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O Deserto

                «Por isso, a atrairei, conduzi-la-ei ao deserto
                         e falar-lhe-ei ao coração»!
                                     (Oseias 2,16)
I. Simbologia do deserto:

        Na simbologia bíblica, o deserto é uma etapa no caminho para Deus que todos os
que são chamados à fé devem atravessar. Fê-lo Abraão, quando foi necessário atravessar
Harran para encontrar a terra Prometida. Analogamente, a história de Moisés inicia-se
no deserto, quando Deus se lhe revela na sarça ardente e aí, no silêncio do deserto, o
chama a libertar o seu povo. É também no deserto que Elias se refugia quando, por meio
da fuga, procura salvar a vida. Pela boca do profeta Oseias, Deus fala de Israel como
sua Bem-Amada, que por amor quer conduzir o deserto: «Por isso, a atrairei, conduzi-
la-ei ao deserto e falar-lhe-ei ao coração» (Oseias 2,16).
        Em resumo, temos que no Antigo Testamento o deserto aparece:
        * como lugar de desolação, de perigo, domínio das forças do mal
         (Dt.8,15;Nm.21,4-9)
        * como lugar das grandes teofanias de Deus: sarça ardente (Ex.3,1);
          entrega das Tábuas da Lei ; aparição a Elias (I Re.19,11-18)
        * lugar da proximidade de Deus (Os.9,10;2,16)
        O N.T. não altera este sentido do deserto. Para Jesus, o deserto revela-se como
lugar da prova, da tentação, da intimidade com Deus...

II. Espiritualidade do deserto:

      Podíamos resumi-la assim: o deserto realiza aquilo que pedia Santo Agostinho
quando orava: «Senhor faz que Te conheça a Ti e que me conheça a mim»!

       2.1. É Deus quem toma a iniciativa...

       Convirá antes de mais precisar que é sempre Deus que toma a iniciativa de
conduzir ao deserto. «Impelido pelo Espírito, Jesus foi ao deserto»; «conduzi-la-ei ao
deserto»; «do Egipto chamei o meu Filho»... Mas o deserto pode também ser uma
escolha da pessoa. Aí encontrarás o teu adversário, embora sobretudo venhas a
encontrar Deus. Como aconteceu com Jesus. Ao experimentar o deserto, Jesus está a
dizer-nos que nenhum de nós aí está só. Uma só coisa é certa: uma vez entrado no
deserto serás modificado. Seguro é também que um dia nele terás de entrar...

       2.2.O deserto: um percurso e não uma pátria...

        Esta situação de deserto é uma situação transitória. Não é ponto de chegada, mas
de passagem. Não é opção de vida nem termo de um caminho. O deserto não é uma
pátria, mas somente um percurso, um caminho que conduz ao conhecimento do amor
misericordioso de Deus e onde se realiza a formação do homem. Deus revela-se no
isolamento do deserto, mas essa revelação é em ordem à missão no meio do mundo.
Portanto o deserto não é uma fuga, local de paragem, mas uma travessia, lugar de
passagem...
2.3. Um percurso crescente, progressivo, gradual...

       O deserto, enquanto lugar geográfico e enquanto símbolo de uma situação, não
deve necessariamente aparecer de repente em toda a sua amplitude ou em toda a sua
forma. O deserto geográfico aparece gradualmente, como gradualmente ele aparecerá na
nossa vida, com o crescendo de dificuldades, de vazio, de isolamento, de desconsolo...

       2.4. Deserto: tempo e lugar da provação

         O deserto é local de prova onde se radicalizam atitudes.
        Veja-se a história de 4 estudantes amigos líbios que planeiam uma viagem ao
deserto; perdem-se na direcção querida; sentem o frio à noite e o calor durante o dia;
vivem em tensão crescente; falta a água; um deles nervoso parte a almotolia; culpam-se
e defendem-se; agridem-se e no fim um está já morto... um crime entre amigos que
ainda há pouco se julgavam unidos até à morte!
        O deserto expõe o homem; criva-o; testa-o; aí o homem encontra-se face a face
com aquilo que é; descobre-se na sua verdade; mede as suas forças e reconhece a sua
dependência total...em relação a Deus. A experiência do desânimo, da obscuridade, da
tentação proporciona maior consciência da impotência. Nas situações difíceis dissipam-
se as ilusões e o homem mostra o que vale...são situações que obrigam o homem a
definir-se.
        O deserto é um lugar privilegiado para Satanás, já que ali o homem está em
estado de fraqueza e sucumbe mais facilmente às tentações. O deserto acentua as
possibilidades de revolta. Ninguém passa indiferente pelo deserto.

       2.5. O Deserto: Um dom para o homem crescer...e se definir!

        Mas o deserto é um dom. Permite-te venceres a tibieza, porque te obriga a
fazeres opções. E permitindo-te ver como não és nada, faz-te voltar para Deus. Até aí, tu
vives como se Deus não existisse, numa espécie de ateísmo prático. «Conheço as tuas
obras e sei que não és frio nem és quente. Oxalá fosses frio ou quente. Mas como és
morno e não és frio nem quente vou vomitar-te da minha boca» (Apoc.3,15-16). A
tibieza é insuportável para Deus. A situação de deserto polariza as nossas atitudes, faz
com que o homem não possa permanecer na tibieza, mas que se defina. Veja-se na
Bíblia: para uns o deserto santificou (Moisés), para outros revelou a sua idolatria. Deus
conduz ao deserto para que o homem se torne crente ou blasfemo. Ou a fé ou a
blasfémia. Nunca a tibieza. No deserto realiza-se a formação do homem, segundo o
princípio de que somente o que é difícil e oferece resistência, forma o homem. Torga
dizia: «é no sofrimento que se testa o quilate da nossa dimensão» (Diário XVI).

       2.6. O deserto é experiência e lugar do despojamento...

        O povo passou pelo deserto quarenta anos quando o podia ter feito em duas ou
três semanas (400 Km). Deus quis levar o seu povo a desistir da sua presunção de auto-
suficiência, a submeter-se a uma vida dura; a submeter-se a um processo de
despojamento que resulta ser indispensável no caminho da fé e do total abandono a
Deus. O homem é confrontado com a vastíssima dimensão do céu, da terra e da areia,
mas também é confrontado consigo próprio. As dificuldades físicas fazem vir à tona
tudo o que no homem normalmente parecia oculto em zonas mais profundas. O deserto
é o local e o tempo propícios à libertação dos apegos e dos próprios esquemas de
segurança. O homem que caminha no deserto nada tem. Falta-lhe tudo. Só em Deus e de
Deus pode esperar...

       2.8.O tempo e o lugar onde nasce a fé...

         No deserto o povo tinha o maná, mas todos os dias tinha de acreditar...de
esperar, de confiar que no dia seguinte nada lhe faltaria. O deserto é, portanto, o lugar
onde nasce a fé e esta aprofunda-se na medida do nosso despojamento. Deus pode
invadir mais o homem se o seu despojamento for crescente, se ele desejar
progressivamente responder ao apelo do Senhor e abrir-se a esse amor que sente.
Quanto mais o homem se despoja, mais Deus exige.
«Para uma alma chegar à transformação sobrenatural de tudo se há-de esvaziar; de
maneira que ainda que mais coisas sobrenaturais vá tendo, sempre se há-de ficar como
que desnudado delas e caminhar às escuras como o cego, agarrado à fé e tomando-a
como luz e guia. Não deve caminhar agarrado às coisas que entende e gosta e sente e
imagina»... «quanto mais alto subia, mais se me deslumbrava a vista e mais forte
conquista no escuro se fazia». (Subida ao Monte Carmelo, II, IV). S. João da Cruz diz:
«amar a Deus é, por Ele, despojar-se de tudo aquilo que não é Deus» (Ibidem, II,5.7).

       2.9. Lugar e experiência onde Deus se revela:

        O despojamento a que o homem é submetido no deserto permite-lhe não só
conhecer a verdade acerca de si próprio, mas também a verdade acerca de Deus que é
Amor. Deus, com feito, responde com amor e com paternal solicitude ao pecado e á
fraqueza do Homem. Ao povo que se revolta e peca, Deus responde com o milagre do
manã e da água de que tanto careciam nesse momento. O povo eleito era conduzido por
Deus. Deus era visível e, ao mesmo tempo, mantinha-se velado por trás da nuvem e do
fogo. O deserto revela ao homem a verdadeira identidade de Deus, o «Totalmente
Outro» (que se nos escapa) e o «Emanuel» que está connosco. É no claro-escuro da fé
que o homem caminha na descoberta de Deus. No deserto Deus se revela como alguém
que guia, conduz, sustenta e chama. Aí o homem descobre a radicalidade da sua entrega
que se lhe exige, a confiança total nAquele que guia o seu Povo. Na sua fragilidade, o
homem atira-se para Deus, sabendo-se uma «pequenez amada por Deus». Foi na sua
fragilidade que o povo eleito descobriu o verdadeiro mistério de Deus. Se experimentas
a fraqueza própria, significa que Deus te chama a lançares-te nos braços da sua
misericórdia.

       2.10. Maria no caminho do deserto (Apoc.12,6)!

        No deserto da tua vida encontrarás sempre a Virgem Maria. Também ela, figura
da Igreja na sua luta, «fugiu para o deserto, onde tinha um lugar preparado por
Deus,para ali ser alimentada» (Apoc.12,6).Ela estará junto de ti, olhando-te com maternal
solicitude. Aquela que é medianeira de todas as graças, medianeira da misericórdia,
intercederá pôr Ti e esperará com emoção que tu, a seu exemplo, pronuncies o teu
próprio «fiat», que também tu digas o teu «sim» e que vejas a Deus em todas as
situações que vives. O povo eleito não tinha a Virgem Maria. Mas tu tens e, por isso,
não caminharás só. Ela que viveu tantos momentos difíceis caminhará à tua frente, será
a tua luz e mostrar-te-á o caminho para o seu Filho. Os períodos de escuridão do teu
deserto serão iluminados pela sua presença.
Bibliografia: FRANCISCO PÉREZ SANCHEZ, EL desierto, lugar de encuentro, in Vida Nueva,
Pliego (18.03.1995); TADEUSZ DAJCZER, Meditações sobre a fé,Ed.Paulinas 1995

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O deserto

  • 1. O Deserto «Por isso, a atrairei, conduzi-la-ei ao deserto e falar-lhe-ei ao coração»! (Oseias 2,16) I. Simbologia do deserto: Na simbologia bíblica, o deserto é uma etapa no caminho para Deus que todos os que são chamados à fé devem atravessar. Fê-lo Abraão, quando foi necessário atravessar Harran para encontrar a terra Prometida. Analogamente, a história de Moisés inicia-se no deserto, quando Deus se lhe revela na sarça ardente e aí, no silêncio do deserto, o chama a libertar o seu povo. É também no deserto que Elias se refugia quando, por meio da fuga, procura salvar a vida. Pela boca do profeta Oseias, Deus fala de Israel como sua Bem-Amada, que por amor quer conduzir o deserto: «Por isso, a atrairei, conduzi- la-ei ao deserto e falar-lhe-ei ao coração» (Oseias 2,16). Em resumo, temos que no Antigo Testamento o deserto aparece: * como lugar de desolação, de perigo, domínio das forças do mal (Dt.8,15;Nm.21,4-9) * como lugar das grandes teofanias de Deus: sarça ardente (Ex.3,1); entrega das Tábuas da Lei ; aparição a Elias (I Re.19,11-18) * lugar da proximidade de Deus (Os.9,10;2,16) O N.T. não altera este sentido do deserto. Para Jesus, o deserto revela-se como lugar da prova, da tentação, da intimidade com Deus... II. Espiritualidade do deserto: Podíamos resumi-la assim: o deserto realiza aquilo que pedia Santo Agostinho quando orava: «Senhor faz que Te conheça a Ti e que me conheça a mim»! 2.1. É Deus quem toma a iniciativa... Convirá antes de mais precisar que é sempre Deus que toma a iniciativa de conduzir ao deserto. «Impelido pelo Espírito, Jesus foi ao deserto»; «conduzi-la-ei ao deserto»; «do Egipto chamei o meu Filho»... Mas o deserto pode também ser uma escolha da pessoa. Aí encontrarás o teu adversário, embora sobretudo venhas a encontrar Deus. Como aconteceu com Jesus. Ao experimentar o deserto, Jesus está a dizer-nos que nenhum de nós aí está só. Uma só coisa é certa: uma vez entrado no deserto serás modificado. Seguro é também que um dia nele terás de entrar... 2.2.O deserto: um percurso e não uma pátria... Esta situação de deserto é uma situação transitória. Não é ponto de chegada, mas de passagem. Não é opção de vida nem termo de um caminho. O deserto não é uma pátria, mas somente um percurso, um caminho que conduz ao conhecimento do amor misericordioso de Deus e onde se realiza a formação do homem. Deus revela-se no isolamento do deserto, mas essa revelação é em ordem à missão no meio do mundo. Portanto o deserto não é uma fuga, local de paragem, mas uma travessia, lugar de passagem...
  • 2. 2.3. Um percurso crescente, progressivo, gradual... O deserto, enquanto lugar geográfico e enquanto símbolo de uma situação, não deve necessariamente aparecer de repente em toda a sua amplitude ou em toda a sua forma. O deserto geográfico aparece gradualmente, como gradualmente ele aparecerá na nossa vida, com o crescendo de dificuldades, de vazio, de isolamento, de desconsolo... 2.4. Deserto: tempo e lugar da provação O deserto é local de prova onde se radicalizam atitudes. Veja-se a história de 4 estudantes amigos líbios que planeiam uma viagem ao deserto; perdem-se na direcção querida; sentem o frio à noite e o calor durante o dia; vivem em tensão crescente; falta a água; um deles nervoso parte a almotolia; culpam-se e defendem-se; agridem-se e no fim um está já morto... um crime entre amigos que ainda há pouco se julgavam unidos até à morte! O deserto expõe o homem; criva-o; testa-o; aí o homem encontra-se face a face com aquilo que é; descobre-se na sua verdade; mede as suas forças e reconhece a sua dependência total...em relação a Deus. A experiência do desânimo, da obscuridade, da tentação proporciona maior consciência da impotência. Nas situações difíceis dissipam- se as ilusões e o homem mostra o que vale...são situações que obrigam o homem a definir-se. O deserto é um lugar privilegiado para Satanás, já que ali o homem está em estado de fraqueza e sucumbe mais facilmente às tentações. O deserto acentua as possibilidades de revolta. Ninguém passa indiferente pelo deserto. 2.5. O Deserto: Um dom para o homem crescer...e se definir! Mas o deserto é um dom. Permite-te venceres a tibieza, porque te obriga a fazeres opções. E permitindo-te ver como não és nada, faz-te voltar para Deus. Até aí, tu vives como se Deus não existisse, numa espécie de ateísmo prático. «Conheço as tuas obras e sei que não és frio nem és quente. Oxalá fosses frio ou quente. Mas como és morno e não és frio nem quente vou vomitar-te da minha boca» (Apoc.3,15-16). A tibieza é insuportável para Deus. A situação de deserto polariza as nossas atitudes, faz com que o homem não possa permanecer na tibieza, mas que se defina. Veja-se na Bíblia: para uns o deserto santificou (Moisés), para outros revelou a sua idolatria. Deus conduz ao deserto para que o homem se torne crente ou blasfemo. Ou a fé ou a blasfémia. Nunca a tibieza. No deserto realiza-se a formação do homem, segundo o princípio de que somente o que é difícil e oferece resistência, forma o homem. Torga dizia: «é no sofrimento que se testa o quilate da nossa dimensão» (Diário XVI). 2.6. O deserto é experiência e lugar do despojamento... O povo passou pelo deserto quarenta anos quando o podia ter feito em duas ou três semanas (400 Km). Deus quis levar o seu povo a desistir da sua presunção de auto- suficiência, a submeter-se a uma vida dura; a submeter-se a um processo de despojamento que resulta ser indispensável no caminho da fé e do total abandono a Deus. O homem é confrontado com a vastíssima dimensão do céu, da terra e da areia, mas também é confrontado consigo próprio. As dificuldades físicas fazem vir à tona tudo o que no homem normalmente parecia oculto em zonas mais profundas. O deserto é o local e o tempo propícios à libertação dos apegos e dos próprios esquemas de
  • 3. segurança. O homem que caminha no deserto nada tem. Falta-lhe tudo. Só em Deus e de Deus pode esperar... 2.8.O tempo e o lugar onde nasce a fé... No deserto o povo tinha o maná, mas todos os dias tinha de acreditar...de esperar, de confiar que no dia seguinte nada lhe faltaria. O deserto é, portanto, o lugar onde nasce a fé e esta aprofunda-se na medida do nosso despojamento. Deus pode invadir mais o homem se o seu despojamento for crescente, se ele desejar progressivamente responder ao apelo do Senhor e abrir-se a esse amor que sente. Quanto mais o homem se despoja, mais Deus exige. «Para uma alma chegar à transformação sobrenatural de tudo se há-de esvaziar; de maneira que ainda que mais coisas sobrenaturais vá tendo, sempre se há-de ficar como que desnudado delas e caminhar às escuras como o cego, agarrado à fé e tomando-a como luz e guia. Não deve caminhar agarrado às coisas que entende e gosta e sente e imagina»... «quanto mais alto subia, mais se me deslumbrava a vista e mais forte conquista no escuro se fazia». (Subida ao Monte Carmelo, II, IV). S. João da Cruz diz: «amar a Deus é, por Ele, despojar-se de tudo aquilo que não é Deus» (Ibidem, II,5.7). 2.9. Lugar e experiência onde Deus se revela: O despojamento a que o homem é submetido no deserto permite-lhe não só conhecer a verdade acerca de si próprio, mas também a verdade acerca de Deus que é Amor. Deus, com feito, responde com amor e com paternal solicitude ao pecado e á fraqueza do Homem. Ao povo que se revolta e peca, Deus responde com o milagre do manã e da água de que tanto careciam nesse momento. O povo eleito era conduzido por Deus. Deus era visível e, ao mesmo tempo, mantinha-se velado por trás da nuvem e do fogo. O deserto revela ao homem a verdadeira identidade de Deus, o «Totalmente Outro» (que se nos escapa) e o «Emanuel» que está connosco. É no claro-escuro da fé que o homem caminha na descoberta de Deus. No deserto Deus se revela como alguém que guia, conduz, sustenta e chama. Aí o homem descobre a radicalidade da sua entrega que se lhe exige, a confiança total nAquele que guia o seu Povo. Na sua fragilidade, o homem atira-se para Deus, sabendo-se uma «pequenez amada por Deus». Foi na sua fragilidade que o povo eleito descobriu o verdadeiro mistério de Deus. Se experimentas a fraqueza própria, significa que Deus te chama a lançares-te nos braços da sua misericórdia. 2.10. Maria no caminho do deserto (Apoc.12,6)! No deserto da tua vida encontrarás sempre a Virgem Maria. Também ela, figura da Igreja na sua luta, «fugiu para o deserto, onde tinha um lugar preparado por Deus,para ali ser alimentada» (Apoc.12,6).Ela estará junto de ti, olhando-te com maternal solicitude. Aquela que é medianeira de todas as graças, medianeira da misericórdia, intercederá pôr Ti e esperará com emoção que tu, a seu exemplo, pronuncies o teu próprio «fiat», que também tu digas o teu «sim» e que vejas a Deus em todas as situações que vives. O povo eleito não tinha a Virgem Maria. Mas tu tens e, por isso, não caminharás só. Ela que viveu tantos momentos difíceis caminhará à tua frente, será a tua luz e mostrar-te-á o caminho para o seu Filho. Os períodos de escuridão do teu deserto serão iluminados pela sua presença.
  • 4. Bibliografia: FRANCISCO PÉREZ SANCHEZ, EL desierto, lugar de encuentro, in Vida Nueva, Pliego (18.03.1995); TADEUSZ DAJCZER, Meditações sobre a fé,Ed.Paulinas 1995