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UNIVERSIDADE PAULISTA - UNIP
Projeto Cooperação
Fernando Gouveia de Holanda
Guilherme Hiroshi Atsumi
Maria Clara de Oliveira Paula Batista
Rosângela Alves Gomes
ENTRE O SONHO E A REALIDADE: A PEDAGOGIA DA COOPERAÇÃO COMO
AUXILIAR NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE UMA GESTÃO
PARTICIPATIVA NA COOPERATIVA MIRIM - UNICOOP (COOPERATIVA MIRIM
UNIÃO E COOPERAÇÃO) DA CIDADE DE MENDES - RJ
RIO DE JANEIRO
2019
2
Fernando Gouveia de Holanda
Guilherme Hiroshi Atsumi
Maria Clara de Oliveira Paula Batista
Rosângela Alves Gomes
ENTRE O SONHO E A REALIDADE: A PEDAGOGIA DA COOPERAÇÃO COMO
AUXILIAR NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE UMA GESTÃO
PARTICIPATIVA NA COOPERATIVA MIRIM - UNICOOP (COOPERATIVA MIRIM
UNIÃO E COOPERAÇÃO) DA CIDADE DE MENDES - RJ
Trabalho de conclusão de curso para
obtenção do título de Pós Graduação em
Pedagogia da Cooperação &
Metodologias Colaborativas apresentado
à Universidade Paulista – UNIP.
Orientador: Prof. Cambises Alves
Briskcty
RIO DE JANEIRO - RJ
2019
3
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Dinâmica da Espiral 17
Figura 2 – Confecção de crachás 59
Figura 3 – Partilha 61
Figura 4 – Com-Trato 63
Figura 5 – Filme EggHunt 66
Figura 6 – Inquietações 71
Figura 7 – Partilha Inquietações 72
Figura 8 – Atividade Casa, Inquilino e Mudança 74
Figura 9 – Exercício de Respiração 76
Figura 10 – World Cafe 77
Figura 11 – Com-Trato revisado 80
Figura 12 – Trilha da Cooperação 81
Figura 13 – Preparação dos projetos 83
Figura 14 – Construção do bastão da fala 84
Figura 15 – Bastão da fala 85
Figura 16 – Cartaz de apresentação 86
Figura 17 – Personagem Jonny 87
Figura 18 – Cartaz simulando a rede Facebook 88
Figura 19 – Cartaz de divulgação 89
Figura 20 – Roteiro Filmagem 91
Figura 21 – Confecção de cartaz 92
Figura 22 – Cartaz do bazar 93
Figura 23 – Confecção de cartaz 94
4
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Jogos Competitivos e Jogos Cooperativos 33
Tabela 2 – Programação dos Encontros 56
Tabela 3 – Avaliações das atividades pelos alunos 81
Tabela 4 – Perguntas do questionário 95
Tabela 5 – Respostas do questionário DIVER 95
Tabela 6 – Indicadores DIVER 96
5
SUMÁRIO
2 REFERENCIAL TEÓRICO 9
2.1 PEDAGOGIA DA COOPERAÇÃO 9
2.1.1 O Propósito da Pedagogia da Cooperação 12
2.1.2 Os Princípios da Pedagogia da Cooperação 13
2.1.3 Os Procedimentos 25
2.1.4 Os Processos 26
2.1.5 As Práticas 27
2.2 METODOLOGIAS COLABORATIVAS UTILIZADAS NA PESQUISA 31
2.2.1 Jogos Cooperativos 31
2.2.2 Danças Circulares 35
2.2.3 World Café 37
2.3 COOPERATIVISMO - O que é, sua história, valores e princípios 39
2.4 COOPERATIVISMO ESCOLAR 46
3 METODOLOGIA DE PESQUISA 53
3.1 CONTEXTUALIZAÇÃO 53
3.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 56
4 APLICAÇÃO DA PESQUISA 57
4.1 PRIMEIRO DIA 58
4.2 SEGUNDO DIA 64
4.3 TERCEIRO DIA 78
5 CONCLUSÕES 98
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 101
APÊNDICE A - Cronograma de atividades 104
APÊNDICE B – Samba da Cooperação 109
6
1 INTRODUÇÃO
Vivemos em um momento de grandes questionamentos sobre nosso modo de
viver e se organizar enquanto sociedade. Somos constantemente inundados por
notícias de violência, pobreza, ataque aos diretos humanos. Aspectos como a
empatia, compaixão e respeito são características pouco valorizadas pela sociedade
atual, gerando um distanciamento da essência de nós mesmos. Estamos em crise
moral, com valores defendidos e praticados que exaltam a segregação e a separação,
a violência e a competição. Não somos ensinados a lidar com aspectos emocionais,
como compartilhar inquietações e a falar sobre questões que nos incomodam.
No entanto, comumente, em momentos de crise, de caos, é que nos
reorganizamos e criamos o novo. Desta forma, hoje, a cooperação já começa a ser
percebida como uma nova forma de se relacionar, de oportunizar momentos de
conexão com o outro, de gerar confiança e nos reaproximarmos do que nos torna
humanos. Criamos estruturas mais cooperativas para nos relacionar e este olhar para
o coletivo e para o novo vêm transformando paradigmas e relações.
Neste contexto que clama por mudanças, a Pedagogia da Cooperação surge
como abordagem e é um convite para o fazer juntos, para o criar em grupo a partir
de um novo olhar.
Com o intuito de aumentar a conscientização através de novas práticas
cooperativas, nos propusemos a aplicar a Pedagogia da Cooperação em crianças e
adolescentes como forma de oferecer uma perspectiva alternativa à realidade
competitiva do mundo, para que possam crescer e ser orientadas por parâmetros
sociais como inclusão e respeito à diversidade.
Grandes ações iniciam com um simples sonho. Temos vários exemplos na
história para ilustrar isso. A abordagem da Pedagogia da Cooperação nos desafia a
descobrir caminhos diferentes para aprender junto, para conviver em harmonia,
tecendo sonhos Como-Uns. (¹)
(¹) A divisão das palavras é um recurso utilizado com o objetivo de chamar atenção para uma resignifica-ação de
sentido/significado da acomoda-ação gerada pela repete-ação sem a plena atenção dada à palavra-ação. Durante o texto, essa
provoca-ação será recorrente.
7
O problema impulsionador desta investigação foi a necessidade de buscar
compreender como a Pedagogia da Cooperação pode promover ações e relações
educativas, capazes de contribuir com a gestão de um projeto inovador que
envolvesse crianças e jovens.
Imbuídos deste espírito é que um grupo de quatro estudantes da Pós
Graduação em Pedagogia da Cooperação foi até o município de Mendes, uma cidade
no interior do estado do Rio de Janeiro com quase 20 mil habitantes, onde foi criada,
com apoio do Instituto SICOOB, da Cooperativa de Crédito de Mendes e da Prefeitura
local, a primeira Cooperativa Escolar do Estado, na Escola Municipalizada Prefeito
João Gurito, pesquisar a aplicação da Pedagogia da Cooperação nas crianças que
compõem o Grupo Gestor da Cooperativa Mirim União e Cooperação (UNICOOP).
Será que a Pedagogia da Cooperação pode auxiliar a equipe gestora a
promover uma gestão mais democrática, participativa e cooperativa? Como essa
abordagem pode proporcionar reflexões para atitudes mais cooperativas? Essas
foram questões que impulsionaram nossa pesquisa.
Através de um roteiro com práticas e vivências, elaboramos e aplicamos em 20
horas presenciais uma Trilha da Cooperação para provocar autoconhecimento, ativar
o sentimento de grupo, de pertencimento, de abertura e acolhimento das diferenças e
necessidades de cada um, para, enfim, desafiá-los na criação de projetos de
cooperação. Buscamos também pesquisar como a vivência desta abordagem pode
ampliar o entendimento da cooperação nas crianças e se esse entendimento é capaz
de gerar mudanças.
Para tanto, elencamos alguns referenciais teóricos que são abordados no
segundo capítulo onde são apresentados e discutidos: o Propósito, os Princípios, os
Procedimentos e as Práticas da Pedagogia da Cooperação e as principais
metodologias cooperativas utilizadas no percurso. Faz-se também uma explanação
sobre o Cooperativismo enquanto alternativa de organização e ação econômica, que
tem princípios e valores próprios bem delineados para, finalmente, apontar o
Cooperativismo Escolar como uma modalidade da Educação Básica e como um
projeto do Cooperativismo que tem no Instituto SICOOB seu principal apoiador
visando fomentar em crianças e jovens a cultura da cooperação. Em seguida, no
terceiro capítulo, é apresentada a metodologia da pesquisa, a contextualização do
problema e os objetivos. No quarto capítulo é descrita a pesquisa em si, seu
8
planejamento, a aplicação, o que foi observado pelos pesquisadores e as reflexões
suscitadas. Por fim, a conclusão apresenta as principais considerações dos
pesquisadores e o fechamento do estudo, com a sugestão de novas pesquisas.
Este estudo é, e continuará sendo, um desafio do nosso grupo, assumido com
muito entusiasmo e espírito cooperativo. Mas, também, um convite! É um convite para
apoiar iniciativas como essa que de forma colaborativa, através da Pedagogia da
Cooperação, busquem seus sonhos.
9
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 PEDAGOGIA DA COOPERAÇÃO
Para falar sobre Pedagogia da Cooperação, precisamos compreendê-la não
apenas como uma filosofia ou um conjunto de métodos e técnicas, mas como uma
abordagem, no sentido próprio da palavra que, segundo o dicionário é:
“o termo utilizado para caracterizar um tipo de aproximação, seja entre
pessoas ou coisas. No sentido figurado da palavra, abordagem
também pode se referir ao comportamento, ou seja, o modo como esta
pessoa compreende e lida com as coisas à sua volta.”
(https://www.significados.com.br/abordagem/)
Fica então compreendido que a Pedagogia da Cooperação pressupõe um olhar
investigativo e apreciativo para o mundo, uma escolha muito peculiar de interagir
conscientemente com e no mundo tendo como base a cooperação.
Se analisarmos o mundo em que vivemos, tão cheio de desafios que afetam a
vida do planeta como um todo: o aquecimento global, a extinção de espécies, a
escassez de recursos minerais, as catástrofes ambientais, as doenças consideradas
erradicadas voltando a nos ameaçar, a concentração de poder e de riquezas na mão
de poucos e o estado de pobreza ou miséria ameaçando a muitos enquanto,
paradoxalmente, desperdício de 1,3 bilhões de toneladas por ano de alimentos, a
globalização, as disputas por poder, as guerras etc., veremos que existe um processo
histórico que produziu este estado de coisas e que, por si só, não está dando conta
de produzir as soluções necessárias. No entanto, nunca se viu um avanço científico e
tecnológico tão grande e veloz como em tempos atuais.
Ao olhar de forma investigativa e apreciativa a vida, tendo em vista a produção
de conhecimento construído até o momento, é de se supor que nós, seres humanos,
deixamos de fazer as perguntas certas, acostumados e influenciados pelas respostas
já encontradas. Precisamos fazer novas perguntas, aumentar nossa curiosidade,
formular novas questões a partir das respostas atuais. E a pergunta certa deve ser
uma pergunta aberta, abrangente, ligada ao propósito da vida. Não apenas o meu ou
10
o seu propósito, mas o da própria vida planetária que é uma grande experimentação
divina. E a vida é abundância e generosidade!
Ter um olhar investigativo e apreciativo é se concentrar em fazer a pergunta
que aposte na possibilidade de colocar luz no todo, mas direcionando o foco naquilo
que é valoroso não apenas para um indivíduo ou grupo ou para uma organização,
comunidade ou para a humanidade, mas para o planeta, numa visão sistêmica e
transdisciplinar onde as fronteiras das disciplinas são rompidas e os fenômenos da
natureza humana e o próprio homem são compreendidos em sua totalidade (Ser,
Conhecer, Fazer, Viver Junto e Aprender), como bem nos explicita a Carta da
Transdisciplinaridade, produzida no I Congresso Mundial de Transdisciplinaridade,
realizado em Arrábida, Portugal, em 1984:
Artigo 3: “(…) A Transdisciplinaridade não procura a dominação de
várias disciplinas, mas a abertura de todas as disciplinas ao que as
atravessa e as ultrapassa.”
Artigo 7: A transdisciplinaridade não constitui nem uma nova religião,
nem uma nova filosofia, nem uma nova metafísica, nem uma ciência
das ciências.”
O que temos visto em relação a toda sorte de problemas pelos quais o planeta
sofre é que a maioria das pessoas (pessoas comuns) recebem propostas de soluções
vindas do macro, criadas por especialistas que colocam o foco em uma parte do
problema desconsiderando as interligações com a complexidade da vida. Não olham
a situação buscando descobrir o que dela abunda. Ou seja, descobrindo as soluções
que ali estão, prontas para serem reconhecidas, apreciadas e abraçadas.
É fundamental pensarmos em soluções de forma colaborativa onde todos se
sintam contemplados, buscando ouvir as pessoas que estão diretamente ligadas aos
problemas e construir juntos as soluções. Diante disso, assistimos diariamente em
diversos segmentos de inovação, a criação de espaços que promovem as soluções
compartilhadas, trazendo a sociedade para ajudar a solucionar problemas de todos
como Hackathon, Fábricas de Startups e diversas outras iniciativas.
Há muita gente competente e comprometida, além de diversas iniciativas
altamente colaborativas em todos os segmentos sociais, todos caminhando nesta
direção. Mas o caminho é longo, vivemos um momento de muitas transformações, em
11
que estamos nos perguntando: “Como ser humano na era tecnológica?”. Sabemos
que o aprendizado faz parte de um processo que se faz ao caminhar.
É onde entra a importância da Pedagogia da Cooperação como peça
fundamental na produção de mudanças. Pedagogia, porque prescinde de um ato
educativo no sentido amplo da palavra. Uma educação que não se restringe à
educação formal, acadêmica, onde trabalhamos para viabilizar a formação completa
do ser humano em todas as suas dimensões.
A VIDA é a matéria-prima da Pedagogia da Cooperação. Por isso, não está
restrita ao ambiente escolar. Neste sentido, a educação é vista de forma ampla. É
seara de todos nós, seres humanos que interagimos, independente do papel social
que exerçamos. Diz, portanto, respeito a cada pessoa, grupo, organização e
comunidade. Desta forma, educa-se pelo gesto, pelo olhar, pela atitude. Educa-se
pela fala, pelo silêncio, pelo exemplo, enfim, como nos alerta o mestre Paulo Freire:
“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre
si, mediatizados pelo mundo”.
A Pedagogia da Cooperação, por encarar a vida em toda a sua complexidade,
é contínua, dialética e transcende os muros da escola.
Somos educados por diferentes agentes desde o momento que nascemos até
o momento da partida. O mais velho educa os mais novos e por ele é educado. A
criança e o jovem exercem papel fundamental na vida de outras crianças e jovens e
isso também é educação! E qual adulto já não se viu numa situação de ter que rever
sua prática, seus valores, após uma ingênua pergunta de uma criança ou um
questionamento de um jovem quando se depara com as incoerências do mundo?
O momento em que vivemos mundialmente é um momento de transformações
profundas e que por isso, todos que se percebem educadores precisam abrir-se para
o diálogo, para a troca de experiências e informações.
Brotto (2018) traz como referência para um processo de abertura as 4
Pequenas Virtudes: Desapego, Integridade, Plena Atenção e Abertura para
Compartilhar, aspectos essenciais para que a Pedagogia da Cooperação possa
florescer.
Como vislumbrar um modo de vida mais justo e feliz para todos os seres da
Terra se não percebermos que cidadania e educação são faces da mesma moeda?
Esse pensar, nos remete ao conceito tão trabalho por Gadotti (2006), de cidade
12
educadora que a Prefeitura de Mendes, mesmo de forma embrionária, busca
desenvolver ao implementar o Projeto de Cooperativas Escolares:
(…) “a cidade pode ser “intencionalmente” educadora. Uma cidade
pode ser considerada como uma cidade que educa, quando, além de
suas funções tradicionais econômica, social, política e de prestação
de serviços – ela exerce uma nova função cujo objetivo é a formação
para e pela cidadania. Para uma cidade ser considerada educadora
ela precisa promover e desenvolver o protagonismo de todos e de
todas – crianças, jovens, adultos, idosos – na busca de um novo
direito, o direito à cidade educadora”.
A Pedagogia da Cooperação é provocação de quebra de paradigmas que tem
um propósito bem definido. Deste propósito emergem princípios, procedimentos,
processos e práticas.
2.1.1 O Propósito da Pedagogia da Cooperação
A Pedagogia da Cooperação tem um propósito: “criar ambientes colaborativos
onde cada pessoa, grupo, organização e comunidade possa VenSer plenamente
quem É para poder SerVir mais completamente ao bem comum.” (BROTTO, 2018).
Para isso, é necessário despojar-se das personas assumidas, tirar do caminho as
“bagagens” acumuladas (títulos, posições, bens etc) para descobrir o verdadeiro eu.
Esse verdadeiro Eu deve ser colocado à disposição do coletivo. Ao mesmo tempo, é
necessário abrir-se para o desconhecido, deixá-lo ser quem realmente é e descobrir
o que juntos podemos ser e fazer melhor. Focar no que temos em comum e não nas
diferenças/ divergências nos aproximará das outras pessoas, outros grupos, outras
nações.
Partindo da premissa de que o propósito maior de todo Eu é a busca da
felicidade, podemos dizer que essa busca pode conectar toda a humanidade. E aí
residirá o verdadeiro sentido de globalização.
Se eu descubro quem realmente sou e tu descobres quem realmente és, e nos
encontramos verdadeiramente, perceberemos que a minha felicidade só será
completa se a tua felicidade for alcançada. Juntos poderemos ser mais e melhor.
13
Juntos poderemos tecer uma teia humanitária baseada no propósito da Pedagogia da
Cooperação que tem princípios, procedimentos, práticas e processos norteadores e
facilitadores desta jornada, e que emergem de quatro campos, quatro tônicas da vida
humana: a ciência, a arte, a tradição e o jogo.
Se compreendermos ciência como todo o conhecimento construído
historicamente pela humanidade a fim de melhor compreender o mundo e, portanto,
mutável, refutável, constantemente em processo; como arte, toda materialização e
manifestação estética de como este mundo vai sendo sentido, interpretado,
significado e ressignificado; como tradição, nossa ancestralidade, nossas heranças,
inclusive cósmicas, os arquétipos presentes no inconsciente coletivo das pessoas em
todo o mundo, representando os motivos (propósitos) fundamentais de nossa
experiência humana e como jogo, as interações, as conectividades, perceberemos o
quanto a Pedagogia da Cooperação tem um carater UM-niversal. transdisciplinar e,
portanto, está humildemente compromissada com o desvelamento de preconceitos e
contradições.
2.1.2 Os Princípios da Pedagogia da Cooperação
Os princípios da Pedagogia da Cooperação, juntamente com seus
procedimentos, revelam os pilares sobre os quais ela se apoia. São princípios da
Pedagogia da Cooperação: o princípio da Com-Vivência, princípio da Comum-
Unidade, princípio da Cooperação e o princípio da Coexistência.
a) Princípio da Com-Vivência
Diz respeito ao acolhimento e à inclusão das diferentes ideias, sentimentos,
visões, sensações, atitudes, comportamentos, valores e relações como matéria-prima
primordial para a descoberta do genuíno eu e para a criação de estratégias conjuntas
para dar conta da complexidade da vida,
Busca compreender como a convivência se estabelece diferenciando-a em três
níveis relacionais essenciais e complementares: a conversação, que é o diálogo
estabelecido entre pessoas (é bilateral); a convivência vista como o produto dessa
relação bilateral, gerando uma terceira pessoa (o nós) e, por fim, a construção que
amplia em infinitas possibilidades aquilo que podemos realizar juntos.
14
Enquanto a conversação conecta as pessoas, gera empatia e abertura para o
reconhecimento do outro e de si mesmo, a convivência trabalha na seara da tolerância
às diversidades, gerando acordos e transformando conflitos. Desta forma, já não são
duas pessoas se relacionando. Trata-se da geração de uma terceira pessoa, que não
sou eu nem você, mas aquilo que somos juntos. É uma nova identidade, diferente
daquelas que a compõe. A fase da construção requer planejamento, protagonismo,
ação e cooperação. Representa tudo o que deliberadamente cada “eu” irá fazer para
materializar o nós. Daí dizer-se que é na fase da construção que o Nós se expande
em infinitas possibilidades. Quanto mais consciência se tem dessa identidade NÓS
mais se cuida da relação na fase da construção para que não surjam nós a serem
desatados.
Aqui, muito nos faz recordar Edgar Morin porque coloca as instituições/relações
no patamar da complexidade. Não há receita a seguir, não há tão pouca
impossibilidade de compreensão. Há o desafio e a riqueza de se saber
interdependentes.
No campo educacional, ainda é esse filósofo que nos esclarece que nessa
seara há que se pensar em dois aspectos da complexidade: educa-se na
complexidade e para a complexidade. Ou seja, no ato de educar devemos ter claro
que ali se estabelece uma arquitetura de convivência que é de natureza complexa
porque capaz de promover o diálogo entre gerações, culturas e saberes visando o
pensar de forma complexa posto que o objetivo do pensar complexo é, segundo Morin
(2002) “exercer um pensamento capaz de lidar com o mundo real, de com ele dialogar
e negociar”. Para o autor (2002, p. 24)
“Todo conhecimento constitui, ao mesmo tempo, uma tradução e
uma reconstrução a partir de sinais, signos, símbolos, sob a forma de
representações, idéias, teorias, discursos. A organização dos
conhecimentos é realizada através de princípios e regras que não
cabe analisar aqui, comporta operações de ligação (conjunção,
inclusão, implicação) e de separação (diferenciação, oposição,
seleção, exclusão), O processo é circular, passando da separação à
ligação, da ligação à separação e, além disso, da análise à síntese e
da síntese à análise. Ou seja, o conhecimento comporta, ao mesmo
tempo, separação e ligação, análise e síntese.”
15
As com-vivências estimuladas pela Pedagogia da Cooperação precisam ser
ricas e ao mesmo tempo, de uma leveza extraordinária. Prova de que viver a
complexidade é possível em um espaço ímpar de encontro consigo mesmo, com o
outro, com seus ancestrais, com sua trajetória de vida vista por você mesma e pelo
outro.
Mesmo que a Pedagogia da Cooperação seja aplicada a um grupo, num curto
período de com-vivência, é preciso buscar estabelecer elos pela valorização de todos.
As regras (aqui chamadas de acordos) são tramadas a partir da própria necessidade
de conviver. Não soam como imposições como ocorre na maioria dos espaços
“educativos”.
b) Princípio da Comum-Unidade
Diz respeito à descoberta do(s) propósito(s) comum(ns) a um grupo, os acordos
coletivos que emergem deste grupo, e das estratégias decididas coletivamente para
que o(s) propósito(s) sejam alcançados, sem impedir, contudo, que cada um seja
aquilo que é.
O que caracteriza uma comunidade é o pertencimento. Por isso, ela pode ser
de diferentes naturezas: de moradia, religiosa, de trabalho etc. E, por isso, também,
é crucial que todos cuidem para que cada um se sinta integralmente pertencente ao
grupo.
O que diferencia uma comunidade de uma sociedade qualquer, são as
possibilidades que aquela nos dá de sair do isolamento, pensar e viver coletivamente
determinados valores, colocar a afetividade no centro das relações que ali são
pessoais e diretas (tendo consciência que todos são afetados por todos),
Historicamente, todos os povos em sua origem, viveram comunitariamente e
isso foi se perdendo com o tempo. Hoje, a vida em sociedades já dá sinais de
esgotamento. A humanidade, pela necessidade de buscar saída para: a escassez de
recursos, as “brigas” por poder, a concentração de renda nas mãos de poucos e outros
desafios que afetam os seres do planeta, já está construindo um novo estado de
consciência. Os avanços tecnológicos, que por vezes são culpabilizados por afastar
as pessoas, também têm contribuído enormemente por unir pessoas de todos os
cantos do planeta. Hoje, já não causa espanto a ninguém a possibilidade que todos
16
temos de interferir, afetar a vida uns dos outros. Então, façamos isso de forma
intencional e positiva!
Para tecer uma vida em comum-unidade é necessário estabelecer a missão (o
propósito da existência do grupo, diretamente ligado à identidade daquele coletivo),
a visão (o que queremos/precisamos construir juntos a curto e médio prazo
caminhando em direção à missão) e os valores (os princípios éticos que nos norteiam
e nos unem) e traçar objetivos claros, elegendo prioridades que sejam exequíveis.
Além disso, é necessário, de forma colaborativa, criar procedimentos claros que
definam rotinas de reuniões, papéis das lideranças, formas de lidar com conflitos para
que estes não sejam empecilhos, mas molas propulsoras da vida em comunidade
porque capazes de despertar soluções criativas e ainda, definir como se relacionar
com outras organizações e comunidades,
Se pararmos para pensar, no “mundo empresarial” as organizações já
trabalham nesta linha de raciocínio, definindo missão, visão, valores e objetivos ou
metas. A diferença entre uma organização corporativa e uma comunidade é a
dinâmica participativa de seus membros, Não raro, numa organização comum, a
dinâmica segue um fluxo vertical enquanto numa comunidade, esse fluxo é/deve ser
circular porque leva em conta a fluidez das relações e acontecimentos bem como a
valorização, a escuta ativa e o cuidado de cada membro em todas as etapas do
processo, o que veremos mais detalhadamente, no discorrer do texto.
Abraçar o desafio de viver em comum-unidade é abrir-se para a mudança. Na
verdade, para as mudanças porque ao quebrar-se um paradigma sempre seremos
levados à necessidade de rever, ressignificar e vivenciar outros. Tudo é movimento!
E este movimento é dinâmico, não linear, segue seu fluxo em espiral. Existe um ponto
de partida, mas não há um ponto de chegada onde tudo é conforto e estabilidade.
Como viver isso de forma harmônica e produtiva, sem cair nos esquemas
esquizofrênicos da sociedade que ainda vivemos: uma sociedade patrilinear,
hierarquizada, que desrespeita as diferenças, que é belicosa, desconexa da natureza
e onde o consumismo, a culpa e o medo da morte imperam?
A Dinâmica da Espiral é uma teoria do desenvolvimento humano criada pelo
cientista social Don Beck e por Chris Cowan, baseada nas pesquisas de Clare W.
Graves, que discorre sobre os níveis de desenvolvimento da consciência individual, a
17
partir da própria evolução da consciência coletiva da humanidade (antropogênese)
que pode servir de suporte ao princípio da comum-unidade.
O conceito básico da Dinâmica da Espiral é que nós temos uma inteligência
adaptativa e complexa, que se desenvolve em resposta às nossas condições de vida
e desafios que temos a enfrentar. Para onde direcionamos o foco na nossa vida,
estarão pulsando os mecanismos e a inteligência coletiva, que Dr. Beck chama de
mêmes, como possibilidade de avanço.
Figura 1 – Dinâmica da Espiral
.
Fonte: www.spiraldynamics.com
Entende-se hoje que existem 8 níveis (mêmes) de evolução do ser humano. Cada
même representa determinados códigos de sobrevivência, mitos de origem, formas
artísticas, modos de vida e sensos de comunidade distintos.resultado da interação
entre as forças sócio-ambientais e o equipamento neuropsicológico humano
apropriado, definindo assim, a cultura dos grupos, países, organizações e refletindo o
lugar que ocupam no planeta. Esses mêmes estariam ligados tanto aos estágios
evolutivos da humanidade quanto às diferentes etapas da vida humana e são
representados por cores:
● Bege - Focado na necessidade de sobrevivência. As preocupações estão
basicamente voltadas para a busca por água, comida, abrigo, sexo, segurança.
É um modo de pensar que remete ao homem primitivo ou arcaico: a
sobrevivência instintiva está em primeiro lugar. Ligado ao mundo físico. No
indivíduo, corresponde à fase que vai do nascimento até os 18 meses,
aproximadamente.
18
● Púrpura - Focado na busca por harmonia e segurança num mundo misterioso.
Remete ao homem tribal. A tônica é a lealdade ao clã e o pensamento mágico.
Comportamento obediente, ligado ao mundo dos símbolos onde o real e o
imaginário estão muito próximos, quase não se distinguem. Equivale a fase que
vai de 18 meses a 4 anos.
● Vermelho - Focado nos valores individuais. O eu é distinto da tribo.
Comportamento guerreiro, hedonista; agressivo/impulsivo, dominante. Ligado
ao mito do Herói. Pensamento egocêntrico e beligerante. Típico do momento
histórico das Grandes Descobertas e expansão colonialista e/ou imperialista.
Equivalente à fase que vai dos 5 ao início da adolescência.
● Azul - Focado nos valores tradicionais, na lei e na ordem; busca direção,
propósito e significado para a vida. No entanto, crê que os eventos são
determinados por um Outro ou Ordem Superior. Punições à violação do código
de conduta, recompensa à obediência, controle da impulsividade através da
culpa. Interpretação literal de escrituras “sagradas” são típicas desse estágio.
O Comportamento é etnocêntrico, direcionado pela idéia de certo/errado, bom
ou mau. Segue hierarquia. A tônica é o pensamento mítico. Equivalente à fase
da juventude e ao início da fase adulta.
● Laranja - Motivado pelo sucesso. Manifesto no estilo de vida característico da
idade Moderna. Indivíduo auto-orientado; racional, científico, competitivo.
Verdades e significados em termos individualistas e científicos. O Mundo é
interpretado como máquina cujas leis podem ser apreendidas, controladas e
manipuladas. O mundo é como um jogo onde vencedores e perdedores
disputam privilégios. A tônica é o pensamento científico, a razão. Corresponde
à fase adulta.
● Verde - Pós-moderno, orientado pela noção de pertencimento ao mundo,
empatia e sensibilidade; justiça, paz, preocupação ecológica. Guiado pela
sensibilidade. A tônica é a pluralidade. Pensamento subjetivo, não linear.
Antidogmático e anti-hierárquico. Equivalente à fase adulta.
● Amarelo - Sistema de valores integrais; vê o todo, reconhece o valor de cada
um dos sistemas anteriores; orientado de dentro para fora, não segue
hierarquia. É interativo, criativo. Conhecimento e competência substituem
poder e status. A tônica é a flexibilidade e a fluidez. O pensamento é elaborado
19
em bases sistêmicas, interativas e ecológicas. É o tipo de consciência que
começou a despertar na humanidade há cerca de 50 anos. Equivale à fase
adulta.
● Turquesa - Mente coletiva; individualizado mas integrado no Todo. Aberto a
Insights. Vive e pensa para além de nacionalidades e partidos. A tônica é a
compaixão e a busca por harmonia. Une sentimento e conhecimento. Tem
como base o pensamento holístico, busca a emergência de uma nova
espiritualidade – teia de toda existência.
Utiliza-se a forma espiralada para representar a evolução da consciência
humana por ser esta uma estrutura dinâmica que mapeia nosso sistema de
pensamento conforme ele atinge cada vez mais altos níveis de complexidade. Ao
identificar em que nível um indivíduo, organização ou até país está e para que nível
se deseja ir, é possível dar os estímulos necessários para propiciar um ambiente de
mudança favorável.
A teoria da Espiral da Mudança nos dá uma ideia do quanto é, ao mesmo tempo
simples e complexo vivenciá-la. Vivenciá-la de forma consciente é que é o grande
segredo. E quando o assunto é a vida em comunidade, a que se ter em mente que
existe uma jornada que é individual e outra que é coletiva. Daí a importância de se
investir continuamente:
● em processos de autoconhecimento, para que cada um perceba em que ponto
da espiral está em relação à missão, à visão e aos valores elencados pelo
grupo e descubra onde suas habilidades podem favorecer a evolução do grupo
e onde vai precisar se fortalecer no grupo para viver sua evolução;
● em processos grupais, para gerar empatia, acolhimento às diferenças e aos
diferentes estilos de aprendizagem, acordos de convivência e fortalecimento da
identidade coletiva – detectar onde o grupo, não mais cada indivíduo, está na
espiral da mudança em relação à sua missão, visão e valores, clarificar o
caminho que se tem a seguir;
● em metodologias colaborativas para planejar esse caminho, elencando
prioridades, transformando conflitos, revisitando os acordos estabelecidos;
20
● na sistematização da estrutura desse coletivo como um organismo vivo, em
constante transformação e evolução, onde o poder não emerge de uma pessoa
ou subgrupo, mas nasce e flui na interação e é descentralizado;
● no estabelecimento de rotinas e tarefas; de papéis a serem desempenhados,
favorecendo o surgimento de lideranças temporárias e eleitas;
● em processos de tomada de decisão por consenso ou por consentimento;
● em procedimentos e processos de avaliação para a partir daí, manter ou
reformular a estrutura do coletivo e/ou suas rotinas, tarefas, lideranças etc.
● em processos contínuos de comunicação. Em toda organização, mas,
principalmente numa comunidade, a comunicação é fundamental para manter
a chama acesa quanto à missão, à visão e aos valores elencados, evitando-se
a triangulação e favorecendo a transparência e acessibilidade.
● manter registros das reuniões e acordos, cuidar para que a comunicação seja
clara, acessível a todos e verificar o nível de entendimento de cada um
garantindo feedbacks claros, pessoais, regulares e específicos. O óbvio precisa
ter lugar na comunicação em comunidade!
Percebe-se a complexidade da vida em comunidade, do estabelecimento de
acordos e tratamento de conflitos via diálogo e aberturas de pontos de vista. Não é
tarefa fácil ou simples, e requer força de vontade e certeza no propósito, no caminho
para manter a busca da unidade como guia.
c) Princípio da Cooperação
Diz respeito ao compromisso de questionar a competitividade, o individualismo,
a rivalidade tão arraigados em nossa sociedade, resgatando a natureza ancestral do
congraçamento e da partilha uma vez que o que se almeja é o bem comum. A
cooperação está intimamente ligada ao resgate dos sentimentos de pertencimento, de
respeito e confiança mútuos.
Segundo Morin (2003) “O todo é maior do que a soma das partes. O todo é
maior, porque contém algo que não existe nas partes: as relações entre elas.” Falar
em cooperação como um princípio é cuidar dessas relações. É conscientemente,
perceber que sempre estamos cooperando com algo. Importante é decidir: Com o
quê desejamos cooperar?
21
Sennett (2015), em seu livro Juntos, nos mostra que a cooperação está
presente em nossas origens, manifesta na nossa genética e na ancestralidade que
habita nosso inconsciente desde o início da jornada do desenvolvimento humano. É
duradoura porque perpassa gerações, mas é também, passível de consertos através
da escolha de sermos melhores em nossa humanidade.
Ter a cooperação como um princípio é se propor a dar um salto na espiral da
mudança (do même verde para o amarelo e assim sucessivamente), é ter a coragem
de se comprometer com a busca de um novo estado de consciência através de ações
que analisem questões em bases sistêmicas, interativas e ecológicas, reconhecendo
o valor de cada um e crendo no potencial de todos enquanto um time. A flexibilidade
e a fluidez dos processos estabelecem a confiança no poder da energia que emana
do grupo numa jornada interativa e criativa na busca conjunta de soluções para
questões inerentes a ele. Não se trata de convencer o grupo a aplicar soluções já
conhecidas ou adaptá-las, mas de encorajá-lo a apostar na possibilidade de,
conjuntamente, ousarem soluções nunca imaginadas quando feitas de forma
individual e, desta forma, respeitando o que é possível aqui e agora.
Estamos em constante crescimento, aprendizado, desenvolvimento, e todas os
eventos que nos ocorrem influenciam nosso Ser. O conceito de autopoiese,
introduzido por Maturana e Varela (2005), fala que um ser é capaz de produzir-se a si
próprio. Sua estrutura está sempre se modificando. A mudança, o fluxo incessante de
matéria e energia, permite o crescimento, o desenvolvimento e a evolução do sistema.
Apoiados nessa definição, percebemos que o meio influencia o ser humano, assim
como este influencia o meio. Somos ao mesmo tempo criadores e criaturas de nós
próprios, organizados em cidades, organizações, grupos, meios que nos formam e
que também influenciamos.
A cooperação, como processo orgânico e evolutivo, acompanha o processo de
vida-morte-vida de perto, em que cooperar significa entender a si mesmo e entender
ao outro, abrir mão de espaços conhecidos e adentrar nas sombras de si mesmo,
rever (pré) conceitos, certezas, investigar crenças e acolher o novo. É lidar com o
diferente em relações de diálogo, entendendo que julgamentos e incômodos existem
e apontam para necessidades e valores profundos em nós mesmos. Como expressar
tais sentimentos de forma harmônica? Cooperar significa também amar, que é aceitar
o outro ao nosso lado, sem razão, sem exigências, como fala Maturana (2004).
22
No contexto desta pesquisa, cumpre distinguir colaboração de cooperação
visto que no âmbito das Cooperativas, essa distinção é evidenciada. Neste tipo de
organização, a cooperação é vista como circular, como um trabalho em equipe, num
processo de interação contínua, onde todos os membros do grupo trabalham para
construírem juntos suas ideias e desenvolverem determinado trabalho de forma
coletiva, visando alcançar um objetivo comum enquanto que a colaboração pode
ocorrer em estruturas hierarquizadas, com papéis e funções bem definidos, podendo
ser relacionada com contribuição. Sob este ponto de vista, o conceito de cooperação
é mais complexo do que o de colaboração, na medida em que a colaboração está
incluída nele, mas o contrário não se aplica. De fato, dentre o grupo de pessoas que
trabalham em uma Cooperativa, há os cooperados – sócios igualitários que definem
em conjunto os rumos do negócio e o executam e os colaboradores – funcionários
que prestam serviços à Cooperativa não participando dos processos decisórios.
A cooperação deve também ser estendida para outras formas de vida, da
manifestação da integralidade, do pertencimento da espécie humana ao planeta
Terra. É desenvolver relações de respeito e simbiose com pessoas, ambientes,
animais, com o ambiente à nossa volta, respeitar cada um e cada espaço.
É equilibrar as energias existentes, harmonizar o yin e o yang, integrar o que é
chamado de energia feminina do acolhimento, da escuta, da amorosidade, do carinho
e da reflexão ao Ser, perceber que somos feitos de polaridades e dualidades, e que
precisam ser equilibradas. Ao manter-se em equilíbrio, fica mais fácil a abertura para
o outro, já que podemos reagir de um lugar mais centrado, e menos extremo.
d) Princípio da Co-existência
O princípio da coexistência diz respeito à existência simultânea, logo, à
interdependência entre tudo e todos que existem. Seguindo esta lógica, tudo o que
um ser humano pensa, sente, faz afeta cada um dos diferentes seres vivos, tudo o
que compõe o planeta e o universo, da mesma forma como teve seu surgimento e tem
sua permanência afetados por estes.
Dar-se conta deste princípio, pode potencializar os demais porque os coloca
em constante diálogo. Tudo está conectado mesmo que não percebamos isso.
23
Nós, seres humanos, somos um projeto em construção e, portanto, inacabados. Das
nossas experiências dependem não apenas o nosso próprio bem-estar como o bem-
estar da humanidade, do planeta e o cosmos.
Ao mesmo tempo que nos vemos como bebês, comparados à idade do
Universo ou mesmo do planeta, nos percebemos como aquele filho que precisa honrar
e cuidar desses anciões. E para encarar essa missão colossal de cuidar e honrar a
Terra e de se perceber co-partícipe do Universo, muitos paradigmas da vida, da
relação que estabelecemos conosco mesmos, com os entes mais próximos, com o
trabalho e a comunidade, com nosso país, com outros países, com a natureza, e com
nossa espiritualidade, vão sendo analisados, questionados e transformados.
Nesse sentido, destacamos a análise feita por Riane Eisler ao propor uma
leitura dessas relações sob o prisma do continuum parceria/dominação, em seu livro:
O poder da parceria. Nesta obra, a autora “mostra as conexões entre nossos
problemas pessoais e os problemas globais que se amontoam ao nosso redor, e
mostra como um eu mais feliz está interconectado com um mundo melhor.” (EISLER,
2007, p. 12)
Assim, nos apresenta dois modelos: o de dominação/controle e o de
parceria/respeito. Ambos presentes em nosso cotidiano bem como na história da
humanidade, cabendo-nos identificá-los para criarmos nossa forma de estar no e
com o mundo.
No primeiro modelo, vemos uma estrutura social autoritária, rígida e
hierarquizada onde há uma supervalorização dos homens em relação às mulheres e
o controle e a conquista de pessoas e da natureza se faz presente. Um modelo onde
o medo e a violência são naturalizados em todos os âmbitos da vida e o sistema de
crenças é baseado no culto à dor e ao medo, inclusive ao medo da dor como forma
de controle. Já no segundo modelo, vemos uma estrutura social igualitária onde a
hierarquia é baseada na realização que pressupõe a liderança compartilhada por visar
níveis melhores de funcionamento. Neste modelo, homens e mulheres são
valorizados igualitariamente e atividades e características como empatia, não-
violência e atenção cuidadosa são atribuídas a homens e mulheres bem como estão
presentes nas políticas sociais. É um modelo baseado no culto ao prazer visto como
“a alegria do amor, a realização da gentileza e da partilha, o maravilhoso respeito pelo
24
milagre da vida e da natureza, e o êxtase dos estados superiores de consciência.”
(EISLER, 2007, p. 196).
Pesquisas científicas, e estudos arqueológicos evidenciam que o modelo de
parceria remonta a datas longínquas enquanto o modelo de dominação é mais
recente, característicos do patriarcado; o que corrobora com a ideia de que somos
seres colaborativos e não violentos, por excelência.
Dado o momento atual que vivemos, onde os recursos hídricos do planeta se
esgotam, onde esgotam-se também os minérios e vivemos sob constante e acelerada
mudança climática; onde os indivíduos adoecem e a própria sociedade dá sinais de
adoecimento face às desigualdades, há que se pensar no princípio da coexistência
como a linha que enredará o futuro.
Neste ponto de reflexão é que cumpre ressaltar a diferença entre moral e ética,
dois conceitos distintos, mas que se confundem em nosso dia a dia. Ambos,
etimologicamente, ligados à palavra costume.
Costumes são construídos socialmente, baseados em valores. Acostuma-se a
agir desta ou daquela maneira. Valoriza-se, assim, esta ou aquela maneira de agir.
E então, se diz que isto é bom, e aquilo é ruim; isto é certo e aquilo errado. Desta
forma, nasce a moral como um conjunto de regras e valores impostos, de tão
costumeiros. A moral tem um caráter normativo, portanto, é ela que rege a vida em
sociedade.
No entanto, se questionamos com profundidade, buscando descobrir a
consistência dessas regras, estamos falando de ética.
A ética, para exercer sua função de questionar, baseia-se em princípios que
visam o bem comum e dizem respeito à dignidade humana. Pela ética, pensa-se
criticamente e verifica-se a consistência das regras sociais propondo mudanças.
Segundo a filósofa e educadora Terezinha Rio, são princípios éticos:
● o respeito, entendido como o reconhecimento da existência do outro, de que a
sociedade é composta de diferentes sujeitos. É a tomada de consciência da
existência em si, de que o outro é constituinte da minha identidade levando-se
em conta a auteridade; a justiça, entendida como igualdade na diferença,
garantia de direitos iguais para os diferentes. Segundo ela, o contrário de
igualdade não é diferença e sim, desigualdade;
25
● a solidariedade, entendida como o pensar no outro independente de castigo ou
premiação;
● A ética, portanto, reflete, questiona os valores morais baseada na arte do bem
viver. É a ética que pode garantir a renovação da moral. Ela não está em
manuais;
Segundo Mario Sergio Cortella, a ética baseia-se em três perguntas: Devo?
Posso? Quero? Que busca responder levando em conta os princípios citados acima.
É, portanto, um ato de liberdade e capaz de gerar mudanças.
Podemos dizer então, que o aparente caos que vivemos hoje, as crises e conflitos
evidentes são, na verdade, frutos de um momento ético, ou seja, de questionamentos
da moral, das regras vigentes porque estas não estão mais dando conta da
complexidade da vida planetária. E que portanto, dela nascerá uma nova moral, mais
ajustada aos princípios éticos de respeito, justiça e solidariedade, tão presentes no
propósito da Pedagogia da Cooperação: “VenSer para SerVir”.
2.1.3 Os Procedimentos
De mãos dadas com estes princípios, temos os procedimentos da Pedagogia
da Cooperação, que nos mostram caminhos, “formas” de fazer os princípios
acontecerem. São eles:
a) Círculo e Centro – O centro geralmente é marcado com objetos que representam
o propósito do grupo, remetendo-os sempre àquilo que os uniu. Em volta deste centro,
o grupo se reúne em círculo para que a energia flua, para que todos se vejam, se
conectem, foquem e cuidem daquilo que o centro representa. O centro também
representa uma tradição antiga, dos tempos em que os humanos se reuniam em volta
de uma fogueira para partilhar e interagir em grupo;
b) Ensinagem Cooperativa - estímulo à convivência, compartilhamento de vivências,
escuta atenta, empatia; busca pela consciência proporcionando momentos de reflexão
e interiorização; criação de momentos propícios à comunicação de insights,
26
sentimentos e sua escuta ativa; busca pela transcendência, incentivando a conexão
das vivências e experiências realizadas com a sua vida em outros grupos;
c) Do mais simples para o mais complexo – ter sempre como referência que estamos
trabalhando/propondo uma mudança de paradigma. Portanto, é necessário preparar
o terreno com atividades de autoconhecimento, reconhecimento do outro para,
gradativamente ir incluindo atividades e desafios mais complexos;
d) Ser Mestre - Aprendiz – ter humildade, incentivar a criação de novas maneiras de
fazer, estar aberto ao novo, ver-se como pertencente ao grupo como um mais
experiente, mas que por crer que a aprendizagem se dá na troca e na convivência,
não sairá de uma atividade da mesma forma que chegou;
e) Começar e Terminar Juntos – trabalhar a noção de pertencimento sempre reunindo
o grupo no início e no fim da atividade. De preferência, em círculo. Este procedimento,
em nossos encontros, tanto serve para recordar o vivido no dia anterior preparando-
se para um próximo dia, como para partilha de sentimentos, insights entre atividades.
Mantém o fluxo energético do grupo. Diz respeito também ao cuidado para que as
atividades e vivências planejadas permitam a inclusão de todos, do começo ao fim.
2.1.4 Os Processos
Os processos e as práticas, referem-se à experimentação, revelam os
caminhos a serem percorridos, as metodologias e práticas já desenvolvidas para que
os princípios e procedimentos sejam vivenciados e internalizados, gerando as
transformações necessárias à consecução do propósito de VenSer para SerVir.
Dentre os Processos da Pedagogia da Cooperação podemos citar: Jogos
Cooperativos, Danças Circulares, Diálogo, Comunicação Não-Violenta, World Café,
Open Space, Dragon Dreaming, Investigação Apreciativa, Práticas Meditativas,
Processos Circulares, Oásis, MusiCooperação, Design Thinking, Transformação de
Conflitos, Mesa e Cadeira, Change Lab, Terapia Comunitária, Aprendizagem
Cooperativa, etc.
27
Como podemos ver, a Pedagogia da Cooperação, como abordagem, se
aproxima, dialoga e acolhe diferentes metodologias colaborativas, aqui vistas como
processos porque utilizadas num contexto mais amplo onde uma metodologia pode
se seguir a outra e outra, de forma coerente, preservando-se integralmente as
características de cada uma. Isso se deve ao caráter inclusivo da Pedagogia da
Cooperação que é fruto do pensar coletivo de brasileiros, mas que abarca diferentes
contribuições de diferentes culturas.
Cabe ao focalizador, escolher dentre estes processos, o que melhor se adequa
a cada grupo. objetivo, tempo que terá para focalizar e à natureza de cada uma das
sete práticas da Pedagogia da Cooperação.
2.1.5 As Práticas
As Práticas da Pedagogia da Cooperação representam o passo a passo, o
itinerário a ser percorrido, as etapas fundamentais desta abordagem. São a coluna
vertebral do trabalho a ser desenvolvido, sua estrutura. São a materialização, a
densificação dos princípios e procedimentos já descritos acima, traduzidos em um
percurso a ser realizado. São elas:
a) Fazer Com-Tato | Saber Conectar - Conjunto de Atividades e Processos que sirvam
ao objetivo de proporcionar a conexão de cada elemento do grupo consigo mesmo
e com os demais, gerando: autoconhecimento e conhecimento do outro, empatia e
descoberta ou reconhecimento das potencialidades individuais. Essas
potencialidades que serão, ao longo do percurso, colocadas a serviço do bem comum.
Nesta primeira etapa, começa a ser gerado o embrião da consciência de grupo, dessa
“entidade” que chamamos Nós e da noção de pertencimento. É também nesta etapa
que se honra a história de vida de cada um, que temos contato com nossos modelos
mentais, nossas crenças adquiridas, herdadas e aprendidas; que reafirmamos
valores, que honramos nossa ancestralidade mas firmamos compromisso com a
autonomia, com a possibilidade de quebrar padrões para seguir adiante como autor
consciente de sua história pois como bem diz Eduardo Galeano: “Os cientistas dizem
que somos feitos de átomos, mas um passarinho me contou que somos feitos de
histórias“;
28
b) Estabelecer Com-Trato | Saber Cuidar - Refere-se a Atividades que visem a
garantia de uma con-vivência saudável, É um acordo coletivo baseado: no
acolhimento das necessidades de cada um para estar bem no grupo; no respeito ao
diferente; no acolhimento genuíno de cada necessidade exposta (sem censuras, sem
descartar qualquer desejo); na empatia e na tolerância. Não é um conjunto de regras
pré-estabelecidas, baseadas em padrões de comportamentos aceitáveis socialmente,
mas algo que nasce, que aflora dos anseios de cada elemento do grupo e que por ele
é acolhido na dimensão do cuidar. Uma vez estabelecido o Com-Trato, todos
assumem o compromisso de cuidar para que cada item ali colocado seja contemplado
durante todo o processo. É saudável que de tempos em tempos, esse Com-Trato seja
revisitado como forma de lembrar ao grupo o que se combinou ou como proposta de
revisão. , Se assim for o desejo do grupo, pode-se suprimir ou acrescentar algo posto
que trata-se de um acordo de convivência vivo como viva é a Pedagogia da
Cooperação. Se primamos por interação e buscamos cada vez mais qualidade nas
relações, é natural que, conforme a consciência de grupo vá sendo aflorada,
necessidades antes prementes deixem de ser e outras necessidades surjam. A
análise dessas atualizações, pode servir, inclusive, como indicativo de como o grupo
está caminhando na construção do Nós. O Com-Trato pode, inclusive, ser revisitado
antes de cada uma das 7 práticas da Pedagogia da Cooperação caso haja um
intervalo considerável de tempo entre um encontro e outro.
c) Compartilhar In-Quieta-Ações | Saber Compartilhar - As in-quieta-ações acontecem
por meio de um rico processo de cocriação focado nas questões mais vivas e nos
desejos de saber, de agir e de inter-agir de todo o grupo. O objetivo é “colocar na
mesa” tudo que inquieta os participantes, evitando julgamentos e escutando para
compreender. O trabalho com as inquietações pode ter um tema norteador (desde que
faça sentido para todo o grupo) ou deixar livre para que as questões mais importantes
das pessoas apareçam. Aprendizagem Cooperativa, Jogos Cooperativos e Diálogo
são uma das metodologias colaborativas indicadas. Importante se faz compartilhar
perguntas, dúvidas, inquietações e incertezas sobre o tema/foco do encontro.
Inspirados pela pergunta: “O que queremos descobrir juntos?”, olhamos para
questões provocativas, instigadoras e que despertem a curiosidade e a habilidade de
29
fazer e receber perguntas sem preocupação com as respostas. Manter o foco na
produção de perguntas, sem preocupação alguma com respostas, nem com a seleção
de “boas” perguntas é o ponto alto para que as in-quie-tacões se apresentem de forma
latente e saudável. “Cada pergunta é como se fosse um cristal refletindo todas as
demais. Cada pergunta inclui todas as outras. É como um “fio de meada” onde
puxando-se uma todas as demais vêm juntas” (BROTTO, 2018).
d) Fortalecer Alianças e Parcerias | Saber Confiar. - O momento de alianças e
parcerias é crucial porque significa uma pausa no processo costumeiro de perguntar-
e-responder. Aqui, as pessoas são convidadas a jogar algum jogo ou vivenciar alguma
experiência que ajude a despertar nelas o espírito co-operativo. Geralmente, aplicar
atividades cujo objetivo seja impossível de se realizar sozinho são efetivas. A
formação de alianças pode se dar também por meio de um processo de aglutinação
dos participantes em torno dos temas e inquietações surgidas na etapa anterior. Essa
movimentação precisa ser espontânea, evitando-se as imposições. Nesta etapa,
busca-se exercitar habilidades de com-vivência (autonomia, parceria, respeito mútuo,
confiança, empatia, inclusividade, etc) para restaurar e/ou fortalecer as relações de
parceria e cooperação no grupo. Dar autonomia e fortalecer os laços são passos de
extrema importância para que o processo possa crescer organicamente. A pergunta
que inspira esta etapa é “o que nos fortalece e nos torna como-um?” Utiliza-se
atividades desafiadoras, intensas e impossíveis de realizar individualmente para
costurar os laços. Jogos Cooperativos,Danças Circulares,Comunicação Não Violenta,
Práticas Meditativas, Transformação de Conflitos e Atividades dos Povos Tradicionais,
são metodologias colaborativas indicadas.
e) Reunir Soluções Como-Uns | Saber Cocriar. - Esta etapa visa identificar no grupo
as possibilidades de soluções para as inquietações percebidas. Refere-se a praticar
a escuta ativa, a inclusão de ideias e a abertura para o novo. A identificar olhares,
escutar propostas, expandir as possibilidades, é o entendimento do que o grupo
consegue criar, e não apenas o individual, pesquisando o que há entre o indivíduo e
o grupo. Retomamos as inquietações compartilhadas, críticas, comentários, dicas,
insights e abrimos o diálogo para olhar para tudo, para identificar possibilidades de
soluções. A partir de cada ponto de vista, novos cenários vão se abrindo, permitindo
30
acolher outras opiniões e sugestões, criando algo novo. Várias metodologias podem
ser aplicadas nesse momento como World Café, Dragon Dreaming, Investigação
Apreciativa, Diálogo, dentre outros.
f) Realizar Projetos de Cooperação | Saber Cultivar. - Os projetos são a materialização
das intenções definidas. Trata-se de estabelecer um plano de ação da solução
levantada a partir da cooperação entre os membros. É importante pensar no mínimo
passo elegante a ser tomado, qual a ação mais imediata e de fácil execução que já é
possível colocar em prática. É sobre aplicar força no sistema e colocá-lo em
movimento, em provocar o novo e a experimentação, sair da inércia e ser um agente
ativo. O que pode ser feito no dia a dia sem muito esforço, mas simples e significativo?
Quais são as ações mais assertivas que o grupo pode cooperativamente executar?
Atividades objetivas, divertidas e prazerosas.
g) Celebrar o VenSer | Saber Celebrar Reconhecer a cada passo da caminhada as
aprendizagens pessoais e coletivas conseguidas. Celebrar o exercício do VenSer
quem se é para poder SerVir melhor ao mundo. Uma pergunta inspiradora para
esta prática é “Quem Eu Sou mais plenamente agora e quando sirvo mais
inteiramente ao outro?” Nesta última prática é fundamental que criemos um
ambiente com condições favoráveis para a autorreflexão, focando a expressão do
VenSer Juntos. Incentivar a celebração de cada pequeno gesto de autenticidade,
colaboração, espontaneidade e convidando cada pessoa para reconhecer
comportamentos que cultivem o VenSer para SerVir.
Conclui-se que a Pedagogia da cooperação é uma abordagem que pretende
ter um olhar diferenciado para todas as situações, grupos e para a vida planetária.
Um olhar que se abre para a vida e suas possibilidades. E mais, é traduzir esse olhar
em atividades práticas e instigações que façam emergir do grupo as possíveis ações
para o momento. Ou seja, levar em conta: a diversidade, a diversão, a presença
verdadeira para fazer um mergulho em si mesmo, na alma do grupo, nos
conhecimentos já construídos, nas habilidades desenvolvidas, nas questões que
borbulham ali para então, ver emergir cada um mais inteiro consigo mesmo,
reconhecendo o valor da comum-unidade e os laços que os unem a ela e, por
31
conseguinte, comprometendo-se a traduzir essa magia em modos mais colaborativos
de ser e viver.
2.2 METODOLOGIAS COLABORATIVAS UTILIZADAS NA PESQUISA
2.2.1 Jogos Cooperativos
Os Jogos Cooperativos nascem da inquietação e da necessidade percebida de
se propor uma mudança do paradigma da competição e do mérito individual, tão
arraigados em nossa sociedade contemporânea, para o desafio de vivenciar e
construir modos de estar no mundo onde as diferenças individuais possam ser
valorizadas em prol do coletivo e não como meio de opressão.
Reinaldo Soler (2006, p 110) define os Jogos Cooperativos como:
Jogos onde os participantes jogam com os outros, ao invés de uns
contra os outros. Joga-se para superar desafios. Os jogos
cooperativos são jogos de compartilhar, unir pessoas, despertar a
coragem para assumir riscos, geram pouca preocupação com o
fracasso ou com o sucesso como fins em si mesmo. Eles reforçam a
confiança mútua e todos podem participar autenticamente. Ganhar e
perder são apenas referências para o contínuo aperfeiçoamento
pessoal e coletivo.
Segundo Orlick (1989, p.123) “O objetivo primordial dos jogos cooperativos é
criar oportunidades para o aprendizado cooperativo e a interação cooperativa
prazerosa”. Correia (2007, p. 154) aponta que os jogos cooperativos “são atividades
baseadas na cooperação, na aceitação, no envolvimento e na diversão, tendo como
propósito mudar as características de exclusão, seletividade, agressividade e de
exacerbação da competitividade predominantes na sociedade e nos jogos
tradicionais”. Quando o foco majoritário está no indivíduo, aspectos coletivos como:
diálogo, acesso e partilha de sensações e sentimentos, garantia de espaços de troca
e escuta genuína são poucos lembrados, e por vezes, negligenciados.
Por isso, o jogo cooperativo, além de ser jogado/vivenciado, precisa gerar
reflexão. Sua prática requer um momento de compartilhamento de sensações. É
32
preciso que os participantes possam refletir sobre tal vivência, compartilhar seus
sentimentos com o grupo - o quanto se sentem motivados ou mesmo incomodados
pela situação de não competição. A medida em que essa reflexão avança, e os
sentimentos afloram, pode-se agir, pensar e olhar para o mundo, para o outro com
olhos e corações mais abertos, e compreender que no jogo da vida podemos e
devemos VenSer juntos. É preciso cuidar da beleza do processo. Este é que é
transformador!
Em um contexto em que a competição atua como modus operandi normal da
sociedade, com promoção do individualismo, os reflexos são vistos na forma de
desigualdades, exclusões e situações de dominação e preconceitos. Nesse sentido,
a prática de jogos cooperativos pode resgatar valores coletivos, no trabalho conjunto
e na construção de um cenário de inclusão e aceitação (BROTTO, 1999; 2001).
Os jogos cooperativos trazem a reflexão sobre a sociedade em que vivemos, e
o quão estamos inseridos em contextos de competição, em tendências individualistas
que mantém as desigualdades sociais. Jogos competitivos reforçam o sentimento de
exclusão e de ser um perdedor por falta de habilidade e favorecem a desconfiança,
as barreiras e o individualismo. Os jogos cooperativos permitem que sejam criadas
novas aprendizagens educativas, com a constituição de um novo modelo de conduta
social e valores humanos (PALMIERI, 2015).
Nos jogos cooperativos, a associação entre movimentar-se e pensar, pensar e
agir é elevada ao patamar da coletividade. Então, vencer de alguém deixa de fazer
sentido e cede lugar ao vencer com. Toda a sensação interna de desconforto/desafio
que se deve vivenciar individualmente em outros jogos, aqui é/ deve ser diluída,
compartilhada, resolvida pelo grupo e em prol dele. Por isso, dialogam tão bem com
a Pedagogia da Cooperação. Trabalham, de maneira que pode parecer
despretensiosa devido seu caráter lúdico, as subjetividades humanas e ajudam a
construir o senso de Comum-Unidade de uma forma ímpar pois capaz de unir mente
e corpo nessa empreitada.
Em jogos cooperativos, as risadas são mais constantes do que em um jogo
competitivo e o ambiente do grupo é mais leve e alegre, já que não há o sentimento
de exclusão, não há o medo de perder e ser afastado do grupo. Ao desconstruir
aspectos essenciais da sociedade de forma lúdica, os jogos cooperativos se mostram
33
como importante prática no desenvolvimento de grupos e da sociedade como um todo,
em contraponto com os atuais jogos populares.
Soler lista as diferenças entre os jogos competitivos e os jogos cooperativos,
indicando as características de cada tipo de jogo. Percebe-se que nos jogos
cooperativos o coletivo é mais enfatizado, bem como a construção do grupo.
Tabela 1 – Jogos Competitivos e Jogos Cooperativos
JOGOS COMPETITIVOS JOGOS COOPERATIVOS
Divertidos para alguns Divertidos para todos
Sentimento de derrota Sentimento de vitória
Alguns excluídos por falta de
habilidade
Todos se envolvem,
independentemente de sua habilidade
Aprende-se a ser desconfiado Aprende-se a compartilhar e a confiar
Categorias, meninos X meninas,
criando barreiras entre pessoas
Há mistura de grupos que brincam
juntos, criando alto nível de aceitação
mútua
Perdedores ficam de fora do jogo e,
tornam-se observadores
Todos envolvidos por período maior,
mais tempo para desenvolver
capacidades
Não se solidarizam e, felizes quando
algo de “ruim” acontece aos outros
Aprende-se a solidarizar com
sentimentos dos outros e, deseja-se o
seu sucesso
Jogadores desunidos Aprendem a ter um senso de unidade
Perdem a confiança em si quando são
rejeitados ou perdem
Desenvolvem autoconfiança porque
são bem aceitos
Pouca tolerância a derrota, desenvolve
sentimento de desistência
A habilidade de perseverar face as
dificuldades é fortalecida
Poucos se tornam bem sucedidos Todos encontram caminho para crescer
Fonte: SOLER (2008, p.58)
Os jogos cooperativos buscam a participação de todos em torno de uma meta
comum, e nos liberta da tensão e da necessidade de competição e de eliminação. Ao
nos unir e praticar a coletividade e o objetivo compartilhado, as atitudes dissonantes
e que violam os outros são reprovadas pelo grupo, libertando da agressão física e
psicológica. Como nos jogos cooperativos as regras são flexíveis, é fundamental que
34
todos contribuam com sua elaboração, exercendo a criatividade e habilidades sociais
(MARQUES, 2012 apud SOLER, 2006 e BROTTO, 2001).
Segundo Orlick (1989), os jogos cooperativos podem ser classificados em:
i. Jogos Cooperativos sem perdedores, quando os jogadores jogam juntos no
mesmo objetivo, para superar desafios ou resolver problemas. Este tipo de
jogo apresenta um alto envolvimento dos jogadores e grande nível de
cooperação;
ii. Jogos de resultado coletivo, em que, apesar de divididos em equipes, os
jogadores de ambas as equipes apresentam um objetivo comum. Orlick (1989)
aponta que os jogos são bastante ativos e incorporam o conceito de trabalho
coletivo por um objetivo ou resultado comum, sem que haja competição entre
os times;
iii. Jogos de inversão, onde ocorre a troca de membros entre as equipes. Dessa
forma, observa-se que a preocupação com o resultado parece diminuir, já que
há a incerteza da derrota ou vitória para os participantes uma vez que o
resultado e os participantes dos times não são definidos;
iv. Jogos semicooperativos, onde as equipes jogam uma contra a outra. No
entanto, com o estabelecimento de regras, como “Todos tocam” (todos os
jogadores de um time tem que encostar na bola/participar para que valha o
ponto), “Todos marcam gol” (todos os jogadores devem pontuar ao menos uma
vez para que o time seja o vencedor), “Passe Misto” (alternância entre sexos),
e rodízios de todas as posições, os incentivos à individualização e competição
são menores.
SILVA et al (2012) nos apresentam uma série de estudos sobre os Jogos
Cooperativos e as aplicações em escolas de ensino fundamental, principalmente em
Educação Física. Os resultados observados mostram que os alunos obtiveram
melhorias em uma série de quesitos, como a melhoria da autoconfiança e do
sentimento de grupo, respeito mútuo, tratamento de potencialidades e fraquezas em
conjunto e companheirismo. Foram observadas também a redução da violência entre
os alunos e com os professores e diminuição da agressividade e da exclusão.
Para Brotto (2001), devemos utilizar os jogos cooperativos como ferramenta
pedagógica que valoriza o desenvolvimento do indivíduo como um todo, tanto nos
aspectos físicos quanto nos psíquicos e sociais. Desta forma, através do jogo o
35
professor trará a contribuição para a formação de um indivíduo mais autônomo e com
reflexões acerca da realidade social que está inserido como os aspectos sociais,
comportamentais e preocupado com o coletivo.
Utilizar os jogos cooperativos como prática educativa é excelente pois agrega
e traz ludicidade ao processo de aprendizagem, oferecendo formas de aprendizagem
não limitadas ao mental, em processos de relacionamento do indivíduo com o grupo
que trabalham questões pessoais, como sensação de pertencimento, engajamento,
olhar para o todo, etc.
2.2.2 Danças Circulares
A Dança Circular é uma prática que convida o ser humano a vivenciar sua
totalidade, integrando corpo, emoção, mente e espiritualidade.
Dançamos em roda, de mãos dadas, visitando danças tradicionais e
contemporâneas de todos os povos. E ao dançar, coletivamente, em diversos ritmos,
gestualidades e melodias, ampliamos nossa consciência corporal, ativando nossas
células para uma vida saudável e mudança de atitudes. Reafirmamos nossa
expressão individual num universo que gira em expansão. Aprofundamos a
compreensão dos valores humanos universais para a construção de uma vida em
harmonia: respeito à diversidade, interdependência, união, cooperação,
comprometimento, paciência, alegria, objetividade, fraternidade, flexibilidade e muitas
outras qualidades tão necessárias neste novo tempo, para uma convivência diária
saudável e amorosa são aqui potencializados.
Através das Danças Circulares, abrem-se campos sutis de percepções sobre
os quais podemos refletir, tais como: a sensação de alegria, o chamamento para a
presença, a alteração da relação com o outro, o medo de errar, o sentimento de
pertencimento, estimulando a ação para além da inércia e deixando vivo o círculo
como um novo padrão mental.
Débora Dubner (2015) afirma quea Dança Circular mostra o que nos une.
Evoca o poder coletivo, potencializando o nosso poder pessoal de cura. Existe um
poder no círculo, no grupo de pessoas que dão as mãos e se movem juntas,
compartilhando um mesmo ritmo no seu próprio passo, num formato universal e
ancestral. É mágico e profundamente real.
36
Através das Danças circulares, de uma forma mágica, pode-se vivenciar as
quatro tônicas da vida humana: a ciência (presente na matemática dos compassos
das danças, na geometria das formações executadas, no ritmo, nos deslocamentos,
na intensidade dos movimentos, no censo de direção e de sentido, na distribuição do
peso corporal, na consciência respiratória etc), a arte (representada pela
experimentação estética que a dança propicia, a beleza do encontro entre pessoas, a
linguagem dos sons, a harmonia dos movimentos) , a tradição (manifestada na
conexão com o passado dos povos, com nossa ancestralidade, na religação com a
infância). e o jogo (sentido na alegria, na leveza, na interação, na conectividade).
Assim como os Jogos Cooperativos, as Danças Circulares dialogam
perfeitamente com os Princípios da Pedagogia da Cooperação:
● O princípio da co-existência pois, de mãos dadas, os movimentos de todos são
influenciados pelo movimento de cada um. Apenas a sucessão de movimentos
faz com que todos, aos poucos, e cada um no seu tempo, acabe por compor
um todo harmônico onde tudo vai se encaixando, através de uma auto-
regulação sem que seja necessária uma palavra;
● O princípio da Com-Vivência no sentido amplo, através das danças de povos
antigos, gerando uma conexão com estes povos, com nossa ancestralidade,
com a humanidade como um todo e também, através destes mesmos passos
aliados a músicas contemporâneas, permitindo um fluxo de energia entre
passado-presente-futuro e no sentido mais restrito, em relação ao acolhimento
de cada membro, do seu jeito, suas limitações físicas, na troca de olhares e
sorrisos, quando há troca de pares, por exemplo, gerando um diálogo sem
palavras. Nas danças circulares, tudo inspira e transpira cumplicidade!
● O princípio da Cooperação pois nas danças circulares não há competitividade,
tão pouco há lugar para o individualismo, para a rivalidade. Não há destaques.
Há sim, um imenso sentimento de pertencimento, de respeito e confiança.
● O princípio da Comum-Unidade Quando se está fora do círculo, observando, a
primeira imagem que se vê é a de um único organismo em movimento. Todos
formando uma só coisa e, ao mesmo tempo, se “passeamos o olhar” por cada
integrante, verificamos que as individualidades estão ali, resguardadas. E isso
é lindo!
37
E Essa beleza é bem traduzida por Débora Dubner (2015):
“De mãos dadas, aprendemos juntos, cada um recebe aquilo que
precisa no momento, apoiando e sendo apoiado. Espelhamos nossas
emoções e encontramos no círculo a dor do outro que é também
nossa, a emoção de FLORESER, a capacidade de acolher, a coragem
para ser vulnerável, a beleza de ser grande como a árvore e pequeno
como a semente. Com simplicidade tocamos a complexidade!
Portanto, uma vez que entramos na roda da Dança Circular, abrimos
espaço para uma transformação interna, descobrindo que a nossa
história é a história de todos.”
2.2.3 World Café
O World Café é uma técnica, uma ferramenta de ação social utilizada para
promover e potencializar diálogos e conversas, de modo a viabilizar a construção
coletiva de ideias acerca de temas relevantes e problematizantes. Visa estabelecer
um espaço dialógico para estabelecer a participação das pessoas, por meio de
perguntas, para a construção de um entendimento comum de uma questão objeto.
A técnica foi proposta por Brown e Isaacs (2007) e é baseada no entendimento
de que a conversa é o processo central que impulsiona as realizações pessoais e
profissionais. Seus pressupostos são: o conhecimento e a sabedoria necessários para
gerar ideias já estão presentes e acessíveis nas pessoas; “a inteligência que emerge
quando o sistema se conecta a si próprio de formas criativas” (Brown e Isaacs, 2007,
p. 185); e, a percepção coletiva.
O World Café permite que os participantes sejam os criadores ativos das ideias,
colocando-os frente a questões desafiadoras, exigindo concentração, compreensão
do cenário, diálogo e busca por uma solução. É preciso ampliar as possibilidades de
soluções e aceitar a diversidade, já que não há nada pronto para a questão posta.
Baseia-se em sete princípios:
1- Estabelecer o contexto. Um bom planejamento é necessário por quem for
organizar o café. Deve estar qual o objetivo a ser atingido, e sobre qual tema que as
ideias devem ser geradas ou qual o problema a ser resolvido.
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2- Criar um espaço acolhedor. Este princípio lembra a importância de preparar
o meio ambiente para a atividade. Partindo do pressuposto que o meio influencia as
pessoas, olhar para este lugar ajuda a pensar em como estimular a participação.
Preparar o ambiente, pensar na quantidade de mesas, cadeiras, comidas, bebidas,
que lembram uma sensação de intimidade, de acolhimento, folhas de papel, canetas
coloridas como elementos de criação e expressão para anotações e desenhos. Um
espaço acolhedor permite que todos se sintam livres para oferecer seus melhores
pensamentos.
3- Explorar a questões significativas. Perguntas poderosas são aquelas
capazes de iniciar diálogos e conversas. Muitas ideias surgem em resposta à essas
perguntas interessantes. É preciso definir perguntas relevantes ao tema para ajudar
os convidados a pensarem na questão levantada, e trazerem respostas criativas e
intuitivas. Caso necessário, a dinâmica pode explorar mais de um tema, e caso ocorra,
é preciso deixar bem clara a mudança de tema para uma nova rodada de conversas.
4- Estimular a contribuição de todos. A participação ativa é estimulada no café
para que as pessoas possam contribuir e se expressar, gerando um maior
engajamento em um ambiente acolhedor. As diferentes ideias e pontos de vistas são
bem vindos, e cada integrante expõe suas ideias pessoais e narrativas,
proporcionando a construção coletiva, a partir de diferentes opiniões. Caso desejado,
é possível ter um objeto que conduz a palavra dos participantes, ou seja, uma espécie
de bastão da fala, que proporciona para um espaço de fala para quem segura o objeto
e de escuta para o restante do grupo.
5- Promover a polinização cruzada e conectar diferentes pontos de vista. A
troca de membros nos vários assuntos permitem que as questões sejam vistas de
aspecto geral, favorecendo a construção de uma perspectiva coletiva. Pode ser
incentivado o uso de desenhos e esquemas para facilitar o compartilhamento de cada
perspectiva, além da necessidade de um âncora em cada grupo, a disseminar o
conhecimento gerado em cada troca.
6- Escutar juntos para descobrir padrões, percepções e questões mais
profundas. Uma das principais necessidades dessa técnica é saber ouvir, ter abertura
para ouvir o outro e conseguir dialogar, mesmo se aparentemente oposta. Quando
ouvimos, somos capazes de acolher e criar a partir do que está sendo compartilhado.
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7- Colher e compartilhar descobertas coletivas. A partilha é passo importante
na técnica. Discutir sobre as ideias mais significativas que surjam no processo é
importante para criar o COM-um. É importante tomar nota e registrar as ideias, de
forma a gerar uma memória do processo, e para que posteriormente todos possam
opinar, ao compartilhar as ideias com o grande grupo. Finalmente, o coletivo pode
optar por escolher uma ou mais ideias, dependendo do objetivo a ser atingido e da
necessidade a ser atendida.
2.3 COOPERATIVISMO - O que é, sua história, valores e princípios
O Cooperativismo pode ser definido como uma forma de organização e ação
econômicas, agrupando pessoas ou grupos de indivíduos que têm o mesmo interesse,
a fim de obter vantagens comuns em suas atividades de produção, reduzindo custos,
obtendo melhores condições de prazo e preço e edificando instalações de uso comum.
Usa os mecanismos do sistema em vigor, em busca de alternativas e soluções para
os interesses de seus associados. Por isso, as sociedades cooperativas são um tipo
singular de associação que exigem uma visão mais ampla e detalhada de suas
características, ideologia e legislação.
No entanto, podemos dizer que a cultura da cooperação está presente na
história da humanidade desde os tempos primitivos. Contrariando o mito da
competição como forma de se garantir a sobrevivência e a evolução humanas, existe
um amplo conjunto de evidências que indica que os povos pré-históricos “que viviam
juntos, colhendo frutas e caçando, caracterizavam-se pelo mínimo de destrutividade
e o máximo de cooperação e partilha dos seus bens” (ORLICK, 1989, p. 17).
Isto posto, fica evidenciado que, mesmo que de forma difusa, as vivências
cooperativas, passadas de geração a geração ao longo do tempo, teceu um conjunto
de conhecimentos e valores que permitiu, em condições propícias, gerar o que
conhecemos hoje como cooperativismo. E mais, contribuiu para que as cooperativas
se articulassem entre si e se organizassem politicamente num Sistema que tem
valores e princípios comuns que o diferencia das demais organizações comerciais.
Como comenta Irion (1997):
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“Sempre houve pessoas que, inconformadas com a sociedade em que
viviam,aspiravam organizar uma sociedade ideal, onde reinasse a
justiça, a paz, a ordem e a felicidade, eliminando as diferenças
econômicas e implantando o bem-estar coletivo. Nesse sentido pode
ser citada a obra de Platão (427-348 a. C.) “A República”, a de Tomas
Morus (1480-1535) “Utopia”, a de Tomás Campanella (1568-1639)
“Cidade do Sul”, a de Francisco Bacon (1561-1626) “A Nova Atlântida”.
Todos eles tiveram influência direta ou indireta no surgimento do
Sistema Cooperativista.”
Talvez o pioneiro entre os pensadores e ativistas do cooperativismo tenha sido
o holandês Peter Cornelius Plockboy, nascido em 1620, que fundou associações de
agricultores, artesãos, marinheiros e professores em sua terra, na América colonial
inglesa, uma colônia de bases pré-cooperativistas que foram dissolvidas logo após
sua fundação, por ordem do governo inglês.
Na França, Charles Fourier (1772-1837), filósofo, economista e político, foi o
idealizador das cooperativas integrais de produção e consumo, criando comunidades
onde a posse dos meios de produção era comum a todos os associados. Essas
comunidades eram chamadas de falanstérios.
Robert Owen (1771-1858), industrial e filósofo socialista do País de Gales,
organizou duas cooperativas como forma de dar ocupação aos desempregados: uma
na Inglaterra e outra nos Estados Unidos.
Nessa lista não pode faltar o belga Philipe Buchez (1796-1865), que criou o
chamado cooperativismo de autogestão, independente do governo ou de terceiros. Na
França, tentou organizar as “associações operárias de produção” e organizou
cooperativas de trabalho.
Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), outro francês (filósofo, economista e
político), defendia as associações dos trabalhadores e a propriedade coletiva dos
meios de produção pelos trabalhadores e tentou criar um “banco operário”,
semelhante em alguns aspectos, às atuais cooperativas de crédito. Anarquista, é um
dos mais influentes teóricos desse movimento. Foi alvo de ferrenhas críticas por parte
de Karl Marx, que o considerava um “socialista utópico”.
Por sua vez, o anarquista Michel Derrion (1802-1850) fundou em 1835, em
Lyon, a cooperativa Commerce Véridique et Social, para venda de comestíveis e
41
produtos para o lar. Esta cooperativa teve curta duração. Na década seguinte, formou
no Brasil a Colônia do Palmital, na Província de Santa Catarina, com ideias de
cooperação para a produção agrícola.
Louis Blanc (1811-1882), idealista e ativista político francês, com importante
participação na Revolução de 1848, idealizou associações de trabalhadores de um
mesmo ramo de produção e conseguiu financiamento para a criação das Oficinas
Nacionais (cujos lucros seriam divididos entre o Estado e os associados), porém a
experiência durou pouco tempo. Por último, temos o anarquista russo Piotr
Alexeyevich Kropotkin (1842-1921), que estudou as cooperativas de exilados na
Sibéria, ainda no governo dos Czares.
Como movimento moderno, o cooperativismo apareceu no século XIX, tendo
como causa a revolução industrial, processo resultante de um conjunto de fatores, tais
como o desenvolvimento tecnológico (notadamente o aparecimento dos motores a
vapor), a acumulação de capitais obtidos pelo colonialismo e o liberalismo econômico.
Além do impacto econômico, obtido pelo ganho da escala produtiva proporcionado
pelas máquinas e pelas novas tecnologias de produção, houve o abalo social
provocado pela falta de regras que regulassem as relações dos detentores dos meios
de produção com as pessoas que formavam a força de trabalho: homens, mulheres e
crianças. O liberalismo econômico exacerbado chegou a adotar jornadas diárias de
trabalho de até 16 horas, em condições miseráveis de trabalho e salários. O
cooperativismo despontou como contraponto a esse estado de coisas, como uma
unidade de ação mutuária de colaboração conjunta.
Conforme bibliografia visitada, o movimento cooperativista considera o dia 21
de dezembro de 1844 como a data em que foi fundada a primeira cooperativa
desassociada de utopias, voltada para o mundo econômico real. Nesse dia, um grupo
de 28 tecelões (dentre eles uma mulher) se uniu para comprar, em conjunto, alimentos
e outros itens de primeira necessidade. O fato se deu na localidade de Rochdale, nos
arredores da cidade de Manchester, na Inglaterra. Chamava-se Sociedade dos
Probos Pioneiros de Rochdale Ltda. Seus princípios eram a formação de poupança
para os trabalhadores, a construção ou aquisição de casas para os cooperados, a
criação de estabelecimentos industriais e agrícolas para produção de bens a serem
vendidos aos trabalhadores, assegurar trabalho aos desempregados, desempregadas
42
ou mal-remunerados e, ainda, a criação de comunidades piloto de produção e
distribuição, visando à fundação de novas cooperativas.
Em uma década, a cooperativa contava com 1.400 associados. A experiência
foi levada para a França, Alemanha, Itália e para outros países europeus, atravessou
o Atlântico e chegou à América e seguiu se espalhando pelo mundo.
No Brasil, especificamente, durante todo o período colonial, aconteceram
movimentos que podem ser classificados como manifestações pré-cooperativistas. O
caso mais notório foi o das Missões Jesuítas no Sul do país, desenvolvidas a partir do
século XVII até o início do século XIX, quando foram definitivamente extintas pelos
governos de Portugal e Espanha. No mesmo período, em alguns quilombos, se
desenvolveu uma espécie de associativismo pleno, voltado à produção, consumo e
comercialização de bens de origem agropecuária.
Entretanto, tem-se 1847 como o marco para o início do movimento
cooperativista no Brasil. Nesse ano, o francês Jean Maurice Faivre, junto com outros
colonos europeus no Paraná, organizou a “Colônia Teresa Cristina”, tendo por base
as ideias de associações colaborativas, predominantes naquele momento. O
movimento serviu de referência para as experiências futuras, dando origem a outras
organizações, destacadamente a Cooperativa de Consumo dos Empregados da
Companhia Paulista, fundada em Campinas-SP, em 1887; a Cooperativa de Consumo
dos Funcionários da Prefeitura de Ouro Preto-MG, em 1889; a Cooperativa Militar de
Consumo do Rio de Janeiro, em 1894, na Cidade do Rio de Janeiro-RJ; a Cooperativa
dos Empregados da Companhia Telefônica, em 1891, na cidade de Limeira-SP; a
Cooperativa de Consumo de Camaragipe-Pe em 1895; a Caixa de Economia e
Empréstimos, também conhecida como Caixa Rural, fundada em Nova Petrópolis-RS,
em 1902; a Cooperativa dos Empregados e Operários da Fábrica de Tecidos da
Gávea, no Rio de Janeiro-RJ, em 1913; a Coopfer – Cooperativa de Consumo dos
Empregados da Viação Férrea, na cidade de Santa Maria-RS, também em 1913.
Essa descrição mostra como foi lento o crescimento do cooperativismo no país.
Entretanto, dois fatores deram-lhe impulso a partir da década de 30 do século
passado: a crise econômica, provocada pelo colapso da Bolsa de New York, de 1929
e o governo instalado pela revolução de 1930.
A crise econômica mundial de 1930 estimulou a emergência de cooperativas,
especialmente no Sul do país. O professor Waldiro Bulgarelli estabelece uma escala
43
para o desenvolvimento e estruturação das cooperativas, em nosso país: implantação,
consolidação parcial, centralismo estatal, renovação de estruturas e liberalização. Até
o princípio do século XX, a legislação brasileira – e o próprio Código de Comércio de
1850 – era omissa quanto às sociedades cooperativas. A primeira regulação legal
deu-se pelo Decreto nº 1637, de 05.01.1907, que disciplinou a criação de sindicatos
profissionais e sociedades cooperativas. Todavia, foi com o Decreto nº 22.239, de
19.12.1932, que o cooperativismo começa a consolidar-se no Brasil.
Hoje, o Cooperativismo Brasileiro conta com 6.655 cooperativas, 13,2 milhões
de cooperados e 376.795 empregados organizados politicamente em seu sistema.
Com todos esses números, fica fácil perceber o quanto o mercado cooperativista é
uma realidade viável no país.
Mais que um modelo de negócios, o cooperativismo é uma filosofia de vida que
busca transformar o mundo em um lugar mais justo, feliz, equilibrado e com melhores
oportunidades para todos. Um caminho que mostra que é possível unir
desenvolvimento econômico e desenvolvimento social, produtividade e
sustentabilidade, o individual e o coletivo.
Os três principais conceitos que dão identidade ao cooperativismo são:
1. Cooperação - O cooperativismo substitui a relação emprego-salário pela
relação trabalho-renda. Em uma cooperativa, o que tem mais valor são as
pessoas e quem dita as regras é o grupo. Todos constroem e ganham juntos.
2. Transformação - Há no movimento cooperativista o desejo de impactar não só
a própria realidade, mas também a da comunidade e a do mundo espalhando
sonhos e mostrando que é possível alcançá-los sem deixar ninguém para trás.
3. Equilíbrio - Ser cooperativista é acreditar que é possível colocar do mesmo lado
o que à primeira vista parece ser oposto: o econômico e o social, o individual e
o coletivo, a produtividade e a sustentabilidade.
Para guiar os cooperativistas ao redor de todo o mundo, foram estabelecidos os
sete princípios do cooperativismo, mantidos desde a fundação da primeira cooperativa
da história em 1844. São eles:
1. Adesão voluntária e livre - As cooperativas são abertas para todas as pessoas
que queiram participar, estejam alinhadas ao seu objetivo econômico, e
dispostas a assumir suas responsabilidades como membro. Não existe
qualquer discriminação por sexo, raça, classe, crença ou ideologia.
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2. Gestão Democrática - As cooperativas são organizações democráticas
controladas por todos os seus membros, que participam ativamente na
formulação de suas políticas e na tomada de decisões. E os representantes
oficiais são eleitos por todo o grupo.
3. Participação econômica dos membros - Em uma cooperativa, os membros
contribuem equitativamente para o capital da organização. Parte do montante
é, normalmente, propriedade comum da cooperativa e os membros recebem
remuneração limitada ao capital integralizado, quando há. Os excedentes da
cooperativa podem ser destinados às seguintes finalidades: benefícios aos
membros, apoio a outras atividades aprovadas pelos cooperados ou para o
desenvolvimento da própria cooperativa. Tudo sempre decidido
democraticamente.
4. Autonomia e independência - As cooperativas são organizações autônomas,
de ajuda mútua, controladas por seus membros, e nada deve mudar isso. Se
uma cooperativa firmar acordos com outras organizações, públicas ou
privadas, deve fazer em condições de assegurar o controle democrático pelos
membros e a sua autonomia.
5. Educação, formação e informação - Ser cooperativista é se comprometer com
o futuro dos cooperados, do movimento e das comunidades. As cooperativas
promovem a educação e a formação para que seus membros e trabalhadores
possam contribuir para o desenvolvimento dos negócios e, consequentemente,
dos lugares onde estão presentes. Além disso, oferece informações para o
público em geral, especialmente jovens, sobre a natureza e vantagens do
cooperativismo.
6. Intercooperação - Cooperativismo é trabalhar em conjunto. É assim, atuando
juntas, que as cooperativas dão mais força ao movimento e servem de forma
mais eficaz aos cooperados. Sejam unidas em estruturas locais, regionais,
nacionais ou até mesmo internacionais, o objetivo é sempre se juntar em torno
de um bem comum
7. Interesse pela comunidade - Contribuir para o desenvolvimento sustentável das
comunidades é algo natural ao cooperativismo. As cooperativas fazem isso por
meio de políticas aprovadas pelos membros.
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Do campo às grandes cidades, as cooperativas atuam em diversos setores da
economia organizadas em 13 ramos, a saber:
1. Agropecuário - reúne cooperativas de produtores rurais, agropastoris e de
pesca.
2. Especial - oferece a pessoas com necessidades especiais, ou que precisam
ser tuteladas, uma oportunidade de trabalho e renda
3. Trabalho - Reúne profissionais de uma mesma categoria em torno de uma
cooperativa para melhorar a remuneração e as condições de trabalho do grupo
de associados, ampliando sua força no mercado.
4. Consumo - dedica-se à compra em comum de artigos de consumo para seus
cooperados.
5. Infraestrutura - Fornece serviços essenciais para seus associados, como
energia e telefonia por exemplo.
6. Saúde - dedica-se à preservação e à promoção da saúde humana. Podem ser
formadas por médicos, dentistas, outros profissionais da saúde e até pelos
próprios usuários.
7. Crédito - promove a poupança e oferece soluções financeiras adequadas às
necessidades de cada cooperado.
8. Habitacional - Constrói e administra conjuntos habitacionais para os
cooperados.
9. Turismo e Lazer - presta serviços de entretenimento para seus associados: de
viagens a eventos artísticos e esportivos.
10.Educacional - Prove educação de qualidade para a formação de cidadãos mais
éticos e cooperativos e garante um modelo de trabalho empreendedor para
professores.
11.Produção - ligada à produção de um ou mais tipos de bens e produtos. As
cooperativas detêm os meios de produção e os cooperados contribuem com
trabalho conjunto.
12.Transporte - Cooperativas que atuam na prestação de serviços de transporte
de cargas e passageiros.
13.Mineral - Pesquisa, extrai, lavra, industrializa, comercializa, importa e exporta
produtos minerais.
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2.4 COOPERATIVISMO ESCOLAR
As Cooperativas Escolares conforme são concebidas hoje, são entidades
estudantis da Educação Básica, que funcionam como laboratório de vivências dos
valores da cooperação, da solidariedade, do empreendedorismo e de educação
financeira com finalidade educativa, podendo desenvolver atividades econômicas,
sociais e culturais em benefício dos associados. Em sua essência, buscam formular
uma proposta pedagógica com a participação do corpo discente em atividades
práticas. Tem como principal objetivo, oportunizar aos jovens uma formação que
contribua com o desenvolvimento de futuros líderes, gestores, empreendedores e
cidadãos com senso de responsabilidade e participação, através da vivência de um
modelo cooperativo sustentável. Não constituem um novo ramo do Cooperativismo
posto que seu foco principal não é a atividade econômica, o que constituiria trabalho
infantil. É um projeto educativo apoiado pelo Sistema Cooperativista ao exercer o
Princípio de Educação, Formação e Informação conjugado com o Princípio do
Interesse pela Comunidade, visando expandir a cultura cooperativista enquanto um
modo de ser e viver.
Historicamente, o surgimento das Cooperativas escolares remonta o pós
Primeira Guerra Mundial, quando as municipalidades da França passaram por um
longo período de dificuldades financeiras. Tinham de construir edifícios, hospitais,
residências, refazer estradas e vias de comunicação, etc., atingidas pelos
bombardeios das máquinas infernais. Falar, naqueles momentos, da necessidade do
equipamento das escolas seria uma redundância. Sem possibilidades, o erário público
nada podia fazer numa fase em que a criança mais precisava, para recompor o quadro
em que vivia e vislumbrar, com otimismo, a perspectiva que lhe oferecia naquele
tremendo após guerra. Assim, uma vez que não podiam contar com o Conselho
Municipal, os professores do distrito de Saint Jean D’Angely pensaram em mobilizar
os próprios alunos no conserto da casa onde passariam uma boa parte de sua
existência, através da cooperação. Pressentiram que, integrando-os nessa árdua
tarefa, haveria não só de encontrar trabalho adequado para eles, como uma grande
contribuição material para a escola e, assim, ainda melhor educá-los. Da realização
imediata dessa ideia foi que se originou, organicamente, o cooperativismo escolar, no
sentido econômico-pedagógico, como é por todos os tratadistas conhecidos.
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Les Petites Abeilles (As Pequenas Abelhas) foi o nome de batismo que recebeu
a pequena célula de Profit, expressiva denominação escolhida pelos próprios
cooperadores. Embora não tivesse sido fácil a empreitada, ficou perceptível nas
leituras, a abnegação dos mestres e a orientação que lhe imprimiram logo nos
primeiros tempos em relatos de pleno entusiasmo:
“Os resultados que permitiram transformar nossas escolas não foram
logrados pelas virtudes de uma palavra mágica. Para fazer com que
os alunos consentissem em realizar um pequeno sacrifício e a que
trabalhassem por uma idéia, era preciso interessá-los e criar-lhes
novos motivos de satisfação. E, a maior dessas satisfações, era, para
eles, verem-se tratados como homens e não como crianças. No
momento, pois, em que eram julgados bastante maiores para reunir
recursos, deveriam ser o suficientemente razoáveis para empregá-los
e dirigi-los. O maior prazer era o do reconhecimento deste direito. Para
o exercício, porém, este direito era necessário estabelecer regras,
criar uma associação, votar estatutos e regimentos, efetuar reuniões,
tomar deliberações, etc.”
Vale ressaltar que em 1931 as cooperativas escolares foram conhecidas no Brasil,
principalmente pela publicação do tema dos livros e folhetos pelo Ministério da
Agricultura. Porém é pelo decreto nº 22.239 de dezembro de 1932 que as cooperativas
escolares passaram a obter algum tipo de disciplina e orientação, conforme a redação
do artigo que segue:
Art.34 As cooperativas escolares poderão se constituir nos
estabelecimentos, públicos ou particulares de ensino primário
secundário, superior, técnico ou profissional, entre os respectivos
alunos, por si ou com o concurso de seus professores, pais, tutores ou
pessoas que os representem, com o objetivo primordial de inculcar aos
estudantes a ideia do cooperativismo e ministrar-lhe os conhecimentos
práticos da organização e funcionamento de determinada modalidade
cooperativa e acessoriamente proporciona-lhes as vantagens
econômicas peculiares à modalidade preferida.”
Para Montserrat (1949, p.121) “O objetivo, pois, de uma cooperativa escolar
não é apenas fornecer meios para que se aprenda a fazer uma coisa. Uma
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Cooperativa Escolar se propõe, além de facilitar esses meios, criar, ou melhor,
aprimorar, na criança, o espírito gregário e de iniciativa para que amanhã, com as
aptidões e os conhecimentos adquiridos na escola, possa orientar-se no mundo social
dos adultos e levar-lhe, plasmada em seu cérebro, a idéia de união e de trabalho
cooperativo, uma noção mais exata de seus direitos e de suas obrigações na vida com
seus semelhantes”.
As Cooperativas Escolares constituem uma proposta de transformação social
e econômica na vida das pessoas que transcende as propostas pedagógicas
tradicionais. Está inspirado, em parte, no pedagogo francês Célestin Freinet e nas
experiências da cidade argentina de Sunchales.
Marini (2013, p.2) expõe que as cooperativas escolares estão focadas na
transformação social da sociedade, no exercício pleno da democracia e da
capacidade de criação construção da escola e de seus atores. As cooperativas
aportam à possibilidade da vivência da democracia e da justiça no espaço da escola,
ultrapassando o mero ensinamento da democracia como conceito para uma vivência,
para uma experimentação prática democrática.
Nessa linha de pensamento Paulo Freire, na Pedagogia da Autonomia sustenta
que(...) “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua
própria produção ou a sua construção” (FREIRE, 1996, p.47). Essa afirmação nos
parece suficiente para propormos uma escola crítica, flexível aos projetos educativos
e, portanto, intercultural, da borda e cooperativa.
As Cooperativas Escolares têm por finalidade a promoção da convivência, o
respeito mútuo, a solidariedade, promoção da justiça social, igualdade, autonomia, a
cooperação e a realização de objetivos comuns. Nelas, o caráter educativo, espírito
cooperativo e o movimento entre o saber e o fazer são inerentes e constantes. Através
desses momentos de aprendizagens é proporcionada na gestão das cooperativas
escolares a vivência dos sete princípios do cooperativismo.
Conforme já dissemos, as Cooperativas Escolares constituem um projeto
educativo e está amparado pela lei Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990 do Estatuto
da Criança e do Adolescente e na lei das cooperativas sob nº 5764/71. Por ser tratar
de criança e adolescente o ECA deve ser observado com atenção especialmente no
acesso e frequência obrigatória ao ensino regular, atividade compatível como
desenvolvimento do adolescente e horário especial para o exercício das atividades.
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ENTRE O SONHO E A REALIDADE: A PEDAGOGIA DA COOPERAÇÃO COMO AUXILIAR NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE UMA GESTÃO PARTICIPATIVA NA COOPERATIVA MIRIM - UNICOOP (COOPERATIVA MIRIM UNIÃO E COOPERAÇÃO) DA CIDADE DE MENDES - RJ

  • 1. UNIVERSIDADE PAULISTA - UNIP Projeto Cooperação Fernando Gouveia de Holanda Guilherme Hiroshi Atsumi Maria Clara de Oliveira Paula Batista Rosângela Alves Gomes ENTRE O SONHO E A REALIDADE: A PEDAGOGIA DA COOPERAÇÃO COMO AUXILIAR NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE UMA GESTÃO PARTICIPATIVA NA COOPERATIVA MIRIM - UNICOOP (COOPERATIVA MIRIM UNIÃO E COOPERAÇÃO) DA CIDADE DE MENDES - RJ RIO DE JANEIRO 2019
  • 2. 2 Fernando Gouveia de Holanda Guilherme Hiroshi Atsumi Maria Clara de Oliveira Paula Batista Rosângela Alves Gomes ENTRE O SONHO E A REALIDADE: A PEDAGOGIA DA COOPERAÇÃO COMO AUXILIAR NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE UMA GESTÃO PARTICIPATIVA NA COOPERATIVA MIRIM - UNICOOP (COOPERATIVA MIRIM UNIÃO E COOPERAÇÃO) DA CIDADE DE MENDES - RJ Trabalho de conclusão de curso para obtenção do título de Pós Graduação em Pedagogia da Cooperação & Metodologias Colaborativas apresentado à Universidade Paulista – UNIP. Orientador: Prof. Cambises Alves Briskcty RIO DE JANEIRO - RJ 2019
  • 3. 3 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Dinâmica da Espiral 17 Figura 2 – Confecção de crachás 59 Figura 3 – Partilha 61 Figura 4 – Com-Trato 63 Figura 5 – Filme EggHunt 66 Figura 6 – Inquietações 71 Figura 7 – Partilha Inquietações 72 Figura 8 – Atividade Casa, Inquilino e Mudança 74 Figura 9 – Exercício de Respiração 76 Figura 10 – World Cafe 77 Figura 11 – Com-Trato revisado 80 Figura 12 – Trilha da Cooperação 81 Figura 13 – Preparação dos projetos 83 Figura 14 – Construção do bastão da fala 84 Figura 15 – Bastão da fala 85 Figura 16 – Cartaz de apresentação 86 Figura 17 – Personagem Jonny 87 Figura 18 – Cartaz simulando a rede Facebook 88 Figura 19 – Cartaz de divulgação 89 Figura 20 – Roteiro Filmagem 91 Figura 21 – Confecção de cartaz 92 Figura 22 – Cartaz do bazar 93 Figura 23 – Confecção de cartaz 94
  • 4. 4 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Jogos Competitivos e Jogos Cooperativos 33 Tabela 2 – Programação dos Encontros 56 Tabela 3 – Avaliações das atividades pelos alunos 81 Tabela 4 – Perguntas do questionário 95 Tabela 5 – Respostas do questionário DIVER 95 Tabela 6 – Indicadores DIVER 96
  • 5. 5 SUMÁRIO 2 REFERENCIAL TEÓRICO 9 2.1 PEDAGOGIA DA COOPERAÇÃO 9 2.1.1 O Propósito da Pedagogia da Cooperação 12 2.1.2 Os Princípios da Pedagogia da Cooperação 13 2.1.3 Os Procedimentos 25 2.1.4 Os Processos 26 2.1.5 As Práticas 27 2.2 METODOLOGIAS COLABORATIVAS UTILIZADAS NA PESQUISA 31 2.2.1 Jogos Cooperativos 31 2.2.2 Danças Circulares 35 2.2.3 World Café 37 2.3 COOPERATIVISMO - O que é, sua história, valores e princípios 39 2.4 COOPERATIVISMO ESCOLAR 46 3 METODOLOGIA DE PESQUISA 53 3.1 CONTEXTUALIZAÇÃO 53 3.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 56 4 APLICAÇÃO DA PESQUISA 57 4.1 PRIMEIRO DIA 58 4.2 SEGUNDO DIA 64 4.3 TERCEIRO DIA 78 5 CONCLUSÕES 98 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 101 APÊNDICE A - Cronograma de atividades 104 APÊNDICE B – Samba da Cooperação 109
  • 6. 6 1 INTRODUÇÃO Vivemos em um momento de grandes questionamentos sobre nosso modo de viver e se organizar enquanto sociedade. Somos constantemente inundados por notícias de violência, pobreza, ataque aos diretos humanos. Aspectos como a empatia, compaixão e respeito são características pouco valorizadas pela sociedade atual, gerando um distanciamento da essência de nós mesmos. Estamos em crise moral, com valores defendidos e praticados que exaltam a segregação e a separação, a violência e a competição. Não somos ensinados a lidar com aspectos emocionais, como compartilhar inquietações e a falar sobre questões que nos incomodam. No entanto, comumente, em momentos de crise, de caos, é que nos reorganizamos e criamos o novo. Desta forma, hoje, a cooperação já começa a ser percebida como uma nova forma de se relacionar, de oportunizar momentos de conexão com o outro, de gerar confiança e nos reaproximarmos do que nos torna humanos. Criamos estruturas mais cooperativas para nos relacionar e este olhar para o coletivo e para o novo vêm transformando paradigmas e relações. Neste contexto que clama por mudanças, a Pedagogia da Cooperação surge como abordagem e é um convite para o fazer juntos, para o criar em grupo a partir de um novo olhar. Com o intuito de aumentar a conscientização através de novas práticas cooperativas, nos propusemos a aplicar a Pedagogia da Cooperação em crianças e adolescentes como forma de oferecer uma perspectiva alternativa à realidade competitiva do mundo, para que possam crescer e ser orientadas por parâmetros sociais como inclusão e respeito à diversidade. Grandes ações iniciam com um simples sonho. Temos vários exemplos na história para ilustrar isso. A abordagem da Pedagogia da Cooperação nos desafia a descobrir caminhos diferentes para aprender junto, para conviver em harmonia, tecendo sonhos Como-Uns. (¹) (¹) A divisão das palavras é um recurso utilizado com o objetivo de chamar atenção para uma resignifica-ação de sentido/significado da acomoda-ação gerada pela repete-ação sem a plena atenção dada à palavra-ação. Durante o texto, essa provoca-ação será recorrente.
  • 7. 7 O problema impulsionador desta investigação foi a necessidade de buscar compreender como a Pedagogia da Cooperação pode promover ações e relações educativas, capazes de contribuir com a gestão de um projeto inovador que envolvesse crianças e jovens. Imbuídos deste espírito é que um grupo de quatro estudantes da Pós Graduação em Pedagogia da Cooperação foi até o município de Mendes, uma cidade no interior do estado do Rio de Janeiro com quase 20 mil habitantes, onde foi criada, com apoio do Instituto SICOOB, da Cooperativa de Crédito de Mendes e da Prefeitura local, a primeira Cooperativa Escolar do Estado, na Escola Municipalizada Prefeito João Gurito, pesquisar a aplicação da Pedagogia da Cooperação nas crianças que compõem o Grupo Gestor da Cooperativa Mirim União e Cooperação (UNICOOP). Será que a Pedagogia da Cooperação pode auxiliar a equipe gestora a promover uma gestão mais democrática, participativa e cooperativa? Como essa abordagem pode proporcionar reflexões para atitudes mais cooperativas? Essas foram questões que impulsionaram nossa pesquisa. Através de um roteiro com práticas e vivências, elaboramos e aplicamos em 20 horas presenciais uma Trilha da Cooperação para provocar autoconhecimento, ativar o sentimento de grupo, de pertencimento, de abertura e acolhimento das diferenças e necessidades de cada um, para, enfim, desafiá-los na criação de projetos de cooperação. Buscamos também pesquisar como a vivência desta abordagem pode ampliar o entendimento da cooperação nas crianças e se esse entendimento é capaz de gerar mudanças. Para tanto, elencamos alguns referenciais teóricos que são abordados no segundo capítulo onde são apresentados e discutidos: o Propósito, os Princípios, os Procedimentos e as Práticas da Pedagogia da Cooperação e as principais metodologias cooperativas utilizadas no percurso. Faz-se também uma explanação sobre o Cooperativismo enquanto alternativa de organização e ação econômica, que tem princípios e valores próprios bem delineados para, finalmente, apontar o Cooperativismo Escolar como uma modalidade da Educação Básica e como um projeto do Cooperativismo que tem no Instituto SICOOB seu principal apoiador visando fomentar em crianças e jovens a cultura da cooperação. Em seguida, no terceiro capítulo, é apresentada a metodologia da pesquisa, a contextualização do problema e os objetivos. No quarto capítulo é descrita a pesquisa em si, seu
  • 8. 8 planejamento, a aplicação, o que foi observado pelos pesquisadores e as reflexões suscitadas. Por fim, a conclusão apresenta as principais considerações dos pesquisadores e o fechamento do estudo, com a sugestão de novas pesquisas. Este estudo é, e continuará sendo, um desafio do nosso grupo, assumido com muito entusiasmo e espírito cooperativo. Mas, também, um convite! É um convite para apoiar iniciativas como essa que de forma colaborativa, através da Pedagogia da Cooperação, busquem seus sonhos.
  • 9. 9 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 PEDAGOGIA DA COOPERAÇÃO Para falar sobre Pedagogia da Cooperação, precisamos compreendê-la não apenas como uma filosofia ou um conjunto de métodos e técnicas, mas como uma abordagem, no sentido próprio da palavra que, segundo o dicionário é: “o termo utilizado para caracterizar um tipo de aproximação, seja entre pessoas ou coisas. No sentido figurado da palavra, abordagem também pode se referir ao comportamento, ou seja, o modo como esta pessoa compreende e lida com as coisas à sua volta.” (https://www.significados.com.br/abordagem/) Fica então compreendido que a Pedagogia da Cooperação pressupõe um olhar investigativo e apreciativo para o mundo, uma escolha muito peculiar de interagir conscientemente com e no mundo tendo como base a cooperação. Se analisarmos o mundo em que vivemos, tão cheio de desafios que afetam a vida do planeta como um todo: o aquecimento global, a extinção de espécies, a escassez de recursos minerais, as catástrofes ambientais, as doenças consideradas erradicadas voltando a nos ameaçar, a concentração de poder e de riquezas na mão de poucos e o estado de pobreza ou miséria ameaçando a muitos enquanto, paradoxalmente, desperdício de 1,3 bilhões de toneladas por ano de alimentos, a globalização, as disputas por poder, as guerras etc., veremos que existe um processo histórico que produziu este estado de coisas e que, por si só, não está dando conta de produzir as soluções necessárias. No entanto, nunca se viu um avanço científico e tecnológico tão grande e veloz como em tempos atuais. Ao olhar de forma investigativa e apreciativa a vida, tendo em vista a produção de conhecimento construído até o momento, é de se supor que nós, seres humanos, deixamos de fazer as perguntas certas, acostumados e influenciados pelas respostas já encontradas. Precisamos fazer novas perguntas, aumentar nossa curiosidade, formular novas questões a partir das respostas atuais. E a pergunta certa deve ser uma pergunta aberta, abrangente, ligada ao propósito da vida. Não apenas o meu ou
  • 10. 10 o seu propósito, mas o da própria vida planetária que é uma grande experimentação divina. E a vida é abundância e generosidade! Ter um olhar investigativo e apreciativo é se concentrar em fazer a pergunta que aposte na possibilidade de colocar luz no todo, mas direcionando o foco naquilo que é valoroso não apenas para um indivíduo ou grupo ou para uma organização, comunidade ou para a humanidade, mas para o planeta, numa visão sistêmica e transdisciplinar onde as fronteiras das disciplinas são rompidas e os fenômenos da natureza humana e o próprio homem são compreendidos em sua totalidade (Ser, Conhecer, Fazer, Viver Junto e Aprender), como bem nos explicita a Carta da Transdisciplinaridade, produzida no I Congresso Mundial de Transdisciplinaridade, realizado em Arrábida, Portugal, em 1984: Artigo 3: “(…) A Transdisciplinaridade não procura a dominação de várias disciplinas, mas a abertura de todas as disciplinas ao que as atravessa e as ultrapassa.” Artigo 7: A transdisciplinaridade não constitui nem uma nova religião, nem uma nova filosofia, nem uma nova metafísica, nem uma ciência das ciências.” O que temos visto em relação a toda sorte de problemas pelos quais o planeta sofre é que a maioria das pessoas (pessoas comuns) recebem propostas de soluções vindas do macro, criadas por especialistas que colocam o foco em uma parte do problema desconsiderando as interligações com a complexidade da vida. Não olham a situação buscando descobrir o que dela abunda. Ou seja, descobrindo as soluções que ali estão, prontas para serem reconhecidas, apreciadas e abraçadas. É fundamental pensarmos em soluções de forma colaborativa onde todos se sintam contemplados, buscando ouvir as pessoas que estão diretamente ligadas aos problemas e construir juntos as soluções. Diante disso, assistimos diariamente em diversos segmentos de inovação, a criação de espaços que promovem as soluções compartilhadas, trazendo a sociedade para ajudar a solucionar problemas de todos como Hackathon, Fábricas de Startups e diversas outras iniciativas. Há muita gente competente e comprometida, além de diversas iniciativas altamente colaborativas em todos os segmentos sociais, todos caminhando nesta direção. Mas o caminho é longo, vivemos um momento de muitas transformações, em
  • 11. 11 que estamos nos perguntando: “Como ser humano na era tecnológica?”. Sabemos que o aprendizado faz parte de um processo que se faz ao caminhar. É onde entra a importância da Pedagogia da Cooperação como peça fundamental na produção de mudanças. Pedagogia, porque prescinde de um ato educativo no sentido amplo da palavra. Uma educação que não se restringe à educação formal, acadêmica, onde trabalhamos para viabilizar a formação completa do ser humano em todas as suas dimensões. A VIDA é a matéria-prima da Pedagogia da Cooperação. Por isso, não está restrita ao ambiente escolar. Neste sentido, a educação é vista de forma ampla. É seara de todos nós, seres humanos que interagimos, independente do papel social que exerçamos. Diz, portanto, respeito a cada pessoa, grupo, organização e comunidade. Desta forma, educa-se pelo gesto, pelo olhar, pela atitude. Educa-se pela fala, pelo silêncio, pelo exemplo, enfim, como nos alerta o mestre Paulo Freire: “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”. A Pedagogia da Cooperação, por encarar a vida em toda a sua complexidade, é contínua, dialética e transcende os muros da escola. Somos educados por diferentes agentes desde o momento que nascemos até o momento da partida. O mais velho educa os mais novos e por ele é educado. A criança e o jovem exercem papel fundamental na vida de outras crianças e jovens e isso também é educação! E qual adulto já não se viu numa situação de ter que rever sua prática, seus valores, após uma ingênua pergunta de uma criança ou um questionamento de um jovem quando se depara com as incoerências do mundo? O momento em que vivemos mundialmente é um momento de transformações profundas e que por isso, todos que se percebem educadores precisam abrir-se para o diálogo, para a troca de experiências e informações. Brotto (2018) traz como referência para um processo de abertura as 4 Pequenas Virtudes: Desapego, Integridade, Plena Atenção e Abertura para Compartilhar, aspectos essenciais para que a Pedagogia da Cooperação possa florescer. Como vislumbrar um modo de vida mais justo e feliz para todos os seres da Terra se não percebermos que cidadania e educação são faces da mesma moeda? Esse pensar, nos remete ao conceito tão trabalho por Gadotti (2006), de cidade
  • 12. 12 educadora que a Prefeitura de Mendes, mesmo de forma embrionária, busca desenvolver ao implementar o Projeto de Cooperativas Escolares: (…) “a cidade pode ser “intencionalmente” educadora. Uma cidade pode ser considerada como uma cidade que educa, quando, além de suas funções tradicionais econômica, social, política e de prestação de serviços – ela exerce uma nova função cujo objetivo é a formação para e pela cidadania. Para uma cidade ser considerada educadora ela precisa promover e desenvolver o protagonismo de todos e de todas – crianças, jovens, adultos, idosos – na busca de um novo direito, o direito à cidade educadora”. A Pedagogia da Cooperação é provocação de quebra de paradigmas que tem um propósito bem definido. Deste propósito emergem princípios, procedimentos, processos e práticas. 2.1.1 O Propósito da Pedagogia da Cooperação A Pedagogia da Cooperação tem um propósito: “criar ambientes colaborativos onde cada pessoa, grupo, organização e comunidade possa VenSer plenamente quem É para poder SerVir mais completamente ao bem comum.” (BROTTO, 2018). Para isso, é necessário despojar-se das personas assumidas, tirar do caminho as “bagagens” acumuladas (títulos, posições, bens etc) para descobrir o verdadeiro eu. Esse verdadeiro Eu deve ser colocado à disposição do coletivo. Ao mesmo tempo, é necessário abrir-se para o desconhecido, deixá-lo ser quem realmente é e descobrir o que juntos podemos ser e fazer melhor. Focar no que temos em comum e não nas diferenças/ divergências nos aproximará das outras pessoas, outros grupos, outras nações. Partindo da premissa de que o propósito maior de todo Eu é a busca da felicidade, podemos dizer que essa busca pode conectar toda a humanidade. E aí residirá o verdadeiro sentido de globalização. Se eu descubro quem realmente sou e tu descobres quem realmente és, e nos encontramos verdadeiramente, perceberemos que a minha felicidade só será completa se a tua felicidade for alcançada. Juntos poderemos ser mais e melhor.
  • 13. 13 Juntos poderemos tecer uma teia humanitária baseada no propósito da Pedagogia da Cooperação que tem princípios, procedimentos, práticas e processos norteadores e facilitadores desta jornada, e que emergem de quatro campos, quatro tônicas da vida humana: a ciência, a arte, a tradição e o jogo. Se compreendermos ciência como todo o conhecimento construído historicamente pela humanidade a fim de melhor compreender o mundo e, portanto, mutável, refutável, constantemente em processo; como arte, toda materialização e manifestação estética de como este mundo vai sendo sentido, interpretado, significado e ressignificado; como tradição, nossa ancestralidade, nossas heranças, inclusive cósmicas, os arquétipos presentes no inconsciente coletivo das pessoas em todo o mundo, representando os motivos (propósitos) fundamentais de nossa experiência humana e como jogo, as interações, as conectividades, perceberemos o quanto a Pedagogia da Cooperação tem um carater UM-niversal. transdisciplinar e, portanto, está humildemente compromissada com o desvelamento de preconceitos e contradições. 2.1.2 Os Princípios da Pedagogia da Cooperação Os princípios da Pedagogia da Cooperação, juntamente com seus procedimentos, revelam os pilares sobre os quais ela se apoia. São princípios da Pedagogia da Cooperação: o princípio da Com-Vivência, princípio da Comum- Unidade, princípio da Cooperação e o princípio da Coexistência. a) Princípio da Com-Vivência Diz respeito ao acolhimento e à inclusão das diferentes ideias, sentimentos, visões, sensações, atitudes, comportamentos, valores e relações como matéria-prima primordial para a descoberta do genuíno eu e para a criação de estratégias conjuntas para dar conta da complexidade da vida, Busca compreender como a convivência se estabelece diferenciando-a em três níveis relacionais essenciais e complementares: a conversação, que é o diálogo estabelecido entre pessoas (é bilateral); a convivência vista como o produto dessa relação bilateral, gerando uma terceira pessoa (o nós) e, por fim, a construção que amplia em infinitas possibilidades aquilo que podemos realizar juntos.
  • 14. 14 Enquanto a conversação conecta as pessoas, gera empatia e abertura para o reconhecimento do outro e de si mesmo, a convivência trabalha na seara da tolerância às diversidades, gerando acordos e transformando conflitos. Desta forma, já não são duas pessoas se relacionando. Trata-se da geração de uma terceira pessoa, que não sou eu nem você, mas aquilo que somos juntos. É uma nova identidade, diferente daquelas que a compõe. A fase da construção requer planejamento, protagonismo, ação e cooperação. Representa tudo o que deliberadamente cada “eu” irá fazer para materializar o nós. Daí dizer-se que é na fase da construção que o Nós se expande em infinitas possibilidades. Quanto mais consciência se tem dessa identidade NÓS mais se cuida da relação na fase da construção para que não surjam nós a serem desatados. Aqui, muito nos faz recordar Edgar Morin porque coloca as instituições/relações no patamar da complexidade. Não há receita a seguir, não há tão pouca impossibilidade de compreensão. Há o desafio e a riqueza de se saber interdependentes. No campo educacional, ainda é esse filósofo que nos esclarece que nessa seara há que se pensar em dois aspectos da complexidade: educa-se na complexidade e para a complexidade. Ou seja, no ato de educar devemos ter claro que ali se estabelece uma arquitetura de convivência que é de natureza complexa porque capaz de promover o diálogo entre gerações, culturas e saberes visando o pensar de forma complexa posto que o objetivo do pensar complexo é, segundo Morin (2002) “exercer um pensamento capaz de lidar com o mundo real, de com ele dialogar e negociar”. Para o autor (2002, p. 24) “Todo conhecimento constitui, ao mesmo tempo, uma tradução e uma reconstrução a partir de sinais, signos, símbolos, sob a forma de representações, idéias, teorias, discursos. A organização dos conhecimentos é realizada através de princípios e regras que não cabe analisar aqui, comporta operações de ligação (conjunção, inclusão, implicação) e de separação (diferenciação, oposição, seleção, exclusão), O processo é circular, passando da separação à ligação, da ligação à separação e, além disso, da análise à síntese e da síntese à análise. Ou seja, o conhecimento comporta, ao mesmo tempo, separação e ligação, análise e síntese.”
  • 15. 15 As com-vivências estimuladas pela Pedagogia da Cooperação precisam ser ricas e ao mesmo tempo, de uma leveza extraordinária. Prova de que viver a complexidade é possível em um espaço ímpar de encontro consigo mesmo, com o outro, com seus ancestrais, com sua trajetória de vida vista por você mesma e pelo outro. Mesmo que a Pedagogia da Cooperação seja aplicada a um grupo, num curto período de com-vivência, é preciso buscar estabelecer elos pela valorização de todos. As regras (aqui chamadas de acordos) são tramadas a partir da própria necessidade de conviver. Não soam como imposições como ocorre na maioria dos espaços “educativos”. b) Princípio da Comum-Unidade Diz respeito à descoberta do(s) propósito(s) comum(ns) a um grupo, os acordos coletivos que emergem deste grupo, e das estratégias decididas coletivamente para que o(s) propósito(s) sejam alcançados, sem impedir, contudo, que cada um seja aquilo que é. O que caracteriza uma comunidade é o pertencimento. Por isso, ela pode ser de diferentes naturezas: de moradia, religiosa, de trabalho etc. E, por isso, também, é crucial que todos cuidem para que cada um se sinta integralmente pertencente ao grupo. O que diferencia uma comunidade de uma sociedade qualquer, são as possibilidades que aquela nos dá de sair do isolamento, pensar e viver coletivamente determinados valores, colocar a afetividade no centro das relações que ali são pessoais e diretas (tendo consciência que todos são afetados por todos), Historicamente, todos os povos em sua origem, viveram comunitariamente e isso foi se perdendo com o tempo. Hoje, a vida em sociedades já dá sinais de esgotamento. A humanidade, pela necessidade de buscar saída para: a escassez de recursos, as “brigas” por poder, a concentração de renda nas mãos de poucos e outros desafios que afetam os seres do planeta, já está construindo um novo estado de consciência. Os avanços tecnológicos, que por vezes são culpabilizados por afastar as pessoas, também têm contribuído enormemente por unir pessoas de todos os cantos do planeta. Hoje, já não causa espanto a ninguém a possibilidade que todos
  • 16. 16 temos de interferir, afetar a vida uns dos outros. Então, façamos isso de forma intencional e positiva! Para tecer uma vida em comum-unidade é necessário estabelecer a missão (o propósito da existência do grupo, diretamente ligado à identidade daquele coletivo), a visão (o que queremos/precisamos construir juntos a curto e médio prazo caminhando em direção à missão) e os valores (os princípios éticos que nos norteiam e nos unem) e traçar objetivos claros, elegendo prioridades que sejam exequíveis. Além disso, é necessário, de forma colaborativa, criar procedimentos claros que definam rotinas de reuniões, papéis das lideranças, formas de lidar com conflitos para que estes não sejam empecilhos, mas molas propulsoras da vida em comunidade porque capazes de despertar soluções criativas e ainda, definir como se relacionar com outras organizações e comunidades, Se pararmos para pensar, no “mundo empresarial” as organizações já trabalham nesta linha de raciocínio, definindo missão, visão, valores e objetivos ou metas. A diferença entre uma organização corporativa e uma comunidade é a dinâmica participativa de seus membros, Não raro, numa organização comum, a dinâmica segue um fluxo vertical enquanto numa comunidade, esse fluxo é/deve ser circular porque leva em conta a fluidez das relações e acontecimentos bem como a valorização, a escuta ativa e o cuidado de cada membro em todas as etapas do processo, o que veremos mais detalhadamente, no discorrer do texto. Abraçar o desafio de viver em comum-unidade é abrir-se para a mudança. Na verdade, para as mudanças porque ao quebrar-se um paradigma sempre seremos levados à necessidade de rever, ressignificar e vivenciar outros. Tudo é movimento! E este movimento é dinâmico, não linear, segue seu fluxo em espiral. Existe um ponto de partida, mas não há um ponto de chegada onde tudo é conforto e estabilidade. Como viver isso de forma harmônica e produtiva, sem cair nos esquemas esquizofrênicos da sociedade que ainda vivemos: uma sociedade patrilinear, hierarquizada, que desrespeita as diferenças, que é belicosa, desconexa da natureza e onde o consumismo, a culpa e o medo da morte imperam? A Dinâmica da Espiral é uma teoria do desenvolvimento humano criada pelo cientista social Don Beck e por Chris Cowan, baseada nas pesquisas de Clare W. Graves, que discorre sobre os níveis de desenvolvimento da consciência individual, a
  • 17. 17 partir da própria evolução da consciência coletiva da humanidade (antropogênese) que pode servir de suporte ao princípio da comum-unidade. O conceito básico da Dinâmica da Espiral é que nós temos uma inteligência adaptativa e complexa, que se desenvolve em resposta às nossas condições de vida e desafios que temos a enfrentar. Para onde direcionamos o foco na nossa vida, estarão pulsando os mecanismos e a inteligência coletiva, que Dr. Beck chama de mêmes, como possibilidade de avanço. Figura 1 – Dinâmica da Espiral . Fonte: www.spiraldynamics.com Entende-se hoje que existem 8 níveis (mêmes) de evolução do ser humano. Cada même representa determinados códigos de sobrevivência, mitos de origem, formas artísticas, modos de vida e sensos de comunidade distintos.resultado da interação entre as forças sócio-ambientais e o equipamento neuropsicológico humano apropriado, definindo assim, a cultura dos grupos, países, organizações e refletindo o lugar que ocupam no planeta. Esses mêmes estariam ligados tanto aos estágios evolutivos da humanidade quanto às diferentes etapas da vida humana e são representados por cores: ● Bege - Focado na necessidade de sobrevivência. As preocupações estão basicamente voltadas para a busca por água, comida, abrigo, sexo, segurança. É um modo de pensar que remete ao homem primitivo ou arcaico: a sobrevivência instintiva está em primeiro lugar. Ligado ao mundo físico. No indivíduo, corresponde à fase que vai do nascimento até os 18 meses, aproximadamente.
  • 18. 18 ● Púrpura - Focado na busca por harmonia e segurança num mundo misterioso. Remete ao homem tribal. A tônica é a lealdade ao clã e o pensamento mágico. Comportamento obediente, ligado ao mundo dos símbolos onde o real e o imaginário estão muito próximos, quase não se distinguem. Equivale a fase que vai de 18 meses a 4 anos. ● Vermelho - Focado nos valores individuais. O eu é distinto da tribo. Comportamento guerreiro, hedonista; agressivo/impulsivo, dominante. Ligado ao mito do Herói. Pensamento egocêntrico e beligerante. Típico do momento histórico das Grandes Descobertas e expansão colonialista e/ou imperialista. Equivalente à fase que vai dos 5 ao início da adolescência. ● Azul - Focado nos valores tradicionais, na lei e na ordem; busca direção, propósito e significado para a vida. No entanto, crê que os eventos são determinados por um Outro ou Ordem Superior. Punições à violação do código de conduta, recompensa à obediência, controle da impulsividade através da culpa. Interpretação literal de escrituras “sagradas” são típicas desse estágio. O Comportamento é etnocêntrico, direcionado pela idéia de certo/errado, bom ou mau. Segue hierarquia. A tônica é o pensamento mítico. Equivalente à fase da juventude e ao início da fase adulta. ● Laranja - Motivado pelo sucesso. Manifesto no estilo de vida característico da idade Moderna. Indivíduo auto-orientado; racional, científico, competitivo. Verdades e significados em termos individualistas e científicos. O Mundo é interpretado como máquina cujas leis podem ser apreendidas, controladas e manipuladas. O mundo é como um jogo onde vencedores e perdedores disputam privilégios. A tônica é o pensamento científico, a razão. Corresponde à fase adulta. ● Verde - Pós-moderno, orientado pela noção de pertencimento ao mundo, empatia e sensibilidade; justiça, paz, preocupação ecológica. Guiado pela sensibilidade. A tônica é a pluralidade. Pensamento subjetivo, não linear. Antidogmático e anti-hierárquico. Equivalente à fase adulta. ● Amarelo - Sistema de valores integrais; vê o todo, reconhece o valor de cada um dos sistemas anteriores; orientado de dentro para fora, não segue hierarquia. É interativo, criativo. Conhecimento e competência substituem poder e status. A tônica é a flexibilidade e a fluidez. O pensamento é elaborado
  • 19. 19 em bases sistêmicas, interativas e ecológicas. É o tipo de consciência que começou a despertar na humanidade há cerca de 50 anos. Equivale à fase adulta. ● Turquesa - Mente coletiva; individualizado mas integrado no Todo. Aberto a Insights. Vive e pensa para além de nacionalidades e partidos. A tônica é a compaixão e a busca por harmonia. Une sentimento e conhecimento. Tem como base o pensamento holístico, busca a emergência de uma nova espiritualidade – teia de toda existência. Utiliza-se a forma espiralada para representar a evolução da consciência humana por ser esta uma estrutura dinâmica que mapeia nosso sistema de pensamento conforme ele atinge cada vez mais altos níveis de complexidade. Ao identificar em que nível um indivíduo, organização ou até país está e para que nível se deseja ir, é possível dar os estímulos necessários para propiciar um ambiente de mudança favorável. A teoria da Espiral da Mudança nos dá uma ideia do quanto é, ao mesmo tempo simples e complexo vivenciá-la. Vivenciá-la de forma consciente é que é o grande segredo. E quando o assunto é a vida em comunidade, a que se ter em mente que existe uma jornada que é individual e outra que é coletiva. Daí a importância de se investir continuamente: ● em processos de autoconhecimento, para que cada um perceba em que ponto da espiral está em relação à missão, à visão e aos valores elencados pelo grupo e descubra onde suas habilidades podem favorecer a evolução do grupo e onde vai precisar se fortalecer no grupo para viver sua evolução; ● em processos grupais, para gerar empatia, acolhimento às diferenças e aos diferentes estilos de aprendizagem, acordos de convivência e fortalecimento da identidade coletiva – detectar onde o grupo, não mais cada indivíduo, está na espiral da mudança em relação à sua missão, visão e valores, clarificar o caminho que se tem a seguir; ● em metodologias colaborativas para planejar esse caminho, elencando prioridades, transformando conflitos, revisitando os acordos estabelecidos;
  • 20. 20 ● na sistematização da estrutura desse coletivo como um organismo vivo, em constante transformação e evolução, onde o poder não emerge de uma pessoa ou subgrupo, mas nasce e flui na interação e é descentralizado; ● no estabelecimento de rotinas e tarefas; de papéis a serem desempenhados, favorecendo o surgimento de lideranças temporárias e eleitas; ● em processos de tomada de decisão por consenso ou por consentimento; ● em procedimentos e processos de avaliação para a partir daí, manter ou reformular a estrutura do coletivo e/ou suas rotinas, tarefas, lideranças etc. ● em processos contínuos de comunicação. Em toda organização, mas, principalmente numa comunidade, a comunicação é fundamental para manter a chama acesa quanto à missão, à visão e aos valores elencados, evitando-se a triangulação e favorecendo a transparência e acessibilidade. ● manter registros das reuniões e acordos, cuidar para que a comunicação seja clara, acessível a todos e verificar o nível de entendimento de cada um garantindo feedbacks claros, pessoais, regulares e específicos. O óbvio precisa ter lugar na comunicação em comunidade! Percebe-se a complexidade da vida em comunidade, do estabelecimento de acordos e tratamento de conflitos via diálogo e aberturas de pontos de vista. Não é tarefa fácil ou simples, e requer força de vontade e certeza no propósito, no caminho para manter a busca da unidade como guia. c) Princípio da Cooperação Diz respeito ao compromisso de questionar a competitividade, o individualismo, a rivalidade tão arraigados em nossa sociedade, resgatando a natureza ancestral do congraçamento e da partilha uma vez que o que se almeja é o bem comum. A cooperação está intimamente ligada ao resgate dos sentimentos de pertencimento, de respeito e confiança mútuos. Segundo Morin (2003) “O todo é maior do que a soma das partes. O todo é maior, porque contém algo que não existe nas partes: as relações entre elas.” Falar em cooperação como um princípio é cuidar dessas relações. É conscientemente, perceber que sempre estamos cooperando com algo. Importante é decidir: Com o quê desejamos cooperar?
  • 21. 21 Sennett (2015), em seu livro Juntos, nos mostra que a cooperação está presente em nossas origens, manifesta na nossa genética e na ancestralidade que habita nosso inconsciente desde o início da jornada do desenvolvimento humano. É duradoura porque perpassa gerações, mas é também, passível de consertos através da escolha de sermos melhores em nossa humanidade. Ter a cooperação como um princípio é se propor a dar um salto na espiral da mudança (do même verde para o amarelo e assim sucessivamente), é ter a coragem de se comprometer com a busca de um novo estado de consciência através de ações que analisem questões em bases sistêmicas, interativas e ecológicas, reconhecendo o valor de cada um e crendo no potencial de todos enquanto um time. A flexibilidade e a fluidez dos processos estabelecem a confiança no poder da energia que emana do grupo numa jornada interativa e criativa na busca conjunta de soluções para questões inerentes a ele. Não se trata de convencer o grupo a aplicar soluções já conhecidas ou adaptá-las, mas de encorajá-lo a apostar na possibilidade de, conjuntamente, ousarem soluções nunca imaginadas quando feitas de forma individual e, desta forma, respeitando o que é possível aqui e agora. Estamos em constante crescimento, aprendizado, desenvolvimento, e todas os eventos que nos ocorrem influenciam nosso Ser. O conceito de autopoiese, introduzido por Maturana e Varela (2005), fala que um ser é capaz de produzir-se a si próprio. Sua estrutura está sempre se modificando. A mudança, o fluxo incessante de matéria e energia, permite o crescimento, o desenvolvimento e a evolução do sistema. Apoiados nessa definição, percebemos que o meio influencia o ser humano, assim como este influencia o meio. Somos ao mesmo tempo criadores e criaturas de nós próprios, organizados em cidades, organizações, grupos, meios que nos formam e que também influenciamos. A cooperação, como processo orgânico e evolutivo, acompanha o processo de vida-morte-vida de perto, em que cooperar significa entender a si mesmo e entender ao outro, abrir mão de espaços conhecidos e adentrar nas sombras de si mesmo, rever (pré) conceitos, certezas, investigar crenças e acolher o novo. É lidar com o diferente em relações de diálogo, entendendo que julgamentos e incômodos existem e apontam para necessidades e valores profundos em nós mesmos. Como expressar tais sentimentos de forma harmônica? Cooperar significa também amar, que é aceitar o outro ao nosso lado, sem razão, sem exigências, como fala Maturana (2004).
  • 22. 22 No contexto desta pesquisa, cumpre distinguir colaboração de cooperação visto que no âmbito das Cooperativas, essa distinção é evidenciada. Neste tipo de organização, a cooperação é vista como circular, como um trabalho em equipe, num processo de interação contínua, onde todos os membros do grupo trabalham para construírem juntos suas ideias e desenvolverem determinado trabalho de forma coletiva, visando alcançar um objetivo comum enquanto que a colaboração pode ocorrer em estruturas hierarquizadas, com papéis e funções bem definidos, podendo ser relacionada com contribuição. Sob este ponto de vista, o conceito de cooperação é mais complexo do que o de colaboração, na medida em que a colaboração está incluída nele, mas o contrário não se aplica. De fato, dentre o grupo de pessoas que trabalham em uma Cooperativa, há os cooperados – sócios igualitários que definem em conjunto os rumos do negócio e o executam e os colaboradores – funcionários que prestam serviços à Cooperativa não participando dos processos decisórios. A cooperação deve também ser estendida para outras formas de vida, da manifestação da integralidade, do pertencimento da espécie humana ao planeta Terra. É desenvolver relações de respeito e simbiose com pessoas, ambientes, animais, com o ambiente à nossa volta, respeitar cada um e cada espaço. É equilibrar as energias existentes, harmonizar o yin e o yang, integrar o que é chamado de energia feminina do acolhimento, da escuta, da amorosidade, do carinho e da reflexão ao Ser, perceber que somos feitos de polaridades e dualidades, e que precisam ser equilibradas. Ao manter-se em equilíbrio, fica mais fácil a abertura para o outro, já que podemos reagir de um lugar mais centrado, e menos extremo. d) Princípio da Co-existência O princípio da coexistência diz respeito à existência simultânea, logo, à interdependência entre tudo e todos que existem. Seguindo esta lógica, tudo o que um ser humano pensa, sente, faz afeta cada um dos diferentes seres vivos, tudo o que compõe o planeta e o universo, da mesma forma como teve seu surgimento e tem sua permanência afetados por estes. Dar-se conta deste princípio, pode potencializar os demais porque os coloca em constante diálogo. Tudo está conectado mesmo que não percebamos isso.
  • 23. 23 Nós, seres humanos, somos um projeto em construção e, portanto, inacabados. Das nossas experiências dependem não apenas o nosso próprio bem-estar como o bem- estar da humanidade, do planeta e o cosmos. Ao mesmo tempo que nos vemos como bebês, comparados à idade do Universo ou mesmo do planeta, nos percebemos como aquele filho que precisa honrar e cuidar desses anciões. E para encarar essa missão colossal de cuidar e honrar a Terra e de se perceber co-partícipe do Universo, muitos paradigmas da vida, da relação que estabelecemos conosco mesmos, com os entes mais próximos, com o trabalho e a comunidade, com nosso país, com outros países, com a natureza, e com nossa espiritualidade, vão sendo analisados, questionados e transformados. Nesse sentido, destacamos a análise feita por Riane Eisler ao propor uma leitura dessas relações sob o prisma do continuum parceria/dominação, em seu livro: O poder da parceria. Nesta obra, a autora “mostra as conexões entre nossos problemas pessoais e os problemas globais que se amontoam ao nosso redor, e mostra como um eu mais feliz está interconectado com um mundo melhor.” (EISLER, 2007, p. 12) Assim, nos apresenta dois modelos: o de dominação/controle e o de parceria/respeito. Ambos presentes em nosso cotidiano bem como na história da humanidade, cabendo-nos identificá-los para criarmos nossa forma de estar no e com o mundo. No primeiro modelo, vemos uma estrutura social autoritária, rígida e hierarquizada onde há uma supervalorização dos homens em relação às mulheres e o controle e a conquista de pessoas e da natureza se faz presente. Um modelo onde o medo e a violência são naturalizados em todos os âmbitos da vida e o sistema de crenças é baseado no culto à dor e ao medo, inclusive ao medo da dor como forma de controle. Já no segundo modelo, vemos uma estrutura social igualitária onde a hierarquia é baseada na realização que pressupõe a liderança compartilhada por visar níveis melhores de funcionamento. Neste modelo, homens e mulheres são valorizados igualitariamente e atividades e características como empatia, não- violência e atenção cuidadosa são atribuídas a homens e mulheres bem como estão presentes nas políticas sociais. É um modelo baseado no culto ao prazer visto como “a alegria do amor, a realização da gentileza e da partilha, o maravilhoso respeito pelo
  • 24. 24 milagre da vida e da natureza, e o êxtase dos estados superiores de consciência.” (EISLER, 2007, p. 196). Pesquisas científicas, e estudos arqueológicos evidenciam que o modelo de parceria remonta a datas longínquas enquanto o modelo de dominação é mais recente, característicos do patriarcado; o que corrobora com a ideia de que somos seres colaborativos e não violentos, por excelência. Dado o momento atual que vivemos, onde os recursos hídricos do planeta se esgotam, onde esgotam-se também os minérios e vivemos sob constante e acelerada mudança climática; onde os indivíduos adoecem e a própria sociedade dá sinais de adoecimento face às desigualdades, há que se pensar no princípio da coexistência como a linha que enredará o futuro. Neste ponto de reflexão é que cumpre ressaltar a diferença entre moral e ética, dois conceitos distintos, mas que se confundem em nosso dia a dia. Ambos, etimologicamente, ligados à palavra costume. Costumes são construídos socialmente, baseados em valores. Acostuma-se a agir desta ou daquela maneira. Valoriza-se, assim, esta ou aquela maneira de agir. E então, se diz que isto é bom, e aquilo é ruim; isto é certo e aquilo errado. Desta forma, nasce a moral como um conjunto de regras e valores impostos, de tão costumeiros. A moral tem um caráter normativo, portanto, é ela que rege a vida em sociedade. No entanto, se questionamos com profundidade, buscando descobrir a consistência dessas regras, estamos falando de ética. A ética, para exercer sua função de questionar, baseia-se em princípios que visam o bem comum e dizem respeito à dignidade humana. Pela ética, pensa-se criticamente e verifica-se a consistência das regras sociais propondo mudanças. Segundo a filósofa e educadora Terezinha Rio, são princípios éticos: ● o respeito, entendido como o reconhecimento da existência do outro, de que a sociedade é composta de diferentes sujeitos. É a tomada de consciência da existência em si, de que o outro é constituinte da minha identidade levando-se em conta a auteridade; a justiça, entendida como igualdade na diferença, garantia de direitos iguais para os diferentes. Segundo ela, o contrário de igualdade não é diferença e sim, desigualdade;
  • 25. 25 ● a solidariedade, entendida como o pensar no outro independente de castigo ou premiação; ● A ética, portanto, reflete, questiona os valores morais baseada na arte do bem viver. É a ética que pode garantir a renovação da moral. Ela não está em manuais; Segundo Mario Sergio Cortella, a ética baseia-se em três perguntas: Devo? Posso? Quero? Que busca responder levando em conta os princípios citados acima. É, portanto, um ato de liberdade e capaz de gerar mudanças. Podemos dizer então, que o aparente caos que vivemos hoje, as crises e conflitos evidentes são, na verdade, frutos de um momento ético, ou seja, de questionamentos da moral, das regras vigentes porque estas não estão mais dando conta da complexidade da vida planetária. E que portanto, dela nascerá uma nova moral, mais ajustada aos princípios éticos de respeito, justiça e solidariedade, tão presentes no propósito da Pedagogia da Cooperação: “VenSer para SerVir”. 2.1.3 Os Procedimentos De mãos dadas com estes princípios, temos os procedimentos da Pedagogia da Cooperação, que nos mostram caminhos, “formas” de fazer os princípios acontecerem. São eles: a) Círculo e Centro – O centro geralmente é marcado com objetos que representam o propósito do grupo, remetendo-os sempre àquilo que os uniu. Em volta deste centro, o grupo se reúne em círculo para que a energia flua, para que todos se vejam, se conectem, foquem e cuidem daquilo que o centro representa. O centro também representa uma tradição antiga, dos tempos em que os humanos se reuniam em volta de uma fogueira para partilhar e interagir em grupo; b) Ensinagem Cooperativa - estímulo à convivência, compartilhamento de vivências, escuta atenta, empatia; busca pela consciência proporcionando momentos de reflexão e interiorização; criação de momentos propícios à comunicação de insights,
  • 26. 26 sentimentos e sua escuta ativa; busca pela transcendência, incentivando a conexão das vivências e experiências realizadas com a sua vida em outros grupos; c) Do mais simples para o mais complexo – ter sempre como referência que estamos trabalhando/propondo uma mudança de paradigma. Portanto, é necessário preparar o terreno com atividades de autoconhecimento, reconhecimento do outro para, gradativamente ir incluindo atividades e desafios mais complexos; d) Ser Mestre - Aprendiz – ter humildade, incentivar a criação de novas maneiras de fazer, estar aberto ao novo, ver-se como pertencente ao grupo como um mais experiente, mas que por crer que a aprendizagem se dá na troca e na convivência, não sairá de uma atividade da mesma forma que chegou; e) Começar e Terminar Juntos – trabalhar a noção de pertencimento sempre reunindo o grupo no início e no fim da atividade. De preferência, em círculo. Este procedimento, em nossos encontros, tanto serve para recordar o vivido no dia anterior preparando- se para um próximo dia, como para partilha de sentimentos, insights entre atividades. Mantém o fluxo energético do grupo. Diz respeito também ao cuidado para que as atividades e vivências planejadas permitam a inclusão de todos, do começo ao fim. 2.1.4 Os Processos Os processos e as práticas, referem-se à experimentação, revelam os caminhos a serem percorridos, as metodologias e práticas já desenvolvidas para que os princípios e procedimentos sejam vivenciados e internalizados, gerando as transformações necessárias à consecução do propósito de VenSer para SerVir. Dentre os Processos da Pedagogia da Cooperação podemos citar: Jogos Cooperativos, Danças Circulares, Diálogo, Comunicação Não-Violenta, World Café, Open Space, Dragon Dreaming, Investigação Apreciativa, Práticas Meditativas, Processos Circulares, Oásis, MusiCooperação, Design Thinking, Transformação de Conflitos, Mesa e Cadeira, Change Lab, Terapia Comunitária, Aprendizagem Cooperativa, etc.
  • 27. 27 Como podemos ver, a Pedagogia da Cooperação, como abordagem, se aproxima, dialoga e acolhe diferentes metodologias colaborativas, aqui vistas como processos porque utilizadas num contexto mais amplo onde uma metodologia pode se seguir a outra e outra, de forma coerente, preservando-se integralmente as características de cada uma. Isso se deve ao caráter inclusivo da Pedagogia da Cooperação que é fruto do pensar coletivo de brasileiros, mas que abarca diferentes contribuições de diferentes culturas. Cabe ao focalizador, escolher dentre estes processos, o que melhor se adequa a cada grupo. objetivo, tempo que terá para focalizar e à natureza de cada uma das sete práticas da Pedagogia da Cooperação. 2.1.5 As Práticas As Práticas da Pedagogia da Cooperação representam o passo a passo, o itinerário a ser percorrido, as etapas fundamentais desta abordagem. São a coluna vertebral do trabalho a ser desenvolvido, sua estrutura. São a materialização, a densificação dos princípios e procedimentos já descritos acima, traduzidos em um percurso a ser realizado. São elas: a) Fazer Com-Tato | Saber Conectar - Conjunto de Atividades e Processos que sirvam ao objetivo de proporcionar a conexão de cada elemento do grupo consigo mesmo e com os demais, gerando: autoconhecimento e conhecimento do outro, empatia e descoberta ou reconhecimento das potencialidades individuais. Essas potencialidades que serão, ao longo do percurso, colocadas a serviço do bem comum. Nesta primeira etapa, começa a ser gerado o embrião da consciência de grupo, dessa “entidade” que chamamos Nós e da noção de pertencimento. É também nesta etapa que se honra a história de vida de cada um, que temos contato com nossos modelos mentais, nossas crenças adquiridas, herdadas e aprendidas; que reafirmamos valores, que honramos nossa ancestralidade mas firmamos compromisso com a autonomia, com a possibilidade de quebrar padrões para seguir adiante como autor consciente de sua história pois como bem diz Eduardo Galeano: “Os cientistas dizem que somos feitos de átomos, mas um passarinho me contou que somos feitos de histórias“;
  • 28. 28 b) Estabelecer Com-Trato | Saber Cuidar - Refere-se a Atividades que visem a garantia de uma con-vivência saudável, É um acordo coletivo baseado: no acolhimento das necessidades de cada um para estar bem no grupo; no respeito ao diferente; no acolhimento genuíno de cada necessidade exposta (sem censuras, sem descartar qualquer desejo); na empatia e na tolerância. Não é um conjunto de regras pré-estabelecidas, baseadas em padrões de comportamentos aceitáveis socialmente, mas algo que nasce, que aflora dos anseios de cada elemento do grupo e que por ele é acolhido na dimensão do cuidar. Uma vez estabelecido o Com-Trato, todos assumem o compromisso de cuidar para que cada item ali colocado seja contemplado durante todo o processo. É saudável que de tempos em tempos, esse Com-Trato seja revisitado como forma de lembrar ao grupo o que se combinou ou como proposta de revisão. , Se assim for o desejo do grupo, pode-se suprimir ou acrescentar algo posto que trata-se de um acordo de convivência vivo como viva é a Pedagogia da Cooperação. Se primamos por interação e buscamos cada vez mais qualidade nas relações, é natural que, conforme a consciência de grupo vá sendo aflorada, necessidades antes prementes deixem de ser e outras necessidades surjam. A análise dessas atualizações, pode servir, inclusive, como indicativo de como o grupo está caminhando na construção do Nós. O Com-Trato pode, inclusive, ser revisitado antes de cada uma das 7 práticas da Pedagogia da Cooperação caso haja um intervalo considerável de tempo entre um encontro e outro. c) Compartilhar In-Quieta-Ações | Saber Compartilhar - As in-quieta-ações acontecem por meio de um rico processo de cocriação focado nas questões mais vivas e nos desejos de saber, de agir e de inter-agir de todo o grupo. O objetivo é “colocar na mesa” tudo que inquieta os participantes, evitando julgamentos e escutando para compreender. O trabalho com as inquietações pode ter um tema norteador (desde que faça sentido para todo o grupo) ou deixar livre para que as questões mais importantes das pessoas apareçam. Aprendizagem Cooperativa, Jogos Cooperativos e Diálogo são uma das metodologias colaborativas indicadas. Importante se faz compartilhar perguntas, dúvidas, inquietações e incertezas sobre o tema/foco do encontro. Inspirados pela pergunta: “O que queremos descobrir juntos?”, olhamos para questões provocativas, instigadoras e que despertem a curiosidade e a habilidade de
  • 29. 29 fazer e receber perguntas sem preocupação com as respostas. Manter o foco na produção de perguntas, sem preocupação alguma com respostas, nem com a seleção de “boas” perguntas é o ponto alto para que as in-quie-tacões se apresentem de forma latente e saudável. “Cada pergunta é como se fosse um cristal refletindo todas as demais. Cada pergunta inclui todas as outras. É como um “fio de meada” onde puxando-se uma todas as demais vêm juntas” (BROTTO, 2018). d) Fortalecer Alianças e Parcerias | Saber Confiar. - O momento de alianças e parcerias é crucial porque significa uma pausa no processo costumeiro de perguntar- e-responder. Aqui, as pessoas são convidadas a jogar algum jogo ou vivenciar alguma experiência que ajude a despertar nelas o espírito co-operativo. Geralmente, aplicar atividades cujo objetivo seja impossível de se realizar sozinho são efetivas. A formação de alianças pode se dar também por meio de um processo de aglutinação dos participantes em torno dos temas e inquietações surgidas na etapa anterior. Essa movimentação precisa ser espontânea, evitando-se as imposições. Nesta etapa, busca-se exercitar habilidades de com-vivência (autonomia, parceria, respeito mútuo, confiança, empatia, inclusividade, etc) para restaurar e/ou fortalecer as relações de parceria e cooperação no grupo. Dar autonomia e fortalecer os laços são passos de extrema importância para que o processo possa crescer organicamente. A pergunta que inspira esta etapa é “o que nos fortalece e nos torna como-um?” Utiliza-se atividades desafiadoras, intensas e impossíveis de realizar individualmente para costurar os laços. Jogos Cooperativos,Danças Circulares,Comunicação Não Violenta, Práticas Meditativas, Transformação de Conflitos e Atividades dos Povos Tradicionais, são metodologias colaborativas indicadas. e) Reunir Soluções Como-Uns | Saber Cocriar. - Esta etapa visa identificar no grupo as possibilidades de soluções para as inquietações percebidas. Refere-se a praticar a escuta ativa, a inclusão de ideias e a abertura para o novo. A identificar olhares, escutar propostas, expandir as possibilidades, é o entendimento do que o grupo consegue criar, e não apenas o individual, pesquisando o que há entre o indivíduo e o grupo. Retomamos as inquietações compartilhadas, críticas, comentários, dicas, insights e abrimos o diálogo para olhar para tudo, para identificar possibilidades de soluções. A partir de cada ponto de vista, novos cenários vão se abrindo, permitindo
  • 30. 30 acolher outras opiniões e sugestões, criando algo novo. Várias metodologias podem ser aplicadas nesse momento como World Café, Dragon Dreaming, Investigação Apreciativa, Diálogo, dentre outros. f) Realizar Projetos de Cooperação | Saber Cultivar. - Os projetos são a materialização das intenções definidas. Trata-se de estabelecer um plano de ação da solução levantada a partir da cooperação entre os membros. É importante pensar no mínimo passo elegante a ser tomado, qual a ação mais imediata e de fácil execução que já é possível colocar em prática. É sobre aplicar força no sistema e colocá-lo em movimento, em provocar o novo e a experimentação, sair da inércia e ser um agente ativo. O que pode ser feito no dia a dia sem muito esforço, mas simples e significativo? Quais são as ações mais assertivas que o grupo pode cooperativamente executar? Atividades objetivas, divertidas e prazerosas. g) Celebrar o VenSer | Saber Celebrar Reconhecer a cada passo da caminhada as aprendizagens pessoais e coletivas conseguidas. Celebrar o exercício do VenSer quem se é para poder SerVir melhor ao mundo. Uma pergunta inspiradora para esta prática é “Quem Eu Sou mais plenamente agora e quando sirvo mais inteiramente ao outro?” Nesta última prática é fundamental que criemos um ambiente com condições favoráveis para a autorreflexão, focando a expressão do VenSer Juntos. Incentivar a celebração de cada pequeno gesto de autenticidade, colaboração, espontaneidade e convidando cada pessoa para reconhecer comportamentos que cultivem o VenSer para SerVir. Conclui-se que a Pedagogia da cooperação é uma abordagem que pretende ter um olhar diferenciado para todas as situações, grupos e para a vida planetária. Um olhar que se abre para a vida e suas possibilidades. E mais, é traduzir esse olhar em atividades práticas e instigações que façam emergir do grupo as possíveis ações para o momento. Ou seja, levar em conta: a diversidade, a diversão, a presença verdadeira para fazer um mergulho em si mesmo, na alma do grupo, nos conhecimentos já construídos, nas habilidades desenvolvidas, nas questões que borbulham ali para então, ver emergir cada um mais inteiro consigo mesmo, reconhecendo o valor da comum-unidade e os laços que os unem a ela e, por
  • 31. 31 conseguinte, comprometendo-se a traduzir essa magia em modos mais colaborativos de ser e viver. 2.2 METODOLOGIAS COLABORATIVAS UTILIZADAS NA PESQUISA 2.2.1 Jogos Cooperativos Os Jogos Cooperativos nascem da inquietação e da necessidade percebida de se propor uma mudança do paradigma da competição e do mérito individual, tão arraigados em nossa sociedade contemporânea, para o desafio de vivenciar e construir modos de estar no mundo onde as diferenças individuais possam ser valorizadas em prol do coletivo e não como meio de opressão. Reinaldo Soler (2006, p 110) define os Jogos Cooperativos como: Jogos onde os participantes jogam com os outros, ao invés de uns contra os outros. Joga-se para superar desafios. Os jogos cooperativos são jogos de compartilhar, unir pessoas, despertar a coragem para assumir riscos, geram pouca preocupação com o fracasso ou com o sucesso como fins em si mesmo. Eles reforçam a confiança mútua e todos podem participar autenticamente. Ganhar e perder são apenas referências para o contínuo aperfeiçoamento pessoal e coletivo. Segundo Orlick (1989, p.123) “O objetivo primordial dos jogos cooperativos é criar oportunidades para o aprendizado cooperativo e a interação cooperativa prazerosa”. Correia (2007, p. 154) aponta que os jogos cooperativos “são atividades baseadas na cooperação, na aceitação, no envolvimento e na diversão, tendo como propósito mudar as características de exclusão, seletividade, agressividade e de exacerbação da competitividade predominantes na sociedade e nos jogos tradicionais”. Quando o foco majoritário está no indivíduo, aspectos coletivos como: diálogo, acesso e partilha de sensações e sentimentos, garantia de espaços de troca e escuta genuína são poucos lembrados, e por vezes, negligenciados. Por isso, o jogo cooperativo, além de ser jogado/vivenciado, precisa gerar reflexão. Sua prática requer um momento de compartilhamento de sensações. É
  • 32. 32 preciso que os participantes possam refletir sobre tal vivência, compartilhar seus sentimentos com o grupo - o quanto se sentem motivados ou mesmo incomodados pela situação de não competição. A medida em que essa reflexão avança, e os sentimentos afloram, pode-se agir, pensar e olhar para o mundo, para o outro com olhos e corações mais abertos, e compreender que no jogo da vida podemos e devemos VenSer juntos. É preciso cuidar da beleza do processo. Este é que é transformador! Em um contexto em que a competição atua como modus operandi normal da sociedade, com promoção do individualismo, os reflexos são vistos na forma de desigualdades, exclusões e situações de dominação e preconceitos. Nesse sentido, a prática de jogos cooperativos pode resgatar valores coletivos, no trabalho conjunto e na construção de um cenário de inclusão e aceitação (BROTTO, 1999; 2001). Os jogos cooperativos trazem a reflexão sobre a sociedade em que vivemos, e o quão estamos inseridos em contextos de competição, em tendências individualistas que mantém as desigualdades sociais. Jogos competitivos reforçam o sentimento de exclusão e de ser um perdedor por falta de habilidade e favorecem a desconfiança, as barreiras e o individualismo. Os jogos cooperativos permitem que sejam criadas novas aprendizagens educativas, com a constituição de um novo modelo de conduta social e valores humanos (PALMIERI, 2015). Nos jogos cooperativos, a associação entre movimentar-se e pensar, pensar e agir é elevada ao patamar da coletividade. Então, vencer de alguém deixa de fazer sentido e cede lugar ao vencer com. Toda a sensação interna de desconforto/desafio que se deve vivenciar individualmente em outros jogos, aqui é/ deve ser diluída, compartilhada, resolvida pelo grupo e em prol dele. Por isso, dialogam tão bem com a Pedagogia da Cooperação. Trabalham, de maneira que pode parecer despretensiosa devido seu caráter lúdico, as subjetividades humanas e ajudam a construir o senso de Comum-Unidade de uma forma ímpar pois capaz de unir mente e corpo nessa empreitada. Em jogos cooperativos, as risadas são mais constantes do que em um jogo competitivo e o ambiente do grupo é mais leve e alegre, já que não há o sentimento de exclusão, não há o medo de perder e ser afastado do grupo. Ao desconstruir aspectos essenciais da sociedade de forma lúdica, os jogos cooperativos se mostram
  • 33. 33 como importante prática no desenvolvimento de grupos e da sociedade como um todo, em contraponto com os atuais jogos populares. Soler lista as diferenças entre os jogos competitivos e os jogos cooperativos, indicando as características de cada tipo de jogo. Percebe-se que nos jogos cooperativos o coletivo é mais enfatizado, bem como a construção do grupo. Tabela 1 – Jogos Competitivos e Jogos Cooperativos JOGOS COMPETITIVOS JOGOS COOPERATIVOS Divertidos para alguns Divertidos para todos Sentimento de derrota Sentimento de vitória Alguns excluídos por falta de habilidade Todos se envolvem, independentemente de sua habilidade Aprende-se a ser desconfiado Aprende-se a compartilhar e a confiar Categorias, meninos X meninas, criando barreiras entre pessoas Há mistura de grupos que brincam juntos, criando alto nível de aceitação mútua Perdedores ficam de fora do jogo e, tornam-se observadores Todos envolvidos por período maior, mais tempo para desenvolver capacidades Não se solidarizam e, felizes quando algo de “ruim” acontece aos outros Aprende-se a solidarizar com sentimentos dos outros e, deseja-se o seu sucesso Jogadores desunidos Aprendem a ter um senso de unidade Perdem a confiança em si quando são rejeitados ou perdem Desenvolvem autoconfiança porque são bem aceitos Pouca tolerância a derrota, desenvolve sentimento de desistência A habilidade de perseverar face as dificuldades é fortalecida Poucos se tornam bem sucedidos Todos encontram caminho para crescer Fonte: SOLER (2008, p.58) Os jogos cooperativos buscam a participação de todos em torno de uma meta comum, e nos liberta da tensão e da necessidade de competição e de eliminação. Ao nos unir e praticar a coletividade e o objetivo compartilhado, as atitudes dissonantes e que violam os outros são reprovadas pelo grupo, libertando da agressão física e psicológica. Como nos jogos cooperativos as regras são flexíveis, é fundamental que
  • 34. 34 todos contribuam com sua elaboração, exercendo a criatividade e habilidades sociais (MARQUES, 2012 apud SOLER, 2006 e BROTTO, 2001). Segundo Orlick (1989), os jogos cooperativos podem ser classificados em: i. Jogos Cooperativos sem perdedores, quando os jogadores jogam juntos no mesmo objetivo, para superar desafios ou resolver problemas. Este tipo de jogo apresenta um alto envolvimento dos jogadores e grande nível de cooperação; ii. Jogos de resultado coletivo, em que, apesar de divididos em equipes, os jogadores de ambas as equipes apresentam um objetivo comum. Orlick (1989) aponta que os jogos são bastante ativos e incorporam o conceito de trabalho coletivo por um objetivo ou resultado comum, sem que haja competição entre os times; iii. Jogos de inversão, onde ocorre a troca de membros entre as equipes. Dessa forma, observa-se que a preocupação com o resultado parece diminuir, já que há a incerteza da derrota ou vitória para os participantes uma vez que o resultado e os participantes dos times não são definidos; iv. Jogos semicooperativos, onde as equipes jogam uma contra a outra. No entanto, com o estabelecimento de regras, como “Todos tocam” (todos os jogadores de um time tem que encostar na bola/participar para que valha o ponto), “Todos marcam gol” (todos os jogadores devem pontuar ao menos uma vez para que o time seja o vencedor), “Passe Misto” (alternância entre sexos), e rodízios de todas as posições, os incentivos à individualização e competição são menores. SILVA et al (2012) nos apresentam uma série de estudos sobre os Jogos Cooperativos e as aplicações em escolas de ensino fundamental, principalmente em Educação Física. Os resultados observados mostram que os alunos obtiveram melhorias em uma série de quesitos, como a melhoria da autoconfiança e do sentimento de grupo, respeito mútuo, tratamento de potencialidades e fraquezas em conjunto e companheirismo. Foram observadas também a redução da violência entre os alunos e com os professores e diminuição da agressividade e da exclusão. Para Brotto (2001), devemos utilizar os jogos cooperativos como ferramenta pedagógica que valoriza o desenvolvimento do indivíduo como um todo, tanto nos aspectos físicos quanto nos psíquicos e sociais. Desta forma, através do jogo o
  • 35. 35 professor trará a contribuição para a formação de um indivíduo mais autônomo e com reflexões acerca da realidade social que está inserido como os aspectos sociais, comportamentais e preocupado com o coletivo. Utilizar os jogos cooperativos como prática educativa é excelente pois agrega e traz ludicidade ao processo de aprendizagem, oferecendo formas de aprendizagem não limitadas ao mental, em processos de relacionamento do indivíduo com o grupo que trabalham questões pessoais, como sensação de pertencimento, engajamento, olhar para o todo, etc. 2.2.2 Danças Circulares A Dança Circular é uma prática que convida o ser humano a vivenciar sua totalidade, integrando corpo, emoção, mente e espiritualidade. Dançamos em roda, de mãos dadas, visitando danças tradicionais e contemporâneas de todos os povos. E ao dançar, coletivamente, em diversos ritmos, gestualidades e melodias, ampliamos nossa consciência corporal, ativando nossas células para uma vida saudável e mudança de atitudes. Reafirmamos nossa expressão individual num universo que gira em expansão. Aprofundamos a compreensão dos valores humanos universais para a construção de uma vida em harmonia: respeito à diversidade, interdependência, união, cooperação, comprometimento, paciência, alegria, objetividade, fraternidade, flexibilidade e muitas outras qualidades tão necessárias neste novo tempo, para uma convivência diária saudável e amorosa são aqui potencializados. Através das Danças Circulares, abrem-se campos sutis de percepções sobre os quais podemos refletir, tais como: a sensação de alegria, o chamamento para a presença, a alteração da relação com o outro, o medo de errar, o sentimento de pertencimento, estimulando a ação para além da inércia e deixando vivo o círculo como um novo padrão mental. Débora Dubner (2015) afirma quea Dança Circular mostra o que nos une. Evoca o poder coletivo, potencializando o nosso poder pessoal de cura. Existe um poder no círculo, no grupo de pessoas que dão as mãos e se movem juntas, compartilhando um mesmo ritmo no seu próprio passo, num formato universal e ancestral. É mágico e profundamente real.
  • 36. 36 Através das Danças circulares, de uma forma mágica, pode-se vivenciar as quatro tônicas da vida humana: a ciência (presente na matemática dos compassos das danças, na geometria das formações executadas, no ritmo, nos deslocamentos, na intensidade dos movimentos, no censo de direção e de sentido, na distribuição do peso corporal, na consciência respiratória etc), a arte (representada pela experimentação estética que a dança propicia, a beleza do encontro entre pessoas, a linguagem dos sons, a harmonia dos movimentos) , a tradição (manifestada na conexão com o passado dos povos, com nossa ancestralidade, na religação com a infância). e o jogo (sentido na alegria, na leveza, na interação, na conectividade). Assim como os Jogos Cooperativos, as Danças Circulares dialogam perfeitamente com os Princípios da Pedagogia da Cooperação: ● O princípio da co-existência pois, de mãos dadas, os movimentos de todos são influenciados pelo movimento de cada um. Apenas a sucessão de movimentos faz com que todos, aos poucos, e cada um no seu tempo, acabe por compor um todo harmônico onde tudo vai se encaixando, através de uma auto- regulação sem que seja necessária uma palavra; ● O princípio da Com-Vivência no sentido amplo, através das danças de povos antigos, gerando uma conexão com estes povos, com nossa ancestralidade, com a humanidade como um todo e também, através destes mesmos passos aliados a músicas contemporâneas, permitindo um fluxo de energia entre passado-presente-futuro e no sentido mais restrito, em relação ao acolhimento de cada membro, do seu jeito, suas limitações físicas, na troca de olhares e sorrisos, quando há troca de pares, por exemplo, gerando um diálogo sem palavras. Nas danças circulares, tudo inspira e transpira cumplicidade! ● O princípio da Cooperação pois nas danças circulares não há competitividade, tão pouco há lugar para o individualismo, para a rivalidade. Não há destaques. Há sim, um imenso sentimento de pertencimento, de respeito e confiança. ● O princípio da Comum-Unidade Quando se está fora do círculo, observando, a primeira imagem que se vê é a de um único organismo em movimento. Todos formando uma só coisa e, ao mesmo tempo, se “passeamos o olhar” por cada integrante, verificamos que as individualidades estão ali, resguardadas. E isso é lindo!
  • 37. 37 E Essa beleza é bem traduzida por Débora Dubner (2015): “De mãos dadas, aprendemos juntos, cada um recebe aquilo que precisa no momento, apoiando e sendo apoiado. Espelhamos nossas emoções e encontramos no círculo a dor do outro que é também nossa, a emoção de FLORESER, a capacidade de acolher, a coragem para ser vulnerável, a beleza de ser grande como a árvore e pequeno como a semente. Com simplicidade tocamos a complexidade! Portanto, uma vez que entramos na roda da Dança Circular, abrimos espaço para uma transformação interna, descobrindo que a nossa história é a história de todos.” 2.2.3 World Café O World Café é uma técnica, uma ferramenta de ação social utilizada para promover e potencializar diálogos e conversas, de modo a viabilizar a construção coletiva de ideias acerca de temas relevantes e problematizantes. Visa estabelecer um espaço dialógico para estabelecer a participação das pessoas, por meio de perguntas, para a construção de um entendimento comum de uma questão objeto. A técnica foi proposta por Brown e Isaacs (2007) e é baseada no entendimento de que a conversa é o processo central que impulsiona as realizações pessoais e profissionais. Seus pressupostos são: o conhecimento e a sabedoria necessários para gerar ideias já estão presentes e acessíveis nas pessoas; “a inteligência que emerge quando o sistema se conecta a si próprio de formas criativas” (Brown e Isaacs, 2007, p. 185); e, a percepção coletiva. O World Café permite que os participantes sejam os criadores ativos das ideias, colocando-os frente a questões desafiadoras, exigindo concentração, compreensão do cenário, diálogo e busca por uma solução. É preciso ampliar as possibilidades de soluções e aceitar a diversidade, já que não há nada pronto para a questão posta. Baseia-se em sete princípios: 1- Estabelecer o contexto. Um bom planejamento é necessário por quem for organizar o café. Deve estar qual o objetivo a ser atingido, e sobre qual tema que as ideias devem ser geradas ou qual o problema a ser resolvido.
  • 38. 38 2- Criar um espaço acolhedor. Este princípio lembra a importância de preparar o meio ambiente para a atividade. Partindo do pressuposto que o meio influencia as pessoas, olhar para este lugar ajuda a pensar em como estimular a participação. Preparar o ambiente, pensar na quantidade de mesas, cadeiras, comidas, bebidas, que lembram uma sensação de intimidade, de acolhimento, folhas de papel, canetas coloridas como elementos de criação e expressão para anotações e desenhos. Um espaço acolhedor permite que todos se sintam livres para oferecer seus melhores pensamentos. 3- Explorar a questões significativas. Perguntas poderosas são aquelas capazes de iniciar diálogos e conversas. Muitas ideias surgem em resposta à essas perguntas interessantes. É preciso definir perguntas relevantes ao tema para ajudar os convidados a pensarem na questão levantada, e trazerem respostas criativas e intuitivas. Caso necessário, a dinâmica pode explorar mais de um tema, e caso ocorra, é preciso deixar bem clara a mudança de tema para uma nova rodada de conversas. 4- Estimular a contribuição de todos. A participação ativa é estimulada no café para que as pessoas possam contribuir e se expressar, gerando um maior engajamento em um ambiente acolhedor. As diferentes ideias e pontos de vistas são bem vindos, e cada integrante expõe suas ideias pessoais e narrativas, proporcionando a construção coletiva, a partir de diferentes opiniões. Caso desejado, é possível ter um objeto que conduz a palavra dos participantes, ou seja, uma espécie de bastão da fala, que proporciona para um espaço de fala para quem segura o objeto e de escuta para o restante do grupo. 5- Promover a polinização cruzada e conectar diferentes pontos de vista. A troca de membros nos vários assuntos permitem que as questões sejam vistas de aspecto geral, favorecendo a construção de uma perspectiva coletiva. Pode ser incentivado o uso de desenhos e esquemas para facilitar o compartilhamento de cada perspectiva, além da necessidade de um âncora em cada grupo, a disseminar o conhecimento gerado em cada troca. 6- Escutar juntos para descobrir padrões, percepções e questões mais profundas. Uma das principais necessidades dessa técnica é saber ouvir, ter abertura para ouvir o outro e conseguir dialogar, mesmo se aparentemente oposta. Quando ouvimos, somos capazes de acolher e criar a partir do que está sendo compartilhado.
  • 39. 39 7- Colher e compartilhar descobertas coletivas. A partilha é passo importante na técnica. Discutir sobre as ideias mais significativas que surjam no processo é importante para criar o COM-um. É importante tomar nota e registrar as ideias, de forma a gerar uma memória do processo, e para que posteriormente todos possam opinar, ao compartilhar as ideias com o grande grupo. Finalmente, o coletivo pode optar por escolher uma ou mais ideias, dependendo do objetivo a ser atingido e da necessidade a ser atendida. 2.3 COOPERATIVISMO - O que é, sua história, valores e princípios O Cooperativismo pode ser definido como uma forma de organização e ação econômicas, agrupando pessoas ou grupos de indivíduos que têm o mesmo interesse, a fim de obter vantagens comuns em suas atividades de produção, reduzindo custos, obtendo melhores condições de prazo e preço e edificando instalações de uso comum. Usa os mecanismos do sistema em vigor, em busca de alternativas e soluções para os interesses de seus associados. Por isso, as sociedades cooperativas são um tipo singular de associação que exigem uma visão mais ampla e detalhada de suas características, ideologia e legislação. No entanto, podemos dizer que a cultura da cooperação está presente na história da humanidade desde os tempos primitivos. Contrariando o mito da competição como forma de se garantir a sobrevivência e a evolução humanas, existe um amplo conjunto de evidências que indica que os povos pré-históricos “que viviam juntos, colhendo frutas e caçando, caracterizavam-se pelo mínimo de destrutividade e o máximo de cooperação e partilha dos seus bens” (ORLICK, 1989, p. 17). Isto posto, fica evidenciado que, mesmo que de forma difusa, as vivências cooperativas, passadas de geração a geração ao longo do tempo, teceu um conjunto de conhecimentos e valores que permitiu, em condições propícias, gerar o que conhecemos hoje como cooperativismo. E mais, contribuiu para que as cooperativas se articulassem entre si e se organizassem politicamente num Sistema que tem valores e princípios comuns que o diferencia das demais organizações comerciais. Como comenta Irion (1997):
  • 40. 40 “Sempre houve pessoas que, inconformadas com a sociedade em que viviam,aspiravam organizar uma sociedade ideal, onde reinasse a justiça, a paz, a ordem e a felicidade, eliminando as diferenças econômicas e implantando o bem-estar coletivo. Nesse sentido pode ser citada a obra de Platão (427-348 a. C.) “A República”, a de Tomas Morus (1480-1535) “Utopia”, a de Tomás Campanella (1568-1639) “Cidade do Sul”, a de Francisco Bacon (1561-1626) “A Nova Atlântida”. Todos eles tiveram influência direta ou indireta no surgimento do Sistema Cooperativista.” Talvez o pioneiro entre os pensadores e ativistas do cooperativismo tenha sido o holandês Peter Cornelius Plockboy, nascido em 1620, que fundou associações de agricultores, artesãos, marinheiros e professores em sua terra, na América colonial inglesa, uma colônia de bases pré-cooperativistas que foram dissolvidas logo após sua fundação, por ordem do governo inglês. Na França, Charles Fourier (1772-1837), filósofo, economista e político, foi o idealizador das cooperativas integrais de produção e consumo, criando comunidades onde a posse dos meios de produção era comum a todos os associados. Essas comunidades eram chamadas de falanstérios. Robert Owen (1771-1858), industrial e filósofo socialista do País de Gales, organizou duas cooperativas como forma de dar ocupação aos desempregados: uma na Inglaterra e outra nos Estados Unidos. Nessa lista não pode faltar o belga Philipe Buchez (1796-1865), que criou o chamado cooperativismo de autogestão, independente do governo ou de terceiros. Na França, tentou organizar as “associações operárias de produção” e organizou cooperativas de trabalho. Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), outro francês (filósofo, economista e político), defendia as associações dos trabalhadores e a propriedade coletiva dos meios de produção pelos trabalhadores e tentou criar um “banco operário”, semelhante em alguns aspectos, às atuais cooperativas de crédito. Anarquista, é um dos mais influentes teóricos desse movimento. Foi alvo de ferrenhas críticas por parte de Karl Marx, que o considerava um “socialista utópico”. Por sua vez, o anarquista Michel Derrion (1802-1850) fundou em 1835, em Lyon, a cooperativa Commerce Véridique et Social, para venda de comestíveis e
  • 41. 41 produtos para o lar. Esta cooperativa teve curta duração. Na década seguinte, formou no Brasil a Colônia do Palmital, na Província de Santa Catarina, com ideias de cooperação para a produção agrícola. Louis Blanc (1811-1882), idealista e ativista político francês, com importante participação na Revolução de 1848, idealizou associações de trabalhadores de um mesmo ramo de produção e conseguiu financiamento para a criação das Oficinas Nacionais (cujos lucros seriam divididos entre o Estado e os associados), porém a experiência durou pouco tempo. Por último, temos o anarquista russo Piotr Alexeyevich Kropotkin (1842-1921), que estudou as cooperativas de exilados na Sibéria, ainda no governo dos Czares. Como movimento moderno, o cooperativismo apareceu no século XIX, tendo como causa a revolução industrial, processo resultante de um conjunto de fatores, tais como o desenvolvimento tecnológico (notadamente o aparecimento dos motores a vapor), a acumulação de capitais obtidos pelo colonialismo e o liberalismo econômico. Além do impacto econômico, obtido pelo ganho da escala produtiva proporcionado pelas máquinas e pelas novas tecnologias de produção, houve o abalo social provocado pela falta de regras que regulassem as relações dos detentores dos meios de produção com as pessoas que formavam a força de trabalho: homens, mulheres e crianças. O liberalismo econômico exacerbado chegou a adotar jornadas diárias de trabalho de até 16 horas, em condições miseráveis de trabalho e salários. O cooperativismo despontou como contraponto a esse estado de coisas, como uma unidade de ação mutuária de colaboração conjunta. Conforme bibliografia visitada, o movimento cooperativista considera o dia 21 de dezembro de 1844 como a data em que foi fundada a primeira cooperativa desassociada de utopias, voltada para o mundo econômico real. Nesse dia, um grupo de 28 tecelões (dentre eles uma mulher) se uniu para comprar, em conjunto, alimentos e outros itens de primeira necessidade. O fato se deu na localidade de Rochdale, nos arredores da cidade de Manchester, na Inglaterra. Chamava-se Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale Ltda. Seus princípios eram a formação de poupança para os trabalhadores, a construção ou aquisição de casas para os cooperados, a criação de estabelecimentos industriais e agrícolas para produção de bens a serem vendidos aos trabalhadores, assegurar trabalho aos desempregados, desempregadas
  • 42. 42 ou mal-remunerados e, ainda, a criação de comunidades piloto de produção e distribuição, visando à fundação de novas cooperativas. Em uma década, a cooperativa contava com 1.400 associados. A experiência foi levada para a França, Alemanha, Itália e para outros países europeus, atravessou o Atlântico e chegou à América e seguiu se espalhando pelo mundo. No Brasil, especificamente, durante todo o período colonial, aconteceram movimentos que podem ser classificados como manifestações pré-cooperativistas. O caso mais notório foi o das Missões Jesuítas no Sul do país, desenvolvidas a partir do século XVII até o início do século XIX, quando foram definitivamente extintas pelos governos de Portugal e Espanha. No mesmo período, em alguns quilombos, se desenvolveu uma espécie de associativismo pleno, voltado à produção, consumo e comercialização de bens de origem agropecuária. Entretanto, tem-se 1847 como o marco para o início do movimento cooperativista no Brasil. Nesse ano, o francês Jean Maurice Faivre, junto com outros colonos europeus no Paraná, organizou a “Colônia Teresa Cristina”, tendo por base as ideias de associações colaborativas, predominantes naquele momento. O movimento serviu de referência para as experiências futuras, dando origem a outras organizações, destacadamente a Cooperativa de Consumo dos Empregados da Companhia Paulista, fundada em Campinas-SP, em 1887; a Cooperativa de Consumo dos Funcionários da Prefeitura de Ouro Preto-MG, em 1889; a Cooperativa Militar de Consumo do Rio de Janeiro, em 1894, na Cidade do Rio de Janeiro-RJ; a Cooperativa dos Empregados da Companhia Telefônica, em 1891, na cidade de Limeira-SP; a Cooperativa de Consumo de Camaragipe-Pe em 1895; a Caixa de Economia e Empréstimos, também conhecida como Caixa Rural, fundada em Nova Petrópolis-RS, em 1902; a Cooperativa dos Empregados e Operários da Fábrica de Tecidos da Gávea, no Rio de Janeiro-RJ, em 1913; a Coopfer – Cooperativa de Consumo dos Empregados da Viação Férrea, na cidade de Santa Maria-RS, também em 1913. Essa descrição mostra como foi lento o crescimento do cooperativismo no país. Entretanto, dois fatores deram-lhe impulso a partir da década de 30 do século passado: a crise econômica, provocada pelo colapso da Bolsa de New York, de 1929 e o governo instalado pela revolução de 1930. A crise econômica mundial de 1930 estimulou a emergência de cooperativas, especialmente no Sul do país. O professor Waldiro Bulgarelli estabelece uma escala
  • 43. 43 para o desenvolvimento e estruturação das cooperativas, em nosso país: implantação, consolidação parcial, centralismo estatal, renovação de estruturas e liberalização. Até o princípio do século XX, a legislação brasileira – e o próprio Código de Comércio de 1850 – era omissa quanto às sociedades cooperativas. A primeira regulação legal deu-se pelo Decreto nº 1637, de 05.01.1907, que disciplinou a criação de sindicatos profissionais e sociedades cooperativas. Todavia, foi com o Decreto nº 22.239, de 19.12.1932, que o cooperativismo começa a consolidar-se no Brasil. Hoje, o Cooperativismo Brasileiro conta com 6.655 cooperativas, 13,2 milhões de cooperados e 376.795 empregados organizados politicamente em seu sistema. Com todos esses números, fica fácil perceber o quanto o mercado cooperativista é uma realidade viável no país. Mais que um modelo de negócios, o cooperativismo é uma filosofia de vida que busca transformar o mundo em um lugar mais justo, feliz, equilibrado e com melhores oportunidades para todos. Um caminho que mostra que é possível unir desenvolvimento econômico e desenvolvimento social, produtividade e sustentabilidade, o individual e o coletivo. Os três principais conceitos que dão identidade ao cooperativismo são: 1. Cooperação - O cooperativismo substitui a relação emprego-salário pela relação trabalho-renda. Em uma cooperativa, o que tem mais valor são as pessoas e quem dita as regras é o grupo. Todos constroem e ganham juntos. 2. Transformação - Há no movimento cooperativista o desejo de impactar não só a própria realidade, mas também a da comunidade e a do mundo espalhando sonhos e mostrando que é possível alcançá-los sem deixar ninguém para trás. 3. Equilíbrio - Ser cooperativista é acreditar que é possível colocar do mesmo lado o que à primeira vista parece ser oposto: o econômico e o social, o individual e o coletivo, a produtividade e a sustentabilidade. Para guiar os cooperativistas ao redor de todo o mundo, foram estabelecidos os sete princípios do cooperativismo, mantidos desde a fundação da primeira cooperativa da história em 1844. São eles: 1. Adesão voluntária e livre - As cooperativas são abertas para todas as pessoas que queiram participar, estejam alinhadas ao seu objetivo econômico, e dispostas a assumir suas responsabilidades como membro. Não existe qualquer discriminação por sexo, raça, classe, crença ou ideologia.
  • 44. 44 2. Gestão Democrática - As cooperativas são organizações democráticas controladas por todos os seus membros, que participam ativamente na formulação de suas políticas e na tomada de decisões. E os representantes oficiais são eleitos por todo o grupo. 3. Participação econômica dos membros - Em uma cooperativa, os membros contribuem equitativamente para o capital da organização. Parte do montante é, normalmente, propriedade comum da cooperativa e os membros recebem remuneração limitada ao capital integralizado, quando há. Os excedentes da cooperativa podem ser destinados às seguintes finalidades: benefícios aos membros, apoio a outras atividades aprovadas pelos cooperados ou para o desenvolvimento da própria cooperativa. Tudo sempre decidido democraticamente. 4. Autonomia e independência - As cooperativas são organizações autônomas, de ajuda mútua, controladas por seus membros, e nada deve mudar isso. Se uma cooperativa firmar acordos com outras organizações, públicas ou privadas, deve fazer em condições de assegurar o controle democrático pelos membros e a sua autonomia. 5. Educação, formação e informação - Ser cooperativista é se comprometer com o futuro dos cooperados, do movimento e das comunidades. As cooperativas promovem a educação e a formação para que seus membros e trabalhadores possam contribuir para o desenvolvimento dos negócios e, consequentemente, dos lugares onde estão presentes. Além disso, oferece informações para o público em geral, especialmente jovens, sobre a natureza e vantagens do cooperativismo. 6. Intercooperação - Cooperativismo é trabalhar em conjunto. É assim, atuando juntas, que as cooperativas dão mais força ao movimento e servem de forma mais eficaz aos cooperados. Sejam unidas em estruturas locais, regionais, nacionais ou até mesmo internacionais, o objetivo é sempre se juntar em torno de um bem comum 7. Interesse pela comunidade - Contribuir para o desenvolvimento sustentável das comunidades é algo natural ao cooperativismo. As cooperativas fazem isso por meio de políticas aprovadas pelos membros.
  • 45. 45 Do campo às grandes cidades, as cooperativas atuam em diversos setores da economia organizadas em 13 ramos, a saber: 1. Agropecuário - reúne cooperativas de produtores rurais, agropastoris e de pesca. 2. Especial - oferece a pessoas com necessidades especiais, ou que precisam ser tuteladas, uma oportunidade de trabalho e renda 3. Trabalho - Reúne profissionais de uma mesma categoria em torno de uma cooperativa para melhorar a remuneração e as condições de trabalho do grupo de associados, ampliando sua força no mercado. 4. Consumo - dedica-se à compra em comum de artigos de consumo para seus cooperados. 5. Infraestrutura - Fornece serviços essenciais para seus associados, como energia e telefonia por exemplo. 6. Saúde - dedica-se à preservação e à promoção da saúde humana. Podem ser formadas por médicos, dentistas, outros profissionais da saúde e até pelos próprios usuários. 7. Crédito - promove a poupança e oferece soluções financeiras adequadas às necessidades de cada cooperado. 8. Habitacional - Constrói e administra conjuntos habitacionais para os cooperados. 9. Turismo e Lazer - presta serviços de entretenimento para seus associados: de viagens a eventos artísticos e esportivos. 10.Educacional - Prove educação de qualidade para a formação de cidadãos mais éticos e cooperativos e garante um modelo de trabalho empreendedor para professores. 11.Produção - ligada à produção de um ou mais tipos de bens e produtos. As cooperativas detêm os meios de produção e os cooperados contribuem com trabalho conjunto. 12.Transporte - Cooperativas que atuam na prestação de serviços de transporte de cargas e passageiros. 13.Mineral - Pesquisa, extrai, lavra, industrializa, comercializa, importa e exporta produtos minerais.
  • 46. 46 2.4 COOPERATIVISMO ESCOLAR As Cooperativas Escolares conforme são concebidas hoje, são entidades estudantis da Educação Básica, que funcionam como laboratório de vivências dos valores da cooperação, da solidariedade, do empreendedorismo e de educação financeira com finalidade educativa, podendo desenvolver atividades econômicas, sociais e culturais em benefício dos associados. Em sua essência, buscam formular uma proposta pedagógica com a participação do corpo discente em atividades práticas. Tem como principal objetivo, oportunizar aos jovens uma formação que contribua com o desenvolvimento de futuros líderes, gestores, empreendedores e cidadãos com senso de responsabilidade e participação, através da vivência de um modelo cooperativo sustentável. Não constituem um novo ramo do Cooperativismo posto que seu foco principal não é a atividade econômica, o que constituiria trabalho infantil. É um projeto educativo apoiado pelo Sistema Cooperativista ao exercer o Princípio de Educação, Formação e Informação conjugado com o Princípio do Interesse pela Comunidade, visando expandir a cultura cooperativista enquanto um modo de ser e viver. Historicamente, o surgimento das Cooperativas escolares remonta o pós Primeira Guerra Mundial, quando as municipalidades da França passaram por um longo período de dificuldades financeiras. Tinham de construir edifícios, hospitais, residências, refazer estradas e vias de comunicação, etc., atingidas pelos bombardeios das máquinas infernais. Falar, naqueles momentos, da necessidade do equipamento das escolas seria uma redundância. Sem possibilidades, o erário público nada podia fazer numa fase em que a criança mais precisava, para recompor o quadro em que vivia e vislumbrar, com otimismo, a perspectiva que lhe oferecia naquele tremendo após guerra. Assim, uma vez que não podiam contar com o Conselho Municipal, os professores do distrito de Saint Jean D’Angely pensaram em mobilizar os próprios alunos no conserto da casa onde passariam uma boa parte de sua existência, através da cooperação. Pressentiram que, integrando-os nessa árdua tarefa, haveria não só de encontrar trabalho adequado para eles, como uma grande contribuição material para a escola e, assim, ainda melhor educá-los. Da realização imediata dessa ideia foi que se originou, organicamente, o cooperativismo escolar, no sentido econômico-pedagógico, como é por todos os tratadistas conhecidos.
  • 47. 47 Les Petites Abeilles (As Pequenas Abelhas) foi o nome de batismo que recebeu a pequena célula de Profit, expressiva denominação escolhida pelos próprios cooperadores. Embora não tivesse sido fácil a empreitada, ficou perceptível nas leituras, a abnegação dos mestres e a orientação que lhe imprimiram logo nos primeiros tempos em relatos de pleno entusiasmo: “Os resultados que permitiram transformar nossas escolas não foram logrados pelas virtudes de uma palavra mágica. Para fazer com que os alunos consentissem em realizar um pequeno sacrifício e a que trabalhassem por uma idéia, era preciso interessá-los e criar-lhes novos motivos de satisfação. E, a maior dessas satisfações, era, para eles, verem-se tratados como homens e não como crianças. No momento, pois, em que eram julgados bastante maiores para reunir recursos, deveriam ser o suficientemente razoáveis para empregá-los e dirigi-los. O maior prazer era o do reconhecimento deste direito. Para o exercício, porém, este direito era necessário estabelecer regras, criar uma associação, votar estatutos e regimentos, efetuar reuniões, tomar deliberações, etc.” Vale ressaltar que em 1931 as cooperativas escolares foram conhecidas no Brasil, principalmente pela publicação do tema dos livros e folhetos pelo Ministério da Agricultura. Porém é pelo decreto nº 22.239 de dezembro de 1932 que as cooperativas escolares passaram a obter algum tipo de disciplina e orientação, conforme a redação do artigo que segue: Art.34 As cooperativas escolares poderão se constituir nos estabelecimentos, públicos ou particulares de ensino primário secundário, superior, técnico ou profissional, entre os respectivos alunos, por si ou com o concurso de seus professores, pais, tutores ou pessoas que os representem, com o objetivo primordial de inculcar aos estudantes a ideia do cooperativismo e ministrar-lhe os conhecimentos práticos da organização e funcionamento de determinada modalidade cooperativa e acessoriamente proporciona-lhes as vantagens econômicas peculiares à modalidade preferida.” Para Montserrat (1949, p.121) “O objetivo, pois, de uma cooperativa escolar não é apenas fornecer meios para que se aprenda a fazer uma coisa. Uma
  • 48. 48 Cooperativa Escolar se propõe, além de facilitar esses meios, criar, ou melhor, aprimorar, na criança, o espírito gregário e de iniciativa para que amanhã, com as aptidões e os conhecimentos adquiridos na escola, possa orientar-se no mundo social dos adultos e levar-lhe, plasmada em seu cérebro, a idéia de união e de trabalho cooperativo, uma noção mais exata de seus direitos e de suas obrigações na vida com seus semelhantes”. As Cooperativas Escolares constituem uma proposta de transformação social e econômica na vida das pessoas que transcende as propostas pedagógicas tradicionais. Está inspirado, em parte, no pedagogo francês Célestin Freinet e nas experiências da cidade argentina de Sunchales. Marini (2013, p.2) expõe que as cooperativas escolares estão focadas na transformação social da sociedade, no exercício pleno da democracia e da capacidade de criação construção da escola e de seus atores. As cooperativas aportam à possibilidade da vivência da democracia e da justiça no espaço da escola, ultrapassando o mero ensinamento da democracia como conceito para uma vivência, para uma experimentação prática democrática. Nessa linha de pensamento Paulo Freire, na Pedagogia da Autonomia sustenta que(...) “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção” (FREIRE, 1996, p.47). Essa afirmação nos parece suficiente para propormos uma escola crítica, flexível aos projetos educativos e, portanto, intercultural, da borda e cooperativa. As Cooperativas Escolares têm por finalidade a promoção da convivência, o respeito mútuo, a solidariedade, promoção da justiça social, igualdade, autonomia, a cooperação e a realização de objetivos comuns. Nelas, o caráter educativo, espírito cooperativo e o movimento entre o saber e o fazer são inerentes e constantes. Através desses momentos de aprendizagens é proporcionada na gestão das cooperativas escolares a vivência dos sete princípios do cooperativismo. Conforme já dissemos, as Cooperativas Escolares constituem um projeto educativo e está amparado pela lei Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990 do Estatuto da Criança e do Adolescente e na lei das cooperativas sob nº 5764/71. Por ser tratar de criança e adolescente o ECA deve ser observado com atenção especialmente no acesso e frequência obrigatória ao ensino regular, atividade compatível como desenvolvimento do adolescente e horário especial para o exercício das atividades.