Este artigo tem por objetivo traçar cenários para as eleições presidenciais do Brasil em 2022. Na disputa pela Presidência da República, Lula e Bolsonaro têm a preferência do eleitorado, seguidos por Ciro Gomes com larga diferença. Ao considerar Lula e Bolsonaro como seus candidatos preferenciais, o povo brasileiro não está percebendo que ambos têm programas econômicos neoliberais que, no caso de Bolsonaro, é radicalmente ultraneoliberal, enquanto no caso de Lula incorpora elementos desenvolvimentistas e humanistas. Ciro Gomes, por sua vez, que apresenta o melhor programa econômico para o Brasil porque é nacional desenvolvimentista, muito dificilmente superará Lula ou Bolsonaro no 1º turno das eleições presidenciais. Um cenário pressupõe que as eleições ocorrerão sem incidentes e o vencedor assumirá o poder a partir de 2023 e o cenário alternativo é o de não haver eleições graças ao golpe de estado a ser perpetrado por Bolsonaro antes e durante as eleições. Isto significa dizer que o Brasil poderá ter dois futuros alternativos: 1) Neoliberalismo com políticas sociais humanistas e democracia com Lula no poder se for vitorioso nas eleições se elas forem realizadas; e, 2) Ultra-neoliberalismo com arrocho social e ditadura com Bolsonaro no poder se for bem sucedido em impedir a realização de eleições.
EM DEFESA DO USO RACIONAL DA ÁGUA, FONTE DE VIDA, NO DIA MUNDIAL DA ÁGUA.pdf
Cenários das eleições presidenciais no Brasil: democracia com Lula ou ditadura com Bolsonaro
1. 1
OS CENÁRIOS DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NO BRASIL
Fernando Alcoforado*
As pesquisas eleitorais realizadas por diversos institutos de pesquisa apontam que dois
candidatos despontam como os preferidos do eleitorado na disputa pela Presidência da
República, Lula e Bolsonaro, seguidos por Ciro Gomes com larga diferença. Ao
considerar Lula e Bolsonaro como seus candidatos preferenciais, o povo brasileiro não
está percebendo que ambos têm programas econômicos neoliberais que, no caso de
Bolsonaro, é radicalmente ultraliberal, enquanto no caso de Lula incorpora elementos
desenvolvimentistas e humanistas. Ciro Gomes, por sua vez, que apresenta o melhor
programa econômico para o Brasil porque é nacional desenvolvimentista, muito
dificilmente superará Lula ou Bolsonaro no 1º turno das eleições presidenciais. Tudo leva
a crer que Lula deverá vencer as eleições presidenciais pelo fato de apresentar grande
vantagem sobre Bolsonaro, segundo as pesquisas eleitorais, e existir uma tendência de
vários setores sociais, como a burguesia e a classe média alta, que apoiavam Bolsonaro,
de aderirem à candidatura de Lula aumentando ainda mais suas chances de vencer as
eleições. Lula está buscando apoios de vários partidos políticos de centro e de direita à
sua candidatura, além de tentar a retirada de outras candidaturas presidenciais para que
elas venham apoiá-lo. Lula busca apoios de segmentos das classes sociais
economicamente dominantes (burguesia) que foram e ainda são sustentáculos do governo
Bolsonaro. Esta estratégia de Lula de ampliação de apoios políticos visa possibilitar sua
vitória nas eleições presidenciais ainda no 1º turno. Conquistada a vitória nas eleições,
seja no 1º ou no 2º turno, Lula pretende realizar um governo similar ao que desempenhou
de 2002 a 2010, fazendo concessões às classes economicamente dominantes (burguesia),
aos partidos políticos de centro e de direita no parlamento para conquistar maioria
parlamentar e, também, às classes subalternas (pequena burguesia, proletariado urbano e
rural e lumpemproletariado) com a realização de programas sociais que atendam os
interesses dessas classes, sobretudo no combate à miséria da população pobre para
assegurar sua governabilidade.
Lula tentaria fazer uma repetição do governo que ele realizou de 2002 a 2010. A pergunta
que se faz é se o futuro governo Lula teria condições de superar os gigantescos problemas
econômicos e sociais do País com a mesma política adotada pelo seu governo de 2002 a
2010? A resposta é não porque os atuais problemas econômicos e sociais do País se
agigantaram exigindo como solução a ruptura do governo brasileiro com o modelo
econômico neoliberal adotado desde 1990, quando a economia brasileira passou a ser
ditada pelas forças do mercado. A solução só viria com a adoção do modelo nacional
desenvolvimentista ajustado aos novos tempos em que o governo brasileiro assumiria as
rédeas da economia nacional. Sem ruptura com o modelo econômico neoliberal e sem a
adoção do modelo nacional desenvolvimentista ajustado aos novos tempos, a economia
brasileira não voltará a crescer e se desenvolver e, consequentemente, não serão
eliminados os problemas de desemprego, pobreza, violência, inflação, desindustrialização
e dependência externa, entre outros, que afetam profundamente a sociedade brasileira na
atualidade. É muito provável que o futuro governo Lula não rompa os laços do Brasil com
o neoliberalismo e a dependência do País com o exterior, após sua vitória nas eleições
pelo fato de estar contando para se eleger com o apoio de vários segmentos das classes
sociais economicamente dominantes do Brasil que impediria a realização das reformas
estruturais necessárias ao País. Apesar disto, a vitória de Lula no 1º ou no 2º turno das
eleições presidenciais proporcionaria, entretanto, como principal benefício para a maioria
do povo brasileiro o fato de abrir a perspectiva de amenização da crise social do País ao
2. 2
evitar a reeleição de Bolsonaro que realizou o pior governo da história do Brasil, além de
impedir a implantação de uma ditadura no País desejada por Bolsonaro.
Este cenário acima descrito é o que ocorreria dentro da normalidade político-institucional
com a realização de eleições sem qualquer incidente. Outro cenário alternativo ao acima
descrito está relacionado com a possibilidade do presidente Bolsonaro realizar um golpe
de estado antes ou durante as próximas eleições para impedir a eleição de Lula diante de
sua derrota inevitável nas urnas. O golpe de estado poderá ocorrer em 7 de setembro ou
nos dias das eleições (2 de outubro no 1º turno ou 30 de outubro no 2º turno) quando
Bolsonaro poderá tentar mobilizar seus fanáticos apoiadores para realizarem atos
atentatórios às instituições democráticas e, consequentemente, inviabilizarem a realização
das eleições. O questionamento que Bolsonaro faz há muito tempo da confiabilidade das
urnas eletrônicas tem sido recorrente e pode ser usado como pretexto para desencadear o
golpe de estado antes e durante as eleições. A tentativa de golpe de estado por Bolsonaro
é muito provável que aconteça porque ele sabe que não tem chances de vencer as eleições
e que, sem o mandato presidencial, terá que responder pelos inúmeros crimes que vem
praticando e ser preso. Diante desta perspectiva, Bolsonaro será capaz de tudo para não
ser afastado do poder.
Se ocorrer o golpe de estado a ser perpetrado por Bolsonaro, muito certamente haverá
manifestações contrárias no plano internacional e reações contrárias de amplos setores da
sociedade brasileira. A depender da virulência do golpe de estado, o Brasil poderá ser
engolfado em um estado de guerra civil que pode redundar em um banho de sangue de
grandes proporções cujos desdobramentos são imprevisíveis. Dois caminhos podem
resultar do golpe de estado: 1) Bolsonaro ser mal sucedido na realização do golpe de
estado graças à pronta ação das forças democráticas, ser apeado do poder e as instituições
democráticas serem mantidas no Brasil; e, 2) Bolsonaro ser bem sucedido na realização
do golpe de estado se mantendo no poder e implantando uma ditadura. No primeiro caso,
ele e seus apoiadores responderão judicialmente pela tentativa de golpe de estado e, no
segundo caso, seu sucesso resultaria do apoio obtido das Forças Armadas e de policiais
militares, milícias e caminhoneiros, entre outros, a seu governo ditatorial. Admitindo que
Bolsonaro seja bem sucedido na realização do golpe de estado para impedir a realização
de eleições, ele não terá a mínima condição de governar o País pelo fato de não ter
legitimidade por não ter sido reeleito e não contar com o apoio da grande maioria da
população brasileira que o rejeita. É oportuno observar que, em uma República
presidencialista como a do Brasil, a efetiva Governabilidade é alcançada quando o Poder
Executivo conta com o apoio da maioria das classes sociais economicamente dominantes,
do Parlamento e de amplos setores da sociedade civil. A efetiva Governabilidade não
seria alcançada pelo governo ditatorial de Bolsonaro por não reunir todas essas condições.
Para haver governabilidade no Brasil, o governo ditatorial de Bolsonaro precisaria atender
as demandas da grande maioria maioria das classes economicamente dominantes
(burguesia) e das diversas classes sociais subalternas (pequena burguesia, proletariado
urbano e rural e lumpemproletariado) para obter o apoio da Sociedade Civil, bem como
deve contar com uma ampla base política de sustentação no Parlamento para obter a
aprovação de seus projetos legislativos. Este é, portanto, o tripé da governabilidade: 1)
apoio das classes sociais economicamente dominantes; 2) apoio das diversas classes
sociais subalternas; e, 3) apoio da maioria do Parlamento. Bolsonaro poderá contar com
o apoio de parte ponderável das classes economicamente dominantes (burguesia) e da
maioria do Parlamento, mas não terá o apoio da grande maioria das classes sociais
subalternas (pequena burguesia, proletariado urbano e rural e lumpemproletariado).
3. 3
Assim, se aprofundaria o conflito existente entre o governo Bolsonaro e a Sociedade
Civil. É preciso observar que a Governabilidade só é alcançada quando acontece: 1) o
relacionamento o mais construtivo possível dos poderes constituídos da República
(Executivo, Legislativo e Judiciário); 2) o relacionamento o mais construtivo possível
entre os poderes constituídos da República e os governos dos estados componentes da
federação brasileira e municipais; e, 3) o relacionamento o mais construtivo possível entre
os poderes constituídos da República e a Sociedade Civil. Mesmo depois do golpe de
estado, nada assegura que Bolsonaro exercerá a Governabilidade do Brasil porque, além
de não ter legitimidade para exercer o poder, seu relacionamento não será construtivo
com os poderes Legislativo e Judiciário, com os governos estaduais e, sobretudo, com a
sociedade civil como ocorreu de 2018 até o momento. Governabilidade expressa, em
síntese, a possibilidade do governo de uma nação realizar políticas públicas resultantes
da convergência entre as várias instâncias do Estado nacional entre si e deste com as
organizações da Sociedade Civil. São estas, portanto, as condições para um governo
exercer a Governabilidade que expressa, em síntese, a possibilidade do governo de uma
nação realizar políticas públicas que não seria o caso de um governo ditatorial de
Bolsonaro.
Em síntese, o Brasil se defronta com dois cenários alternativos para as próximas eleições
presidenciais: 1) Neoliberalismo com políticas sociais humanistas e democracia com Lula
no poder; e, 2) Ultra-neoliberalismo com arrocho social e ditadura com Bolsonaro no
poder. Espero e desejo que prevaleça o cenário que melhor corresponda aos magnos
interesses da grande maioria do povo brasileiro com a vitória das forças políticas
democráticas.
* Fernando Alcoforado, 82, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema
CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, da SBPC- Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência e do IPB- Instituto Politécnico da Bahia, engenheiro e doutor em Planejamento
Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor
nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de
sistemas energéticos, foi Assessor do Vice-Presidente de Engenharia e Tecnologia da LIGHT S.A. Electric
power distribution company do Rio de Janeiro, Coordenador de Planejamento Estratégico do CEPED-
Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Bahia, Subsecretário de Energia do Estado da Bahia, Secretário
do Planejamento de Salvador, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor
a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o
Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese
de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003),
Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI
ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary
Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr.
Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável-
Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio
Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora
CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no
Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que
Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba,
2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-
autoria), Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019) e A humanidade
ameaçada e as estratégias para sua sobrevivência (Editora Dialética, São Paulo, 2021).