1. Instituto Federal do Paraná – Campus Paranaguá
Ciências Sociais – Licenciatura em Sociologia – 1º ano
História Moderna – 24/09/2012
Aluna: Katia Monteiro Silva
Atividade: Definir como o aspecto religioso de Bosseut se relaciona com o Absolutismo
e o Mercantilismo e as relações entre nobreza e burguesia
A Dificuldade em encontrar fontes que retratem a realeza primitiva faz com que
muito se conjecture a respeito de suas formações. Bossuet foi um dos que refletiram e
escreveram, sobre a segunda metade do século XVII, a respeito da formação natural das
monarquias dizendo que ela era a forma mais antiga, comum e natural de formação de
sociedade organizada. Partindo do princípio da concepção do autor verifica-se uma série
de argumentos baseados na condução do poder por esses reis de acordo com o modelo
de monarquia estabelecida a época e as influencias a que cada uma era submetida.
O autor discorre no capítulo 2 do livro o Político na Modernidade a visão de
Bossuet abordada no livro Politique acerca das bases constitutivas do poder monárquico
na França a teocracia. Ele fixou essas bases em textos de cunho religioso, com o intuito
claro de estabelecer propaganda explícita do regime monárquico numa época onde se
configurava claramente uma transição de regimes em que a monarquia se enfraquecia e
a formação de um Estado representado pela vontade da nação se fortalecia.
Para Bossuet as bases constitutivas do poder monárquico tinham características
dualistas, pois o poder era divino outorgado ao rei. Suas características marcantes eram:
o absolutismo, a transcendência, individualismo, virtuosidade e ser o reflexo do reino
dos céus na Terra.
O absolutismo embasado por Bossuet não significava tirania, mas sim uma
“autoridade real absoluta”, segundo ele “É uma coisa o governo ser absoluto, e outra
coisa ele ser arbitrário”. Justificava isso parafraseando textos bíblicos nos quais Deus
atribui a Josué a missão de conduzir o povo a terra prometida e falava com o povo
através dele. Fazendo um esforço retórico para justificar a autoridade déspota dos reis.
A transcendência era uma característica na qual ele se baseava para justificar
toda a autoridade conferida ao rei. Autoridade por outorga divina que se personificava
em um ser dotado de muito mais virtudes que o restante de seus súditos, separado por
suas qualidades e altamente capacitado pela autoridade de Deus, autoridade já
estabelecida na sociedade ao longo da idade média, Bossuet refere-se a respeito do
império instituído por Deus assim: “Este império absoluto de Deus tem, por primeiro
nome e fundamento, a criação. Porque Ele tirou tudo do nada, e porque tudo está em sua
mão...”. Se o poder na Terra é manifestado através do rei, por conseguinte Ele é a
representação de Deus onde foi instituído. E sobre isso mais uma referencia ao texto
pode ser feita: “Moisés recebe esse tratado (as leis) em nome de todo o povo que lhe
dera seu consentimento; Eu fui, diz ele, o mediador entre Deus e vós a Ele”. Segundo
Bossuet todo o poder vem de Deus. Cabe agora citar a característica intrinsecamente
ligada a essa que é o individualismo, ele completa a ideia que todo o poder vem de Deus
e é individual, intransferível. Atestando que a consequência direta dessa individualidade
de outorga conclui que ele não pode ser delegado a outrem. Essa característica da qual
Bossuet se refere ratifica o poder absoluto do rei estremecido pelas concepções tomistas
2. que defendiam a transferência de poder ao povo fortalecendo mais uma vez a ideia de
um Estado diverso da monarquia.
Mas essa escolha divina não se justificava somente pela linhagem direta dos reis
e sim pelo conjunto de virtuosidades manifestadas no escolhido. “As obras citadas são
sem dúvida, um catálogo exaustivo das mais altas virtudes que um rei deve perseguir,
da mesma forma que reúne o elenco dos vícios dos quais deve manter sempre com
obstinação a devida distância.”, essa ideia se reflete quando o autor faz referência a
escolha de Salomão para a sucessão do rei Davi, seu pai, sem que ele fosse o sucessor
direto dele, explicando essa escolha “arbitrária” pelas virtudes do escolhido. Essa
menção de Bossuet remete ao pensamento de justificação de um possível golpe vindo
do próprio corpo da monarquia, sem que isso fosse questionado pelos súditos. Em
contrapartida ele também justificava um possível “escape” do rei em relação a sua
conduta, atribuindo a ele a concessão de perdão mediante um arrependimento genuíno,
mencionando a História do rei Davi constante na Bíblia. Esse argumento necessitava ser
amplamente defendido, pois se destinava a combater as ideias maquiavelistas que
pairavam sob a atmosfera do século XVII. Por esse motivo mais uma argumentação era
tecida no sentido de tornar hermética a constituição da escolha do rei, que se em última
instancia parecesse tirânico abusando de suas prerrogativas poderia sofrer as punições
que Deus em sua onipotência lançaria mão quando se fizesse necessário. Quanto a isso
Bossuet discorre “Ele trata o rei com os mesmos rigores. À impunidade em relação aos
homens submete-os a sofrimentos mais terríveis diante de Deus.”
E para sedimentar a discussão sem a pretensão de encerrá-la a característica que
mais fundamental da argumentação de Bossuet é a instauração de um reino divino na
Terra, projeto societário de Deus, com a intenção de preparar o reino da Terra para
ascender ao reino dos céus. “Todo império deve ser encarado sob um outro império
superior inevitável que é o império de Deus.”
Essas argumentações baseadas em aspectos religiosos ainda guardam influencia
da idade média com a intenção de conter um movimento impulsionado pelo
renascentismo (baseado no cientificismo e liberais) que sustentava a ideia de estado
forte com a participação popular nas decisões de seu destino ideias sustentadas pela
sociedade burguesa em formação.