SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 3
AS ELEIÇÕES DE 2008 E AS ALTERNATIVAS DA
ESQUERDA SOCIALISTA NO BRASIL
(Ivan Pinheiro*)
As eleições municipais deste ano, apesar de absolutamente
despolitizadas, acabaram por armar o cenário em que se dará a batalha
eleitoral de 2010. Se a esquerda socialista não aprender com os resultados
de 2008, vai continuar assistindo o jogo institucional de fora do campo, pela
televisão, uma briga de cachorro grande entre dois projetos, cada vez mais
parecidos, ambos se apresentando como a melhor alternativa para
destravar e alavancar o capitalismo: o campo majoritário do PT e o PSDB. O
centro do debate serão números macro-econômicos, ou seja, a comparação
entre os governos FHC e Lula do ponto de vista do "risco Brasil", do preço
do dólar, da balança comercial, das reservas internacionais, de quem criou
mais (e piores) empregos e captou mais investimentos estrangeiros. Para
usar uma expressão dos comentaristas econômicos burgueses, "quem fez
melhor o dever de casa", leia-se, quem mais favoreceu o capital, que
continua, no governo Lula, a aumentar sua participação na riqueza nacional,
em detrimento do trabalho.
E o pior é que, se a esquerda socialista e os movimentos populares
não criarem uma alternativa, quem vai decidir o jogo será o PMDB, o
partido que sai mais fortalecido dessas eleições e que já começa a falar
grosso, querendo as Presidências do Senado e da Câmara, ameaçando
candidatura própria em 2010, para negociar mais espaço de poder, além
dos seis ministérios que já ocupa. E é bom lembrar que o PMDB só tem
compromisso com Lula até 2010 e assim mesmo se o partido continuar
confortável em seu governo.
Aliás, esse jogo pode ser resolvido antes de começar o primeiro
tempo. Alguns fatores podem levar a um consenso burguês que imponha,
em 2010, uma solução de "união nacional", em torno de alguém como Aécio
Neves, que se apresenta "acima das classes e dos partidos", reencarnando
seu avô, Tancredo Neves, a julgar pela experiência piloto vitoriosa em Belo
Horizonte, onde haverá um governo de "coabitação" PT/PSDB, na barriga de
aluguel da legenda do PSB. Se este governo for um sucesso, a burguesia
pode forçar a edição nacional dessa experiência. Afinal, os dois partidos
fizeram aliança em mais de 1.000 municípios nestas eleições.
O fator com mais potencial para pressionar uma solução desse tipo é
a imprevisível crise mundial do capitalismo, que já "atravessou o Atlântico"
e começa a trazer turbulências para a economia brasileira. O agravamento
da crise e o risco de Lula ficar refém do PMDB podem levar o governo
federal para posições mais conservadoras.
Até porque a força do PMDB fica maior ainda, quando se verifica que
a disputa pelo segundo lugar, nestas eleições, entre PTxPSDB, não teve
vencedor. Não havendo uma segunda força incontestável, a primeira paira
acima das duas. Ambos saem destas eleições mais ou menos do mesmo
tamanho, em número de prefeitos e vereadores. Serra teve uma vitória em
São Paulo, mas com um candidato "terceirizado" , filiado ao DEM, partido
derrotado nacionalmente, condenado a sublegenda do PSDB, que consolidou
sua hegemonia na oposição de direita, que inclui (quem diria!) o PPS.
O PT ficou do mesmo tamanho, mas perdeu qualidade, saindo das
capitais mais importantes para a periferia. Perdeu três segundos turnos em
capitais para o PMDB. Não se pode dizer que Lula foi derrotado nestas
eleições, mas saiu com menos peso político. A falácia da transferência de
votos se esfarelou, praticamente tirando do páreo a candidata a "poste",
Dilma Russef, gerente principal do "choque de capitalismo" . Outro potencial
candidato da base do governo, o indefectível Cyro Gomes, pilotou um
terceiro lugar na campanha em Fortaleza, que considerava seu quintal. E
como deu trabalho para Lula eleger Luiz Marinho, em São Bernardo, onde o
Presidente mora, vota e tem seu berço político: foram necessários dois
turnos e a campanha mais cara de todo o país, na relação custo/eleitor! A
situação do PT em 2010 pode não ser confortável. Pela primeira vez, Lula
não será candidato a Presidente e até agora não apareceu o "candidato
natural" do Partido.
Diante deste quadro, deve saltar aos olhos de quem se considera de
esquerda a necessidade de se tentar criar uma alternativa à bipolaridade
conservadora ou ao consenso burguês. A primeira coisa é abandonar a
ilusão de uma candidatura "de esquerda" do PT à sucessão de Lula (que
nem é "de esquerda"), até porque qualquer candidatura do PT só terá
alguma possibilidade se aprovada pelo PMDB. Aliás, pode acontecer de o
PMDB oferecer a Vice ao PT em 2010, pois, com a crise econômica, a
tendência é que Lula, na ocasião, já não desfrute mais do atual índice de
popularidade.
A segunda questão é reconhecer que a frente de esquerda formada
em 2006 é absolutamente insuficiente para se auto-proclamar alternativa
de poder. Não se trata aqui de analisar a questão somente pelo resultado
eleitoral dos três partidos que a compuseram (PCB, PSOL e PSTU), que foi
abaixo da expectativa, sobretudo no caso do PSOL, partido-frente, herdeiro
de uma tradição eleitoral da antiga esquerda do PT, portador de quatro
mandatos no Congresso Nacional. Os resultados matemáticos desses
partidos foram fracos, principalmente pela desigualdade de condições frente
aos partidos burgueses e reformistas, que dispõem de recursos fabulosos
dos setores do capital que os financiam. Mas o fato é que esses três
partidos, mesmo juntos, não se tem apresentado como uma real alternativa
de poder.
Tanto é que a frente de esquerda não se reproduziu nacionalmente
nestas eleições exatamente porque em 2006 não passou de uma coligação
eleitoral, sem sequer um programa, sem continuidade, sem se transformar
numa FRENTE POLÍTICA real, permanente. Uma frente de esquerda tem
que apresentar um projeto político alternativo, para além das eleições, e
não ser um mero expediente para eleger parlamentares e dar musculatura a
máquinas partidárias.
A criação de uma alternativa real de poder em 2010 não pode ser
apenas um ato de vontade da esquerda. Se o movimento de massas não se
reanimar, a reedição de uma frente de partidos com registro em 2010 (PCB,
PSOL e PSTU) será apenas um gesto burocrático, mais uma coligação
eleitoral, fadada novamente à derrota. O que precisamos, além de apostar
no movimento de massas, é constituir uma FRENTE POLÍTICA, baseada num
programa comum e na unidade de ação, uma frente muito mais ampla do
que esses três partidos citados e que incorpore outras organizações
populares, movimentos sociais, personalidades e correntes de esquerda não
registradas no TSE, até para enfrentar as conseqüências da crise do
capitalismo, que certamente recairão nas costas dos trabalhadores e do
povo em geral.
Mas não pode ser uma frente política apenas para disputar eleições,
mas para unir, organizar e mobilizar os setores populares num bloco
histórico para lutar por uma alternativa de esquerda para o país, capaz de
galvanizar os trabalhadores pelas transformações econômicas, sociais e
políticas, na construção de uma sociedade fraterna e solidária. As
experiências recentes na América Latina mostram que a esquerda socialista
só tem possibilidade de se tornar alternativa de poder e de realizar
mudanças a partir de eleições, se a vitória eleitoral for produto do avanço
do movimento de massas e se vier a enfrentar os inimigos de classe e
romper os limites da legalidade burguesa.
(*) Ivan Pinheiro é Secretário Geral do PCB (Partido Comunista Brasileiro)

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Uma 'geringonça' para o Brasil?
Uma 'geringonça' para o Brasil?Uma 'geringonça' para o Brasil?
Uma 'geringonça' para o Brasil?Elisio Estanque
 
Desigualdade Eleições 2014
Desigualdade Eleições 2014Desigualdade Eleições 2014
Desigualdade Eleições 2014Lucas Bertolo
 
Democratização do estado e participação popular
Democratização do estado e participação popularDemocratização do estado e participação popular
Democratização do estado e participação popularMarcelo Monti Bica
 
Da reuniao esquerdas ee af_publico_08.06.2013
Da reuniao esquerdas ee af_publico_08.06.2013Da reuniao esquerdas ee af_publico_08.06.2013
Da reuniao esquerdas ee af_publico_08.06.2013Elisio Estanque
 
O coletivo tese do coletivo pt, ao 5º congresso nacional do partido dos tra...
O coletivo   tese do coletivo pt, ao 5º congresso nacional do partido dos tra...O coletivo   tese do coletivo pt, ao 5º congresso nacional do partido dos tra...
O coletivo tese do coletivo pt, ao 5º congresso nacional do partido dos tra...Partido dos Trabalhadores
 
Uma critica construtiva ao sindicalismo
Uma critica construtiva ao sindicalismoUma critica construtiva ao sindicalismo
Uma critica construtiva ao sindicalismoElisio Estanque
 
O teatro eleitoral em portugal – 2005 15
O teatro eleitoral em portugal – 2005 15O teatro eleitoral em portugal – 2005 15
O teatro eleitoral em portugal – 2005 15GRAZIA TANTA
 
Ps, pc e a esquerda desavinda publico 01.10-2014
Ps, pc e a esquerda desavinda publico 01.10-2014Ps, pc e a esquerda desavinda publico 01.10-2014
Ps, pc e a esquerda desavinda publico 01.10-2014Elisio Estanque
 
O sistema partidário português
O sistema partidário  portuguêsO sistema partidário  português
O sistema partidário portuguêsGRAZIA TANTA
 
Tese municipal chapa lutar e resistir
Tese municipal   chapa lutar e resistirTese municipal   chapa lutar e resistir
Tese municipal chapa lutar e resistirSofia Cavedon
 
Democratização do parlamento
Democratização do parlamentoDemocratização do parlamento
Democratização do parlamentoEdinho Silva
 
O ESTADO BRASILEIRO EM DEBATE: ENTRE AS MUDANÇAS NECESSÁRIAS E AS ELEIÇÕES 2014
O ESTADO BRASILEIRO EM DEBATE: ENTRE AS MUDANÇAS NECESSÁRIAS E AS ELEIÇÕES 2014O ESTADO BRASILEIRO EM DEBATE: ENTRE AS MUDANÇAS NECESSÁRIAS E AS ELEIÇÕES 2014
O ESTADO BRASILEIRO EM DEBATE: ENTRE AS MUDANÇAS NECESSÁRIAS E AS ELEIÇÕES 2014UFPB
 
O divórcio entre o estado e a sociedade civil no brasil
O divórcio entre o estado e a sociedade civil no brasilO divórcio entre o estado e a sociedade civil no brasil
O divórcio entre o estado e a sociedade civil no brasilFernando Alcoforado
 
Agenda para a Decada
Agenda para a DecadaAgenda para a Decada
Agenda para a Decadajoaonuno87
 

Mais procurados (20)

Uma 'geringonça' para o Brasil?
Uma 'geringonça' para o Brasil?Uma 'geringonça' para o Brasil?
Uma 'geringonça' para o Brasil?
 
Desigualdade Eleições 2014
Desigualdade Eleições 2014Desigualdade Eleições 2014
Desigualdade Eleições 2014
 
Democratização do estado e participação popular
Democratização do estado e participação popularDemocratização do estado e participação popular
Democratização do estado e participação popular
 
Da reuniao esquerdas ee af_publico_08.06.2013
Da reuniao esquerdas ee af_publico_08.06.2013Da reuniao esquerdas ee af_publico_08.06.2013
Da reuniao esquerdas ee af_publico_08.06.2013
 
O coletivo tese do coletivo pt, ao 5º congresso nacional do partido dos tra...
O coletivo   tese do coletivo pt, ao 5º congresso nacional do partido dos tra...O coletivo   tese do coletivo pt, ao 5º congresso nacional do partido dos tra...
O coletivo tese do coletivo pt, ao 5º congresso nacional do partido dos tra...
 
Textos livres
Textos livresTextos livres
Textos livres
 
Uma critica construtiva ao sindicalismo
Uma critica construtiva ao sindicalismoUma critica construtiva ao sindicalismo
Uma critica construtiva ao sindicalismo
 
O teatro eleitoral em portugal – 2005 15
O teatro eleitoral em portugal – 2005 15O teatro eleitoral em portugal – 2005 15
O teatro eleitoral em portugal – 2005 15
 
Revista Politika nº 3
Revista Politika nº 3Revista Politika nº 3
Revista Politika nº 3
 
trabalhadores partidos
trabalhadores partidostrabalhadores partidos
trabalhadores partidos
 
Ps, pc e a esquerda desavinda publico 01.10-2014
Ps, pc e a esquerda desavinda publico 01.10-2014Ps, pc e a esquerda desavinda publico 01.10-2014
Ps, pc e a esquerda desavinda publico 01.10-2014
 
Brasil futuro ameaçado
Brasil futuro ameaçadoBrasil futuro ameaçado
Brasil futuro ameaçado
 
Texto do 5._congresso_pt
Texto do 5._congresso_ptTexto do 5._congresso_pt
Texto do 5._congresso_pt
 
A autocrítica incompleta do pt
A autocrítica incompleta do ptA autocrítica incompleta do pt
A autocrítica incompleta do pt
 
O sistema partidário português
O sistema partidário  portuguêsO sistema partidário  português
O sistema partidário português
 
Tese municipal chapa lutar e resistir
Tese municipal   chapa lutar e resistirTese municipal   chapa lutar e resistir
Tese municipal chapa lutar e resistir
 
Democratização do parlamento
Democratização do parlamentoDemocratização do parlamento
Democratização do parlamento
 
O ESTADO BRASILEIRO EM DEBATE: ENTRE AS MUDANÇAS NECESSÁRIAS E AS ELEIÇÕES 2014
O ESTADO BRASILEIRO EM DEBATE: ENTRE AS MUDANÇAS NECESSÁRIAS E AS ELEIÇÕES 2014O ESTADO BRASILEIRO EM DEBATE: ENTRE AS MUDANÇAS NECESSÁRIAS E AS ELEIÇÕES 2014
O ESTADO BRASILEIRO EM DEBATE: ENTRE AS MUDANÇAS NECESSÁRIAS E AS ELEIÇÕES 2014
 
O divórcio entre o estado e a sociedade civil no brasil
O divórcio entre o estado e a sociedade civil no brasilO divórcio entre o estado e a sociedade civil no brasil
O divórcio entre o estado e a sociedade civil no brasil
 
Agenda para a Decada
Agenda para a DecadaAgenda para a Decada
Agenda para a Decada
 

Semelhante a Alternativa esquerda eleições 2010

Manifesto de apoiadores e apoiadoras da pré-candidatura
Manifesto de apoiadores e apoiadoras da pré-candidaturaManifesto de apoiadores e apoiadoras da pré-candidatura
Manifesto de apoiadores e apoiadoras da pré-candidaturaIcaro
 
As lições do julgamento do mensalão
As lições do julgamento do mensalãoAs lições do julgamento do mensalão
As lições do julgamento do mensalãoFernando Alcoforado
 
As lições do julgamento do mensalão
As lições do julgamento do mensalãoAs lições do julgamento do mensalão
As lições do julgamento do mensalãoRoberto Rabat Chame
 
Resolução do Diretório Nacional do PT
Resolução do Diretório Nacional do PTResolução do Diretório Nacional do PT
Resolução do Diretório Nacional do PTEditora 247
 
Perguntas óbvias no momento que corre
Perguntas óbvias no momento que correPerguntas óbvias no momento que corre
Perguntas óbvias no momento que correGRAZIA TANTA
 
Web rompe esquema
Web rompe esquemaWeb rompe esquema
Web rompe esquemaLuis Nassif
 
Web rompe esquemas teoria e debate 83
Web rompe esquemas  teoria e debate 83Web rompe esquemas  teoria e debate 83
Web rompe esquemas teoria e debate 83Biblio 2010
 
OS CENÁRIOS DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NO BRASIL.pdf
OS CENÁRIOS DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NO BRASIL.pdfOS CENÁRIOS DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NO BRASIL.pdf
OS CENÁRIOS DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NO BRASIL.pdfFaga1939
 
O impasse politico atual no brasil
O impasse politico atual no brasilO impasse politico atual no brasil
O impasse politico atual no brasilRoberto Rabat Chame
 
O impasse político atual no brasil
O impasse político atual no brasilO impasse político atual no brasil
O impasse político atual no brasilFernando Alcoforado
 
O gigantesco impasse político do brasil e seus cenários futuros
O gigantesco impasse político do brasil e seus cenários futurosO gigantesco impasse político do brasil e seus cenários futuros
O gigantesco impasse político do brasil e seus cenários futurosFernando Alcoforado
 
Depois da romaria eleitoral o programa segue dentro de momentos
Depois da romaria eleitoral o programa segue dentro de momentosDepois da romaria eleitoral o programa segue dentro de momentos
Depois da romaria eleitoral o programa segue dentro de momentosGRAZIA TANTA
 
Análise dos pré candidatos à presidência da república do brasil
Análise dos pré candidatos à presidência da república do brasilAnálise dos pré candidatos à presidência da república do brasil
Análise dos pré candidatos à presidência da república do brasilFernando Alcoforado
 

Semelhante a Alternativa esquerda eleições 2010 (20)

Tc 24
Tc 24Tc 24
Tc 24
 
Manifesto de apoiadores e apoiadoras da pré-candidatura
Manifesto de apoiadores e apoiadoras da pré-candidaturaManifesto de apoiadores e apoiadoras da pré-candidatura
Manifesto de apoiadores e apoiadoras da pré-candidatura
 
Jornal digital 11 12-17
Jornal digital 11 12-17Jornal digital 11 12-17
Jornal digital 11 12-17
 
Cds balanço cds final
Cds   balanço cds finalCds   balanço cds final
Cds balanço cds final
 
Unidade14
Unidade14Unidade14
Unidade14
 
Ds democracia socialista
Ds   democracia socialistaDs   democracia socialista
Ds democracia socialista
 
As lições do julgamento do mensalão
As lições do julgamento do mensalãoAs lições do julgamento do mensalão
As lições do julgamento do mensalão
 
As lições do julgamento do mensalão
As lições do julgamento do mensalãoAs lições do julgamento do mensalão
As lições do julgamento do mensalão
 
Resolução do Diretório Nacional do PT
Resolução do Diretório Nacional do PTResolução do Diretório Nacional do PT
Resolução do Diretório Nacional do PT
 
Perguntas óbvias no momento que corre
Perguntas óbvias no momento que correPerguntas óbvias no momento que corre
Perguntas óbvias no momento que corre
 
Agenda 45 1
Agenda 45 1Agenda 45 1
Agenda 45 1
 
Web rompe esquema
Web rompe esquemaWeb rompe esquema
Web rompe esquema
 
Web rompe esquemas teoria e debate 83
Web rompe esquemas  teoria e debate 83Web rompe esquemas  teoria e debate 83
Web rompe esquemas teoria e debate 83
 
Jornal digital 15-03-17
Jornal digital 15-03-17Jornal digital 15-03-17
Jornal digital 15-03-17
 
OS CENÁRIOS DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NO BRASIL.pdf
OS CENÁRIOS DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NO BRASIL.pdfOS CENÁRIOS DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NO BRASIL.pdf
OS CENÁRIOS DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NO BRASIL.pdf
 
O impasse politico atual no brasil
O impasse politico atual no brasilO impasse politico atual no brasil
O impasse politico atual no brasil
 
O impasse político atual no brasil
O impasse político atual no brasilO impasse político atual no brasil
O impasse político atual no brasil
 
O gigantesco impasse político do brasil e seus cenários futuros
O gigantesco impasse político do brasil e seus cenários futurosO gigantesco impasse político do brasil e seus cenários futuros
O gigantesco impasse político do brasil e seus cenários futuros
 
Depois da romaria eleitoral o programa segue dentro de momentos
Depois da romaria eleitoral o programa segue dentro de momentosDepois da romaria eleitoral o programa segue dentro de momentos
Depois da romaria eleitoral o programa segue dentro de momentos
 
Análise dos pré candidatos à presidência da república do brasil
Análise dos pré candidatos à presidência da república do brasilAnálise dos pré candidatos à presidência da república do brasil
Análise dos pré candidatos à presidência da república do brasil
 

Mais de Lucas Barbosa Pelissari (14)

O outro lado da crise ademar bogo
O outro lado da crise ademar bogoO outro lado da crise ademar bogo
O outro lado da crise ademar bogo
 
Lições a tirar da crise econômica internacional
Lições a tirar da crise econômica internacionalLições a tirar da crise econômica internacional
Lições a tirar da crise econômica internacional
 
Crise virginia e altamiro
Crise virginia e altamiroCrise virginia e altamiro
Crise virginia e altamiro
 
Crise plínio e wladimir pomar
Crise plínio e wladimir pomarCrise plínio e wladimir pomar
Crise plínio e wladimir pomar
 
Crise nestle e etanol
Crise nestle e etanolCrise nestle e etanol
Crise nestle e etanol
 
César benjamim
César benjamimCésar benjamim
César benjamim
 
Cartilha para debater a crise
Cartilha para debater a criseCartilha para debater a crise
Cartilha para debater a crise
 
Apostila curso da crise
Apostila curso da criseApostila curso da crise
Apostila curso da crise
 
Quatro frases que fazem crescer o nariz do pinóquio
Quatro frases que fazem crescer o nariz do pinóquioQuatro frases que fazem crescer o nariz do pinóquio
Quatro frases que fazem crescer o nariz do pinóquio
 
Novos ventos de esquerda ou ar quente de uma nova direita
Novos ventos de esquerda ou ar quente de uma nova direitaNovos ventos de esquerda ou ar quente de uma nova direita
Novos ventos de esquerda ou ar quente de uma nova direita
 
Dados economicos genari
Dados economicos genariDados economicos genari
Dados economicos genari
 
Conjuntura brasil2
Conjuntura brasil2Conjuntura brasil2
Conjuntura brasil2
 
Conjuntura brasil
Conjuntura brasilConjuntura brasil
Conjuntura brasil
 
Balançoconjunturaldasituaçãodo brasil grupobrasilmar07
Balançoconjunturaldasituaçãodo brasil grupobrasilmar07Balançoconjunturaldasituaçãodo brasil grupobrasilmar07
Balançoconjunturaldasituaçãodo brasil grupobrasilmar07
 

Alternativa esquerda eleições 2010

  • 1. AS ELEIÇÕES DE 2008 E AS ALTERNATIVAS DA ESQUERDA SOCIALISTA NO BRASIL (Ivan Pinheiro*) As eleições municipais deste ano, apesar de absolutamente despolitizadas, acabaram por armar o cenário em que se dará a batalha eleitoral de 2010. Se a esquerda socialista não aprender com os resultados de 2008, vai continuar assistindo o jogo institucional de fora do campo, pela televisão, uma briga de cachorro grande entre dois projetos, cada vez mais parecidos, ambos se apresentando como a melhor alternativa para destravar e alavancar o capitalismo: o campo majoritário do PT e o PSDB. O centro do debate serão números macro-econômicos, ou seja, a comparação entre os governos FHC e Lula do ponto de vista do "risco Brasil", do preço do dólar, da balança comercial, das reservas internacionais, de quem criou mais (e piores) empregos e captou mais investimentos estrangeiros. Para usar uma expressão dos comentaristas econômicos burgueses, "quem fez melhor o dever de casa", leia-se, quem mais favoreceu o capital, que continua, no governo Lula, a aumentar sua participação na riqueza nacional, em detrimento do trabalho. E o pior é que, se a esquerda socialista e os movimentos populares não criarem uma alternativa, quem vai decidir o jogo será o PMDB, o partido que sai mais fortalecido dessas eleições e que já começa a falar grosso, querendo as Presidências do Senado e da Câmara, ameaçando candidatura própria em 2010, para negociar mais espaço de poder, além dos seis ministérios que já ocupa. E é bom lembrar que o PMDB só tem compromisso com Lula até 2010 e assim mesmo se o partido continuar confortável em seu governo. Aliás, esse jogo pode ser resolvido antes de começar o primeiro tempo. Alguns fatores podem levar a um consenso burguês que imponha, em 2010, uma solução de "união nacional", em torno de alguém como Aécio Neves, que se apresenta "acima das classes e dos partidos", reencarnando seu avô, Tancredo Neves, a julgar pela experiência piloto vitoriosa em Belo Horizonte, onde haverá um governo de "coabitação" PT/PSDB, na barriga de aluguel da legenda do PSB. Se este governo for um sucesso, a burguesia pode forçar a edição nacional dessa experiência. Afinal, os dois partidos fizeram aliança em mais de 1.000 municípios nestas eleições. O fator com mais potencial para pressionar uma solução desse tipo é a imprevisível crise mundial do capitalismo, que já "atravessou o Atlântico" e começa a trazer turbulências para a economia brasileira. O agravamento da crise e o risco de Lula ficar refém do PMDB podem levar o governo federal para posições mais conservadoras. Até porque a força do PMDB fica maior ainda, quando se verifica que a disputa pelo segundo lugar, nestas eleições, entre PTxPSDB, não teve vencedor. Não havendo uma segunda força incontestável, a primeira paira acima das duas. Ambos saem destas eleições mais ou menos do mesmo tamanho, em número de prefeitos e vereadores. Serra teve uma vitória em
  • 2. São Paulo, mas com um candidato "terceirizado" , filiado ao DEM, partido derrotado nacionalmente, condenado a sublegenda do PSDB, que consolidou sua hegemonia na oposição de direita, que inclui (quem diria!) o PPS. O PT ficou do mesmo tamanho, mas perdeu qualidade, saindo das capitais mais importantes para a periferia. Perdeu três segundos turnos em capitais para o PMDB. Não se pode dizer que Lula foi derrotado nestas eleições, mas saiu com menos peso político. A falácia da transferência de votos se esfarelou, praticamente tirando do páreo a candidata a "poste", Dilma Russef, gerente principal do "choque de capitalismo" . Outro potencial candidato da base do governo, o indefectível Cyro Gomes, pilotou um terceiro lugar na campanha em Fortaleza, que considerava seu quintal. E como deu trabalho para Lula eleger Luiz Marinho, em São Bernardo, onde o Presidente mora, vota e tem seu berço político: foram necessários dois turnos e a campanha mais cara de todo o país, na relação custo/eleitor! A situação do PT em 2010 pode não ser confortável. Pela primeira vez, Lula não será candidato a Presidente e até agora não apareceu o "candidato natural" do Partido. Diante deste quadro, deve saltar aos olhos de quem se considera de esquerda a necessidade de se tentar criar uma alternativa à bipolaridade conservadora ou ao consenso burguês. A primeira coisa é abandonar a ilusão de uma candidatura "de esquerda" do PT à sucessão de Lula (que nem é "de esquerda"), até porque qualquer candidatura do PT só terá alguma possibilidade se aprovada pelo PMDB. Aliás, pode acontecer de o PMDB oferecer a Vice ao PT em 2010, pois, com a crise econômica, a tendência é que Lula, na ocasião, já não desfrute mais do atual índice de popularidade. A segunda questão é reconhecer que a frente de esquerda formada em 2006 é absolutamente insuficiente para se auto-proclamar alternativa de poder. Não se trata aqui de analisar a questão somente pelo resultado eleitoral dos três partidos que a compuseram (PCB, PSOL e PSTU), que foi abaixo da expectativa, sobretudo no caso do PSOL, partido-frente, herdeiro de uma tradição eleitoral da antiga esquerda do PT, portador de quatro mandatos no Congresso Nacional. Os resultados matemáticos desses partidos foram fracos, principalmente pela desigualdade de condições frente aos partidos burgueses e reformistas, que dispõem de recursos fabulosos dos setores do capital que os financiam. Mas o fato é que esses três partidos, mesmo juntos, não se tem apresentado como uma real alternativa de poder. Tanto é que a frente de esquerda não se reproduziu nacionalmente nestas eleições exatamente porque em 2006 não passou de uma coligação eleitoral, sem sequer um programa, sem continuidade, sem se transformar numa FRENTE POLÍTICA real, permanente. Uma frente de esquerda tem que apresentar um projeto político alternativo, para além das eleições, e não ser um mero expediente para eleger parlamentares e dar musculatura a máquinas partidárias. A criação de uma alternativa real de poder em 2010 não pode ser apenas um ato de vontade da esquerda. Se o movimento de massas não se
  • 3. reanimar, a reedição de uma frente de partidos com registro em 2010 (PCB, PSOL e PSTU) será apenas um gesto burocrático, mais uma coligação eleitoral, fadada novamente à derrota. O que precisamos, além de apostar no movimento de massas, é constituir uma FRENTE POLÍTICA, baseada num programa comum e na unidade de ação, uma frente muito mais ampla do que esses três partidos citados e que incorpore outras organizações populares, movimentos sociais, personalidades e correntes de esquerda não registradas no TSE, até para enfrentar as conseqüências da crise do capitalismo, que certamente recairão nas costas dos trabalhadores e do povo em geral. Mas não pode ser uma frente política apenas para disputar eleições, mas para unir, organizar e mobilizar os setores populares num bloco histórico para lutar por uma alternativa de esquerda para o país, capaz de galvanizar os trabalhadores pelas transformações econômicas, sociais e políticas, na construção de uma sociedade fraterna e solidária. As experiências recentes na América Latina mostram que a esquerda socialista só tem possibilidade de se tornar alternativa de poder e de realizar mudanças a partir de eleições, se a vitória eleitoral for produto do avanço do movimento de massas e se vier a enfrentar os inimigos de classe e romper os limites da legalidade burguesa. (*) Ivan Pinheiro é Secretário Geral do PCB (Partido Comunista Brasileiro)