2. Editorial
Segundo Sambodh Nasseb, professor de ioga e
meditação entrevistado para a reportagem de capa
desta edição, o mundo, em sua condição de “escola”,
de “local de testes” é perfeito para lições de
autoconfiança, fé e superação. Não é o mundo que é
necessariamente bom ou ruim, mas a maneira como o
percebemos. Ou seja, nossa visão de mundo está
diretamente vinculada à forma como o “enxergamos”
com nossa mente. Assim, quanto mais você se
fortalece internamente (e há mecanismos para isso,
como você poderá conferir nas páginas 4, 5 e 6), menos
perturbador lhe parecerá esse mundo, mais cores
alegres estarão à disposição de sua paleta para poder
pintá-lo. “É preciso de disciplina para ser feliz”,
diz Nasseb. 24Londres se reinventa com as Olimpíadas de 2012 e renova
seus hotéis; a meta é oferecer 123 mil quartos ao todo
18
Caio Blat,
umdos
atoresmais
versáteisde
sua geração,
faz um
balançode
seus20anos
de trabalho
como ator
na tevê
15
Psicólogo
escreve sobre
como o
“Instinto
Natural de
Retribuição”
pode
transformar
nosso modo
de nos
relacionar
Pensamentos
Poesia
“Uma chave importante para o sucesso é a autoconfiança”. Uma chave
importante para a autoconfiança é a preparação.” (Arthur Ashe)
“Campeões não são feitos em academias. Campeões são feitos de algo
que eles têm profundamente dentro de si - um desejo, um sonho, uma
visão.” (Muhammad Ali)
“A altura das suas realizações será igual à profundidade das suas
convicções.” (William F. Scolavino)
Ainda que mal
Ainda que mal pergunte,
ainda que mal respondas;
ainda que mal te entenda,
ainda que mal repitas;
ainda que mal insista,
ainda que mal desculpes;
ainda que mal me exprima,
ainda que mal me julgues;
ainda mal me mostre,
ainda que mal me vejas;
ainda que mal te encare,
ainda que mal te furtes;
ainda que mal te siga,
ainda que mal te voltes;
ainda que mal te ame,
ainda que mal o saibas;
ainda que mal te agarre,
ainda que mal te mates;
ainda assim te pergunto
e me queimando em teu seio,
me salvo e me dano: amor.
Carlos Drummond de Andrade, em
“As impurezas do branco” (1973)
Agência O Globo
Turismo
Jorge Rodrigues Jorge/Divulgação
Televisão
Rubens Cardia
‘Pinte’ seu mundo
com cores alegres
Josinel B. Carmona
página 2 / São José do Rio Preto, 3 de julho de 2011 DIÁRIO DA REGIÃO
3. Curso de Psicologia Aplicada
à Cirurgia Bariátrica
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Cruz (auditório do 14º andar)
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Informações e inscrições:
(17) 3266-6188 e
www.palasathena.org.br
29 e 30
de julho
As notas para a
agenda podem ser
enviadas para Gisele
Bortoleto no e-mail
gisele.bortoleto@
diarioweb.com.br
ou pelo fone
(17) 2139-2084
Entenda seu bebê
Educação
22 a 24
de julho
1 a 24 de
agosto
Agência Estado
Com mais de 20 anos de ex-
periência em pediatria, à frente
de uma clínica na região metro-
politana de Nova York (EUA)
e pai de três garotas - com 16,
18 e 20 anos -, o médico francês
Michel Cohen ostenta posições
polêmicas em relação aos cuida-
dos com os filhos. Em seu livro
recém-lançado, “The New Ba-
sics”, além de condenar a pres-
crição indiscriminada de remé-
dios e as cirurgias de modo ge-
ral, ele ainda considera que a
maioria dos pais se estressa
muito, sem necessidade. Suas
posições, ainda que controver-
sas, nunca afugentaram os pa-
cientes - alguns deles, celebri-
dades de Hollywood cuja iden-
tidade Cohen não revela -, que
esperam até dois meses por
uma consulta. Em seu livro, as
dúvidas mais frequentes são es-
clarecidas de forma didática,
em ordem alfabética. Leia, a se-
guir, trechos de sua entrevista:
Pergunta - A principal men-
sagem do seu livro para os
pais é “Não se preocupem de-
mais!” Não é uma missão mui-
to árdua para quem acabou
de ter o primeiro bebê?
Michel Cohen - Sim, pode
ser difícil para os pais de pri-
meira viagem. Eles têm muitas
expectativas e são atraídos para
sites da internet e livros. Mas
as informações que recebem
são muito alarmistas, gerando
medo e ansiedade.
Pergunta - Como manter a
calma diante de uma criatura
cujo choro é a única forma de
comunicação?
Cohen - Chorar e ter cólicas e
como lidar com esses momentos
são alguns dos principais tópicos
abordados nas visitas nos primei-
ros meses dos bebês. A maioria
dos médicos não explica aos pais
que o choro de um bebê novo é
uma saída saudável para difun-
dir um estado de excesso de estí-
mulo comparado com o mundo
intrauterino. Como resultado,
muitos pais são pegos no ciclo de
excesso de acalmar seus bebês e
acabam por fazer com que eles fi-
quem ainda mais nervosos.
Pergunta - Por que defende a
aplicação mínima de remédios
nostratamentosinfantis?Queti-
po de enfermidades podem ser
tratadas sem medicamentos?
Cohen - A maioria das doen-
ças em crianças é autolimitada e
é natural que elas melhorem
por conta própria, sem qual-
quer intervenção. Quando um
bebê está doente, porém, os pais
querem, naturalmente, ser pró-
ativos e a maioria dos médicos
concorda. O problema é que es-
tas intervenções, muitas vezes,
são inúteis.Àsvezeschegamaser
prejudiciais. Muitas crianças são
tratadascomxarope paratosse,re-
médios para asma e antibióticos
que têm efeitos colaterais e não
são necessários. ■
Com posições consideradas controversas, pediatra francês Michel Cohen dá lições
aos pais sobre a melhor maneira de cuidar dos filhos nos primeiros meses de vida
DIÁRIO DA REGIÃO
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DIÁRIO DA REGIÃO São José do Rio Preto, 3 de julho de 2011 / página 3
4. Pessoasautoconfiantes
abremcaminho sem sedeixar
abalarpelos obstáculos da
vida. Aprenda como
desenvolveremanter essa
forçainteriordentro de você
Gisele Bortoleto
gisele.bortoleto@diarioweb.com.br
Já reparou que a corrida pe-
la excelência patrocinada pela
sociedade moderna quase
sempre nos faz jogar no lixo
uma convicção que construí-
mos desde a infância? Esta-
mos falando da autocon-
fiança, a certeza que temos
de que somos capazes de fa-
zer ou realizar alguma coisa.
Ser autoconfiante, dizem os
especialistas, é saber que cada
um de nós tem seu núcleo de
força interior que nos permite
enfrentar situações difíceis e
nos torna aptos a viver. É ser
dono do próprio destino, inde-
pendente das nossas qualida-
des ou defeitos.
O problema é que, na ho-
ra em que mais precisamos
confiar em nós mesmos,
a convicção foge. Os
motivos são os mais
variados: porque
nossos pais não
nos estimula-
ram o sufi-
ciente na
i n f â n c i a
ou pelas
cobran-
ças e pres-
sões a que
somos sub-
metidos no dia a dia até
mesmo por nós. O fato é que
exatamente no momento que
mais precisávamos desta for-
ça, damos de cara com uma
imagem submissa refletida
no espelho.
“A autoconfiança é uma
qualidade do ego, que é a parte
da estrutura mental que tem
função principal no funciona-
mento mental e que popular-
mente chamamos de autoesti-
ma”, diz o psicoterapeuta Rena-
to Dias Martino.
Assim como toda habilida-
de mental, também a autocon-
fiança é desenvolvida através
do que podemos chamar de ex-
periência emocional bem-suce-
dida. E isso inclui alguém além
do “eu”. Significa que a consti-
tuição da autoconfiança depen-
de fundamentalmente da possi-
bilidade de formar conexões
emocionais saudáveis.
A saúde dessas conexões é
determinada justamente pela
condição de se poder confiar
no outro. “Vínculos dessa espé-
cie não são apenas úteis no que
diz respeito à manutenção da
personalidade (por proporcio-
narem segurança para se viver
de forma razoavelmente tran-
quila), mas nos servem como
modelos para usarmos em rela-
ção a nós mesmos e assim ex-
pandirmos nossas possibilida-
des”, explica Martino.
Assim como a autoestima, a
autoconfiança é a base de todo
funcionamento mental. Marti-
no explica que é o que nos pos-
sibilita reconhecermos nossos
próprios limites. Só através dis-
so podemos realizar no mundo.
De outra forma, seremos sem-
pre desacreditados, hora pelo
outro, hora por nós mesmos.
A autoconfiança, explica a
psicóloga cognitivo-compor-
tamental Irene Araújo
Corrêa, depende de um con-
junto de fatores internos (sen-
timentos, experiências e ex-
pectativas) e externos (rela-
cionados ao ambiente).
O fato é que, desde criança,
a pessoa convive com as expec-
tativas de outras pessoas (pai,
mãe, parentes) e, na medida em
Comportamento
SEJADONODO
SEUDESTINO
página 4 / São José do Rio Preto, 3 de julho de 2011 DIÁRIO DA REGIÃO
5. que corresponde a essas expec-
tativas, são reconhecidas suas
habilidades. Essa resposta favo-
rável pode fortalecer e reforçar
seu comportamento. “Dessa
maneira, ter confiança em si
mesmo vai fazendo parte de
seu repertório e do sucesso de
suas ações”, diz Irene Corrêa.
É importante entender que
autoconfiança não surge só de
corresponder às expectativas
dos outros, mas do apoio que re-
cebe das pessoas com as quais
convive e na capacidade de esta-
belecer e superar seus próprios
desafios. “Experimentamos a
autoconfiança quando obtemos
sucesso, mas a cultivamos sem-
pre que temos uma coerência
entre expectativa e retorno”,
diz ainda a psicóloga.
A autoconfiança é nosso mo-
derador de realidade no dia a
dia. Com ela, sabemos o que po-
demos dar conta, se houver fra-
casso, como podemos enfren-
tar, o que realmente podemos
controlar e quanto nossos senti-
mentos estão afetando nossas
decisões.
Não é fácil, mas se a pessoa
prioriza uma postura autocon-
fiante, verdadeira, é importan-
te que treine sempre. Que, ao
se levantar, repasse as coisas im-
portantes do dia e as melhores
atitudes e estratégias para dimi-
nuir a ansiedade diante de im-
previstos. “A autoconfiança
mostra se a pessoa tem iniciati-
va, segurança e autocontrole”,
afirma Irene Corrêa.
“Diante de momentos con-
flituosos, desequilíbrios emo-
cionais e perdas significativas,
é tendência natural perder a au-
toconfiança. Porém, não se de-
ve esquecer de que a colabora-
ção e participação afetiva da fa-
mília e amigos nesse acolhi-
mento é muito bem-vinda”,
diz a psicóloga clínica Luciana
Nazar Ramoneda.
Também não devemos
acreditar que a vida é ruim e
que tudo está errado e perdi-
do. Luciana garante que é
muito comum projetarmos
no meio externo mágoas e de-
silusões. Esse mecanismo de
defesa projetivo é um recur-
so interno que o sujeito usa
para lidar com sua dor e,
com o tempo, se canaliza pa-
ra situações produtivas e
criativas.
A psicóloga lembra ainda
que nossa dinâmica psíquica
nos faz questionar de que for-
ma nossa vida está caminhan-
do, e esse processo se dá através
do autoconhecimento. Desde
criança, os pais têm a função de
ensinar seus filhos a conquistar
autoestima e autoconfiança,
incentivando seus talentos e
criatividades, participando
de seus sucessos e fracassos.
“Um adulto autoconfian-
te é a criança que desejou sua
vitória, aprendeu com seus er-
ros e conviveu com pais amo-
rosos e confiantes”, diz Lu-
ciana Nazar.
“O mundo moderno tem
exigido cada vez mais clareza
das pessoas a respeito de quem
elas são e o que querem”, diz o
coach Salvador Hernandes, ins-
trutor de ioga e meditação.
Segundo ele, somos regi-
dos por leis que nos colocam
frente a frente com os resulta-
dos que construímos e atraí-
mos. “Se apenas digo que sou
competente, capaz, mas não
sinto isso internamente, vou
atrair situações que compro-
vem a minha incapacidade.
Não conseguimos mais enga-
nar por muito tempo os outros
e a nós mesmos. É tempo de
verdade e crescimento.”
Sobre esse assunto, o profes-
sor de ioga e meditação Sambo-
dh Nasseb conversou com a re-
vista Bem-Estar.
Revista Bem-Estar - De
que forma a autoconfiança po-
de contribuir para que realize-
mos nossos objetivos?
Sambodh Naseeb - Auto-
confiança é a realização dos ob-
jetivos. Aquele que tem con-
fiança está realizando, está com-
partilhando, está deixando o
mundo com um pouquinho de
sua marca. Aquele que tem con-
fiança não vê barreiras, vê opor-
tunidades. Não vê problemas,
vê desafios. Ele pode sofrer,
mas aprende com os erros. Ja-
mais assume postura de víti-
ma. A pessoa autoconfiante
se torna responsável pela sua
vida. Ela sabe que ninguém
tem o poder de abalá-la. Ela
sabe que a sua mente é o
dom mais precioso que ela
ganhou. Mas a mente pode
levá-la para o céu ou para o
inferno. Então, ela aprende
os caminhos do céu. Quem é
autoconfiante sabe que todo
obstáculo é simplesmente
uma nova lição maravilhosa
da vida para nos ensinar que
somos muito mais do que
pensamos ser.
Bem-Estar - Por que o mun-
do atual, mais voltado para coi-
sas exteriores, coloca cada
vez mais em teste nossa auto-
confiança e faz com que a
maioria das pessoas a perca?
Naseeb - O mundo é um
teste. O mundo é uma escola.
Ele é perfeito para as lições de
autoconfiança, de fé, de supera-
ção. O mundo é perfeito do jei-
to que é. O fato é que não é o
mundo que provoca medo na
gente, mas sim a maneira como
nós vemos o mundo, como in-
terpretamos o mundo, como
percebemos o mundo. Cada
pessoa, em verdade, é um mun-
do. A vida é uma tela. Nós te-
mos as tintas para pintar. Co-
mo você percebe o mundo? Per-
cebe o mundo de acordo com
sua mente. Conheça sua mente.
Desenvolva os potenciais dela.
Aprenda a relaxar sua mente.
Aprenda a uni-la ao espírito.
Desse modo, o mundo deixa de
ser perturbador. O segredo está
dentro de si mesmo.
Bem-Estar - Por que, quan-
do mais precisamos dessa for-
ça decisiva, ela nos escapa?
Podemos resgatar a autocon-
fiança perdida?
Naseeb - Porque estamos
mal treinados. Se você não se
prepara quando o desafio apare-
ce, você não tem estratégias,
não tem força, não tem confian-
ça. Estudamos para tudo na vi-
da. Mas poucos estudam a men-
te e como transformá-la em um
poder de amor, de criatividade,
de paz, de solidariedade. Estu-
damos para trabalhar, mas nos-
so trabalho não dará realização
se nossas mentes são fracas,
cheias de medo, inseguras. É
preciso uma disciplina para
ser feliz. Para ser triste, é só
continuar levando como está.
Mas as pessoas felizes são
aquelas que não se conten-
tam com uma vida pequena e
morna. Precisamos treinar a
felicidade. Os caminhos da io-
ga, das terapias e da medita-
ção foram o que eu escolhi.
Há muitos caminhos. Prati-
que algum. Abra sua mente.
Bem-Estar - Como manter
a autoconfiança, já que preci-
samos dela na maior parte
dos momentos da vida?
Naseeb - Autoconhecimen-
to é fundamental. Descobrir
Deus no próprio coração é
fundamental. Perceber que a
vida é um convite constante
para o amor, a amizade, e a
paz é fundamental. Autocon-
fiança se renova quando vo-
cê está em alinhamento com
a vida. Quando somos res-
ponsáveis pela nossa realida-
de, tudo muda. Mas antes vo-
cê tem de responder à per-
gunta: “Quem é você?” Essa
resposta, se ela for cheia de
energia, guiará sua vida de
forma lúcida e criativa.
DIÁRIO DA REGIÃO São José do Rio Preto, 3 de julho de 2011 / página 5
6. Não confunda com arrogância
Saiba ‘construir’
A boa notícia é que a au-
toconfiança, essa força que
sempre nos faz dar um passo
à frente, pode ser construí-
da. “Um sujeito autoconfian-
te tem boa autoestima, lide-
rança, projetos de vida, amo-
rosidade e intuição”, diz a
psicóloga clínica Luciana
Nazar Ramoneda.
Para cada situação, a au-
toconfiança mostra sua for-
ç a . U m a p r o v a é a
resiliência. Diante de um
sofrimento ou de uma per-
da, a energia psíquica tem
uma função de estrutura-
ção do ser humano. E para
outras pessoas, a destrui-
ção, pensamentos pessimis-
tas e de desvalia.
Um sujeito saudável é
aquele que aprende com
suas derrotas e diz: “Ama-
nhã será outro dia.” O sujei-
to é o escritor de seu pró-
prio texto, com seus dese-
jos, fantasias, intuições.
Sendo assim, a necessidade
de transformação psíquica
é constante.
O autoconhecimento e as
descobertas são referentes à
individualidade de cada um.
Todo sujeito tem condições
de construir seu próprio es-
paço, ser criativo, amoroso,
inteligente e acolhedor.
O que os diferencia é o
desejo de atingir seus objeti-
vos, e os obstáculos, a força
motivadora da autocon-
fiança, com o intuito de ele-
vação de conhecimentos e sa-
bedoria de vida. “Ser auto-
confiante é um processo e es-
tar autoconfiante é um desa-
fio a si e à vida; é estar dispo-
nível e acreditar”, explica
Luciana.
“A autoconfiança é extre-
mamente importante para a
vida, pois todas as nossas
ações exigem energia para
ser concretizadas”, diz o coa-
ch e instrutor de meditação
e ioga Salvador Hernandes.
Sem ela, estaremos sempre
emitindo dúvidas a respeito
de sermos ou não capazes de
realizar determinadas ações.
Temos de acreditar em
nós mesmos e conhecermos
quem somos. De posse da
verdadeira autoconfiança, re-
conhecemos nosso valor,
mas sem nunca deixar de re-
conhecer o valor dos outros.
Quem confia em si mes-
mo tem sonhos grandes.
Não se trata de buscar metas
grandiosas para conseguir o
aplauso e a aprovação dos ou-
tros. Quem necessita disso
para se sentir bem é porque
não tem adequada autocon-
fiança. “Quem se conhece,
com suas potencialidades e
seus talentos, enxerga o futu-
ro com olhar realizador”, ex-
plica Hernandes. Conquis-
tar os objetivos e as metas de-
sejadas é uma forma de acre-
ditar em si mesmo.
O coach defende que a au-
toconfiança nos escapa quan-
do mais precisamos dela por-
que provavelmente ainda
não a temos verdadeiramen-
te desenvolvida e reconheci-
da por nós mesmos. Segun-
do ele, quem possui níveis
elevados de autoconfiança,
mesmo em situações de difi-
culdades, consegue tirar a li-
ção do desafio. Ela só “esca-
pa” de quem não a tem.
Não perdemos a auto-
confiança, ainda segundo
Hernandes. Se a sensação é
de perda, é porque ela não
havia sido conquistada. O
que é conquista do ser não
se perde.
Essa força pode ser man-
tida por meio da manuten-
ção do contato consigo mes-
mo. Avalie o que você tem
valorizado em sua vida. É pa-
ra mostrar para os outros, ob-
ter aprovação externa ou con-
seguir poder, status, fama?
Esse comportamento vem
do ego e não da sua essência
verdadeira. “Busque desco-
brir quem você é, qual o seu
propósito nesta vida e você
se alinhará com aquilo que
você deve realizar neste mun-
do”, diz Hernandes.
Se você estiver alinha-
do, naturalmente sentirá a
confiança brotando dentro
de você, pois o que mais vo-
cê poderia fazer senão cum-
prir aquilo que você deseja
e que sabiamente está grava-
do em sua sabedoria inte-
rior? Ore, medite, conheça-
se. A confiança virá dessa
certeza de que você está no
caminho certo. ■ (GB)
Apesar de toda a força posi-
tiva que a autoconfiança gera,
tome cuidado. Em excesso, ela
pode afastar as pessoas que nos
rodeiam porque ninguém gosta
de conviver com uma pessoa ar-
rogante ou presunçosa.
O psicoterapeuta Renato
Dias Martino diz que, na reali-
dade, somos arrogantes justa-
mente quando não estamos con-
fiando em nós mesmos. Apren-
der a confiar em si mesmo é, an-
tes de tudo, aprender a reconhe-
cer sua própria realidade expan-
dindo essa mesma realidade
através da esperança, que é o de-
sejo do possível, mesmo que
além do que é real.
“É preciso diferenciar auto-
confiança de arrogância”, refor-
ça o coach Salvador Hernan-
des. Arrogância, segundo ele,
não é excesso de autoconfiança,
mas uma distorção dela. A pes-
soa arrogante quer ser melhor do
que as outras para se sentir bem,
o que na verdade revela baixa au-
toestima e sensação de menos va-
lia.Aautoconfiançanasce dopra-
zeremserfelizeverasoutraspes-
soas felizes também.
Já a arrogância nasce do de-
sejo de ter poder sobre os ou-
tros e que os outros se sintam
inferiores. (GB)
NO TRABALHO
Observe os próprios comportamentos e como
você reage em cada situação
Não despreze o contexto em que as coisas
acontecem, para que suas reações sejam coerentes
com o ocorrido
Se algo lhe incomoda, verifique as razões e se
elas são reais
Tenha prioridades no trabalho. Seja ativo
Não fique alimentando fracassos. Vire a página
Se estiver certo, aprenda a dizer não com calma
e clareza, sem ter medo de desaprovação ou rejeição
Seja colaborativo e participativo nas
oportunidades que se apresentam
Tome cuidado para que sua autoconfiança seja
baseada na realidade. Caso contrário, isso pode ser
confundido com arrogância
NO RELACIONAMENTO
Tenha autoconfiança quando estiver em um
relacionamento. Ela é importante para que você tenha
a percepção emocional, que significa reconhecer as
próprias emoções no dia a dia
O comportamento autoconfiante nos
relacionamentos é consequência de vários outros
comportamentos e, por isso, cuide de sua
autoestima. Ela é essencial
Alguns comportamentos, como a cobrança
exagerada, o perfeccionismo, o medo, a crítica, a
rigidez e a necessidade de aprovação e
reconhecimento dificultam a manutenção da
autoconfiança
Cultive uma atitude positiva em relação a você
mesmo e ao parceiro
Comunique-se, fale sobre o que sente
Fonte: Irene Araújo Corrêa, psicóloga
Dicas para manter a autoconfiança
página 6 / São José do Rio Preto, 3 de julho de 2011 DIÁRIO DA REGIÃO
7. O respeito à individualidade
e o desejo de realização
afetiva e sexual
tendem a diminuir a taxa
de casamentos no futuro,
indicam especialistas
Gisele Bortoleto
gisele.bortoleto@diarioweb.com.br
Não são raras as rodas de
conversa em que você escuta
pessoas falarem que não têm o
menor interesse pelo casamen-
to. E o interessante é que não se
trata de gente que já teve algum
tipo de desilusão amorosa ou
não consegue encontrar um par-
ceiro para viver uma relação es-
tável. Essas afirmações têm se
tornado cada dia mais comum
saindo da boca de homens e mu-
lheres de diferentes idades que
estão em uma fase estável da vi-
da e consideram o casamento al-
go superado, uma solução ques-
tionável para os dias de hoje.
A ideia de cada um morar na
sua casa, ter seu dinheiro, amigos
eprivacidadese tornoumaisatra-
tivado quecompartilhartudo em
uma vida a dois.
Você pode então perguntar:
“Mas e o amor, onde fica nesta
história?”Nãotemnadaaverexa-
tamentecomo amorouafaltade-
le, mas sim com escolhas pes-
soais. Você pode perguntar ain-
da:“Masseesseassuntojáérecor-
rente, por que tantas pessoas ain-
da continuam se casando com
véu e grinalda?” Continuam,
sim, mas a curva de crescimento
dos matrimônios já começa a
cair. Em 2009, pela primeira vez
desde 2002, o Brasil registrou o
menornúmerodecasamentos,se-
gundo o Estudo de Estatísticas
do Registro Civil divulgado pelo
Instituto Brasileiro de Geografia
eEstatística(IBGE).Em2009,fo-
ram registradas 935.116 uniões,
2,3% a menos do que em 2008.
Por outro lado, a taxa de separa-
çõesficouestávelem0,8%napas-
sagem de um ano para outro.
Enãosãopoucososespecialis-
tas em comportamento humano
e relacionamentos que defendem
que, no futuro haverá, uma mu-
dança ainda maior nas relações.
O psiquiatra e psicoterapeuta
FlávioGikovatejádisseque,defi-
nitivamente, o casamento não é
uma boa opção nos dias de hoje.
“É preciso que o jovem entenda
que o amor romântico, apesar de
aparecer o tempo todo nos filmes
e novelas, está com os dias conta-
dos”, diz. Ele explica que esse
amor, que nasceu no século 19
com a revolução industrial, tem
um caráter muito possessivo.
Para Gikovate, segundo esse
ideal, duas pessoas que se amam
deveriam estar juntas em todos
osmomentos livresé o queafron-
ta a individualidade. O mundo
mudou muito desde então. Con-
tudo, como muitos desses jovens
ainda sonham com esse amor ro-
mântico, casam-se, separam-se e
casam-se de novo várias vezes até
aprender essa lição. “Se um jo-
vem já tem noção de que não pre-
cisasecasarparaserfeliz,elepula-
rá todas essas fases que provocam
sofrimento”, afirma.
O professor e palestrante da
China Europe International Bu-
siness School, Adjiedj Bakas, e
o jornalista Minne Buwalda di-
zem no livro “O Futuro de
Deus” (selo A Girafa, ed. Pau-
brasil) que o mundo está pas-
sando por mudanças dramáti-
cas que indicam o fim de uma
antiga era e o início de outra, e
fazem previsão para os próxi-
mos anos. Bakas acredita que
as pessoas irão se casar por, no
máximo, 10 anos. Depois, diz,
se divorciarão automaticamen-
te (é claro que as pessoas pode-
rão renegociar o contrato e es-
tender esse prazo). Em 10 ou
20 anos, as pessoas viajarão
mais do que nunca, irão encon-
trar maisgenteeterãomaispossi-
bilidades de novas experiências.
Bakasafirmaaindaque,nofu-
turo, os relacionamentos tam-
bém se tornarão mais
poligâmicos e a diferença de ida-
de entre os casais irá se acentuar
cada vez mais.
No livro “Se Eu Fosse Você”,
a psicanalista e escritora Regina
Navarro Lins (ed. Best Seller),
uma das mais prestigiadas espe-
cialistas em sexo e relacionamen-
tos, diz que o casamento propor-
ciona um modo de vida insatisfa-
tório para a maioria e que a pai-
xão está em vias de extinção. Ela
explica que a tendência é os casa-
mentos tradicionais e seus valo-
res serem menos apreciados e as
uniões cada vez menos duradou-
ras, porque o amor passou a fazer
parte delas.
Regina explica que, quando o
amor não era considerado em
uma relação, esse modelo perdu-
rou por um longo período e as ex-
pectativas eram outras. O marido
era o provedor e respeitador e a
mulher dona de casa prendada e
respeitável e, se a sorte ajudasse,
desenvolvia-seestima pelocônju-
ge. Quando o amor passou a fazer
parte do casamento já no século
20, as expectativas mudaram e
passaram a abranger realização
afetiva e prazer sexual, o que pro-
vocou um aumento no nível de
frustração das pessoas.
O psicólogo clínico Ailton
Amélio, professor do Instituto de
Psicologia da Universidade de
São Paulo (USP) e autor do livro
“Relacionamento Amoroso” (ed.
Publifolha) afirma que o casa-
mento nos moldes tradicionais e
os valores foram perdendo força
nos últimos anos por causa da
evolução com relação ao sexo e o
sistemaeconômico(amulherdei-
xou de ser a rainha do lar e o ho-
mem o provedor).
“Ocorreram mudanças em
todos os sentidos, político, pro-
fissional, religioso, que torna-
ram insustentáveis nesse novo
molde a forma antiga de casa-
mento”, afirma Amélio.
A tendência é que os casa-
mentos sejam personalizados
nos próximos anos. Os casais te-
rão mais espaço para formatar o
casamento de acordo a situação,
os valores ou os momentos da vi-
da e crenças. Essas relações ain-
da terão limites culturais ou bio-
lógicos, mas serão diferentes e
terão espaço para o individual,
para a personalidade e para a
crença. “Acho ótimo que ocorra
essa flexibilidade”, diz.
Mas Amélio acredita que o
amor continuará sendo um com-
ponente importante nas relações.
“O amor une, dá emoção e ener-
gia ao relacionamento”, diz.
O amor, na opinião de
Amélio, é um dos fatores que
continuarão limitando a pos-
sibilidade de variação de par-
ceiros, apesar das mudanças
comportamentais. ■
Matrimônio
O PARADOXO DAS
NOVAS RELAÇÕES
Para que para que o casa-
mento exista, a relação tem
de ser estável. Aí temos o pri-
meiro problema na opinião
do psicólogo cognitivo-com-
portamental Alexandre Cá-
prio. Vivemos uma instabili-
dade nas relações. Então co-
mo é que podemos ter estabi-
lidade no casamento?
“Não acho que o amor se-
ja o problema. Temos o hábi-
to de confundir para o nosso
conforto muitas coisas com
amor, como dependência, ne-
cessidade e ansiedade”, diz
Cáprio. As pessoas querem se
adequar ao papel social im-
posto para cada indivíduo de
acordo com idade e gênero e
precisam achar correndo um
parceiro para se justificar ou
se afirmar para a sociedade. A
família também cumpre esse
papel opressor.
Passa-se, então, a ter de
“ser feliz correndo”. Acorda-
mos correndo, trabalhamos
correndo, comemos corren-
do, estudamos no tempo livre
e precisamos namorar corren-
do. E aí, ainda na opinião de
Cáprio, é que está a fatalidade
da coisa.
“Tentamos acelerar e pu-
lar as fases naturais da rela-
ção, que permitem que os par-
ceiros se conheçam de verda-
de. E forçar a naturalidade é
um paradoxo, sem falar que é
um grande erro”, explica.
“Dessa forma entendo
que o casamento não perdeu
força. As relações perderam
força porque estão sendo de-
turpadas e transgredidas em
seu conceito mais básico, as-
sim como o amor”, diz. Na
opinião dele, estamos inter-
pretando o outro como um
objeto ou um prestador de ser-
viços que tem a obrigação de
atender nossas necessidades
urgentemente, devendo ser
exatamente aquilo que quere-
mos que sejam.
Tratar outro ser humano
dessa forma não é amor, é des-
respeito.
“Enquanto não parar-
mos de procurar nos outros
a nossa paz e equilíbrio inte-
rior, as relações estão fada-
das ao declínio, e os casa-
mentos também”, afirma o
psicólogo. (GB)
Estabilidade é palavra-chave
DIÁRIO DA REGIÃO São José do Rio Preto, 3 de julho de 2011 / página 7
8. No transtorno obsessivo compulsivo (TOC), paciente é vítima de
ideias fixas e repetitivas. Há diversos tratamentos para recuperar a ‘liberdade’
Cecília Dionizio
cecília.dionizio@diarioweb.com.br
Você lava as mãos várias ve-
zes seguidas? Já se pegou fazen-
do contas mentalmente, por
exemplo, com números da pla-
ca de um carro? Quando cami-
nha, evita pisar sobre determi-
nados pontos do piso? Se res-
pondeu sim a qualquer uma
dessas perguntas, fique atento:
somado a mais algumas infor-
mações, é possível que você já
possua ou esteja desenvolven-
do o transtorno obsessivo com-
pulsivo (TOC), mal que afeta
cerca de 2% da população em
geral e é passível de tratamento
quando bem diagnosticado.
O TOC é considerado o
quarto diagnóstico psiquiátri-
co mais frequente na popula-
ção. De acordo com dados da
Organização Mundial de Saú-
de (OMS), até 2020, o transtor-
no estará entre as dez causas
mais importantes de compro-
metimento por doença. Além
da interferência nas atividades,
os sintomas obsessivo-compul-
sivos (SOC) causam incômo-
do e angústia aos pacientes e
seus familiares.
Segundo o psiquiatra Wil-
son Daher, de Rio Preto, o
próprio nome da doença já in-
dica o que está por trás. “O
transtorno é caracterizado
por pensamentos obsessivos
(recorrentes e parasitas da
mente), aos quais, compulso-
riamente, devem seguir ações
correspondentes”, diz. O psi-
quiatra observa que, em al-
guns casos, a pessoa tem a
ideia fixa de que, se pisar no
risco do chão da calçada, a
mãe morre. Por mais absurdo
e irracional que seja, o pacien-
te obedece a esse pensamen-
to, com a finalidade de liber-
tar-se da tensão provocada.
Quem luta contra esses
sintomas limitantes de felici-
dade há dez anos é o geólogo
M.A.L., 42 anos, que confes-
sa perder horas de sua produ-
ção diária refazendo os cálcu-
los e recontando os dados
que levantou para fechar um
determinado trabalho. “Co-
mo trabalho com cálculos,
chega a ser alucinante o nú-
mero de vezes que preciso re-
fazer as contas para concluir
um projeto. Se não o faço, a
ansiedade só aumenta”, diz.
O psiquiatra rio-pretense
explica que antes de mais na-
da é preciso identificar o
grau de intensidade do trans-
torno. “O TOC pode ou não
ser limitante da vida pessoal.
Por exemplo, se a pessoa leva
de 40 a 50 minutos no banho,
sabendo que não deve se atra-
sar para o emprego: se ao sair
e encostar o braço em qual-
quer lugar, vê-se obrigada a
iniciar de novo o ritual de
limpeza do corpo. É um caso
de limitação, com profundas
consequências na dinâmica
de sua vida em todos os aspec-
tos”, diz. Daher lembra que,
durante a adolescência, os
sintomas podem piorar.
Em estudo realizado pelo
professor Frederico G. Grae-
ff, do Departamento de Neu-
rologia, Psiquiatria e Psicolo-
gia Médica da Faculdade de
Medicina da Universidade de
São Paulo, em Ribeirão Pre-
to, apresentado à Revista Bra-
sileira de Psiquiatria há cer-
ca de dez anos, já mostrava
que inibidores da recaptação
de serotonina melhoram o
TOC como primeira opção
de tratamento. De acordo
com o levantamento realiza-
do pelo médico, o tratamento
tem importante papel nesse
transtorno de ansiedade. O
primeiro medicamento desse
tipo a ser empregado foi a clo-
rimipramina ou clomiprami-
na, cuja eficácia foi compro-
vada em estudos abertos e du-
plo-cegos (realizados em se-
res humanos onde nem o exa-
minado - objeto de estudo -
nem o examinador sabem o
que está sendo utilizado).
O psiquiatra Wilson
Daher afirma que há estudos
que apontam para a importân-
cia de se medicar os portado-
res do transtorno por perío-
dos nunca inferiores a um ou
dois anos, e ainda sendo
acompanhados por psicotera-
pia. “Não sei em que se ba-
seiam os médicos que reti-
ram a medicação destes pa-
cientes. Penso que se eles
pudessem sentir na pele o so-
frimento advindo deste
transtorno não o fariam. É,
de fato, um transtorno mui-
to doloroso, por demais
ansiogênico, até pelo fato de
o paciente ter consciência
da sua irracionalidade e não
dar conta de combatê-lo”, la-
menta.
Daher lembra que há pes-
soas que vivem muito melhor
após anos de tratamento. “Há
casos em que a pessoa chega-
va a consumir de 3 a 4 sabone-
tes por dia em seu ritual de
limpeza. Mesmo assim, sen-
tia-se sempre suja, vítima de
micróbios do meio ambien-
te”, diz.
O médico lembra que, para
tratar o transtorno, é preciso
que a família do paciente com-
preenda o mecanismo da doen-
ça e não culpe o paciente. “Al-
gumas pessoas culpam o pacien-
te por sua aparente fraqueza,
achando que na base da boa
vontade seriam capazes de supe-
rar o problema”, explica.
Saúde
UMAFORMA
DE‘PRISÃO’
página 8 / São José do Rio Preto, 3 de julho de 2011 DIÁRIO DA REGIÃO
9. Saiba mais
Para entender melhor o
transtorno obsessivo compulsi-
vo (TOC), a revista Bem-Estar
também ouviu o professor Alti-
no Bessa Marques, que atua no
Hospital Psiquiátrico Bezerra
de Menezes, onde também or-
ganiza eventos envolvendo a fa-
mília para ajudar a combater os
transtornos psiquiátricos.
Revista Bem-Estar - O que
caracteriza o transtorno-ob-
sessivo-compulsivo?
Altino Bessa Marques - Se
pudesse ser caracterizado em
um único sintoma, seria a dúvi-
da patológica, mas há também
ansiedade, medo, nojo, culpa,
sensação de imperfeição ou de
incompletude; o pensamento
tem um caráter mágico, sinali-
zando alguma confusão entre
mundo real e mundo imaginá-
rio. Para um diagnóstico, é ne-
cessária a presença de obses-
sões (que se manifestam como
pensamentos, imagens ou im-
pulsos) e/ou compulsões (ri-
tuais). Essas últimas podem ser
observáveis ou não, quando o
ritual é mental, com o portador
rezando, repetindo palavras em
silêncio ou fazendo contas.
Bem-Estar - Como se dá o
processo das obsessões?
Marques - As obsessões são
indesejáveis, repetitivas e intru-
sivas, não obedecendo a vonta-
de de quem porta o TOC, nem
para chegar à mente nem para
sair dela. Isso gera uma ansieda-
de intensa ou desconforto emo-
cional. Os rituais compulsivos
são voluntários, tendo o objeti-
vo de aliviar o mal-estar, tempo-
rariamente, mas também se tor-
nam repetitivos.
Bem-Estar - Que tipo de tra-
tamentos se aplicam a esses
casos?
Marques - A terapêutica se
baseia em evidências, empre-
gando intervenções educacio-
nais, abordagens psicológicas e
f a r m a c o l ó g i c a s . A
psicoeducação (ou “bibliotera-
pia”) - aquisição por parte do
portador e de seus familiares
de informações sobre o TOC -
tem sua importância na redu-
ção do estigma, em tornar mais
fácil a aceitação e adesão à tera-
pêutica. Em minha opinião, a
psicoeducação completa inclui-
ria a reunião mensal dos porta-
dores e familiares com profis-
sionais envolvidos com o trata-
mento, contando-se com os
inestimáveis testemunhos dos
pacientes e de seus parentes. A
primeira escolha entre os trata-
mentos psicológicos, de acordo
com a visão psiquiátrica atual,
é a psicoterapia cognitivo-com-
portamental, podendo-se indi-
car em algumas situações a tera-
pia familiar (quando atitudes
dos familiares colaboram para
os sintomas obsessivo-compul-
sivos). Tem se observado a su-
perioridade do tratamento com-
binado, farmacológico e psico-
terápico. Se não houver respos-
ta, pode-se incluir, entre outras
estratégias, um neuroléptico
atípico (antipsicótico de segun-
da geração), em associação com
antidepressivo.
Bem-Estar - Quem são as
pessoas mais suscetíveis?
Marques - Não se espera
mais uma única etiologia para
o TOC, já que ele é entendido
hoje não como uma entidade
unitária, mas um conjunto de
síndromes que se sobrepõem,
com causa, tipo de evolução,
resposta ao tratamento e prog-
nóstico diferenciados. Os possí-
veis subtipos do TOC são:
TOC associado a tiques, TOC
de início precoce e o TOC asso-
ciado à infecção estreptocócica.
Para os dois primeiros, a maior
suscetibilidade seria encontra-
da em predisposições genéti-
cas. Já a causa ligada à infecção
estreptocócica fica difícil ter al-
guma suscetibilidade. A causa
do TOC ainda não está comple-
tamente definida, sendo quedi-
versas teorias vêm sendo pro-
postas, como a genética, a do
substratoneurobiológico, a
da neuroimunologia e a dos
eventos de vida. Estudos de
família têm evidenciado um
aumento de 3 a 12 vezes no
risco para o TOC com paren-
tes de primeiro grau.
Alguns medicamentos utilizados
- O tratamento medicamentoso
de primeira escolha é feito com
antidepressivos inibidores de
recaptura de serotonina, como a
clomipramina, e inibidores
seletivos de recaptura de
serotonina, como a sertralina, a
fluvoxamina, o escitalopram e a
desvenlafaxina, entre outros
‘Obsessões geram ansiedade e desconforto
DIÁRIO DA REGIÃO São José do Rio Preto, 3 de julho de 2011 / página 9
10. Bem-Estar - Quando se mani-
festam os primeiros sinais e de
que forma o familiar pode ajudar?
Altino Bessa - No TOC de iní-
cio precoce, a idade média já foi
apontada como 11anos, mas já
diagnostiquei TOC em meninos
de 10 e até de 9 anos. A maioria
dos portadores começa a ter sinto-
mas em torno de 20 anos. Como o
início é predominantemente insi-
dioso, torna-se muitas vezes difícil
para um parente perceber os pri-
mórdios do transtorno obsessivo-
compulsivo, por mais próximo
que seja do portador.
Bem-Estar - Quem toma ba-
nho por cerca de uma hora todos
os dias, de duas a trêsvezes por
dia, pode estar com início de
TOC?
Marques - Pode, mas também
pode ser uma pessoa vaidosa, com
muito tempo disponível, e que
não sofre em fazê-lo, nem há pre-
juízos. Para ser TOC, é necessá-
rio que a pessoa se sinta compeli-
da a executar os banhos em res-
posta a uma obsessão ou de acor-
do com regras que devam ser se-
guidas rigidamente.
Bem-Estar - Quando a criança
tem o problema, o que fazer?
Marques - Qualquer transtor-
no mental e de comportamento in-
cidindo em crianças e adolescen-
tes se insere em grave problema de
saúde pública a meu ver, pois exis-
tem 300 psiquiatras especialistas
nestas faixas etárias no Brasil e esti-
ma-se que haja em torno de 9 mi-
lhões de portadores (envolvendo-
se todos os distúrbios psiquiátri-
cos) que não atingiram ainda a
maioridade. A triagem tradicional
e adequada, que implica em passar
primeiro pelo pediatra e depois pe-
lo neurologista infantil, para de-
pois fazer o encaminhamento ao
psiquiatra da infância e adolescên-
cia, na maioria das vezes não é pos-
sível. Em Rio Preto, há dois Cen-
tros de Atenção Psicossocial
(CAPS) para crianças, com equi-
pes envolvendo vários profissio-
nais que podem fazer o diagnósti-
co e o acompanhamento psicoterá-
pico e medicamentoso.
Bem-Estar - Em casos de pen-
samentos negativos recorrentes,
é possível que o usoda terapia de
psicologia positiva funcione?
Marques - A expressão “pensa-
mentos negativos recorrentes” me
lembra mais adepressão unipolar,
a depressão bipolar e a distimia,
em que o pessimismo permeia as
ideias e o diálogo dos portadores.
Não sei o que seria psicologia posi-
tiva e não acho que exista uma psi-
cologia negativa. Ambas as psicote-
rapias psicodinâmicas (ligadas à
psicanálise) e cognitivo-comporta-
mental podem ajudar, e muito, por-
tadores de pensamentos negativos
recorrentes. Se eles se derem
emcontexto situacional, podem
fazê-lo muito bem e exclusivamen-
te. Se fizerem parte de um quadro
psiquiátrico e se manifestarem cro-
nicamente, haverá necessidade
também de diagnóstico médico e
psicofarmacoterapia.
Bem-Estar - Nos casos em
que o médico retira remédios do
tratamento e o paciente apresen-
ta problemas de ansiedade, en-
tre outros, o que fazer?
Marques - O método mais prá-
tico de se poder tomar menos re-
médio é a associação do tratamen-
to farmacológico com a psicotera-
pia. Quanto a “medicar demais”,
em termos de TOC, a expectativa
acadêmica atual é a de que os me-
lhores resultados são alcançados
com doses máximas de psicofárma-
cos (que possam ser tolerados pelo
indivíduo e com os melhores resul-
tados), o que é demonstrado por
meio de estudosmetodológicos ri-
gorosamente executados. Isso não
deve ser confundido com a atual
política que procura ver o psiquia-
tra não como o especialista em
transtornos mentais interessado
no melhor reconhecimento destes
distúrbios e nos tratamentos mais
eficazes, mas como um médico
que quer dopar e internar seus pa-
cientes. Acho que médicos que
acreditem em “desmedicalização”
deveriam se tornar psicoterapeu-
tas e conhecer bem os limites de
não se dar remédios.
Bem-Estar - Em que medida é
possível contribuir para o bem es-
tar das pessoas que não conse-
guem entender o que está errado
em seus comportamentos?
Marques - Muitas vezes, a de-
mora em se iniciar o tratamento se
deve ao orgulho de não querer ad-
mitir algo que traz tanto sofrimen-
to, de ter de ceder aos apelos de pa-
rentes e amigos. O contexto inseri-
do em estigmas também contribui
demais, a ponto de “comadres”(e
“compadres”) recomendarem que
não se deve procurar o psiquiatra,
um “médico de loucos”. Tratar por-
tadores de esquizofrenia é uma por-
centagem pequena do trabalho psi-
quiátrico. Ansiedade, depressão, bi-
polaridade e as substâncias fazem
muito mais parte do nosso dia a
dia. Na prática clínica, alguns por-
tadores começam a procurar ajuda
ao ler um artigo como este ou ao as-
sistir uma reportagem bem feita so-
bre o assunto na televisão. ■
página 10 / São José do Rio Preto, 3 de julho de 2011 DIÁRIO DA REGIÃO
11. Alimento contribui na redução do colesterol ruim, age no melhor funcionamento intestinal, promove
uma sensação de saciedade e previne ou melhora processos inflamatórios, entre outras vantagens
Cecília Dionizio
cecilia.dionizio@diarioweb.com.br
Quemnão experimentou ain-
da, nem imagina o poder de ação
deste simples grão. Dentre os be-
nefícios da semente de linhaça
estão combater os radicais livres
(por ser um alimento antioxidan-
te), amenizar os distúrbios da
tensão pré-menstrual (TPM),
ajudar nos tratamentos de cân-
cer de mama, colo e próstata.
Isso tudo porque, de acordo
com a médica ortomolecular
Sylvana Braga, especialista em
reumatologia, de São Paulo, au-
tora do livro “Dieta Ortomole-
cular – O segredo de rejuvenes-
cer em total harmonia”, a linha-
ça é rica em vitaminas, ômega 3
e fibras. Segundo a médica,
quando bem orientada, a inges-
tão do grão durante as refeições
auxilia na regularização intesti-
nal e na diminuição do coleste-
rol. “Ela é importante auxiliar
em alguns quadros de distúr-
bios do diabetes, sistema vascu-
lar e melhora a retenção de líqui-
dos”, diz.
Além de ômega 3, o grão
possui alta concentração de
ômega 6, o que o torna uma pre-
ciosidade na produção de óleos
e vitaminas.
A nutricionista Flávia Mo-
rais, da rede Mundo Verde, afir-
ma que é importantíssimo para
a saúde o consumo deste tipo de
gordura que a linhaça oferece, a
exemplo de outros grãos, como
soja, girassol, gergelim, azeite
de oliva, canola, nozes, amên-
doas e outros. “Essas gorduras
estão envolvidas com menor ris-
co de doenças cardiovasculares,
pois auxiliam na redução dos ní-
veis de colesterol e triacilglice-
rol, na redução da pressão arte-
rial e na diminuição da agrega-
ção plaquetária. Além disso,
têm ação antioxidante, anti-in-
flamatória e imunoestimulan-
te”, afirma a nutricionista.
Outra nutricionista, Vera
Lúcia Nicoletti Siqueira, de Rio
Preto, observa que os alimentos
podem sim ser auxiliar na pre-
venção de algumas doenças.
Mas curar, jamais, a não ser, cla-
ro, quando se trata de deficiên-
cias nutricionais. “Ao receber o
alimento contendo o nutriente
que está em falta, aí sim, pode
curar”, diz.
E por ser um alimento fun-
cional, a semente de linhaça
tem o potencial, por meio do
ômega 3 e 6, de auxiliar na redu-
ção do colesterol ruim, o LDL.
A semente também tem fibras
solúveis e insolúveis e, por isso,
age no melhor funcionamento
intestinal e promove uma sensa-
ção de saciedade, o que faz com
que haja um menor consumo de
outros alimentos e, consequen-
temente, a possibilidade de per-
da de peso. E graças ao seu com-
ponente “lignana”, auxilia na
prevenção de câncer de mama.
A nutricionista alerta que o
ideal é que a linhaça seja consu-
mida triturada em casa, em pe-
quenas quantidades,para pou-
cos dias, pois seus ácidos gra-
xos oxidam e ela perde suas pro-
priedades. “O máximo de con-
sumo aconselhável por dia é de
duas colheres de sopa do fare-
lo”, diz Vera.
Seja na forma de semente ou
como farinha, o consumo de
duas colheres de sopa ao dia for-
nece ao organismo prevenção e
melhora de processos inflamató-
rios e doenças de pele como, por
exemplo, a psoríase e eczemas.
A médica Sylvana Braga ex-
plica que a ação anti-inflamató-
ria da semente de linhaça garan-
te controle e estabilidade das ta-
xas de colesterol e, por essa ra-
zão, já é vista como excelente
agregador às defesas naturais do
corpo humano, agindo também
como auxiliar nos tratamentos
de doenças reumáticas graves,
acompanhadas de adequado tra-
tamento médico.
Além de agir como reforça-
dor do sistema imunológico, é
importante que o consumo seja
sempre acompanhado da inges-
tão de líquidos.
A farmacêutica Creusa Man-
zalli de Toledo, do Armazém
Grindélia, de Rio Preto, obser-
va que as pessoas estão mais
conscientes sobre a importância
de uma alimentação correta,
mais nutritiva e, sempre que
possível, livre de agrotóxicos.
“O custo-benefício de comer
um alimento saudável e ter uma
saúde equilibrada não tem pre-
ço”, afirma.
Grãos germinados
Eles recebem esta denomina-
ção devido ao processo de germi-
nação pelo qual passam e ao alto
valor nutricional que contém.
“Por meio da germinação, os
grãos e sementes são transforma-
dos em alimentos de maior qua-
lidade nutricional e maior bio-
disponibilidade dos nutrien-
tes”, explica Bruna Murta, tam-
bém nutricionista da rede Mun-
do Verde.
Esses alimentos são uma das
poucas fontes vegetais de vitami-
na B12 e possuem poucas calo-
rias, propriedades antioxidan-
tes, bem como minerais. Indica-
dos para resolver problemas de
descalcificação, eles promovem
a regeneração celular, estimu-
lam o aumento das defesas imu-
nitárias do organismo humano,
além de facilitar as reações meta-
bólicas. Os alimentos germina-
dos podem ser utilizados em vá-
rios tipos de preparações. As fa-
rinhas de linhaça germinadas
podem ser adicionadas a iogur-
te, sucos, saladas, frutas ou ain-
da em pães, massas, sobremesas,
tortas salgadas e doces, bolinho
de vegetais, muffins, biscoitos.
Os grãos germinados podem ser
cozidos em água e sal ou acres-
centados em saladas e sopas. ■
Dieta
Os múltiplos benefícios
da semente de linhaça
Dicas
Óleo de linhaça: fonte de ômegas 3 e 6 na proporção ideal. Estudos mostram sua ação na
redução de triacilglicerol e colesterol e também na inibição de fatores inflamatórios. Para temperar
saladas, por exemplo, pode ser misturado na proporção de 2 colheres de azeite para 1 de óleo de
linhaça
SAIBA MAIS
A linhaça (Linum usitatissimum L.) é a semente do linho, planta pertencente à família das
Lináceas, que tem sido cultivada há cerca de 4 mil anos nos países mediterrâneos. É uma
semente com várias aplicações, podendo ser usada como matéria-prima para produção de óleo e
farelo
As sementes também são utilizadas como complemento alimentar, sendo adicionadas a
pães, bolos e biscoitos ou ainda misturadas cruas aos alimentos
Principais componentes da linhaça: é uma excelente fonte de fibras. Possui tanto fibras
solúveis quanto insolúveis. Rica em ácidos graxos essenciais, com elevado teor de lipídios (32 a
38%), ácido graxo insaturado ômega-linolênico, pertencente à família ômega 3, ácido linoleico e
ácidos graxos monoinsaturados e saturados
DIÁRIO DA REGIÃO São José do Rio Preto, 3 de julho de 2011 / página 11
12. A preocupação exagerada
com a vida saudável pode
virar uma patologia, com
sérios riscos para o corpo.
Bem-estar envolve equilíbrio
físico, emocional e social
Gisele Bortoleto
gisele.bortoleto@diarioweb.com.br
Se você é daquele tipo de pessoa
que, em nome da boa saúde, passa ho-
ras em uma academia de ginástica to-
dos os dias, deixa de ir até mesmo na
casa da avó no fim de semana e de co-
mer aquela deliciosa macarronada, evi-
ta se reunir com amigos em uma chur-
rascaria para fugir das tentações da pi-
canha e vive fazendo exames médicos
periódicos para garantir que todos os
elementos químicos estejam bem, cui-
dado: especialistas afirmam que, que
quando o assunto é saúde, mais nem
sempre é melhor.
Os primeiros sinais de que você de-
ve rever seus conceitos é quando a preo-
cupação demasiada com o bem-estar in-
terfere no seu dia a dia e o impede de
ter bons momentos, limita suas ativida-
des ou causam algum tipo de prejuízo
nas suas relações sociais, profissionais
ou afetivas.
Os especialistas afirmam que não
há problemas em cultivar um estilo de
vida saudável: restringir o sal e o açú-
car e as gorduras, comer frutas e legu-
mes, fazer uma atividade física, porque
devemos realmente preservar nossa saú-
de. O problema é pensar apenas no cor-
po com o único objetivo de fazer a má-
quina funcionar.
O cardiologista Artur Zular, presi-
dente do Departamento de Medicina
Psicossomática da Associação Paulista
de Medicina, vice-presidente da regio-
nal São Paulo da Associação Brasileira
de Medicina Psicossomática e autor
do livro “Sucesso Sem Stress” (ed.
Best Seller) afirma que as pessoas têm
uma visão limitada do que é bem-es-
tar. E o bem-viver e a qualidade de vi-
da são os assuntos tratados em seu li-
vro, descrito por ele como “um ma-
nual do bem viver”.
Na sociedade contemporânea oci-
Distorção
LOUCOS
POR SAÚDE
página 12 / São José do Rio Preto, 3 de julho de 2011 DIÁRIO DA REGIÃO
13. dental, algumas pessoas passam a consu-
mir de maneira exacerbada alguns valores
ligados ao bem-viver. As pessoas são bom-
bardeadas pela mídia com informações de
que, para ser saudável, é preciso abrir mão
de prazeres.
“Comer uma macarronada no domin-
go com um bom molho à bolonhesa jun-
to com a família na casa da avó é uma
oportunidade fantástica de celebrar o
bem-viver com as pessoas queridas, mas,
ao invés disso, as pessoas começam a se
preocupar em comer carne vermelha e a
gordura”, diz o médico.
O problema, segundo o cardiologista,
está ligado ao excesso de regras e lembra
que a regra é balanceada pela exceção. Um
indivíduo que tem uma personalidade ra-
zoavelmente equilibrada entende que po-
de ter uma vida regrada e se permitir ex-
ceções; que não precisa levar a dieta tão
à risca e se privar do almoço de domingo
porque, durante a semana, certamente
irá se cuidar.
Não há nada de errado com aquelas
pessoas que fazem caminhada durante
uma hora, três vezes por semana e, nos ou-
tros dias, por exemplo, nadam 40 minu-
tos e ainda jogam futebol, basquete ou tê-
nis no sábado.
Zular diz que o problema é que exis-
tem casos gerados por um desvio de perso-
nalidade e que resultam em situações ex-
tremas para poder corresponder à carti-
lha da “saúde”. Elas passam, por exem-
plo, a reservar um número maior de ho-
ras todos os dias para praticar exercícios,
a ponto de sofrer lesões. Essas pessoas
também perdem a oportunidade de conta-
to maior com a família e até enfrentam
problemas no trabalho.
Isso ocorre pela interpretação incorre-
ta. Segundo a Organização Mundial de
Saúde (OMS), a saúde é um estado de com-
pleto bem-estar físico, mental e social, e
não apenas a ausência de doenças.
Acontece que a sociedade cobra muito
de todo mundo uma boa imagem. A mu-
lher tem de ser magra e o homem ter abdô-
men de tanquinho. Os frequentadores das
academias também vendem a ideia de que
é necessário usar suplementos nutricio-
nais desnecessários ou de origem duvidosa
quevão gerar uma sobrecarga renal, poden-
do levar à morte. É uma situação comum
mulheres que treinam demais entrarem
em amenorreia (falta de menstruação) e
ter até queda de cabelo.
“As mulheres que trabalham são mães
ou donas de casa e muitas vezes não têm
mais tempo para ficar em uma academia.
Mas elas se cobram e querem ficar iguais a
Gisele Bündchen, em função da grande vi-
gilância social que as pune com olhares, co-
mo se fossem faltosas ou culpadas por não
ser igual à modelo”, diz o médico. É aí que
começa o desvio do comportamento e mui-
tas abrem mão dos gostos e começam a fa-
zer dietas absurdas.
“O problema é que uma pessoa que pas-
sa a fazer tudo de forma excessiva, se tiver
um padrão obsessivo interno, irá virar re-
fém desse modelo imposto e irá precisar
sempre de mais”, afirma Zular.
Além disso, todos os dias somos bom-
bardeados por campanhas que reforçam a
noção de que, para preservar a saúde, preci-
samos fazer um grande número de exa-
mes. Os cientistas da Darthmouth Medi-
cal School, nos Estados Unidos, liderados
pelo professor Gilbert Welch, no livro
“Overdiagnosed”, ainda inédito no Brasil,
fazem um alerta sobre os riscos do excesso
de diagnósticos.
Welch alerta sobre a epidemia de exa-
mes preventivos e diz que muitos detec-
tam alterações que jamais viriam a incomo-
dar e, com base nos resultados, adotam tra-
tamentos complexos, dolorosos ou desne-
cessários. Os pacientes sofrem de uma
overdose de efeitos adversos das medica-
ções e cirurgias são realizadas sem critério.
O resultado é o aumento do custo dos servi-
ços médicos e falta de leito nos hospitais.
Isso provoca um aumento nos laboratórios
de análises e imagens.
A alternativa sugerida por Arthur Zu-
lar é a criação de outros focos de gratifica-
ção, como ler, assistir a um bom filme
com os amigos, ver o por do sol ou viajar,
que são coisas que ele considera mais im-
portantes do que apenas se preocupar
com o corpo.
Isso não significa que você deva deixar
de ir ao médico ou parar de frequentar a
academia, mas Zular recomenda que bus-
quemos o equilíbrio. E essa, segundo ele, é
a melhor receita para a saúde.
O psiquiatra Wilson Daher diz que a
maioria das pessoas que age com excesso
na prática de exercício tem o chamado
transtorno de personalidade, com obses-
são por alguma coisa. “Cuidar do corpo é
uma coisa. O culto do corpo da forma co-
mo é cultuada é uma coisa patológica.”
Frequentar uma academia com o obje-
tivo de melhorar a performance é saudá-
vel, mas o portador do transtorno de perso-
nalidade tem por objetivo se tornar um
Apolo. “A pessoa tem essa ideia tão fixada
que a vida dela gira em torno desse objeti-
vo”, explica.
“Essa questão do corpo está muito em
moda hoje e as pessoas estão valorizando
demaiso aspecto físico”, afirma Ingrid Ber-
gamo, psicóloga clínica e organizacional,
que lembra que saúde envolve equilíbrio
emocional, físico, social, no trabalho e na
família. “A pessoa que cuida só de manter
o corpo funcionando vai se tornando obses-
siva, e isso não pode acontecer.” Pessoas as-
sim acabam entrando e se isolando em
uma bolha.
Para mudar o foco, Ingrid Bergamo re-
comenda uma reflexão profunda dos aspec-
tos gerais da vida: familiar, social, traba-
lho, amizades e pensar no desenvolvimen-
to pessoal. É preciso perceber quando co-
metemos excessos e procurar ajuda profis-
sional, se for o caso. ■
Os excessos e as doenças
VIGOREXIA
Ocorre quando o volume e a intensidade de exercícios físicos
praticados excedem a sua capacidade de recuperação. Pode-se somar
ao fato de apresentar uma autoimagem distorcida: não se achar forte
fisicamente o suficiente e pensar que precisa de mais exercícios para
isso. A musculação e o spinning, por exemplo, tornam-se sagrados.
Quem sofre desse transtorno ignora os alertas sobre o perigo de
machucar músculos e tendões, afetar a produção de hormônios e
acelerar o envelhecimento. Também são registrados queda no
rendimento e na resistência do organismo
ANOREXIA
Disfunção alimentar caracterizada por uma dieta alimentar rígida e
insuficiente, caracterizando em baixo peso corporal. O indivíduo não se
permite comer qualquer coisa fora de sua própria cartilha. Embora seja
mais comum em adolescentes e mulheres adultas jovens, hoje também
atinge os homens. É uma doença complexa, que envolve componentes
fisiológicos, psicológicos e sociais. No caso dos jovens adolescentes
de ambos os sexos, poderá estar ligada a problemas de autoimagem
TOC
O transtorno obsessivo compulsivo é uma doença que não tem
cura, mas tem controle. A pessoa apresenta ideias fixas e, para
aliviar a angústia, desenvolve hábitos compulsivos. Ela sofre de
ideias e/ou comportamentos que podem parecer absurdos ou
ridículos para a própria pessoa, mas mesmo assim são
incontroláveis. É o caso de uma pessoa que lava a mão uma
infinidade de vezes, porque acha que foi contaminado ao apertar as
mãos de alguém, volta para ver se a porta está fechada, porque teme
que alguém entre, e daí por diante. O ritual parece aliviar o
desconforto (leia mais sobre TOC nas páginas 8, 9 e 10)
ORTOREXIA
Fixação por uma alimentação saudável. A pessoa gasta várias
horas pensando no assunto. A vigilância é tão grande que deixa de lado
as festas e os compromissos sociais para não sair da dieta e, se vai,
leva a própria comida. Geralmente, enfrenta problemas nutricionais
HIPOCONDRIA
Estado psíquico em que a pessoa tem a fantasia de que está
sempre doente e sofre por isso. Faz uma busca exagerada de
medicamentos, procura vários médicos e lê tudo sobre os tratamentos
e cirurgias. Um simples problema, como gases, faz a pessoa pensar em
um câncer ou gastrite que, no dia seguinte, já evolui para uma úlcera.
Costuma vir associada a um medo irracional da morte ■
Fonte: Arthur Zular, cardiologista
DIÁRIO DA REGIÃO São José do Rio Preto, 3 de julho de 2011 / página 13
14. Nolivro“Conversando comseu filhoadolescentesobre sexo”,educadorMarcosRibeiro
ensinacomoos paispodem construir umarelaçãodeconfiança paraabordar o tema
Cecília Dionizio
cecilia.dionizio@diarioweb.com.br
Seu filho está crescendo e você
nãosabecomoexplicaraeleasmu-
dançasqueaadolescênciaimplica?
Educador, consultor e palestrante,
Marcos Ribeiro ensina no livro
“Conversando com seu filho ado-
lescente sobre sexo” (Ed. Planeta/
selo Academia, 176 páginas, R$
19,90)algumasdicasparaajudaros
pais a construir uma relação mais
próxima nessa que é uma das eta-
pas mais importantes da vida de
seusfilhos.
Naobra,quecontacomaparti-
cipaçãodaginecologistaAlbertina
DuarteTeixeira,coordenadora do
Programa de Adolescência da Se-
cretariaEstadual deSaúde,ambos
falam um pouco de tudo que en-
volve esta fase, desde camisinha,
gravidez, aids, masturbação, além
de drogas e bullying. Aliás, sobre
esse último tema, segundo Ribei-
ro, dependendo do tipo de
bullyingqueacriançasofresuase-
xualidade poderá ser mais ou me-
nos prejudicada por toda a vida.
Para o educador, não resta dú-
vidadeque,paraospais,paracons-
truir laços de respeito e confiança,
e que seus filhos cresçam bem in-
formados e saudáveis, o diálogo
ainda é a melhor solução. Porém,
o autor se questiona se os adultos
sabem como falar sobre esses as-
suntos com naturalidade, levando
em conta não apenas o que acham
certo, mas também o que seus fi-
lhos esperam.
Gravidez precoce
De acordo com o Instituto
BrasileirodeGeografia e Estatísti-
ca (IBGE), já se calcula hoje que
cercade20%dapopulaçãobrasilei-
ra seja de adolescentes (jovens en-
tre 10 a 19 anos), e que nesta faixa
etáriaaincidênciadagravidezeste-
ja entre 14 e 22%, o que é um nú-
mero preocupante, especialmente
sefaltar informação a essesjovens,
segundo a psicopedagoga Maria
Irene Maluf, de São Paulo.
Ela lembra que o sexo faz
parte da educação e da vida. E
cabe aos pais oferecer educação
sexual aos filhos. “Muitos pais
se sentem atemorizados quan-
do descobrem a gravidez de sua
filha ou ao saber que seu filho
engravidou a namorada ou a
amiga da escola. Alguns se sen-
tem culpados de não ter cuida-
do da educação sexual do jo-
vem e outros se surpreendem,
pois ofereceram informações
ao longo do seu crescimento e
não entendem porque a filha
ou o filho não agiu com cautela
com relação a esse delicado as-
sunto”, diz.
A psicopedagoga observa
que a adolescência é considera-
da uma fase de transição entre
a infância e a idade adulta, uma
etapa da vida que o jovem assu-
me mudanças na imagem cor-
poral, de valores e de estilo de
vida e cria uma identidade pró-
pria. Maria Irene reconhece
que receber a notícia que, nor-
malmente, traz tanta alegria,
nesse caso surpreende e assus-
ta, pois não raro se veem meninas
de menos de 15 anos acreditando
que ter um bebê é como nas nove-
las. “Mas brigar, repreender, ba-
ter,expulsardecasaestáforadeco-
gitação:asoluçãoésentar,conver-
sar e tentar saber o máximo possí-
vel para ajudar, orientar e dimi-
nuir o impacto que essa menina
terá na vida a partir de agora”,
alerta.
A psicopedagoga faz um
alerta a quem tem filhos: escla-
recimento sobre sexo nunca é
demais, pois o número de jo-
vens grávidas na adolescência
tem aumentado e a faixa etária
das gestantes diminuído. “Seja
porque a mídia exagera na
erotização do corpo, ou porque
a atividade sexual na adolescên-
cia vem se iniciando cada vez
mais precocemente, as
consequências indesejáveis, co-
mo o aumento da frequência de
doenças sexualmente transmis-
síveis (DST), a aids e a gravi-
dez indesejada nessa faixa
etária vêm crescendo e trazen-
do problemas muitas vezes trá-
gicos e insolúveis”, diz.
Conversar é preciso
Para conversar sobre sexo
com seu filho, ensina Ribeiro,
o ideal é aproveitar as situações
do dia a dia em vez de “entrar
com tudo” no assunto. Isso sig-
nifica “um comentário em ca-
sa, o que você ouviu de um dos
colegas dele, a notícia da TV,
um tema abordado num dos
programas para jovens e tantas
outras oportunidades.” Para Ri-
beiro, não deve haver a divisão
pai-filho, mãe-filha. “Tanto o
garoto como a garota devem
conversar com os dois, respeita-
do-se, claro, o grau de intimida-
de maior com um ou com ou-
tro, o que é normal nas relações
familiares.”
Sexualidade
A hora certa de
falar sobre sexo
Paraajudar naconversa:
Converseprimeiro entre
ocasal,para quetanto pai
quantomãe possamestarde
comumacordosobre como
vãoabordarasdúvidas
Descubra quaissão as
dificuldadesquecadaum tem
parafalarsobre oassunto
Pesquisasmostram que,
quandoas crianças
conversamsobre sexocomos
pais,elesse tornammais
responsáveisetendematero
iníciodavidasexual adiado
paraquando estiveremmais
amadurecidas
Treineentre ocasal
(paiemãe)quais as possíveis
perguntasque irãosurgir
Procure ajudadeuma
pessoapróxima,deconfiança,
edividaaopinião devocês e
ouçaoqueelapensa.
Podeserútil
Naturalidadeé a
palavra-chaveparavocê
conversarsobre sexocomseu
filho.É importante passarpara
ele,logo noinício, quea
sexualidadedetodos nósé
algonaturale prazerosoeque
nãodevemossentirculpaou
tervergonha deperguntar
Nãoháuma idadecerta
paravocêiniciar essaconversa
–certamenteseu filho vai
sinalizaroinícioquando chegar
comaprimeirapergunta.
Esseéomomento ■
Marcos Ribeiro é
professor, palestrante na
área de educação sexual e
coordenador geral do
Centro de Orientação e
Educação Sexual (CORES),
no Rio de Janeiro. Ele
aposta numa regra básica
para a educação sexual dos
filhos: diálogo + respeito +
confiança + limites na
hora certa
Dicas
Perfil
www.sxc.hu/Divulgação
página 14 / São José do Rio Preto, 3 de julho de 2011 DIÁRIO DA REGIÃO
15. Cada um de nós pode, a partir daquilo que emite de maneira consciente, se
transformar num polo gerador de bons comportamentos e boas atitudes
Josinel B. Carmona
Psicólogo
A inteligência emocional é
um atributo do ser humano (tal-
vez não só nosso), nem sempre
bem usado, quando se trata de
relacionamento entre as pes-
soas. Quem sabe uma boa refle-
xão sobre instintos possa nos
ajudar a mudar um pouco isso.
Somos todos dotados de um
instinto, não apenas nós huma-
nos, mas todas as espécies apre-
sentam a capacidade de adapta-
ção e reação ao ambiente. Te-
nho chamado esse instinto, nos
humanos, de “Instinto Natural
de Retribuição”, me descul-
pem se houver alguma redun-
dância quanto ao fato de ter
atribuído o caráter de natural a
um instinto.
Esse interessante comporta-
mento, se melhor compreendi-
do, pode transformar nossa ma-
neira de nos relacionarmos
com os outros. O INR se mani-
festa da seguinte maneira: sem-
pre que alguém tem qualquer
atitude em relação a outro, esse
outro sente um impulso natu-
ral, uma vontade enorme de re-
tribuir e devolver aquilo que re-
cebeu. É claro que o processo
de educação e cultura interfere,
estimulando ou reprimindo, al-
guns impulsos de retribuição.
O instinto basal é o desejo
de devolver.
Quando recebemos atitudes
boas, amorosas, de cuidados,
de respeito, atenção, etc, nessa
linha, somos tomados por um
sentimento que chamamos de
gratidão. Somos estimulados
em nossa melhor parte, nossos
mais elevados sentimentos e
pensamentos aparecem e nos
tornamos melhores, atencio-
sos, amorosos, compreensivos,
pacientes, etc.
Por outro lado, chamamos
de vingança o sentimento que
surge quando somos agredidos,
desrespeitados, humilhados, re-
jeitados, ignorados.
Todos os dias, ouvimos e fa-
lamos sobre essa nossa socieda-
de, os problemas que temos, a
solidão crescente que experi-
mentamos, o individualismo e
o egoísmo, o péssimo exemplo
de alguns políticos e a classe di-
rigente. A sociedade é uma abs-
tração, é uma coletividade de
indivíduos como você e eu. So-
mos a sociedade.
Cada um de nós pode, a par-
tir daquilo que emite de manei-
ra consciente, se transformar
num polo gerador de bons com-
portamentos, bons exemplos,
boas atitudes, tendo como foco
a responsabilidade de com-
preender o que de fato estamos
estimulando no outro a partir
daquilo que estamos emitindo.
É basal e instintivo devol-
ver, “pagar com a mesma moe-
da”, como se fala. Haverá de che-
gar o dia em que deixaremos para
trás esse primitivo desejo e então
poderemos oferecer algo ainda
melhor do que o recebido, mas
por hora, na condição em que
existimos,já seriamuito bom que
pudéssemos estimular o bem e o
bom no outro. ■
GRATIDÃO
OU VINGANÇA
www.sxc.hu/ Divulgação
Rubens Cardia
DIÁRIO DA REGIÃO São José do Rio Preto, 3 de julho de 2011 / página 15
16. Fernanda Lima emplaca terceira temporada de “Amor & Sexo” na Globo
TV Press
A memória de Fernanda Li-
ma até apagou certos registros.
Mas suas amigas hoje deixam
claro para a apresentadora que
o “Amor & Sexo” parece ter si-
do feito sob encomenda para a
gaúcha de Porto Alegre. Pronta
para voltar ao ar, a partir do
próximo dia 7, na terceira tem-
porada do programa mais pi-
cante da Globo, Fernanda jura
que sempre se achou tímida e
quadrada. Mas hoje, o que ouve
dos velhos conhecidos é que es-
tá “em casa”. “Outro dia mes-
mo eu reencontrei uma amiga
que disse: ‘nossa, só podia ser
você. Sempre falou tão bem so-
bre sexo’! Mas eu mesma não
me lembro disso”, diverte-se. E
garante, como ela mesma diz,
ter “finalmente” se encontrado
dentro da emissora. “É um es-
paço para chamar de meu. Foi
uma proposta nova, com o meu
jeito, sem regras. A gente con-
versa bastante até chegar ao
tom ideal, mas tem a minha ca-
ra”, gaba-se.
Para Fernanda, um dos
grandes diferenciais de “Amor
& Sexo” é o fato de ser um pro-
grama de entretenimento que
abre portas para um debate
que, em muitos lares, não ga-
nha espaço com facilidade.
“Mas quando você fala, depen-
dendo da abordagem, nem pre-
cisa pedir que o outro se colo-
que, que dê opinião”, analisa.
Uma condição que deixa não só
a plateia, mas também os convi-
dados e a própria apresentado-
ra muitas vezes falando além
do esperado. “Todo mundo aca-
ba se excedendo um pouco.
Tem momentos em que você se
depara com uma pessoa da pla-
teia debatendo diretamente
com um dos convidados, de
igual para igual. Isso é muito
bom”, avalia.
Em sua segunda tempora-
da, exibida no início deste ano,
“Amor & Sexo” liderou por di-
versas vezes o ranking dos as-
suntos mais comentados do
mundo na rede social Twitter.
A ferramenta, aliás, já virou
uma espécie de medição minu-
to a minuto da equipe, servin-
do de base para que se perceba
o que deve ou não ser mais ex-
plorado em programas futuros.
“Não tem como ignorar o públi-
co. Assistimos monitorando o
que está acontecendo nesse uni-
verso virtual”, afirma. Tanto
sucesso na internet e em tempo
real já faz com que a equipe pen-
se em, no futuro, experimentar
uma edição ao vivo. Mas é justa-
mente o clima extrovertido do
estúdio um dos maiores impe-
ditivos para colocar essa ideia
em prática. “Gravamos cerca
de duas horas e editamos o ma-
terial. Se for ao vivo, vou ter de
mandar as pessoas calarem a bo-
ca, porque muita gente quer fa-
lar sobre os temas”, explica.
Fernanda conta que, no iní-
cio, a ideia era que o programa
se chamasse apenas “Sexo”.
Por uma recomendação da pró-
pria emissora, para que o públi-
co assimilasse melhor o conteú-
do, se transformou em “Amor
& Sexo”. Mas questões senti-
mentais, na opinião da própria
apresentadora, ficaram de lado
na primeira temporada. Uma si-
tuação amenizada já na segun-
da e que, agora, Fernanda pre-
tende equilibrar ainda mais.
“Percebo pelas pessoas nas
ruas que existem muitas discus-
sões interessantes sobre senti-
mento mesmo. E também com-
portamento. Há várias coisas
entre o amor e o sexo que são in-
teressantes”, argumenta.
Satisfeita com sua rotina de
trabalho, Fernanda nem hesita
na hora de ser questionada so-
bre a vontade de voltar a fazer
novelas. “Nenhuma”, atesta a
atriz de “Bang Bang” e “Pé na
Jaca”. Mas não descarta a possi-
bilidade de atuar em projetos
mais curtos ou trabalhos espe-
cíficos. O que já acontece em al-
guns quadros do “Amor & Se-
xo” como, por exemplo, o “Se-
xo Selvagem”, onde se explo-
ram curiosidades a respeito da
vida sexual de alguns bichos.
“Estou realizada. Quero que es-
se programa dure muito tempo
ainda”, torce ela, que não sabe
o tempo que vai passar gravan-
do a atual temporada. Inicial-
mente, estão previstos oito epi-
sódios, mas esse número ainda
pode mudar. “Tudo funciona
em cima de uma grade. Não
existe um martelo batido. A
previsão é essa, mas pode ser
que a gente grave mais”, avisa.
“Amor & sexo” – Globo –
Estreia do dia 7 para o dia 8,
de quinta para sexta-feira, a
partir de 0h.
Perfil
SÓ PENSA NAQUILO
Aoserlançado,“Amor&
Sexo”foi pensado apenas co-
mo uma opção de entreteni-
mentosobre umtema pican-
te. Mas agora, dois anos de-
pois, Ricardo Waddington
admitequeaexperiênciacon-
quistada nas temporadas an-
terioresprovocouumaevolu-
çãonatural.Oobjetivoprinci-
pal – de divertir – ainda é o
mesmo. Mas nota-se, entre a
equipe, uma preocupação
maior em promover debates
que possam ajudar, de algu-
maforma,asociedade.“Éim-
possível entrar neste univer-
soenãoseralimentadoecon-
taminado, no bom sentido.
Nós ganhamos uma respon-
sabilidade trazida pelo pró-
prioprograma.Nossodiscur-
so vem se adequando à de-
manda de quem nos assiste”,
garanteo diretor.
A princípio, a saída do
quadro“Gayme”,voltadopa-
ra o público gay, poderia ser
considerada contraditória
com essa ideia. Mas Wa-
ddington explica justamente
ocontrário.“Nãosãouniver-
sos diferentes, é um só”, de-
fende ele, que jura ter inseri-
do assuntos voltados para to-
dasasorientaçõessexuaisem
cadaepisódiodanovatempo-
rada. “Na primeira, deixa-
mos de falar com determina-
das pessoas por estarmos tí-
midos.Avançamos,conhece-
mos melhor nosso público e
ficou claro que existe uma
maturidade na sociedade
para abordar certos temas
sem necessariamente agre-
dir ou correr risco de rejei-
ção”, frisa. ■
Marido de Fernanda Lima, Rodrigo Hilbert
participa de dois episódios do “Amor & Sexo” com
um quadro próprio. “Mas não posso contar mais
detalhes. É segredo ainda”, desconversa ela
No “game” “Strip Quizz”, Fernanda vai
receber casais como convidados. Em uma das
edições, Flávia Alessandra e Otaviano Costa
disputam a competição com o socialite Bruno
Chateaubriand e seu companheiro, o empresário
André Ramos
Leandro Hassum e André Marques
participam do quadro “Sexo Selvagem” junto
com Fernanda
“Amor & Sexo” mantém o casal de
repórteres Valéria Abaurre Gonçalves e Fábio
Gonçalves, que são casados há mais de 50 anos
Inclusão
sexual
Instantâneas
Fernanda Lima se diz
pronta para voltar ao
comando do programa
Luiza Dantas/Divulgação
TV - página 16 / São José do Rio Preto, 3 de julho de 2011 DIÁRIO DA REGIÃO
17. Com modéstia
Deborah Secco não esconde a felicidade com o suces-
so da personagem Natalie, de “Insensato Coração”,
da Globo. A atriz assegura que viver este papel não
tem sido uma missão fácil. “Me sinto muito lisonjea-
da das pessoas confiarem em mim. Talvez eu não te-
nha tanta confiança assim em mim”, brinca, referin-
do-se aos autores do folhetim, Gilberto Braga e Ri-
cardo Linhares.
Entre as mais belas
A Band está animada com o concurso Miss Univer-
so 2011. O evento, que acontecerá pela primeira vez
no Brasil, será transmitido ao vivo no dia 12 de se-
tembro, para mais de 200 países. “Não conhecia e fi-
quei honrada com o convite. Essas etapas regionais
me ajudam a entender. É diferente do que estou acos-
tumada, mas estou muito contente”, destaca a apre-
sentadora da produção, Adriane Galisteu.
Pelo bem social
O “reality show” “Extreme Makeover Social” já tem
data para voltar ao ar. A Record agendou para o dia
23 de julho a nova temporada do programa comanda-
do por Cristina Arcangeli.
Livre, leve...
Guilhermina Guinle será Beatriz em “O Astro”, no-
va minissérie da Globo. Na trama de Alcides Noguei-
ra e Geraldo Carneiro, a atriz vive uma mulher inde-
pendente que não cai nas cantadas de qualquer ho-
mem. Ela terá um caso amoroso com Samir, inter-
pretado por Marco Ricca, mesmo sabendo que ele é
apaixonado por sua melhor amiga Amanda, vivida
por Carolina Ferraz.
Lista de chamada
Sílvio de Abreu definiu os primeiros nomes do elen-
co do “remake” de “Guerra dos Sexos”, da Globo.
Tony Ramos, Irene Ravache, Reynaldo Gianecchini
e Cláudia Raia são alguns deles. A produção está pre-
vista para ir ao ar a partir do segundo semestre de
2012.
Entre tapas e beijos
Dira Paes e Alexandre Nero vão protagonizar cenas
de violência doméstica em “Fina Estampa”, próxima
novela das nove da Globo. No folhetim de Aguinaldo
Silva,elaseráCeleste,umaempregadadomésticaapaixo-
nada pelo ciumento marido Baltazar, vivido por Nero,
que desconfia de cada passo da fiel esposa.
Mais trabalho
Caco Ciocler não ficará muito tempo fora do ar. Ele
vai entrar no elenco de “As Brasileiras”, próximo se-
riado de Daniel Filho para a Globo. O último traba-
lho do ator na tevê foi na pele do zeloso Murilo, de
“Caminho das Índias”.
Segundo ofício
Mariana Rios está com a atenção voltada para a car-
reira de cantora. Depois de viver a espevitada Nancy
de “Araguaia”, a atriz está trabalhando para iniciar
uma turnê de shows pelo país.
Está definido
A Record bateu o martelo. Cláudia Leitte e Lulu
Santos serão as atrações principais da final do pro-
grama “Ídolos”, que vai ao ar no dia 14.
Para os pequenos
O canal por assinatura Nick Jr. terá o sinal aberto du-
rante todo o mês de julho. Ele é uma derivação do
Nickelodeon, mas com programação voltada para
crianças em idade pré-escolar. Entre os principais
destaques da rede está a animação “Dora, A Aventu-
reira”, sobre uma garota que se envolve em muitas
confusões ao lado de seu macaquinho de estimação.
Pique novo
O Multishow está com algumas novidades para o se-
gundo semestre. Novas produções estão previstas pa-
ra entrar na grade do canal a partir de setembro, co-
mo: “Mais Vezes Favela”, derivado do filme “5x Fa-
vela”, “Ed Mort”, comandado por Fernando Caru-
so, e “Hiperativo”, com o ator Paulo Gustavo.
Pronta para
o batente
Depois de passar uma temporada nos Estados Uni-
dos, Maria Zilda Bethlem está de volta. Ela já vai co-
meçar os preparativos para sua personagem em
“Aquele Beijo”, próxima novela das sete da Globo,
assinada por Miguel Falabella.
Guerreiros estelares
A Band comprou os direitos de exibição da anima-
ção “Saint Seya – The Lost Canvas”, derivado do de-
senho “Cavaleiros do Zodíaco”, febre nacional na dé-
cada de 1990, sobre jovens com poderes sobrenatu-
rais que protegem o mundo. Os fãs da produção
aguardam ainda a definição da data de estreia.
Sem parar
Fernanda Lima estreia a nova temporada de “Amor
& Sexo” no dia 7 de julho. Serão oito episódios e a
direção não descarta a possibilidade de uma quarta
edição do programa.
Definitiva
Patrícia de Sabrit já voltou a gravar como a Violeta
em “Amor e Revolução”. Na trama de Tiago Santia-
go, a personagem é a misteriosa irmã gêmea de Olí-
via, papel que a própria atriz desempenhou nos pri-
meiros meses folhetim. “Estou amando porque co-
mecei com uma participação de duas semanas. Foi
para dois, três meses e renovei o contrato para a no-
vela toda”, comemora. As cenas de Violeta devem ir
ao ar a partir de segunda, dia 4.
Zapping
TV Press
Divulgação
Luiza Dantas /Divulgação
DIÁRIO DA REGIÃO São José do Rio Preto, 3 de julho de 2011 / página 17 - TV
18. Relação entre homem e androide em “Morde & Assopra” instiga Caio Blat
Entrevista
PAIXÃO FUTURISTA
TV Press
Caio Blat é o tipo de ator que
faz qualquer coisa por um bom
personagem. Sem receios, o ator
já protagonizou cenas fortes de
nudez e violência em filmes co-
mo “Cama de Gato”, de 2002,
mergulhou em pesquisas sobre
catolicismo para o longa “Batis-
mo de Sangue”, de 2006, até
aprendeu a se maquiar para dar
vida ao androgéno Abelardo, da
novela “Da Cor do Pecado”, de
2004. “Quando tenho um papel
interessante nas mãos, confio no
diretor e entro de cabeça na his-
tória. Não pode ter julgamento”,
ensina. É por isso que o ator se
mostra bem à vontade para dar
vida ao apaixonado Leandro de
“Morde & Assopra”, da Globo.
Com claras inspirações em clássi-
cos da ficção científica, como “O
Homem Bicentenário”, de Isaac
Asimov e Robert Silverberg, na
trama de Walcyr Carrasco, Lean-
dro está envolvido em um inusi-
tado quadrilátero amoroso for-
mado por Naomi e sua versão ro-
bô, interpretadas por Flávia Ales-
sandra, e Ícaro, de Mateus Sola-
no. “A função do Leandro na tra-
ma é mostrar que é possível um
homem se apaixonar por uma
máquina”, revela.
Para o ator, o trabalho na
atual novela das sete é uma boa
forma de comemorar seus 20
anos à frente das câmaras – a es-
treia foi no seriado educativo da
TV Cultura “Mundo da Lua”,
de 1991. “Com a maturidade, a
responsabilidade de fazer um
bom trabalho é muito maior”,
ressalta.
Pergunta - No ano passado,
a novela “Tempos Modernos”
não emplacou no ibope por cau-
sa de sua história com ares fu-
turistas. Em “Morde & Asso-
pra”, seu personagem é apaixo-
nado por uma andróide. É difícil
trabalhar com este tipo de tra-
ma na televisão?
Caio Blat - A proposta é legal
e inovadora. Adorei essa coisa de
entrar no universo fantástico. É
algo que o cinema explora muito
bem e pouco vemos na tevê brasi-
leira. Acho interessante a novela
se aventurar por histórias dife-
rentes, e isso só acrescenta. É um
núcleo muito importante para a
trama, parece história em quadri-
nhos ou algum filme do Tim
Burton, como “Edward Mãos de
Tesoura”. É algo inserido nesse
universo.
Pergunta - Você foi atrás
de alguma inspiração espe-
cífica para construir este
personagem?
Blat - Li algumas coisas e as-
sisti a filmes. A história do bone-
co ou robô que quer se tornar hu-
mano é bem recorrente na litera-
tura, desde “As Aventuras de
Pinóquio”. No caso da novela, te-
mos uma andróide que está pas-
sando por uma fase de descober-
tas, que quer ser uma pessoa de
verdade. Falta alguma coisa para
a Naomi virar humana, e meu
personagem entra para represen-
tar essa sutileza dos sentimentos
da robô. Ele se apaixona por ela,
para exatamente defender essa
ideia de que as máquinas muito
evoluídas, muito sofisticadas,
acabam tendo também reações e
sentimentos. Em última instân-
cia, poderíamos dizer que essas
máquinas têm alma, pois sen-
tem. A trama quer abordar esses
questionamentos.
Pergunta – Novelas das se-
te são geralmente dominadas
pela comédia. É difícil lidar
com um tema tão filosófico no
horário?
Blat - Além dos risos, o horá-
rio precisa de romantismo e meu
núcleo é cheio disso. A novela
tem um forte apelo filosófico
com os questionamentos da rela-
ção entre a Naomi andróide, a
verdadeira Naomi, o Ícaro e o
Leandro. Todos esses persona-
gens estão se perguntando quem
“Diferente de
muitos atores que
começam no teatro,
eu aprendi a atuar
na televisão. Tudo
que eu sei devo aos
folhetins”,
diz Caio Blat
Jorge Rodrigues Jorge/Divulgação
TV - página 18 / São José do Rio Preto, 3 de julho de 2011 DIÁRIO DA REGIÃO
19. “Mundo da Lua” (TV
Cultura, 1991) - Big Bad Boy
“O Professor” (TV Cultura,
1992) – Apresentador.
“Éramos Seis” (SBT,
1994) – Carlos
“As Pupilas do Senhor
Reitor” (SBT, 1995) –
Henrique
“Fascinação” (SBT,
1998) – Gustavo
“Chiquinha Gonzaga”
(Globo, 1999) - João Batista
“Andando Nas Nuvens”
(Globo, 1999) - Thiago San
Marino
“Esplendor” (Globo,
2000) – Bruno
“Um Anjo Caiu do Céu”
(Globo, 2001) – Rafael
“Coração de Estudante”
(Globo, 2002) – Mateus
“Da Cor do Pecado”
(Globo, 2004) – Abelardo
“Carandiru, Outras
Histórias” (Globo, 2005) –
Deusdete
“Sinhá Moça” (Globo,
2006) – Mário
“Amazônia: De Galvez a
Chico Mendes” (Globo, 2007)
– Xavier
“Ciranda de Pedra”
(Globo, 2008) – Afonso
“Caminho das Índias”
(Globo, 2009) – Ravi
“O Bem amado” (Globo,
2010) - Neco
“Morde & Assopra”
(Globo, 2011) - Leandro ■
Trajetória televisiva
O menino cresceu
No ano em que completa 20
anos de televisão, Caio Blat gos-
ta de dividir sua trajetória no
veículo em duas eras. No perío-
do de 1991 a 2001, o ator transi-
tou entre a publicidade e os pro-
gramas educativos da TV Cul-
tura, fez novelas no SBT e es-
treou na Globo, na minissérie
“Chiquinha Gonzaga”, em
1999. “Encarava tudo como
uma aventura, apenas uma ex-
periência. Eu era criança, não
acreditava e nem pensava em fa-
zer carreira”, admite o ator do
alto de seus 31 anos.
A história comecou a ficar
séria quando Caio recebeu o
convite para protagonizar “Um
Anjo Caiu do Céu”, folhetim as-
sinado por Euclydes Marinho e
Letícia Dornelles, exibido pela
Globo em 2001. Para dar conta
do trabalho, o ator teve de lar-
gar a faculdade de Direito, sair
da casa dos pais em São Paulo e
morar sozinho no Rio de Janei-
ro. “O início foi meio assusta-
dor. Era a primeira vez que eu
ficava por minha conta. Por sor-
te, novos trabalhos surgiram, aí
percebi que já era um ator. Não
tinha mais volta”, relembra.
Cinema responsável
Em pouco tempo, Caio Blat
conseguiu construir uma elo-
giada carreira no cinema. Com
preferência por histórias polê-
micas e de caráter político, o
ator já foi premiado nos princi-
pais festivais brasileiros por fil-
mes como “Bróder” e “As Me-
lhores Coisas do Mundo”, am-
bos de 2010. Atualmente, o
ator está empolgado com o lan-
çamento de “Xingu”. Com es-
treia prevista para agosto, o lon-
ga do diretor Cao Hamburguer
aborda a criação do Parque In-
dígena do Xingu, em 1961, pri-
meira reserva indígena do Bra-
sil. “É um projeto gigante, tal-
vez um dos filmes mais impor-
tantes que já foram feitos. Não
só pela possibilidade de boa bi-
lheteria, mas também porque
conta uma história muito im-
portante para o país”, opina.
eles são, quais as razões de eles
estarem naquele lugar. São per-
guntas que todo mundo se faz.
Mas uma trama fantástica pode
tornar esses questionamentos
ainda mais destacados.
Pergunta - A novela pas-
sou por problemas de audiên-
cia e os robôs foram responsa-
bilizados pelo baixos números
no Ibope, o que levou o autor
a fazer algumas modifica-
ções. Você se incomoda com
essas alterações em função
da audiência?
Blat - Essas mudanças são
bem comuns, acontecem em to-
das as novelas. Mas meu perso-
nagem não foi afetado pelas mo-
dificações da trama. Pelo con-
trário, ele é bastante fiel ao de-
senho inicial, que é o amor dele
pela andróide. O que o Walcyr
Carrasco me disse é que, com
as várias modificações que a no-
vela iria ter, principalmente
com as personagens da Flávia
Alessandra, ele iria preservar o
Leandro sempre em função des-
se amor, que era o que mais in-
teressava a ele no personagem.
Pergunta - A última vez
que você trabalhou em um fo-
lhetim escrito por Walcyr Car-
rasco foi em “Fascinação”,
do SBT, em 1998. Como foi
esse reencontro com o autor?
Blat - O convite surgiu atra-
vés do Rogério Gomes, que é
um diretor com quem eu já tra-
balhei várias vezes, como em
“Sinhá Moça” e “Coração de
Estudante”. Gosto do acaba-
mento que ele imprime aos pro-
jetos que dirige. Fiquei amigo
do Walcyr na época do SBT.
Quando o Rogério indicou
meu nome para o personagem,
o Walcyr topou na hora. A his-
tória com o autor ultrapassa os
limites da televisão. No teatro,
dirigi uma peça dele chamada
“Êxtase”, em 2002.
Pergunta - Este ano você
completa 20 anos de carrei-
ra na televisão, mas está fa-
zendo cada vez mais cinema
e teatro. A tevê tem uma im-
portância menor para você
atualmente?
Blat - Tenho outro foco,
mas a tevê ainda é muito impor-
tante para mim. Foi onde fiz o
meu nome. Diferente de mui-
tos atores que começam no tea-
tro, eu aprendi a atuar na televi-
são. Fazendo programas educa-
tivos na TV Cultura, depois no-
velas no SBT. Tudo que eu sei,
devo aos folhetins. Foi onde
aprendi a interpretar. Adoro
novelas, apesar que manter um
personagem e uma história por
tantos meses é algo muito com-
plicado. Depois de um tempo,
é que os atores que eu conheci
na televisão foram me levando
para o teatro e cinema.
Pergunta - Essa busca por
trabalhos em outros veículos
é uma forma de diversificar a
carreira e fugir da limitação
de personagens da tevê?
Blat - Eu adoro fazer televi-
são, mas acho que o teatro me
dá a oportunidade de realizar
um trabalho mais profundo
muito. De pesquisar, me envol-
ver e depurar o texto por mais
tempo. Além de ser possível ela-
borar o personagem de forma
especial, ainda tem a questão
de interpretar ao vivo, diante
do público, isso muda tudo.
Uma coisa é você poder errar,
voltar e fazer de novo. Outra
coisa é você fazer o espetáculo
diante de uma plateia todas as
noites. Isso mantém a arte do
ator viva.
Pergunta - Você já recu-
sou algum personagem na
televisão por querer dar ou-
tro direcionamento para
sua carreira?
Blat - Nos últimos anos te-
nho dividido muito mais a
agenda. Tenho fixado como
prioridade os projetos impor-
tantes do cinema, e tentando fa-
zer novela junto. No meu últi-
mo folhetim, “Caminho das Ín-
dias”, de 2009, eu consegui fil-
mar “O Bem Amado” e “As Me-
lhores Coisas do Mundo”. Con-
ciliar é o ideal, evita a sensação
de que estou perdendo bons
projetos.
Pergunta - Em 10 anos vo-
cê participou de 16 longa-
metragens. O que o cinema
tem mais interessante do
que a televisão?
Blat - Nunca vou deixar de
fazer tevê, mas tenho dado
prioridade ao cinema por con-
ta do momento privilegiado
que a sétima arte está vivendo
no Brasil. Fazer cinema é mui-
to prazeroso para o ator, a gen-
te tem a sensação de que está
construindo um registro. Na
televisão, o capítulo passa e no
dia seguinte já vem outro. Já
um filme consegue se manter,
de certa forma, como o regis-
tro de uma época. Fico orgu-
lhoso de pensar que toda a his-
tória dos anos 2000 está sendo
contada e registrada, e isso es-
ta sendo feito com a cara dos
atores dessa geração.
“Morde & Assopra” - Globo -
Segunda a sábado, às 19h10.
Caio Blatem “Da
CordoPecado”:
disposto atudo por
bonspersonagens
AoladodeÍsis
Valverdenanovela
“Caminhodas
Índias”,umde seus
trabalhosmais
recentes
Com a amiga Mariana
Ximenes em cena de
“Andando nas Nuvens”
Fotos: Divulgação
DIÁRIO DA REGIÃO São José do Rio Preto, 3 de julho de 2011 / página 19 - TV
20. Com “remake” de “O Astro”, Alcides Nogueira revive um dos maiores sucessos de Janete Clair
TV Press
Há 34 anos, quando “O As-
tro” era exibido pela primeira
vez, Alcides Nogueira estreava
sua primeira peça teatral, “A
Farsa da Noiva Bombardea-
da”, censurada durante o gover-
no do General Ernesto Geisel.
“Recebi uma carta lacônica do
Armando Falcão dizendo que
a peça estava proibida em terri-
tório nacional”, lembra Alci-
des, citando o então ex-Minis-
tro da Justiça. Foi neste perío-
do conturbado da história do
país que o autor de Botucatu,
no interior de São Paulo, com
28 anos de idade na época, co-
meçou a se interessar pela tele-
dramaturgia através da trama
de Janete Clair. “A trama me
chamava atenção porque a Ja-
nete conseguia escrever debai-
xo de uma censura pesadíssima
contando uma história que fala-
va sobre jogo de poder econô-
mico”, lembra. Agora, na come-
moração dos 60 anos da teledra-
maturgia no Brasil, a Globo de-
cidiu homenagear a autora
com o “remake” da trama. E
convidou Alcides e Geraldo
Carneiro para recontarem a his-
tória em 60 capítulos, a partir
do próximo dia 12. “A trama
conserva pilares e tramas prin-
cipais sólidas. Mas 30 e tantos
anos depois, o Brasil mudou
muito. Adequei o texto com to-
tal liberdade, mas a estrutura é
a mesma que a Janete deixou”,
explica Alcides.
Dos 185 capítulos origi-
nais, o “remake” exibirá 60 ca-
pítulos com novos persona-
gens, novos núcleos periféri-
cos, mas com os mesmos pa-
péis centrais. Francisco Cuo-
co, que na primeira versão vi-
veu o protagonista Herculano
Quintanilha, agora interpreta-
do por Rodrigo Lombardi, vai
fazer uma participação na tra-
ma como Ferragus. Ele é um
sujeito misterioso com quem
Herculano esbarra na cadeia e
que se torna seu mestre no ilu-
sionismo. Já Daniel Filho, que
assinou a direção geral da pri-
meira versão, agora interpreta
o poderoso Salomão Hayalla,
que é assassinado, assim como
na versão original. “Não conto
quem vai ser o assassino nem
sob tortura. Ele pode até come-
ter suicídio”, despista o autor,
animado pelas muitas possibili-
dades de mudanças que um “re-
make” oferece.
Uma delas é mudar alguns
cenários da história dirigida
por Roberto Talma e Mauro
Mendonça Filho. O subúrbio
da trama, que antes se passava
no bairro do Engenho Novo,
no Rio de Janeiro, agora será
na Penha, na mesma cidade.
“A Penha é um bairro que está
voltando a aparecer com sua
revitalização. Resolvemos sau-
dar sua história nessa produ-
ção”, argumenta Alcides, que
afirma que a trama também ser-
ve de homenagem a autores cé-
lebres destas seis décadas da te-
ledramaturgia, como Dias Go-
mes, Bráulio Pedroso e Benedi-
to Ruy Barbosa, entre outros.
No entanto, Alcides frisa
mesmo que um dos caminhos
mais férteis para as próximas
produções na tevê é a menor du-
ração das tramas. Ou seja, me-
nos capítulos significa maior
qualidade dos produtos de tele-
dramaturgia. Segundo ele, o
formato longo das novelas, que
ultrapassa os 180 capítulos, é
cansativo para todos os profis-
sionais envolvidos e principal-
mente para o público. “Deve-
mos investir em trabalhos mais
curtos, mais artesanais. Todo
mundo sai ganhando. ‘Insensa-
to Coração’ deve ter uns 44 mi-
nutos e vai ficar no ar por uns
oito meses. Isso é um longa por
dia nesse tempo todo! Uma coi-
sa absurda!”, critica. ■
Inside
Com as cartas na mão
SegundoAlcides Nogueira,
dos 185 capítulos
originais, o “remake”
exibirá 60 capítulos, com
novos personagens,
novos núcleos
periféricos, mas com os
mesmos papéis centrais
Pedro Paulo Figueiredo/Divulgação
TV - página 20 / São José do Rio Preto, 3 de julho de 2011 DIÁRIO DA REGIÃO
21. Guel Arraes fala sobre a estreita relação entre o cinema e a tevê
TV Press
Dividido entre projetos de
cinema e programas para a te-
vê, Guel Arraes é um dos maio-
res incentivadores de produtos
que possam circular bem nas
duas mídias. “É tudo arte. Gos-
to de fazer cinema com apelo
comercial, e televisão com qua-
lidade artística”, ressalta o dire-
tor de núcleo de “A Mulher In-
visível”. Derivada do filme ho-
mônimo de 2009, a série é o pri-
meiro programa feito pela Glo-
bo em parceria com a produto-
ra de cinema Conspiração Fil-
mes. E conta a história de Pe-
dro, de Selton Mello, um sujei-
to que tem de lidar com os pro-
blemas que Amanda, uma
amante imaginária interpreta-
da por Luana Piovani, pode
causar em seu casamento com
Clarisse, de Débora Falabella.
“É uma coisa meio ‘Dona Flor
e Seus dois Maridos’ da atuali-
dade”, diverte-se, referindo-se
ao triângulo criado pelo escri-
tor Jorge Amado, em 1966.
Este não é o primeiro proje-
to em que Guel consegue jun-
tar características do cinema
com as da televisão. O diretor
é a mente por trás de projetos
como “Divã”, série exibida pe-
la Globo este ano e também
criada a partir de um filme.
Ainda existem os casos inver-
sos, como as séries que foram
para a tela grande, como “O
Auto da Compadecida”, filme
de 2000, e “Caramuru - A In-
venção do Brasil”, de 2001. “O
cinema pode servir de inspira-
ção para outros formatos e dei-
xar a televisão muito mais
atraente”, acredita.
Pergunta - Você já transfor-
mou a microssérie “O Auto da
Compadecida” em longa, e
agora adaptou o filme “A Mu-
lher Invisível” para a tevê. Co-
mo você mede os potenciais
de cada projeto para veículos
distintos?
Guel Arraes - Ao assistir o
produto pronto, a gente sente
que aquela história poderia
render mais. No caso de “A
Mulher Invisível”, eu e o dire-
tor do filme, Cláudio Torres,
discutimos as possibilidades
de o longa render outras situa-
ções. A história é muito inte-
ressante. Para mim, é a união
perfeita entre comédia român-
tica e realismo fantástico. Gos-
to muito dessa junção. A ideia
foi fazer uma série baseada no
que aconteceu no filme, mas
sem o comprometimento de
ser uma continuação.
Pergunta - Além do rotei-
ro, você também assina a di-
reção de núcleo do seriado.
Chegou a dirigir algum episó-
dio ou só cuidou da concep-
ção final?
Arraes - O diretor de núcleo
é aquele que faz de tudo um
pouco. Neste trabalho, cuidei
mais da adaptação do texto mes-
mo. O trabalho de direção-ge-
ral foi todo feito pelo Cláudio.
O projeto é a primeira parceria
da Globo com a Conspiração
Filmes. Ao avaliar os episó-
dios, é bom ver que ele não per-
de a cara da emissora, mas
acrescenta uma linguagem
mais ousada.
Pergunta - “Batendo Pon-
to”, humorístico que também
estava sob seu núcleo, foi
cancelado precocemente. Já
“A Mulher Invisível” teve mé-
dia de audiência acima dos
23 pontos. Como você lida
com o sucesso e o fracasso
dos programas que estão sob
sua responsabilidade?
Arraes - Essa coisa de per-
der e ganhar está sempre acon-
tecendo. São programas muito
diferentes. “Batendo Ponto” es-
tava no horário mais complica-
do da grade, que é o domingo à
noite depois do “Fantástico”, a
última coisa que realmente fez
sucesso nesta faixa foi o “Sai de
Baixo”, ainda nos anos 90. No
caso de “A Mulher Invisível”,
o produto é ótimo, tem um
elenco incrível, mas tem a aju-
da de receber o ibope em alta
da novela das nove e do seriado
“Tapas & Beijos”.
Pergunta - A “Mulher Invisí-
vel” teve apenas cinco episó-
dios encomendados. A dire-
ção da emissora estava com
medo da trama fantástica não
conquistar o público?
Arraes - Não, a Globo sem-
pre acreditou no potencial da
série. Fizemos apenas cinco epi-
sódios porque era o espaço que
tinha na grade da emissora. No
dia 12 de julho tem a estreia de
“O Astro”, macrossérie que vai
ocupar o horário até outubro.
Com o sucesso, é possível que a
gente tenha uma segunda tem-
porada de “A Mulher Invisí-
vel” até o final de 2011.
Pergunta - Este ano você
completa três décadas de TV
Globo. Qual é a grande dificul-
dade em conciliar a carreira
de diretor de cinema, com o
cargo de diretor de núcleo de
uma emissora onde a audiên-
cia dita as regras?
Arraes - Em qualquer des-
ses veículos, o mais importante
é a visibilidade e a minha satis-
fação com o trabalho. Me criti-
cam dizendo que faço televisão
no cinema, mas não ligo para
isso. Pois fiz na tevê algumas
coisas até mais ousadas do
que no cinema. Tirando “Ro-
mance”, de 2009, um filme
que eu não pensei para a tele-
visão, os outros foram pensa-
dos para serem populares e
comerciais. Ser popular é
uma enorme ousadia. ■
“A Mulher Invisível” - Globo -
Terça, às 23h
Papo rápido
Transmídia popular
Guel Arraes, sobre “A Mulher Invisível”:
o produto é ótimo, tem um elenco
incrível e ainda a ajuda de receber o
ibope em alta da novela das nove e do
seriado “Tapas & Beijos”
Luiza Dantas/Divulgação
DIÁRIO DA REGIÃO São José do Rio Preto, 3 de julho de 2011 / página 21 - TV