SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 6
Baixar para ler offline
o milagre do sal 
nas salinas de Rio Maior 
por João Aníbal Henriques
o milagre do sal 
Por João Aníbal Henriques 
Quando em 1177 Pêro e Aragão e sua mulher Sancha Soares vendem 
uma parte das Salinas de Rio Maior à Ordem do Templo, facto 
confirmado através de documento que é a mais antiga prova 
documental da existência daquele equipamento, estavam longe de 
imaginar que marcavam de forma efectiva a história daquele recanto 
extraordinário de Portugal. 
Apesar desta referência, no Século XII as Salinas de Rio Maior já 
deveriam ser uma exploração antiga. De facto, quer pela sua estrutura 
funcional, quer pelas técnicas utilizadas para a captação da água e seu 
posterior tratamento, tudo indica que as mesmas já existiam pelo 
menos durante o período de ocupação Árabe da Península Ibérica 
(Século VIII – Século XII), sendo aceitável que até já existissem em 
épocas anteriores. 
Produto de primeira importância para a vida, o sal que nasce 
naturalmente de uma mina de sal-gema existente no subsolo da Serra 
dos Candeeiros foi sempre parte essencial do esforço de 
sobrevivência da vida humana. Por este motivo, é crível que tenha 
sido ponto de interesse para o Ser Humano moderno desde que ele 
chegou à região.
Testemunho antigo de um mar pré-histórico que terá existido no local, 
razão que explica a alta concentração de potássio e a qualidade deste sal, 
existem vestígios de outras pequenas explorações mais antigas em torno 
do espaço actual que, mercê do fluxo permanente de água no poço que 
agora se usa, forampreteridos pela localização actual. 
O incontornável Pinho Leal, no seu “Portugal Antigo e Moderno”, refere 
inclusivamente uma lenda que explica a localização actual das Marinhas 
do Sal. Segundo ele, uma pastora que por ali guiava o seu rebanho terá 
sentido sede e procurado água numa nascente situada imediatamente a 
Leste da povoação designada como Fonte da Bica. Ao provar a água, 
constatou que a mesma era muito salgada, tendo informado a sua família 
que imediatamente acorreu ao local. Experimentada a mesma e escavado 
um poço no ponto onde encontramos o actual, verificaram o fluxo 
daquele manancial e mudaram para ali a exploração. 
Ainda no “Portugal Antigo e Moderno”, Pinho Leal refere que no final do 
Século XIX cada talho de sal valia em média 144$000 Reis, montante 
elevado para aquela época e que atesta bem a importância da jazida e do 
produto na Europa de então. É ainda ele que, reiterando informação 
antiga, explica que estas salinas são únicas na Península Ibérica e que 
eram tidas como as mais importantes dessa altura, sendo reconhecidas a 
nível internacional. 
Classificadas como Imóvel de Interesse Público desde 1997 (Decreto n.º 
67/97, DR, 1.ª série-B, n.º 301 de 31 Dezembro 1997), as Salinas de Rio 
Maior são hoje um dos pontos mais interessantes e incontornáveis no 
panorama turístico do Centro de Portugal.
Recentemente, depois de o sal ter perdido valor e de a economia ter abalado 
profundamente a estrutura de recolha e tratamento do sal, as salinas conheceram 
um período de algum desânimo e declínio que se traduziu na diminuição da sua 
produção e da degradação das suas estruturas de trabalho. No entanto, depois de 
constituída a Cooperativa dos Produtores de Sal, o sítio foi redinamizado, tendo 
sido recuperadas as antigas casas de madeiras onde se recolhia o sal e 
reconfigurada toda a envolvência num interessante espaço comercial. 
No meio das ruelas ladeadas pelas cabanas de madeira de aspecto rústico, 
nasceram cafés, lojas de velharias, restaurantes e espaços onde se vende sal e 
artesanato local, num esforço de modernização e de adequação da oferta às 
exigências do Mundo actual digno de uma nota especial. Preservando as memórias 
locais e as técnicas e tradições antigas, as salinas tornaram-se um espaço 
etnográfico da maior importância e de grande interesse para todos os que visitam 
Portugal. 
Por ali se encontram, para além dos sacos de sal embalados de forma atractiva e 
muito actual, os queijinhos de sal, inventados de forma genial por um dos 
comerciantes do local, réplicas das pás e demais instrumentos utilizados na 
extracção e as bonitas telhas muçulmanas que dão forma aos telhados da região. 
Interessante, para além das velhas estruturas de madeira suportadas por troncos 
de oliveiras que preservam a sua forma rústica original, é a manutenção do sistema 
complexo de fechaduras em madeira, inventadas e desenvolvidas para evitar a 
utilização de materiais feitos de metal que estão muito expostos à oxidação 
reforçada aqui pela presença permanente do sal. 
Para além de tudo isto, que só por si seria motivo suficiente para uma visita ao 
local, os restaurantes ali instalados oferecem uma ampla carta de refeições 
tradicionais, confeccionadas com base em receitas antigas e com ingredientes de 
qualidade excepcional.
Em torno das salinas, num percurso que se estende por 
mais de 7 kms, existe uma ciclovia que permite ao 
visitante conhecer o espaço em redor, nomeadamente a 
flora e a fauna do Parque Natural da Serra d’Aire e dos 
Candeeiros, e que se complementa com uma série de 
percursos pedestres que garantem passeios 
verdadeiramente excepcionais. 
O património histórico, composto por fontes e fontanários que traduzem uma 
espécie de homenagem à água que prodigamente nasce com grande qualidade 
em toda a região, cruzam-se com inúmeras igrejas, capelas e pequenas ermidas, 
permitindo compreender a linha que dá forma a um culto verdadeiramente 
ancestral. Importa ressalvar que, ao mesmo tempo que na Aldeia das 
Alcobertas, uma das capelas da principal igreja do local reutiliza uma antiga 
anta que foi integrada no espaço cultual, um pouco a Sul de Rio Maior 
encontramos a Asseiceira, com as suas pouco conhecidas aparições Marianas, a 
que se juntam, um pouco mais a Norte, o espaço incontornável da Cova da Iria, 
com o Santuário Mariano de Fátima que fecha uma espécie de ciclo de 
património imaterial. 
Os milagres, que em Rio Maior são desde sempre parte constante do devir 
diário da população, traduzem-se aqui na sua expressão mais singela da branca 
aparição. No sopé da montanha, longe do mar e da costa onde seria coisa 
natural, o sal nasce da terra, oferecendo vida e saúde a quem estiver mal. 
Para quem visita o espaço pela primeira vez, a visão dos montículos brancos 
espalhados por estas marinhas tão especiais, representa um exercício quase 
onírico de magia que reforça o carácter telúrico da região. Pena é (ou talvez 
não) que ainda sejam poucos aqueles que conhecem este recanto tão especial!
o milagre do sal 
nas salinas de Rio Maior 
João Aníbal Henriques 
Cascais - Portugal 
Tel. +351 962 519 514 
joao_henriques@yahoo.com

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Rota Do Açúcar
Rota Do AçúcarRota Do Açúcar
Rota Do Açúcarriscas
 
Rota Do AçUcar (1).Pps
Rota Do AçUcar (1).PpsRota Do AçUcar (1).Pps
Rota Do AçUcar (1).Ppscab3032
 
Aldeias Tradicionais Portuguesas
Aldeias Tradicionais PortuguesasAldeias Tradicionais Portuguesas
Aldeias Tradicionais Portuguesasbolotamv
 
Pontos Turisticos De BeléM 3 Ano A
Pontos Turisticos De BeléM 3 Ano APontos Turisticos De BeléM 3 Ano A
Pontos Turisticos De BeléM 3 Ano AAngela
 
PROJETO THE KING CRAB ALBATROZ
PROJETO THE KING CRAB ALBATROZ PROJETO THE KING CRAB ALBATROZ
PROJETO THE KING CRAB ALBATROZ Cristiano Hackl
 
2016 01-30 - roteiro - flávio simões 6ºf
2016 01-30 - roteiro - flávio simões 6ºf2016 01-30 - roteiro - flávio simões 6ºf
2016 01-30 - roteiro - flávio simões 6ºfO Ciclista
 
A Quinta do Pisão em Cascais - por João Aníbal Henriques
A Quinta do Pisão em Cascais - por João Aníbal HenriquesA Quinta do Pisão em Cascais - por João Aníbal Henriques
A Quinta do Pisão em Cascais - por João Aníbal HenriquesCascais - Portugal
 
Cabo frio 400 anos atividade do curso
Cabo frio 400 anos atividade do cursoCabo frio 400 anos atividade do curso
Cabo frio 400 anos atividade do cursoelaine myrtes
 
Bairros Históricos do Porto
Bairros Históricos do PortoBairros Históricos do Porto
Bairros Históricos do Portolilianamatias
 
Cidade do porto portugal
Cidade do porto   portugalCidade do porto   portugal
Cidade do porto portugalRubiana Alves
 
Trabalho freguesia arcozelo
Trabalho freguesia arcozeloTrabalho freguesia arcozelo
Trabalho freguesia arcozelobruno oliveira
 
Release II Festival do Acarajé da Baiana Ciça
Release II Festival do Acarajé da Baiana CiçaRelease II Festival do Acarajé da Baiana Ciça
Release II Festival do Acarajé da Baiana CiçaNorton Tavares
 
Apresentação Costa Nova
Apresentação  Costa  NovaApresentação  Costa  Nova
Apresentação Costa Novaguest3bc759
 
Jogo Educativo - 450 anos de Fundação da Cidade do Rio de Janeiro
Jogo Educativo - 450 anos de Fundação da Cidade do Rio de Janeiro Jogo Educativo - 450 anos de Fundação da Cidade do Rio de Janeiro
Jogo Educativo - 450 anos de Fundação da Cidade do Rio de Janeiro Jessica Oliveira
 

Mais procurados (19)

Rota Do Açúcar
Rota Do AçúcarRota Do Açúcar
Rota Do Açúcar
 
aldeias históricas
aldeias históricasaldeias históricas
aldeias históricas
 
Aveiro
AveiroAveiro
Aveiro
 
Rota Do AçUcar (1).Pps
Rota Do AçUcar (1).PpsRota Do AçUcar (1).Pps
Rota Do AçUcar (1).Pps
 
Aldeias Tradicionais Portuguesas
Aldeias Tradicionais PortuguesasAldeias Tradicionais Portuguesas
Aldeias Tradicionais Portuguesas
 
Pontos Turisticos De BeléM 3 Ano A
Pontos Turisticos De BeléM 3 Ano APontos Turisticos De BeléM 3 Ano A
Pontos Turisticos De BeléM 3 Ano A
 
PROJETO THE KING CRAB ALBATROZ
PROJETO THE KING CRAB ALBATROZ PROJETO THE KING CRAB ALBATROZ
PROJETO THE KING CRAB ALBATROZ
 
2016 01-30 - roteiro - flávio simões 6ºf
2016 01-30 - roteiro - flávio simões 6ºf2016 01-30 - roteiro - flávio simões 6ºf
2016 01-30 - roteiro - flávio simões 6ºf
 
A Quinta do Pisão em Cascais - por João Aníbal Henriques
A Quinta do Pisão em Cascais - por João Aníbal HenriquesA Quinta do Pisão em Cascais - por João Aníbal Henriques
A Quinta do Pisão em Cascais - por João Aníbal Henriques
 
Cabo frio 400 anos atividade do curso
Cabo frio 400 anos atividade do cursoCabo frio 400 anos atividade do curso
Cabo frio 400 anos atividade do curso
 
Bairros Históricos do Porto
Bairros Históricos do PortoBairros Históricos do Porto
Bairros Históricos do Porto
 
Cidade do porto portugal
Cidade do porto   portugalCidade do porto   portugal
Cidade do porto portugal
 
História da água santa
História da água santaHistória da água santa
História da água santa
 
Trabalho freguesia arcozelo
Trabalho freguesia arcozeloTrabalho freguesia arcozelo
Trabalho freguesia arcozelo
 
Estremadura
EstremaduraEstremadura
Estremadura
 
Release II Festival do Acarajé da Baiana Ciça
Release II Festival do Acarajé da Baiana CiçaRelease II Festival do Acarajé da Baiana Ciça
Release II Festival do Acarajé da Baiana Ciça
 
Apresentação Costa Nova
Apresentação  Costa  NovaApresentação  Costa  Nova
Apresentação Costa Nova
 
Jogo Educativo - 450 anos de Fundação da Cidade do Rio de Janeiro
Jogo Educativo - 450 anos de Fundação da Cidade do Rio de Janeiro Jogo Educativo - 450 anos de Fundação da Cidade do Rio de Janeiro
Jogo Educativo - 450 anos de Fundação da Cidade do Rio de Janeiro
 
SãO Roque
SãO RoqueSãO Roque
SãO Roque
 

Semelhante a O Milagre do Sal em Rio Maior - por João Aníbal Henriques

Semelhante a O Milagre do Sal em Rio Maior - por João Aníbal Henriques (20)

Breve História do Sal Madalena Canas
Breve História do Sal Madalena CanasBreve História do Sal Madalena Canas
Breve História do Sal Madalena Canas
 
Cabo carvoeiro
Cabo carvoeiro Cabo carvoeiro
Cabo carvoeiro
 
973
973973
973
 
Polonia a catedral subterranea feita de sal
Polonia   a catedral subterranea feita de salPolonia   a catedral subterranea feita de sal
Polonia a catedral subterranea feita de sal
 
Polonia, a catedral subterranea de sal
Polonia, a catedral subterranea de salPolonia, a catedral subterranea de sal
Polonia, a catedral subterranea de sal
 
MyBrainMagazine 7
MyBrainMagazine 7MyBrainMagazine 7
MyBrainMagazine 7
 
O sal e seus substitutos
O sal e seus substitutosO sal e seus substitutos
O sal e seus substitutos
 
Vestígios do Passado
Vestígios do PassadoVestígios do Passado
Vestígios do Passado
 
Ericeira
EriceiraEriceira
Ericeira
 
A Vila De Santa Luzia
A Vila De Santa LuziaA Vila De Santa Luzia
A Vila De Santa Luzia
 
Briteiros
BriteirosBriteiros
Briteiros
 
Roteiro PortuguéS Alicia
Roteiro PortuguéS AliciaRoteiro PortuguéS Alicia
Roteiro PortuguéS Alicia
 
Rota do Românico
Rota do RomânicoRota do Românico
Rota do Românico
 
Canidelo (2)
Canidelo (2)Canidelo (2)
Canidelo (2)
 
UFCD - STC6 - Modelo Urbanismo e Mobilidade
UFCD - STC6 - Modelo Urbanismo e MobilidadeUFCD - STC6 - Modelo Urbanismo e Mobilidade
UFCD - STC6 - Modelo Urbanismo e Mobilidade
 
São Miguel das Missões e Ametista do Sul
São Miguel das Missões e Ametista do SulSão Miguel das Missões e Ametista do Sul
São Miguel das Missões e Ametista do Sul
 
Apresentação Washington Fajardo
Apresentação Washington FajardoApresentação Washington Fajardo
Apresentação Washington Fajardo
 
Cidade velha
Cidade velhaCidade velha
Cidade velha
 
Visita A Belmonte
Visita A BelmonteVisita A Belmonte
Visita A Belmonte
 
Região da estremadura
Região da estremaduraRegião da estremadura
Região da estremadura
 

Mais de Cascais - Portugal

Fundação Cascais - 10º Aniversário - 2003
Fundação Cascais - 10º Aniversário - 2003Fundação Cascais - 10º Aniversário - 2003
Fundação Cascais - 10º Aniversário - 2003Cascais - Portugal
 
Apresentação do Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal Henriques
Apresentação do Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal HenriquesApresentação do Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal Henriques
Apresentação do Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal HenriquesCascais - Portugal
 
O Outro Cascais - de João Aníbal Henriques.pdf
O Outro Cascais - de João Aníbal Henriques.pdfO Outro Cascais - de João Aníbal Henriques.pdf
O Outro Cascais - de João Aníbal Henriques.pdfCascais - Portugal
 
Convite Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal Henriques
Convite Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal HenriquesConvite Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal Henriques
Convite Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal HenriquesCascais - Portugal
 
Restaurante Maré de José d'Avillez
Restaurante Maré de José d'AvillezRestaurante Maré de José d'Avillez
Restaurante Maré de José d'AvillezCascais - Portugal
 
Apresentação do Livro "Viva Estoril" de João Aníbal Henriques
Apresentação do Livro "Viva Estoril" de João Aníbal HenriquesApresentação do Livro "Viva Estoril" de João Aníbal Henriques
Apresentação do Livro "Viva Estoril" de João Aníbal HenriquesCascais - Portugal
 
Livro "Viva Estoril" de João Aníbal Henriques
Livro "Viva Estoril" de João Aníbal HenriquesLivro "Viva Estoril" de João Aníbal Henriques
Livro "Viva Estoril" de João Aníbal HenriquesCascais - Portugal
 
Quando o progresso se une à tradição - Construção da Estrada Marginal em 1940
Quando o progresso se une à tradição - Construção da Estrada Marginal em 1940Quando o progresso se une à tradição - Construção da Estrada Marginal em 1940
Quando o progresso se une à tradição - Construção da Estrada Marginal em 1940Cascais - Portugal
 
Apresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal Henriques
Apresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal HenriquesApresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal Henriques
Apresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal HenriquesCascais - Portugal
 
Livro "AL-QABDAQ" de João Aníbal Henriques
Livro "AL-QABDAQ" de João Aníbal HenriquesLivro "AL-QABDAQ" de João Aníbal Henriques
Livro "AL-QABDAQ" de João Aníbal HenriquesCascais - Portugal
 
Convite para a Apresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal Henriques
Convite para a Apresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal HenriquesConvite para a Apresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal Henriques
Convite para a Apresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal HenriquesCascais - Portugal
 
Da Aldeia para o Cabaré - por Marco Alves
Da Aldeia para o Cabaré - por Marco AlvesDa Aldeia para o Cabaré - por Marco Alves
Da Aldeia para o Cabaré - por Marco AlvesCascais - Portugal
 
A Quinta da Alagoa em Carcavelos - por João Aníbal Henriques
A Quinta da Alagoa em Carcavelos - por João Aníbal HenriquesA Quinta da Alagoa em Carcavelos - por João Aníbal Henriques
A Quinta da Alagoa em Carcavelos - por João Aníbal HenriquesCascais - Portugal
 
"Flatland: a Romance of Many Dimensions" - Edwin Abbott - 1884
"Flatland: a Romance of Many Dimensions" - Edwin Abbott - 1884"Flatland: a Romance of Many Dimensions" - Edwin Abbott - 1884
"Flatland: a Romance of Many Dimensions" - Edwin Abbott - 1884Cascais - Portugal
 
O Paço de Monte Real - por João Aníbal Henriques
O Paço de Monte Real - por João Aníbal HenriquesO Paço de Monte Real - por João Aníbal Henriques
O Paço de Monte Real - por João Aníbal HenriquesCascais - Portugal
 
A Casa Sommer em Cascais - por João Aníbal Henriques
A Casa Sommer em Cascais - por João Aníbal HenriquesA Casa Sommer em Cascais - por João Aníbal Henriques
A Casa Sommer em Cascais - por João Aníbal HenriquesCascais - Portugal
 
A Lenda da Boca do inferno - por João Aníbal Henriques
A Lenda da Boca do inferno - por João Aníbal HenriquesA Lenda da Boca do inferno - por João Aníbal Henriques
A Lenda da Boca do inferno - por João Aníbal HenriquesCascais - Portugal
 
Memórias de Guerra nos Açores - por João Aníbal Henriques
Memórias de Guerra nos Açores - por João Aníbal HenriquesMemórias de Guerra nos Açores - por João Aníbal Henriques
Memórias de Guerra nos Açores - por João Aníbal HenriquesCascais - Portugal
 
O Assassínio que Salazar Abafou - Fernando Dacosta
O Assassínio que Salazar Abafou - Fernando DacostaO Assassínio que Salazar Abafou - Fernando Dacosta
O Assassínio que Salazar Abafou - Fernando DacostaCascais - Portugal
 
O Convento de Mafra - por João Aníbal Henriques
O Convento de Mafra - por João Aníbal HenriquesO Convento de Mafra - por João Aníbal Henriques
O Convento de Mafra - por João Aníbal HenriquesCascais - Portugal
 

Mais de Cascais - Portugal (20)

Fundação Cascais - 10º Aniversário - 2003
Fundação Cascais - 10º Aniversário - 2003Fundação Cascais - 10º Aniversário - 2003
Fundação Cascais - 10º Aniversário - 2003
 
Apresentação do Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal Henriques
Apresentação do Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal HenriquesApresentação do Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal Henriques
Apresentação do Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal Henriques
 
O Outro Cascais - de João Aníbal Henriques.pdf
O Outro Cascais - de João Aníbal Henriques.pdfO Outro Cascais - de João Aníbal Henriques.pdf
O Outro Cascais - de João Aníbal Henriques.pdf
 
Convite Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal Henriques
Convite Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal HenriquesConvite Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal Henriques
Convite Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal Henriques
 
Restaurante Maré de José d'Avillez
Restaurante Maré de José d'AvillezRestaurante Maré de José d'Avillez
Restaurante Maré de José d'Avillez
 
Apresentação do Livro "Viva Estoril" de João Aníbal Henriques
Apresentação do Livro "Viva Estoril" de João Aníbal HenriquesApresentação do Livro "Viva Estoril" de João Aníbal Henriques
Apresentação do Livro "Viva Estoril" de João Aníbal Henriques
 
Livro "Viva Estoril" de João Aníbal Henriques
Livro "Viva Estoril" de João Aníbal HenriquesLivro "Viva Estoril" de João Aníbal Henriques
Livro "Viva Estoril" de João Aníbal Henriques
 
Quando o progresso se une à tradição - Construção da Estrada Marginal em 1940
Quando o progresso se une à tradição - Construção da Estrada Marginal em 1940Quando o progresso se une à tradição - Construção da Estrada Marginal em 1940
Quando o progresso se une à tradição - Construção da Estrada Marginal em 1940
 
Apresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal Henriques
Apresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal HenriquesApresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal Henriques
Apresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal Henriques
 
Livro "AL-QABDAQ" de João Aníbal Henriques
Livro "AL-QABDAQ" de João Aníbal HenriquesLivro "AL-QABDAQ" de João Aníbal Henriques
Livro "AL-QABDAQ" de João Aníbal Henriques
 
Convite para a Apresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal Henriques
Convite para a Apresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal HenriquesConvite para a Apresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal Henriques
Convite para a Apresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal Henriques
 
Da Aldeia para o Cabaré - por Marco Alves
Da Aldeia para o Cabaré - por Marco AlvesDa Aldeia para o Cabaré - por Marco Alves
Da Aldeia para o Cabaré - por Marco Alves
 
A Quinta da Alagoa em Carcavelos - por João Aníbal Henriques
A Quinta da Alagoa em Carcavelos - por João Aníbal HenriquesA Quinta da Alagoa em Carcavelos - por João Aníbal Henriques
A Quinta da Alagoa em Carcavelos - por João Aníbal Henriques
 
"Flatland: a Romance of Many Dimensions" - Edwin Abbott - 1884
"Flatland: a Romance of Many Dimensions" - Edwin Abbott - 1884"Flatland: a Romance of Many Dimensions" - Edwin Abbott - 1884
"Flatland: a Romance of Many Dimensions" - Edwin Abbott - 1884
 
O Paço de Monte Real - por João Aníbal Henriques
O Paço de Monte Real - por João Aníbal HenriquesO Paço de Monte Real - por João Aníbal Henriques
O Paço de Monte Real - por João Aníbal Henriques
 
A Casa Sommer em Cascais - por João Aníbal Henriques
A Casa Sommer em Cascais - por João Aníbal HenriquesA Casa Sommer em Cascais - por João Aníbal Henriques
A Casa Sommer em Cascais - por João Aníbal Henriques
 
A Lenda da Boca do inferno - por João Aníbal Henriques
A Lenda da Boca do inferno - por João Aníbal HenriquesA Lenda da Boca do inferno - por João Aníbal Henriques
A Lenda da Boca do inferno - por João Aníbal Henriques
 
Memórias de Guerra nos Açores - por João Aníbal Henriques
Memórias de Guerra nos Açores - por João Aníbal HenriquesMemórias de Guerra nos Açores - por João Aníbal Henriques
Memórias de Guerra nos Açores - por João Aníbal Henriques
 
O Assassínio que Salazar Abafou - Fernando Dacosta
O Assassínio que Salazar Abafou - Fernando DacostaO Assassínio que Salazar Abafou - Fernando Dacosta
O Assassínio que Salazar Abafou - Fernando Dacosta
 
O Convento de Mafra - por João Aníbal Henriques
O Convento de Mafra - por João Aníbal HenriquesO Convento de Mafra - por João Aníbal Henriques
O Convento de Mafra - por João Aníbal Henriques
 

O Milagre do Sal em Rio Maior - por João Aníbal Henriques

  • 1. o milagre do sal nas salinas de Rio Maior por João Aníbal Henriques
  • 2. o milagre do sal Por João Aníbal Henriques Quando em 1177 Pêro e Aragão e sua mulher Sancha Soares vendem uma parte das Salinas de Rio Maior à Ordem do Templo, facto confirmado através de documento que é a mais antiga prova documental da existência daquele equipamento, estavam longe de imaginar que marcavam de forma efectiva a história daquele recanto extraordinário de Portugal. Apesar desta referência, no Século XII as Salinas de Rio Maior já deveriam ser uma exploração antiga. De facto, quer pela sua estrutura funcional, quer pelas técnicas utilizadas para a captação da água e seu posterior tratamento, tudo indica que as mesmas já existiam pelo menos durante o período de ocupação Árabe da Península Ibérica (Século VIII – Século XII), sendo aceitável que até já existissem em épocas anteriores. Produto de primeira importância para a vida, o sal que nasce naturalmente de uma mina de sal-gema existente no subsolo da Serra dos Candeeiros foi sempre parte essencial do esforço de sobrevivência da vida humana. Por este motivo, é crível que tenha sido ponto de interesse para o Ser Humano moderno desde que ele chegou à região.
  • 3. Testemunho antigo de um mar pré-histórico que terá existido no local, razão que explica a alta concentração de potássio e a qualidade deste sal, existem vestígios de outras pequenas explorações mais antigas em torno do espaço actual que, mercê do fluxo permanente de água no poço que agora se usa, forampreteridos pela localização actual. O incontornável Pinho Leal, no seu “Portugal Antigo e Moderno”, refere inclusivamente uma lenda que explica a localização actual das Marinhas do Sal. Segundo ele, uma pastora que por ali guiava o seu rebanho terá sentido sede e procurado água numa nascente situada imediatamente a Leste da povoação designada como Fonte da Bica. Ao provar a água, constatou que a mesma era muito salgada, tendo informado a sua família que imediatamente acorreu ao local. Experimentada a mesma e escavado um poço no ponto onde encontramos o actual, verificaram o fluxo daquele manancial e mudaram para ali a exploração. Ainda no “Portugal Antigo e Moderno”, Pinho Leal refere que no final do Século XIX cada talho de sal valia em média 144$000 Reis, montante elevado para aquela época e que atesta bem a importância da jazida e do produto na Europa de então. É ainda ele que, reiterando informação antiga, explica que estas salinas são únicas na Península Ibérica e que eram tidas como as mais importantes dessa altura, sendo reconhecidas a nível internacional. Classificadas como Imóvel de Interesse Público desde 1997 (Decreto n.º 67/97, DR, 1.ª série-B, n.º 301 de 31 Dezembro 1997), as Salinas de Rio Maior são hoje um dos pontos mais interessantes e incontornáveis no panorama turístico do Centro de Portugal.
  • 4. Recentemente, depois de o sal ter perdido valor e de a economia ter abalado profundamente a estrutura de recolha e tratamento do sal, as salinas conheceram um período de algum desânimo e declínio que se traduziu na diminuição da sua produção e da degradação das suas estruturas de trabalho. No entanto, depois de constituída a Cooperativa dos Produtores de Sal, o sítio foi redinamizado, tendo sido recuperadas as antigas casas de madeiras onde se recolhia o sal e reconfigurada toda a envolvência num interessante espaço comercial. No meio das ruelas ladeadas pelas cabanas de madeira de aspecto rústico, nasceram cafés, lojas de velharias, restaurantes e espaços onde se vende sal e artesanato local, num esforço de modernização e de adequação da oferta às exigências do Mundo actual digno de uma nota especial. Preservando as memórias locais e as técnicas e tradições antigas, as salinas tornaram-se um espaço etnográfico da maior importância e de grande interesse para todos os que visitam Portugal. Por ali se encontram, para além dos sacos de sal embalados de forma atractiva e muito actual, os queijinhos de sal, inventados de forma genial por um dos comerciantes do local, réplicas das pás e demais instrumentos utilizados na extracção e as bonitas telhas muçulmanas que dão forma aos telhados da região. Interessante, para além das velhas estruturas de madeira suportadas por troncos de oliveiras que preservam a sua forma rústica original, é a manutenção do sistema complexo de fechaduras em madeira, inventadas e desenvolvidas para evitar a utilização de materiais feitos de metal que estão muito expostos à oxidação reforçada aqui pela presença permanente do sal. Para além de tudo isto, que só por si seria motivo suficiente para uma visita ao local, os restaurantes ali instalados oferecem uma ampla carta de refeições tradicionais, confeccionadas com base em receitas antigas e com ingredientes de qualidade excepcional.
  • 5. Em torno das salinas, num percurso que se estende por mais de 7 kms, existe uma ciclovia que permite ao visitante conhecer o espaço em redor, nomeadamente a flora e a fauna do Parque Natural da Serra d’Aire e dos Candeeiros, e que se complementa com uma série de percursos pedestres que garantem passeios verdadeiramente excepcionais. O património histórico, composto por fontes e fontanários que traduzem uma espécie de homenagem à água que prodigamente nasce com grande qualidade em toda a região, cruzam-se com inúmeras igrejas, capelas e pequenas ermidas, permitindo compreender a linha que dá forma a um culto verdadeiramente ancestral. Importa ressalvar que, ao mesmo tempo que na Aldeia das Alcobertas, uma das capelas da principal igreja do local reutiliza uma antiga anta que foi integrada no espaço cultual, um pouco a Sul de Rio Maior encontramos a Asseiceira, com as suas pouco conhecidas aparições Marianas, a que se juntam, um pouco mais a Norte, o espaço incontornável da Cova da Iria, com o Santuário Mariano de Fátima que fecha uma espécie de ciclo de património imaterial. Os milagres, que em Rio Maior são desde sempre parte constante do devir diário da população, traduzem-se aqui na sua expressão mais singela da branca aparição. No sopé da montanha, longe do mar e da costa onde seria coisa natural, o sal nasce da terra, oferecendo vida e saúde a quem estiver mal. Para quem visita o espaço pela primeira vez, a visão dos montículos brancos espalhados por estas marinhas tão especiais, representa um exercício quase onírico de magia que reforça o carácter telúrico da região. Pena é (ou talvez não) que ainda sejam poucos aqueles que conhecem este recanto tão especial!
  • 6. o milagre do sal nas salinas de Rio Maior João Aníbal Henriques Cascais - Portugal Tel. +351 962 519 514 joao_henriques@yahoo.com