. Aprendeu
francês e hebraico por conta própria e fala inglês fluentemente. Mas gostar de
estudar seguindo um modelo único, nem pensar! Fazê-la chegar ao final do
Ensino Médio foi uma árdua tarefa. Ela formou-se em um supletivo estadual a
distância. Desses em que os alunos estudam e vão ao colégio apenas para
fazer provas. Estudam no seu tempo e no seu ritmo.
Longe de ser o que queria, mas o possível para uma aluna que não se
encaixava no modelo da escola. E olha que ela passou por escolas com
propostas abertas.Minha filha veio para me ajudar a refletir que esse modelo já
não cabe mais. Não cabe mais querer que todos aprendam por igual quando
sabemos que cada um tem ritmos e desejos diferentes. Nem desassociar
escola e vida, nem hipocrisias, nem conhecimentos estanques e educadores
que não querem acompanhar as novas gerações.
Estamos vivendo a era do conhecimento, com novos comportamentos,
trabalhos, empregos e formas de viver. Não podemos mais querer continuar
mantendo o modelo do século retrasado. Somos privilegiados de estar vivendo
esses novos tempos, onde vamos aprender a conviver de forma fraterna com
2. as diferenças, onde a literatura poderá ser lida sem a censura do politicamente
correto, onde seremos partícipes e coautores de uma escola menos rígida em
sua estrutura, que incentive a busca do conhecimento e não valorize as
ciências exatas em detrimento das humanas.
Hoje, entendo que crianças e jovens como minha filha conseguem ler, ouvir
música, estudar, ver tevê e falar com dez amigos ao mesmo tempo num chat.
Sim, essa moçada faz tudo isso ao mesmo tempo. E dá conta! É a geração
nativa digital, com outros saberes e aprendizados.
Somos protagonistas desses novos tempos, onde a leitura não é mais linear,
muito menos o conhecimento. O mundo digital veio para somar e não subtrair e
a internet para nos aproximar muito mais do que nos separar. Educadores não
detêm mais o saber, porque o mundo passa por transformações constantes. Os
professores serão tutores de seus alunos, fazendo-os buscar a construção do
conhecimento de forma intensa e profunda. Salas de aula serão abertas para
novas formas de aprendizado mais interessantes e instigantes.
Mas, para vivermos esses novos tempos, temos de sair da zona de conforto,
arregaçar as mangas e trabalhar. Vamos nessa?
Publicado na edição 88, de julho de 2014