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FACULDADE VICENTINA
CURSO DE BACHARELADO DE TEOLOGIA
FERNANDA OLIVETTE DOS SANTOS
A PRESENÇA DE DEUS NO SER HUMANO E A BUSCA DE SENTIDO EM
VIKTOR FRANKL
CURITIBA
2012
FERNANDA OLIVETTE DOS SANTOS
A PRESENÇA DE DEUS NO SER HUMANO E A BUSCA DE SENTIDO EM
VIKTOR FRANKL
Monografia apresentada ao curso de Bacharelado de
Teologia da Faculdade Vicentina de Filosofia e Teologia,
como requisito parcial para a obtenção do Grau de
Bacharelado em Teologia.
Orientador: Prof. Ms. Agenor Sbaraini.
CURITIBA
2012
AVALIAÇÃO
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais, irmãos, familiares e amigos que sempre me
apoiaram, acreditaram em minhas capacidades. Ao Instituto das Apóstolas do
Sagrado Coração de Jesus, pelas oportunidades que me foram oferecidas no
decorrer deste curso. E sem dúvida a Viktor Emil Frankl, autor estimável, o qual
tenho grande apreço e gratidão pela coragem de acreditar no ser humano, acreditar
que o homem é capaz sobre quaisquer condições, quando encontra em si um
espaço de liberdade no qual Deus se revela.
Dedico enfim a todas as pessoas que buscam um sentido mais profundo em sua
existência, e que são sensíveis à presença constante, ao Permanecer de Deus no
peregrinar desta jornada.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a minha gratidão a Deus, fonte da vida a qual um dia me concedeu,
e que a cada passo na minha caminhada se deixa encontrar, por um dia conceder a
graça da vocação a vida consagrada, e me chamou a ser Apóstola do seu Coração,
pelo Carisma deixado a minha querida Mãe e Mestra Clélia Merloni. E a certeza de
que “sem Ti nada posso fazer, e me dizes: „Permanecei em Mim‟ ”(JOÃO 15:5)
A meus pais, Sebastião Lara dos Santos e Zilda Olivette dos Santos, que um dia
com coragem constituíram uma família fundamentada no amor e na ousadia de
sonhar com um futuro próspero, educando seus filhos na verdade, honestidade e na
Fé, ensinando-me o valor de uma família, a beleza da gratuidade e o amor que se
doa sem medidas;
Aos meus irmãos: Nicléia, João, Maria Isabel e Francisca, que estão sempre
presente em minha vida, acreditando em minhas capacidades e mostrando-me o
valor da perseverança, da presença e da partilha, com eles todos os meus familiares
que sempre estiveram muito presente em minha vida;
Ao Instituto das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus, na pessoa da Ir. Maria de
Lourdes Castanha, por não medir esforços na nossa formação de Apóstola,
agradeço por esta maravilhosa oportunidade de fazer o Curso de Teologia;
À Ir. Maria Vilma Ravazzoli, e demais superioras que me acompanharam no decorrer
do curso, Ir. Joceli Zanin, e Ir. Maria Adélia Cella, e a minha comunidade religiosa do
Colégio Imaculada Conceição, que com a presença única de cada uma, me ensinam
a me exercitar na generosidade ao chamado de Deus e a me empenhar sempre
mais na vida comunitária;
Ao orientador deste trabalho, Pe. Agenor Sbaraini, pelas conversas e trocas de
idéias ao longo do trabalho, pela disponibilidade de tempo e pela paciência e
sabedoria orientando-me com calma e seriedade.
As preciosidades da minha vida, amigos e amigas que no decorrer dessa jornada
sempre estiveram ao meu lado, me encorajando, apoiando, mostrando novas
possibilidades, acreditando nas minhas capacidades e, com a singularidade de cada
um, me mostrando o valor das amizades sinceras, partilhando comigo a vida, Dom
único que Deus os confiou e que expressam de forma tão singular me auxiliando na
busca de Deus, busca constante que faz parte fundamental da minha existência.
A Ir. Ilza Ravazzoli e as minhas coirmãs de Juniorato de perto ou de longe, que
estiveram ao meu lado, dando-me apoio, e que me mostraram que é possível, sim,
uma vivência fraterna em comunidade, com decisão e empenho pessoal diário;
Aos colegas, que juntos compartilharam muitos momentos ao longo dos anos de
Curso, agradeço a confiança depositada em mim.
Ao corpo administrativo e docente, aos funcionários e amigos acadêmicos da FAVI,
que conosco partilharam suas vidas e dividiram seus dons e conhecimentos.
EPÍGRAFE
“quem busca sempre encontra Deus, porque se dá conta de que sempre estava nele
antes mesmo de buscá-lo [...] o mistério de Deus é a raiz de nossa própria vida”.
(Leonardo Boff)
―Ele (Deus) é a realidade primeira, fundamental, onipresente e onicompreensiva, que
nos tira do nada com um puríssimo ato de amor, e com igual amor nos mantém no
ser. Para Deus, pois, que corre espontâneo e insistente o nosso pensamento; para
ele corre insaciavelmente, como a “corça para a nascente da água”, porque dele
pouco sabemos, apesar de a história das religiões e da humanidade ter colecionado
tantas mensagens a seu respeito.”
(Mondin)
“Rompeu Deus o silêncio: saiu de seu mistério, dirigiu-se ao homem e desvendou-
lhe os segredos de sua vida pessoal; comunicou-lhe seu desígnio inaudito de uma
aliança que levasse a uma participação de vida.”
(Latourelle)
“Naquele momento eu sabia pouco de mim ou do mundo, só tinha na cabeça uma
frase, sempre a mesma: desde minha estreita prisão chamei o meu Senhor e ele me
respondeu desde o espaço na liberdade.”
(Frankl)
“O homem não é capaz de viver por mecanismos de defesa e dar a vida por
formações reativas, mas o homem é capaz sim de viver por valores e ideais e dar a
vida por eles se for preciso.”
(Frankl)
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre a presença de Deus e a busca de
sentido a partir de uma reflexão filosófica, teológica e psicológica da compreensão da
presença de Deus no ser humano, identificada na dimensão transcendente ou espiritual.
Abordarei o tema baseada na concepção filosófica e teológica de: Rudolf Otto, Descartes,
Santo Tomás de Aquino e Santo Agostinho, busco compreender que a presença de Deus na
existência humana é a busca de afirmar a essência do homem como ser que se realiza
plenamente na relação com Deus, há no homem um intuito de realização que vai além de
sua realidade imanente. Através da Revelação, Deus se autocomunica ao ser humano e o
ser humano busca responder a este anseio presente em seu ser. Posteriormente, refletirei
sobre a teoria da Logoterapia do autor e fundador Viktor Emil Frankl e sobre a busca de
sentido e a presença ignorada de Deus. Frankl na sua teoria tem uma visão mais
antropológica, mais completa do homem, busca complementar as dimensões
psicofisiológicas com a dimensão espiritual, reconhecendo ser fundamental, com uma
percepção aberta do mistério transcendente do ser e a sua dimensão humana profunda. O
Deus apresentado por Frankl ou apresentado pela Teologia, é um Deus que vem em
resposta aos anseios humanos, que toca o ser na sua essência e assim o leva a perceber
que sua vida não tem somente a dimensão imanente, mas também transcendente.
Finalizarei, considerando que a presença de Deus vem a responder os anseios presentes no
ser humano que pela liberdade, busca responder de forma responsável a sua própria vida
pautada na sua experiência de fé.
PALAVRAS CHAVES: Presença de Deus; Viktor Frankl; busca de sentido.
ABSTRACT
This present project aims to reflect on God's presence and search for meaning from a
philosophical, theological and psychological understanding of God's presence in man,
identified in the transcendent or spiritual dimension. Discuss the issue based on the
philosophical and theological: Rudolf Otto, Descartes, St. Tomás de Aquino and St.
Agostinho, I seek to understand God's presence in human existence is the pursuit of
affirming the essence of man as a being who is fully realized in relationship with God is in
man a purpose that goes beyond the completion of its immanent reality. Through revelation,
God comunicate to human and human being seeks to respond to this yearning present in
your being. Later, I will reflect on the theory of the author and founder of Logotherapy Viktor
Emil Frankl and the search for meaning and ignored the presence of God. Frankl in his
theory has a more anthropological, more complete man, seeking complementary
psychophysiological dimensions with the spiritual dimension, recognizing the fundamental´s
man with an open awareness of the transcendent mystery of being and its profound human
dimension. The God presented by presented by Frankl or theology is a God who comes in
response to the yearnings human being touching and so in essence makes him realize that
his life has not only the dimension immanent but also transcendent. Finalized, whereas the
presence of God comes to meet the desires present in human freedom that seeks to respond
responsibly to your own life guided in their faith experience.
Keywords: Presence of God; Viktor Frankl; search for meaning.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 A felicidade na perspectiva de Viktor Frankl......................................................... 49
10
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..........................................................................................................10
1 A PRESENÇA DE DEUS E A BUSCA DE SENTIDO EM VIKTOR FRANKL ...14
1.1 A busca do ser humano pelo transcendente e pela presença de Deus em
sua existência..........................................................................................................14
1.2 A condição humana e a busca por realização ............................................16
1.3 A dimensão transcendente do ser humano e a busca de sua unidade
primeira ....................................................................................................................19
1.4 Deus no pensamento teológico filosófico e teológico dogmático............22
1.5 Revelação de Deus ao homem.....................................................................25
1.6 Deus no inconsciente humano.....................................................................29
1.6.1 Síntese Biográfica de Viktor Frankl e o Deus no inconsciente.....................32
2 A BUSCA DE SENTIDO.....................................................................................35
2.1 A presença ignorada de Deus no ser humano............................................35
2.2 O homem espiritual, dimensão noética segundo Frankl ...........................39
2.2.1 Autotranscendência......................................................................................41
2.2.2 O inconsciente transcendente e a consciência ............................................43
2.3 Vazio existencial e a busca de sentido em Viktor Frank............................46
2.4 Logoterapia, religião e Teologia...................................................................50
3 A EXPERIÊNCIA COM DEUS COMO RESPOSTA À BUSCA DE SENTIDO...52
3.1 O pensamento teológico e o pensamento Frankliano ...............................54
3.2 Presença de Deus como sentido da existência humana. ..........................57
3.3 O anseio humano por autotranscender, de encontrar-se em Deus..........61
3.4 Sentido espiritual da existência humana ....................................................64
3.5 Deus e um sentido frente ao sofrimento humano ......................................67
3.6 A liberdade e a resposta do homem a Deus ...............................................70
CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................73
REFERÊNCIAS.........................................................................................................76
11
INTRODUÇÃO
Nesta pesquisa abordaremos a questão sobre a presença de Deus e a busca
de sentido da vida em Viktor Frankl. Através de uma análise teológica, psicológica e
filosófica buscará subsídios para compreender que a busca do ser humano pelo
transcendente o auxilia a responder ao seu anseio por um sentido à sua vida, de que
forma a experiência da presença Deus vem significar situações existenciais do ser
humano.
Abordaremos a reflexão de alguns pensadores sobre a presença de Deus no
mais profundo do ser humano, e a condição própria do ser humano de buscar a
Deus, dado que a dimensão espiritual, transcendente é algo que diferencia
determinantemente o ser humano dos demais seres.
Percebendo a complexidade do ser humano e de sua busca de realização
como um ser integral, notamos que mesmo diante de tantas propostas de felicidade
e facilidade de meios que prometem garantia de uma vida plena, cômoda e
prazerosa, surge a dúvida. ―Como pode diante de tudo isto o ser humano se sentir
tão distante de si e muitas vezes com um profundo vazio existencial?‖ Qual é a
dimensão de Deus nesta resposta que venha descobrir uma adequada verdade
orientadora a toda a sua vida?
Sem dúvida, a percepção da realidade em que estamos inseridos nos leva a
refletir que, diante de tantas propostas e facilidades que os avanços tecnológicos, os
meios de comunicação e métodos diversos de auto-ajuda proporcionam, o ser
humano ainda se encontra tão distante de si, sentindo-se só e diante de algumas
situações difíceis que não consegue superar deseja encontrar no seu interior algo
que dê sentido às suas experiências e que o faça superar suas perspectivas. O ser
humano precisa e tende a perceber-se como um ser limitado, porém, com uma
essência que o leva a superar e almejar sempre algo a mais.
Quando buscamos compreender o ser humano não devemos deixar de
considerá-lo como um ser que se realiza de uma forma pessoal, mas também como
um ser Transcendente, onde busca sua unidade e a realização da sua totalidade.
Percebendo-se limitado, busca sua dimensão sobre-humana, como afirma o autor
Viktor Frankl, assim, a nossa própria vida carrega em si um sentido, a de restaurar a
nossa unidade primeira; por isso, buscar ampliar a nossa percepção da Presença de
12
Deus na interioridade do ser humano para compreendermos a realização do mesmo
através de sua dimensão espiritual.
Pensando nesta perspectiva, refletiremos sobre a presença de Deus no ser
humano, como um Deus presente mesmo quando o homem não se dá conta da
busca inata por Ele, e como a experiência do ser humano, nesta ânsia de encontrar
uma resposta vigente à sua existência, o auxilia a encontrar um por quê, como
afirma Frankl, com a frase de Nietzsche ―Quem tem um 'por que' enfrenta qualquer
'como'‖ 1
.
É com grande apreciação ao autor Viktor Emil Frankl que se buscará discorrer
sobre os anseios humanos do Transcendente e a busca de sentido, o autor mesmo
afirma: ―a vida tem um sentido potencial sob quaisquer circunstâncias, mesmo as
mais miseráveis‖.
Analisar a realidade humana, perceber a dimensão transcendente, nos
remete, sem dúvida, a sempre mais compreender o ser humano como de fato
limitado na sua condição humana. Porém, com um impulso ao transcendente que o
impulsiona, a ponto de em certos momentos da vida, se apoiar a esta experiência
para fazer com que supere e encare a vida de frente, busque viver com sua
totalidade.
Com o intuito de refletir sobre este tema, e também com o anseio de perceber
a riqueza e a preciosidade com que Deus se revela ao ser humano e a busca deste
na relação com Deus, é que se procurará uma resposta para esta relação
indispensável com o transcendente.
No contato com a realidade constata-se que existem pessoas que se sentem
plenamente realizadas, mesmo em meio às dificuldades e experiências da vida, e
outras que não conseguem se sentir plenas, mesmo diante de boas condições,
caindo em depressões, suicídios, não conseguindo se relacionar de forma saudável
e positiva.
Algumas pessoas, aparentemente, são participantes de alguma denominação
religiosa, de algum grupo mais específico para o aprofundamento da fé, e mesmo
assim demonstram que esta experiência não traz resposta vigente aos seus anseios,
não conseguindo ter esta relação com Deus que vai além de uma crença herdada.
Em contraste, encontramos pessoas simples que, com pouco conhecimento e
1
Viktor Frankl. Em Busca de Sentido Um Psicólogo no Campo de Concentração. p.08
13
aprofundamento da fé, podem ter tanta clareza e encontrar força para superar as
dificuldade e serem inteiras.
Partiremos do pressuposto que o ser humano é um ser que por si só se
percebe incompleto e neste sentir-se incompleto busca um ser fora de si ao qual
dará de certa forma uma resposta, será o ponto de esperança frente a suas
limitações próprias de sua condição humana.
Após buscaremos alguns elementos na teoria do autor Viktor Frankl para
compreender a busca de sentido presente no homem, segundo a Logoterapia,
principalmente quando se faz referência à presença ignorada de Deus no ser
humano e a busca de sentido, finalizando assim o que compreendemos da busca do
ser humano pelo transcendente, esta experiência do homem com Deus, e como a
mesma pode auxiliar o ser humano na busca de sentido e de realização.
Para findar a pesquisa buscaremos compreender o que de fato a presença de
Deus, e a sua revelação ao Homem pode responder ao sentido da vida humana, nos
referindo que Este perpassa pelo sofrimento humano, pela liberdade para fazer que
o próprio sentido da vida humana seja compreendida e aderida pelo homem, sendo
Deus o centro de toda a existência, e o anseio de todo coração humano.
14
1 A PRESENÇA DE DEUS E A BUSCA DE SENTIDO EM VIKTOR FRANKL
Através de alguns autores, buscaremos compreender a presença de Deus,
partindo de algumas percepções filosóficas, teológicas e psicológicas de Deus e da
experiência humana com o Transcendente, buscando assim compreender a
presença de Deus na existência humana e a busca do homem pelo Transcendente.
Dando continuidade posteriormente abordaremos alguns elementos na teoria
de Viktor Frankl para compreender a busca de sentido presente no homem e à
presença ignorada de Deus no ser humano e a sua relação de Deus como este ser
presente no mais intimo do ser humano.
1.1 A busca do ser humano pelo transcendente e pela presença de Deus em
sua existência
A presença de Deus na existência humana é a busca de afirmar a essência
do homem como ser que se realiza plenamente na relação com Deus. E esta
relação dá sentido às demais experiências que o ser humano possa vivenciar neste
mundo, pois percebemos no homem um intuito de realização que vai além de sua
realidade imanente.
Sendo um ser que busca significar sua existência, há presente no homem de
todas as épocas e tempos da história, o anseio por algo que vale a pena, algo que o
leve a se sentir realizado em sua totalidade. Percebendo a harmonia presente no
universo e em tudo o que há em sua volta, e que não pode ser empiricamente
analisada e compreendida como um todo, por instigações e estudos científicos, o ser
humano percebe-se parte de um todo que não depende de sua interferência direta
ou indireta para manter-se, há uma força onipotente e onisciente que faz tudo
funcionar na sua devida harmonia, há uma fonte geradora de toda a vida imanente.
O anseio presente no ser humano tanto como resposta à vida e como
realização de seu ser como um todo, se realiza na relação que estabelece com
Deus, presença indagada por grandes pensadores, teólogos e filósofos. No fundo se
compreende, porém, que jamais será abrangida a grandeza e a totalidade de seu
mistério. Sobre isto Mondin (1997, p. 07) afirma
15
Ele (Deus) é a realidade primeira, fundamental, onipresente e
onicompreensiva, que nos tira do nada com um puríssimo ato de amor, e
com igual amor nos mantém no ser. Para Deus, pois, que corre espontâneo
e insistente o nosso pensamento; para ele corre insaciavelmente, como a
―corça pra a nascente da água‖, porque dele pouco sabemos, apesar de a
historia das religiões e da humanidade ter colecionado tantas mensagens a
seu respeito.
A presença de Deus no ser humano, o faz transcender de suas condições
humanas percebendo que a fonte primeira de onde provém uma resposta vigente
para o sentido de sua vida, não é de dimensão meramente humana mas transcende,
vai além, ultrapassa as realidades existentes e dá esperança à realidade futura,
dando as experiências desta vida sempre a possibilidade de se apoiar em Deus, a
fonte de perfeição que acolhe e dá o sentido verdadeiro às experiências humanas.
Deus se auto-comunica ao ser humano pela revelação, e o ser humano que
por Ele é atraído, busca responder a este anseio presente em seu ser, pois a
experiência religiosa, mais do que ser uma experiência a respeito de Deus é
sobretudo algo que parte de Deus.
De fato, desde o início dos tempos, na criação e nos relatos bíblicos, Deus
usa toda a sua ação criadora no ato de criar o homem à sua imagem e semelhança
e esta iniciativa primeira, e gratuita vem da parte de Deus, sendo que Deus não
precisava criar o homem, mas se sente impelido a partilhar o seu Dom de ser,
criando a obra prima da criação, o homem.
No decorrer da história da salvação, desde o Antigo Testamento até os
nossos dias, a intervenção Divina decorre em todos os aspectos da história. Deus
afirma constantemente a sua atividade criadora recriando o homem e todo o
universo, portanto há uma experiência criadora atuante e contínua na história do ser
humano, a qual precede a existência dele, dado que Deus existe desde toda a
eternidade.
A auto-revelação de Deus, manifestada a Moisés: ―Eu sou o Senhor teu
Deus‖ (EXÔDO, 20:2), expressa a presença de Deus e mais do que entender o
homem como mera criatura dependente do criador, percebemos com que zelo o
próprio Deus o cria à sua imagem e semelhança e quer ―ser o seu Deus‖, fazer parte
da relação deste ser criado, e esta relação é pautada na liberdade inscrita em todo
coração humano. Sobre isto Gomes (1987, p. 55) cita uma frase de Pascal bem
propícia para reafirmar a idéia: ―Consola-te, não me procurarias se já não me
houvesses achado.‖
16
O ser humano é uma oscilação da realização e da busca profunda de ser.
Com esta expectativa, serão abordados temas que auxiliarão na compreensão da
dimensão humana e espiritual transcendente do ser humano e da presença de Deus
na sua essência, para buscarmos compreender como a presença de Deus pode dar
resposta à busca de sentido presente no homem.
Esta iniciativa de busca parte de Deus, pois antes de o homem procurar,
Deus se deixa encontrar pelo homem e já está à porta de seu coração para entrar:
―Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei
em sua casa e cearei com ele, e ele comigo.‖ (APOCALIPSE, 3:20).
Sobre isto Leonardo Boff (1974, p. 9) afirma que ―quem busca sempre
encontra Deus, porque se dá conta de que sempre estava nele antes mesmo de
buscá-lo [...] o mistério de Deus é a raiz de nossa própria vida‖, ficando assim
presente que é suscitado por Deus no homem esta busca pelo infinito que é Ele
próprio e de certo modo poderíamos afirmar que, existe no coração humano a eterna
saudade do criador que o formou e o sustenta, mesmo quando por liberdade o
homem não quer entrar em relação com Deus, mas Deus continua buscando o
homem, pois ―Deus não pode negar-se a si mesmo‖ (II TIMOTEO, 2:13).
1.2 A condição humana e a busca por realização
Cada vez mais o homem moderno envolvido nas possibilidades existentes no
mundo tecnológico, massificante e utilitarista, busca fora de si a realização de seu
ser, ansiando por algo externo, que também não sacia a sua busca. Lança-se
novamente a outra busca muitas vezes material e individualista, fechando-se em seu
egoísmo e perdendo cada vez mais as relações saudáveis e necessárias de seu
vínculo afetivo e existencial.
O ser humano distancia-se de sua crença religiosa ou a busca como
realização meramente sensível e emotiva, onde por certo, diante das dificuldades e
diferentes situações da vida, estas poderão não dar o suporte necessário para que
transcenda e supere tais situações. O auxiliando a fazer um caminho de fé sem
perder de foco que sua vida vai além destes fatos, e se deixando cair assim em
17
depressões, suicídios, drogas, vícios e demais situações presentes na humanidade
atual.
A realidade e a condição própria do ser humano caracterizam-no como um
ser que por liberdade tem a capacidade de realizar-se, sendo o protagonista de sua
vida, pautando-a em valores morais, éticos e buscando ser sensível à lei natural
como: não matar, não roubar, enfim, procurando uma vida harmoniosa socialmente;
com isto poder-se-ia afirmar que de fato deveria se sentir realizado. Porém, sabemos
que, nem sempre vivendo todos estes pressupostos, o ser humano se sente pleno
em sua totalidade de ser.
No decorrer da história muitos pensadores buscaram compreender o Homem,
como ser diferente dos demais seres. Como se percebe, este ser, que é capaz de se
tornar protagonista de sua existência, diferencia-se dos demais seres, pois faz
indagações a si mesmo e a respeito da realidade que o cerca, na busca de fazer
com que sua existência se torne significativa e venha a dar respostas vigentes para
toda a sua existência, à questões essenciais como: quem sou? De onde vim e para
onde vou?
Um aspecto determinante que caracteriza o ser humano como diferente dos
demais seres é a capacidade de perceber e dispor-se com o uso da razão a
empreender na relação com o transcendente, perceber que sua vida tem uma
dimensão além do aqui e do agora.
O homem é constituído de duas dimensões: a material ou imanente, e a
espiritual ou transcendente, sendo que ambas influenciam determinantemente em
sua vivência, porém ele é constantemente um buscador da verdade e visa que esta
venha a significar as experiências concretas de sua vida como relacionamentos,
dinâmicas internas como fases da vida e do amadurecimento humano e também de
dinâmica espiritual (JULIATO, 2012, p. 33).
A busca desta verdade pode ser direcionada tanto pela dimensão imanente
como pela transcendente, porém é claro que mesmo sendo caminhos diferentes
estes caminhos não são autoexcludentes, mas sim complementares, pois todo e
qualquer caminho que seja traçado pelo homem visa a sua realização como um ser
em sua totalidade, de natureza imanente e sua busca inata pela relação com o
transcendente, ou seja, sua natureza transcendente.
Para Descartes na modernidade, ele como representante do racionalismo,
afirma, em sua terceira Meditação sobre o Homem, que ―o homem é uma coisa que
18
pensa‖ (DESCARTES, 1973, p. 99). Assim é caracterizado o homem para
Descartes, como uma coisa capaz de conhecer toda a natureza, pois ele não tem a
mesma natureza que as outras coisas.
Sendo distinguido assim dos demais seres, pela sua capacidade do uso da
razão utiliza de suas capacidades para intervir no meio em que se encontra,
podendo conhecer a natureza, avaliar diferentes elementos e transformar o meio e
os objetos segundo as suas necessidades, aperfeiçoando-se e ampliando seu
campo de percepção sobre sua existência e tudo o que existe, afirmando assim que
o homem se envolve com tudo o que o cerca tendo um amplo e variado campo de
relações.
Na perspectiva de um ser, que diante dos demais seres tem esta capacidade,
surgem-nos alguns questionamentos, diante de uma realização financeira, moral e
ética, e o homem usufruindo de suas capacidades mentais, racionais para
desenvolver-se tecnológica, psicológica, e cognitivamente, perguntamo-nos: O que
falta para o ser humano alcançar a felicidade tão almejada? Qual é a dimensão que
o leva a perceber-se incompleto na natureza mais profunda de seu ser? Podemos
chamá-la de unidade primeira? Realidade transcendental? E dentro desta realidade
qual seria a dimensão da presença e revelação de Deus no ser humano?
O homem percebendo-se limitado, busca sua dimensão sobre-humana, como
afirma Viktor Frankl2
; assim, a nossa própria vida carrega em si um sentido, a de
restaurar a nossa unidade primeira; por isso, buscar ampliar a nossa percepção da
presença de Deus na interioridade do ser humano, leva-nos a refletir como afirma
Gomes (1987, p. 37) que:
[...] nas pessoas, há uma instância que jamais poderá ser contaminada por
qualquer enfermidade, por mais grave que seja; a crença que a pessoa é
chamada à vida para ser responsável e muito mais para dar de si do que
para tirar da vida qualquer coisa.
O ser humano precisa e tende a perceber-se como um ser limitado, porém,
com uma essência em si mesmo que nada e nem ninguém diminui em sua
dignidade, que o leva a ultrapassar e almejar sempre algo que o faça superar-se, há
no ser humano busca de algo além do que meramente buscar-se em si mesmo,
2 Viktor Emil Frankl (Viena, 26 de março de 1905 — 2 de setembro de 1997) foi um médico e
psiquiatra austríaco, fundador da escola da Logoterapia, que explora o sentido existencial do
indivíduo e a dimensão espiritual da existência. Disponível em: < http: // www. logoterapiaonline. com.
br/ pages/ normal/ viktor.php>. Acesso em: 14/02/2012. Serão feitos relatos biográficos do autor
posteriormente.
19
leva-o a projetar-se com ênfase, acreditando nas suas possibilidades, uma crença
na qual vale a pena investir a sua existência.
Quando não busca possibilitar-se a um futuro mais próspero, a uma realidade
que vai além de todas as decepções presentes no mundo, sendo estas no âmbito de
relações, trabalho ou de nível pessoal, tende a se frustrar. O ser humano
desenvolve-se com novas qualidades, possibilidades diante dos desafios presentes
e percebendo algo que, segundo a sua percepção, é de suma importância e
resignifica todas as suas expectativas sem perder a esperança no mundo presente.
Esta percepção de que há em si alguma coisa é que o leva a projetar-se e
compreender-se em Deus, e perceber que somos intrinsecamente um em Deus, ou
seja, somos de tal forma envolvidos com o Transcendente que nos encontramos
Nele. Este mesmo Deus que habita em nós leva a buscá-lo, e de fato compreendê-lo
dentro de nossos limites da razão, quando se dá a revelar-se, e isto acontece, na
realidade humana, através de grandes enfoques teológicos ou no cotidiano de nosso
existir.
O ser humano então é intrinsecamente atraído por Deus, e encontra em Deus
sua essência, e a resposta para as experiências de sua vida. Para refletirmos sobre
este tema aprofundaremos os seguintes conceitos: A dimensão transcendente do
ser humano, através de um breve enfoque no pensamento teológico filosófico sobre
Deus, a unidade primeira do ser humano e Revelação de Deus ao Homem.
1.3 A dimensão transcendente do ser humano e a busca de sua unidade
primeira
Compreender o ser humano é levar em consideração a sua dimensão
subjetiva, social, psíquica, mas também, considerar que há nele algo que o leva a
perceber que sua vida vai além de sua realidade humana, algo ―sobre-humano‖ que
envolve a si próprio e as demais realidades que o cercam.
Podemos afirmar que somente o ser humano tem a capacidade de
transcender, e comumente compreende-se transcender como ir além do ordinário;
em Filosofia é algo fora do alcance da ação ou do conhecimento. Segundo certos
filósofos, o real é transcendente ao pensamento (AURÉLIO, 2012), mesmo que
20
alguns venham afirmar que esta realidade é criação humana, não há como negar
que há uma força vital que move o universo, uma força primeira que gera todas as
demais coisas criadas.
O homem pode conhecer a existência de Deus por dois caminhos: um,
natural, e o outro sobrenatural. O caminho natural para conhecer a Deus
tem como ponto de partida a criação, quer dizer, as coisas que nos rodeiam.
Somente com a luz da razão, o homem sabe que nem as coisas nem ele
tem em si mesmos a razão de ser, porque tiveram princípio e terão fim: são
seres contingentes, seres criados e dependentes. Por isso, através do que
foi criado, o homem pode chegar ao conhecimento da existência de Deus,
Criador, Ser necessário e eterno, causa primeira e fim último de tudo.
(CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 1993)
O homem não é marcado simplesmente pela finitude, pela contingência, e
pelos instintos como os demais seres. Ele se distingue pela auto-transcendência. O
homem é um ser profundamente excêntrico (encontra-se fora de seu centro); está
submetido a um profundo estímulo para superar-se, ir adiante, para avançar em
direção ao infinito e ao eterno. Aspira uma realização de si mesmo que seja plena,
total e definitiva, mas não tanto na ordem do ter, do prazer e do poder, quanto na
ordem do ser.
Santo Tomás de Aquino (1225-1274) escreveu: ―o homem sente o ardente
desejo de viver para sempre, de jamais morrer‖. Ao mesmo tempo que o homem se
compreende como um ser que visa algo a mais, se apega às coisas temporais, dado
que a busca de segurança faz parte da condição humana, e isto não só como
realização de suas condições limites da humanidade mas também, como plenitude
do ser Homem; não encontra sua realização em conceitos expressos por grandes
filósofos ou teorias, mas pode atingi-la na dimensão espiritual, isto é no mundo de
Deus.
Este ―Algo Além‖ do humano, pode ser designado como transcendente, desde
o pensamento aristotélico, vem se afirmando, que há no ser humano um ―elemento
divino‖, na mesma medida em que ultrapassa no todo que constitui o homem, torna-
o virtuoso e bem-aventurado. Spinosa (1636-1677) dizia que a essência do homem
é constituída por certas modificações dos atributos de Deus. Fichte aponta como
tarefa do homem adequar-se à unidade e à imutabilidade do Eu absoluto de Deus.
Para Hegel (1807, p. 427) o homem é essencialmente Espírito e o Espírito é
Deus: ―[...] conquanto considerado finito por si mesmo, o homem é também imagem
de Deus e fonte da infinidade em si mesmo, pois é o fim de si mesmo e tem em si o
valor infinito e a destinação à eternidade.‖
21
Se o homem possui uma compreensão pré-ontológica do ser de Deus, ela
não lhe foi conferida pelos grandes conceitos e especulação científica ou do
conhecimento humano, mas vem de Deus, e tem nele valor e objetivo supremo da
transcendência, pois o conhecimento humano por mais que amplie-se a cerca de
diferentes áreas do conhecimento jamais conseguirá compreender o mistério de
Deus e da existência humana em sua totalidade. A razão humana representa o limite
permanente a partir do qual o homem se anuncia àquilo que ele compreende ser,
mas jamais compreenderá o seu Ser homem, que é tender para Deus, e encontrar-
se em Deus, ou, se preferirem, o homem é desejo fundamental de ser Deus
(HEIDEGGER)
Sobre a relação humana com o sagrado Rudolf Otto (1917) afirma que há no
ser humano uma atração pelo ser Numinoso (este fazendo referência a Deus) que
ao mesmo tempo em que o homem o percebe inatingível pela razão, dando-se conta
de sua nulidade frente ao sagrado o homem é tomado pelo medo a primeiro
momento o homem se desorienta, mas o homem sente uma atração pelo sagrado.
Afirma o seguinte:
Sob o aspecto, o numinoso é mysterium fascinans; enquanto sob o aspecto
da força e da transcendência, que incutem terror, é mysterium tremendum.
Diante do numinoso, percebido como ―santo‖, como ―totalmente outro‖,
nasce o sentimento de infinito respeito por um objeto dotado de valor
absoluto. (OTTO, 1917)
Na busca de encontrar-se nesta tendência de ir além dos seus limites como
um impulso para o infinito, só tem um sentido porque vai em direção a Deus. Só
então esta tendência ilimitada para o autotranscender é satisfeita, a nossa
orientação para o mistério do amor e do temor reverencial é efetivada.
Podemos então, perceber que no ser humano em sua totalidade há um
resquício de ser transcendente. Afirmar então que de fato o ser humano percebe
dentro de si este impulso ao transcendente como um apelo intrínseco de sua
realidade, é perceber que mesmo sendo um ser com limites e variantes no decorrer
de sua vida, ele encontra sua essência e o centro de sua vida quando busca
relacionar-se com Deus, dado que em Deus encontra-se o centro da pessoa
humana.
No decorrer da história, principalmente quando se trata de Filosofia, muitos
filósofos de renome dialogaram sobre Deus, alguns até afirmaram que Deus morreu
como, por exemplo, Nietzsche (1985), mas percebemos que com o intuito de negá-lo
22
se acaba afirmando a sua existência, pois não precisamos dialogar sobre algo que
não existe e se o tentamos é por que de fato isto ainda causa em nós dúvida de sua
não existência.
O ser humano só pode ser compreendido, quando contemplado como um ser
que se realiza de forma pessoal, e também como um ser transcendente, onde
constantemente busca sua unidade e realidade transcendental. Para Santo
Agostinho (citado por NODARI, 2011, p. 151),
O homem é um ser que busca compreender-se. O homem é o único ser
vivo que pergunta por sua própria natureza e se coloca a si mesmo como
problema. Ele tem consciência de sua grandeza e de sua fragilidade. Talvez
se possa afirmar que a grandeza do homem esteja justamente em
reconhecer sua fraqueza.
Por este motivo o ser humano de forma mais notória se diferencia dos demais
seres também pela sua sensibilidade de captar experiências e torná-las sensíveis e
significativa estabelecendo relações com as mesmas quando passa por situações
semelhantes, propondo-se problemas e formulando perguntas sobre as estruturas,
sobre as origens e procurando respostas vigentes.
1.4 Deus no pensamento teológico filosófico e teológico dogmático
Pensar em Deus na verdade é um intuito de compreendemos Deus como um
problema, pois todo o conhecimento sobre Deus é limitado pelo conhecimento
humano, podemos afirmar que o problema de Deus é o próprio problema do homem
e do sentido de sua vida, pois neste ser o homem busca se compreender e busca
argumentos que o auxiliem a responder o seu ser e a sua existência na sua
totalidade, e encontrar uma resposta que perpasse toda sua existência. (MONDIN,
1997, p. 05)
Para abordarmos este tema refletiremos o ponto de vista da Teologia
filosófica3
e da Teologia dogmática, pois iremos acercarmos tanto da questão da
3
Embora a teologia filosófica tendo em comum com a Filosofia da Religião, com a História das
Religiões, com a Teologia Dogmática e com a Metafísica o mesmo objeto material (Deus), a Teologia
Filosófica distingue-se delas pelo objeto formal. Enquanto a Teologia Dogmática (ou sobrenatural,
revelada) estuda Deus partindo de Deus mesmo, da sua auto-revelação e, portanto, mediante a luz
da fé, a Teologia Filosófica estuda Deus partindo das criaturas, da realidade humana e de tudo o que
acontece neste mundo, e o seu único instrumento cognitivo para se aproximar de Deus, o faz
somente de uma maneira (MONDIN, 1997, p. 11-12).
23
Revelação (Teologia Dogmática), como da realidade humana. Para estudarmos, ou
melhor, buscarmos aprofundar a questão de Deus, devemos de forma muito sincera
afirmar como Mondin (1997, p. 25): ―A ele (Deus) se chega mais facilmente com o
coração do que com a mente. Para chegar a Deus com a mente o homem deve
cultivar sobretudo três disposições: pureza de visão, senso de admiração e virtude
da humildade.‖
Para os pensadores filósofos, Deus é o princípio que torna possível o mundo
ou o ser em geral, fonte ou garantia de tudo o que há de excelente no mundo,
sobretudo na realidade humana. Pela Metafísica busca-se mostrar que Deus é o ser
que se auto-sustenta e é também o último fundamento dos entes.
Para começar a pensar em Deus temos que compreender a afirmação de
Xavier Zubiri, para quem pensar em Deus é pensar no problema teologal do ser
humano e este tema não diz respeito somente ao conteúdo do saber sobre Deus,
mas sim que é o problema radical de Deus para o homem de hoje (ZUBIRI, 2002, p.
13)4
. E este problema cabe de certa forma aos crentes em Deus, pois se fosse falar
de Deus para um ateu não seria um problema dado que não crê na existência dele.
O problema de Deus é problema essencial do homem que dá clareza a todos
os demais aspectos da sua existência: à Ética, ao Direito, à Economia. Deus, como
disse Pascal, ―é uma aposta que precisamos encarar‖. Segundo Kant, o conceito de
Deus é o mais difícil de compreender, mas também o mais inevitável para a razão
especulativa humana. A mesma convicção já havia sido expressa, muitos séculos
antes. Mondin (1997, p. 05) relata que Platão já afirmava que: ―é de capital
importância um pensamento correto sobre os deuses, se quiser conduzir bem a
própria vida.‖
Para os filósofos, Deus é ato puro. Santo Tomás de Aquino (1980, p. 17)5
introduz a distinção entre o ser e a essência dividindo a Metafísica em duas partes: a
do ser em geral e a do ser pleno, que é Deus. De acordo com essa distinção, o
único ser realmente pleno, no qual o ser e a essência se identificam, é Deus. Deus
então é o Ser que existe como fundamento da realidade das outras essências que,
uma vez existentes, participam de seu Ser. Isso equivale afirmar que são criaturas, e
nelas o ser é diferente da essência, pois pelo fato de serem criaturas são seres não
5
Cfr. Suma teológica. Vol.I. Questão II- Artigo II, p. 17.
24
necessários. É Deus que permite às essências realizarem-se em entes, em seres
existentes.
Outros aspectos importantes da Filosofia tomista são as provas da existência
de Deus. Em um de seus mais famosos livros, a ―Suma Teológica,‖ de 1225, São
Tomás de Aquino propõe cinco provas da existência de Deus:
1. O primeiro motor: tudo aquilo que se move é movido por outro ser. Se não
houvesse um primeiro ser movente, cairíamos num processo indefinido, logo
é necessário chegar a um primeiro ser movente que não seja movido por
nenhum outro e este ser é Deus.
2. A causa eficiente: todas as coisas existentes no mundo não possuem em si
próprias a causa eficiente de suas existências. Devem ser considerados
efeitos de alguma causa. São Tomás afirma ser impossível remontar
indefinidamente à procura das causas eficientes. Logo, é necessário admitir a
existência de uma primeira causa eficiente, responsável pela sucessão de
efeitos. Essa causa primeira é Deus.
3. Ser necessário e ser contingente: este argumento é variante do segundo.
Afirma que todo ser contingente, do mesmo modo que existe, pode deixar de
existir. Mas, se assim fosse, também agora nada existiria, pois aquilo que não
existe somente começa a existir em função do que já existia. É preciso
admitir, então que há um ser que sempre existiu, um ser absolutamente
necessário, que não tenha fora de si à causa da sua existência, mas ao
contrário, que seja a causa da necessidade de todos os seres contingentes.
Esse ser necessário é Deus.
4. Os graus de perfeição: em relação a qualidade de todas as coisas existentes,
pode-se afirmar a existência de graus diversos de perfeição. Assim,
afirmamos que tal coisa é melhor que outras, ou mais bela, ou mais poderosa,
ou mais verdadeira etc. Ora, se uma coisa possui mais ou menos
determinada qualidade positiva, isso supõem que deve existir um ser com o
máximo dessa qualidade, no nível da perfeição. Devemos admitir, então, que
existe um ser com o Máximo de bondade, de beleza, de poder, de verdade,
sendo, portanto, um ser Máximo e pleno, e este é Deus.
5. A finalidade do ser: todas as coisas brutas, que não possuem inteligência
própria, existem na natureza cumprindo uma função, um objetivo, uma
finalidade, semelhante à flecha dirigida pelo arqueiro. Devemos admitir,
25
então, que existe algum ser inteligente que dirige todas as coisas da natureza
para que cumpram seu objetivo e este ser é Deus.
1.5 Revelação de deus ao homem
A autorevelação de Deus ao homem pode ser direta ou indireta, pessoal, ou
impessoal, através da natureza ou através da História. Deus está sempre presente
na realidade humana. Como afirma Latourelle (1981, p. 5):
Rompeu Deus o silêncio: saiu de seu mistério, dirigiu-se ao homem e
desvendou-lhe os segredos de sua vida pessoal; comunicou-lhe seu
desígnio inaudito de uma aliança que levasse a uma participação de vida.
O encontro dado pela revelação vem da autoridade divina e sua revelação
exige o homem voltado para esta relação, deixando ao homem a liberdade de abrir-
se ou não.
A revelação é o mistério primordial, o que nos comunica todos os outros,
pois é a manifestação do desígnio salvífico de Deus, premeditado desde
toda eternidade que ele realizou em Jesus Cristo. (LATOURELLE, 1981, p.
05)
A revelação de Deus ao homem é o acontecimento decisivo, pois leva o
homem a perceber-se na sua dimensão transcendente, e para que isto aconteça é
indispensável a opção da fé feita pelo homem. Esta opção de fé não será um
caminho que se faz às escuras mas sim na capacidade de aderir a esta revelação
divina com a resposta da fé dada por sua capacidade racional e de forma livre sendo
que a liberdade identifica o homem como um ser capaz de relacionar-se e participar
ativamente nesta relação de revelação e resposta de fé.
Na Teologia nada se explica que não seja pautada à luz da Revelação divina;
tudo a ela se refere. Por este fato parece ser algo tão paradoxalmente implícita, tão
evidente como verdade e certa que precisam ser explicitadas, como auxílio à
resposta mais consciente e responsável.
Assim se parte da fé, para uma inteligência da fé. No cristianismo se apoia a
Sagrada Escritura como fonte inspirada e na Igreja como instituição divina. “Fides
quaerens intellectum: é uma busca do espírito, uma prospecção do mistério já aceito
na fé.‖ (LATOURELLE,1981, p. 07)
O importante escreve Baillie (1956), citado por Latourelle (1981, p. 8):
26
[...] é que haja correspondência total entre a inteligência da revelação e a
inteligência da fé que a recebe.‖ Fé e revelação, sendo noções corelativas,
como palavra e resposta, uma reflexão sobre a revelação necessária haverá
de fecundar e vivificar uma teologia da fé.
Dado que a revelação é mais do que um fato é um mistério divino, onde Deus
fala, e intervém, Jesus Cristo foi a sua forma mais densa de intervenção na história
humana, revelando-nos que a revelação sempre existiu no decorrer da história mas
que como seres humanos ela não se revela e se realiza em nós em sua plenitude,
ou seja, ela existe mas ainda não podemos descobrir tudo o que ela é, pois parte do
Mistério que é Deus. O homem se dispõe a fazer caminhada de fé frente ao mistério
de Deus, usando suas capacidades de conhecimento, e de experiências para buscar
ampliar sua relação com Deus, mas ciente que esta será de sua parte sempre
limitada.
A resposta do homem na sua essência, porém, é a fé e esta é fundamental ao
homem diante de Deus: ―Crer em Deus não é somente crer na existência, mas
repousar nele como um sustentáculo inabalável, é refugiar-se nele como num asilo
seguro, é tender a Ele como ao próprio fim último.‖ (TORINO, 1964, p. 233)
O ato de crer em Deus leva o ser humano, colocar suas expectativas neste
Deus que segundo a sua crença mesmo que não interfira da forma da qual o homem
espera mesmo assim continua a dar resposta frente às situações da vida. E
Denzingher (1789) confirma isto dizendo que a fé é:
[...] uma virtude sobrenatural, graças à qual, sob a inspiração e o auxílio da
graça de Deus, acreditamos como verdadeiro aquilo que Deus nos revelou,
não apoiando sobre a verdade íntima colhida com a luz da razão natural,
mas sobre a autoridade de Deus mesmo que o revela, o qual não pode
enganar-se nem enganar.
Para tanto se faz necessário refletir sobre o papel da fé na revelação de Deus
dado que esta é a resposta do homem a Deus. A fé é uma das noções mais
profundaS da Sagrada Escritura, pois esta fé se traduz na obediência, confiança,
fidelidade e perseverança. Já no Novo Testamento a fé aparece como resposta
adequada do homem à revelação de Deus que manifesta seu plano de salvação em
Jesus.
Esta revelação apresentada por Cristo é um convite a todos os homens para
estar em comunhão de vida com as Pessoas Divinas. O homem aceita o convite de
Cristo por meio da fé. Nos Evangelhos sinóticos ter fé significa reconhecer em Jesus
o salvador messiânico (MATEUS, 27: 42; MARCOS, 1: 5-32), que age com o poder
27
de Deus para salvar os homens. Sendo assim, a fé é uma resposta do homem ao
kerigma e ao testemunho dos Apóstolos. Neste sentido crer significa aceitar a
mensagem evangélica e aderir inteiramente a Cristo e ao seu projeto.
Crer é um ato de submissão da inteligência e da vontade do homem todo, a
Deus que salva e às exigências da salvação. É uma conformidade da mente e do
coração. A fé, portanto, é uma obediência ao Evangelho:
O Evangelho que eu anuncio é a mensagem de Jesus Cristo revelação de
um mistério envolvido em silêncio desde os séculos eternos, agora, porém
manifestado [...] dado a conhecer a todos os gentios para elevá-los a
obediência da fé [...] ( ROMANOS, 16: 25)
Há um aspecto de confiança e doação na fé, mas também um aspecto
intelectual, pois crendo deve-se reconhecer a verdade de Cristo6
e a sua
ressurreição7
Porém, a fé permanece sempre um dom de Deus: para crer é preciso
a iluminação divina8
por conseguinte, a fé na Sagrada Escritura encerra os seguintes
aspectos: (1) Um aspecto intelectual: admite como verdadeiro tudo o que o Pai
revela no seu Filho através dos Apóstolos; (2) Um aspecto afetivo: confiança e
adesão total a Cristo. (3) Um aspecto efetivo: orientar a própria conduta segundo as
exigências da salvação: a obediência da fé.
Para tanto, é preciso a obediência da fé a Deus que se revela, pela qual:
A Deus que revela é devida a ―obediência da fé‖
9
pela fé, o homem
entrega-se total e livremente a Deus oferecendo ―a Deus revelador o
obséquio pleno da inteligência e da vontade‖
10
e prestando voluntário
assentimento à Sua revelação. Para prestar esta adesão da fé, são
necessários a prévia e concomitante ajuda da graça divina e os interiores
auxílios do Espírito Santo, o qual move e converte a Deus o coração, abre
os olhos do entendimento, e dá ―a todos a suavidade em aceitar e crer a
verdade‖
11
. Para que a compreensão da revelação seja sempre mais
profunda, o mesmo Espírito Santo aperfeiçoa sem cessar a fé mediante os
seus dons (JOÃO PAULO II, 1967, DEI VERBUM. n° 05)
O ser humano é chamado a dar de forma voluntária o assentimento à
revelação feita por Ele, e correspondê-la pela ação da graça. Para que se
comunique esta fé, exige-se a graça prévia de Deus e os auxílios internos do
6
(1ª CARTA A TIMÓTEO, 2:4)
7
(ROMANOS, 10: 9-10).
8
(2° CARTAS AOS CORINTIOS, 4:5-6).
9
(ROMANOS. 16:26; ROMANOS. 1:5; II CORINTIOS. 10: 5-6).
10
Cfr. II Concílio Niceno, Denzingher. 303 (602); IV Concilio Constantinopolitano, sess. X, can. 1:
Denz. 336 (650-652).
11
Cfr. Concílio Vat. I, Const. dogm. De fide catholica, Dei Filius, cap. 4: Denzingher.1800 (3020).
28
Espírito Santo, tornando sempre mais profunda a compreensão da revelação e
aperfeiçoando continuamente a fé por meio de seus dons.
Desde o período patrístico, ao se visualizar a teologia que se encontrava
envolvida no contexto helênico, vemos a sua busca de aperfeiçoamento. A Patrística
conta com dois princípios: “Intellige ut credas, crede ut intelligas” – crer para
entender, entender para crer, ideal amplamente desenvolvido por Santo Agostinho.
Não há separação entre fé e razão. Para esse fim foi desenvolvida uma linguagem
simbólica (evocativa). Desde então sempre houve iniciativas, discussões e preleções
com o objetivo de harmonizar fé e razão, para dar ao homem contemporâneo as
condições de responder aos apelos mais profundos de sua existência, sobre a fé e
razão é afirmado pela Igreja católica através de seu representante Papa, João Paulo
II, na Carta Encíclica Fides et Ratio, de João Paulo II (1998, p. 5)
A razão e a fé constituem como duas asas pelas quais o espírito humano se
eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração
do homem o desejo de conhecera verdade e, em última análise, de
conhecer a ele, pra que, conhecendo-o e amando-o, possa chegar também
à verdade plena sobre si próprio.
É pelo uso correto da razão que o homem se descobre e se realiza, encontra
o sentido para existir. O conhecimento é inerente ao homem, único ser criado que
possui a capacidade intelectiva. A razão lhe confere grande potencial de conduzir a
si e aos outros. A procura pela verdade, que somente pode ser obtida com o auxilio
da razão, faz do homem um ser que não se satisfaz facilmente e procura sempre
mais abarcar os mais recônditos mistérios da verdade. Mondin (1987, p.03) afirma
isso citando São Tomás de Aquino:
A razão é uma ajuda propícia para conhecer mais facilmente determinado
objeto e com maior certeza aquelas verdades que, por si, estão agrupadas,
e para tornar-lhe acessíveis aquelas verdades sobrenaturais que superam
toda a sua capacidade.
Santo Tomás de Aquino reconhece a autonomia da razão, mas não admite o
fato de que ela sozinha seja capaz de penetrar nos mistérios de Deus, apesar de ser
Ele a sua finalidade. Ele enxerga a razão como uma luz concedida por Deus ao
homem, para que este alcance a ―ciência do bem e do mal.‖ (MONDIN, 1987, p.21)
De fato, o ser humano foi criado por Deus com uma grande capacidade
reflexiva que o permite elaborar, metodicamente, pensamentos com os quais conduz
a humanidade para onde quer, levando-a a um progresso profícuo ou a um retorno
ao caos.
29
A fé é o ato de aceitar algo que não é evidente, que não está explícito,
contudo torna-se racionalmente aceita se fundamentada com premissas coerentes.
A fé proporciona a razão obter com maior agilidade e credibilidade o seu objetivo, a
verdade. Por mais que a razão se esforce para provar determinadas proposições,
somente a fé é capaz de lhe conceder a aceitação de que não pode obter tudo o que
quer.
A razão orienta a ciência para a tentativa de descobertas de questões
emergentes que se afloram ao longo do desenvolver da humanidade. A fé é para os
que creem uma luz que os ilumina em momentos difíceis, fazendo-os aceitar muitas
questões que o homem não é capaz de solucionar.
1.6 Deus no inconsciente humano
Como anteriormente comentamos, para compreender o ser humano temos
que contemplá-lo em sua totalidade. Não se poderia deixar de lado a dimensão
psicológica do Homem e assim, de Deus no inconsciente do ser humano. A
Psicologia da Religião dar-nos-á um fio norte para que reflitamos posteriormente
sobre a presença de Deus.
Deus se revela na dimensão inconsciente do homem. O encontro de Deus
com o homem, apresentado pela Psicologia, se refere a uma idéia que a psique tem
de Deus, este Deus como algo conhecido, experimentado, sentido, intuído,
representado ou formulado por uma pessoa.
Esta experiência ou percepção de Deus sofre alterações ao longo da vida do
indivíduo, devido à própria etapa da vida em que o indivíduo se encontra, e de certa
forma sofre diferentes percepções muitas vezes sendo de âmbito subjetivo, levando-
nos a questionar quanto a sua autenticidade ou até mesmo as possíveis distorções,
dado as suas abstrações pautadas em experiências e percepções conceituais
subjetivas.
Esta experiência foge de qualquer aspecto dogmático, teológico ou doutrinal,
pois não apresenta limitações conceituais pré-estabelecidas e previamente
comprovadas. A experiência, ou percepção da imagem de Deus aparece aos
psicólogos como um continuado a revelar-se dentro e através da psique ou
30
entendido com uma linguagem mais cristã através da alma, como afirma Hillman
(1985, p.39).
A primeira coisa que o paciente procura no analista, é fazê-lo consciente de
tudo o que o faz sofrer, levando-o a seu mundo de experiências.
Experiência e sofrimento são palavras de há muito associadas à alma.
―Alma‖, entretanto, não é um termo científico, sendo hoje em dia raramente
utilizado em psicologia [...] Os termos ―alma‖ e ―psique‖ podem ser utilizados
alternadamente, embora a tendência seja escapar à ambiguidade do termo
―alma‖, recorrendo-se à ―psique‖ por ser mais moderno e biológico. ―Psique‖
é empregado como fato natural concomitante à vista física, sendo talvez
redutível. Alma, por outro lado, apresenta sobre tons românticos e
metafísicos, compartilhando suas fronteiras com a religião [...]
Poderíamos com o mesmo autor, afirmar que a alma teria um atributo mais
simbólico, por amparar um fator humano desconhecido que faz possível a existência
de significados, que transforma fatos em experiências e que se comunica através do
amor.
Sobre isto afirma:
[...] de que forma a análise profunda conduz a alma, e como esta por sua
vez, envolve inevitavelmente a análise com a religião mesmo com a
Teologia, visto que a religião vivida como experiência nasce da psique
humana, sendo por causa disso um fenômeno psicológico. (HILLMAN,
1985. p.42)
Poderíamos afirmar que o inconsciente guarda na memória como um
programa interno que possui uma linguagem própria, utilizando-se de metáforas, e
não usa dados da razão reais ou não para avaliá-las. Para que esta venha a
desenvolver-se basta uma emoção, associá-la a outra situação vivida, ou muitas
vezes pensamentos, úteis, reais ou não.
O inconsciente, que está diretamente relacionado com todas as nossas
experiências ou fatos que no momento no que veio ocorrer, nem sempre o
percebemos. Todos os nossos atos de certa forma, guardam em si uma dimensão
da inconsciência, pois mesmo que seja um ato comum do nosso dia a dia, o
realizamos sem estar com plena consciência. Por exemplo, o ato de escovar os
dentes, dirigir um carro, cortar um alimento fazemos de forma ―automática‖, este ato
vem consciente quando acontece um acidente ou devemos ter uma reação rápida e
começamos a prestar mais atenção no ato realizado.
O inconsciente tem uma importância por nos defender dos perigos e guardar
informações do passado. Tem uma capacidade infinita, pois o cérebro recebe
diariamente milhares de estímulos e mensagens, constantemente, sendo que estes
na maioria das vezes ficam armazenados na memória inconsciente.
31
Este aspecto se realiza na dimensão dos nossos sentimentos nos quais
muitas vezes não temos plena consciência de como o mesmo interfere na nossa
percepção da realidade, reações e influências nos nossos relacionamentos.
Sobre o inconsciente Jung (1991, p. 123) escreveu:
Assim definido, o inconsciente descreve um estado de coisas
extremamente fluido: tudo o que sei, mas que no momento não estou
pensando; tudo aquilo de que antes eu tinha consciência, mas de que agora
me esqueci; tudo o que é percebido pelos meus sentidos, mas que não foi
notado pela minha mente consciente; tudo aquilo que, involuntariamente e
sem prestar a atenção, sinto, penso, recordo, quero e faço; todas as coisas
futuras que estão tomando forma em mim e que em algum momento
chegarão à consciência: tudo isto é o conteúdo do inconsciente.‖ Jung dizia
também que ―a consciência não se cria a si mesma; emana de profundezas
desconhecidas‖.
O consciente é o que nos leva a discernir, organizar funções apropriadas para
determinadas situações, raciocinar as devidas reações, ações e percepções a serem
consideradas. Ao contrário do inconsciente, ele é tudo a que temos acesso pelo
cérebro, em perfeito estado de raciocínio. Quanto mais a nossa consciência for
segura de dados, mais estaremos conscientes e assim daremos menos
possibilidades de atos inconscientes.
Jung faz referência ao consciente, ao inconsciente, e também se refere ao
subconsciente e este seria como um canal que busca ligar ao mundo espiritual,
conectando-o a tudo e a todos, sendo assim, como que um poder infinito, que cria
crenças boas ou más, e este conjunto como um mapa mental o qual influenciará e
guiará as experiências humanas. Levando assim a compreensão que está presente
na psique humana um espaço que o leva à busca do espiritual.
Então, esta dimensão que leva o homem a perceber-se incompleto é a própria
presença de Deus que o leva a transcender e questionar o que não está adequada à
dignidade existente no homem desde sua concepção com e na realidade primeira.
Deus no inconsciente é levar em consideração tudo o que faz o indivíduo questionar-
se, sofrer psiquicamente, além de princípios morais e princípios humanos, e
perceber que sua vida tem uma dimensão mais profunda e divina.
Pois, na percepção de qualquer área de conhecimento ou de percepção que
busque compreender o ser humano, e incluindo aqui a religião e a psicologia, onde
ambas se referindo à alma ou a psique, precisa compreender de fato o ser humano
em sua totalidade, buscando compreender sem descartar uma de suas dimensões,
pois ambas partem da mente humana para buscar subsídios que fundamentem a
32
sua razão de ser, buscando auxiliar o homem a ter uma visão maior da dignidade de
seres humanos.
Hillman (1984, p.41) se refere à alma da seguinte forma: ―A alma confere, dá
sentido, transforma acontecimentos em experiências, comunica-se pelo amor e tem
uma explicação religiosa‖ realçando assim a importância da alma para compreensão
da teologia e da psicologia.
Como se daria esta experiência psicológica de Deus então numa dimensão
inconsciente? Viktor Frankl aborda o tema do Transcendente em perspectiva
psicológica a Logoterapia12
, conhecida como terapia do sentido. O autor e fundador
da escola, Viktor Frankl, afirma:
Não se trata de um simples inconsciente instintivo, mas também de um
inconsciente espiritual. O inconsciente não se compõe unicamente de
elementos instintivos, mas também espirituais. Desta forma, o conteúdo do
inconsciente fica consideravelmente inconsciente e espiritualidade
inconsciente. (FRANKL, 2010, p.19)
Para melhor compreender a dinâmica da presença de Deus e a experiência
do homem na busca de responder a sua própria existência e como a presença de
Deus vem contribuir para a resposta de sentido da vida, daremos continuidade no
próximo capítulo, abordando a teoria do autor Viktor Frankl que nos auxiliará nesta
temática, abordaremos brevemente a história de vida do autor.
1.6.1 Síntese Biográfica de Viktor Frankl e o Deus no Inconsciente
A importância de refletir sobre a busca de sentido no qual o homem está
constantemente inserido numa dimensão mais que meramente sociológica e
psicológica ou em qualquer outra dimensão, poderíamos afirmar que essencialmente
que este questionamento visaria uma dimensão existencial. Para este tema nos
referiremos ao autor Viktor Emil Frankl.
Ele era médico psiquiatra, neurologista austríaco, fundador da terceira Escola
Vienence de Psicologia, a Logoterapia. Esta propõe uma visão diferenciada das
12
O termo "logos" é uma palavra grega que significa também "sentido". Assim, a "Logoterapia
concentra-se no sentido da existência humana, bem como na busca da pessoa por este sentido"
(Frankl)."Para a Logoterapia, a busca de sentido na vida da pessoa é a principal força motivadora no
ser humano... A Logoterapia é considerada e desenhada como terapia centrada no sentido. Vê o
homem como um ser orientado para o sentido". Disponivel em: (Frankl). http: // pt. wikipedia.org
/wiki/Logoterapia. Acesso em 15/08/2012.
33
concepções psicológicas de sua época, buscando abordagens fenomenológicas
existencialistas13
, humanista e teísta. Busca compreender a existência através dos
fenômenos especificamente humanos.
Mais do que relatar experiências observadas em consultório o autor descreve
através de sua teoria o que sentiu e observou em si mesmo e nas demais pessoas e
seu comportamento na situação limite do campo de extermínio nazista durante a
segunda guerra mundial, pois o autor vem da descendência judia, por isso a
observação psicológica realizada por ele mais que uma observação, é um
testemunho.
Abordando assim mais que relatos conceituais ou meramente teóricos,
partiremos da experiência de quem dentro de um campo de concentração,
juntamente com sua família e sua esposa, sentiu o que de fato a presença de Deus
auxiliaria a superar as situações adversas de sua vida. Viktor Frankl foi preso
juntamente com sua esposa no mesmo ano em que se casaram, no ano de 1942,
nos campos de concentração perde sua esposa e seus pais.
Frankl passa por quatro campos nazista entre 1942 a 1945 o mais conhecido
deles é o ―famoso‖ Auschwitz (1944). Sendo uma pessoa em meio a todos os
horrores existentes nos campos de concentração o autor começa a ser mais que
mero pesquisador o que já era anteriormente, começa a aplicar sua teoria, a
Logoterapia (terapia da busca de sentido). Frankl percebe e relata em seus livros
alguns momentos marcantes de sua vida, e sua observação nos campos de
concentração, pois percebia que as pessoas que buscavam um sentido para a vida
eram mais resistentes; as que tinham como certa missão a ser realizada após todas
as torturas impostas sobreviviam e encontravam força para passar por tais
humilhações.
Frankl foi discípulo de Freud e Adler, porém sua teoria diferenciou-se muito
dos conceitos propostos pelos dois pesquisadores anteriores, pois Frankl não
acreditava que a pessoa humana caminhasse pelo mundo sob a força dos impulsos,
e começa a desenvolver alguns pontos que tornaram diferenciais de sua teoria
psicológica. Afirma: ―[...] o ser humano é livre e responsável e tem consciência de
13
A palavra Fenomenologia origina-se do grego, composta por duas partes: FENÔMENO: Aquilo que
se mostra para nós, primeiramente pelos sentidos; e LOGIA: Capacidade de refletir, um discurso
esclarecedor. Então a fenomenologia é uma atitude de reflexão do fenômeno que se mostra para nós,
na relação que estabelecemos com os outros, e com o mundo no decorrer de nossa existência.
Disponível no site: http://www. psicoethos. com. Br / si / site / 0402 /p / O % 20 que % 20 % C3 % A 9
%20Fenomenologia. Acesso em 16/07/2012.
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sua responsabilidade; que é incondicionado, busca um sentido para sua vida e traz
dentro de si um Deus inconsciente.‖ (GOMES, 1987, p. 11)
Para o autor a experiência humana, essencialmente, se orienta para além de
si mesma, para algo além, pois o leva a usar sua capacidade de transcender uma
situação extremamente desumanizadora, manter a liberdade interior e desta
maneira, não renunciar ao sentido da vida, apesar destas situações. Diante de suas
experiências, o homem perceber-se responsável perante um Outro, que o faz
autotranscender .
A Logoterapia, como aponta Frankl não viera negar as duas teorias existentes
em Viena, a de Freud e a de Adler, mas afirmar que o sentido da existência, seu
verdadeiro significado, é descobrir que cada ser humano tem sua missão única
nesta terra. A teoria de Frankl aponta o ser humano como um ser livre e responsável
com consciência de sua responsabilidade. Ele traz dentro de si inconscientemente
Deus e é incondicionado a uma busca de sentido, refletindo sobre a presença de
Deus no ser humano a sua busca de sentido. No capítulo seguinte, abordaremos o
pensamento de Frankl, para tentar compreender a presença ignorada e a busca de
sentido.
35
2 A BUSCA DE SENTIDO
A busca de sentido presente no homem é como um anseio de o fazer
perceber-se capaz de Ser mais que o mero existir imanente. Partiremos de
pressupostos da teoria de Viktor Frankl para buscarmos compreender ao que
queremos nos referir quando colocamos a busca de sentido presente no homem.
Abordaremos também sobre a presença ignorada de Deus, e a dimensão
noética apresentada pela Logoterapia, pois Frankl considera que somente será
compreendido o homem em sua totalidade quando for acolhido também na sua
dimensão espiritual. Seguiremos abordando alguns aspectos da teoria frankliana.
2.1 A presença ignorada de Deus no ser humano
Viktor Frankl na sua teoria tinha uma visão mais antropológica, mais completa
do homem, buscando complementar as dimensões psicofisiológicas com a
dimensão espiritual, reconhecendo ela ser fundamental, com uma percepção aberta
do mistério transcendente do ser e a sua dimensão humana profunda, busca integrar
o ser humano considerando-o esta dimensão e levando-os a perceberem-se dignos
de sua singularidade e comprometidos de forma responsável frente à vida e seus
desafios.
A presença ignorada de Deus no ser humano apresentada pelo autor é como
a pessoa profunda em seu ser, e nesta profundidade encontra-se a manifestação de
Deus, como uma parte mais sadia presente no ser humano a qual não sofre
interferência condicionante de âmbito externo. Nestas situações o meio somente
terá interferência se a pessoa conscientemente e livremente optar por se deixar
condicionar, deixando assim claro que sobre qualquer situação, o único responsável
pela decadência ou superação é o indivíduo, reforçando a responsabilidade do ser
humano. Sobre isto Xausa (2005, p. 39) relata sobre Frankl:
Na prisão Frankl observou que muitos dos seus colegas, tendo-lhes sido
extraídos até o último grau os recursos físicos, acabavam perdendo os seus
princípios morais e também os sentimentos da própria individualidade,
considerando-se só parte de uma massa da gente, rebaixando assim sua
existência ao nível da vida animal. Entre as reações generalizadas dos
prisioneiros estava também a dos homens que iam de barracão em
barracão consolando os demais, dando o último pedaço de pão que
possuíam [...] Ficava patente que o tipo de pessoa em que se convertia o
prisioneiro era resultado de uma decisão íntima. Muitos se submetendo à
36
força das circunstancias tornavam-se prisioneiros também em seu íntimo e
pereceram até antes da condenação à morte; alguns, porém, caminhavam
para o forno de cabeça erguida, ao que Frankl chamou de poder de
resistência do espírito com a última das liberdades humanas [...]
O ser humano é um ser por excelência por esta capacidade de opção sobre
quaisquer situações, e diante disto podemos ao mesmo tempo comprendê-lo e
auxiliar o mesmo a perceber-se consciente da responsabilidade diante da realidade,
mas não para que se frustre, mas se perceba capaz de responder com segurança
esta realidade, não se condicionando frente a ela e podemos compreender que na
medida em que o ser busca resposta numa dimensão transcendente, encontra uma
força que o faz superar com muito mais facilidade.
Nas suas análises psicológicas Viktor Frankl descobriu que a religiosidade é
um estado latente no interior do homem. Esta, muitas vezes, só é revelada através
do inconsciente por meio de sonhos. Esta tendência inconsciente para Deus é que
Frankl chamou de estado inconsciente de relação com Deus ou ―presença ignorada
de Deus‖.
Afirmando Frankl à presença ignorada de Deus no inconsciente ele não quer
instituir uma divinização do inconsciente, nem pode ser considerada uma afirmação
panteísta14
, Deus não está plenamente em nós, ou ocultista, como afirmar a
onisciência do inconsciente, como uma afirmação teológica de que Deus vive no
inconsciente. 15
Referindo-se a esta presença de Deus no ser humano podemos cair no erro
de constituir uma relação inconsciente com Deus, não se pode querer considerar
que está presente no ser humano esta relação inconsciente, tirando então a
responsabilidade do eu consciente, a responsabilidade do ser religioso da pessoa,
ressarcindo do homem a possibilidade de decisão e de livre arbítrio, e distanciando
da relação que conhecemos deste Deus que sobre quaisquer condições considera a
liberdade humana.
14
O panteísmo é a crença de que o Universo ou a natureza e Deus são idênticos. Sendo assim, os
adeptos dessa posição, os panteístas, não acreditam num deus pessoal, antropomórfico ou criador. A
palavra é derivada do grego pan (que significa "tudo") e theos (que significa "Deus"). Embora existam
divergências dentro do panteísmo, as ideias centrais dizem que deus é encontrado em todo o
Cosmos como uma unidade abrangente. O panteísmo tende a divinizar os elementos da natureza,
referindo-se à própria natureza por Deus. Disponivel em: http://pt.wikipedia.org /wiki / Pante%C3%
ADsmo. Acesso em 15/08/2012.
15
Cfr. FRANKL, 2010, p. 56 e 60.
37
Para Frankl, o ser humano encontra um sentido nas situações quando é
consciente de sua responsabilidade e se torna responsável pelas mesmas. Relata
sobre uma espécie de fé inconsciente, um inconsciente transcendental que inclui a
dimensão religiosa, pois é por meio dela que estabelecemos relação com este
Transcendente presente em nós.
Essa fé inconsciente da pessoa, que se nos revela e está englobada e
incluída no conceito de seu ―inconsciente transcendente‖, significaria então
que sempre houve em nós uma tendência inconsciente em direção a Deus,
que sempre tivermos uma ligação intencional, embora inconsciente, com
Deus. E é justamente este Deus que denominamos inconsciente. Nossa
formulação de um Deus inconsciente não significa, porém, que Deus, em si
mesmo e por si mesmo, seja inconsciente; ao contrario, quer dizer que, às
vezes, Deus permanece inconsciente para nós, que nossa relação com ele
pode ser inconsciente, ou reprimida, e, assim, oculta para nós mesmos.‖
(FRANKL 2010, p.58-59)
A Logoterapia parte do pressuposto fenomenológico que a própria condição
humana possibilita sermos seres com consciência e com responsabilidade, ou seja,
está presente em todo e qualquer ser humano, sobre quaisquer condições a
―potenciação da consciência da responsabilidade, no estar consciente de ter
responsabilidade‖ (FRANKL, 2010, p. 57) o autor também afirma sobre a
responsabilidade:
Com essa espiritualidade inconsciente no ser humano, que qualificamos
como inteiramente ciente onde são tomadas as grandes decisões
existencialmente autênticas; a partir disso deduzimos, nem mais, nem
menos, que além da consciência da responsabilidade, ou a
responsabilidade consciente, deve existir algo como uma responsabilidade
inconsciente. (FRANKL, 2010.p. 57)
Refletindo então sobre a importância da consciência e da responsabilidade
consciente é que se pode notar que o homem é chamado desde sua parte mais
profunda a sempre mais ser protagonista de sua existência. Gera assim, por meio da
responsabilidade um ser que se relaciona com liberdade, e é chamado a tornar-se
significativo, não tanto pela parte centrada em si, mas na medida em que se lança
ao altruísmo, percebendo-se útil e agente ativo no mundo por meio de suas
características subjetivas e não mera massa em meio a uma multidão de pessoas,
respeitando assim sua singularidade e a dos demais.
Fazendo referência ao termo ―Deus‖ ou o termo Transcendente muito utilizado
pelo autor, e entendido como a capacidade humana de transcender, ir além e
perceber que há um Outro a quem se busca compreender e responder, com
liberdade e responsabilidade.
38
A compreensão de Frankl sobre o transcendente vem diretamente
influenciada pela concepção da fenomenologia e redução transcendental de
Husserl16
que transcender era compreendido como a capacidade de entender o
mundo na sua transparência, isto significa conhecer o sujeito como situado no seu
nível de intencionalidade noética e de seus correlatos noemáticos,17
para isto se
pressupõem a certeza do mundo e pela redução fenomenológica, o mundo é visto
como correlatos da consciência.
Estes correlatos são entendidos como vivência objetiva, como objeto
significativo, diante do qual o homem vê suas ações conscientes, com
intencionalidade, com seu elemento real da vivência subjetiva. Sendo assim, a
relação que se estabelece com o objeto não meramente como relação externa
independente, mas visto como dois pólos que entre si são correlativos da relação
intencional da consciência.
Para Frankl, para a Fenomenologia e consequentemente para a Logoterapia,
o ego transcendental, o sentido, é compreendido como uma potencialidade oculta
em cada situação e que deve ser descoberta pela consciência. Esta necessidade
independe de outras necessidades, pois está presente em todas as situações.
O significado da vida muda constantemente em qualquer circunstância, por
dados que mudam no decorrer da vida das pessoas este significado pode ser
apresentado em três vias: praticando uma ação ou criando uma obra (uma causa);
lendo a experiência de algo ou alguém além de si mesmo, experimentando outra
pessoa em sua singularidade (uma pessoa); e uma experiência dolorosa (uma
situação). ―A vida continua a ser significativa sob quaisquer condições ou
circunstâncias.‖
Frankl afirmando e reconhecendo o inconsciente espiritual, descarta de certa
forma um homem pensado simplesmente no âmbito da racionalização e
intelectualidade, buscando assim respeitar a sua essência, o mesmo não se pode
16
Edmund Gustav Albrecht Husserl (Proßnitz, 8 de Abril de 1859 — Friburgo, 26 de Abril de 1938)
foi um matemático e filósofo alemão, conhecido como o fundador da Fenomenologia. Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Edmund_Husserl#Biografia.Aceso em 15/08/12.
17
Noémático vem de Noema: Uma frase, estória, raciocínio ou história que serve para fazer entender
algo diferente do que é dito. O emprego de um noema é feito quando não encontramos palavras para
explicar a coisa de que temos uma ideia. É uma tentativa (muitas vezes falha) de aproximação do
entendimento de quem ouve da ideia de quem fala. O conto do pintassilgo ou alegoria da caverna de
Platão para fazer entender que a realidade pode não ser tal, como a que nos é dada. Disponível em:
http://www.dicionarioinformal. com. br / noema /. Acesso 15/08/2012.
39
ser pensado exclusivamente por sua racionalização ou por meio de teorias práticas,
mas buscar compreendê-lo como um ser em sua totalidade.
Esta totalidade compreendida como a presença de Deus que o lança a um
anseio interno de perceber-se além das expectativas meramente humanas, pois em
certos momentos de sua vida, deve compreender que de certa forma veio ao mundo
sozinho e parte deste sozinho, mas a sua vida carrega em si um valor inestimável e
único, um sentido do qual vale a pena passar da melhor forma pela existência
humana, e que pode dar de si muito mais que receber deste mundo algo que o faça
sentir-se realizado em sua essência de ser mesmo diante das desilusões existentes.
2.2 O homem espiritual, dimensão noética segundo Frankl
O que difere o homem dos outros animais é a sua dimensão noética,
entendida esta por Frankl, como um estado noodinâmico, ou seja, um estado de
tensão entre o que o ser humano é e o que deveria ser, a sua capacidade de
projetar-se ao futuro, perceber que as situações da vida permanecem somente por
um período e assim com esperança projetar-se a um futuro mais próspero.
A dimensão noética é parte essencial da existência humana, sendo esta
chamada pelo autor também de dimensão espiritual, assim propriamente dito a
existência humana é espiritual. Esta dimensão é considerada superior às demais. A
Logoterapia chama dimensão noética a capacidade humana de autodistanciamento
e de auto- transcendência.
Nesta dimensão, o autor apresenta como possibilidade da espiritualidade se
manifestar no inconsciente, reconhecendo que a pessoa profunda, ou espiritual-
existencial é sempre inconsciente. Referindo-se a isto, o autor não busca afirmar
que a espiritualidade é facultativa ou obrigatória, porém é latente.
O que ele busca afirmar é que a dimensão espiritual é fundamentalmente
inconsciente, por estar presente mesmo quando o ser humano não se dispõe, porém
homem algum pode e consegue afirmar com subsídios racionais que está
plenamente no controle de sua vida, do universo, e que não há uma força geradora
de vida, algo ou alguém de onde partiu tudo o que temos ao nosso redor, mesmo
que alguns a identifique com outra denominação, cosmo, deuses, enfim o ser
40
humano nunca sabe em sua totalidade o que é chamado a ser em sua plenitude. Ele
afirma:
[...] a pessoa profunda, a saber, a pessoa profunda espiritual, aquela e
somente ela que merece ser chamada assim, no verdadeiro sentido da
palavra, é irreflexível por ser passível de reflexão e, neste sentido, pode ser
chamada também de inconsciente. Desta forma, enquanto a pessoa
espiritual pode, basicamente, ser tanto consciente quanto inconsciente,
podemos dizer que a pessoa profunda espiritual é obrigatoriamente
inconsciente, não apenas facultativamente. Em outras palavras, na sua
profundeza, ―no fundo‖, o espiritual é necessário por ser essencialmente
inconsciente. (FRANKL, 2010, p. 27)
Esta dimensão espiritual, chamada pelo autor também de dimensão noética, é
identificada pela vivência da liberdade e da responsabilidade e caracterizada pela
capacidade humana de responder pela liberdade de como o ser humano venha a
atuar no momento que responde às situações ou se posiciona diante das diferentes
circunstâncias presentes de sua existência.
Esta liberdade afirmada pelo Frankl pressupõe uma liberdade para efetivar
seu posicionamento no mundo, e este manifesta a ―irrepetibilidade e caráter de algo
único‖ constituinte de cada ser humano. Abordar este tema como existência humana
na sua dimensão espiritual, é afirmar, com o autor, que o ser humano é um ser
responsável e deve ser consciente de sua responsabilidade, e na medida que busca
responder a esta força que o move entra em relação com o transcendente e acredita
responder a sua vida de uma forma mais total, ainda que sempre limitada.
Sobre a liberdade Frankl afirma:
A experiência da vida no campo de concentração mostrou-nos que a
pessoa pode muito bem agir ―fora dos esquemas‖. Há suficientes exemplos,
muitos deles heróicos, que demonstraram ser possível superar a apatia e
reprimir a irritação; e que continua existindo, portanto, um resquício de
liberdade do espírito humano, de atitude livre do eu frente ao meio
ambiente, mesmo nessa situação de coação aparentemente absoluta, tanto
exterior como interior [...] No campo de concentração se pode privar a
pessoa de tudo, menos da liberdade última de assumir uma atitude
alternativa frente às condições dadas. E havia alternativa! A cada dia, a
cada hora no campo de concentração, havia milhares de oportunidades de
concretizar essa decisão interior, uma decisão da pessoa contra ou favor da
sujeição aos poderes do ambiente que ameaçavam privá-la daquilo que é
sua característica mais intrínseca- sua liberdade- e que a induzem, com a
renúncia à liberdade e à dignidade, a virar mero joguete e objeto das
condições externas, deixando-se por eles cunhar um prisioneiro ―típico‖ do
campo de concentração. (FRANKL, 2011, p. 88)
O ser humano, visto que está sempre exposto a estímulos e determinações
de diversas formas no âmbito externo, requer uma responsabilidade de maneira
sempre mais ativa, criativa e própria de forma a expressar o seu jeito de ser, a forma
41
particular e única de cada indivíduo, pois é esta forma de responder que lhe dará
suporte frente aos variados estímulos, leva-o a perceber-se responsável frente à
situação.
Fazendo referência a esta resposta livre e responsável, Viktor Frankl cita
diferentes maneiras de enfrentar a mesma circunstância, pois na sua experiência no
campo de concentração, entre seus companheiros havia uns que pelo desespero
frente à pressão nazista se jogavam nas cercas elétricas tirando assim a vida de
forma voluntária e outros que sofriam, tinham duras penas mas resistiam, pois
tinham a esperança de que algo os esperava ao sair dali: uma pessoa a amar, uma
obra a realizar, um Deus a quem servir. Nesta liberdade de resposta, aqueles
prisioneiros colocavam-se diante das situações conferindo sempre a elas um
sentido, um motivo ou razão pela qual valesse a pena superar e continuar vivos.
A parte mais saudável existente no ser humano é identificada como espiritual
ou transcendente e esta não é determinada, mas sim determinante da pessoa frente
a sua responsabilidade de responder com liberdade e consciência as diversas
situações da vida, sendo que esta responsabilidade e a liberdade não são
consideradas somente frente a grandes situações e decisões da vida mas sim,
frente a todas as situações do cotidiano, encontrando assim um sentido na vida
humana, um motivo o qual vale a pena empreender todas as energias.
Após darmos alguns enfoques necessários sobre a dimensão noética do
homem, abordaremos a questão da autotranscendência, algo de grande importância
na teoria da Logoterapia e de diferencial notório e consequentemente para o
encontro com Deus no inconsciente.
2.2.1 Autotranscendência
Como já afirmamos, o que diferencia determinadamente a Logoterapia das
demais teorias é o reconhecimento da possibilidade humana de transcender e de
distanciar-se de uma forma meramente científica e empírica de seu tempo, que
considerava o homem meramente no âmbito do poder e do prazer e se deixava de
lado o espiritual, o que a Logoterapia veio considerar com grande estima. Foi por
este motivo que Frankl se distanciou tanto de Freud quanto de Adler.
42
O autor reconhece que a vida humana é constantemente envolvida por
experiências de transcendência, devido a fatos simples do cotidiano, nas realidades
que fogem de seu conhecimento cognitivo. Pois mesmo que se amplie a nível
empírico as coisas, não se esgota o todo dos objetos e das coisas existentes.
Por este motivo o ser humano é envolto muitas vezes percebendo-se
encantado com a beleza que o cerca, o gerar de uma nova vida no seio materno, o
maravilhar-se por uma flor a desabrochar no jardim com tanta vivacidade, os
sentimentos mais sinceros e duradouros por pessoas que nos são queridas, como
em situações de sofrimento, onde se percebe a força da vida que não se deixa
suprimir. O homem tem a capacidade para ir além de si mesmo, para alguém ou
alguma coisa fora de si, que o lança à esperança.
Como afirmamos na dimensão noética citado anteriormente, existe no ser
humano uma tensão entre o ser e o que deveria ser; este conflito é compreendido
como algo que não pode vir diretamente do ser humano se não tivesse a
transcendência este Algo mais que o leva a projetar-se, a desejar ser sempre mais,
perceber-se limitado porém com possibilidade de superar-se e acreditar em suas
capacidades e desenvolvê-las no máximo de suas possibilidades em busca de sua
realização, de crença num mundo mais próspero e do sentido da vida
Frankl define a religião: é a consciência que o homem tem de sua dimensão
sobre-humana, e nesta dimensão se apoia a fé básica no sentido último da
vida. O fato de se ver como um ser no mundo, mas com lastros além, no
infinito, faz de nós pessoas cheias de esperança na vida. (GOMES 1987 p.
55.)
Há neste ente que de certa forma busca ser responsável, a necessidade de
responder à transcendência, usando de sua liberdade, consciência e capacidade de
conhecimento, estabelecendo relação com Deus, sendo que é a própria
Transcendência que o provoca a sair de si. Para a Logoterapia a pessoa não é
prioridade para si, mas à medida que se doa por uma causa ou alguém se
autorrealiza, a leva a sair de si e projetar-se em algo que a leva a perceber-se
participante ativa no meio em que se encontra.
Todo sentimento humano busca uma relação com um outro. A Logoterapia
tenta induzir o individuo a uma escolha responsável e livre para uma relação de um
EU com um TU. Este tu entendido como transcendência. Este Tu não é percebido
pelos sentidos, mas sim experienciado, e esta experiência nunca se dá por completa
43
e encerrada imanentemente, dado que este Tu é um ser Absoluto, e o eu humano
limitado nas suas condições próprias.
O Absoluto procurado pelo homem é considerado como um anseio inerente
ao homem, e isto é reconhecido como a Presença ignorada de Deus, uma fé
inconsciente. Esta capacidade humana é considerada como característica
ontológica.
A auto-transcendência assinala o fato antropológico fundamental de que a
existência do homem sempre se refere a alguma coisa que não ela mesma -
a algo ou a alguém, isto é, a um objetivo a ser alcançado ou à existência de
outra pessoa que ele encontre. Na verdade, o homem só se torna homem e
só é completamente ele mesmo quando fica absorvido pela dedicação a
uma tarefa, quando se esquece de si mesmo no serviço a uma causa, ou no
amor a outra pessoa. É como o olho, que só pode cumprir sua função de
ver o mundo enquanto não vê a si próprio (FRANKL, 1991, p. 18).
Compreende-se assim que esta dimensão humana presente no ser humano é
o que de certa forma o desafia e impulsiona à superação de seus limites e ao
desenvolvimento de suas potencialidades, buscando responder às questões
impostas pela própria vida, dado que para Frankl ―não é o homem que se indaga
sobre a vida; a própria vida é que pede respostas ao homem‖, e realizando suas
atividades, se é que podemos afirmar como mera atividade, dado a singularidade de
cada ser humano, tornando-se assim significativa a sua vida e compreendendo-se
como realizada em seu sentido profundo.
2.2.2 O Inconsciente Transcendente e a Consciência
Viktor Frankl se refere ao inconsciente espiritual, sua compreensão que a
dimensão noética é também inconsciente, e manifesta através da intuição. Esta
intuição é entendida como a voz da consciência, algo que não vem de si próprio, a
consciência é identificado por Frankl como a presença de Deus. É entendida então
como algo de transcendente, algo que venha de certa forma orientá-lo, como uma
autoridade que o leva, e o incita ao dever ser; que de certa forma o orienta de forma
mais eficaz o seu querer, a sua busca de sentido e sua realização; faz compreender
o seu ser responsável e assim a buscar responder esta voz que o motiva a algo a
mais, que o leva a uma decisão, a um eu ativo e decisivo.
O ser humano pode assim ser ―verdadeiramente ele próprio‖ também nos
seus aspectos inconscientes. Por outro lado, ele é ―verdadeiramente ele
44
próprio‖ somente quando não é impulsionado, mas responsável. O ser
humano propriamente dito começa onde deixa de ser impelido e cessa
quando cessa de ser responsável. O ser humano propriamente dito
manifesta-se onde não houver um id a impulsioná-lo, mas onde houver um
eu que decide. (FRANKL, 2010, p. 21)
Como já citamos anteriormente, o relacionamento com o Tu transcendente
pode estar oculto, inconsciente; mas como se refere a uma possibilidade humana
todo homem é instigado a relacionar-se com este Transcendente e poderá
intensificar a sua relação com o mesmo, na medida em que o busca, e se dedica
através da fé nesta experiência com Deus.
A consciência é entendida como algo distinto de mim, considerada como a
voz da Transcendência, pois é algo que não vem do próprio ser humano; tem caráter
transcendente que nos leva a compreender o ser humano e sua personalidade num
sentido mais profundo, e que diferencia de forma determinante dos demais animais.
A pessoa humana através de sua consciência adquire um novo significado,
uma instancia extra-humana, pela sua origem e seu vínculo transcendente. Esta
instancia extra-humana deve no entanto ser de caráter pessoal, ontológico, leva a
imagem fiel da pessoa. ―A consciência só pode ser entendida em seu sentido pleno
quando a concebermos à luz de uma origem transcendente.‖ (FRANKL, 2010, p. 50.)
A consciência não poderá ser compreendida em sua totalidade como
ontológica do ser humano. Sobre a consciência Frankl ainda afirma:
A consciência só será inteligível a partir de uma região extra-humana. Na
verdade, em última instância, somente será compreensível se entendermos
o ser humano na sua condição de criatura, para que possamos dizer: como
senhor da minha vontade sou criador, como servo da minha consciência,
porém, sou criatura. Em outras palavras, para explicar a condição humana
de ser livre é suficiente basear-nos na sua existencialidade; porém, para
explicar a condição humana de ser responsável, precisamos recorrer à
transcendentalidade de ter consciência. (FRANKL, 2010, p. 50)
Sendo a consciência a voz da Transcendência e por isso ela mesma é
transcendente, o ser humano que se diz irreligioso ignora essa transcendência da
consciência, não tenha que este não tem consciência e responsabilidade diante
dela, porém não questiona pelo que é responsável nem de onde provém a sua
consciência, não vai além; este aceita a consciência como facticidade psicológica,
como meramente imanente.
A pessoa religiosa assume o risco de perguntar além. A responsabilidade de
ignorar esta presença transcendente da consciência é uma possibilidade básica da
pessoa. Sobre isto Frankl (2010, p. 57) afirma.
45
Com efeito, justamente a pessoa religiosa deveria saber que a liberdade
para tal decisão (ignorar a transcendência da consciência) é uma liberdade
desejada e criada por Deus; a pessoa é a tal ponto livre, feita livre por seu
Criador, que essa liberdade é uma liberdade até para o não, que vai tão
longe que a criatura também pode se decidir contra seu próprio Criador, que
pode inclusive renegar Deus.
O ser humano é chamado a ser responsável e para ser responsável precisa
ser para alguém, ou algo fora de si, pois para si próprio não pode responsabilizar-se,
pois não se pode ter um imperativo categórico autônomo, pois ele só será válido
exclusivamente pela transcendência e não pela imanência; se o id é impulsionado, o
eu é fundamentalmente responsável, ou seja, para:
[...] ser livre é pouco, ou nada, se não houver um ―para quê‖. Porém, ser
responsável também não é tudo, se não soubermos perante que somos
responsáveis. Por conseguinte, da mesma forma que não podemos derivar
do ―querer‖ o ―dever‖, ―já que‖, recordando as belas palavras de Goehte, ―
todo querer é apenas um querer, precisamente porque deveríamos fazê-lo‖,
ou seja, todo ato da vontade pressupõe uma noção do que se deve fazer.
(FRANKL, 2010, p. 54)
De uma pessoa livre exige-se que faça escolhas, que se construa a si
mesma através de suas escolhas, e para projetar-se precisa de um referencial
seguro que lhe dê suporte necessário para se aperfeiçoar e continuar rumo a seu
desenvolvimento e realização, por isso busca na sua consciência transcendente, e
assume a vida e as situações com responsabilidade. Reconhecendo no homem a
singularidade se compreende que é chamado a responder no decorrer de sua
existência a significar a sua vida, e quanto mais livre e responsável mais realizado
tende a se sentir.
A consciência humana é onde o homem busca aparatos para relacionar-se de
forma real e sadia, expressando seus sentimentos e afetos, e estes são importantes
para a sobrevivência e uma vida humana com sentido, mais bem sabemos que
existe uma formação de consciência errônea, se percebe isto frente ao
indiferentismo implantados em nossa sociedade atual.
Poderíamos afirmar, que há certa insensibilidade coletiva frente a princípios
fundamentais da vida, as pessoas preferem não se colocar de forma a promover,
incentivar sentimentos nobres próprios dos seres humanos, relações duradouras e
bem estabelecidas, pois o comodismo e o individualismo torna em parte inerte
qualquer motivação que necessite maior envolvimento, empreendimento pessoal,
renúncias em prol de um valor que talvez não venha a trazer resultados imediatos,
relações que se estabeleçam num dar um passo em direção ao outro por gratuidade,
46
na sinceridade, tudo isto vem gerando um vazio existencial presente no nosso dia a
dia Frankl se refere a formação da consciência da seguinte maneira
Numa época em que as tradições e os valores universais que elas encerram
se vão esboroando, educar significa, portanto, no fundo e em última
estância - e até diria, mais do que nunca - formar a consciência pessoal. E
graças à minha consciência, à minha consciência atenta e bem formada,
que eu me torno capaz de compreender o apelo ao sentido que cada
situação me propõe; é graças a ela que me torno capaz de ouvir as
questões que o dia-a-dia me formula, e é graças a ela que sou capaz de
responder a essas questões empenhando a minha própria existência,
assumindo uma responsabilidade (1998, p. 30-31)
Percebemos que é fundamental o papel da consciência para que haja de fato
uma resposta vigente e coerente quando se refere aos contra valores presentes em
todas as épocas, e é frente a ela que podemos ser responsáveis diante dos nossos
próprios valores.
2.3 Vazio existencial e a busca de sentido em Viktor Frank
Quando se refere ao vazio existencial, Frankl compreendia isto como uma
falta de sentido para a vida e que isto deixa no interior humano um profundo conflito.
Esta sensação de vazio desde sua época era como ele detectava uma neurose
coletiva, uma angustia por não conseguir perceber algo bom o suficiente para
empregar toda a sua vida em prol desta causa, e sem dúvida esta é uma angústia
de seu tempo e de todos os temos da história.
O ser humano utiliza de diferentes disfarces frente à sociedade e frente a
suas relações sobre as quais disfarça o vazio existencial e de repente frente a uma
frustração, sofrimento ou perda de alguém querido se depara frente ao mundo no
qual pode se perceber insignificante e se render a este sentimento de vazio
existencial. Também pode perceber a sua singularidade imparcial, os seres
humanos não são objetos que podem ser colocados todos dentro da mesma
categoria, resultantes de impulsos e paixões.
Freud afirmava que se um grupo de pessoas diferentes fossem colocadas
frente a uma situação limite, todas as diferenças individuais ficariam, e em seu lugar
A presença de Deus e a busca de sentido em Viktor Frankl
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A presença de Deus e a busca de sentido em Viktor Frankl

  • 1. FACULDADE VICENTINA CURSO DE BACHARELADO DE TEOLOGIA FERNANDA OLIVETTE DOS SANTOS A PRESENÇA DE DEUS NO SER HUMANO E A BUSCA DE SENTIDO EM VIKTOR FRANKL CURITIBA 2012
  • 2. FERNANDA OLIVETTE DOS SANTOS A PRESENÇA DE DEUS NO SER HUMANO E A BUSCA DE SENTIDO EM VIKTOR FRANKL Monografia apresentada ao curso de Bacharelado de Teologia da Faculdade Vicentina de Filosofia e Teologia, como requisito parcial para a obtenção do Grau de Bacharelado em Teologia. Orientador: Prof. Ms. Agenor Sbaraini. CURITIBA 2012
  • 4. DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos meus pais, irmãos, familiares e amigos que sempre me apoiaram, acreditaram em minhas capacidades. Ao Instituto das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus, pelas oportunidades que me foram oferecidas no decorrer deste curso. E sem dúvida a Viktor Emil Frankl, autor estimável, o qual tenho grande apreço e gratidão pela coragem de acreditar no ser humano, acreditar que o homem é capaz sobre quaisquer condições, quando encontra em si um espaço de liberdade no qual Deus se revela. Dedico enfim a todas as pessoas que buscam um sentido mais profundo em sua existência, e que são sensíveis à presença constante, ao Permanecer de Deus no peregrinar desta jornada.
  • 5. AGRADECIMENTOS Primeiramente a minha gratidão a Deus, fonte da vida a qual um dia me concedeu, e que a cada passo na minha caminhada se deixa encontrar, por um dia conceder a graça da vocação a vida consagrada, e me chamou a ser Apóstola do seu Coração, pelo Carisma deixado a minha querida Mãe e Mestra Clélia Merloni. E a certeza de que “sem Ti nada posso fazer, e me dizes: „Permanecei em Mim‟ ”(JOÃO 15:5) A meus pais, Sebastião Lara dos Santos e Zilda Olivette dos Santos, que um dia com coragem constituíram uma família fundamentada no amor e na ousadia de sonhar com um futuro próspero, educando seus filhos na verdade, honestidade e na Fé, ensinando-me o valor de uma família, a beleza da gratuidade e o amor que se doa sem medidas; Aos meus irmãos: Nicléia, João, Maria Isabel e Francisca, que estão sempre presente em minha vida, acreditando em minhas capacidades e mostrando-me o valor da perseverança, da presença e da partilha, com eles todos os meus familiares que sempre estiveram muito presente em minha vida; Ao Instituto das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus, na pessoa da Ir. Maria de Lourdes Castanha, por não medir esforços na nossa formação de Apóstola, agradeço por esta maravilhosa oportunidade de fazer o Curso de Teologia; À Ir. Maria Vilma Ravazzoli, e demais superioras que me acompanharam no decorrer do curso, Ir. Joceli Zanin, e Ir. Maria Adélia Cella, e a minha comunidade religiosa do Colégio Imaculada Conceição, que com a presença única de cada uma, me ensinam a me exercitar na generosidade ao chamado de Deus e a me empenhar sempre mais na vida comunitária; Ao orientador deste trabalho, Pe. Agenor Sbaraini, pelas conversas e trocas de idéias ao longo do trabalho, pela disponibilidade de tempo e pela paciência e sabedoria orientando-me com calma e seriedade.
  • 6. As preciosidades da minha vida, amigos e amigas que no decorrer dessa jornada sempre estiveram ao meu lado, me encorajando, apoiando, mostrando novas possibilidades, acreditando nas minhas capacidades e, com a singularidade de cada um, me mostrando o valor das amizades sinceras, partilhando comigo a vida, Dom único que Deus os confiou e que expressam de forma tão singular me auxiliando na busca de Deus, busca constante que faz parte fundamental da minha existência. A Ir. Ilza Ravazzoli e as minhas coirmãs de Juniorato de perto ou de longe, que estiveram ao meu lado, dando-me apoio, e que me mostraram que é possível, sim, uma vivência fraterna em comunidade, com decisão e empenho pessoal diário; Aos colegas, que juntos compartilharam muitos momentos ao longo dos anos de Curso, agradeço a confiança depositada em mim. Ao corpo administrativo e docente, aos funcionários e amigos acadêmicos da FAVI, que conosco partilharam suas vidas e dividiram seus dons e conhecimentos.
  • 7. EPÍGRAFE “quem busca sempre encontra Deus, porque se dá conta de que sempre estava nele antes mesmo de buscá-lo [...] o mistério de Deus é a raiz de nossa própria vida”. (Leonardo Boff) ―Ele (Deus) é a realidade primeira, fundamental, onipresente e onicompreensiva, que nos tira do nada com um puríssimo ato de amor, e com igual amor nos mantém no ser. Para Deus, pois, que corre espontâneo e insistente o nosso pensamento; para ele corre insaciavelmente, como a “corça para a nascente da água”, porque dele pouco sabemos, apesar de a história das religiões e da humanidade ter colecionado tantas mensagens a seu respeito.” (Mondin) “Rompeu Deus o silêncio: saiu de seu mistério, dirigiu-se ao homem e desvendou- lhe os segredos de sua vida pessoal; comunicou-lhe seu desígnio inaudito de uma aliança que levasse a uma participação de vida.” (Latourelle) “Naquele momento eu sabia pouco de mim ou do mundo, só tinha na cabeça uma frase, sempre a mesma: desde minha estreita prisão chamei o meu Senhor e ele me respondeu desde o espaço na liberdade.” (Frankl) “O homem não é capaz de viver por mecanismos de defesa e dar a vida por formações reativas, mas o homem é capaz sim de viver por valores e ideais e dar a vida por eles se for preciso.” (Frankl)
  • 8. RESUMO O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre a presença de Deus e a busca de sentido a partir de uma reflexão filosófica, teológica e psicológica da compreensão da presença de Deus no ser humano, identificada na dimensão transcendente ou espiritual. Abordarei o tema baseada na concepção filosófica e teológica de: Rudolf Otto, Descartes, Santo Tomás de Aquino e Santo Agostinho, busco compreender que a presença de Deus na existência humana é a busca de afirmar a essência do homem como ser que se realiza plenamente na relação com Deus, há no homem um intuito de realização que vai além de sua realidade imanente. Através da Revelação, Deus se autocomunica ao ser humano e o ser humano busca responder a este anseio presente em seu ser. Posteriormente, refletirei sobre a teoria da Logoterapia do autor e fundador Viktor Emil Frankl e sobre a busca de sentido e a presença ignorada de Deus. Frankl na sua teoria tem uma visão mais antropológica, mais completa do homem, busca complementar as dimensões psicofisiológicas com a dimensão espiritual, reconhecendo ser fundamental, com uma percepção aberta do mistério transcendente do ser e a sua dimensão humana profunda. O Deus apresentado por Frankl ou apresentado pela Teologia, é um Deus que vem em resposta aos anseios humanos, que toca o ser na sua essência e assim o leva a perceber que sua vida não tem somente a dimensão imanente, mas também transcendente. Finalizarei, considerando que a presença de Deus vem a responder os anseios presentes no ser humano que pela liberdade, busca responder de forma responsável a sua própria vida pautada na sua experiência de fé. PALAVRAS CHAVES: Presença de Deus; Viktor Frankl; busca de sentido.
  • 9. ABSTRACT This present project aims to reflect on God's presence and search for meaning from a philosophical, theological and psychological understanding of God's presence in man, identified in the transcendent or spiritual dimension. Discuss the issue based on the philosophical and theological: Rudolf Otto, Descartes, St. Tomás de Aquino and St. Agostinho, I seek to understand God's presence in human existence is the pursuit of affirming the essence of man as a being who is fully realized in relationship with God is in man a purpose that goes beyond the completion of its immanent reality. Through revelation, God comunicate to human and human being seeks to respond to this yearning present in your being. Later, I will reflect on the theory of the author and founder of Logotherapy Viktor Emil Frankl and the search for meaning and ignored the presence of God. Frankl in his theory has a more anthropological, more complete man, seeking complementary psychophysiological dimensions with the spiritual dimension, recognizing the fundamental´s man with an open awareness of the transcendent mystery of being and its profound human dimension. The God presented by presented by Frankl or theology is a God who comes in response to the yearnings human being touching and so in essence makes him realize that his life has not only the dimension immanent but also transcendent. Finalized, whereas the presence of God comes to meet the desires present in human freedom that seeks to respond responsibly to your own life guided in their faith experience. Keywords: Presence of God; Viktor Frankl; search for meaning.
  • 10. LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 A felicidade na perspectiva de Viktor Frankl......................................................... 49
  • 11. 10 SUMÁRIO INTRODUÇÃO..........................................................................................................10 1 A PRESENÇA DE DEUS E A BUSCA DE SENTIDO EM VIKTOR FRANKL ...14 1.1 A busca do ser humano pelo transcendente e pela presença de Deus em sua existência..........................................................................................................14 1.2 A condição humana e a busca por realização ............................................16 1.3 A dimensão transcendente do ser humano e a busca de sua unidade primeira ....................................................................................................................19 1.4 Deus no pensamento teológico filosófico e teológico dogmático............22 1.5 Revelação de Deus ao homem.....................................................................25 1.6 Deus no inconsciente humano.....................................................................29 1.6.1 Síntese Biográfica de Viktor Frankl e o Deus no inconsciente.....................32 2 A BUSCA DE SENTIDO.....................................................................................35 2.1 A presença ignorada de Deus no ser humano............................................35 2.2 O homem espiritual, dimensão noética segundo Frankl ...........................39 2.2.1 Autotranscendência......................................................................................41 2.2.2 O inconsciente transcendente e a consciência ............................................43 2.3 Vazio existencial e a busca de sentido em Viktor Frank............................46 2.4 Logoterapia, religião e Teologia...................................................................50 3 A EXPERIÊNCIA COM DEUS COMO RESPOSTA À BUSCA DE SENTIDO...52 3.1 O pensamento teológico e o pensamento Frankliano ...............................54 3.2 Presença de Deus como sentido da existência humana. ..........................57 3.3 O anseio humano por autotranscender, de encontrar-se em Deus..........61 3.4 Sentido espiritual da existência humana ....................................................64 3.5 Deus e um sentido frente ao sofrimento humano ......................................67 3.6 A liberdade e a resposta do homem a Deus ...............................................70 CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................73 REFERÊNCIAS.........................................................................................................76
  • 12. 11 INTRODUÇÃO Nesta pesquisa abordaremos a questão sobre a presença de Deus e a busca de sentido da vida em Viktor Frankl. Através de uma análise teológica, psicológica e filosófica buscará subsídios para compreender que a busca do ser humano pelo transcendente o auxilia a responder ao seu anseio por um sentido à sua vida, de que forma a experiência da presença Deus vem significar situações existenciais do ser humano. Abordaremos a reflexão de alguns pensadores sobre a presença de Deus no mais profundo do ser humano, e a condição própria do ser humano de buscar a Deus, dado que a dimensão espiritual, transcendente é algo que diferencia determinantemente o ser humano dos demais seres. Percebendo a complexidade do ser humano e de sua busca de realização como um ser integral, notamos que mesmo diante de tantas propostas de felicidade e facilidade de meios que prometem garantia de uma vida plena, cômoda e prazerosa, surge a dúvida. ―Como pode diante de tudo isto o ser humano se sentir tão distante de si e muitas vezes com um profundo vazio existencial?‖ Qual é a dimensão de Deus nesta resposta que venha descobrir uma adequada verdade orientadora a toda a sua vida? Sem dúvida, a percepção da realidade em que estamos inseridos nos leva a refletir que, diante de tantas propostas e facilidades que os avanços tecnológicos, os meios de comunicação e métodos diversos de auto-ajuda proporcionam, o ser humano ainda se encontra tão distante de si, sentindo-se só e diante de algumas situações difíceis que não consegue superar deseja encontrar no seu interior algo que dê sentido às suas experiências e que o faça superar suas perspectivas. O ser humano precisa e tende a perceber-se como um ser limitado, porém, com uma essência que o leva a superar e almejar sempre algo a mais. Quando buscamos compreender o ser humano não devemos deixar de considerá-lo como um ser que se realiza de uma forma pessoal, mas também como um ser Transcendente, onde busca sua unidade e a realização da sua totalidade. Percebendo-se limitado, busca sua dimensão sobre-humana, como afirma o autor Viktor Frankl, assim, a nossa própria vida carrega em si um sentido, a de restaurar a nossa unidade primeira; por isso, buscar ampliar a nossa percepção da Presença de
  • 13. 12 Deus na interioridade do ser humano para compreendermos a realização do mesmo através de sua dimensão espiritual. Pensando nesta perspectiva, refletiremos sobre a presença de Deus no ser humano, como um Deus presente mesmo quando o homem não se dá conta da busca inata por Ele, e como a experiência do ser humano, nesta ânsia de encontrar uma resposta vigente à sua existência, o auxilia a encontrar um por quê, como afirma Frankl, com a frase de Nietzsche ―Quem tem um 'por que' enfrenta qualquer 'como'‖ 1 . É com grande apreciação ao autor Viktor Emil Frankl que se buscará discorrer sobre os anseios humanos do Transcendente e a busca de sentido, o autor mesmo afirma: ―a vida tem um sentido potencial sob quaisquer circunstâncias, mesmo as mais miseráveis‖. Analisar a realidade humana, perceber a dimensão transcendente, nos remete, sem dúvida, a sempre mais compreender o ser humano como de fato limitado na sua condição humana. Porém, com um impulso ao transcendente que o impulsiona, a ponto de em certos momentos da vida, se apoiar a esta experiência para fazer com que supere e encare a vida de frente, busque viver com sua totalidade. Com o intuito de refletir sobre este tema, e também com o anseio de perceber a riqueza e a preciosidade com que Deus se revela ao ser humano e a busca deste na relação com Deus, é que se procurará uma resposta para esta relação indispensável com o transcendente. No contato com a realidade constata-se que existem pessoas que se sentem plenamente realizadas, mesmo em meio às dificuldades e experiências da vida, e outras que não conseguem se sentir plenas, mesmo diante de boas condições, caindo em depressões, suicídios, não conseguindo se relacionar de forma saudável e positiva. Algumas pessoas, aparentemente, são participantes de alguma denominação religiosa, de algum grupo mais específico para o aprofundamento da fé, e mesmo assim demonstram que esta experiência não traz resposta vigente aos seus anseios, não conseguindo ter esta relação com Deus que vai além de uma crença herdada. Em contraste, encontramos pessoas simples que, com pouco conhecimento e 1 Viktor Frankl. Em Busca de Sentido Um Psicólogo no Campo de Concentração. p.08
  • 14. 13 aprofundamento da fé, podem ter tanta clareza e encontrar força para superar as dificuldade e serem inteiras. Partiremos do pressuposto que o ser humano é um ser que por si só se percebe incompleto e neste sentir-se incompleto busca um ser fora de si ao qual dará de certa forma uma resposta, será o ponto de esperança frente a suas limitações próprias de sua condição humana. Após buscaremos alguns elementos na teoria do autor Viktor Frankl para compreender a busca de sentido presente no homem, segundo a Logoterapia, principalmente quando se faz referência à presença ignorada de Deus no ser humano e a busca de sentido, finalizando assim o que compreendemos da busca do ser humano pelo transcendente, esta experiência do homem com Deus, e como a mesma pode auxiliar o ser humano na busca de sentido e de realização. Para findar a pesquisa buscaremos compreender o que de fato a presença de Deus, e a sua revelação ao Homem pode responder ao sentido da vida humana, nos referindo que Este perpassa pelo sofrimento humano, pela liberdade para fazer que o próprio sentido da vida humana seja compreendida e aderida pelo homem, sendo Deus o centro de toda a existência, e o anseio de todo coração humano.
  • 15. 14 1 A PRESENÇA DE DEUS E A BUSCA DE SENTIDO EM VIKTOR FRANKL Através de alguns autores, buscaremos compreender a presença de Deus, partindo de algumas percepções filosóficas, teológicas e psicológicas de Deus e da experiência humana com o Transcendente, buscando assim compreender a presença de Deus na existência humana e a busca do homem pelo Transcendente. Dando continuidade posteriormente abordaremos alguns elementos na teoria de Viktor Frankl para compreender a busca de sentido presente no homem e à presença ignorada de Deus no ser humano e a sua relação de Deus como este ser presente no mais intimo do ser humano. 1.1 A busca do ser humano pelo transcendente e pela presença de Deus em sua existência A presença de Deus na existência humana é a busca de afirmar a essência do homem como ser que se realiza plenamente na relação com Deus. E esta relação dá sentido às demais experiências que o ser humano possa vivenciar neste mundo, pois percebemos no homem um intuito de realização que vai além de sua realidade imanente. Sendo um ser que busca significar sua existência, há presente no homem de todas as épocas e tempos da história, o anseio por algo que vale a pena, algo que o leve a se sentir realizado em sua totalidade. Percebendo a harmonia presente no universo e em tudo o que há em sua volta, e que não pode ser empiricamente analisada e compreendida como um todo, por instigações e estudos científicos, o ser humano percebe-se parte de um todo que não depende de sua interferência direta ou indireta para manter-se, há uma força onipotente e onisciente que faz tudo funcionar na sua devida harmonia, há uma fonte geradora de toda a vida imanente. O anseio presente no ser humano tanto como resposta à vida e como realização de seu ser como um todo, se realiza na relação que estabelece com Deus, presença indagada por grandes pensadores, teólogos e filósofos. No fundo se compreende, porém, que jamais será abrangida a grandeza e a totalidade de seu mistério. Sobre isto Mondin (1997, p. 07) afirma
  • 16. 15 Ele (Deus) é a realidade primeira, fundamental, onipresente e onicompreensiva, que nos tira do nada com um puríssimo ato de amor, e com igual amor nos mantém no ser. Para Deus, pois, que corre espontâneo e insistente o nosso pensamento; para ele corre insaciavelmente, como a ―corça pra a nascente da água‖, porque dele pouco sabemos, apesar de a historia das religiões e da humanidade ter colecionado tantas mensagens a seu respeito. A presença de Deus no ser humano, o faz transcender de suas condições humanas percebendo que a fonte primeira de onde provém uma resposta vigente para o sentido de sua vida, não é de dimensão meramente humana mas transcende, vai além, ultrapassa as realidades existentes e dá esperança à realidade futura, dando as experiências desta vida sempre a possibilidade de se apoiar em Deus, a fonte de perfeição que acolhe e dá o sentido verdadeiro às experiências humanas. Deus se auto-comunica ao ser humano pela revelação, e o ser humano que por Ele é atraído, busca responder a este anseio presente em seu ser, pois a experiência religiosa, mais do que ser uma experiência a respeito de Deus é sobretudo algo que parte de Deus. De fato, desde o início dos tempos, na criação e nos relatos bíblicos, Deus usa toda a sua ação criadora no ato de criar o homem à sua imagem e semelhança e esta iniciativa primeira, e gratuita vem da parte de Deus, sendo que Deus não precisava criar o homem, mas se sente impelido a partilhar o seu Dom de ser, criando a obra prima da criação, o homem. No decorrer da história da salvação, desde o Antigo Testamento até os nossos dias, a intervenção Divina decorre em todos os aspectos da história. Deus afirma constantemente a sua atividade criadora recriando o homem e todo o universo, portanto há uma experiência criadora atuante e contínua na história do ser humano, a qual precede a existência dele, dado que Deus existe desde toda a eternidade. A auto-revelação de Deus, manifestada a Moisés: ―Eu sou o Senhor teu Deus‖ (EXÔDO, 20:2), expressa a presença de Deus e mais do que entender o homem como mera criatura dependente do criador, percebemos com que zelo o próprio Deus o cria à sua imagem e semelhança e quer ―ser o seu Deus‖, fazer parte da relação deste ser criado, e esta relação é pautada na liberdade inscrita em todo coração humano. Sobre isto Gomes (1987, p. 55) cita uma frase de Pascal bem propícia para reafirmar a idéia: ―Consola-te, não me procurarias se já não me houvesses achado.‖
  • 17. 16 O ser humano é uma oscilação da realização e da busca profunda de ser. Com esta expectativa, serão abordados temas que auxiliarão na compreensão da dimensão humana e espiritual transcendente do ser humano e da presença de Deus na sua essência, para buscarmos compreender como a presença de Deus pode dar resposta à busca de sentido presente no homem. Esta iniciativa de busca parte de Deus, pois antes de o homem procurar, Deus se deixa encontrar pelo homem e já está à porta de seu coração para entrar: ―Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo.‖ (APOCALIPSE, 3:20). Sobre isto Leonardo Boff (1974, p. 9) afirma que ―quem busca sempre encontra Deus, porque se dá conta de que sempre estava nele antes mesmo de buscá-lo [...] o mistério de Deus é a raiz de nossa própria vida‖, ficando assim presente que é suscitado por Deus no homem esta busca pelo infinito que é Ele próprio e de certo modo poderíamos afirmar que, existe no coração humano a eterna saudade do criador que o formou e o sustenta, mesmo quando por liberdade o homem não quer entrar em relação com Deus, mas Deus continua buscando o homem, pois ―Deus não pode negar-se a si mesmo‖ (II TIMOTEO, 2:13). 1.2 A condição humana e a busca por realização Cada vez mais o homem moderno envolvido nas possibilidades existentes no mundo tecnológico, massificante e utilitarista, busca fora de si a realização de seu ser, ansiando por algo externo, que também não sacia a sua busca. Lança-se novamente a outra busca muitas vezes material e individualista, fechando-se em seu egoísmo e perdendo cada vez mais as relações saudáveis e necessárias de seu vínculo afetivo e existencial. O ser humano distancia-se de sua crença religiosa ou a busca como realização meramente sensível e emotiva, onde por certo, diante das dificuldades e diferentes situações da vida, estas poderão não dar o suporte necessário para que transcenda e supere tais situações. O auxiliando a fazer um caminho de fé sem perder de foco que sua vida vai além destes fatos, e se deixando cair assim em
  • 18. 17 depressões, suicídios, drogas, vícios e demais situações presentes na humanidade atual. A realidade e a condição própria do ser humano caracterizam-no como um ser que por liberdade tem a capacidade de realizar-se, sendo o protagonista de sua vida, pautando-a em valores morais, éticos e buscando ser sensível à lei natural como: não matar, não roubar, enfim, procurando uma vida harmoniosa socialmente; com isto poder-se-ia afirmar que de fato deveria se sentir realizado. Porém, sabemos que, nem sempre vivendo todos estes pressupostos, o ser humano se sente pleno em sua totalidade de ser. No decorrer da história muitos pensadores buscaram compreender o Homem, como ser diferente dos demais seres. Como se percebe, este ser, que é capaz de se tornar protagonista de sua existência, diferencia-se dos demais seres, pois faz indagações a si mesmo e a respeito da realidade que o cerca, na busca de fazer com que sua existência se torne significativa e venha a dar respostas vigentes para toda a sua existência, à questões essenciais como: quem sou? De onde vim e para onde vou? Um aspecto determinante que caracteriza o ser humano como diferente dos demais seres é a capacidade de perceber e dispor-se com o uso da razão a empreender na relação com o transcendente, perceber que sua vida tem uma dimensão além do aqui e do agora. O homem é constituído de duas dimensões: a material ou imanente, e a espiritual ou transcendente, sendo que ambas influenciam determinantemente em sua vivência, porém ele é constantemente um buscador da verdade e visa que esta venha a significar as experiências concretas de sua vida como relacionamentos, dinâmicas internas como fases da vida e do amadurecimento humano e também de dinâmica espiritual (JULIATO, 2012, p. 33). A busca desta verdade pode ser direcionada tanto pela dimensão imanente como pela transcendente, porém é claro que mesmo sendo caminhos diferentes estes caminhos não são autoexcludentes, mas sim complementares, pois todo e qualquer caminho que seja traçado pelo homem visa a sua realização como um ser em sua totalidade, de natureza imanente e sua busca inata pela relação com o transcendente, ou seja, sua natureza transcendente. Para Descartes na modernidade, ele como representante do racionalismo, afirma, em sua terceira Meditação sobre o Homem, que ―o homem é uma coisa que
  • 19. 18 pensa‖ (DESCARTES, 1973, p. 99). Assim é caracterizado o homem para Descartes, como uma coisa capaz de conhecer toda a natureza, pois ele não tem a mesma natureza que as outras coisas. Sendo distinguido assim dos demais seres, pela sua capacidade do uso da razão utiliza de suas capacidades para intervir no meio em que se encontra, podendo conhecer a natureza, avaliar diferentes elementos e transformar o meio e os objetos segundo as suas necessidades, aperfeiçoando-se e ampliando seu campo de percepção sobre sua existência e tudo o que existe, afirmando assim que o homem se envolve com tudo o que o cerca tendo um amplo e variado campo de relações. Na perspectiva de um ser, que diante dos demais seres tem esta capacidade, surgem-nos alguns questionamentos, diante de uma realização financeira, moral e ética, e o homem usufruindo de suas capacidades mentais, racionais para desenvolver-se tecnológica, psicológica, e cognitivamente, perguntamo-nos: O que falta para o ser humano alcançar a felicidade tão almejada? Qual é a dimensão que o leva a perceber-se incompleto na natureza mais profunda de seu ser? Podemos chamá-la de unidade primeira? Realidade transcendental? E dentro desta realidade qual seria a dimensão da presença e revelação de Deus no ser humano? O homem percebendo-se limitado, busca sua dimensão sobre-humana, como afirma Viktor Frankl2 ; assim, a nossa própria vida carrega em si um sentido, a de restaurar a nossa unidade primeira; por isso, buscar ampliar a nossa percepção da presença de Deus na interioridade do ser humano, leva-nos a refletir como afirma Gomes (1987, p. 37) que: [...] nas pessoas, há uma instância que jamais poderá ser contaminada por qualquer enfermidade, por mais grave que seja; a crença que a pessoa é chamada à vida para ser responsável e muito mais para dar de si do que para tirar da vida qualquer coisa. O ser humano precisa e tende a perceber-se como um ser limitado, porém, com uma essência em si mesmo que nada e nem ninguém diminui em sua dignidade, que o leva a ultrapassar e almejar sempre algo que o faça superar-se, há no ser humano busca de algo além do que meramente buscar-se em si mesmo, 2 Viktor Emil Frankl (Viena, 26 de março de 1905 — 2 de setembro de 1997) foi um médico e psiquiatra austríaco, fundador da escola da Logoterapia, que explora o sentido existencial do indivíduo e a dimensão espiritual da existência. Disponível em: < http: // www. logoterapiaonline. com. br/ pages/ normal/ viktor.php>. Acesso em: 14/02/2012. Serão feitos relatos biográficos do autor posteriormente.
  • 20. 19 leva-o a projetar-se com ênfase, acreditando nas suas possibilidades, uma crença na qual vale a pena investir a sua existência. Quando não busca possibilitar-se a um futuro mais próspero, a uma realidade que vai além de todas as decepções presentes no mundo, sendo estas no âmbito de relações, trabalho ou de nível pessoal, tende a se frustrar. O ser humano desenvolve-se com novas qualidades, possibilidades diante dos desafios presentes e percebendo algo que, segundo a sua percepção, é de suma importância e resignifica todas as suas expectativas sem perder a esperança no mundo presente. Esta percepção de que há em si alguma coisa é que o leva a projetar-se e compreender-se em Deus, e perceber que somos intrinsecamente um em Deus, ou seja, somos de tal forma envolvidos com o Transcendente que nos encontramos Nele. Este mesmo Deus que habita em nós leva a buscá-lo, e de fato compreendê-lo dentro de nossos limites da razão, quando se dá a revelar-se, e isto acontece, na realidade humana, através de grandes enfoques teológicos ou no cotidiano de nosso existir. O ser humano então é intrinsecamente atraído por Deus, e encontra em Deus sua essência, e a resposta para as experiências de sua vida. Para refletirmos sobre este tema aprofundaremos os seguintes conceitos: A dimensão transcendente do ser humano, através de um breve enfoque no pensamento teológico filosófico sobre Deus, a unidade primeira do ser humano e Revelação de Deus ao Homem. 1.3 A dimensão transcendente do ser humano e a busca de sua unidade primeira Compreender o ser humano é levar em consideração a sua dimensão subjetiva, social, psíquica, mas também, considerar que há nele algo que o leva a perceber que sua vida vai além de sua realidade humana, algo ―sobre-humano‖ que envolve a si próprio e as demais realidades que o cercam. Podemos afirmar que somente o ser humano tem a capacidade de transcender, e comumente compreende-se transcender como ir além do ordinário; em Filosofia é algo fora do alcance da ação ou do conhecimento. Segundo certos filósofos, o real é transcendente ao pensamento (AURÉLIO, 2012), mesmo que
  • 21. 20 alguns venham afirmar que esta realidade é criação humana, não há como negar que há uma força vital que move o universo, uma força primeira que gera todas as demais coisas criadas. O homem pode conhecer a existência de Deus por dois caminhos: um, natural, e o outro sobrenatural. O caminho natural para conhecer a Deus tem como ponto de partida a criação, quer dizer, as coisas que nos rodeiam. Somente com a luz da razão, o homem sabe que nem as coisas nem ele tem em si mesmos a razão de ser, porque tiveram princípio e terão fim: são seres contingentes, seres criados e dependentes. Por isso, através do que foi criado, o homem pode chegar ao conhecimento da existência de Deus, Criador, Ser necessário e eterno, causa primeira e fim último de tudo. (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 1993) O homem não é marcado simplesmente pela finitude, pela contingência, e pelos instintos como os demais seres. Ele se distingue pela auto-transcendência. O homem é um ser profundamente excêntrico (encontra-se fora de seu centro); está submetido a um profundo estímulo para superar-se, ir adiante, para avançar em direção ao infinito e ao eterno. Aspira uma realização de si mesmo que seja plena, total e definitiva, mas não tanto na ordem do ter, do prazer e do poder, quanto na ordem do ser. Santo Tomás de Aquino (1225-1274) escreveu: ―o homem sente o ardente desejo de viver para sempre, de jamais morrer‖. Ao mesmo tempo que o homem se compreende como um ser que visa algo a mais, se apega às coisas temporais, dado que a busca de segurança faz parte da condição humana, e isto não só como realização de suas condições limites da humanidade mas também, como plenitude do ser Homem; não encontra sua realização em conceitos expressos por grandes filósofos ou teorias, mas pode atingi-la na dimensão espiritual, isto é no mundo de Deus. Este ―Algo Além‖ do humano, pode ser designado como transcendente, desde o pensamento aristotélico, vem se afirmando, que há no ser humano um ―elemento divino‖, na mesma medida em que ultrapassa no todo que constitui o homem, torna- o virtuoso e bem-aventurado. Spinosa (1636-1677) dizia que a essência do homem é constituída por certas modificações dos atributos de Deus. Fichte aponta como tarefa do homem adequar-se à unidade e à imutabilidade do Eu absoluto de Deus. Para Hegel (1807, p. 427) o homem é essencialmente Espírito e o Espírito é Deus: ―[...] conquanto considerado finito por si mesmo, o homem é também imagem de Deus e fonte da infinidade em si mesmo, pois é o fim de si mesmo e tem em si o valor infinito e a destinação à eternidade.‖
  • 22. 21 Se o homem possui uma compreensão pré-ontológica do ser de Deus, ela não lhe foi conferida pelos grandes conceitos e especulação científica ou do conhecimento humano, mas vem de Deus, e tem nele valor e objetivo supremo da transcendência, pois o conhecimento humano por mais que amplie-se a cerca de diferentes áreas do conhecimento jamais conseguirá compreender o mistério de Deus e da existência humana em sua totalidade. A razão humana representa o limite permanente a partir do qual o homem se anuncia àquilo que ele compreende ser, mas jamais compreenderá o seu Ser homem, que é tender para Deus, e encontrar- se em Deus, ou, se preferirem, o homem é desejo fundamental de ser Deus (HEIDEGGER) Sobre a relação humana com o sagrado Rudolf Otto (1917) afirma que há no ser humano uma atração pelo ser Numinoso (este fazendo referência a Deus) que ao mesmo tempo em que o homem o percebe inatingível pela razão, dando-se conta de sua nulidade frente ao sagrado o homem é tomado pelo medo a primeiro momento o homem se desorienta, mas o homem sente uma atração pelo sagrado. Afirma o seguinte: Sob o aspecto, o numinoso é mysterium fascinans; enquanto sob o aspecto da força e da transcendência, que incutem terror, é mysterium tremendum. Diante do numinoso, percebido como ―santo‖, como ―totalmente outro‖, nasce o sentimento de infinito respeito por um objeto dotado de valor absoluto. (OTTO, 1917) Na busca de encontrar-se nesta tendência de ir além dos seus limites como um impulso para o infinito, só tem um sentido porque vai em direção a Deus. Só então esta tendência ilimitada para o autotranscender é satisfeita, a nossa orientação para o mistério do amor e do temor reverencial é efetivada. Podemos então, perceber que no ser humano em sua totalidade há um resquício de ser transcendente. Afirmar então que de fato o ser humano percebe dentro de si este impulso ao transcendente como um apelo intrínseco de sua realidade, é perceber que mesmo sendo um ser com limites e variantes no decorrer de sua vida, ele encontra sua essência e o centro de sua vida quando busca relacionar-se com Deus, dado que em Deus encontra-se o centro da pessoa humana. No decorrer da história, principalmente quando se trata de Filosofia, muitos filósofos de renome dialogaram sobre Deus, alguns até afirmaram que Deus morreu como, por exemplo, Nietzsche (1985), mas percebemos que com o intuito de negá-lo
  • 23. 22 se acaba afirmando a sua existência, pois não precisamos dialogar sobre algo que não existe e se o tentamos é por que de fato isto ainda causa em nós dúvida de sua não existência. O ser humano só pode ser compreendido, quando contemplado como um ser que se realiza de forma pessoal, e também como um ser transcendente, onde constantemente busca sua unidade e realidade transcendental. Para Santo Agostinho (citado por NODARI, 2011, p. 151), O homem é um ser que busca compreender-se. O homem é o único ser vivo que pergunta por sua própria natureza e se coloca a si mesmo como problema. Ele tem consciência de sua grandeza e de sua fragilidade. Talvez se possa afirmar que a grandeza do homem esteja justamente em reconhecer sua fraqueza. Por este motivo o ser humano de forma mais notória se diferencia dos demais seres também pela sua sensibilidade de captar experiências e torná-las sensíveis e significativa estabelecendo relações com as mesmas quando passa por situações semelhantes, propondo-se problemas e formulando perguntas sobre as estruturas, sobre as origens e procurando respostas vigentes. 1.4 Deus no pensamento teológico filosófico e teológico dogmático Pensar em Deus na verdade é um intuito de compreendemos Deus como um problema, pois todo o conhecimento sobre Deus é limitado pelo conhecimento humano, podemos afirmar que o problema de Deus é o próprio problema do homem e do sentido de sua vida, pois neste ser o homem busca se compreender e busca argumentos que o auxiliem a responder o seu ser e a sua existência na sua totalidade, e encontrar uma resposta que perpasse toda sua existência. (MONDIN, 1997, p. 05) Para abordarmos este tema refletiremos o ponto de vista da Teologia filosófica3 e da Teologia dogmática, pois iremos acercarmos tanto da questão da 3 Embora a teologia filosófica tendo em comum com a Filosofia da Religião, com a História das Religiões, com a Teologia Dogmática e com a Metafísica o mesmo objeto material (Deus), a Teologia Filosófica distingue-se delas pelo objeto formal. Enquanto a Teologia Dogmática (ou sobrenatural, revelada) estuda Deus partindo de Deus mesmo, da sua auto-revelação e, portanto, mediante a luz da fé, a Teologia Filosófica estuda Deus partindo das criaturas, da realidade humana e de tudo o que acontece neste mundo, e o seu único instrumento cognitivo para se aproximar de Deus, o faz somente de uma maneira (MONDIN, 1997, p. 11-12).
  • 24. 23 Revelação (Teologia Dogmática), como da realidade humana. Para estudarmos, ou melhor, buscarmos aprofundar a questão de Deus, devemos de forma muito sincera afirmar como Mondin (1997, p. 25): ―A ele (Deus) se chega mais facilmente com o coração do que com a mente. Para chegar a Deus com a mente o homem deve cultivar sobretudo três disposições: pureza de visão, senso de admiração e virtude da humildade.‖ Para os pensadores filósofos, Deus é o princípio que torna possível o mundo ou o ser em geral, fonte ou garantia de tudo o que há de excelente no mundo, sobretudo na realidade humana. Pela Metafísica busca-se mostrar que Deus é o ser que se auto-sustenta e é também o último fundamento dos entes. Para começar a pensar em Deus temos que compreender a afirmação de Xavier Zubiri, para quem pensar em Deus é pensar no problema teologal do ser humano e este tema não diz respeito somente ao conteúdo do saber sobre Deus, mas sim que é o problema radical de Deus para o homem de hoje (ZUBIRI, 2002, p. 13)4 . E este problema cabe de certa forma aos crentes em Deus, pois se fosse falar de Deus para um ateu não seria um problema dado que não crê na existência dele. O problema de Deus é problema essencial do homem que dá clareza a todos os demais aspectos da sua existência: à Ética, ao Direito, à Economia. Deus, como disse Pascal, ―é uma aposta que precisamos encarar‖. Segundo Kant, o conceito de Deus é o mais difícil de compreender, mas também o mais inevitável para a razão especulativa humana. A mesma convicção já havia sido expressa, muitos séculos antes. Mondin (1997, p. 05) relata que Platão já afirmava que: ―é de capital importância um pensamento correto sobre os deuses, se quiser conduzir bem a própria vida.‖ Para os filósofos, Deus é ato puro. Santo Tomás de Aquino (1980, p. 17)5 introduz a distinção entre o ser e a essência dividindo a Metafísica em duas partes: a do ser em geral e a do ser pleno, que é Deus. De acordo com essa distinção, o único ser realmente pleno, no qual o ser e a essência se identificam, é Deus. Deus então é o Ser que existe como fundamento da realidade das outras essências que, uma vez existentes, participam de seu Ser. Isso equivale afirmar que são criaturas, e nelas o ser é diferente da essência, pois pelo fato de serem criaturas são seres não 5 Cfr. Suma teológica. Vol.I. Questão II- Artigo II, p. 17.
  • 25. 24 necessários. É Deus que permite às essências realizarem-se em entes, em seres existentes. Outros aspectos importantes da Filosofia tomista são as provas da existência de Deus. Em um de seus mais famosos livros, a ―Suma Teológica,‖ de 1225, São Tomás de Aquino propõe cinco provas da existência de Deus: 1. O primeiro motor: tudo aquilo que se move é movido por outro ser. Se não houvesse um primeiro ser movente, cairíamos num processo indefinido, logo é necessário chegar a um primeiro ser movente que não seja movido por nenhum outro e este ser é Deus. 2. A causa eficiente: todas as coisas existentes no mundo não possuem em si próprias a causa eficiente de suas existências. Devem ser considerados efeitos de alguma causa. São Tomás afirma ser impossível remontar indefinidamente à procura das causas eficientes. Logo, é necessário admitir a existência de uma primeira causa eficiente, responsável pela sucessão de efeitos. Essa causa primeira é Deus. 3. Ser necessário e ser contingente: este argumento é variante do segundo. Afirma que todo ser contingente, do mesmo modo que existe, pode deixar de existir. Mas, se assim fosse, também agora nada existiria, pois aquilo que não existe somente começa a existir em função do que já existia. É preciso admitir, então que há um ser que sempre existiu, um ser absolutamente necessário, que não tenha fora de si à causa da sua existência, mas ao contrário, que seja a causa da necessidade de todos os seres contingentes. Esse ser necessário é Deus. 4. Os graus de perfeição: em relação a qualidade de todas as coisas existentes, pode-se afirmar a existência de graus diversos de perfeição. Assim, afirmamos que tal coisa é melhor que outras, ou mais bela, ou mais poderosa, ou mais verdadeira etc. Ora, se uma coisa possui mais ou menos determinada qualidade positiva, isso supõem que deve existir um ser com o máximo dessa qualidade, no nível da perfeição. Devemos admitir, então, que existe um ser com o Máximo de bondade, de beleza, de poder, de verdade, sendo, portanto, um ser Máximo e pleno, e este é Deus. 5. A finalidade do ser: todas as coisas brutas, que não possuem inteligência própria, existem na natureza cumprindo uma função, um objetivo, uma finalidade, semelhante à flecha dirigida pelo arqueiro. Devemos admitir,
  • 26. 25 então, que existe algum ser inteligente que dirige todas as coisas da natureza para que cumpram seu objetivo e este ser é Deus. 1.5 Revelação de deus ao homem A autorevelação de Deus ao homem pode ser direta ou indireta, pessoal, ou impessoal, através da natureza ou através da História. Deus está sempre presente na realidade humana. Como afirma Latourelle (1981, p. 5): Rompeu Deus o silêncio: saiu de seu mistério, dirigiu-se ao homem e desvendou-lhe os segredos de sua vida pessoal; comunicou-lhe seu desígnio inaudito de uma aliança que levasse a uma participação de vida. O encontro dado pela revelação vem da autoridade divina e sua revelação exige o homem voltado para esta relação, deixando ao homem a liberdade de abrir- se ou não. A revelação é o mistério primordial, o que nos comunica todos os outros, pois é a manifestação do desígnio salvífico de Deus, premeditado desde toda eternidade que ele realizou em Jesus Cristo. (LATOURELLE, 1981, p. 05) A revelação de Deus ao homem é o acontecimento decisivo, pois leva o homem a perceber-se na sua dimensão transcendente, e para que isto aconteça é indispensável a opção da fé feita pelo homem. Esta opção de fé não será um caminho que se faz às escuras mas sim na capacidade de aderir a esta revelação divina com a resposta da fé dada por sua capacidade racional e de forma livre sendo que a liberdade identifica o homem como um ser capaz de relacionar-se e participar ativamente nesta relação de revelação e resposta de fé. Na Teologia nada se explica que não seja pautada à luz da Revelação divina; tudo a ela se refere. Por este fato parece ser algo tão paradoxalmente implícita, tão evidente como verdade e certa que precisam ser explicitadas, como auxílio à resposta mais consciente e responsável. Assim se parte da fé, para uma inteligência da fé. No cristianismo se apoia a Sagrada Escritura como fonte inspirada e na Igreja como instituição divina. “Fides quaerens intellectum: é uma busca do espírito, uma prospecção do mistério já aceito na fé.‖ (LATOURELLE,1981, p. 07) O importante escreve Baillie (1956), citado por Latourelle (1981, p. 8):
  • 27. 26 [...] é que haja correspondência total entre a inteligência da revelação e a inteligência da fé que a recebe.‖ Fé e revelação, sendo noções corelativas, como palavra e resposta, uma reflexão sobre a revelação necessária haverá de fecundar e vivificar uma teologia da fé. Dado que a revelação é mais do que um fato é um mistério divino, onde Deus fala, e intervém, Jesus Cristo foi a sua forma mais densa de intervenção na história humana, revelando-nos que a revelação sempre existiu no decorrer da história mas que como seres humanos ela não se revela e se realiza em nós em sua plenitude, ou seja, ela existe mas ainda não podemos descobrir tudo o que ela é, pois parte do Mistério que é Deus. O homem se dispõe a fazer caminhada de fé frente ao mistério de Deus, usando suas capacidades de conhecimento, e de experiências para buscar ampliar sua relação com Deus, mas ciente que esta será de sua parte sempre limitada. A resposta do homem na sua essência, porém, é a fé e esta é fundamental ao homem diante de Deus: ―Crer em Deus não é somente crer na existência, mas repousar nele como um sustentáculo inabalável, é refugiar-se nele como num asilo seguro, é tender a Ele como ao próprio fim último.‖ (TORINO, 1964, p. 233) O ato de crer em Deus leva o ser humano, colocar suas expectativas neste Deus que segundo a sua crença mesmo que não interfira da forma da qual o homem espera mesmo assim continua a dar resposta frente às situações da vida. E Denzingher (1789) confirma isto dizendo que a fé é: [...] uma virtude sobrenatural, graças à qual, sob a inspiração e o auxílio da graça de Deus, acreditamos como verdadeiro aquilo que Deus nos revelou, não apoiando sobre a verdade íntima colhida com a luz da razão natural, mas sobre a autoridade de Deus mesmo que o revela, o qual não pode enganar-se nem enganar. Para tanto se faz necessário refletir sobre o papel da fé na revelação de Deus dado que esta é a resposta do homem a Deus. A fé é uma das noções mais profundaS da Sagrada Escritura, pois esta fé se traduz na obediência, confiança, fidelidade e perseverança. Já no Novo Testamento a fé aparece como resposta adequada do homem à revelação de Deus que manifesta seu plano de salvação em Jesus. Esta revelação apresentada por Cristo é um convite a todos os homens para estar em comunhão de vida com as Pessoas Divinas. O homem aceita o convite de Cristo por meio da fé. Nos Evangelhos sinóticos ter fé significa reconhecer em Jesus o salvador messiânico (MATEUS, 27: 42; MARCOS, 1: 5-32), que age com o poder
  • 28. 27 de Deus para salvar os homens. Sendo assim, a fé é uma resposta do homem ao kerigma e ao testemunho dos Apóstolos. Neste sentido crer significa aceitar a mensagem evangélica e aderir inteiramente a Cristo e ao seu projeto. Crer é um ato de submissão da inteligência e da vontade do homem todo, a Deus que salva e às exigências da salvação. É uma conformidade da mente e do coração. A fé, portanto, é uma obediência ao Evangelho: O Evangelho que eu anuncio é a mensagem de Jesus Cristo revelação de um mistério envolvido em silêncio desde os séculos eternos, agora, porém manifestado [...] dado a conhecer a todos os gentios para elevá-los a obediência da fé [...] ( ROMANOS, 16: 25) Há um aspecto de confiança e doação na fé, mas também um aspecto intelectual, pois crendo deve-se reconhecer a verdade de Cristo6 e a sua ressurreição7 Porém, a fé permanece sempre um dom de Deus: para crer é preciso a iluminação divina8 por conseguinte, a fé na Sagrada Escritura encerra os seguintes aspectos: (1) Um aspecto intelectual: admite como verdadeiro tudo o que o Pai revela no seu Filho através dos Apóstolos; (2) Um aspecto afetivo: confiança e adesão total a Cristo. (3) Um aspecto efetivo: orientar a própria conduta segundo as exigências da salvação: a obediência da fé. Para tanto, é preciso a obediência da fé a Deus que se revela, pela qual: A Deus que revela é devida a ―obediência da fé‖ 9 pela fé, o homem entrega-se total e livremente a Deus oferecendo ―a Deus revelador o obséquio pleno da inteligência e da vontade‖ 10 e prestando voluntário assentimento à Sua revelação. Para prestar esta adesão da fé, são necessários a prévia e concomitante ajuda da graça divina e os interiores auxílios do Espírito Santo, o qual move e converte a Deus o coração, abre os olhos do entendimento, e dá ―a todos a suavidade em aceitar e crer a verdade‖ 11 . Para que a compreensão da revelação seja sempre mais profunda, o mesmo Espírito Santo aperfeiçoa sem cessar a fé mediante os seus dons (JOÃO PAULO II, 1967, DEI VERBUM. n° 05) O ser humano é chamado a dar de forma voluntária o assentimento à revelação feita por Ele, e correspondê-la pela ação da graça. Para que se comunique esta fé, exige-se a graça prévia de Deus e os auxílios internos do 6 (1ª CARTA A TIMÓTEO, 2:4) 7 (ROMANOS, 10: 9-10). 8 (2° CARTAS AOS CORINTIOS, 4:5-6). 9 (ROMANOS. 16:26; ROMANOS. 1:5; II CORINTIOS. 10: 5-6). 10 Cfr. II Concílio Niceno, Denzingher. 303 (602); IV Concilio Constantinopolitano, sess. X, can. 1: Denz. 336 (650-652). 11 Cfr. Concílio Vat. I, Const. dogm. De fide catholica, Dei Filius, cap. 4: Denzingher.1800 (3020).
  • 29. 28 Espírito Santo, tornando sempre mais profunda a compreensão da revelação e aperfeiçoando continuamente a fé por meio de seus dons. Desde o período patrístico, ao se visualizar a teologia que se encontrava envolvida no contexto helênico, vemos a sua busca de aperfeiçoamento. A Patrística conta com dois princípios: “Intellige ut credas, crede ut intelligas” – crer para entender, entender para crer, ideal amplamente desenvolvido por Santo Agostinho. Não há separação entre fé e razão. Para esse fim foi desenvolvida uma linguagem simbólica (evocativa). Desde então sempre houve iniciativas, discussões e preleções com o objetivo de harmonizar fé e razão, para dar ao homem contemporâneo as condições de responder aos apelos mais profundos de sua existência, sobre a fé e razão é afirmado pela Igreja católica através de seu representante Papa, João Paulo II, na Carta Encíclica Fides et Ratio, de João Paulo II (1998, p. 5) A razão e a fé constituem como duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecera verdade e, em última análise, de conhecer a ele, pra que, conhecendo-o e amando-o, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio. É pelo uso correto da razão que o homem se descobre e se realiza, encontra o sentido para existir. O conhecimento é inerente ao homem, único ser criado que possui a capacidade intelectiva. A razão lhe confere grande potencial de conduzir a si e aos outros. A procura pela verdade, que somente pode ser obtida com o auxilio da razão, faz do homem um ser que não se satisfaz facilmente e procura sempre mais abarcar os mais recônditos mistérios da verdade. Mondin (1987, p.03) afirma isso citando São Tomás de Aquino: A razão é uma ajuda propícia para conhecer mais facilmente determinado objeto e com maior certeza aquelas verdades que, por si, estão agrupadas, e para tornar-lhe acessíveis aquelas verdades sobrenaturais que superam toda a sua capacidade. Santo Tomás de Aquino reconhece a autonomia da razão, mas não admite o fato de que ela sozinha seja capaz de penetrar nos mistérios de Deus, apesar de ser Ele a sua finalidade. Ele enxerga a razão como uma luz concedida por Deus ao homem, para que este alcance a ―ciência do bem e do mal.‖ (MONDIN, 1987, p.21) De fato, o ser humano foi criado por Deus com uma grande capacidade reflexiva que o permite elaborar, metodicamente, pensamentos com os quais conduz a humanidade para onde quer, levando-a a um progresso profícuo ou a um retorno ao caos.
  • 30. 29 A fé é o ato de aceitar algo que não é evidente, que não está explícito, contudo torna-se racionalmente aceita se fundamentada com premissas coerentes. A fé proporciona a razão obter com maior agilidade e credibilidade o seu objetivo, a verdade. Por mais que a razão se esforce para provar determinadas proposições, somente a fé é capaz de lhe conceder a aceitação de que não pode obter tudo o que quer. A razão orienta a ciência para a tentativa de descobertas de questões emergentes que se afloram ao longo do desenvolver da humanidade. A fé é para os que creem uma luz que os ilumina em momentos difíceis, fazendo-os aceitar muitas questões que o homem não é capaz de solucionar. 1.6 Deus no inconsciente humano Como anteriormente comentamos, para compreender o ser humano temos que contemplá-lo em sua totalidade. Não se poderia deixar de lado a dimensão psicológica do Homem e assim, de Deus no inconsciente do ser humano. A Psicologia da Religião dar-nos-á um fio norte para que reflitamos posteriormente sobre a presença de Deus. Deus se revela na dimensão inconsciente do homem. O encontro de Deus com o homem, apresentado pela Psicologia, se refere a uma idéia que a psique tem de Deus, este Deus como algo conhecido, experimentado, sentido, intuído, representado ou formulado por uma pessoa. Esta experiência ou percepção de Deus sofre alterações ao longo da vida do indivíduo, devido à própria etapa da vida em que o indivíduo se encontra, e de certa forma sofre diferentes percepções muitas vezes sendo de âmbito subjetivo, levando- nos a questionar quanto a sua autenticidade ou até mesmo as possíveis distorções, dado as suas abstrações pautadas em experiências e percepções conceituais subjetivas. Esta experiência foge de qualquer aspecto dogmático, teológico ou doutrinal, pois não apresenta limitações conceituais pré-estabelecidas e previamente comprovadas. A experiência, ou percepção da imagem de Deus aparece aos psicólogos como um continuado a revelar-se dentro e através da psique ou
  • 31. 30 entendido com uma linguagem mais cristã através da alma, como afirma Hillman (1985, p.39). A primeira coisa que o paciente procura no analista, é fazê-lo consciente de tudo o que o faz sofrer, levando-o a seu mundo de experiências. Experiência e sofrimento são palavras de há muito associadas à alma. ―Alma‖, entretanto, não é um termo científico, sendo hoje em dia raramente utilizado em psicologia [...] Os termos ―alma‖ e ―psique‖ podem ser utilizados alternadamente, embora a tendência seja escapar à ambiguidade do termo ―alma‖, recorrendo-se à ―psique‖ por ser mais moderno e biológico. ―Psique‖ é empregado como fato natural concomitante à vista física, sendo talvez redutível. Alma, por outro lado, apresenta sobre tons românticos e metafísicos, compartilhando suas fronteiras com a religião [...] Poderíamos com o mesmo autor, afirmar que a alma teria um atributo mais simbólico, por amparar um fator humano desconhecido que faz possível a existência de significados, que transforma fatos em experiências e que se comunica através do amor. Sobre isto afirma: [...] de que forma a análise profunda conduz a alma, e como esta por sua vez, envolve inevitavelmente a análise com a religião mesmo com a Teologia, visto que a religião vivida como experiência nasce da psique humana, sendo por causa disso um fenômeno psicológico. (HILLMAN, 1985. p.42) Poderíamos afirmar que o inconsciente guarda na memória como um programa interno que possui uma linguagem própria, utilizando-se de metáforas, e não usa dados da razão reais ou não para avaliá-las. Para que esta venha a desenvolver-se basta uma emoção, associá-la a outra situação vivida, ou muitas vezes pensamentos, úteis, reais ou não. O inconsciente, que está diretamente relacionado com todas as nossas experiências ou fatos que no momento no que veio ocorrer, nem sempre o percebemos. Todos os nossos atos de certa forma, guardam em si uma dimensão da inconsciência, pois mesmo que seja um ato comum do nosso dia a dia, o realizamos sem estar com plena consciência. Por exemplo, o ato de escovar os dentes, dirigir um carro, cortar um alimento fazemos de forma ―automática‖, este ato vem consciente quando acontece um acidente ou devemos ter uma reação rápida e começamos a prestar mais atenção no ato realizado. O inconsciente tem uma importância por nos defender dos perigos e guardar informações do passado. Tem uma capacidade infinita, pois o cérebro recebe diariamente milhares de estímulos e mensagens, constantemente, sendo que estes na maioria das vezes ficam armazenados na memória inconsciente.
  • 32. 31 Este aspecto se realiza na dimensão dos nossos sentimentos nos quais muitas vezes não temos plena consciência de como o mesmo interfere na nossa percepção da realidade, reações e influências nos nossos relacionamentos. Sobre o inconsciente Jung (1991, p. 123) escreveu: Assim definido, o inconsciente descreve um estado de coisas extremamente fluido: tudo o que sei, mas que no momento não estou pensando; tudo aquilo de que antes eu tinha consciência, mas de que agora me esqueci; tudo o que é percebido pelos meus sentidos, mas que não foi notado pela minha mente consciente; tudo aquilo que, involuntariamente e sem prestar a atenção, sinto, penso, recordo, quero e faço; todas as coisas futuras que estão tomando forma em mim e que em algum momento chegarão à consciência: tudo isto é o conteúdo do inconsciente.‖ Jung dizia também que ―a consciência não se cria a si mesma; emana de profundezas desconhecidas‖. O consciente é o que nos leva a discernir, organizar funções apropriadas para determinadas situações, raciocinar as devidas reações, ações e percepções a serem consideradas. Ao contrário do inconsciente, ele é tudo a que temos acesso pelo cérebro, em perfeito estado de raciocínio. Quanto mais a nossa consciência for segura de dados, mais estaremos conscientes e assim daremos menos possibilidades de atos inconscientes. Jung faz referência ao consciente, ao inconsciente, e também se refere ao subconsciente e este seria como um canal que busca ligar ao mundo espiritual, conectando-o a tudo e a todos, sendo assim, como que um poder infinito, que cria crenças boas ou más, e este conjunto como um mapa mental o qual influenciará e guiará as experiências humanas. Levando assim a compreensão que está presente na psique humana um espaço que o leva à busca do espiritual. Então, esta dimensão que leva o homem a perceber-se incompleto é a própria presença de Deus que o leva a transcender e questionar o que não está adequada à dignidade existente no homem desde sua concepção com e na realidade primeira. Deus no inconsciente é levar em consideração tudo o que faz o indivíduo questionar- se, sofrer psiquicamente, além de princípios morais e princípios humanos, e perceber que sua vida tem uma dimensão mais profunda e divina. Pois, na percepção de qualquer área de conhecimento ou de percepção que busque compreender o ser humano, e incluindo aqui a religião e a psicologia, onde ambas se referindo à alma ou a psique, precisa compreender de fato o ser humano em sua totalidade, buscando compreender sem descartar uma de suas dimensões, pois ambas partem da mente humana para buscar subsídios que fundamentem a
  • 33. 32 sua razão de ser, buscando auxiliar o homem a ter uma visão maior da dignidade de seres humanos. Hillman (1984, p.41) se refere à alma da seguinte forma: ―A alma confere, dá sentido, transforma acontecimentos em experiências, comunica-se pelo amor e tem uma explicação religiosa‖ realçando assim a importância da alma para compreensão da teologia e da psicologia. Como se daria esta experiência psicológica de Deus então numa dimensão inconsciente? Viktor Frankl aborda o tema do Transcendente em perspectiva psicológica a Logoterapia12 , conhecida como terapia do sentido. O autor e fundador da escola, Viktor Frankl, afirma: Não se trata de um simples inconsciente instintivo, mas também de um inconsciente espiritual. O inconsciente não se compõe unicamente de elementos instintivos, mas também espirituais. Desta forma, o conteúdo do inconsciente fica consideravelmente inconsciente e espiritualidade inconsciente. (FRANKL, 2010, p.19) Para melhor compreender a dinâmica da presença de Deus e a experiência do homem na busca de responder a sua própria existência e como a presença de Deus vem contribuir para a resposta de sentido da vida, daremos continuidade no próximo capítulo, abordando a teoria do autor Viktor Frankl que nos auxiliará nesta temática, abordaremos brevemente a história de vida do autor. 1.6.1 Síntese Biográfica de Viktor Frankl e o Deus no Inconsciente A importância de refletir sobre a busca de sentido no qual o homem está constantemente inserido numa dimensão mais que meramente sociológica e psicológica ou em qualquer outra dimensão, poderíamos afirmar que essencialmente que este questionamento visaria uma dimensão existencial. Para este tema nos referiremos ao autor Viktor Emil Frankl. Ele era médico psiquiatra, neurologista austríaco, fundador da terceira Escola Vienence de Psicologia, a Logoterapia. Esta propõe uma visão diferenciada das 12 O termo "logos" é uma palavra grega que significa também "sentido". Assim, a "Logoterapia concentra-se no sentido da existência humana, bem como na busca da pessoa por este sentido" (Frankl)."Para a Logoterapia, a busca de sentido na vida da pessoa é a principal força motivadora no ser humano... A Logoterapia é considerada e desenhada como terapia centrada no sentido. Vê o homem como um ser orientado para o sentido". Disponivel em: (Frankl). http: // pt. wikipedia.org /wiki/Logoterapia. Acesso em 15/08/2012.
  • 34. 33 concepções psicológicas de sua época, buscando abordagens fenomenológicas existencialistas13 , humanista e teísta. Busca compreender a existência através dos fenômenos especificamente humanos. Mais do que relatar experiências observadas em consultório o autor descreve através de sua teoria o que sentiu e observou em si mesmo e nas demais pessoas e seu comportamento na situação limite do campo de extermínio nazista durante a segunda guerra mundial, pois o autor vem da descendência judia, por isso a observação psicológica realizada por ele mais que uma observação, é um testemunho. Abordando assim mais que relatos conceituais ou meramente teóricos, partiremos da experiência de quem dentro de um campo de concentração, juntamente com sua família e sua esposa, sentiu o que de fato a presença de Deus auxiliaria a superar as situações adversas de sua vida. Viktor Frankl foi preso juntamente com sua esposa no mesmo ano em que se casaram, no ano de 1942, nos campos de concentração perde sua esposa e seus pais. Frankl passa por quatro campos nazista entre 1942 a 1945 o mais conhecido deles é o ―famoso‖ Auschwitz (1944). Sendo uma pessoa em meio a todos os horrores existentes nos campos de concentração o autor começa a ser mais que mero pesquisador o que já era anteriormente, começa a aplicar sua teoria, a Logoterapia (terapia da busca de sentido). Frankl percebe e relata em seus livros alguns momentos marcantes de sua vida, e sua observação nos campos de concentração, pois percebia que as pessoas que buscavam um sentido para a vida eram mais resistentes; as que tinham como certa missão a ser realizada após todas as torturas impostas sobreviviam e encontravam força para passar por tais humilhações. Frankl foi discípulo de Freud e Adler, porém sua teoria diferenciou-se muito dos conceitos propostos pelos dois pesquisadores anteriores, pois Frankl não acreditava que a pessoa humana caminhasse pelo mundo sob a força dos impulsos, e começa a desenvolver alguns pontos que tornaram diferenciais de sua teoria psicológica. Afirma: ―[...] o ser humano é livre e responsável e tem consciência de 13 A palavra Fenomenologia origina-se do grego, composta por duas partes: FENÔMENO: Aquilo que se mostra para nós, primeiramente pelos sentidos; e LOGIA: Capacidade de refletir, um discurso esclarecedor. Então a fenomenologia é uma atitude de reflexão do fenômeno que se mostra para nós, na relação que estabelecemos com os outros, e com o mundo no decorrer de nossa existência. Disponível no site: http://www. psicoethos. com. Br / si / site / 0402 /p / O % 20 que % 20 % C3 % A 9 %20Fenomenologia. Acesso em 16/07/2012.
  • 35. 34 sua responsabilidade; que é incondicionado, busca um sentido para sua vida e traz dentro de si um Deus inconsciente.‖ (GOMES, 1987, p. 11) Para o autor a experiência humana, essencialmente, se orienta para além de si mesma, para algo além, pois o leva a usar sua capacidade de transcender uma situação extremamente desumanizadora, manter a liberdade interior e desta maneira, não renunciar ao sentido da vida, apesar destas situações. Diante de suas experiências, o homem perceber-se responsável perante um Outro, que o faz autotranscender . A Logoterapia, como aponta Frankl não viera negar as duas teorias existentes em Viena, a de Freud e a de Adler, mas afirmar que o sentido da existência, seu verdadeiro significado, é descobrir que cada ser humano tem sua missão única nesta terra. A teoria de Frankl aponta o ser humano como um ser livre e responsável com consciência de sua responsabilidade. Ele traz dentro de si inconscientemente Deus e é incondicionado a uma busca de sentido, refletindo sobre a presença de Deus no ser humano a sua busca de sentido. No capítulo seguinte, abordaremos o pensamento de Frankl, para tentar compreender a presença ignorada e a busca de sentido.
  • 36. 35 2 A BUSCA DE SENTIDO A busca de sentido presente no homem é como um anseio de o fazer perceber-se capaz de Ser mais que o mero existir imanente. Partiremos de pressupostos da teoria de Viktor Frankl para buscarmos compreender ao que queremos nos referir quando colocamos a busca de sentido presente no homem. Abordaremos também sobre a presença ignorada de Deus, e a dimensão noética apresentada pela Logoterapia, pois Frankl considera que somente será compreendido o homem em sua totalidade quando for acolhido também na sua dimensão espiritual. Seguiremos abordando alguns aspectos da teoria frankliana. 2.1 A presença ignorada de Deus no ser humano Viktor Frankl na sua teoria tinha uma visão mais antropológica, mais completa do homem, buscando complementar as dimensões psicofisiológicas com a dimensão espiritual, reconhecendo ela ser fundamental, com uma percepção aberta do mistério transcendente do ser e a sua dimensão humana profunda, busca integrar o ser humano considerando-o esta dimensão e levando-os a perceberem-se dignos de sua singularidade e comprometidos de forma responsável frente à vida e seus desafios. A presença ignorada de Deus no ser humano apresentada pelo autor é como a pessoa profunda em seu ser, e nesta profundidade encontra-se a manifestação de Deus, como uma parte mais sadia presente no ser humano a qual não sofre interferência condicionante de âmbito externo. Nestas situações o meio somente terá interferência se a pessoa conscientemente e livremente optar por se deixar condicionar, deixando assim claro que sobre qualquer situação, o único responsável pela decadência ou superação é o indivíduo, reforçando a responsabilidade do ser humano. Sobre isto Xausa (2005, p. 39) relata sobre Frankl: Na prisão Frankl observou que muitos dos seus colegas, tendo-lhes sido extraídos até o último grau os recursos físicos, acabavam perdendo os seus princípios morais e também os sentimentos da própria individualidade, considerando-se só parte de uma massa da gente, rebaixando assim sua existência ao nível da vida animal. Entre as reações generalizadas dos prisioneiros estava também a dos homens que iam de barracão em barracão consolando os demais, dando o último pedaço de pão que possuíam [...] Ficava patente que o tipo de pessoa em que se convertia o prisioneiro era resultado de uma decisão íntima. Muitos se submetendo à
  • 37. 36 força das circunstancias tornavam-se prisioneiros também em seu íntimo e pereceram até antes da condenação à morte; alguns, porém, caminhavam para o forno de cabeça erguida, ao que Frankl chamou de poder de resistência do espírito com a última das liberdades humanas [...] O ser humano é um ser por excelência por esta capacidade de opção sobre quaisquer situações, e diante disto podemos ao mesmo tempo comprendê-lo e auxiliar o mesmo a perceber-se consciente da responsabilidade diante da realidade, mas não para que se frustre, mas se perceba capaz de responder com segurança esta realidade, não se condicionando frente a ela e podemos compreender que na medida em que o ser busca resposta numa dimensão transcendente, encontra uma força que o faz superar com muito mais facilidade. Nas suas análises psicológicas Viktor Frankl descobriu que a religiosidade é um estado latente no interior do homem. Esta, muitas vezes, só é revelada através do inconsciente por meio de sonhos. Esta tendência inconsciente para Deus é que Frankl chamou de estado inconsciente de relação com Deus ou ―presença ignorada de Deus‖. Afirmando Frankl à presença ignorada de Deus no inconsciente ele não quer instituir uma divinização do inconsciente, nem pode ser considerada uma afirmação panteísta14 , Deus não está plenamente em nós, ou ocultista, como afirmar a onisciência do inconsciente, como uma afirmação teológica de que Deus vive no inconsciente. 15 Referindo-se a esta presença de Deus no ser humano podemos cair no erro de constituir uma relação inconsciente com Deus, não se pode querer considerar que está presente no ser humano esta relação inconsciente, tirando então a responsabilidade do eu consciente, a responsabilidade do ser religioso da pessoa, ressarcindo do homem a possibilidade de decisão e de livre arbítrio, e distanciando da relação que conhecemos deste Deus que sobre quaisquer condições considera a liberdade humana. 14 O panteísmo é a crença de que o Universo ou a natureza e Deus são idênticos. Sendo assim, os adeptos dessa posição, os panteístas, não acreditam num deus pessoal, antropomórfico ou criador. A palavra é derivada do grego pan (que significa "tudo") e theos (que significa "Deus"). Embora existam divergências dentro do panteísmo, as ideias centrais dizem que deus é encontrado em todo o Cosmos como uma unidade abrangente. O panteísmo tende a divinizar os elementos da natureza, referindo-se à própria natureza por Deus. Disponivel em: http://pt.wikipedia.org /wiki / Pante%C3% ADsmo. Acesso em 15/08/2012. 15 Cfr. FRANKL, 2010, p. 56 e 60.
  • 38. 37 Para Frankl, o ser humano encontra um sentido nas situações quando é consciente de sua responsabilidade e se torna responsável pelas mesmas. Relata sobre uma espécie de fé inconsciente, um inconsciente transcendental que inclui a dimensão religiosa, pois é por meio dela que estabelecemos relação com este Transcendente presente em nós. Essa fé inconsciente da pessoa, que se nos revela e está englobada e incluída no conceito de seu ―inconsciente transcendente‖, significaria então que sempre houve em nós uma tendência inconsciente em direção a Deus, que sempre tivermos uma ligação intencional, embora inconsciente, com Deus. E é justamente este Deus que denominamos inconsciente. Nossa formulação de um Deus inconsciente não significa, porém, que Deus, em si mesmo e por si mesmo, seja inconsciente; ao contrario, quer dizer que, às vezes, Deus permanece inconsciente para nós, que nossa relação com ele pode ser inconsciente, ou reprimida, e, assim, oculta para nós mesmos.‖ (FRANKL 2010, p.58-59) A Logoterapia parte do pressuposto fenomenológico que a própria condição humana possibilita sermos seres com consciência e com responsabilidade, ou seja, está presente em todo e qualquer ser humano, sobre quaisquer condições a ―potenciação da consciência da responsabilidade, no estar consciente de ter responsabilidade‖ (FRANKL, 2010, p. 57) o autor também afirma sobre a responsabilidade: Com essa espiritualidade inconsciente no ser humano, que qualificamos como inteiramente ciente onde são tomadas as grandes decisões existencialmente autênticas; a partir disso deduzimos, nem mais, nem menos, que além da consciência da responsabilidade, ou a responsabilidade consciente, deve existir algo como uma responsabilidade inconsciente. (FRANKL, 2010.p. 57) Refletindo então sobre a importância da consciência e da responsabilidade consciente é que se pode notar que o homem é chamado desde sua parte mais profunda a sempre mais ser protagonista de sua existência. Gera assim, por meio da responsabilidade um ser que se relaciona com liberdade, e é chamado a tornar-se significativo, não tanto pela parte centrada em si, mas na medida em que se lança ao altruísmo, percebendo-se útil e agente ativo no mundo por meio de suas características subjetivas e não mera massa em meio a uma multidão de pessoas, respeitando assim sua singularidade e a dos demais. Fazendo referência ao termo ―Deus‖ ou o termo Transcendente muito utilizado pelo autor, e entendido como a capacidade humana de transcender, ir além e perceber que há um Outro a quem se busca compreender e responder, com liberdade e responsabilidade.
  • 39. 38 A compreensão de Frankl sobre o transcendente vem diretamente influenciada pela concepção da fenomenologia e redução transcendental de Husserl16 que transcender era compreendido como a capacidade de entender o mundo na sua transparência, isto significa conhecer o sujeito como situado no seu nível de intencionalidade noética e de seus correlatos noemáticos,17 para isto se pressupõem a certeza do mundo e pela redução fenomenológica, o mundo é visto como correlatos da consciência. Estes correlatos são entendidos como vivência objetiva, como objeto significativo, diante do qual o homem vê suas ações conscientes, com intencionalidade, com seu elemento real da vivência subjetiva. Sendo assim, a relação que se estabelece com o objeto não meramente como relação externa independente, mas visto como dois pólos que entre si são correlativos da relação intencional da consciência. Para Frankl, para a Fenomenologia e consequentemente para a Logoterapia, o ego transcendental, o sentido, é compreendido como uma potencialidade oculta em cada situação e que deve ser descoberta pela consciência. Esta necessidade independe de outras necessidades, pois está presente em todas as situações. O significado da vida muda constantemente em qualquer circunstância, por dados que mudam no decorrer da vida das pessoas este significado pode ser apresentado em três vias: praticando uma ação ou criando uma obra (uma causa); lendo a experiência de algo ou alguém além de si mesmo, experimentando outra pessoa em sua singularidade (uma pessoa); e uma experiência dolorosa (uma situação). ―A vida continua a ser significativa sob quaisquer condições ou circunstâncias.‖ Frankl afirmando e reconhecendo o inconsciente espiritual, descarta de certa forma um homem pensado simplesmente no âmbito da racionalização e intelectualidade, buscando assim respeitar a sua essência, o mesmo não se pode 16 Edmund Gustav Albrecht Husserl (Proßnitz, 8 de Abril de 1859 — Friburgo, 26 de Abril de 1938) foi um matemático e filósofo alemão, conhecido como o fundador da Fenomenologia. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Edmund_Husserl#Biografia.Aceso em 15/08/12. 17 Noémático vem de Noema: Uma frase, estória, raciocínio ou história que serve para fazer entender algo diferente do que é dito. O emprego de um noema é feito quando não encontramos palavras para explicar a coisa de que temos uma ideia. É uma tentativa (muitas vezes falha) de aproximação do entendimento de quem ouve da ideia de quem fala. O conto do pintassilgo ou alegoria da caverna de Platão para fazer entender que a realidade pode não ser tal, como a que nos é dada. Disponível em: http://www.dicionarioinformal. com. br / noema /. Acesso 15/08/2012.
  • 40. 39 ser pensado exclusivamente por sua racionalização ou por meio de teorias práticas, mas buscar compreendê-lo como um ser em sua totalidade. Esta totalidade compreendida como a presença de Deus que o lança a um anseio interno de perceber-se além das expectativas meramente humanas, pois em certos momentos de sua vida, deve compreender que de certa forma veio ao mundo sozinho e parte deste sozinho, mas a sua vida carrega em si um valor inestimável e único, um sentido do qual vale a pena passar da melhor forma pela existência humana, e que pode dar de si muito mais que receber deste mundo algo que o faça sentir-se realizado em sua essência de ser mesmo diante das desilusões existentes. 2.2 O homem espiritual, dimensão noética segundo Frankl O que difere o homem dos outros animais é a sua dimensão noética, entendida esta por Frankl, como um estado noodinâmico, ou seja, um estado de tensão entre o que o ser humano é e o que deveria ser, a sua capacidade de projetar-se ao futuro, perceber que as situações da vida permanecem somente por um período e assim com esperança projetar-se a um futuro mais próspero. A dimensão noética é parte essencial da existência humana, sendo esta chamada pelo autor também de dimensão espiritual, assim propriamente dito a existência humana é espiritual. Esta dimensão é considerada superior às demais. A Logoterapia chama dimensão noética a capacidade humana de autodistanciamento e de auto- transcendência. Nesta dimensão, o autor apresenta como possibilidade da espiritualidade se manifestar no inconsciente, reconhecendo que a pessoa profunda, ou espiritual- existencial é sempre inconsciente. Referindo-se a isto, o autor não busca afirmar que a espiritualidade é facultativa ou obrigatória, porém é latente. O que ele busca afirmar é que a dimensão espiritual é fundamentalmente inconsciente, por estar presente mesmo quando o ser humano não se dispõe, porém homem algum pode e consegue afirmar com subsídios racionais que está plenamente no controle de sua vida, do universo, e que não há uma força geradora de vida, algo ou alguém de onde partiu tudo o que temos ao nosso redor, mesmo que alguns a identifique com outra denominação, cosmo, deuses, enfim o ser
  • 41. 40 humano nunca sabe em sua totalidade o que é chamado a ser em sua plenitude. Ele afirma: [...] a pessoa profunda, a saber, a pessoa profunda espiritual, aquela e somente ela que merece ser chamada assim, no verdadeiro sentido da palavra, é irreflexível por ser passível de reflexão e, neste sentido, pode ser chamada também de inconsciente. Desta forma, enquanto a pessoa espiritual pode, basicamente, ser tanto consciente quanto inconsciente, podemos dizer que a pessoa profunda espiritual é obrigatoriamente inconsciente, não apenas facultativamente. Em outras palavras, na sua profundeza, ―no fundo‖, o espiritual é necessário por ser essencialmente inconsciente. (FRANKL, 2010, p. 27) Esta dimensão espiritual, chamada pelo autor também de dimensão noética, é identificada pela vivência da liberdade e da responsabilidade e caracterizada pela capacidade humana de responder pela liberdade de como o ser humano venha a atuar no momento que responde às situações ou se posiciona diante das diferentes circunstâncias presentes de sua existência. Esta liberdade afirmada pelo Frankl pressupõe uma liberdade para efetivar seu posicionamento no mundo, e este manifesta a ―irrepetibilidade e caráter de algo único‖ constituinte de cada ser humano. Abordar este tema como existência humana na sua dimensão espiritual, é afirmar, com o autor, que o ser humano é um ser responsável e deve ser consciente de sua responsabilidade, e na medida que busca responder a esta força que o move entra em relação com o transcendente e acredita responder a sua vida de uma forma mais total, ainda que sempre limitada. Sobre a liberdade Frankl afirma: A experiência da vida no campo de concentração mostrou-nos que a pessoa pode muito bem agir ―fora dos esquemas‖. Há suficientes exemplos, muitos deles heróicos, que demonstraram ser possível superar a apatia e reprimir a irritação; e que continua existindo, portanto, um resquício de liberdade do espírito humano, de atitude livre do eu frente ao meio ambiente, mesmo nessa situação de coação aparentemente absoluta, tanto exterior como interior [...] No campo de concentração se pode privar a pessoa de tudo, menos da liberdade última de assumir uma atitude alternativa frente às condições dadas. E havia alternativa! A cada dia, a cada hora no campo de concentração, havia milhares de oportunidades de concretizar essa decisão interior, uma decisão da pessoa contra ou favor da sujeição aos poderes do ambiente que ameaçavam privá-la daquilo que é sua característica mais intrínseca- sua liberdade- e que a induzem, com a renúncia à liberdade e à dignidade, a virar mero joguete e objeto das condições externas, deixando-se por eles cunhar um prisioneiro ―típico‖ do campo de concentração. (FRANKL, 2011, p. 88) O ser humano, visto que está sempre exposto a estímulos e determinações de diversas formas no âmbito externo, requer uma responsabilidade de maneira sempre mais ativa, criativa e própria de forma a expressar o seu jeito de ser, a forma
  • 42. 41 particular e única de cada indivíduo, pois é esta forma de responder que lhe dará suporte frente aos variados estímulos, leva-o a perceber-se responsável frente à situação. Fazendo referência a esta resposta livre e responsável, Viktor Frankl cita diferentes maneiras de enfrentar a mesma circunstância, pois na sua experiência no campo de concentração, entre seus companheiros havia uns que pelo desespero frente à pressão nazista se jogavam nas cercas elétricas tirando assim a vida de forma voluntária e outros que sofriam, tinham duras penas mas resistiam, pois tinham a esperança de que algo os esperava ao sair dali: uma pessoa a amar, uma obra a realizar, um Deus a quem servir. Nesta liberdade de resposta, aqueles prisioneiros colocavam-se diante das situações conferindo sempre a elas um sentido, um motivo ou razão pela qual valesse a pena superar e continuar vivos. A parte mais saudável existente no ser humano é identificada como espiritual ou transcendente e esta não é determinada, mas sim determinante da pessoa frente a sua responsabilidade de responder com liberdade e consciência as diversas situações da vida, sendo que esta responsabilidade e a liberdade não são consideradas somente frente a grandes situações e decisões da vida mas sim, frente a todas as situações do cotidiano, encontrando assim um sentido na vida humana, um motivo o qual vale a pena empreender todas as energias. Após darmos alguns enfoques necessários sobre a dimensão noética do homem, abordaremos a questão da autotranscendência, algo de grande importância na teoria da Logoterapia e de diferencial notório e consequentemente para o encontro com Deus no inconsciente. 2.2.1 Autotranscendência Como já afirmamos, o que diferencia determinadamente a Logoterapia das demais teorias é o reconhecimento da possibilidade humana de transcender e de distanciar-se de uma forma meramente científica e empírica de seu tempo, que considerava o homem meramente no âmbito do poder e do prazer e se deixava de lado o espiritual, o que a Logoterapia veio considerar com grande estima. Foi por este motivo que Frankl se distanciou tanto de Freud quanto de Adler.
  • 43. 42 O autor reconhece que a vida humana é constantemente envolvida por experiências de transcendência, devido a fatos simples do cotidiano, nas realidades que fogem de seu conhecimento cognitivo. Pois mesmo que se amplie a nível empírico as coisas, não se esgota o todo dos objetos e das coisas existentes. Por este motivo o ser humano é envolto muitas vezes percebendo-se encantado com a beleza que o cerca, o gerar de uma nova vida no seio materno, o maravilhar-se por uma flor a desabrochar no jardim com tanta vivacidade, os sentimentos mais sinceros e duradouros por pessoas que nos são queridas, como em situações de sofrimento, onde se percebe a força da vida que não se deixa suprimir. O homem tem a capacidade para ir além de si mesmo, para alguém ou alguma coisa fora de si, que o lança à esperança. Como afirmamos na dimensão noética citado anteriormente, existe no ser humano uma tensão entre o ser e o que deveria ser; este conflito é compreendido como algo que não pode vir diretamente do ser humano se não tivesse a transcendência este Algo mais que o leva a projetar-se, a desejar ser sempre mais, perceber-se limitado porém com possibilidade de superar-se e acreditar em suas capacidades e desenvolvê-las no máximo de suas possibilidades em busca de sua realização, de crença num mundo mais próspero e do sentido da vida Frankl define a religião: é a consciência que o homem tem de sua dimensão sobre-humana, e nesta dimensão se apoia a fé básica no sentido último da vida. O fato de se ver como um ser no mundo, mas com lastros além, no infinito, faz de nós pessoas cheias de esperança na vida. (GOMES 1987 p. 55.) Há neste ente que de certa forma busca ser responsável, a necessidade de responder à transcendência, usando de sua liberdade, consciência e capacidade de conhecimento, estabelecendo relação com Deus, sendo que é a própria Transcendência que o provoca a sair de si. Para a Logoterapia a pessoa não é prioridade para si, mas à medida que se doa por uma causa ou alguém se autorrealiza, a leva a sair de si e projetar-se em algo que a leva a perceber-se participante ativa no meio em que se encontra. Todo sentimento humano busca uma relação com um outro. A Logoterapia tenta induzir o individuo a uma escolha responsável e livre para uma relação de um EU com um TU. Este tu entendido como transcendência. Este Tu não é percebido pelos sentidos, mas sim experienciado, e esta experiência nunca se dá por completa
  • 44. 43 e encerrada imanentemente, dado que este Tu é um ser Absoluto, e o eu humano limitado nas suas condições próprias. O Absoluto procurado pelo homem é considerado como um anseio inerente ao homem, e isto é reconhecido como a Presença ignorada de Deus, uma fé inconsciente. Esta capacidade humana é considerada como característica ontológica. A auto-transcendência assinala o fato antropológico fundamental de que a existência do homem sempre se refere a alguma coisa que não ela mesma - a algo ou a alguém, isto é, a um objetivo a ser alcançado ou à existência de outra pessoa que ele encontre. Na verdade, o homem só se torna homem e só é completamente ele mesmo quando fica absorvido pela dedicação a uma tarefa, quando se esquece de si mesmo no serviço a uma causa, ou no amor a outra pessoa. É como o olho, que só pode cumprir sua função de ver o mundo enquanto não vê a si próprio (FRANKL, 1991, p. 18). Compreende-se assim que esta dimensão humana presente no ser humano é o que de certa forma o desafia e impulsiona à superação de seus limites e ao desenvolvimento de suas potencialidades, buscando responder às questões impostas pela própria vida, dado que para Frankl ―não é o homem que se indaga sobre a vida; a própria vida é que pede respostas ao homem‖, e realizando suas atividades, se é que podemos afirmar como mera atividade, dado a singularidade de cada ser humano, tornando-se assim significativa a sua vida e compreendendo-se como realizada em seu sentido profundo. 2.2.2 O Inconsciente Transcendente e a Consciência Viktor Frankl se refere ao inconsciente espiritual, sua compreensão que a dimensão noética é também inconsciente, e manifesta através da intuição. Esta intuição é entendida como a voz da consciência, algo que não vem de si próprio, a consciência é identificado por Frankl como a presença de Deus. É entendida então como algo de transcendente, algo que venha de certa forma orientá-lo, como uma autoridade que o leva, e o incita ao dever ser; que de certa forma o orienta de forma mais eficaz o seu querer, a sua busca de sentido e sua realização; faz compreender o seu ser responsável e assim a buscar responder esta voz que o motiva a algo a mais, que o leva a uma decisão, a um eu ativo e decisivo. O ser humano pode assim ser ―verdadeiramente ele próprio‖ também nos seus aspectos inconscientes. Por outro lado, ele é ―verdadeiramente ele
  • 45. 44 próprio‖ somente quando não é impulsionado, mas responsável. O ser humano propriamente dito começa onde deixa de ser impelido e cessa quando cessa de ser responsável. O ser humano propriamente dito manifesta-se onde não houver um id a impulsioná-lo, mas onde houver um eu que decide. (FRANKL, 2010, p. 21) Como já citamos anteriormente, o relacionamento com o Tu transcendente pode estar oculto, inconsciente; mas como se refere a uma possibilidade humana todo homem é instigado a relacionar-se com este Transcendente e poderá intensificar a sua relação com o mesmo, na medida em que o busca, e se dedica através da fé nesta experiência com Deus. A consciência é entendida como algo distinto de mim, considerada como a voz da Transcendência, pois é algo que não vem do próprio ser humano; tem caráter transcendente que nos leva a compreender o ser humano e sua personalidade num sentido mais profundo, e que diferencia de forma determinante dos demais animais. A pessoa humana através de sua consciência adquire um novo significado, uma instancia extra-humana, pela sua origem e seu vínculo transcendente. Esta instancia extra-humana deve no entanto ser de caráter pessoal, ontológico, leva a imagem fiel da pessoa. ―A consciência só pode ser entendida em seu sentido pleno quando a concebermos à luz de uma origem transcendente.‖ (FRANKL, 2010, p. 50.) A consciência não poderá ser compreendida em sua totalidade como ontológica do ser humano. Sobre a consciência Frankl ainda afirma: A consciência só será inteligível a partir de uma região extra-humana. Na verdade, em última instância, somente será compreensível se entendermos o ser humano na sua condição de criatura, para que possamos dizer: como senhor da minha vontade sou criador, como servo da minha consciência, porém, sou criatura. Em outras palavras, para explicar a condição humana de ser livre é suficiente basear-nos na sua existencialidade; porém, para explicar a condição humana de ser responsável, precisamos recorrer à transcendentalidade de ter consciência. (FRANKL, 2010, p. 50) Sendo a consciência a voz da Transcendência e por isso ela mesma é transcendente, o ser humano que se diz irreligioso ignora essa transcendência da consciência, não tenha que este não tem consciência e responsabilidade diante dela, porém não questiona pelo que é responsável nem de onde provém a sua consciência, não vai além; este aceita a consciência como facticidade psicológica, como meramente imanente. A pessoa religiosa assume o risco de perguntar além. A responsabilidade de ignorar esta presença transcendente da consciência é uma possibilidade básica da pessoa. Sobre isto Frankl (2010, p. 57) afirma.
  • 46. 45 Com efeito, justamente a pessoa religiosa deveria saber que a liberdade para tal decisão (ignorar a transcendência da consciência) é uma liberdade desejada e criada por Deus; a pessoa é a tal ponto livre, feita livre por seu Criador, que essa liberdade é uma liberdade até para o não, que vai tão longe que a criatura também pode se decidir contra seu próprio Criador, que pode inclusive renegar Deus. O ser humano é chamado a ser responsável e para ser responsável precisa ser para alguém, ou algo fora de si, pois para si próprio não pode responsabilizar-se, pois não se pode ter um imperativo categórico autônomo, pois ele só será válido exclusivamente pela transcendência e não pela imanência; se o id é impulsionado, o eu é fundamentalmente responsável, ou seja, para: [...] ser livre é pouco, ou nada, se não houver um ―para quê‖. Porém, ser responsável também não é tudo, se não soubermos perante que somos responsáveis. Por conseguinte, da mesma forma que não podemos derivar do ―querer‖ o ―dever‖, ―já que‖, recordando as belas palavras de Goehte, ― todo querer é apenas um querer, precisamente porque deveríamos fazê-lo‖, ou seja, todo ato da vontade pressupõe uma noção do que se deve fazer. (FRANKL, 2010, p. 54) De uma pessoa livre exige-se que faça escolhas, que se construa a si mesma através de suas escolhas, e para projetar-se precisa de um referencial seguro que lhe dê suporte necessário para se aperfeiçoar e continuar rumo a seu desenvolvimento e realização, por isso busca na sua consciência transcendente, e assume a vida e as situações com responsabilidade. Reconhecendo no homem a singularidade se compreende que é chamado a responder no decorrer de sua existência a significar a sua vida, e quanto mais livre e responsável mais realizado tende a se sentir. A consciência humana é onde o homem busca aparatos para relacionar-se de forma real e sadia, expressando seus sentimentos e afetos, e estes são importantes para a sobrevivência e uma vida humana com sentido, mais bem sabemos que existe uma formação de consciência errônea, se percebe isto frente ao indiferentismo implantados em nossa sociedade atual. Poderíamos afirmar, que há certa insensibilidade coletiva frente a princípios fundamentais da vida, as pessoas preferem não se colocar de forma a promover, incentivar sentimentos nobres próprios dos seres humanos, relações duradouras e bem estabelecidas, pois o comodismo e o individualismo torna em parte inerte qualquer motivação que necessite maior envolvimento, empreendimento pessoal, renúncias em prol de um valor que talvez não venha a trazer resultados imediatos, relações que se estabeleçam num dar um passo em direção ao outro por gratuidade,
  • 47. 46 na sinceridade, tudo isto vem gerando um vazio existencial presente no nosso dia a dia Frankl se refere a formação da consciência da seguinte maneira Numa época em que as tradições e os valores universais que elas encerram se vão esboroando, educar significa, portanto, no fundo e em última estância - e até diria, mais do que nunca - formar a consciência pessoal. E graças à minha consciência, à minha consciência atenta e bem formada, que eu me torno capaz de compreender o apelo ao sentido que cada situação me propõe; é graças a ela que me torno capaz de ouvir as questões que o dia-a-dia me formula, e é graças a ela que sou capaz de responder a essas questões empenhando a minha própria existência, assumindo uma responsabilidade (1998, p. 30-31) Percebemos que é fundamental o papel da consciência para que haja de fato uma resposta vigente e coerente quando se refere aos contra valores presentes em todas as épocas, e é frente a ela que podemos ser responsáveis diante dos nossos próprios valores. 2.3 Vazio existencial e a busca de sentido em Viktor Frank Quando se refere ao vazio existencial, Frankl compreendia isto como uma falta de sentido para a vida e que isto deixa no interior humano um profundo conflito. Esta sensação de vazio desde sua época era como ele detectava uma neurose coletiva, uma angustia por não conseguir perceber algo bom o suficiente para empregar toda a sua vida em prol desta causa, e sem dúvida esta é uma angústia de seu tempo e de todos os temos da história. O ser humano utiliza de diferentes disfarces frente à sociedade e frente a suas relações sobre as quais disfarça o vazio existencial e de repente frente a uma frustração, sofrimento ou perda de alguém querido se depara frente ao mundo no qual pode se perceber insignificante e se render a este sentimento de vazio existencial. Também pode perceber a sua singularidade imparcial, os seres humanos não são objetos que podem ser colocados todos dentro da mesma categoria, resultantes de impulsos e paixões. Freud afirmava que se um grupo de pessoas diferentes fossem colocadas frente a uma situação limite, todas as diferenças individuais ficariam, e em seu lugar