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ARTE




                                                                                                                                          Acima, à esquerda, “Afiches



                                                        Arte na rua
                                                                                                                                           de Difusión de la Reforma
                                                                                                                                            Agraria” (1962-1979), de
                                                                                                                                        Jesús Ruiz Durand; e “Gloria
                                                                                                                                           Evaporada” (1994-1995),
                                                                                                                                          de Eduardo Vildanes: obras
                           Exposição na Estação Pinacoteca, em São Paulo, apresenta cem                                                  de artistas peruanos exibidas
                                                                                                                                           pela primeira vez no Brasil.
                            trabalhos da arte contemporânea do Peru e faz um retrato dos                                                    À esquerda, “Chinachola”
                                                                                                                                        (1963), de Alfredo Márquez:
                                 contextos políticos e sociais do país nos últimos 40 anos                                                  trabalhos de tom político

                                                 Texto FLÁVIA FONTES OLIVEIRA Fotos FABIANO ACCORSI




                                                                              P   ela primeira vez, a produção artística contempo-
                           rânea do Peru é apresentada de forma ampla no Brasil. Até o dia 31 de julho, a Estação Pinacoteca, em
                           São Paulo, exibe a mostra Arte al Paso, com cem trabalhos que cobrem o período de 1960 a 2011, entre
                           pinturas, esculturas, vídeos, fotografias e instalações de 36 artistas que integram a coleção de arte con-
                           temporânea do Museo de Arte de Lima – MALI.
                                “Esta exposição pretende oferecer um panorama dos últimos 40 anos na arte peruana a partir
                           das obras da coleção do museu e trata de tocar pontos chave que marcaram o cenário artístico desde
                           o fim dos anos 1960. Por isso, a mostra se articula em três seções: ‘Crítica Ante uma Institucionalidade
                           Faltante’, ‘A Paisagem Entre Linhas’ e ‘Violência e Memória’”, diz Tatiana Cuevas, curadora de arte con-
                           temporânea do MALI e da exposição, ao lado de Rodrigo Quijano.




                                                                                              s
       00 julho de 2011                                                                                                                         julho de 2011           00
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ARTE

                                                                                 Com estes três temas, Arte al Paso mostra como os artistas se apro-
                                                                            priam da linguagem artística e olham para o país, para suas tradições cul-
                                                                            turais e sociais e, evidentemente, refletem sobre as questões políticas mar-
                                                                            cantes do Peru. “Estes recortes, de alguma maneira, recorrem às principais
                                                                            problemáticas que marcaram o desenvolvimento da arte peruana do final
                                                                            da década de 1960 até hoje”, avalia Tatiana.
                                                                                 Arte el Paso é um nome que casa com o entendimento da exposição. O
                                                                            título foi criado pelo coletivo E.P.S. Huayco (formado por Francisco Mariotti,
                                                                            Luy Maria, Rosario Noriega, Herbert Rodríguez, Juan Javier Salazar, Williams
                                                                            Armando, Zevallos Mariela), ativo nos anos 1980 e hoje reconhecido como
                                                                            uma das grandes manifestações artísticas do Peru. Al paso é o nome dado à
             Acima, serigrafia de catálogo do projeto Arte al Paso, cole-
                                                                            economia das ruas que se formou com a maciça migração do campo para a
             tivo de artistas peruanos que inspirou o nome da exposição
             em São Paulo. Abaixo, Tatiana Cuevas, curadora do Museu        cidade, a partir de meados do século passado, na qual era possível resolver
             de Arte de Lima e da mostra. Na página ao lado, “Estetica      quase tudo do dia a dia, da comida ao conserto do sapato. O título da expo-
             Center” (1998), de Christian Bendagán e obras de Juan Javier
                                                                            sição é uma ironia baseada nesta precariedade das bancas populares de rua
             Salazar, artista reconhecido no Peru e no exterior
                                                                            e resume um olha sobre as condições de criação e produção cultural no Peru
                                                                            e sua repercussão nas artes visuais.
                                                                                 Na observação de Tatiana, a falta de uma institucionalidade e de um         A exposição apresenta os contextos que marcaram a arte peruana desde os anos
                                                                            sistema de galerias de arte realmente consistentes, fez com que os artistas
                                                                            saíssem às ruas e perguntassem qual o benefício do trabalho artístico para
                                                                            o país. Criaram arte para ser consumida “al paso”, na rua.


                                                                                 Contextos paralelos
                                                                                 O primeiro recorte da exposição remete à fragilidade das instituições
                                                                            peruanas e apontam para o modo de como os artistas se sentem desampa-
                                                                            rados ante os valores dessas mesmas instituições. A obra de Emilio Hernan-
                                                                            dez Saavedra “El Museo de Arte Borrado” (1970), apresentada na seção “Críti-
                                                                            ca Ante uma Institucionalidade Faltante”, resume este sentimento. Em uma
                                                                            fotografia aérea da região onde fica o Museu de Arte de Lima, a instituição
                                                                            aparece “borrada” de branco, como se não existisse. A intenção Saavedra foi
                                                                            sinalizar o pouco espaço e formas de apoio às artes em seu país.
                                                                                 A segunda seção, “A Paisagem Entre Linhas”, traz algumas representa-
                                                                            ções artísticas do que é o Peru hoje. Esta parte da exposição se inicia com a
                                                                            obra de Flavia Gandolfo, que retrata uma série de mapas do país feitos por
                                                                            crianças. Como ela, outros artistas tratam da questão urbana, a problemáti-
                                                                            ca das cidades e a diversidade cultural. Por fim, “Violência e Memória” revive
                                                                            o tema mais caro ao país (como para muitos países da América Latina), a
                                                                            violência, urbana e rural, com seus protagonistas e seus ideais.
                                                                                                                                               s




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ARTE
                                                                            Mesmo com suportes distintos nas obras expostas, há uma linha que
                                                                       parece costurar a produção apresentada na exposição Arte al Paso, que é um
                                                                       comprometimento com a vida peruana. De modo geral, Tatiana diz que se
                                                                       trata de uma “uma arte para responder aos acontecimentos do país”.
                                                                            Para Alfredo Márquez, um dos artistas da exposição que esteve presen-
                                                                       te na abertura, “a arte peruana contemporânea fala de cidadania, do uso do
                                                                       espaço público e da memória coletiva com consciência e com a necessidade
                                                                       de dizer somos isso, apesar da morte, da dor, da ditadura, da guerra interna.
                                                                       Há uma proposta afirmativa em todos os artistas e uma proposta de cons-
                                                                       ciência de que somos coletividade.” Márquez apresenta em São Paulo a obra
                                                                       Katatay (2002-2003), duas grandes impressões digitais, com uma menina e
                                                                       um menino, que questionam o significado de ser atraso.
                                                                            Arquiteto de formação, ele diz que durante muito tempo fez outros
                                                                       trabalhos paralelos para poder se dedicar também às artes visuais. “Todos
                                                                       os meus trabalhos são produtos de uma indignação da busca de um equilí-
                                                                       brio, para mim e também para as pessoas com as quais me relaciono. O que
                                                                       quero é que, quando vejam minha obra, percebam que a história pode ser
                                                                       distinta, que não é como te apontam. Não é como a história oficial, mas é
                                                                       arte. Então tenho de ser bom pintor, bom artista”, completa.
                                                                            Apesar de ser a primeira exposição de grande porte com obras de artistas
                                                                       peruanos no Brasil, vários deles já se firmaram com seus trabalhos no cenário
                                                                       internacional e estiveram por aqui em diferentes ocasiões. É o caso de Sandra
                                                                       Gamarra, por exemplo, hoje radicada na Espanha, que realizou exposições no
                                                                       Brasil e participou da 29ª Bienal de São Paulo (2010). Em Arte al Paso ela apre-
                                                                       senta, “Tienda Museo LiMac”, de 2002, um museu imaginário que remete ao
             Acima, Alfredo Márquez e suas obra “Katay” (2002 -2003)   vazio das instituições para o qual ela criou um espaço e peças para figurarem
             ao fundo. Abaixo, “Huaco TV” (2002), de Fernando Baga     nele. Outros artistas que se destacam são Fernando Bryce, com trabalhos espa-
                                                                       lhados em museus e galerias do mundo, como o MoMA, de Nova York; ou ainda
                                                                       José Carlos Martinat, participante da 7ª Bienal do Mercosul (2009). Ao mesmo
                                                                       tempo em que a arte peruana busca a valorização dentro de seu próprio país,
                                                                       vem conquistando reconhecimento pelo mundo.




                                                                       Serviço:
                                                                       Arte al Paso – Museo de Arte de Lima
                                                                       Estação Pinacoteca: Largo General Osório, 66, Luz. São Paulo/SP. Tel. 11
                                                                       3335-4990 • De terça a domingo, das 10h às 18h • Ingresso: R$ 6,00 e
                                                                       R$ 3,00 (meia). Grátis aos sábados • Até 31 de julho.


       00 julho de 2011
VOETRIP_ARTE_37.indd 6                                                                                                                               6/9/11 7:31 PM

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  • 1. ARTE Acima, à esquerda, “Afiches Arte na rua de Difusión de la Reforma Agraria” (1962-1979), de Jesús Ruiz Durand; e “Gloria Evaporada” (1994-1995), de Eduardo Vildanes: obras Exposição na Estação Pinacoteca, em São Paulo, apresenta cem de artistas peruanos exibidas pela primeira vez no Brasil. trabalhos da arte contemporânea do Peru e faz um retrato dos À esquerda, “Chinachola” (1963), de Alfredo Márquez: contextos políticos e sociais do país nos últimos 40 anos trabalhos de tom político Texto FLÁVIA FONTES OLIVEIRA Fotos FABIANO ACCORSI P ela primeira vez, a produção artística contempo- rânea do Peru é apresentada de forma ampla no Brasil. Até o dia 31 de julho, a Estação Pinacoteca, em São Paulo, exibe a mostra Arte al Paso, com cem trabalhos que cobrem o período de 1960 a 2011, entre pinturas, esculturas, vídeos, fotografias e instalações de 36 artistas que integram a coleção de arte con- temporânea do Museo de Arte de Lima – MALI. “Esta exposição pretende oferecer um panorama dos últimos 40 anos na arte peruana a partir das obras da coleção do museu e trata de tocar pontos chave que marcaram o cenário artístico desde o fim dos anos 1960. Por isso, a mostra se articula em três seções: ‘Crítica Ante uma Institucionalidade Faltante’, ‘A Paisagem Entre Linhas’ e ‘Violência e Memória’”, diz Tatiana Cuevas, curadora de arte con- temporânea do MALI e da exposição, ao lado de Rodrigo Quijano. s 00 julho de 2011 julho de 2011 00 VOETRIP_ARTE_37.indd 2-3 6/9/11 7:31 PM
  • 2. ARTE Com estes três temas, Arte al Paso mostra como os artistas se apro- priam da linguagem artística e olham para o país, para suas tradições cul- turais e sociais e, evidentemente, refletem sobre as questões políticas mar- cantes do Peru. “Estes recortes, de alguma maneira, recorrem às principais problemáticas que marcaram o desenvolvimento da arte peruana do final da década de 1960 até hoje”, avalia Tatiana. Arte el Paso é um nome que casa com o entendimento da exposição. O título foi criado pelo coletivo E.P.S. Huayco (formado por Francisco Mariotti, Luy Maria, Rosario Noriega, Herbert Rodríguez, Juan Javier Salazar, Williams Armando, Zevallos Mariela), ativo nos anos 1980 e hoje reconhecido como uma das grandes manifestações artísticas do Peru. Al paso é o nome dado à Acima, serigrafia de catálogo do projeto Arte al Paso, cole- economia das ruas que se formou com a maciça migração do campo para a tivo de artistas peruanos que inspirou o nome da exposição em São Paulo. Abaixo, Tatiana Cuevas, curadora do Museu cidade, a partir de meados do século passado, na qual era possível resolver de Arte de Lima e da mostra. Na página ao lado, “Estetica quase tudo do dia a dia, da comida ao conserto do sapato. O título da expo- Center” (1998), de Christian Bendagán e obras de Juan Javier sição é uma ironia baseada nesta precariedade das bancas populares de rua Salazar, artista reconhecido no Peru e no exterior e resume um olha sobre as condições de criação e produção cultural no Peru e sua repercussão nas artes visuais. Na observação de Tatiana, a falta de uma institucionalidade e de um A exposição apresenta os contextos que marcaram a arte peruana desde os anos sistema de galerias de arte realmente consistentes, fez com que os artistas saíssem às ruas e perguntassem qual o benefício do trabalho artístico para o país. Criaram arte para ser consumida “al paso”, na rua. Contextos paralelos O primeiro recorte da exposição remete à fragilidade das instituições peruanas e apontam para o modo de como os artistas se sentem desampa- rados ante os valores dessas mesmas instituições. A obra de Emilio Hernan- dez Saavedra “El Museo de Arte Borrado” (1970), apresentada na seção “Críti- ca Ante uma Institucionalidade Faltante”, resume este sentimento. Em uma fotografia aérea da região onde fica o Museu de Arte de Lima, a instituição aparece “borrada” de branco, como se não existisse. A intenção Saavedra foi sinalizar o pouco espaço e formas de apoio às artes em seu país. A segunda seção, “A Paisagem Entre Linhas”, traz algumas representa- ções artísticas do que é o Peru hoje. Esta parte da exposição se inicia com a obra de Flavia Gandolfo, que retrata uma série de mapas do país feitos por crianças. Como ela, outros artistas tratam da questão urbana, a problemáti- ca das cidades e a diversidade cultural. Por fim, “Violência e Memória” revive o tema mais caro ao país (como para muitos países da América Latina), a violência, urbana e rural, com seus protagonistas e seus ideais. s 00 julho de 2011 julho de 2011 00 VOETRIP_ARTE_37.indd 4-5 6/9/11 7:31 PM
  • 3. ARTE Mesmo com suportes distintos nas obras expostas, há uma linha que parece costurar a produção apresentada na exposição Arte al Paso, que é um comprometimento com a vida peruana. De modo geral, Tatiana diz que se trata de uma “uma arte para responder aos acontecimentos do país”. Para Alfredo Márquez, um dos artistas da exposição que esteve presen- te na abertura, “a arte peruana contemporânea fala de cidadania, do uso do espaço público e da memória coletiva com consciência e com a necessidade de dizer somos isso, apesar da morte, da dor, da ditadura, da guerra interna. Há uma proposta afirmativa em todos os artistas e uma proposta de cons- ciência de que somos coletividade.” Márquez apresenta em São Paulo a obra Katatay (2002-2003), duas grandes impressões digitais, com uma menina e um menino, que questionam o significado de ser atraso. Arquiteto de formação, ele diz que durante muito tempo fez outros trabalhos paralelos para poder se dedicar também às artes visuais. “Todos os meus trabalhos são produtos de uma indignação da busca de um equilí- brio, para mim e também para as pessoas com as quais me relaciono. O que quero é que, quando vejam minha obra, percebam que a história pode ser distinta, que não é como te apontam. Não é como a história oficial, mas é arte. Então tenho de ser bom pintor, bom artista”, completa. Apesar de ser a primeira exposição de grande porte com obras de artistas peruanos no Brasil, vários deles já se firmaram com seus trabalhos no cenário internacional e estiveram por aqui em diferentes ocasiões. É o caso de Sandra Gamarra, por exemplo, hoje radicada na Espanha, que realizou exposições no Brasil e participou da 29ª Bienal de São Paulo (2010). Em Arte al Paso ela apre- senta, “Tienda Museo LiMac”, de 2002, um museu imaginário que remete ao Acima, Alfredo Márquez e suas obra “Katay” (2002 -2003) vazio das instituições para o qual ela criou um espaço e peças para figurarem ao fundo. Abaixo, “Huaco TV” (2002), de Fernando Baga nele. Outros artistas que se destacam são Fernando Bryce, com trabalhos espa- lhados em museus e galerias do mundo, como o MoMA, de Nova York; ou ainda José Carlos Martinat, participante da 7ª Bienal do Mercosul (2009). Ao mesmo tempo em que a arte peruana busca a valorização dentro de seu próprio país, vem conquistando reconhecimento pelo mundo. Serviço: Arte al Paso – Museo de Arte de Lima Estação Pinacoteca: Largo General Osório, 66, Luz. São Paulo/SP. Tel. 11 3335-4990 • De terça a domingo, das 10h às 18h • Ingresso: R$ 6,00 e R$ 3,00 (meia). Grátis aos sábados • Até 31 de julho. 00 julho de 2011 VOETRIP_ARTE_37.indd 6 6/9/11 7:31 PM