O documento descreve a história das Salinas de Rio Maior em Portugal, uma das mais antigas explorações de sal no país. As salinas provavelmente existiam durante o período árabe e produziam um sal de alta qualidade e importância econômica. Atualmente, as salinas preservam tradições antigas e tornaram-se um importante local turístico e patrimônio cultural.
O Milagre do Sal em Rio Maior - por João Aníbal Henriques
1. o milagre do sal
nas salinas de Rio Maior
por João Aníbal Henriques
2. o milagre do sal
Por João Aníbal Henriques
Quando em 1177 Pêro e Aragão e sua mulher Sancha Soares vendem
uma parte das Salinas de Rio Maior à Ordem do Templo, facto
confirmado através de documento que é a mais antiga prova
documental da existência daquele equipamento, estavam longe de
imaginar que marcavam de forma efectiva a história daquele recanto
extraordinário de Portugal.
Apesar desta referência, no Século XII as Salinas de Rio Maior já
deveriam ser uma exploração antiga. De facto, quer pela sua estrutura
funcional, quer pelas técnicas utilizadas para a captação da água e seu
posterior tratamento, tudo indica que as mesmas já existiam pelo
menos durante o período de ocupação Árabe da Península Ibérica
(Século VIII – Século XII), sendo aceitável que até já existissem em
épocas anteriores.
Produto de primeira importância para a vida, o sal que nasce
naturalmente de uma mina de sal-gema existente no subsolo da Serra
dos Candeeiros foi sempre parte essencial do esforço de
sobrevivência da vida humana. Por este motivo, é crível que tenha
sido ponto de interesse para o Ser Humano moderno desde que ele
chegou à região.
3. Testemunho antigo de um mar pré-histórico que terá existido no local,
razão que explica a alta concentração de potássio e a qualidade deste sal,
existem vestígios de outras pequenas explorações mais antigas em torno
do espaço actual que, mercê do fluxo permanente de água no poço que
agora se usa, forampreteridos pela localização actual.
O incontornável Pinho Leal, no seu “Portugal Antigo e Moderno”, refere
inclusivamente uma lenda que explica a localização actual das Marinhas
do Sal. Segundo ele, uma pastora que por ali guiava o seu rebanho terá
sentido sede e procurado água numa nascente situada imediatamente a
Leste da povoação designada como Fonte da Bica. Ao provar a água,
constatou que a mesma era muito salgada, tendo informado a sua família
que imediatamente acorreu ao local. Experimentada a mesma e escavado
um poço no ponto onde encontramos o actual, verificaram o fluxo
daquele manancial e mudaram para ali a exploração.
Ainda no “Portugal Antigo e Moderno”, Pinho Leal refere que no final do
Século XIX cada talho de sal valia em média 144$000 Reis, montante
elevado para aquela época e que atesta bem a importância da jazida e do
produto na Europa de então. É ainda ele que, reiterando informação
antiga, explica que estas salinas são únicas na Península Ibérica e que
eram tidas como as mais importantes dessa altura, sendo reconhecidas a
nível internacional.
Classificadas como Imóvel de Interesse Público desde 1997 (Decreto n.º
67/97, DR, 1.ª série-B, n.º 301 de 31 Dezembro 1997), as Salinas de Rio
Maior são hoje um dos pontos mais interessantes e incontornáveis no
panorama turístico do Centro de Portugal.
4. Recentemente, depois de o sal ter perdido valor e de a economia ter abalado
profundamente a estrutura de recolha e tratamento do sal, as salinas conheceram
um período de algum desânimo e declínio que se traduziu na diminuição da sua
produção e da degradação das suas estruturas de trabalho. No entanto, depois de
constituída a Cooperativa dos Produtores de Sal, o sítio foi redinamizado, tendo
sido recuperadas as antigas casas de madeiras onde se recolhia o sal e
reconfigurada toda a envolvência num interessante espaço comercial.
No meio das ruelas ladeadas pelas cabanas de madeira de aspecto rústico,
nasceram cafés, lojas de velharias, restaurantes e espaços onde se vende sal e
artesanato local, num esforço de modernização e de adequação da oferta às
exigências do Mundo actual digno de uma nota especial. Preservando as memórias
locais e as técnicas e tradições antigas, as salinas tornaram-se um espaço
etnográfico da maior importância e de grande interesse para todos os que visitam
Portugal.
Por ali se encontram, para além dos sacos de sal embalados de forma atractiva e
muito actual, os queijinhos de sal, inventados de forma genial por um dos
comerciantes do local, réplicas das pás e demais instrumentos utilizados na
extracção e as bonitas telhas muçulmanas que dão forma aos telhados da região.
Interessante, para além das velhas estruturas de madeira suportadas por troncos
de oliveiras que preservam a sua forma rústica original, é a manutenção do sistema
complexo de fechaduras em madeira, inventadas e desenvolvidas para evitar a
utilização de materiais feitos de metal que estão muito expostos à oxidação
reforçada aqui pela presença permanente do sal.
Para além de tudo isto, que só por si seria motivo suficiente para uma visita ao
local, os restaurantes ali instalados oferecem uma ampla carta de refeições
tradicionais, confeccionadas com base em receitas antigas e com ingredientes de
qualidade excepcional.
5. Em torno das salinas, num percurso que se estende por
mais de 7 kms, existe uma ciclovia que permite ao
visitante conhecer o espaço em redor, nomeadamente a
flora e a fauna do Parque Natural da Serra d’Aire e dos
Candeeiros, e que se complementa com uma série de
percursos pedestres que garantem passeios
verdadeiramente excepcionais.
O património histórico, composto por fontes e fontanários que traduzem uma
espécie de homenagem à água que prodigamente nasce com grande qualidade
em toda a região, cruzam-se com inúmeras igrejas, capelas e pequenas ermidas,
permitindo compreender a linha que dá forma a um culto verdadeiramente
ancestral. Importa ressalvar que, ao mesmo tempo que na Aldeia das
Alcobertas, uma das capelas da principal igreja do local reutiliza uma antiga
anta que foi integrada no espaço cultual, um pouco a Sul de Rio Maior
encontramos a Asseiceira, com as suas pouco conhecidas aparições Marianas, a
que se juntam, um pouco mais a Norte, o espaço incontornável da Cova da Iria,
com o Santuário Mariano de Fátima que fecha uma espécie de ciclo de
património imaterial.
Os milagres, que em Rio Maior são desde sempre parte constante do devir
diário da população, traduzem-se aqui na sua expressão mais singela da branca
aparição. No sopé da montanha, longe do mar e da costa onde seria coisa
natural, o sal nasce da terra, oferecendo vida e saúde a quem estiver mal.
Para quem visita o espaço pela primeira vez, a visão dos montículos brancos
espalhados por estas marinhas tão especiais, representa um exercício quase
onírico de magia que reforça o carácter telúrico da região. Pena é (ou talvez
não) que ainda sejam poucos aqueles que conhecem este recanto tão especial!
6. o milagre do sal
nas salinas de Rio Maior
João Aníbal Henriques
Cascais - Portugal
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